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ATIVIDADE 4 - TÓPICOS ESPECIAIS EM REGÊNCIA: GESTO E TÉCNICA

Paulo Sergio Silva - Matrícula: 1219285

Fidelidade à obra e interpretação

Quando o regente se esmera na fidelidade total de uma obra, estudando com afinco tudo o que
o compositor se propôs, dentro da sua musicalidade, vivência, da sua história, da sua época, eu
vejo a regência como uma espécie de cocriação, quando, por mais que se tente ser fiel à obra, o
traço de personalidade do regente sempre virá à tona, exprimindo uma sonoridade diferente em
cada performance, e às vezes, tratando-se de obras antigas, vislumbro também uma máquina
do tempo, pois o regente, com seu conhecimento sobre a obra e autor, nos leva à uma viagem
ao passado, à época de determinado estilo. Muitos são capazes, de assim que chegam ao palco,
mudarem a química humana da orquestra e dos ouvintes. Às vezes a sua própria presença, faz
os músicos tocarem melhor. A particularidade da orquestra vem do resultado da imagem sonora
criada na mente do regente, resultado de horas de estudo sobre o compositor, da sua obra
impressa, das suas concepções e intenções, por isso a necessidade do domínio da representação
mental da partitura, recriando assim a imagem sonora ideal da obra.

Marcações

As marcações na partitura só devem existir se justificado for para apressar processos, somar, dar
eficiência ao regente. Se em algum momento isto atrapalhar ou atrasar, não fará o mínimo
sentido. E há quem defenda a ideia de marcações sistematizadas, como a própria partitura o é,
uma vez que foi desenvolvida para ajudar a memória com seu registro. A grade de um regente
pode ter dezenas de marcações, porém, diferente da linguagem da partitura universal, ficará
totalmente personalizado a si mesmo. E as principais justificativas das marcações são: definir
terminologias novas; marcar importantes sinais ou lembretes; marcar mudanças de métrica e de
tempo; guia para melhor performance; otimização de tempo; diminuir a carga da memória;
refletir sobre as decisões interpretativas e as suas realizações técnicas; contribuir para uma
maior sensação de controle e de segurança; e diminuir a recorrência dos erros.
Ao perceber visualmente que foi estudado de maneira intensa e pormenorizada um
determinado repertório, adquire-se a confiança que na execução das notações do compositor
quanto às da interpretação do regente, deixando-as de maneira consciente e convincente.
Em situações de repetições de performances de obras estudadas e executadas no passado, as
anotações servem para relembrar os detalhes, pontos e conteúdo do texto musical que
requerem maior cuidado e estudo.
Talvez o ponto principal para esta utilização seja reduzir tanto a carga na memória e a ansiedade
na performance.
Enquanto um prefere anotar menos e confiar na sua memória, outro pode reconhecer que a
memória pode falhar, algo que inclusive, com a própria idade pode começar a comprometer.
Finalidades de anotações: Acelerar a aprendizagem técnica; aliviar a carga da memória:
antecipar; autoavaliar; autoeficácia; auxiliar; contrastar; corrigir; prevenir a recorrência de erros,
que seriam os principais motivos, dentre muitos outros.

Terminações

A terminação tem um aspecto muito importante quando nos referimos ao final de um todo da
execução, conforme defende Oscar Zander, que não é somente quando acaba a peça em si, mas
quando há os segundos de reflexão do ouvinte, onde a tensão expressa pela música não acaba
na última nota da peça, mas permanece um pouco ainda no ouvinte, então é interessante
conservar a tensão mantendo os braços na posição normal, e o coro reagindo da mesma forma,
em uma expectativa como se fosse ouvir os últimos vestígios da música, como observo no final
do Choeur de Radio France executando Cinc Rechants de Olivier Messiaen. Principalmente
quando há terminações brandas com as consoantes líquidas l, m, n, torna-se mais fácil para o
coro quando o regente também canta emitindo estes fonemas.

Fermata

A fermata é um assunto tão complexo que muitos livros de regência dedicam capítulos inteiros
considerando a maneira correta na qual deveria ser feito. Embora seja difícil, é possível
estabelecer regras gerais simples, algum grau de sistematização pode ser conseguido. É
necessário muita concentração e mente focada para que haja uma clareza muito grande das
fermatas. É de extrema importância que toda a orquestra ou coro entenda a clareza do regente,
para que haja sincronicidade total, o bátere e levare perfeitos, e com um cuidado especial em
um fechamento dúbio com dureza, batuta para cima, que dê a impressão de um fortíssimo
inexistente na nota da fermata. O uso com leveza da mão esquerda auxiliará bastante neste
momento, principalmente quando o ponto de inflexão estiver no primeiro tempo com a batuta
para baixo, principalmente na cesura das fermatas conclusivas. Os movimentos precisam ser
estudados tanto nas paradas, como nas sustentações. O importante é que as interrupções sejam
de acordo com as características do gesto. O essencial é que o coro ou orquestra compreenda
perfeitamente.

