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Quais as possibilidades de sensibilizar seu

coro e transformar a sonoridade?


Já reparou que é sempre decepcionante ouvir pela primeira vez o som do coro
na leitura de uma peça?

Isso acontece porque este som está distante daquele que foi gerado em
nossa mente. Mas é a partir daqui, desta diferença, através de
nossas orientações e abordagens durante os ensaios que se dará o
direcionamento do “som bruto” do coro.

Ou seja, se você não pedir, não trabalhar, não ensaiar, não orientar nada em
termos de sonoridade, o resultado sonoro na apresentação será aquele, do
primeiro ensaio: “o som bruto”.

Importante ressaltar que este é um assunto muito subjetivo.

Embora a identidade sonora do coro seja facilmente percebida e


completamente perceptível a qualquer ouvinte, ou seja, é um resultado
verificável objetivamente pelos sentidos, considerar a ideia de um som, é
tratar de algo de uma subjetividade imensa!

Alguns aspectos importantes:

. O som que você escolheu como referência deve, primeiramente,


te inspirar imensamente. Afinal esta será sua prioridade, seu foco, por muito
tempo. Será na busca da construção desta sonoridade que muitas horas e
muita energia serão empenhadas.

. Tenha boas referências de som de coro: aproveite a tecnologia, refine


suas pesquisas e ouça/assista bons coros, faça escolhas,
tenha preferências, compare e pense em possibilidades e estratégias
para sensibilizar e orientar seu coro a se aproximar da sonoridade
desejada.

. As suas referências sonoras são resultantes de suas


próprias buscas e escolhas. É um caminho que é percorrido objetivamente
por você e compartilhado com seus coros. Este é um caminhar solitário
porém, seus cantores serão seus aliados comprometidos, e neste sentido,
você não estará sozinho.

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A chave para uma boa sonoridade é sensibilizar e conquistar seus
coralistas para se tornarem seus aliados na busca por um som de
qualidade.

O desenvolvimento da sonoridade do coro é um processo e, portanto, é


preciso investir tempo no objetivo de construir o som que você, como regente,
deseja. Nada é rápido nem imediato. Não existe “pílula mágica”. Tenha isso
em mente e também deixe isto claro aos coralistas.

Persista e não desista!


Até que alguns cantores entendam a sonoridade que você propõe e possam se
tornar referências em seus naipes, o processo pode se tornar cansativo, pois
envolve constantes correções.

. Quem trabalha com coros semiprofissionais ou profissionais, através


de orientações bem direcionadas e estratégicas, consegue se aproximar
muito ou chegar ao som imaginado. Mas não pense que, pelo fato de o coro
ser profissional, ou de alunos de música, a definição de uma concepção
sonora não é tão importante. Pelo contrário, ela se faz ainda mais necessária!

Por exemplo: na Academia Concerto temos um coro de câmara


profissional. Todos os integrantes do Coro Academia
Concerto são cantores, regentes e professores de canto. Pode-se pensar
que o trabalho de sonoridade num grupo desses é desnecessário, já que todos
sabem o que fazer com a voz.

Mas a questão é que, cada um destes cantores tem a sua concepção


individual da sonoridade das peças. Neste caso, uma ideia de som muito
bem definida, trabalhada e comunicada aos cantores se faz ainda mais
necessária da parte de quem rege. Caso contrário o coro soará como
uma “salada de sonoridades”! Temos alcançado um ótimo resultado neste
aspecto, com reconhecimento no Brasil e no exterior.

Com coros não profissionais é preciso, em alguns casos, entrar em acordo


sonoro. Os progressos podem ser lentos e tímidos e na maioria da vezes, o
resultado não será exatamente o idealizado.

Então, se torna importante aceitar que aquele som é o máximo do seu


coro para aquele momento específico. Continue na jornada para melhoria da
sonoridade do coro, mas nada de ficar ensaiando eternamente em buscsom

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que o coro ainda não tem capacidade de reproduzir! Negocie um meio
termo!

