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EXPRESSIVIDADE VOCAL POR MEIO DO CANTO:

caminhos para a descoberta, exploração e aprimoramento


vocal de cantores
Andréia Pires Chinaglia
andpoliveira@hotmail.com

Introdução

A voz é um instrumento único e que tem papel fundamental na comunicação entre as


pessoas. Ela é nosso traço mais marcante, capaz de nos distinguir e nos identificar.
Quando usada profissionalmente, tanto na fala como no canto, é necessário um
conhecimento e aprimoramento do profissional que a utiliza para que a produção vocal
acontece de forma saudável.

Para cantar bem tem que ter “dom”. Você também pensa assim? Durante muito tempo,
acreditou-se (e digo com certeza que infelizmente ainda existe quem acredita nisso) que
o ato de cantar era nato e que pessoas nasciam prontas para cantar ou cantavam
seguindo seu instinto. Considerava-se que isso era um dom e pronto.

Porém eu te digo: ISSO NÃO É VERDADE! O fato de muitas pessoas possuírem essas
“vantagens ou privilégios” está relacionado, na verdade, a outras características que
ajudam a ter um canto naturalmente bonito: boa memória muscular, caixa de
ressonância ampla, espessura da musculatura das pregas vocais, articulação solta e clara,
bom ouvido musical, vivência familiar, estímulo musical desde muito cedo, canta desde
criança, entre outros facilitadores considerados importantes para um bom desempenho
de um cantor.
Então se você tem uma voz então você pode cantar! E digo mais, pode cantar bem!
Assim como qualquer outro instrumento ou linguagem artística, o canto é um
instrumento, e o primeiro instrumento que a pessoa pode e deve explorar.

Nesse sentido, Spetch (2009) apresenta que o canto pode ser educado por meio de
habilidades técnicas e por isso é uma atividade que pode ser aprendida. Para isso é
precisa ser trabalhado, exercitado e aprimorado. Desde que o homem tomou consciência
de sua capacidade de cantar, iniciou então, pesquisas para aperfeiçoar esta habilidade
procurando compreender melhor o mecanismo vocal. Por meio dessas pesquisas,
descobriu-se que através de alguns exercícios, conseguia-se manipular e modificar o
som vocal para a necessidade do profissional do canto.

O caminho de encontro com a voz é um constante aprendizado. Nós cantores nunca


paramos de estudar. Com paciência, é possível construir uma boa voz cantada utilizando
recursos técnicos adequados para o seu tipo de voz e corpo, aprimorando suas
habilidades e trabalhando em suas limitações.

Por isso, é fundamental que o profissional da voz avalie a importância do canto em sua
vida, e em sua profissão, para, assim, adquirir acompanhamento e cuidados necessários
para um canto amadurecido com boa saúde e emissão vocal.

Imagino que você tenha muitas questões, dúvidas, anseios, certo? As perguntas que
mais ouço frequentemente são: Qual é o meu tom? Como entrar certo na música? Por
que minha voz gravada é tão diferente e estranha da voz que ouço? Tenho que cantar
sempre no tom original do cantor? Meu músico não muda o tom para minha voz. O que
faço? E por ai vai!

Tentaremos ao longo desta disciplina responder estas e outras questões para ajudá-lo a
entender e executar o máximo da sua produção vocal. Então convido para, a partir de
hoje, você abra-se a uma nova, estimulante e apaixonante experiência com sua voz.
Vamos lá?

1. TÉCNICA VOCAL PARA CANTORES: aprendendo a partir de muitas


vozes!

Assim com um atleta precisa de uma musculatura condicionada para praticar o seu
esporte, o cantor também deve estar preparado para a atividade do canto, uma vez que o
ato de cantar é uma atividade física e muscular. Por isso, é fundamental que o cantor
avalie a importância do canto em sua vida para, assim, adquirir os cuidados necessários
para a sua voz.

A técnica vocal são recursos utilizado pelos profissionais da voz com a finalidade de
ensinar a usá-la com um maior rendimento e o mínimo de esforço, bem como aprimorá-
la. Segundo diversos autores (DINVILLE, 2003; BEHLAU, 2006, 2015; PACHECO,
2012) é um conjunto de orientações, procedimentos e movimentos fisiológicos na
junção de exercícios de relaxamento, respiração, afinação, impostação, extensão vocal
utilizado pelos profissionais da voz com a finalidade de melhorar e aprimorar o
desempenho de sua voz.

