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INTRODUÇÃO
Muitos instrumentistas sabem muito sobre seus instrumentos. Eles têm uma
vantagem que os distingue que é a de poderem afastar-se deles, olhá-los, modificar vários de
seus aspectos e, geralmente, vê-los objetivamente. Isso não acontece com a voz humana. Ela
está dentro da pessoa e é altamente influenciada pelo que está acontecendo em todos os
setores da vida do cantor.
O corpo e a voz que ele contém são ambos mágicos e podem ser melhor vistos com
curiosidade e animação do que com medo ou como muito misteriosos. O que acontece dentro
e com o seu corpo afeta diretamente sua voz: os dois estão interligados. É impossível estudar
a voz sem olhar para o corpo.
O corpo inteiro é seu instrumento, e ele canta e vibra com toda a sua estrutura
molecular. A voz também é vibração e usando sua voz com uma integração coordenada do
todo do corpo, você estará literalmente cantando você mesmo. Sendo assim, a voz funciona
melhor quando é tratada como parte de um todo e não de modo isolado.
Às vezes estudamos uma temática sem considerar o que realmente é possível. Isso
acontece em relação ao estudo da técnica vocal. É comum ficarmos tão preocupados com a
tradição e o método que esquecemos de ver e ouvir com uma mente aberta. Assim, perdemos
dicas do senso comum e informações às vezes óbvias que poderiam ser obtidas através de
uma conscientização maior. Embora devamos nos inspirar no conhecimento acumulado,
também é importante não ficar cegos e surdos para as novas descobertas que podemos fazer.
Estudantes de Técnica Vocal têm uma longa estória de aprendizagem por transmissão
(estudo de métodos e então repasse das informações como recordadas). Quando isso
acontece, eles começam a se tornar medrosos de irem além do pensamento tradicional ou de
retornar para alguns conceitos básicos que foram esquecidos. Conhecimentos velhos,
ultrapassados sobre as funções vocais são ainda predominantes nas comunidades artísticas e
no grande público, mas nossas percepções sobre o corpo e suas funções devem ser
reformuladas constantemente à luz das pesquisas e das novas teorias delas resultantes,
utilizando-as somadas à nossa concepção de performance enquanto algo que vai além da
simples utilização de conhecimento intelectual.
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Tradução e adaptação de Lemuel Guerra.
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Todos que querem usar a voz em performances públicas, para melhor fazê-lo, devem
adquirir um conhecimento básico de seu instrumento e do seu funcionamento.
Estudar como os cantores usam seus corpos e vozes é uma aventura fascinante e
prazerosa. Cada pessoa precisa ser vista como uma escultura tridimensional. Precisamos ver
as pessoas de frente, de lado e de costas, para ter uma ideia do todo. Os padrões individuais
são únicos e precisamos descobrir com observações atentas e inteligentes como ajudar-nos e
aos outros. Assim o estudo e o ensino da Técnica Vocal devem se basear na especificidade dos
indivíduos em suas reações às instruções e exercícios.
O ato físico de produzir som começa com uma imagem mental desse som e da forma
de produzi-lo. Idealmente, o corpo responde através da mobilização de uma energia dinâmica
e flexível. Isso cria um instrumento receptivo e vibrante e o espaço para uma respiração e
produção vocal eficientes. Quando usamos uma energia ou esforço excessivos para criar o
som, músculos desnecessários começam a ajudar, deixando o corpo tenso e inflexível ao invés
de um instrumento responsivo. Quando os músculos se contraem, o corpo encolhe; quando
relaxam, o corpo se expande. Quando o cantor está contraído parecem menores. Essa pode
ser uma das maiores observações que podemos fazer. Tensão dificulta a voz de qualidade e o
relaxamento a favorece.
Se você quer conquistar sua própria voz, é interessante desenvolver um modo prático
de ver e escutar. Veja a seguir coisas para as quais olhar, escutar ou perceber quando se avalia
a própria voz ou a dos outros:
Aparência
1 . Padrões gerais
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2 . Padrões posturais
3 . Padrões físicos
4 . Padrões de respiração
5 . Emissão
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6 . Musicalidade
CONSCIENTIZAÇÃO
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O alinhamento físico, uma boa postura, contribui para seu equilíbrio, para a facilidade
de movimentos, senso de bem estar, saúde, energia, respiração confortável e, portanto, para
uma produção vocal eficiente. Para quem se relaciona com as artes do canto, é muito
importante a compreensão e a modelagem de uma boa postura. Resolver problemas de
alinhamento corporal pode ajudar a melhorar imediatamente a produção vocal.
Quando pensamos no corpo como uma massa de átomos em movimento, cada um dos
quais precisando de espaço, compreendemos que com o relaxamento apropriado dos
músculos contribuímos para uma postura mais eficiente. Toda área do corpo que se contrai
desnecessariamente para o exercício de sua função trabalha contra si mesma, dificultando a
vibração e o movimento, criando tensão e mudando a qualidade da produção vocal. Artistas
da voz são mais capazes de soar com seu corpo inteiro quando não há tensão excessiva e uma
considerável disponibilidade corporal. Isso é vital para o cantor que deseja atingir o máximo
de sua qualidade vocal.