. As possibilidades são inúmeras: trabalhar sonoridade coral é admitir uma


enorme gama de escolhas técnicas, caminhos musicais,
imaginar exercícios vocais e outros aspectos perfeitamente acessíveis.

. A voz humana é capaz de assumir características bem distintas e


construir timbres únicos. Conheça a matéria prima que construirá o som do
seu coro. A responsabilidade em trabalhar com a voz humana é grande e pode
ser a diferença para ter cantores sempre com boa saúde vocal e um coro
com sonoridade diferenciada.

. Para atingir suas metas em relação a sonoridade é preciso muito estudo,


muito compromisso com a música e consigo mesmo. Persiga suas chances
de desenvolvimento pessoal, de comunicação, gestual da regência,
de estudos musicais, estética musical, técnica vocal, repertório, enfim
conteúdos que possam abranger e contribuir para sua própria formação e
informação. Assim você terá ferramentas para transformar a sua concepção
sonora em realidade!

. Convide regentes para ministrar workshops ou para reger apresentações do


seu coro como regente convidado, expondo seu coro a momentos especiais,
conduzidos por regentes que reforcem a linha de trabalho que você tem
desenvolvido. Isto é importante para variar a rotina de
trabalho, descentralizar a liderança, reforçar suas orientações musicais
através das abordagens de outro regente, além de variar as ferramentas para
chegar ao mesmo objetivo musical. Muitas vezes algo que você está há muito
tempo tentando fazer o coro entender, sobre a sonoridade, pode ser facilmente
assimilado se apresentado por outro regente.

Um exercício para você


Escolha um peça do seu repertório:

> Afaste-se do piano ou qualquer fonte de referência sonora, como CDs ou


vídeos na internet.

> Coloque a partitura sobre uma mesa.

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> Não faça qualquer gesto, nem cante – apenas siga a partitura com os olhos
como se estivesse regendo.

> Cante mentalmente, buscando a sonoridade que você quer ouvir do coro
nesta peça.

> Trabalhe em sua cabeça cada aspecto do som: timbre, cor, textura,
equilíbrio entre as vozes, dinâmica, fraseado, etc. Faça mudanças e
experiências até chegar a um resultado que você considere satisfatório.

Anote tudo em sua partitura.

> Repita quantas vezes for necessário até que esta concepção
sonora esteja definida internamente em você – não vá para a frente do coro
antes de definir o som que você espera da peça.

> É assim que um regente se prepara para um trabalho de alto nível.

O termo “blend” (do inglês: mistura) é utilizado para produtos que são o
resultado da combinação de vários ingredientes diferentes que, se
combinados de maneira correta e harmoniosa, resultam num produto de

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destacada qualidade. Por exemplo: blends de chás, cafés, carnes, vinhos, e
outros.

Entender alguns assuntos através de conceitos opostos é um recurso que


garante condição e critérios para muitas pessoas compreenderem algo.

O que quero abordar aqui é:

O que é negociável ou não, no contexto do ensaio, para que o coro tenha


um som melhor?
Se você acompanha de perto o trabalho de uma orquestra ou coro de sua
preferência é porque, de muitas formas, considera o som desses grupos
como referência. Verificamos facilmente que dentro do âmbito
musical, grupos bem dirigidos não negociam concepção sonora!

Até coros profissionais em que os cantores são profissionais da voz e, portanto,


tem características vocais peculiares e únicas, precisam trabalhar para
uma homogeneidade na emissão para soar como unidade coral coerente.

Obviamente que o objetivo da existência do coro também conta, pois a


qualidade do bloco sonoro está completamente ligada à finalidade de cada
coro.

Mas…regentes precisam definir dentro de si a concepção sonora de seus


coros.

Já cheguei a defender até mesmo a importância de uniformizar a roupa do coro


– um critério objetivo para alcançar um critério subjetivo – para que isso
contribuísse com a formação da homogeneidade do som! Isso porque
entendo que o heterogêneo na configuração da realidade brasileira não precisa
ser estimulado nem privilegiado: ele é real, perceptível e se apresenta
naturalmente. Está em nossa configuração estrutural genética, na postura, na
realidade que cada um enfrenta diariamente, nos interesses em fazer parte de
um coro e por fim, na voz natural de cada um.