Behlau (2006, 2015) reforça que uma técnica vocal apurada pressupõe emissão de sons
sem forçar os músculos vocais e sem contrações fisionômicas. Assim, a musculatura
laríngea deve ter bom condicionamento para evitar o esforço desnecessário garantindo
uma melhor qualidade vocal. A ideia é conseguir diversas acomodações do órgão
fonador numa busca por registros e impostação da voz.

Para Zander (2003), cantar é uma ação vocal difícil de dominar, pois o cantor precisa
conhecer e dominar todas as estruturas corpóreo-vocais para desenvolver o canto, mas
sofre muitas interferências que podem bloquear esse processo como fatores técnicos,
humanos e psicológicos.

Nesse mesmo sentido, os estudos de Mello, Silva e Andrada (2009) cantar é uma ação
que exige do cantor grande demanda de energia física e controle emocional. Quando
praticado em forte intensidade e em notas agudas, por exemplo, certos ajustes no trato
vocal tornam-se necessários. Por isso, necessita de um entendimento corporal para que
os ajustes aconteçam nos lugares corretos. Quanto maior a consciência do
funcionamento do corpo na ação vocal, melhor o resultado vocal.

Assim, Braga (2009) e Pacheco (2012), afirmam que a vocalização, por meio de
exercícios cantados geralmente com vogais, silabas, palavras, associado a respiração, ao
controle fonatório e uso correto do apoio, possibilita exercitar e desenvolver
possibilidades técnicas da habilidade vocal.
Nesse sentido, Fields (2003), Pacheco (2012), Sundberg (2015), defendem que o cantor
pode variar voluntariamente as qualidades e características da voz e valorizar um tipo de
sonoridade exigida ou privilegiar um estilo musical, através de artifícios vocais e da
mudança de alguns órgãos fonatórios, por meio de técnicas apropriadas com
movimentos musculares precisos e tonicidade para a expressão artística.

É essencial para o cantor descobrir como a voz cantada funciona enquanto instrumento
e como pode tirar dela seu melhor proveito para o estilo musical que vai realizar. Nesse
sentido, entende-se que a técnica vocal e o aprimoramento da voz cantada precisa estar
associada a uma consciência corporal para pode explorar a voz de acordo com o
objetivo de cada cantor.

Por isso, é muito oportuno trazer para a área do canto a ideia de corpo cênico afim de
adquirir essa consciência corpóreo-vocal. Corpo cênico é o corpo treinado para
expressar o som desejado descondicionado de vários bloqueios corporais que os atores
ou cantores podem desenvolver. Segundo Martins (2008) trata-se de uma corporificação
do movimento. É uma memorização corporal de novas possibilidades vocais. Aprender
a buscar o controle da voz, sua tonicidade, sem perder a espontaneidade, buscando uma
organicidade na formação corpóreovocal.

Fields (2003) afirma que o corpo e a voz são modelados pelo pensamento e pela criação
da expressão artística para o cantor, no qual o corpo, de forma orgânica, exprime
vocalmente o pensamento. Braga e Pederiva (2007) confirmam que mente, físico e
emoção se entrelaçam na busca de um som vocal de boa qualidade, ansiando conforto,
boa técnica e a melhor interpretação para o canto e o estilo vocal que o cantor deseja
realizar. Dessa forma, pode-se afirmar que quando voz e corpo trabalham juntos como
instrumento integral na prática da performance entendendo, assim, a voz como parte
integrante de um corpo único que precisa ser vivenciado integralmente.

Como o cantor pode atingir seu objetivo? Para um bom desenvolvimento vocal e
aplicação do repertório é necessário prática, uma vez que é um processo. Por isso,
precisamos realizar, diariamente exercícios que envolve relaxamento/alongamento
corporal, respiração, controle e apoio, ressonância e articulação vocal, o repertório em
si.

1.1 Alongamento e relaxamento

Para o canto torna-se impossível o aprendizado efetivo sem que o corpo participe
ativamente, conscientemente. Na comunicação com o próprio corpo ocorre o
aprendizado. Aqui desenvolvemos nossa escuta interna e ativa, para perceber as
estruturas corporais, as sonoridades, a exploração.

Responsável pelo equilíbrio corporal, o ato de alongar, relaxar, explorar as partes do


corpo, deve-nos preparar para a ação que se quer realizar. Deixar o corpo pronto para a
ação, buscando prontidão no que se quer fazer. Além disso, é preciso que o cantor
conheça as partes do corpo que pode tensionar e as que precisa relaxar para que a voz
soe com o menor esforço.
Todo e qualquer exercício que trabalhe o alongamento e relaxamento do corpo, bem
como a consciência corporal são muito utilizados para ajudar o cantor a descobrir todo
seu potencial corporal, bem como ensinar o corpo a cantar com a voz. Eis alguns que
sugerimos:

-pés retos, na altura do quadril possibilitam uma boa postura.


