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Louro
2020
Introdução
Para acompanhar as minhas aulas de Teoria e Análise Musical; Análise e
Técnicas de Composição, e Análise (na Escola Superior de Música de Lisboa)
estou a resumir neste texto as aulas presenciais que vou dando semana a
semana, com o fim de distribuir o entre os meus alunos, à maneira de síntese
da lição recebida.
Os lineamentos programáticos são uma conjunção entre os conteúdos
programáticos de Instituições de ensino secundário e as orientações que venho
desenvolvendo na ESML desde alguns anos atrás.
Os exemplos dados, quase todo, foram escritos por mim para explicar
sucinta e claramente a ideia do texto, sem necessidade de recorrer a muitas
imagens de partituras, que o aluno pode encontrar com facilidade na rede.
Este trabalho não vem a substituir os manuais de Harmonia, Contraponto
e Formas musicais.
Nestes breves apontamentos não pretende ensinar a escrever, são só uma
referência rápida, uma aproximação a alguns dos elementos intrínsecos da
música ocidental.
Não todos os conceitos foram explicados com o mesmo detalhe, alguns, os
que achei, que já estavam, ou deveriam estar incorporados pelos alunos, não
foram desenvolvidos com muito pormenor.
Sempre se pode fazer melhor, sempre se pode completar ou desenvolver
mais uma ideia, dar mais alguns exemplos, melhorar a qualidade musical dos
trechos criados para acompanhar as explicações, incorporar assuntos; mas, um
professor deve saber procurar e achar um limite (o seu limite) para encontrar
os conteúdos dos seus ensinamentos vertidos, já que o tempo de aula não é
infinito, como o tempo da Vida.
3
1 RITMO
1.1 Palavras prévias
Durante os últimos anos do século XIX, o suíço Mathis Lussy (1828 – 1910)
escreveu três trabalhos que terão sido muito apreciados pelos seus
contemporâneos. Foram estes, sobre o ritmo musical, sobre a expressão musical
e sobre a anacruse.
Ele argumentava que os intérpretes da sua época não resolviam bem, nas
suas interpretações, os problemas de fraseado, de articulação e de ritmo.
Durante o ano 1980, e por recomendação do meu professor de composição,
o Mestre Roberto Caamaño, estudei o livro O ritmo musical, que foi
complementado com o Tratado da forma musical de Julio Bas, e outras
leituras. Abriu-se assim um horizonte novo, uma nova perspetiva de abordar e
compreender alguns elementos intrínsecos da música tonal, sendo o ritmo o
elemento estruturador por excelência.
5
A resposta é, Não!
Sentimos, umas mais intensas e outras mais, tensas. Claro, depende de
como foi tocado o trecho. O que comumente pode resumir-se em umas pulsações
mais fortes e outras mais fracas.
1
Do grego antigo, ársis, elevação da voz na escanção métrica.
2
Do grego antigo, thésis, declinação.
6
Observar como tudo está relacionado com tudo, Newton enuncia a lei da
gravitação universal em 1687, época em que começa a cristalizar a Linguagem
tonal na música. Estra linguagem se baseia nos princípios da atração, ou
polarização, melódica, rítmica e harmónica.
7
Há uma "regra" que diz que a figura mais comprida de um tempo ou um
compasso, situada em parte fraca do tempo ou do compasso, recebe um acento,
neste caso se trata de uma intenção gestual para fingir a ação de pular a barra
de compasso. Este é o caso dos compassos 1, 2 4, 5 e 6 do exemplo na Figura 3,
e é o caso da maioria das Mazurcas e das Chaconas.
1.5 Resumo
8
Na Figura 4 pode ver-se um exemplo onde, devido ao tempo, é quase
impraticável marcar a pulsação à semínima, reconhecendo esta, naturalmente
ou culturalmente no compasso.
Por ser o último compasso do exemplo, um compasso fraco, não é de boas
maneiras, acentuar o dó grave da mão esquerda, como se fosse a nota final.
Obras como o terceiro andamento da Sinfonia op. 21 de Beethoven são um bom
exemplo de esta situação.
9
obra (ouvinte), com um elemento que não está contemplado na sua capacidade
de antecipar o discurso musical.
10
A primeira, quando o primeiro som da obra se articula no primeiro tempo
forte. Chama-se a este início Tético3, ver Figura 6.
3
De tese, thésis. O primeiro tempo de um ritmo também se chama ictus, do latim ictus,
bater, percutir, e é um acento rítmico ou métrico.
11
Figura 8 - Anacruse motriz
O terceiro tipo de início é o início acéfalo, sem cabeça. Neste tipo de início
falta a articulação de um som na cabeça do primeiro compasso da obra, que é
representado com uma pausa ou pausas que completam a métrica do compasso.
12
1.9 Situações que contradizem o acento métrico
Como estamos a ver, existe um “acento” regular que acontece sobre o
primeiro tempo de cada compasso, devido à gravitação do impulso gerado no
último tempo fraco para pular a dita barra de compasso. Mas existem situações
onde no contexto musical é necessário acentuar (valorizar) outras notas, outras
figuras que não estão propriamente situadas em tempos ou frações fortes de
tempo ou de compasso, como por exemplo:
4
Inciso, do latim, incisum fazer uma incisão, um corte.
5
Mesma coisa que síncope, que em linguística é a perda de um fonema no interior de um
vocábulo.
13
Figura 11 – Situações que contradizem o acento métrico
6
Isto também se vê por como estão colocadas as ligaduras de articulação. Os mestres do
passado, a partir do barroco instrumental, consideravam que a primeira nota de uma ligadura
merecia um apoio, um acento; enquanto que a nota com que acabava o gesto, devia ser tocada
com menos intensidade que as que estavam por debaixo da linha.
14
Figura 12 - Ritmo modal
7
Por exemplo Olivier Messiaen (1903 – 1990), na sua obra para piano, Modes de valeurs
et d’intensités, escrita em 1949, organiza as alturas, as durações, as dinâmicas e os ataques
quase serialmente.
15
4, terceiras maiores
7, quintas perfeitas
11, sétimas maiores
18, quartas aumentadas compostas
16
Figura 13 - Ritmo atonal
2 ORDEM HORIZONTAL I
2.1 Escala como coleção de sons
ESCALA, vem de SCALA, ESCADA, que é uma série de degraus
(patamares) que vão atingido diversos níveis de altura.
Porquê uma oitava? Talvez por ser o intervalo que o nosso ouvido
ocidental identifica como sendo o mesmo som, um novo ponto de partida
17
semelhante ao primeiro, a partir do qual se constrói o MODELO inicial, que
poderá ser reiterado em OITAVAS superioras ou inferiores sem perder a sua
estrutura, a sua estrutura básica.
18
2.2 Outras possibilidades de coleções de sons
Existem variadas maneiras, MODOS, de ordenar os sons ou
CONSTELAÇÕES (palavra encantadora roubada a Herbert Eimert8), dentro
do âmbito da oitava.
8
Herbert Eimert (1897 – 1972) no seu opúsculo O que é a música dodecafónica se refere
à série dodecafónica como sendo uma constelação de sons. O compositor suíço, Ernst Widmer
(1927 – 1990) utilizava nas suas aulas na Escola de Música da Universidade federal da Bahia.
9
Neste caso, pentatónica menor.
19
b) O terceiro exemplo (Figura 18), explica uma coleção de três sons
utilizada no Altiplano situado entre o Norte da Argentina e Bolívia,
num gênero chamado Baguala.
Figura 18 - Baguala
20
Por tanto, os modos medievais (resultantes dos antigos modos gregos)
diferem entre si pela maneira, pelo MODO, de como estão ORDENADOS OS
TONS E OS MEIOS TONS DIATÓNICOS DENTRO DA OITAVA.