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Talvez por isso a palavra “blended” em inglês, dê melhor a ideia da mistura
resultante que um bom coro deve ter, soando com simplicidade e
uniformidade.

A diversidade vocal que os cantores apresentam no início dos trabalhos deve


ser apenas ponto de partida. Pode ser que a ideia da diversidade cultural e

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inclusão do diferente no aspecto social, permeiem as mentes dos regentes,
mas esse pensamento, no contexto do som do coro que precisa ter qualidade,
é uma cilada!

Com atitudes gerenciais assertivas o regente pode desenvolver a


sensibilização musical de seu coro na direção da homogeneidade.

O comportamento e disposição interna de um coralista deve ser o de


alguém disponível e disposto em ir adiante. Faz parte da educação musical
de seu coro que cada indivíduo compreenda a responsabilidade em manter a
qualidade vocal e que por vontade deseje se tornar uma unidade sonora,
que seja coerente musicalmente.

Para além do âmbito musical: todos nós somos consumidores e quando


compramos um produto, sabemos exatamente o que esperamos em termos de
qualidade. Neste caso, qualidade é opcional e funciona apenas como um
diferencial do produto, ou é obrigação inerente ao produto?

Encare a voz de cada cantor como uma cor de tinta. Sua tarefa é harmonizar
todas as cores e fazer uma obra de arte sonora!
Vamos admitir aqui que existam 2 tipos de coros: o que soa heterogêneo e o
que soa homogêneo.

O som coral resultante do bloco sonoro heterogêneo:

▪ É desequilibrado. Cada naipe se sobressai ao seu próprio modo.


Os cantores não se preocupam com a emissão e nem com a audição
do som do entorno.

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▪ Soa desafinado. O ajuste interno das vozes não acontece, pois a
emissão não é combinada, padronizada e orientada. Uma terça
afinada passa a ser uma vaga lembrança ou um sonho quase
inatingível!

▪ A fluência musical soa comprometida, pois todas as notas tem o


mesmo peso, os fraseados são pobres, a respiração não é usada
para facilitar.

▪ Revela baixa sintonia musical (diferente de sintonia relacional)


entre os cantores.

▪ Frequentemente ouve-se “solistas” em cada naipe, uma voz que se


sobressai sobre as outras. Há também muita diferença entre as
expressões faciais…geralmente um indivíduo “rouba a cena” em
suas expressões interpretativas.

▪ É desagradável: sua audiência nem sabe exatamente dizer o

por que não gostou, mas de fato, se sente cansada no meio da terceira
peça do concerto. Familiares e amigos serão mais amistosos nas análises,
mas um público seleto terá incômodo para permanecer no ambiente. Pode
acreditar!

Um coro é formado por vozes com características individuais. Cabe ao regente


transformá-las num grupo com unidade sonoridade homogênea.
O som coral resultante do bloco sonoro homogêneo. Algumas sugestões:

▪ Conhecer cada um dos cantores e suas características vocais.


Aqui está o fundamento para saber orientar as especificidades tanto
do cantor que é tímido e não solta a voz, quanto para quem tem boa

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projeção vocal e frequentemente encobre o naipe ou até mesmo o
coro todo!

▪ Fundamental promover a sensibilidade e educação da


audição dos coralistas, principalmente amadores.

▪ Cantar misturados, sem blocos de naipes, em sequência de


quartetos ou octetos, por exemplo. Esta estratégia cai bem em coros
de níveis intermediários e avançados. Pode ser usada nos ensaios e
apresentações.

▪ Nos ensaios: Separar o coro em dois grupos. Proponha que um


ouça o outro, e depois peça que façam observações sobre o que
ouviram. Os próprios cantores precisam saber identificar os critérios
musicais que já foram solicitados e ser capaz de identificar os erros
através da escuta.

▪ Faça um círculo com o coro em pé. Proponha que todos se virem de


costas e peça que cantem…sem o contato visual com a regência e
com outros cantores. O único ponto de referência deve ser o som
ambiente. Portanto o ouvido será o “GPS”. Estratégia boa para
buscar o equilíbrio das vozes.