-com uma música suave, silenciar-se e sentir a respiração. Espreguiçar, alongando o
corpo todo. Erguer os braços acima da cabeça, segurar o ar alguns segundos, e soltá-los
soltando ar bem devagar. Realizar movimentos lentos com a cabeça, ombros, braços,
sentindo cada musculatura, punhos, cotovelos, dedos, etc
-realizar movimentos bem grandes como um “SIM”; “NÃO”; “TALVEZ”, sem pressa.
-movimentos de rotação com a cabeça, devagar e com os olhos abertos para não dar
tontura.
-rotação lenta dos ombros, primeiro para frente (5x), depois para trás (5x).
-erguer os ombros, segurar o ar alguns segundos e soltá-lo, juntamente com o ar com
um movimento brusco e rápido.
-Para vocês, cantores cênicos, quais atividades de expressão e/ou jogo corporal podem
ser utilizados como alongamento/relaxamento corporal?

2. APARELHO FONADOR
É composto, basicamente, por três partes: sistema respiratório, as pregas vocais, e as
cavidades de ressonância.

Pulmão
O pulmão é um órgão do sistema respiratório, responsável pela troca do oxigênio
em gás carbônico, através da respiração. É formado por duas massas esponjosas
que preenchem a maior parte da cavidade torácica - formada pela coluna
vertebral, nas costas, pelas costela, nos lados e na frente, pelo diafragma na parte
inferior, pelas clavículas, em cima e pelo esterno no meio do peito.

Laringe
Estrutura que faz parte do aparelho respiratório localizada na região anterior do
pescoço onde se encontram as pregas vocais. Formada por músculos e
cartilagens limitando-se inferiormente na traqueia. Pode ser abaixada ou elevada
enquanto falamos, cantamos, respiramos, deglutimos. Esses movimentos o
aumento ou diminuição do nosso trato vocal.

Faringe
Corresponde a toda parte posterior da nossa cavidade oral. Se abrirmos
exageradamente a boca em frente a um espelho poderemos perceber que no
fundo da nossa garganta parece haver uma parede, que na verdade é a faringe.
Ela se divide em e partes: nasofaringe (espaço logo ao fundo da cavidade nasal),
orofaringe (no fundo da nossa garganta) e laringo-faríngeo (vai desde a base da
língua até o início da laringe).
Vamos fazer alguns exercícios para que você sinta cada uma dessas partes?

-Nasofaringe: inspire lentamente como se estivesse sentindo o perfume suave e


agradável. Você irá perceber um pequeno movimento no fundo da narina, esse é o lugar.

-Orofaringe: provoque um bocejo e perceberá uma expansão no fundo da garganta e


uma elevação do palato mole.

-Laringofaringe: poderá sentir ao deglutir um alimento com maior massa como um pão
francês.

2.1 Respiração

Saber respirar corretamente é um processo fundamental para o canto. Ter um bom apoio
respiratório ajuda na emissão de graves e agudos trabalhando principalmente a afinação,
bem como na dinâmica (fortes e pianos). Respirar bem é meio caminho andado para se
cantar bem.

De acordo com os estudos de Dinville (1993), Fields (1999) e Sundberg (2015), a voz é
o som produzido pelas pregas vocais durante a expiração. O que faz nossas pregas
vocais vibrarem é a passagem do ar. Sem ar, não há som. A respiração fortifica os
pulmões e oxigena o sangue, pois ativa os órgãos responsáveis que equilibram estas
funções. Pode ser: torácica, costodiafragmática, intercostal e abdominal. Para o trabalho
com o canto nos focaremos na respiração costodiafragmática.

A respiração possui dois movimentos: inspiração e expiração. Dentro da produção vocal


o ciclo respiratório altera conforme a comunicação. Quanto mais variações de
intensidade e entonação, maior a exigência da resistência vocal, que está diretamente
ligada à respiração quanto à capacidade vital.

Na respiração silenciosa o ar deve entrar pelo nariz para que seja filtrado, aquecido e
umidificado, chegando aos pulmões em melhores condições. Durante a fala, porém, a
respiração é feita de modo buco nasal, ou seja, o ar entra pela boca durante a fala e
apenas em pausas mais longas a inspiração é feita exclusivamente pelo nariz.