Os modos medievais (derivados dos modos gregos) surgem da construção
sobre cada uma das notas que fazem parte do modo jónico, sete escalas dentro
do âmbito de uma oitava, mas que não transpõem a relação intervalar entre os
degraus (graus) do modo jónico, mas sim, conservam as relações originais entre
as diferentes notas que estruturam o modo de referência. Cada uma destas
escalas, cada um de estes modos estará caraterizado por uma distribuição
diferente das segundas menores dentro da oitava.
Na Figura 19, observam-se as localizações dos meios tons dentro da oitava.
21
Figura 19 - Sete modos medievais
22
Lídio: O intervalo caraterístico é a quarta aumentada entre o I grau e o
IV grau.
Mixolídio O intervalo caraterístico é a sétima menor entre o I grau e o
VII grau.
Eólio: O intervalo caraterístico é a sexta menor entre o I grau e o VI grau.
Lócrio: Os intervalos caraterísticos são; a segunda menor entre o I grau
e o II grau; e a quarta aumentada entre o I grau e o IV grau.
Os MODOS têm duas possibilidades de utilização, de acordo ao âmbito, à
tessitura empregue. A forma AUTÉNTICA ou a forma PLAGAL10.
As escalas de cada MODO AUTÉNTICO estão enquadradas entre as
NOTAS FUNDAMENTAIS do MODO, as notas sobre as quais se constrói o
MODO. Sendo a nota FINAL, a fundamental, e a nota DOMINANTE a que está
uma quinta acima da fundamental. Esta nota DOMINANTE era conhecida
como nota de suspensão ou de repercussão, sobre a qual a melodia pairava
antes de declinar, cadenciar.
10
Do grego, plágios, de lado ou oblíquo.
23
As escalas de cada MODO PLAGAL estão enquadradas uma quarta por
debaixo na nota final do modo autêntico, conservando a NOTA FINAL do modo
autêntico, alterando só o âmbito no qual se escreve o modo. Isto vem a ser uma
procura de mudar a altura, o registo da música, conservando as relações
intervalares entre as notas da escala, e conservando a nota final.
A nota DOMINANTE varia de um modo plagal para outro, não
correspondendo às ambições desta breve sebenta o aprofundamento sobre esta
questão.
Seguem breves trechos instrumentais escritos nos sete modos autênticos
referidos.
Para clarificar a leitura e a compreensão do estudante, estes exemplos
foram escritos nas tonalidades principais dos modos medievais.
24
25
Figura 21 – Exemplos musicais sobre modos medievais
26
escala, deu em chamar-se MODO MAIOR; enquanto que o segundo devido a
que as duas primeiras segundas são, maior e menor respetivamente, e
formando entre elas o intervalo de terceira menor entre o primeiro e o terceiro
sons da escala, deu em chamar-se MODO MENOR.
Na Figura 22 estão ilustrados tanto o MODO MAIOR com nota inicial e
final Dó, e o modo menor nas suas quatro principais utilizações, o modo menor
NATURAL, o modo menor HARMÓNICO, o modo menor MELÓDICO, e o modo
menor BACHIANO.
O modo menor natural é exatamente igual ao modo eólio, o modo menor
harmónico copia a segunda menor entre o VII e o VIII graus do modo Maior,
mas a distância entre o VI e o VII graus é de uma segunda aumentada,
intervalo muito pouco utilizado na época em que apareceram estas escalas, e
para evitar ele, quando a ordem melódica envolvia o VI e o VII graus da escala
menor, de maneira sucessiva e ascendente, aquele era ascendido também,
formando-se um segundo tetracorde ascendente igual ao do modo maior. Como,
a descer não era necessária a sensível (VII som ascendido), tanto este como o
VI, apareciam como naturais.
Tem casos onde o modo menor harmónico é utilizado, melodicamente, para
subir, ou para descer, apesar do intervalo de segunda aumentada.
Há uma quarta possibilidade utilizada por J. S. Bach (escala bachiana),
na qual os VI e o VII graus são ascendidos a subir e a descer (quando a
harmonia é de dominante). Bach utiliza este gesto descendente quando a
harmonia implícita é a de dominante. No primeiro compasso do primeiro Coral
da Paixão segundo São Mateus, observa-se um exemplo da utilização deste
modo pelo Cantor de Santo Tomás.
27
Na Figura 22 se elucida a estrutura intervalar dos modos que
sobreviveram aos medievais com as suas adaptações correspondentes à
linguagem que começou a consolidar-se no século XVIII, O Tonalismo.
3 UM POUCO DE HISTÓRIA
No início, talvez, nos primórdios da música em ocidente, o resultado
musical, de acordo ao que nos chegou documentado, era produto do canto a uma
voz, como por exemplo, o Canto Ambrosiano e o Canto Gregoriano, conhecidos
pela sua textura monódica, Canto chão.
A existência de esta música reservada à liturgia, da celebração religiosa,
dos primeiros cristãos na Europa não exclui a existência de outras
manifestações musicais contemporâneas a cargo do povo, fora do âmbito
religioso, e talvez com outras texturas, outras linguagens.
O Canto Gregoriano, século VI, em linhas gerais, caracterizava-se pela sua
condição monódica, isto é, ser cantado a uma voz, talvez por ser a textura
28
musical mais básica, talvez por influência da música praticada na Sinagoga,
talvez por ser o símbolo de Um Deus Único (o conceito de monoteísmo
transportado à música)11.
Os contornos melódicos da música gregoriana baseavam-se em intervalos
diatónicos, graus conjuntos, poucos saltos, não maiores que o intervalo de
quinta, o ritmo relativamente livre baseando-se na prosódia do texto, como
também assim o sentido do fraseado. O âmbito vocal era reduzido, quase a uma
oitava, talvez devido às capacidades vocais de quem cantava ou devido à
procura de um gesto musical simples, até hipnótico.
Podemos comparar a melodia gregoriana com a linha de um desenho,
austero, que não recorre à perspetiva, ao sentido de profundidade.
Passam os séculos e esta linha melódica vai dar passo ao primeiro gesto
polifónico, o Organum paralelo (por volta do século IX). Música baseada no
canto chão à qual foi adicionada uma voz, uma quinta perfeita abaixo (vox
organalis), que segundo algumas opiniões simbolizava ao Homem em
consonância perfeita, a quinta perfeita, com a voz de Deus (vox principalis).
Particularmente, e lembrando leituras que não sei se realmente
aconteceram, posso dizer que a aparição de uma segunda melodia, uma quinta
por debaixo da melodia gregoriana, deveu-se, talvez, e como muitas descobertas,
a um acidente12.
11
Completar estas linhas com a leitura de livros de História da Música que refiram às
origens, caraterísticas gerais e evolução do Canto Gregoriano.
12
Lembro, da minha experiência como professor de música de crianças, que o intervalo
que apanha para cantar, um menino que não consegue atingir o tom agudo proposto pelo
professor, é a quinta descendente.
29
Ilustração 4 - Organum paralelo
30
Ilustração 6 - Machaut, Missa de Notre Dame
31
cláusula, de cadência), de notas sensíveis, de utilização artística da tessitura
(modos autênticos e plagais) que foi ganhando espaço, âmbito na nova música.
A profundidade (a ilusão de profundidade) do discurso musical, da textura
musical, provocada pela polifonia (pensamento vertical primário) que começou
a surgir no século IX e floresceu com a técnica do Contraponto vocal e clássico
(século XVI), é consequência do pensamento horizontal.
13
Que oscila entre Dioniso e Apolo.