CONSCIÊNCIA CORPORAL
A consciência corporal vem do retorno sensitivo, não sendo nem um exercício verbal
nem intelectual. As pessoas se levantam e andam de acordo com suas percepções de boa
postura, e seguir orientações verbais geralmente cria confusão nessa área. Com o objetivo de
fornecer elementos para uma percepção pessoal mais adequada do alinhamento corporal,
vejamos alguns exercícios:
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POSTURA EQUILIBRADA
É muito fácil confundir o habitual com o natural. Natural é o que o corpo pode fazer de
modo reflexo. Habitual é o que temos feito durante anos de uso repetido para criar as formas
e padrões físicos atuais. Hábitos podem ser mudados.
Toda mudança postural cria uma sensação de desconforto inicial. Músculos que eram
subutilizados passam a ser mobilizados para o equilíbrio postural, o que implica num período
de adaptação. Não se deixe desanimar pelo trabalho corporal que o alinhamento corporal vai
exigir. Os resultados compensarão!
1. Certifique-se de que seus pés estão completamente sobre o chão. Sinta todos os
poros da sola dos pés tocando o chão. Pense que seus pés estão ligados ao chão por
um forte velcro, mesmo se estiver usando sapatos altos.
2. Imagine que você está usando uma coroa e que ela está lhe puxando para cima.
3. Tenha certeza de que seus joelhos estão levemente soltos e prontos para se
dobrarem, se necessário.
4. Distribua seu peso de modo equilibrado entre os pés.
→Lembre-se de que você é um ser dinâmico, cheio de vibração. Nunca você deve parecer
um robô.
1 . Mude a posição de sua cabeça, primeiro esticando-a para frente; depois encostando o
queixo no peito e depois alinhando-a adequadamente. Note as diferenças causadas pela
posição da cabeça na produção vocal.
2 . Incline-se para frente e depois para trás. Em seguida, adote uma postura de adequado
alinhamento corporal e preste atenção nas sensações musculares quando em cada uma das
posições assumidas e nas diferenças em termos de qualidade da produção vocal.
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3 . Sentado, deixe sua caixa torácica cair sobre seu abdômen. Depois levante-a e repita o
trecho da canção que você escolheu. Veja a diferença em termos de qualidade da voz.
Esse exercício deve ser feito com a participação de três pessoas, com o objetivo de ver
e descrever sua postura. Faça-o duas vezes, uma em pé e outra sentado(a). Ele será mais fácil
se o modelo a ser copiado estiver sentado ou em pé ao seu lado e não em sua frente.
Muitos profissionais da voz acham que o equilíbrio e a postura são importantes, mas
frequentemente pensam que estão completamente conscientes de suas posturas, quando de
fato eles não estão. Em seu desejo de comunicar-se e no calor da apresentação, o equilíbrio e
a postura corporal são facilmente esquecidos. Conscientizando-se sua postura nos exercícios
e ensaios, cada cantor pode perceber quando estão desconfortáveis ou quando algo está
faltando na relação entre o alinhamento corporal e a produção vocal. Uma atenção cuidadosa
à postura nos ensaios e exercícios criará hábitos que tendem a se firmar e a permanecer
durante as apresentações.
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2 . RESPIRAÇÃO
Respirar é uma ação reflexa que ocorre aproximadamente 24.400 vezes durante um
dia. A eficiência dessa ação pode ser prejudicada por uma má postura, maus hábitos físicos,
ferimentos, qualidade do ar e também por concepções equivocadas sobre como respirar.
2. O diafragma se contrai (se abaixa), alargando a área no peito que inclui as altamente
móveis costelas inferiores ( gerando uma expansão no abdômen , desde que ele não
esteja contraído).
Quando mais ar e força são necessários – como, por exemplo, em exercícios físicos ou
uso dramático da voz – mais músculos são necessários para ajudar a aumentar o volume de ar.
Como uma boa postura, entretanto, atinge-se um uso mais eficiente do ar e você pode
necessitar de menos energia do que aquela que você pensa necessitar.
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2 . O que acontece com seu padrão de respiração, quando seus joelhos estão fechados?
Observe que a parte inferior do seu abdômen também fica contraída.
3 . Observe e sinta seus próprios padrões de respiração. Experimente as idéias que você tem
estudado, experienciado, lido em livros sobre técnica vocal, ou observado nas performances
de outros. O que acontece quando você contrai sei abdômen e tenta respirar profundamente?
Qual área se move? Explore e descubra você mesmo o que acontece.
4 . O que acontece com a respiração quando você marcha, caminha, ou corre enquanto canta
ou fala? Quando o corpo está engajado, a respiração acontece de modo reflexo, sem que seja
necessária nenhuma decisão consciente.
5 . Observe o que acontece quando você fica em pé tranquilamente para cantar. Para muitas
pessoas, a tranqüilidade significa parar todo e qualquer movimento, incluindo a respiração. A
tendência é começar a controlar a respiração pelo tensionamento e não através de uma
postura flexível, resultante de um corpo adequadamente alinhado. O desafio é ficar em pé sem
se tornar rígido e lembrar que o corpo é vivo e dinâmico.