O esforço vocal utilizado para o canto é maior que do que para a fala, principalmente
por causa das alturas tonais das melodias. A respiração tem papel fundamental no
mecanismo da voz cantada. Ela é consciente, treinada, com exercícios variados para o
uso da respiração adequada, o aumento da capacidade respiratória, a descoberta do
diafragma como músculo auxiliar na expiração e o desenvolvimento do apoio. Haverá
grande expansão das costelas e a expiração é ativa.

O uso correto da respiração para a voz cantada é essencial para cantores, pois é preciso
aprender a regular constantemente o gasto de ar de acordo com a intensidade, altura
tonal, tipo de timbre e a extensão da frase a ser cantada ou interpretada. Com isso, é
imprescindível o uso do apoio vocal que deve se concentrar no abdome e na
musculatura da pélvis. Estes movimentos contam com o auxílio do diafragma, que é o
músculo que separa a cavidade torácica da cavidade abdominal. O diafragma é um
músculo essencial na expiração.

Na inspiração ele desce até o abdome tornando possível a entrada de ar nos pulmões. Na
expiração, com a musculatura pélvica apoiada, o diafragma sobe lentamente e pressiona
a coluna de ar que irá passar através das pregas vocais, produzindo assim, o som.
Durante a emissão de som, o cantor deve fazer uma leve pressão abdominal na altura da
pélvis (baixo ventre, cinturão, mais ou menos 4 dedos abaixo do umbigo). É para essa
região que o cantor deve voltar sua atenção, principalmente nas notas mais difíceis.
Dependendo da altura e da intensidade do tom que se está cantando, é necessária uma
determinada energia que será fornecida pela quantidade de ar. Controlar a respiração
significa tirar dela toda a energia que o tom exige para manter sua eficiência.
Assim, cantores aprenderão a controlar o gasto de ar para a tonicidade, sustentação e
projeção da voz. Se o apoio não acontecer na região correta, haverá um tensionamento
da região superior dos órgãos responsáveis pela voz e o apoio passa a acontecer na
garganta prejudicando toda a emissão vocal. Por isso, é importante que esses
profissionais desenvolvam a consciência e o treinamento do seu tônus muscular para
que os esforços aconteçam nos lugares apropriados garantindo a saúde vocal.

2.1.1. Na seqüência, vamos realizar alguns exercícios que nos auxiliaram na


respiração:

-com as mãos sobre o abdome, deixar o ar entrar sem esforço (como se estivesse
sentindo o perfume de uma flor), segurar o ar alguns segundos, pressionando o abdome,
e soltá-lo com força, murchando o abdome. (3 a 5 vezes)
-fazer o mesmo, mas com as mãos nas laterais do abdome.
-inspirar com o nariz e a boca, segurar o ar, pressionando o abdome e, controladamente,
soltá-lo, fazendo sons longos de : “sss..” (mínimo 25 segundos)
“xxx..” (mínimo de 20 segundos)
“zzz..” (mínimo de 25 segundos)
“vvv..” (mínimo de 25 segundos)
“JJJ..” (mínimo de 25 segundos)
OBS: fazer cada um dos exercícios anteriores mais ou menos 5 vezes cada um.

-fazer impulsos de sons, soquinhos, com sons curtos, precisos e fortes que chamamos de
stacatto, com ssss... ;xxxx....;ffff....;zzzz....;jjjj....; no qual o abdome também fará os
impulsos (soquinhos).
-fazer o exercício da bochecha, pressionando o abdome aberto.
-executar TRRR.../BRR...Primeiro em som longo e uníssono e depois com glissandos.
2.2 Pregas Vocais

Localizada na laringe, as pregas vocais são constituídas por músculos revestidos por
mucosas e possuem a forma de dobras ou pregas medindo poucos milímetros. O som da
voz ocorre devido ao movimento ondulatório da mucosa das pregas vocais, que fecham
e abrem o espaço da glote provocando modulações no fluxo aéreo. Esses movimentos
produzem vibrações. A diferença na produção do som grave e do agudo é resultado do
comprimento da prega vocal, da ação muscular e da pressão do ar o que determina o
número de vibrações de nossa prega vocal.

O espaço entre as pregas vocais se chama glote e as extremidades anteriores e


posteriores se chamam cartilagem tireoide e cartilagens aritenoides, respectivamente.
Essas ultimas podem movimentar-se muito rapidamente e seus movimentos são
essenciais para o afastamento e a aproximação das pregas vocais. O afastamento
(abdução) provoca a abertura da glote e a aproximação (adução) o fechamento da glote.
A abdução e adução são os movimentos que nos possibilitam transitar entre fonemas
surdos e sonoros, que veremos mais adiante.