32
4 ORDEM HORIZONTAL II
4.1 Noções de contraponto vocal clássico
O Contraponto é a técnica que o compositor utiliza para criar música que
tem uma textura, chamada POLIFÓNICA, que se baseia na sobreposição de
camada melódicas independentes, mas interligadas entre si, verticalmente,
conforme preceitos que foram mudando através das épocas, das linguagens, das
técnicas e dos estilos.
A primeira consideração a ter em conta para aprender a realizar com êxito
uma textura contrapontística, é saber construir melodias.
33
Evitavam-se os intervalos melódicos de sexta maior, sétima, oitava,
intervalos aumentados e diminutos (há exceções). Também eram evitadas
sequências de intervalos cuja soma resultasse num intervalo melódico de
sétima, nona14, aumentado ou diminuto.
Depois de um intervalo melódico superior a uma terceira, o contorno devia
proceder em direção contrária a aquele salto.
O conceito de sensível, nota situada à distância de segunda menor da nota
final (tónica para nós), não existia, mas existia a ideia de um escandido que
levava o discurso musical a ter contornos semelhantes a finais de frases,
cláusulas.
Entre Claudio Monteverdi e Johann Sebastian Bach os contornos
melódicos enriqueceram-se no que a variedade de intervalos se refere.
A nova linguagem, o novo estilo, que propiciava a expressão e o sentido
dramático da música, necessitou novas ferramentas para manifestar-se
adequadamente seguindo os movimentos do Pêndulo da História.
14
Dois intervalos melódicos de quartas sucessivas, na mesma direção, originam um
intervalo melódico de sétima; enquanto que dois intervalos melódicos de quinta, na mesma
direção, originam um intervalo melódico de nona.
34
4.3.2 Primeira espécie - Nota contra nota
4.3.2.1 Regras
a) A melodia criada, o contraponto, escreve-se sobre uma melodia dada
chamada Cantus firmus. O Cantus firmus é uma sucessão de notas
longas com igual duração, que começa e acaba no primeiro grau da
escala utilizada e a última cláusula procede por segunda maior
descendente para atingir a nota final, isto é, II – I. O Cantus firmus é
imutável.
b) O contraponto, quando está na voz superior, começa com oitava
(uníssono) ou quinta e acaba em oitava (uníssono); quando está na voz
inferior, começa em oitava (uníssono) e acaba em oitava (uníssono).
c) Devem utilizar-se intervalos harmónicos consonantes; uníssonos,
oitavas, quintas perfeitas, terceiras e sextas.
d) Melodicamente devem evitar-se intervalos diminutos, aumentados e o
intervalo de sexta maior.
e) Melodicamente evitar a sucessão de duas quartas ou de duas quintas
na mesma direção porque, além de que não se cumpre a lei da
compensação melódica, os intervalos resultantes são a sétima e a nona
respetivamente.
35
g) Nas últimas duas figuras, o contraponto procede, VII – I.
h) Não se aconselha repetir notas e realizar saltos de oitava, nesta
espécie.
i) Depois de um salto maior a uma terceira, o contorno melódico deve
proceder em direção contrária ao salto.
4.3.2.2 Exemplos
4.3.2.2.1 Exemplo 1
4.3.2.2.2 Exemplo 2
4.3.3.1 Regras
a) Nesta espécie o contraponto utiliza figuras que estão em relação com
as figuras do Cantus firmus, de duas ou três para uma.
b) O contraponto começa depois de uma pausa de meio compasso ou dois
terços de compasso. Isto é para valorizar a entrada da melodia
composta.
c) O contraponto, quando está na voz superior, começa com oitava
(uníssono) ou quinta e acaba em oitava (uníssono); quando está na voz
inferior, começa em oitava (uníssono) e acaba em oitava (uníssono).
d) Nos tempos fortes de cada compasso de dois ou três tempos, só se
utilizam intervalos verticais consonantes, uníssonos, oitavas, quintas
perfeitas, terceiras e sextas.
36
e) Os tempos fracos podem ser preenchidos com consonâncias ou com
dissonâncias (quartas, segundas ou sétimas).
f) PRIMEIRA FÓRMULA DISSONANTE, a NOTA DE PASSAGEM.
Chamam-se notas de passagem a aqueles sons que se encontram nas
partes fracas de tempo ou de compasso e preenchem (melodicamente)
por grau conjunto, o espaço vazio que há entre dois sons do mesmo
acorde ou, eventualmente, de diferentes acordes.
g) Alguns autores aceitam a figura do ornato, uma nota dissonante
colocada na fração fraca do compasso, entre duas notas iguais que se
encontrem em tempos fortes consecutivos.
h) Quando o contraponto está na voz superior, acaba com a fórmula, 5 – 6
– 8; quando está na voz inferior, pode acabar com a fórmula, 3 – 5 – 8.
i) Não se aconselha repetir notas, mas podem realizar-se movimentos
melódicos de oitava nesta espécie de tempos fortes para fracos.
j) Evitar duas consonâncias perfeitas iguais, paralelas sem haver uma
distância mínima de três mínimas.
k) Evitar movimentos melódicos, numa única direção, que envolvam os
intervalos de quinta diminuta ou quarta aumentada, chegando à nota
final (quarta aumentada ou quinta diminuta) do desenho num tempo
forte.
37
4.3.3.2 Exemplos
4.3.3.2.1 Exemplo 1
4.3.3.2.2 Exemplo 2
4.3.4.1 Regras
a) Nesta espécie o contraponto utiliza figuras que estão em relação com
as figuras do Cantus firmus, de quatro ou seis para uma.
b) O contraponto começa depois de uma pausa de um quarto de compasso
ou dois terços de compasso. Isto é para valorizar a entrada da melodia
composta.
c) O contraponto, quando está na voz superior, começa em oitava
(uníssono) ou quinta e acaba em oitava (uníssono); quando está na voz
inferior, começa em oitava(uníssono) e acaba em oitava (uníssono).
d) Nos tempos fortes de cada compasso de dois ou três tempos, só se
utilizam intervalos verticais consonantes, uníssonos, oitavas, quintas
perfeitas, terceiras e sextas.
e) Os tempos fracos podem ser preenchidos com consonâncias ou com
dissonâncias.
f) SEGUNDA FÓRMULA DISSONANTE, a CAMBIATA ou NOTA DE
FUX.
• Descendente: segunda descendente – terceira descendente –
segunda ascendente – segunda ascendente.
• Ascendente: segunda ascendente – terceira ascendente –
38
segunda descendente – segunda descendente.
39
k) Evitar movimentos melódicos que envolvam os intervalos de quarta
aumentada ou de quinta diminuta.
4.3.4.3 Exemplos
4.3.4.3.1 Exemplo 1
4.3.4.3.2 Exemplo 2
40
4.3.5 Quarta espécie – Síncopas e retardos
4.3.5.1 Regras
a) O contraponto, quando está na voz superior, começa em oitava
(uníssono) ou quinta e acaba em oitava (uníssono); quando está na voz
inferior, começa em oitava(uníssono) e acaba em oitava (uníssono).
b) Nos tempos FRACOS de cada compasso de dois, só se utilizam
intervalos verticais consonantes, uníssonos, oitavas, quintas perfeitas,
terceiras e sextas.
c) Os tempos FORTES podem ser preenchidos com consonâncias ou com
dissonâncias.
d) TERCEIRA FÓRMULA DISSONANTE o RETARDO.
A fórmula do retardo é a seguinte:
• Preparação, em tempo fraco, como consonância.
• Prolongação da nota até o tempo forte seguinte onde funcionará
como dissonância.
