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Belo Horizonte
2022
No dia 16 de Novembro de 1889, o jornal Diario Popular anunciava o começo de
uma nova era no país em sua capa. "Viva a República!", dizia a manchete. Com muito
entusiasmo diziam: “15 de Novembro de 1889. Eis a data que ficará consagrada como a mais
solene e grandiosa de nossa vida política” 1. Falavam em apoio para formar uma unidade, que
com o amor do povo brasileiro pela ordem e o seu espírito de paz garantiriam a mais
completa tranquilidade no novo regime de paz, de justiça e de concórdia. Exclamavam que os
novos ventos vindouros traziam eminentemente, com a união dos cidadãos, o culto à
Liberdade, à Justiça, à Igualdade e à Fraternidade, sendo necessário unir os membros para
uma grande nação. Nesse sentido, o seguinte texto propõe-se a analisar criticamente o que
podemos compreender dessa República, abordando questões político-sociais, e se a
população conseguiu de fato ter alguma garantia e usufruir desses conceitos e garantias
propostos pelo novo sistema.
1
Capa do Diário Popular. São Paulo, 16 de novembro de 1889. Arquivo Nacional, J 468, n.
1999, p. 1.
É dentro dessa conjuntura política, econômica e social em que se encontrava a
República que Campo Sales começa a formação do acerto político denominado de “política
dos Estados” e que ficou mais conhecido como “política dos governadores”. Ele pretendia:
A maioria da massa de “vadios” que eram presos, era formada de negros e mulatos
desocupados que, desde a Abolição, viviam à margem da sociedade sem grandes pespectivas
de vida, nem de como sair daquela situação e sofrendo todo tipo de preconceito. É importante
destacar que nessa época ainda reinava no Brasil o racismo científico e teorias eugenistas que
falavam que o atraso do Brasil é fruto da miscigenação das raças. Entre os “vadios” também
se encontrava uma grande parcela de “pobres livres”, que o trabalho era considerado
socialmente inferior. Os seus esforços diários pela vida fez com que essa parcela da
população tivesse que improvisar vários tipos de tarefas, desde ocupações autônomas, bicos e
subemprego temporário, que movimentavam a economia informal, até outras formas de
sobrevivência, como o roubo, o jogo, a prostituição e a mendicância.
O uso constante, ilegal e violento do aparato policial para deter o protesto dos
desfavorecidos, tirar de circulação os considerados desnecessários e restabelecer a ordem
social nos padrões exigidos pelos interesses da classe dominante foi traço profundo da vida
social brasileira naquele período. A desumana brutalidade da polícia contribuía para aumentar
bem mais a distância entre o Estado real e o Estado legal. O medo da polícia era poderoso
instrumento disciplinador, a barbárie presente no cotidiano e a cidadania não se mostrava
presente nem mesmo no horizonte mais remoto. Com isso, é possível nos questionar quais
desses aspectos ainda permanecem em nossa sociedade atual.
Referências:
FAUSTO, Boris. Controle social e criminalidade em São Paulo: um apanhado geral (1890-
1924). In: P.S. Pinheiro (org.). Crime, violência e poder . São Paulo, Brasiliense, 1983, p.
193-223.
NEVES, Margarida S. “O Brasil na virada do século XIX para o século XX. In: FERREIRA,
Jorge e DELGADO, Lucília Neves. O Brasil Republicano. Rio de Janeiro, Editora
Civilização Brasileira, 2006. NC. 981.05 B823t. p. 35
SALES, Manuel Ferraz de Campos. 1983. Da propaganda à presidência brasileira. São Paulo:
Companhia das Letras.
SILVA, L. Comentário ao texto de Boris Fausto. In: P. Sérgio Pinheiro (org.). Crime,
violência e poder, p. 212.