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Apêndice

Como se portar num ambiente instrumental


enquanto cantor?
Helô Tenório

Uma coisa que percebi durante minha jornada vocal instrumental, é que há uma
separação equivocada de cantores e instrumentistas e tal fenômeno é responsável por
causar uma falta de integração desses dois universos, que sob meu ponto de vista
enquanto cantora instrumentista; é um só. Mas para que esses mundos possam cada vez
mais se aproximar, é necessário que se mude algumas condutas de performance e de
preparação dos próprios cantores. Para isso achei pertinente elencar aqui alguns pontos
que considero cruciais para o cantor instrumentista, principalmente num espaço novo e
desconhecido, como é o caso de “saraus” ou “jam sessions” que é aonde o cantor ainda
desconhecido, terá a oportunidade de mostrar o seu trabalho, como uma espécie de
cartão de visitas musical.

 Tom

Muitos cantores chegam sem saber os tons que cantam e saem cantando para o
instrumentista pegar “de ouvido” o tom que ele canta. Isso além de poder ser
desagradável para o instrumentista que não está muito familiarizado com a música,
pode ser perigoso; nem sempre executarão o seu tom, e você pode ter a performance
prejudicada por uma execução de um tom errado. Tire um tempo para listar todos os
tons possíveis de músicas que do seu repertório.

 Repertório

Tenha para além do seu repertório específico, um repertório que costumo chamar de
“repertório de canjas”, uma pequena lista de músicas que já foram convencionadas com
músicas que sempre acontecem nesses encontros musicais, por serem muito conhecidas
e difundidas entre músicos e cantores de um meio musical especifico, ou seja, se eu vou
num encontro musical de forró, não faz muito sentido eu querer cantar uma música em
chorinho... claro, que ás vezes pode se fugir a regra, dependendo das pessoas
envolvidas, mas ter o bom senso de entender aonde se está e observar qual é o contexto
musical, que se está sendo inserido é fundamental.

 Groove, Ritmo e Andamento

Indique para quem vai lhe acompanhar, qual é o andamento, a velocidade da música e
em qual ritmo ela será executada. Ás vezes marcando com a mão e com ritmos vocais,
pode ajudar aos instrumentistas, a se ambientarem com a proposta. Por isso fundamental
se ter um conhecimento acurado, do estilo que está sendo proposto;
 Forma

Além do conhecimento prévio esperado da música cantada, é preciso definir junto aos
músicos, se ela será mesmo, seguida; quantas repetições ela terá, quem irá improvisar,
em qual harmonia será feio o improviso e como será feita a finalização.

Obs: muitos grupos e músicos que tocam há muito tempo juntos, não precisam de tantas
definições prévias, mas partindo do ponto que não se conhece ninguém, sempre é bom
deixar pelo menos algumas coisas conversadas antes da performance, para que ela possa
fluir melhor, com surpresas agradáveis, e não o inverso.

 Intro

A música terá alguma introdução ou todos iniciarão direto da melodia da música?


Começará só voz e percussão, ou voz e piano, ou todos entrarão juntos de uma vez,
mesmo que na introdução? A introdução será apenas instrumental?

Improviso

É desejável, porém não obrigatório, definir sobre que harmonia será feito o
improviso e quem serão as pessoas a solar ou em qual ordem. Porém como nem
sempre isso acontece, uma forma de informar que você vai solar, é logo após o tema
finalizar, já fazer uma espécie de “chamada” onde antes da forma da música
recomeçar, o cantor já irá iniciar o seu improviso. Geralmente os improvisos são
feitos logo depois de uma forma inteira da música, mas não é uma regra, muitas
vezes pode ser sobre o refrão, ou um coda ou vamp, ou seja, tudo depende das
pessoas envolvidas. O retorno do improviso pode ser no início da música ou no
meio dela (como por exemplo, no B). Portanto quando não estiver cantando,
continue mentalmente acompanhando a forma da música para saber onde retornar.

Obs:Linguagem visual e corporal são muito agregadores e válidos nesse processo,


porém nem sempre são suficientes, logo esgote as suas possibilidades vocais
enquanto você tiver na posição de solista.

 Finalização

Às vezes, e muitas vezes, assisti performances incríveis, mas que sem planejamento
de como terminar, acabavam por “morrer na praia”. Os músicos ficavam se olhando
e ninguém sabia quando seria o momento de finalizar. Em alguns repertórios é
comum se repetir a frase final, duas, três, quatro vezes – com por exemplo no
samba. Além da parte combinada, é importante que alguém tenho o papel de
liderança ou regência da banda, para conduzir esses processos, e muitas vezes isso
estará na mão de quem será o solista – que muitas vezes é o cantor. Logo é
importante assumir essa responsabilidade para conduzir a banda, eles esperam isso.
 Convenções, “Cachorros” e Especiais
As convenções ou popularmente conhecidas como “cachorros” na linguagem coloquial
dos músicos, são momentos onde ocorrerão frases rítmicas ou melódicas das música que
a banda inteira tem que fazer junto para dar o efeito sonoro esperado e demanda um
conhecimento prévio do repertório, ou às vezes de um estilo específico onde tais
convenções são usuais. Os especiais também, são partes alheias a melodia original que
ás vezes ficaram eternizados por alguma gravação de referência e os músicos
internalizaram em sua forma de tocar. Mais uma vez, a comunicação se faz necessária
para que essas situações específicas, possam se dar de forma mais musical possível.

 Experiência Prática
Muitos músicos solistas experientes já fazem isso de forma totalmente orgânica e não
planejada, mas porque já estão muito habituados com esses códigos de performance e
por isso, querem justamente que tudo seja sem planejamento para deixar o “fluir
musical” acontecer. No entanto, encorajo a improvisadores vocais recentes que primeiro
se acostumem, se ambientem, e se fortaleçam através de experiências e estudos para
cada vez mais se sentirem livres - é o grande objetivo da improvisação. Na minha
história de cantora, improvisadora e educadora, a ideia de improvisação só começou a
fluir a partir de uma estruturação por menor que fosse, mas existente. O caminho é
muito pessoal e ás vezes não óbvio, mas até mesmo o processo do aprendizado do
improviso também pode ser entendido com uma criação. Os caminhos são múltiplos e
tudo dependerá das escolhas e gostos pessoais do cantor que estiver no processo.

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