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CONGRESSO AMBESP 2020

OFICINA - PRÁTICA DE BANDA


Rogério Pefi

“A excelência honra a Deus e inspira as pessoas” Pr. Bill Hybles

Louvor e adoração

O momento de louvor é muito importante, pois é nele que a igreja se torna


efetivamente mais participante do culto, não ficando apenas numa posição de
espectadora.

Quando tocamos no louvor, precisamos entender que não estamos lá para


“fazer um som”. Estamos sim, para servir a Deus servindo nossa comunidade local.
Isso é de extrema importância, pois muitas vezes teremos que tocar canções, ou
estilos musicais, que não nos agradam, e se quisermos apenas “fazer um som legal”,
tocar se tornará uma tarefa frustrante, enfadonha e por vezes criará atritos.

O principal objetivo do Grupo de Louvor é criar oportunidade para que a igreja


se envolva e adore ao Senhor, de coração. Para isso, o GL deve cuidar para que
distrações não venham quebrar esse vínculo. Erros que poderiam ser resolvidos no
ensaio e um pouco de estudo, indefinições na forma/mapa da música, som alto
demais, mix desequilibrada, vozes ininteligíveis, tudo isso pode vir a quebrar esse
momento tão importante.

Por isso precisamos buscar a excelência, não apenas em tocar bem nosso
instrumento, mas principalmente como grupo.

A excelência passa, essencialmente, pelo bom preparo, que em nosso caso



se chama ensaio.

Como fazer um bom ensaio, mais dinâmico e eficiente

- Definir repertório com antecedência.

- Definir o mapa, ou forma (A-B; A-B-A; A-B-B etc), de cada música.

- Definir a tonalidade de cada música, para que ela possa estar numa extensão que
todos possam cantar. Obs.: Geralmente não devem ultrapassar o C4 (D4) para as
vozes femininas.

- Preparar e/ou compartilhar as partituras/cifras e referências em áudio com


antecedência, para que os componentes da banda possam dedicar algum tempo
às músicas antes do ensaio.

- Os componentes devem fazer a lição de casa e chegar no ensaio tendo estudado


as partituras/cifras e ouvido atentamente as referências.

- O vocal precisa decorar as letras, mesmo que haja uma projeção. A naturalidade de
se cantar olhando as pessoas é muito importante na comunicação da mensagem e
para criar um vínculo com a comunidade.

- Se possível fazer ensaios separados de vocal e instrumental, principalmente se


você for trabalhar com aberturas para as vozes, assim não se tem aquela sensação
desagradável de um ficar esperando o outro resolver suas questões. Lembrar de
sempre utilizar a mesma versão harmônica nos dois ensaios.

- Caso o ensaio seja em conjunto, é importante que o vocal tenha microfones, para
que a competição sonora não prejudique sua saúde vocal.

- Começar o ensaio sempre pelas músicas mais difíceis. No começo do ensaio todos
estão mais descansados, atentos e mais focados.

- Focar nos trechos mais complicados de cada música antes, como convenções e
passagens harmônicas complexas, e só depois de resolvidos esse problemas,
partir para o todo.

Melhorando a sonoridade da banda

Para melhorarmos a sonoridade e alcançarmos bons resultados devemos levar em


consideração alguns tópicos:

- Estilo: Cada música tem seu estilo. Devemos, sempre que possível, buscar
respeitar a linguagem de cada música, buscando referências em outras músicas,
sacras ou seculares de mesmo estilo. Se você resolve aprender inglês, você vai se
esforçar para tentar falar com menos sotaque possível. Na música é a mesma
coisa. Estude a linguagem do que você vai tocar. Cada estilo musical tem suas
peculiaridades, então vamos ampliar nosso horizonte musical e amadurecer
musicalmente. Se você quiser fazer um arranjo e mudar o estilo da música, cuidado
para que não se torne algo estranho, complexo ou virtuosístico demais a ponto da
congregação parar de cantar e começar a assistir.

- Equilíbrio: Buscar o equilíbrio do som de palco é primordial para a sonoridade


geral. A bateria, que geralmente é o instrumento acústico com maior pressão
sonora, é que acaba definindo os limites. Por isso, é importante que o baterista
molde sua dinâmica de acordo com as características acústicas do local. Se a
bateria estiver muito alta, os amplificadores de baixo e guitarra também serão
aumentados, e por conseguinte, os retornos para os vocais também, criando um
efeito cascata que irá acabar com qualquer chance de uma sonoridade agradável e
clara ao público. Lembre-se, tocamos para servir a comunidade, e o objetivo é que
ela cante e louve conosco. Se o som está alto a ponto de nosso irmão não
conseguir nem se escutar, é porque alguma coisa está muito errada. Um sistema
de monitoração in-ear pode ajudar muito nesse aspecto, principalmente para os
instrumentos. Com ele conseguimos diminuir a pressão sonora no palco e ajudar o
técnico de som a conseguir um som mais limpo e agradável no PA. Se sua igreja
quer investir em equipamento de som, comece por aí.