▪ Se o seu coro tem 4 vozes, por exemplo, conduza trechos com


apenas 2 das vozes durante os ensaios (sopranos + tenores e
depois contraltos + baixos, por exemplo ). Apenas uma voz em
relação à outra, principalmente se o discurso harmônico do trecho for
mais complexo, para desenvolver a percepção em relação à outra
voz e o ajuste entre elas. As outras duas vozes devem acompanhar
concentrados em suas próprias vozes e se imaginar dentro do
contexto que está sendo ouvido.

▪ Separe pelo menos 5 minutos do ensaio para ouvir uma peça de


um bom coro que soe homogêneo e proponha que o coro levante
os principais pontos em forma de diagnóstico em outros 5 minutos.
Reforço que o formato apenas de áudio é ideal aqui. Os recursos do
vídeo desviam o foco, que é de desenvolver a escuta! Esse tipo de
sensibilização constante promove imensas mudanças, pois o coro
passa a ter parâmetros de comparação.

▪ Outra prática: grave sempre o seu coro! Ensaios e concertos!


Faça-os ouvir e proponha a autoanálise. Esta dinâmica vai ajudar a
desenvolver o senso crítico individual e do conjunto.

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Um modo muito interessante de criar um exercício vocal, que já utilizei em meu
trabalho com coros iniciantes, é usar um trecho de melodia do próprio
repertório como matéria prima. É incrível o que apenas algumas notas
distribuídas em 3 ou 4 compassos podem resultar!
A repetição sistemática dos vocalizes, apesar de toda fundamentação técnica,
pode parecer mecânica, um pouco vaga ou sem sentido para seus coralistas
iniciantes, mas você pode usar um pequeno trecho da melodia de uma das
peças que irá trabalhar no ensaio, na forma de vocalize para direcionar a
resolução do problema que está travando o desenvolvimento do coro naquele
repertório.
Um bom critério para escolher qual trecho utilizar é: pense no vocalize que
você utilizaria para alcançar os objetivos técnicos, e busque no repertório
trechos com as mesmas características.
Se não encontrar um trecho adequado nas músicas que estão programadas
para este ensaio, não tem problema! Procure em outras peças do repertório.

6 Vantagens
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Recruta a criatividade do regente pois você terá que imaginar soluções que
possam ser aplicadas na resolução de problemas musicais. O trecho
separado, que vai se transformar em vocalize, deve ser cuidadosamente
preparado para isto.

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Preserva o objetivo do vocalize, que é treinar a voz percorrendo regiões para o


agudo ou para o grave.

Familiaridade: O coro já ouviu o trecho da melodia do repertório pois está


sendo ensaiado semanalmente. Isso reconecta seu coralista ao necessário.
Além disto, economiza tempo de ensaio que seria utilizado para ensinar algo
novo, como ensinar um vocalize do zero. Parece pouco, mas todo minuto bem
direcionado traz ganhos musicais incríveis ao desenvolvimento do coro.

Direcionalidade harmônica: promove o treinamento harmônico direcionado.


Parece pouco, mas num ambiente pouco musicalizado como o
brasileiro, situar o ouvido do coralista ao modo menor (ou algum outro modo
em que o repertório possa estar escrito) é muito importante para garantir
a afinação e diminuir a insegurança ao cantar. Geralmente os vocalizes são
sempre propostos e repetidos no modo maior e eu não faço a menor ideia do
porquê! Por certo que o repertório do seu coro tem peças em modo menor.
Então…aproveite essa possibilidade e escolha um trecho claro que identifique
o modo para trabalhar.

Torna o momento de vocalizar mais interessante para o leigo. Isso é muito


importante para a construção do som do seu coro. Quando os coralistas
repetem mecanicamente um vocalize durante minutos, maior é a chance de
eles cantarem o que será ensaiado do repertório da mesma forma! Utilizando
trechos do repertório na vocalização é mais fácil construir sensibilidade artística
na entoação durante um simples vocalize.