• Resolução, no tempo fraco a seguir, por movimento descendente,
como consonância.
e) Quando o contraponto está na voz superior, acaba com a fórmula, 5 – 6
– 8, 7 – 6 - 8; quando está na voz inferior, pode acabar com a fórmula,
2 – 3 – 1, 4 – 5 – 1.
f) Não se aconselha repetir notas, mas podem realizar-se movimentos
melódicos de oitava nesta espécie de tempos fortes para fracos.
g) Evitar duas consonâncias perfeitas iguais, paralelas entre dois tempos
fracos consecutivos.
h) Evitar movimentos melódicos que envolvam os intervalos de quinta
diminuta ou quarta aumentada.
i) Depois de um salto maior a uma terceira, o movimento melódico deve
41
proceder em direção contrária ao salto.
j) Ver exemplos de fórmulas finais.
4.3.5.3 Exemplos
4.3.5.3.1 Exemplo 1
4.3.5.3.2 Exemplo 2
4.3.5.3.3 Exemplo 3
42
4.3.6 Quinta espécie - Contraponto florido
4.3.6.1 Regras
a) As regras particulares de cada espécie se mantêm.
b) QUARTA FÓRMULA DISSONANTE a ANTECIPAÇÃO DA
RESOLUÇÃO DO RETARDO.
c) Evitar melodicamente, reiterações ou insistências sobre as mesmas
notas, para evitar monotonia melódica.
d) Da mesma maneira que é sugerido para as outras espécies, o estudante
deve evitar atingir mais de uma vez, durante um breve exercício, as
notas mais agudas.
e) Da mesma maneira que é sugerido para as outras espécies, o
estudante, além de calcular intervalos, deve ir cantando à medida que
vai construindo o contraponto, para encontrar soluções espontâneas.
f) Evitar os seguintes ritmos.
4.3.6.2 Exemplos
4.3.6.2.1 Exemplo 1
4.3.6.2.2 Exemplo 2
43
4.3.7 Bicínio (Bicinia)
a) Bicinium ou seu plural Bicinia, era uma espécie de exercício, a duas
vozes, para desenvolver a técnica da escrita polifónica sem Cantus
firmus.
b) Nos exemplos seguintes incorporou-se um texto às melodias
resultantes.
c) Para as regras que ajudam a colocar o texto na música do
Renascimento sugiro consultar as recomendações de Gioseffo Zarlino
(1517 – 1590) que aparecem no se trabalho, Le istitutioni harmoniche
de 1558.
4.3.7.1 Exemplos
4.3.7.1.1 Exemplo 1
4.3.7.1.2 Exemplo 2
4.3.7.1.3 Exemplo 3
44
5 ORDEM VERTICAL
5.1 Conceito de tonalidade
5.1.1 Tonalidade
45
A, começando no Dó central
B, começando em Sol, uma quinta perfeita por cima do Dó central.
C, começando em Fá, uma quinta por baixo do Dó central.
D, começando em Ré, duas quintas por cima do Dó central.
Figura 30 – Tetracordes
46
alterada ascendentemente será a sensível da nova tonalidade. E a ordem pela
qual vão aparecendo estas sensíveis é a ordem com que aparecem os sustenidos
na armação de clave.
Observar que:
1) O modelo se repete, pelo menos, sete vezes, começando cada vez uma
quinta perfeita por cima da nota inicial da escala anterior.
47
2) Que cada reiteração, uma quinta acima, introduz uma alteração
ascendente (sustenido) sobre o VII grau da escala anterior, o que provoca um
aumento da tensão com respeito do modelo anterior.
15
A palavra bemol vem de B mollis, B mole, si mole, em contraposição do B quadratum
que provocava alguma dureza no intervalo de quarta aumentada no tetracorde fá – si bequadro.
48
Figura 33 - Aparição dos bemóis
Observar que:
1) O modelo se repete, pelo menos, sete vezes, começando cada vez uma
quinta perfeita por de baixo da nota inicial da escala anterior.
2) Que cada reiteração, uma quinta acima, introduz uma alteração
descendente (bemol) sobre o VII grau da escala anterior, o que provoca uma
descontração da tensão com respeito do modelo anterior.
Este mecanismo serve para explicar como a ordem das tonalidades à
esquerda (bemóis) com referência a Dó maior, é:
Fá, Si bemol, Mi bemol, Lá bemol, Ré bemol e Sol bemol.
São doze (14) alturas diferentes que apresentam um MODO, uma maneira
de ordenar as segundas maiores e as segundas menores no âmbito de uma
oitava.
49
São doze (14) tonalidades (variações de cor, tensão, brilho) de uma COR
que é a COR do MODO MAIOR.
São doze possibilidades para DEFINIR A ALTURA ONDE PODE SER
EXECUTADA A MESMA MÚSICA, sempre que utilize os sons que resultem
da ordem dos intervalos que resumem A CONSTELAÇÃO DE DÓ MAIOR. Os
modos medievais faziam rodar a sua fundamental através das diferentes notas
do modo base.
Destes modos, como tivemos oportunidade de referir, só ficaram dois, hoje
conhecidos como MODO MAIOR e MODO MENOR.
O modo menor, ficou como um derivado do modo maior, como o modo eólio
sobre lá ficou como um derivado do modo jónico sobre dó.
Pelo facto de o modo menor estar RELACIONADO à escala base do modo
maior primário, este modo menor é designado como RELATIVO ao modo maior
de referência.
Dai que cada modo maior tem o seu relativo menor que se constrói sobre
o sexto grau (o seu eólio) da sua escala.
A seguinte seriação mostra como as tonalidades com mais alterações se
afastam da tonalidade de base, que neste exemplo é Dó maior, situando-se: Sol
maior a uma quinta para cima de Dó maior, Ré maior a duas quintas para cima
de Dó maior, Lá maior a três quintas para cima de Dó maior, etc.
50
4 Lá bemol maior - fá menor
5 Ré bemol maior - si bemol menor
6 Sol bemol maior - mi bemol menor
7 Dó bemol maior – lá bemol menor
5.1.2.3 Curiosidade
No período barroco foi atribuído um caráter, a cada tonalidade, para
Mattheson (1681 - 1764) o seu caráter se resumia a:
ré menor, devoto, calmo.
51
sol menor, talvez a mais bonita de todas, seria, tem uma alegre
amabilidade.
lá menor, algo lamentosa, respeitável e serena.
mi menor, pensamentos profundos, aflitos e tristes, mas com esperança de
uma consolação.
Dó maior, bastante rude e atrevida.
Fá maior, é capaz de expressar os mais belos sentimentos do mundo,
generosidade, firmeza, amor.
Ré maior, algo penetrante e teimosa, é mais adequada para o estudo de
coisas alegres, belicosas e animadoras.
Sol maior, insinuante e loquaz, adequada para coisas sérias como para
animadas.
dó menor, extremamente amável ainda que também triste.
fá menor, suave e serena, embora seja profunda e pesada, com algum
desespero de medo mortal e muito comovente.
Si bemol maior, muito divertida e exuberante.
Mi bemol maior, tem muito de patético, tem a ver com questões sérias e
tristes.
Lá maior, adequada para paixões lamentosas e tristes.
Mi maior, tristeza desesperada ou mesmo mortal. si menor, bizarra, mal-
humorada e melancólica. fá sustenido menor, lânguida e apaixonada.
5.2 HARMONIA
5.2.1 Tonalismo
52
a escutar, a sensação de que o discurso musical move-se e tende a gravitar (cair)
no sentido de um polo, de um centro, de um SOM em particular, que coincide
com o TOM sobre o qual se fundamenta e constrói a escala utilizada para a
realização da música que adota esta linguagem.