2.3 Ressonância

Temos pontos de ressonância em todo o nosso corpo, e devemos estimulá-los,


principalmente na cabeça e no rosto (ressoadores faciais). A ressonância é responsável
para uma boa emissão do som, pois o aparelho ressoador é o local de onde se tira a
qualidade do som e sua amplitude.

O som que escutamos ao falar não é somente o som que sai das nossas pregas vocais,
mas na verdade, é esse som modificado no nosso trato vocal atingindo as caixas de
ressonância oral e nasal, podendo ser ampliado ou abafado.

Estruturas que fazem parte do trato vocal: laringe, faringe, palato mole e palato duro,
língua, mandíbula, dentes, lábios.
2.3.1Articulação

A passagem fácil e sem defeitos do grave para o agudo depende muito da posição
correta da boca, que é a articulação e que desempenha um papel importante no aparelho
ressoador.

A articulação é responsável pela "moldagem" dos sons que produzimos. É ela que dará
"forma" a cada som depois de amplificado pelos nossos ressonadores. Ou seja, a
articulação, juntamente com a ressonância, desempenha um papel fundamental para a
emissão e qualidade do timbre.

Os articuladores ativos do som são aqueles que realizam o movimento como: língua,
mandíbula, lábios, palato mole, prega vocal. As vogais e consoantes são produzidas a
partir dos movimentos realizados por essas estruturas que auxiliam na modificação do
som. Ao emitir as vogais percebe-se que não há obstáculo à onda sonora, diferente do
que acontece com as consoantes. É muito importante que o cantor articule as vogais de
maneira que não obstrua o som para que ele soe livre.
Diversos efeitos vocais podem ser obtidos dependendo do posicionamento dos
articuladores. Se um cantor adotar sempre uma única articulação, e um mesmo foco de
ressonância, por exemplo, não explora e nem desenvolve seu potencial vocal para o
canto. Veremos a seguir, como as vogais influenciam no som vocal e podem sofrer
modificações no som desejado.

2.3.2. Posicionamento dos articuladores no canto popular:


Movimentos amplos ou diminuídos da boca interferem no sinal sonoro e podem trazer à
sua interpretação vocal maior ou menor efeito. Temos possibilidades infinitas. O
equilíbrio no uso de recursos de ressonâncias, bem como nos recursos prosódicos,
interferem na sua interpretação e provocam sensações diferenciadas nos ouvintes.
Á, É, Ó: vogais abertas.
-No grave:
Mandíbula, laringe e faringe na mesma posição da voz falada. Palato mole elevado.
Língua como na voz falada, cuidando para não tensioná-la o que poderia trazê-la para o
fundo da garganta obstruindo o som.

-No agudo:
Mandíbula desce (boca de bobo), pois este movimento favorece a descida da laringe,
proporcionando características mais aveludadas para os sons agudos e tirando o som
“estridente”. Palato mole se eleva à medida que atinge os sons mais agudos. Língua
deve se manter relaxada, sem tensão, com a ponta dela sempre na direção dos dentes
incisivos inferiores.

É, I: vogais horizontais
-No grave:
Faringe e laringe posição normal. Mandíbula dar um leve sorriso (horizontal)
diminuindo o trato vocal. Palato mole elevado.

-No agudo:
Mandíbula vai descendo à medida que você sobe na escala musical. Faringe vai
expandindo. Palato mole vai se levantando à medida que você sobe a escala musical.
língua relaxada e apoiada na parte posterior dos dentes incisivos inferiores.

Ó, U: vogais fechadas (característica sonora mais escura)


-No grave:
Mandíbula, laringe e faringe na mesma posição da voz falada. Palato mole elevado.
Lábios levemente projetados para frente.

-Nos agudos:
Mandíbula vai descendo à medida que sobe a escala musical. Faringe vai expandindo.
Palato mole vai se elevando à medida que sobe a escala musical. lábios projetados para
frente. Língua sem tensão, sempre observando para que a parte posterior dela não vá se
colocando para o fundo da garganta e o som fique entubado.

Classificação das consoantes:


• QUANTO AO MODO DE ARTICULAÇÃO:
OCLUSIVAS: obstáculo total
NASAIS: fossas nasais
CONSTRITIVAS: obstáculo parcial. (fricativas, laterias ou vibrantes).