Recruta a memória: você pode fazer referência durante o ensaio todo a


respeito do que foi trabalhado na preparação vocal. Se o som conseguido na
preparação vocal se perder durante o decorrer do ensaio, recupere sempre

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esta memória sonora, lembrando aos cantores que o som deve ser como há
25 minutos atrás, por exemplo, durante a preparação vocal. Temos de persistir
na busca da melhor sonoridade para nossos coros!

O uso de analogias como ferramenta e estratégia pedagógica é um


excelente recurso para seus coralistas entenderem conceitos musicais. Use
fatos do dia a dia ou acontecimentos do momento e estabeleça
uma comparação com o conteúdo que seja necessário ser compreendido e
assimilado.

Alguns colegas regentes estão por encerrar suas atividades do semestre para
iniciar as férias de inverno. Neste ano o mundial de futebol ainda proporcionará
alguns bons momentos de euforia durante as férias.

Vamos pensar sobre algumas semelhanças entre times de futebol e grupos


corais?

Entre em campo com seu coro

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1 – Escalação Correta Do Time

Jogadores têm características peculiares e únicas e se jogarem em posições


erradas, não atingem seu rendimento máximo. Quando você tem cantores
improvisados fora de sua posição (voz) além de você não ter o
mesmo rendimento e qualidade vocal, corre o risco de prejudicar a saúde
vocal do seu coralista!

Um zagueiro improvisado de atacante não sabe fazer gol! Os dois podem


correr do mesmo jeito, usar uniforme, mas para fazer gol, é preciso um
atacante e para defender, é preciso um zagueiro.

Da mesma forma, uma soprano não pode ser escalada pra cantar
contralto só porque o naipe está pequeno. Nem sempre o seu tenor de voz
mais potente vai dar conta daquele solo num repertório barroco. E o seu
pianista não pode se sentar num órgão e tocar o acompanhamento como se
fosse piano. Percebe que se escalar mal seu time, pode perder de goleada?

2 – Posicionamento Em Campo

Pequenas mudanças de posicionamento dos jogadores podem definir um


bom placar. O mesmo acontece com o melhor posicionamento dos cantores do
coro dentro do naipe. Aprenda a treinar o ouvido para buscar o melhor
resultado sonoro, alterando posições. O som deve resultar sempre mais
homogêneo e com o melhor “blend” possível.

A forma como você posiciona o coro também interfere no resultado –


falamos a esse respeito em nosso artigo sobre afinação. Não se prenda a
posições fixas. Treine e acostume o coro a cantar em várias formações
diferentes conforme as necessidades da acústica, do repertório, da
configuração do local da apresentação ou do número de vozes que você tem
disponível para aquele dia.

3 – Planejamento Estratégico

Uma seleção que pretenda disputar uma Copa e alcançar um bom resultado
precisa de um planejamento de curto, médio e longo prazo. O caminho até
seu objetivo final deve ser trilhado com uma estratégia definida.

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Por exemplo: se você tem um compromisso importante com seu coro, a estreia
de um novo repertório, uma cantata, uma competição ou algo parecido,
agende “jogos amistosos”!

Apresentações em locais e com plateias com menor grau de


responsabilidade. Desta forma o coro se sente menos pressionado e você
terá a chance de fazer ajustes e correções até alcançar o resultado final.
Agende uma série de apresentações com grau crescente de dificuldade e
responsabilidade.

Intercale entre cada compromisso pelo menos um ensaio. Desta forma você
pode cantar – gravar – analisar – corrigir no ensaio – cantar de novo – analisar
e avaliar – corrigir de novo… e assim por diante até seu objetivo ser alcançado!