53
Tenho o meu ponto de partida, estável, o sopé, depois começando a subir
pela encosta chego ao cume, para depois voltar a descer, caindo ou lançando-me
até o sopé 16 . Cada descida ou queda, de uma montanha é uma cadência
(cadere17, cair). Uma obra musical do Tonalismo pode se assemelhar com um
percurso por várias montanhas, várias cadências, várias subidas e descidas,
vários gestos de tensão e distensão. Isto nos leva a pensar mais uma vez no
RITMO do Tonalismo, uma sequência de impulsos e gravitações que levam à
música numa direção, através da barra de compasso.
5.2.2 Acordes
16
O esforço físico está mais presente no momento da subida.
17
É curioso como, a palavra cadeira, vem de cadere.
54
Classicamente estão construídos sobre uma fundamental sobrepondo
terceiras maiores e/ou menores.
O primeiro intervalo que apareceu na polifonia europeia foi a quinta e a
seguir, ou por razões acústicas, ou por razões empíricas, foi a terceira. Há que
considerar que o canto à terceira é caraterístico de algumas manifestações na
música popular, como o Cante Alentejano e o Canto de Lafões.
Se sobre cada nota, grau, de uma escala (maior ou menor harmónica),
construímos um acorde de três sons, produto da sobreposição de terceiras que
provenham das notas naturais do modo, vamos ter quatro tipos ou espécies de
acordes.
Recorrendo aos modos maior e menor harmónico vamos ter:
55
Tocando num instrumento harmónico a sequência ascendente dos sete
acordes de cada modo, cantar, improvisando pequenas frases utilizando as
notas do acorde.
Se a cada acorde lhe atribuímos, pela sua ordem, um número romano;
I – II – III – IV – V – VI - VII
56
A música que evolui baseando a sua “harmonia” (as relações entre os
acordes), neste percurso de escaladas e de descidas, soa muito natural aos
nossos ouvidos, parece que tomamos impulso para avançar e cair na “tónica”
seguinte18.
O exemplo a seguir, ilustra como utilizando a sucessão; I – IV – V – I,
sentimos que a música avança, se movimenta, em direção ao oitavo compasso,
onde se encontra um acorde de tónica.
Como se uma altura menor, uma tensão menor fosse atingida no momento
da função de subdominante para depois voltar para a tónica.
E da mesma maneira pode evoluir desde a tónica para a dominante, sem
passar pela subdominante, sentindo-se um pico de tensão mais abruto.
18
Volto a insistir que, segundo o meu ponto de vista, esta sucessão “natural” é produto
de centos de anos de experimentação empírica por parte dos mestres do passado, que foi
cristalizando em relações que muito tempo depois foram sendo dados adquiridos, utilizadas
pela generalidade dos compositores europeus, catalogadas e incorporadas nos tratados que
passaram a ser ferramenta de divulgação e ensino da disciplina chamada Harmonia.
57
Tónica – Dominante – Tónica
I - V - I
Figura 37 – Encadeamentos I - IV - I, I - V – I
Figura 38 – Encadeamento V – IV
58
Neste percurso, parece que a música perde tensão, perde direccionalidade
no sentido da onda que carateriza o progresso das cadências, das quedas.
Parece que toma um grande impulso para depois se recolher na
subdominante e poder cair na tónica desde uma altura mais confortável.
Isto não quer dizer que este percurso, T D SD T, não exista na música
tonal, mas, é pouco, muito pouco frequente19.
Estas observações não são teóricas, estas observações estão baseadas na
estatística que alguns estudiosos fizeram sobre as obras dos mestres do
passado.
Os mestres do passado não tiveram sebentas, nem livros, nem
apontamentos de aula. Eles aprenderam com as obras dos seus predecessores
e dos seus contemporâneos, escutando, copiando, realizando à maneira dos
modelos para depois procurar caminhos mais individuais ou pessoais.
O manual de harmonia é uma conquista relativamente recente, talvez de
finais do século XIX; Tchaikovsky e Rimsky-Korsakov escreveram tratados de
harmonia.
19
A seguir a uma aula onde expliquei este pormenor, encontrei aos alunos da turma, em
outra sala, a tocar música dos Beatles, onde este encadeamento, V – IV, estava presente.
Curiosamente, eles não davam por isso enquanto tocavam livremente.
59
Esta substituição tem a finalidade de colorir o discurso musical, com
nuances diferentes da mesma função.
O terceiro grau é um acorde realmente pouco utilizado na música tonal,
por esta razão não foi incluído nesta “curva de tensões”20.
20
O terceiro grau, eventualmente pode funcionar como tónica, na sequência I – III – IV –
V, ou como dominante, III – I, se for utilizado na primeira inversão. Aparece também em
marchas harmónicas onde as fundamentais procedem por intervalos de quintas descendentes,
por exemplo: I – IV – viiº - iii – vi – ii – V – I.
60
Figura 41 - Inversões dos acordes de três sons
21
Lembro o tédio produzido em mim ao escutar a obra para coro Alta trinita beata.
22
Isto é porque contradizia a regra que sugeria evitar intervalos dissonantes entre o
baixo e uma voz superior. Neste caso, entre a fundamental e a quinta há um intervalo de quinta
diminuta, intervalo banido, como intervalo harmónico e melódico, por muitos anos na música
ocidental. Na segunda inversão o intervalo “tabu” é a quarta aumentada entre o baixo e a
fundamental.
61
O recurso, de inverter23 o acorde e, o resultado chama-se inversão.
Quando a terceira do acorde é a nota que está no baixo se diz que o acorde
está na primeira inversão.
Vamos a continuar a indicar a função do acorde com os números romanos
que se identificavam com o grau correspondente da escala, mas a inversão
vamos indicar com uma letra. Para a primeira inversão vamos colocar uma
letra “b” ao lado do número romano.
23
Porque se inverte a ordem hierárquica das notas do acorde; a fundamental sai da base
para ocupar um lugar nas vozes superiores, dando lugar à primeira inversão; assim ocorre com
a terceira, que pela sua vez deixa lugar à quinta na voz mais grave, dando lugar ao que veremos
chama-se de segunda inversão.
62
aspeto, I grau na segunda inversão que resolve a sexta e a quarta na
quinta e na terceira do acorde de dominante, para este dirigir-se à
tónica. Este acorde funciona como uma apojatura do quinto grau, por
tanto encontra-se com mais frequência nos tempos fortes.
B) A segunda, como acorde de passagem, entre o I grau em estado
fundamental e a sua primeira inversão, se encontra em partes fracas
de tempo ou de compasso.
C) A terceira, como acorde de repercussão entre dois acordes (I grau) em
estado fundamental.
63
5.2.6 Dissonância ou instabilidade
Isto é o critério aceite em primeira mão pelo comum das pessoas e por
alguns músicos. Mas, se vamos buscar ao modelo natural de um som
acústico, que é a sequência de harmónicos, observaremos que, numa
fundamental, coabitam, concordam, consoam, muitos mais intervalos que a
oitava, a quinta e a terceira. Veremos como aparecem no sétimo lugar, a
sétima (com respeito à fundamental); no nono lugar, a nona; no décimo
primeiro lugar a quarta aumentada; e assim sucessivamente.
Observando este modelo deduzimos que intervalos que
“culturalmente” são dissonantes, fazem parte do modelo natural dum som
acústico, e por tanto, concordam com este som.
64
O que carateriza o que consideramos comumente como dissonância é uma
tensão24 (horizontal ou vertical) entre duas ou mais alturas que provoca uma
instabilidade emocional, psicológica, que deveria ser resolvida numa
sonoridade mais estável. Segundo o meu ponto de vista a sensação de
instabilidade ou dissonância é de cariz cultural, produto de uma manipulação
e reiteração (sobre tudo) de fórmulas horizontais e verticais, na Europa, ao
longo de muitos séculos de transformações da linguagem musical.