• QUANTO AO PONTO DE ARTICULAÇÃO:


Bilabiais
Labiodentais
Linguodentais
Alveolares
Palatais
Velares

• QUANTO AO PAPEL DAS CORDAS VOCAIS:


Surdas ou Sonoras

• QUANTO AO PAPEL DAS CAVIDADES BUCAIS:


Orais ou Nasais

CONSOANTE CLASSIFICAÇÃO EXEMPLOS TRANSCRIÇÕES


OCLUSIVAS
[p] Oclusiva bilabial surda paca ['pakɐ]
[b] Oclusiva bilabial sonora bata ['batɐ]
[t] Oclusiva dental-alveolar surda toca ['tɔkɐ]
[d] Oclusiva dental-alveolar Sonora data ['datɐ]
[k] Oclusiva velar surda cada ['kadɐ]
[g] Oclusiva velar sonora gota ['gotɐ]
FRICATIVAS
[f] Fricativa labiodental surda faca ['fakɐ]
[v] Fricativa labiodental sonora vaca ['vakɐ]
[s] Fricativa alveolar surda Saca ['sakɐ]
[z] Fricativa alveolar sonora azar [a'zax]
[ʃ] Fricativa alveopalatal surda chata ['ʃatə]
[ʒ] Fricativa alveopalatal sonora Jaca gema ['ʒakɐ] ['ʒemɐ]
[x]* Fricativa velar surda Mar ['max]
[ɣ]* Fricativa velar sonora corda ['kɔɣdɐ]
[h] Fricativa glotal surda corta ['kɔhtɐ]
[ɦ] Fricativa glotal sonora corda ['kɔɦdɐ]
[χ] Fricativa uvular surda roda ['χɔdɐ]
parte ['paχtʃɪ]
[ʁ] Fricativa uvular sonora barba ['baʁbɐ]
NASAIS
[m] Nasal bilabial sonora mala ['barbɐ]
[n] Nasal alveolar sonora nata ['natɐ]
[ɲ ] Nasal palatal sonora sonho ['soɲʊ]

VIBRANTE
[r] Vibrante alveolar sonora caro ['karʊ]
[ʀ] Vibrante uvular sonora rota ['rɔtɐ]
turvo ['tuʀvʊ]
RETROFLEXA
[ɽ ] Retroflexa alveolar sonora porca ['pɔɽkɐ]
APROXIMANTE
[ɹ] Aproximante alveolar sonora prato ['pɹatʊ]
LATERAL
[l]** Lateral alveolar sonora lata ['latɐ]
[ʎ ] Lateral palatal sonora palha ['paʎɐ]

Vocalize

A vocalização ajuda na impostação da voz. Os vocalizes são feitos com intervalos


musicais dispostos melodicamente e acompanhados por um instrumento harmônico
assegurando a afinação do cantor. Os intervalos musicais na vocalização ajudam a
educar o ouvido e aumentam a extensão de voz.

A vocalização correta exige o domínio da respiração (inspiração-expiração/diafragma),


dos ressoadores e articuladores. E, se realizada corretamente, a vocalização contínua
aumenta a extensão vocal, melhora a sonoridade, e realiza o alcance das notas com mais
facilidade, firmeza e segurança.

Para vocalizar, normalmente usamos vogais para o desenvolvimento dos articuladores e


amplitude da voz. Estas podem vir acompanhadas de consoantes que de acordo com o
modo e ponto de articulação, posição da língua e dos lábios, também trabalham a
emissão do som. Outra forma bem interessante de vocalize são com trechos curtos de
canções.

2.3.3 Segue alguns exercícios que vão ajudar na articulação e ressonância:

1) inspirar profundamente, e controlar a saída de ar com: mémmmmmm


2) inspirar profundamente e controlar a saída de ar com: nnnnnn sentindo o ar e o som
sair do nariz. (deixar a boca boba)
3) inspirar, fazer boca chiusa (boca fechada por fora e aberta por dentro como um
bocejo de boca fechada e som de mmm) num som em uníssono por 1 minuto. Em
seguida fazer boca chiusa com som alternado por 1 minuto. Por fim fazer boca chiusa
em som de “roda gigante” por 1 minuto.
4) “mastigar” o som com boca chuisa e soltá-lo em : mua / mué/ muó. Sempre
mantendo a boca boba.
5) em uníssono cantar as sílabas: LOM MON NÔN prolongando as consoantes nasais
ao final da pronúncia. Realizar em várias alturas partindo do som grave até chegar um
tom mais agudo.
6) cantar: Ba,Da,Ga (utilizando a boca vertical, língua relaxada – como bocejo- e a
respiração). Substituir a vogal “a” pelas outras (ê, é, i, ô, ó, u)
7) cantar Pa,Ta,Ka e fazer o mesmo de exercício anterior.
8) cantar Va,Za,Já e fazer o mesmo do exercício anterior.
9) cantar FaÇaXa e fazer o mesmo.
10) Realizar vocalizes com vogais para o aquecimento do grupo.
11) usar trava línguas, ditados populares, trovinhas com melodias, alternado as alturas e
mudando os pontos de articulação para trabalhar a voz artística