- Espaço: Algo muito importante para a clareza do som e para uma sonoridade mais
limpa da banda está em se criar espaço para cada instrumento. Isso significa que:
o ouvinte deve conseguir ouvir todos os instrumentos, cada um no seu lugar. Na
prática, o que temos é que quanto mais instrumentos uma banda possui, mais
complexo será encontrar esses espaços. Então algumas sugestões que podem
ajudar:

• Definir regiões para cada instrumento já é um bom começo.

• Definir quem irá fazer a “levada” em cada trecho da música é outro caminho.
Assim, por exemplo, com a guitarra sendo mais rítmica, o piano deverá só apoiar
e vice-versa. Outro exemplo é o violão e o chimbal da bateria. O violão de aço
trabalha geralmente como uma espécie de shake harmônico, então se ele está
mais ativo, não há necessidade do baterista dobrar o chimbal. É como num
diálogo, onde cada um tem a sua vez para falar, e é bom que ninguém
monopolize a fala. Cada um tem sua função, mas nada impede de ter seu
momento.

- Dinâmica: a dinâmica é muito importante para a narrativa musical. Ela é que vai dar
as nuances e evitar que a música caia numa monotonia. São várias formas de se
criar dinâmica:

• Com controle de volume: a forma mais básica é cada instrumento controlando


seu próprio volume, tocando mais suave onde necessário, por exemplo, no verso
da música, e crescendo para uma sonoridade mais forte no coro.

• Com instrumentação: existe uma idéia errada de que todos os instrumentos


precisam tocar a todo momento, em todas as músicas. Mas, é muito interessante
se criar dinâmicas, exatamente tirando e acrescentando instrumentos em
determinados momentos. Uma introdução pode ser feita com o piano, ou violão
sozinhos. A guitarra pode, de repente, só entrar no Coro. A bateria pode sair em
determinado momento. Uma música pode ser feita apenas com um violão e um
Pad no teclado. São muitas as possibilidades de se usar instrumentações de
forma criativa para se deixar as músicas menos monótonas e mais interessantes,
então gaste um tempo antes e durante o ensaio pensando e discutindo isso.

Instrumentos e suas funções

Cada instrumento na banda tem uma função. Na verdade a banda é um grande


instrumento que usamos para fazer música, e pensar assim pode mudar sua forma de
enxergar o fazer musical. Se só olhamos para nosso instrumento, perdemos a
oportunidade de fazer música em conJUNTO. Então, precisamos entender onde nos
encaixamos nesse grande instrumento chamado “banda”.

SEÇÃO RÍTMICA/COZINHA/GROOVE: bateria e baixo formam um casamento muito


importante na banda, a famosa cozinha, ou groove. É importante que eles estejam
alinhados na mesma linguagem, e que se comuniquem sempre. Prestem muita
atenção, principalmente, na relação entre o bumbo da bateria e o baixo.

- Contrabaixo: O contrabaixo é fundamental na harmonia e no groove. Não que não


possa ter momentos mais “melódicos”, mas, 90% do tempo a função do
contrabaixo deve ser apoiar a harmonia e complementar o groove juntamente com
a bateria. O baixista que toca muitas notas o tempo todo (e isso serve para todos
os instrumentos), é como aquela pessoa que quer monopolizar a conversa e não
deixa espaço para os outros falarem, deixa de ser diálogo e vira monólogo. Isso
não é problema se se tratar de um trabalho solo seu, mas não é o caso aqui. Então
concentre-se no que a música pede. Em alguns trechos musicais, uma boa
“bolacha" pode ser a coisa mais linda do mundo.

- Bateria: A bateria é essencialmente um instrumento rítmico, de groove. O groove é,


por definição, um padrão rítmico que se repete. Então, procure sempre manter o
mesmo groove/padrão em cada parte da música e não fique variando a cada 2
compassos. Isso cria instabilidade para a banda e a sensação de estranheza para o
público. Nós, seres humanos, amamos padrões. Eles nos dão segurança e a
sensação de estarmos em lugar conhecido.

• As “viradas" devem se concentrar, principalmente, nas transições formais da


música (da intro para o verso, do verso para o coro, e assim por diante). As
convenções também podem ser preparadas.

• Os melhores bateristas tocam de forma a entregar o som da bateria praticamente


mixado para o técnico de som. Estude o seu instrumento de forma a criar um
maior equilíbrio entre as partes.

• Se possível, monte um set-up que esteja de acordo com a acústica da sua igreja.
Quantas vezes vi bateristas com kits pesados de caixa e prato, tocando numa
igreja pequena e de acústica ruim. Leve isso em consideração, sua banda, seu
técnico e seu pastor serão eternamente gratos.

SEÇÃO HARMÔNICA (teclados, guitarra, violão): São Instrumentos que se


sobrepõem, e por isso deve-se ter muito cuidado com as regiões em que tocam.
Muito do som embolado que ouvimos e que prejudica a clareza da música vem
dessas sobreposições.
- Violão de aço: sempre que possível aprenda a tocar em posições mais para o meio
do braço do instrumento, ou com o Capo Traste, fugindo assim de sobrepor
frequências tocadas pela guitarra e/ou piano. Um ajuste importante a se fazer na
mesa de som, se possível, é um corte da faixa de 180Hz para baixo (High pass).
Isso deixará o som do violão um pouco mais “magro", mas com certeza ele vai
“pintar" melhor na mix. Sempre que possível, quando tocar junto com a banda,
evite tocar as cordas mais graves, para não embolar com o baixo.