1. Comece com um ensaio aberto – passando o programa do início


ao fim, mas por ser um ensaio, é possível
fazer interrupções para correções e orientações. Deixe o coro
utilizar trajes informais.
2. Realize uma primeira apresentação fechada – promova uma
apresentação apenas para familiares, alunos da escola ou membros
da comunidade. Imprima uma dinâmica de apresentação cantando
o programa todo “pra valer” sem interrupções. Faça uso do uniforme
e cobre do coro a postura e atitude que você quer ver nas
apresentações oficiais.
3. Primeira apresentação aberta – agende a primeira apresentação
pública em um local pequeno, para um público menos exigente e
faça uma divulgação pequena, mais voltada para a comunidade
local.
4. Apresentações abertas – agora está na hora do coro encarar
apresentações com maior grau de exigência. Agende pelo menos
duas. Até aqui foram 3 apresentações e você já teve oportunidade
de correções e ajustes no repertório. O coro, a esta altura, já estará
mais confortável e confiante.
5. Última apresentação de preparação – Aqui você deve buscar
a maior exposição possível para testar o coro. Procure um local
com um público mais exigente. Faça uma ampla divulgação
aumentando a pressão sobre o grupo. Convide amigos regentes ou
professores para assistir. Peça a opinião deles após a apresentação
e traga este feedback para o coro.

Outra utilidade desta estratégia é para a memorização do repertório. Como


trabalhamos preferencialmente sem pastas, esta é um meio de alcançar este
objetivo.

Você pode utilizar o calendário e um planejamento estratégico para atingir


vários objetivos: mudança de repertório, a estreia de uma nova peça, melhoria
da técnica vocal, desenvolvimento da leitura, novas vozes para o coro,
entrosamentos do coro etc.

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4-Preparação Física

Seus coralistas são seus jogadores e assim como no futebol, o desempenho da


sua equipe está diretamente ligado à condição física deles – no caso, a voz!
Um jogador talentoso num campo perfeito, dentro de um time de craques, não
marca gols sem uma condição física condizente!

Não é possível encarar uma partida de 90 minutos sem se aquecer. Entrar em


campo sem aquecimento, nem pensar! Expôr um cantor à atividade vocal sem
a devida preparação e aquecimento é uma IRRESPONSABILIDADE!! Sem
isso o coro não rende, não soa, não afina e, ainda por cima, seus cantores
podem desenvolver lesões sérias na voz!

Sem desculpas!
. “O ensaio começou atrasado“ – use parte do tempo do repertório ou
termine o ensaio uns minutos mais tarde, mas nunca deixe de aquecer!

. “Eu tenho pouco tempo de ensaio“ – coro que ensaia devidamente


aquecido rende mais, alcança os resultados em menos tempo e otimiza o
uso do tempo de ensaios!

. “O concerto é ao ar livre“ – mais um motivo pra aquecer muito bem seus


atletas! Sem o apoio da reverberação de uma acústica de local fechado você
precisa de mais projeção e voz fria não projeta!

. “Não tem local reservado para aquecimento no local do concerto“ – perdi


a conta quantas vezes aqueci o coro no próprio espaço da
apresentação antes do concerto! Peça licença ao público presente, explique
que para garantir um excelente concerto para eles, vai precisar de uns minutos
para aquecer. Mesmo não sendo o ideal, use um espaço alternativo próximo ao
local e em casos extremos até o próprio ônibus!!

. “Eu não entendo de técnica vocal!” – meu colega… se você chegou até
aqui sem nunca ter estudado canto, vai levar um puxão de orelha! Você
precisa “pra ontem” procurar capacitação para liderar um grupo que usa
a voz como matéria prima! Estude, pesquise e leia. Mas nada substitui
estudar com um bom professor de canto. Convide alguém da área para ser
preparador vocal do coro. Busque orientação e assessoria.

. “Meus coralistas não gostam do aquecimento vocal. Acabam chegando


atrasados para pular a preparação“! – da mesma forma que muita gente não
gosta de fazer exercício físico, muitos coralistas não gostam de exercitar a voz.
Eles precisam ser conscientizados dos benefícios desta preparação, de
como o rendimento vocal vai melhorar, a importância para o som do coro e

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os benefícios para a saúde vocal. Também é bom rever e analisar sua
dinâmica para a preparação vocal! Este momento define a qualidade da
apresentação ou ensaio. Busque novas maneiras de tornar este
momento eficiente e ao mesmo tempo interessante e prazeroso.

Coral entrar em campo sem aquecer nem pensar!