Dinâmica

O equilíbrio é ponto chave neste assunto de dinâmica. Todo exagero atrapalha a obra. O regente
deve ser capaz de se comunicar nuances de dinâmica, detalhes de fraseado, articulações e
expressão geral, com total unidade e coerência. Por isso, cronometrar tempo somente não é
suficiente. Necessita o gesto apropriado para cada expressão musical com total domínio, antes
que se fale de regência. Um gesto mais largo prepara um fortíssimo, e um gesto menor prepara
um pianíssimo. Tomando-se sempre muito cuidado com mudanças repentinas de dinâmica,
onde o perigo é dar ênfase excessiva em trocas de piano para fortíssimo, por exemplo. A mão
esquerda ajudará ficando responsável pelos gestos de apoio expressivos, mostrando dinâmicas,
diferentes articulações, dar entradas aos músicos ou moldar a sonoridade que deseja. Para uma
orquestra com músicos menos experientes, às vezes os gestos precisam ser bem mais enfáticos.
O regente precisa estudar muito os gestos nos crescendos e diminuendos progressivos, que
podem ser, inclusive, feitos com as duas mãos, quando trabalhando com músicos profissionais,
ou de estudantes quando há uma marcação por alguma percussão, para não se perderem no
andamento.

Respiração

A respiração está no mesmo nível de importância do início da música. Precisa de muita atenção
para se obter para obter um ataque limpo e unificado na próxima nota. Requer um gesto de
corte e um levare preciso após, para que todos comecem juntos, sendo absolutamente essencial
para que o reinício seja sincronizado. O estímulo externo é essencial para que todos os músicos
respirem juntos. Em um coro com pessoas menos experientes, é importante ensiná-los a fazer a
respiração pelo diafragma, com a técnica do apoggio, para que não se percam na volta das
respirações indicadas na partitura, ou sem expressão ou ataque quando necessários, mas precisa
ser feito sem rigidez, e com a fonação adequada, e a gestuação do regente é importante para
que isso aconteça de forma natural.

Articulações

A maneira que se produz as notas numa música, quando há uma ótima regência, deixa claro aos
músicos quando há leveza nos legatos, uma ênfase nos staccatos, com muito cuidado nos
portatos, e isso faz toda a diferença na uniformidade do coro ou da orquestra. É muito
importante o treino exaustivo de cada técnica de articulação pelo regente, para que seja
automático e a clareza seja sentida pelos músicos, com os movimentos arredondados ou picados
pelas mãos, que afetam totalmente o fraseado, além da dinâmica. A articulação está ligada à
resposta de diferentes grupos e instrumentos. É muito importante o ensaio bem-sucedido para
que haja clareza. O regente precisa saber comunicar com perfeição as articulações, assim como
o faz nas dinâmicas e todas as espécies de nuances, para que sua função não seja somente de
bater tempos no compasso. As trocas repentinas entre legatos e staccatos também precisam ter
uma atenção muito especial, e nestes casos, a mão esquerda sempre deve estar disponível ao
auxílio.

Referências

RUDOLF, Max. The Grammar of Conducting. 3th. ed. New York: Schimmer, 1950.
GOMES, H. C. ; OSTERGREN, E. A. . A preparação do regente na construção da sonoridade orquestral.
REVISTA VÓRTEX , v. 3, p. 159-175, 2015.
Messiaen : Cinq Rechants - Choeur de Radio France. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=8mCyQtmktmE
ZANDER, Oscar. Regência Coral. 5ª ed. Porto Alegre: Movimento, 2003.
BAPTISTA, Raphael. Tratado de regência: aplicada à orquestra, à banda de música e ao coro - São Paulo:
Irmãos Vitale, 2000.
SCHMIDT, Dainer. Anotações em partituras de aprendizagem de repertório novo de flautistas.
Dissertação de mestrado - UFRGS, 2022. Disponibilizado em:
https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/254806/001158827.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Samuel Fidelis - VÍDEO AULA DE REGÊNCIA LIÇÃO 8: DINÂMICA. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=M0fa2uJi_wI
Samuel Fidelis - VÍDEO AULA DE REGÊNCIA LIÇÃO 9: CRESCENDO E DIMINUENDO. Disponível em:
8https://www.youtube.com/watch?v=9c2xO5Rhh0A
Isaac Karabtchevsky - Conversa sobre regência # 7 - Fermata. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=AaXUqwHU43Y
Crepalde, Neylson J. B. F. - O maestro, a orquestra e a racionalização das práticas musicais [manuscrito] /
Neylson J. В. F. Crepalde. - 2015. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-
9U5J55/1/crepalde_neylson_o_maestro_a_orquestra_e_a_racionalizacao.pdf
Augusto Mendes Geraldo, Angelo José Fernandes, Manoel Camara Rasslan - Regência em pauta [recurso
eletrônico] : diálogos sobre canto coral e regência / organizadores Jorge - - Campo Grande - MS : Ed.
UFMS, 2021. Disponível em: https://repositorio.ufms.br
Samuel Fidelis - VÍDEO AULA DE REGÊNCIA LIÇÃO 12: ARTICULAÇÃO – Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=SYMshPrqRLM&t=3s

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