RESUMINDO TUDO!!!!!!
O mecanismo da voz acontece da seguinte forma: pela inspiração de ar enchemos
os pulmões. Este ar se transforma em som quando, na expiração, acontece as
vibrações das pregas vocais. Os articuladores têm a função de receber o som da
laringe e dirigi-lo para o aparelho ressoador onde adquiri amplitude e qualidade.

3. SAÚDE VOCAL

Entendemos por saúde ou higiene vocal, a questão da saúde da voz e os procedimentos


necessários para sua conservação e longevidade. As normas básicas de saúde vocal são
praticamente desconhecidas da população. Quem já não foi aconselhado por alguém a
tomar um chá, chupar uma pastilha, um spray “mágico” para se livrar da dor de
garganta? Ou ainda, comer cebola, ovo cru, óleos diversos para deixar a voz mais
bonita?

Atualmente muitos destes “mitos” já foram e estão sendo quebrados através de estudos
e comprovações de sua ineficácia. Vamos ressaltar alguns pontos e conhecer as
verdades e mentiras:

1) o cantor não deve se utilizar de pastilhas, spray local, balas de hortelã e gengibre
com a finalidade de manter uma voz saudável, pois estes recursos causam efeito
contrário, ou seja, mascaram a dor do esforço vocal, dando uma falsa sensação
de melhora e prejudicando ainda mais o estado das mucosas, que é o tecido que
reveste a faringe e as pregas vocais.

2) o fumo e a fumaça do cigarro fazem mal à voz e a saúde. Um indivíduo fumante


provoca alterações na voz, pois causam um aumento de secreção e de muco o
que provoca o pigarro. Além disso, é responsável pela incidência do câncer da
laringe e dos pulmões.

3) não é certo ficar pigarreando para tirar a secreção da garganta, pois as tentativas
de soltar esta secreção causam uma irritação na mucosa e descamação do tecido.
O mais adequado para soltá-la é a super-hidratação, e os exercícios de vibração
(trrrr/brrr).

4) uísque, conhaque, pinga, etc, não são indicados para o cantor, pois uma vez
ingeridos, o indivíduo se sente mais solto e a laringe é levemente anestesiada,
por isso ele acaba cometendo abusos vocais e só perceberá suas conseqüências
após o efeito da bebida que são: ardor, queimação e voz rouca e fraca.

5) o cantor não tem uma alimentação específica, mas deve ser bem equilibrada e
basicamente protéica, para dar força e vigor ao tônus muscular. Alimentos
pesados e muito condimentados dificultam a digestão e também a movimentação
livre do diafragma.
6) antes de cantar, o cantor não deve comer chocolates, mel, leite e derivados, pois
aumentam a formação de secreção e engrossam a saliva prejudicando a
ressonância e produzindo pigarros.

7) alimentos com a maçã, salsão possuem propriedades adstringentes e devem ser


ingeridos com freqüência, pois auxiliam na limpeza da boca e faringe, afinam a
saliva e ajudam a eliminar a secreção. Os sucos de laranja e limão também
auxiliam a absorção do excesso de secreção.

8) a água deve ser o carro chefe dos cantores, pois hidratam a mucosa, eliminando
a secreção e ajuda a afinar a saliva, além de fazer muito bem à saúde.

9) alimentos e bebidas geladas fazem mal, pois provoca choques térmicos com a
mudança brusca de temperatura o que pode causar edemas nas pregas vocais.

10) ventilador e ar condicionado podem causar alterações na voz em indivíduos pré-


dispostos. Quando muito tempo em ambiente com ar condicionado é necessário
uma melhor e maior hidratação da mucosa.

11) no período pré-menstrual e nos primeiros dias de menstruação, em conseqüência


do inchaço nas pregas vocais provocado pela alteração hormonal, há uma
alteração na voz. Podemos observar voz cansada, discreta rouquidão com voz
mais grossa e dificuldade de afinar.

12) nunca cante quando estiver em más condições de saúde – gripes, crises
alérgicas- pois não há uma boa emissão de voz e o inchaço nas pregas vocais
causado por estes sintomas podem provocar a rouquidão.