Um bom técnico acompanha constantemente a condição física dos seus


jogadores. Conheça individualmente a voz de cada coralista. Saiba suas
características, limites e dificuldades. Promova e estimule o desenvolvimento
técnico.

Ao menor sinal de problemas nas vozes de seus “jogadores” não pense duas
vezes: mande para o “departamento médico”! Oriente sempre o coralista a
procurar uma avaliação de um otorrinolaringologista ou fonoaudiólogo,
conforme a necessidade. Tenha em mãos contatos de bons profissionais para
indicar. Encaminhe para o médico a sua impressão sobre como está o som e o
desempenho da voz do seu coralista. Esteja atento aos sinais de rouquidão,
pigarro, mudanças de timbre, volume, irritações e falta de ar durante o
canto.

Por fim, não esqueça que seu cantor não é apenas uma voz! A condição física
e emocional geral é fundamental para o bom desempenho no coro. Problemas
de coluna, musculares, pressão, audição, stress, memória e visão trazem
grandes prejuízos ao rendimento do coralista. Acompanhe, observe e converse
sempre com seu cantor para que estes problemas sejam devidamente
acompanhados e tratados.

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5 – Invista Nas Categorias De Base

Um time de sucesso tem talentos revelados e treinados na própria casa.


Quando o jovem jogador chega na equipe principal ele já está pronto
e familiarizado com o modo de jogo do time.

Invista em coros preparatórios ou numa “escola de corais”. Se você


trabalha com um coro adulto, pense na ideia de ter um coro jovem associado.
Isso vai fazer com que o jovem ingresse no coro adulto já treinado e
preparado dentro da sua concepção musical e vocal. Isso vai alimentar seu
coro com vozes preparadas dentro de casa.

Se você não é o regente desses grupos preparatórios, trabalhe com regentes


alinhados aos seus métodos de trabalho e concepção musical. Estabeleçam
juntos um caminho para que a criança, adolescente ou jovem de hoje chegue
no seu coro com a preparação que você espera e precisa.

Se a sua estrutura não comporta a criação de “categorias de base”, procure


coros infantis, juvenis e jovens em sua cidade para um trabalho associado.
Convênios com escolas, escolas de música e universidades podem render
bons jovens talentos para o seu coro.

6 – Comissão Técnica

Um time campeão é preparado por uma comissão técnica multidisciplinar e


composta por profissionais altamente especializados. No coro quando o
regente tem oportunidade de ter uma equipe, os resultados são outros.

Regente (s) assistente (s), chefes de naipe, preparador vocal e pianista


acompanhador são as funções, mas próximas. A administração do coro é uma
área que requer assessoria especializada – advogado, contador, assessoria de
imprensa, formatação e gestão de projetos via Leis de Incentivo, marketing etc.

Você também pode se associar e criar parcerias com profissionais de outras


áreas para consultorias, orientação e treinamento. Por exemplo: fonoaudiólogo,
otorrinolaringologista, psicólogo, professor de educação física, pedagogo,
professores de línguas, recursos humanos, coach etc.

Certa vez detectamos que um dos nossos grupos estava com algumas
dificuldades no palco. Chamamos um professor e diretor de teatro para um
trabalho visando aumentar a confiança no
palco, postura, atitude e expressão facial.

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A canção de Tom Jobim já dava uma pista de um dos problemas possíveis
para a desafinação:

“Se você disser que eu desafino, amor

Saiba que isso em mim provoca imensa dor

Só privilegiados tem ouvido igual ao seu

Eu possuo apenas o que Deus me deu”

Porém, ter ouvido pouco sensível ou destreinado para a música não é a única
causa da desafinação do seu coro!

O Regente Coral precisa estar atento para administrar as muitas possibilidades


que colaboram para o som pouco ajustado. Além disto, ter a consciência
que: permitir que o coro continue produzindo esse tipo de resultado
insatisfatório não contribui para o desenvolvimento vocal do grupo e
resulta em inúmeros problemas de desafinação, desde os primeiros ensaios
até a apresentação.