24
Fala-se na proporção entre as diferentes frequências para estabelecer o grau de
consonância ou dissonância entre dois ou mais sons. Quanto mais simples é a proporção, mais
estável é o intervalo.
65
Figura 48 - Sequência dos harmónicos
66
Este lamento é cantado por Ariadna, depois de saber da “morte” de Teseu,
começa como uma súplica dizendo: - Deixai-me morrer! e sobre o verbo
imperativo, deixai-me, o acorde menor recebe a tensão da sétima (Fá), SEM
PREPARAÇÃO, ou seja, sem ser apanhada por grau conjunto ou ser mantida
na mesma voz, desde uma consonância anterior (retardo).
Se procedemos da mesma maneira que com os acordes de três sons, e
construímos um acorde de sétima, isto é, adicionando mais um som à distância
de terceira, por cima da quinta, e utilizando os sons naturais do modo, vamos
ter:
67
Se transportamos estas espécies sobre uma fundamental comum vamos
ter:
68
Figura 52 – Utilização de acordes de sétima no modo Maior
69
Ilustração 10 - Quantz, Trio Sonata em Dó, Larghetto
70
Outra possibilidade, além da cifragem convencional, que, indica com
algarismos árabes os intervalos das principais vozes do acorde em relação ao
baixo (não à fundamental) é a que resume com letras entre a “a” e a “d” o estado
fundamental e a terceira inversão. Este sistema vi, pela primeira vez num livro
de contraponto de autor inglês, editado nos anos 20 do século XX.
71
72
Figura 56 - Resoluções de acordes de sétima
Adicionando mais uma terceira por cima da sétima, dos acordes de sétima,
obtemos o acorde de nona.
73
Ilustração 11 - Tom Jobim, Garota de Ipanema
c) ii9, utilizado por Maurice Ravel, por exemplo na Pavana para uma
Infanta defunta. Na Ilustração 13, no terceiro e no oitavo compassos, o
acorde sobre a fundamental, Lá, tem a nona maior, Si. A sequência
harmónica continua, nos dois casos com o V grau, corroborando-se a
progressão harmónica de quinta descendente.
74
Ilustração 13 - Ravel, Pavana para uma Infanta defunta, compasso 8
e) V9, Na Ilustração 15, Liszt começa a sua os seus Jogos de água na Vila
d’Este com um acorde de sétima de dominante (anacruse) e logo a
seguir, no primeiro compasso coloca o acorde de dominante de Fá
sustenido maior com nona maior.
75
Ilustração 15 - Liszt, Jogos de água na Vila d'Este
25
Sugiro dar uma vista de olhos no capítulo sobre os acordes de nona no Livro de
Harmonia de Arnold Schönberg, em particular o relato que ele faz de uma situação que
aconteceu com o seu Sexteto op.4, A noite transfigurada, onde refere o comentário de um júri
sobre um acorde de nona, que aquele interpreto como tendo a nona no baixo.
5.2.8.1.1 Acorde de nona menor de dominante com e sem fundamental
O acorde de dominante, como função tonal, vai além de ser o V grau com
sétima. O viiº grau, também desempenha esta função devido à presença das
duas sensíveis, a sensível tonal e a sensível modal. Ver mais afrente 5.2.11.1.1.
onde se discute a dicotomia entre ser e funcionar, onde se discute a diferença
entre o que o acorde é e como o acorde funciona.
Na música clássica há realmente poucos cassos onde o acorde de nona de
dominante tem a nona menor junto com a fundamental, este é um acorde
áspero, rude, enérgico.
Lembro o caso da Sonata Nº28, em Lá maior, de Beethoven, onde no
compasso 85, Beethoven escreve o acorde de nona menor de dominante sobre
Lá, completo, com fundamental, mas isto é consequência da nota pedal, Lá, que
vem alicerçando a passagem.
77
Figura 60 - Escala napolitana transposta sobre dó
78
Na Ilustração 18 vemos um exemplo retirado de um Lied de Mozart, Als
Luise die Briefe, onde no segundo compasso do exemplo, no segundo tempo, o
acorde é o IIb napolitano de sol menor, que resolve, ic -V7 -i.
5.2.10 Cadências
A palavra cadência vem de cadere, cair, e codifica o fenómeno musical pelo
qual sentimos que a música tonal, cai, gravita ou manifesta uma atração em
direção de um polo que pode induzir a sentir a CONCLUSÃO do trecho musical,
seja da obra na sua totalidade, seja de uma fração de uma obra (motivo, frase,
período ou secção).
79
5.2.10.1 Cadências conclusivas
São aquelas em que o discurso musical, gravita no acorde de tónica em
posição de fundamental, também são conhecidas como autênticas. Não
interessa qual é o acorde que precede ao acorde de tónica, sempre e quando este
se encontre em estado fundamental.
80
fundamental é apresentada como acorde perfeito maior (Figura 63 E).
81
de cadencias compostas de primeiro e segundo aspeto. A primeira é a
cadência IV – V – I, conclusiva, mas com a progressão anterior das funções da
subdominante e da dominante.
A cadência composta de segundo aspeto é conhecida como a cadência que
utiliza o primeiro grau na segunda inversão na sequência Ic – V – I. Nesta
cadência o I grau na segunda inversão funciona como se fosse um V que têm
duas notas que não fazem parte da harmonia, a sexta pela quinta e a quarta
pela terceira26.
26
Ver capítulo 5.2.5.2, segundas inversões.
27
No renascimento o termo utilizado para realizar as ornamentações melódicas era
Glosa, um dos tratados mais importantes para apreender esta arte foi o de Diego Ortiz (Roma,
1553).
82
5.2.11.1 Notas de passagem
28
Sendo o meio tom o menor intervalo musical que o ouvido médio ocidental pode
identificar, o meio tom cromático é aquele que está formado por duas notas com o mesmo nome.
83
Figura 67 - Modelo de escala cromática para o modo maior
84
5.2.11.2 Ornatos29
Figura 70 - Ornatos
5.2.11.3 Retardos
29
O ornato não é uma figura ornamental aceite por todos os tratadistas na técnica do
contraponto vocal clássico (nem na segunda espécie, nem na terceira espécie.
30
O retardo no Contraponto vocal clássico, só aceitava a resolução ascendente.
85
No momento do retardo, não deve existir, numa voz superior ao retardo, a
nota de resolução. Esta nota de resolução, no caso de ser a fundamental do
acorde, pode existir, numa voz inferior.
Figura 71 – Retardos
5.2.11.4 Apojaturas
A apojatura, basicamente é um retardo sem preparação. Poderia escrever-
se uma tese doutoral sobre a evolução do tratamento da apojatura desde as
suas primeiras manifestações até o século XX, mas ficaremos por comentar
alguns lineamentos (rudimentos) básicos para não exceder o limite de este
trabalho de divulgação.
86
Figura 72 – Apojaturas
5.2.11.5 Escapadas31
Figura 73 - Escapadas
5.2.11.6 Antecipações
31
A escapada tem a sua figura semelhante no contraponto vocal clássico na Cambiata ou
nota de Fux.
87
Figura 74 - Antecipações
88
h) Nota de passagem diatónica
i) Apojatura superior
j) Nota de passagem diatónica
k) Notas de passagem diatónicas e duplas
l) Apojatura superior
m) Escapada
n) Retardo
o) Nota de passagem cromática
p) Nota de passagem diatónica
q) Apojatura superior
r) Antecipação
5.2.12 Modulação
89
aproveitar o carater consonante (estável) dos acordes comuns entre as
tonalidades vizinhas da tonalidade principal.