13) aquecer a voz sempre antes de cantar.

Dicas importantes:
-Seja paciente. Os resultados poderão não ser rápidos.
-Seja metódico. Procure ter períodos regulares de aprendizado.
-Não seja pessimista. Se você aprendeu a falar, deve poder aprender a cantar. É tudo
uma questão de se aprender a usar a voz; desde que você se esforce bastante.
-Não seja excessivamente confiante. Alguns se valorizam excessivamente. Começam a
praticar e logo dizem: Já está bom, pode passar para a frente, é moleza demais, é coisa
de criança... Esses são, geralmente, os que cantam mal, acham que cantam bem, são
muito prontos a acreditar em qualquer elogio (ainda que proferido por alguém que não
sabe o que está falando, ou que queria apenas incentivar)
-Da mesma maneira que precisamos aprender a usar a voz para cantar, precisamos,
muito mais aprender a usar o ouvido. As pessoas que não sabem cantar, geralmente
acham que "já está bom", quando nem ao menos estão cantando a nota certa. Mas, não
se preocupe. Você vai conseguir, se fizer da maneira correta. Utilize os recursos abaixo:

a. Seria muito bom se você gravasse os exercícios que faz. Parte dos sons da sua
própria voz, quando você ouve, não vêm do ambiente, mas chegam até seus
ouvidos pelas fibras musculares que estão entre sua garganta e seu ouvido. Por
isso é que você ouve sua própria voz mesmo com os ouvidos tapados. Toque o
CD em um aparelho e grave enquanto canta.
b. Lembre-se de que sua voz não é que você ouve, pois você ouve parte pelo
ambiente e parte pelo próprio corpo (fibras musculares). Não se assuste: o
gravador não está com defeito (o som parece estranho) e você não tem uma voz
tão horrível quanto possa parecer. O fato é que você não a conhecia e está
procurando aprender como usá-la melhor.
c. Ouça a gravação atentamente, tentando analisar quais os detalhes que precisam
melhorar, onde não está tão bom assim, onde as notas musicais não estão tão
parecidas com as gravadas, onde você não alcançou ou não cantou corretamente,
e observe também a qualidade da colocação da sua voz.
d. Se possível, procure ser acompanhado por outra pessoa, quando for praticar;
quem sabe alguém que também esteja aprendendo como você, ou mesmo
aprendendo junto com você. Quatro ou mais ouvidos sempre estarão mais
atentos que apenas dois.

-Não faça cada exercício apenas uma vez. Não adianta nada. Cada exercício deve ser
repetido até que esteja sendo executado com facilidade e qualidade. Não é necessário
que você faça apenas um exercício por dia. Você pode fazer de três a cinco, ou mais.
Depende do tempo de que você dispõe. Apenas não pare de fazê-los antes que esteja
executando-os com facilidade, qualidade e correção. Aí vá substituindo cada exercício
completado pelo seguinte que você ainda não realizou.
-Se possível, escolha um horário em que não esteja sob efeito de stress ou cansaço para
exercitar.

Referências

BAÊ, Tuti; MARSOLA, Mônica. Canto, uma expressão: Princípios básicos de técnica
vocal. São Paulo: Irmãos Vitale, 2000.

BEHLAU, Mara; BRASIL, Osíris O. C. do; ZAMPIERI, Sueli A. Análise de cantores


de baile em estilo de canto popular e lírico: perceptivo-auditiva, acústica e da
configuração laríngea. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia v. 68, nº 3, 378-86,
maio/junho 2002.

BEHLAU, Mara (organizadora). Voz: o livro do especialista - Volume II. Rio de


Janeiro: Revinter, 2005.

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BRAGA, Adriana; PEDERIVA, Patrícia L. M. A relação corpo voz: percepção de


coristas. In: Encontro Anual da ABEM, 2006, João Pessoa, 2006.

____________________________________ A consciência corporal no âmbito da


relação corpo voz. In: XVIII Congresso Anual da ABEM, 2008, Salvador, 2008.

DINVILLE, Claire. A técnica da voz cantada. Rio de Janeiro: Enelivros, 1993.

FIELDS, Victor Alexsander. Foundations of the singer’s art.


SPECHT, Ana Cláudia. O ensino do canto segundo uma abordagem construtivista:
investigação com professoras da educação infantil. Dissertação (mestrado) –
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mestrado em Educação, Porto Alegre,
2009

SUNDBERG, Joan. Ciência da voz: fatos sobre a voz na fala e no canto. São Paulo:
Edusp, 2015

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