Algumas palavras que esclarecem significados para o verbo “desafinar”,


relevantes para o contexto que será abordado: desacordo, desregulado,
desarranjado, destoado, desarmônico, desequilibrado.

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Há uma incrível demanda por qualidade em todas as áreas do conhecimento
humano em nossos dias. No caso do Brasil, recrutadores e caçadores de
talentos se desdobram em busca dos especialistas mais qualificados, que
saibam equilibrar a eficácia com a eficiência. E esses profissionais são muito
raros por aqui!

Se solicitamos uma prestação de serviço e o resultado da assistência técnica


não é o esperado, ou tem baixa qualidade, não asseguram garantias,
imediatamente iremos para o nível emocional correspondente: o da frustração.

Por que nos submetemos ao raso quando o assunto é qualidade musical do


coro?

Você seria capaz de identificar as possíveis causas da desafinação do seu


coro?
Estes 5 pontos (nesta Parte 1) devem servir apenas para diagnóstico e não
para argumento que justifique as desculpas do mau desempenho do coro.

Emissão da voz de maneira diversa e sem padronização. Cada um emite o


som preferido e na intensidade preferida. Ninguém se ouve e não há a mínima
preocupação em fazer um “blend de vozes”. Seria como ter num mesmo naipe
cantores com voz de cabeça, outros com emissão anasalada e ainda outros
com emissão baixa, na garganta. Cantam sem coordenação e sem desistir de
mostrar seu potencial pleno! O resultado é o caos.

Falta de apoio diafragmático e consequente falta de suporte da condução da


coluna de ar, principalmente nas vogais que devem sustentar as notas longas
no final das frases. Você não sabe o que é isso? Está na hora de
estudar técnica vocal!

Colocação baixa para a voz cantada, pelo desconhecimento ou falta de


orientação adequada do regente. É preciso conhecer como a voz cantada é
produzida para orientar pedagogicamente seus cantores. Procure se
informar sobre este assunto. Aqui está chave para resolução dos fatores que
colaboram para a desafinação coral.

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Acústica da sala de ensaio ou do local de apresentação inadequado. Esse


é um assunto pouquíssimo considerado especialmente na realidade brasileira.
No decurso do nosso trabalho semanal apenas seguimos, trabalhando onde é
possível, onde nos mandam. Diálogos a espeito do melhor local são raros e os
argumentos mais técnicos são praticamente desconhecidos pelos regentes dos
coros. Você saberia descrever e defender as características de uma sala
de ensaio adequada para seus empregadores?

Indico por exemplo, como leitura complementar e embasamento técnico


geral, bem como o conhecimento dos termos específicos da engenharia civil, a
dissertação de mestrado:

PATRÃO, Artur José Alves. Caracterização Acústica de Salas de Ensaio-


Estudo de Casos. Disponível em:

<https://repositorioaberto.up.pt/bitstream/10216/58785/1/000145319.pdf>

Posicionamento incorreto do coro nos ensaios e apresentações. Todos se


ouvem bem? Considere o seguinte exemplo: muitas vezes na formação
tradicional em filas, se o seu naipe de baixos é pequeno e fica sempre
posicionado num canto da fila de trás, fica difícil para que todos ouçam
as notas graves da base harmônica e isso compromete a afinação. Para
corrigir isto, os baixos podem ficar no meio do coro, e assim todos vão ouvir.
O mesmo tipo de posicionamento pode ser usado para os contraltos.

É interessante verificar que o coro pode alcançar um ótimo nível de ajuste


interno das vozes numa peça e na outra derrapar completamente. Fatores
objetivos e subjetivos contribuem para este fenômeno. Uma vez alcançado um
bom nível de afinação para um repertório não significa que isso será mantido
para o próximo. O trabalho do regente deve se manter constante e
persistente na mesma direção.

É um trabalho de Educação Musical e isso demanda tempo e paciência na


construção sonora.

O fator afinação coral é um dos objetivos mais difíceis de se alcançar no


âmbito geral do trabalho, pois requer a administração e capacidade do
regente em fazer a gestão do material vocal disponível, através da
competência em equilibrar a sonoridade coral.

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