Antes de estabelecer mecanismos para modular aos tons próximos vamos
dar algumas fórmulas para reconhecer os tons próximos de uma tonalidade
principal.
a) O círculo das quintas pode ser uma ferramenta muito gráfica e fácil
para encontrar os tons próximos.
90
relativos, sexto grau, no modo maior, e terceiro grau, no modo menor;
os acordes dos seus quintos graus e os seus relativos, terceiro grau, no
modo maior e sétimo grau no modo menor; e os seus quartos graus com
os seus relativos, segundo grau, no modo maior e sexto grau no modo
menor.
Dó Sol Fá lá mi ré
Fá Dó Sib ré lá sol
Ré Lá Sol si fá# mi
dó sol fá Mib Sib Láb
mi si lá Sol Ré Dó
91
5.2.12.1 Modulação através do acorde comum
Entre os tons próximos há uma série de acordes comuns que ajudarão para
efeituar o procedimento da modulação, por isso, antes de mais nada
identificaremos estes acordes comuns.
As tabelas que serão expostas mais abaixo exibem na linha superior os
graus da tónica principal, na primeira coluna estão representadas em graus da
tonalidade principal os tons próximos. Nas colunas de cada tom próximo
aparecem os graus comuns que tem com a tonalidade principal, assim, na
tonalidade do quinto grau, o I grau da tonalidade principal será o quarto grau
na tonalidade da dominante, o quarto grau da tonalidade principal não terá
acorde comum na tonalidade da dominante porque a sua fundamental e um
som natural, enquanto na tonalidade da dominante está alterado
ascendentemente; e assim por diante.
No modo menor utiliza-se a escala do modo menor natural.
Tons Tom
I ii iii IV V vi viiº
próximos principal
V IV - vi - I ii -
IV V vi - I - iii -
vi III iv v VI VII i -
iii VI - i - III iv -
ii VII i - III - v -
Tons Tom
i iiº III iv v VI VII
próximos principal
v iv - VI - i - III
iv v - VII i - III
III vi - I ii iii IV V
VII ii - IV - vi - I
VI iii - V vi - I -
5.2.12.2 O procedimento
O procedimento para levar a modulação adiante empregando a técnica do
acorde comum é o seguinte:
92
a) Afirma-se, com uma cadência conclusiva a tonalidade principal
b) O acorde de tónica ou outro acorde da tonalidade principal considera-
se como pertencendo à tonalidade à qual se pretende modular.
c) Considerando o dito acorde na nova tonalidade, a partir deste
estabelece-se uma cadência na nova tonalidade, estando assim feita a
modulação.
Nos exemplos seguintes, por uma questão de espaço, serão obviadas às
cadências que afirmarão as tonalidades de saída, colocando-se só o acorde de
tónica em estado fundamental.
93
Figura 76 - Modulações aos tons próximos
... a modulação está bem feita quando a avozinha que está a fazer
tricô perto da lareira não repara na mudança de tonalidade.
94
Na Figura 56 podem ver-se algumas das possíveis preparações e
resoluções do acorde de sétima de dominante, onde se observa a condução
descendente da sétima e a resolução da sua fundamental na fundamental do
primeiro grau. Há outras possibilidades, como a resolução no sexto grau ou no
quarto grau na primeira inversão (Beethoven, Brahms, Schumann)
Assim, como o acorde de tónica tem a sua dominante principal num acorde
cuja fundamental está situada uma quinta perfeita por cima da tónica; os
acordes diatonicamente maiores ou menores nos modos maior e menor, também
são suscetíveis de serem introduzidos, preparados, catalisados, por meio da sua
dominante apropriada; um acorde de sétima de terceira espécie, cuja
fundamental se encontre à distância de uma quinta perfeita por cima da
fundamental do acorde que se quer introduzir, preparar, catalisar.
32
Arnold Schönberg, no seu livro Funções estruturais da harmonia, propõe que as
dominantes secundárias são consequência da alteração cromática necessária para criar
sensíveis nos modos medievais.
95
5.2.13.1 Dominantes secundárias no modo maior
O segundo grau pode ser introduzido pelo sexto grau maior, com sétima
menor, para isso, a terceira menor, natural do sexto grau, deve ascender-se meio
tom para funcionar como sensível da fundamental do segundo grau.
O terceiro grau pode ser introduzido pelo sétimo grau maior, com sétima
menor, para isso, a terceira menor, natural do sétimo grau, deve ascender-se
meio tom para funcionar como sensível da fundamental do terceiro, e a quinta
diminuta deve ascender-se meio tom para converter-se na quinta perfeita do
acorde de dominante.
O quarto grau pode ser introduzido pelo primeiro grau, com sétima
menor, para isso, deve adicionar-se a sétima menor ao acorde de primeiro grau
que naturalmente.
O quinto grau pode ser introduzido pelo segundo grau maior, com
sétima menor, para isso, a terceira menor, natural do segundo grau, deve
ascender-se meio tom para funcionar como sensível da fundamental do quinto.
O sexto grau pode ser introduzido pelo terceiro grau maior, com sétima
menor, para isso, a terceira menor, natural do terceiro grau, deve ascender-se
meio tom para funcionar como sensível da fundamental do sexto.
96
Vimos também que o número romano identifica ao acorde com uma
FUNÇÃO, não só com um grau de uma escala.
Este conceito, algo abstrato, será bem incorporado quando o aluno distinga
e interiorize bem a diferença entre os verbos SER e FUNCIONAR.
97
Figura 77 – Dominante principal e secundárias no modo maior
98
Figura 80 – Dominantes secundárias com nona e sem fundamental
99
Figura 82 - Encadeamentos diatónicos, modo menor
100
funcional; os leva a encontrar combinações que os conduzam a alterar
cromaticamente notas de acordes que ainda não foram alteradas
cromaticamente, e são suscetíveis de o serem.
No caso das dominantes, e, neste caso em particular, das dominantes
secundárias; e, neste caso particular, que aumentem a tensão que conduzirá ao
caminho para a dominante da tonalidade; as notas dos acordes suscetíveis de
serem alteradas para encontrar novas tensões, são as quintas.
Neste caso só fica a quinta, nota relativamente neutra, que pode chegar a
ser alterada e assim o acorde vir a ganhar mais uma nova tensão.
Na Figura 85, apresento sumariamente uma possível evolução do
tratamento da função de subdominante (contradominante) no seu sentido mais
abrangente.
101
G: II9, com a quinta diminuta, nona e sem fundamental, tem 4 tensões, a
sétima diminuta, uma quinta diminuta, a terceira diminuta e a terceira maior
(intervalo não diatónico).
H: II7 com a quinta diminuta tem 5 tensões, a sétima menor, duas quintas
diminutas, uma terceira diminuta e uma terceira maior (intervalo não
diatónico).
102
Figura 86 - Sexta aumentada italiana
103
Ilustração 22 - Beethoven, As criaturas de Prometeu – sexta italiana
104
Ilustração 26 - Beethoven, Sonata op. 10 Nº3 - sexta francesa
105
de Fá maior, e o lá sustenido, terceira maior do acorde de II9o e quinta diminuta,
sexta aumentada alemã, que funciona como dominante da dominante de mi
menor, e que resolverá no compasso 58, na dominante de mi menor.
6 ANÁLISE
Analisar, penso, que não é outra coisa que observar com atenção, para
depois, tirar conclusões pertinentes, isto é, desde o meu ponto de vista, com
alguma utilidade; seja para o intérprete, seja para o compositor, seja para o
investigador.