- Guitarra elétrica: Apesar de parecido com o violão, a guitarra é um instrumento


completamente diferente, e que exige técnicas e linguagens também diferentes. O
guitarrista deve lembrar que ele toca dois instrumentos, a guitarra e a pedaleira. A
pedaleira com seus efeitos, sejam analógicos ou digitais, são tão importantes
quanto o instrumento em si. Todo guitarrista deve desenvolver sua técnica não só
no instrumento, mas também dominar todos os efeitos necessários: distorções,
drives, chorus, flangers, delays e tantos outros.

Em momentos solistas, procure criar frases mais melódicas ao invés de querer
mostrar virtuosismo. Trabalhe sempre visando criar o melhor ambiente para a
adoração.

- Teclados:
• Piano: O piano é um dos instrumentos mais completos devido à sua
amplitude, suas possibilidades harmônicas e rítmicas. Por isso, muitas vezes o
pianista não consegue entender a diferença entre tocar sozinho e em banda.
Uma boa prática, principalmente quando estiver tocando junto com a banda, é
evitar dobrar o baixo, ou usar as regiões mais graves do instrumento, pois
assim evitamos de embolar com o baixo, e damos espaço para que o baixista
possa desenvolver suas linhas. Quando sozinho, o piano é um excelente
instrumento acompanhador.

• Synth: O teclado é um instrumento muito versátil. Pode ter a função de


cobertura, com pads, strings e órgãos, ou de solista, às vezes imitando um
instrumento acústico ou timbres eletrônicos que podem enriquecer muito os
arranjos. Os pads, com seus sons mais contínuos e etéreos, podem criar um
atmosfera de imersão muito interessante em muitos momentos. Geralmente
nos pads é interessante usar notas comuns à maioria dos acordes do trecho
evitando muitas mudanças bruscas. Às vezes, tônica e 5ª são mais do que
suficientes. Nas regiões mais graves, tanto pads, como strings e órgãos
devem ser tocados com notas mais espaçadas para não deixar o som
embolado. Mesmo não estando em 1º plano, são timbres que ajudam a colar o
som da banda, se usados da forma correta.

- INSTRUMENTOS SOLISTAS:
- Os instrumentos solistas, seja um sax, flauta, violino, trompete, ou tantos outros,
podem acrescentar mais colorido à execução. Mas, é muito importante que se
observem algumas recomendações:

• Cuide da afinação, um instrumento desafinado pode chamar muita atenção


para si, e não de uma forma boa.

• Evite tocar frases improvisadas sobre melodia. Aproveite os buracos (pausas)


na melodia. É aí onde o instrumento vai poder acrescentar.

• Não toque o tempo todo e em todas as músicas. Esse é um erro recorrente.


Lembre-se, seu instrumento pode ser a cereja do bolo, mas não queremos
transformar a música num bolo de cereja. Muitas vezes pode parecer tedioso
ficar esperando os momentos para tocar; uma sugestão interessante seria o
instrumentista participar também como backing vocal.

• Nos solos, busque criar frases mais melódicas, não abusando de virtuosismos.

- BACKING VOCAL
- Os arranjos vocais trazem mais beleza para a música, podendo realçar frases e
trechos importantes.

- É bom lembrar que backing vocal não é coral, ou seja, é muito mais efetivo que
as aberturas aconteçam em alguns poucos trechos, geralmente no coro, e em
palavras ou frases que se queira realçar.

- Se possível, escrevam as aberturas vocais para o ensaio. Nem sempre o


“intuitivo" funciona. Se não houver quem possa fazer esse trabalho, ensaiem as
aberturas mais lentamente para ouvir se não há notas destoando da harmonia.

- Os melismas, ornamentos e improvisos podem trazer um embelezamento à linha


melódica, mas em excesso, ou em lugares errados, podem atrapalhar a
congregação na percepção da melodia. Então evite usar ou use com moderação.

- O aparelho fonador é bem sensível, e merece cuidados. Fazer aquecimento vocal


antes dos ensaios e apresentações é imprescindível, assim como tomar bastante
água durante os ensaios para umidificar as pregas vocais.

- Se tiver a oportunidade, busque fazer aulas de canto e técnica vocal. Isso


ajudará muito a melhorar sua afinação, timbre e respiração o que irá colaborar
para uma boa execução.

O meu desejo é que todas essas dicas e sugestões possam ajudá-lo a


construir uma sonoridade mais bonita e com maior clareza em sua banda e grupo de
louvor, independente de seu nível musical. Mas principalmente, que possam despertar
em vocês o desejo de fazer a obra ainda com mais excelência, criando um ambiente
propício à adoração.

“…mas deixem-se encher pelo Espírito, falando entre vocês com salmos, hinos e cânticos
espirituais, cantando e louvando de coração ao Senhor, dando graças constantemente a Deus
Pai por todas as coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo.” Ef 5:18-20 NVI

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