Há duas observações simples sobre a respiração: ela inclui um movimento para dentro
e outro para fora. Logicamente, para que o ar entre nos pulmões, o volume do peito deve
aumentar; para que ele sai dos pulmões, o volume do peito diminui. Como usar os músculos
para expandir (na inspiração)e diminuir (na expiração)o volume do peito? Na caixa torácica, o
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movimento acontece no espaço das 5 costelas inferiores, sendo na parte de baixo dela o
espaço maior para a expansão. Note que as primeiras 7 costelas estão diretamente ligadas ao
esternum, o que limita seus movimentos. Da oitava à décima a ligação ao esternum é indireta,
o que abre a possibilidade de maior mobilidade lateral. As duas últimas costelas (11ª e 12ª)
não estão ligadas ao esternum, sendo chamadas, por isso, de flutuantes, sendo as de maior
mobilidade. A parte posterior do diafragma e os músculos profundos das costas que se ligam à
pélvis e às costelas inferiores mantém a estabilidade dessas costelas.
A INSPIRAÇÃO
1 . Deixe seu peito encostar nas coxas e seus braços soltos . Agora respire profundamente,
certificando-se que seus ombros não se movam. Sinta a pressão no baixo abdômen e a
expansão nas laterais.
2 .Sente-se com uma boa postura numa cadeira e sinta a expansão de suas costas à medida em
que você inspira.
3 . Segure a parte inferior de sua caixa torácica, na altura de sua cintura e sinta o movimento
de expansão das costelas inferiores (na frente a atrás).
A EXPIRAÇÃO
Durante a expiração (saída do ar), todos os músculos envolvidos na inspiração estão
presentes. Todavia, o fator chave aqui é o suporte dado pelos músculos abdominais. Um
conjunto de três grandes músculos cobre o abdômen. O abdominal oblíquo externo e interno,
mais o abdominal transversal funcional de modo reflexo, quando se está em correto
alinhamento postural. Eles se contraem juntos para pressionar o que está no abdômen, o que
provoca a elevação do diafragma. É essa contração dos músculos abdominais que controla a
subida do diafragma e consequentemente o movimento das costelas inferiores. A resultante
entre a força do diafragma e a força dos músculos abdominais equilibra a pressão que produz
um uso eficiente do ar, necessário para a adequada produção vocal.
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1 . Estique seus braços para cima e inspire. Solte o ar com um som de “s”. Não abaixe os
braços durante todo o exercício, o que evita os erros comuns de levantar os ombros na
inspiração e de deixar cair o peito, na expiração, tornando a musculatura abdominal mais
consciente.
2 . Cante vocalizes e trechos de canções levantando os braços devagar durante a extensão de
cada frase cantada.
3 . Experimente cantar movimentando os pés, para evitar uma postura corporal tensa, causada
às vezes pela excessiva preocupação com o mecanismo da respiração. Concentre sua atenção
para não interromper o padrão de batida com os pés e os efeitos da descontração para uma
emissão saudável serão sentidos.
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3 . A RESSONÂNCIA
Quando o cantor tem uma boa postura, equilíbrio do corpo, respiração adequada e
relaxamento no aparelho fonador (laringe, faringes, língua, palato mole, maxilar, lábios, boca e
face) e os olhos e face expressivos, associados a uma imaginação ativa e criativa, há uma
enorme chance de que a ressonância seja otimizada.
Exercícios para a compreensão dos efeitos dos hábitos faciais sobre a ressonância
Escolha trechos de canções que você sabe de cor e observe o que acontece quando
você os canta das seguintes maneiras:
1 . Com os lábios
na forma usada para um beijo.
para dentro.
para um lado.
Dispostos naturalmente como quando falando com um amigo.
2 . Com o maxilar
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3 . Com os olhos
Arregalados e fixos.
Sob sobrancelhas contraídas.
Que parecem vivos e conscientes, como que olhando para uma platéia interessada.
4 . Com um rosto
Inexpressivo e o mais imóvel possível
Com uma face vibrante e que reflete os significados das palavras.
1 . Use a sensação do início de um bocejo (não complete o bocejo, o que pode produzir tensão
na base da língua) para levantar o palato mole e sentir a abertura da garganta.
2 . Para relaxar a garganta e levantar o palato mole, use o exercício de boca chiusa e de
simulação de mascar chiclete, sentindo a vibração do som na laringe, na boca e na região
do nariz.
3 . Em boca chiusa e simulando que está mascando chiclete, cante um trecho de uma canção
conhecida.
4 . Repita o 3, colcando uma ou outra palavra do texto da canção e voltando para a boca chiusa
e a simulação de mascar chiclete.
5 . Cante de novo a canção com o texto (portanto abrindo a boca), mantendo a sensação que
você teve quando cantou com a boca fechada e simulando que estava mascando chiclete.
6 . Simule um megaphone (como usado em manifestações de rua) com sua mão e mantendo-o
a uma distância de 1 cm de sua boca cante um trecho de uma canção conhecida (isso pode
servir para dar foco a sua voz e para manter o espaço em seu aparelho fonador).
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