Que uma obra tem forma quer dizer que as suas partes estão relacionadas,
organizadas entre si desde o ponto de vista da TONALIDADE, dos MOTIVOS,
do CARÁCTER e da TEXTURA.
106
CARÁCTER próprio. Quando mudam estes três vetores, podemos dizer que
muda a SECÇÃO.
No caso de mudar só dois ou só um vetor, podemos dizer que estamos ainda
na mesma secção.
33
Fá bemol maior é o VI grau maior de lá bemol menor
107
cujo compasso 43, na cadência ao I grau de Mi maior (o momento mais intenso
da peça) encontramos a Secção de Ouro. Mi maior está a 11 quintas à direita,
para cima, de lá bemol menor. Três compassos antes da reexposição (48 – 50),
Beethoven modula para Lá bemol maior, recorrendo à enarmonia do acorde de
VI9o de Mi maior que, pela sua estrutura de acorde de sétima diminuta, é igual
ao II9o de Lá bemol maior, dominante da dominante da tonalidade do
andamento, a qual aparece para induzir a reexposição, no compasso 50.
A reexposição, em Lá bemol maior, A’, dá-se no compasso 51.
A forma conclui com uma CODA (cauda) que começa no compasso 66 e é
proporcional às dimensões da estrutura geral.
Na forma exemplificada com o Adagio de Beethoven pode-se observar
como o plano tonal evolui segundo sequências cadenciais que afirmam (três
vezes) a tonalidade de Lá bemol maior.
I vi V I i (VI) V I
____________________ ___________________
A B A
a (a) b a a (a)
a b
108
Na Estrutura 1 podem apreciar-se os contornos; o plano TONAL do
andamento, os níveis de tensões e a proporção áurea muito aproximada.34
34
Sobre o número de ouro e a proporção áurea muito se tem escrito. O cálculo pode fazer-
se dividindo o TOTAL pelo número de ouro aproximado, 1,618. O resultado de esta operação é
a proporção mais perfeito daquilo que queremos saber a proporção dourada.
35
Grupos de duas ou três notas que podem fazer parte do MOTIVO.
109
Figura 89 - Motivos do 1º andamento da KV 545 de W. A. Mozart
110
Ela deixou a cidade há muito tempo,
Mas a casa ainda está no mesmo lugar.
111
Figura 91 - Análise harmónica a partir da 4ª frase
112
Mais uma vez, a intuição estrutural de um dos mestres do passado chega
muito perto do resultado que, compositores mais atuais, atingiram desde uma
maneira consciente.
Secção áurea
ré# menor
si menor 39 si menor
36
É proibido apanhar uma consonância perfeita, por movimento direto, desde um
intervalo menor ou igual.
113
Uma corrente, está formada por elos que estão ligados fortemente uns com
outros. Se cada elo fosse um acorde, cada acorde deveria estar ligado com o
outro de maneira firme, para não se separar com facilidade.
Outra expressão em língua castelhana equivalente é ENLACE. E isto faz
pensar a cabelos entrelaçados, talvez entrançados, e, o recurso para realizar
uma trança, é o de criar movimentos contrários entre as diferentes madeixas
de cabelo, que equivaleriam às diferentes vozes.
Um recurso que encontraram os mestres do passado para “ligar”,
“entrelaçar”, encadear os elos do discurso harmónico, foi o de realizar
movimentos diferentes entre as vozes que constroem a textura homofónica, a
trama do Coral Luterano que avança homorritmicamente.
Não quer dizer que todos os movimentos paralelos sejam incorretos, soem
mal, ou mereçam juízos discriminatórios, é só uma questão de ESTILO37.
Na Figura 92, o mesmo contorno melódico do Adagio cantabile da Sonata
op. 13 de Beethoven, analisado em 6.4.6, está “harmonizado”, com os mesmos
acordes, mas sem utilizar, sem recorrer à “técnica” do encadeamento, em
princípio são todos movimentos paralelos entre as vozes, isto seria punido com
riscos vermelhos com a caneta do professor dedicado.
Observar como, tanto numa harmonização a quatro vozes de uma melodia
de Coral Luterano (6.4.2), como no pequeno trecho do Adagio Cantabile da
Sonata op. 13 Beethoven, as vozes se movimentam criando laços, enlaçando um
acorde com outro pela variedade de movimentos (paralelos, contrários e
oblíquos) entre as quatro vozes.
37
Stylós, ferramenta individual que cada escriba sumério utilizava para ferir o barro das
tabuletas com carateres cuneiformes
114
6.4.2 Coral Luterano
Um dos aspetos da reforma de Martin Lutero foi o que teve a ver com a
música utilizada no serviço religioso. Contra a música polifónica do
renascimento (em latim), Lutero idealizou música simples, monódica ou
homorrítmica, baseada muitas vezes, em melodias populares. Tal é o caso do
coral cinco vezes utilizado por Bach na sua Paixão Segundo São Mateus, que se
baseia na melodia O meu amor está perturbado pela causa de uma donzela.
Estes corais luteranos eram cantados na língua vernácula do lugar, neste caso,
alemão.
Johann Sebastian Bach teve que escrever uma quantidade importante de
harmonizações de melodias luteranas, para serem inseridas nas suas Cantatas
e Paixões (também na Oratória de Natal), mas à diferença de outros
compositores, Bach não só tinha em conta a função tonal das notas da melodia,
para realizar as suas harmonizações,, como também, tinha em conta o texto
poético, texto que era "harmonizado" escolhendo os acordes e os encadeamentos
que expressassem o mais apropriadamente o caráter do texto literário, ou
alguma palavra relevantes, do texto literário.
Os encadeamentos harmónicos que utilizou38, são ainda hoje, referência
para definir os encadeamentos que fundamentam o que veio a chamar-se de
Linguagem Tonal, ou Tonalismo. Daí que a análise pormenorizada dos
mecanismos utilizados pelo Cantor de Leipzig é muito pertinente para conferir
o que os livros de harmonia sugerem como "receitas" ou "fórmulas" (pré-
embaladas) para garantir as sequências de acordes que funcionem de acordo
com a linguagem harmónica utilizada entre os séculos XVIII e os nossos dias.
Desde o meu ponto de vista não acredito em explicações TEÓRICAS que
ensinem como devem encadear-se os acordes, mas sim acredito em que os
tratados escritos durante os séculos XIX e XX só se baseiam numa estatística
das fórmulas que utilizaram os Mestres do passado, os quais não tinham
tratados de harmonia (salvo o Tratado de Harmonia de Jean Ph. Rameau de
1722).
38
Entre muitos outros compositores do século XVIII.
115
Mas, para sintetizar alguns procedimentos empregues desde o século
XVIII podemos dizer que, encadeamentos que favorecem A AFIRMAÇÃO OU
A CONTRADIÇÃO DA TÓNICA, COMO CENTRO DE POLARIZAÇÃO DO
DISCURSO MUSICAL (ver como o conceito de polarização, de atração
gravitacional, foi enunciado por Newton em 1686), são encadeamentos (entre
tempos fracos e fortes do ritmo) nos quais as fundamentais dos acordes se
encontram à distância de QUINTA DESCENDENTE, TERCEIRA
DESCENDENTE E SEGUNDA ASCENDENTE. Encadeamentos nos quais as
fundamentais dos acordes se encontrem à distância de QUINTA
ASCENDENTE, TERCEIRA ASCENDENTE E SEGUNDA DESCENDENTE,
podem aparecer entre os tempos fortes e os tempos fracos do ritmo.
O exemplo seguinte tentará ilustrar como uma melodia de carater popular
pode ser utilizada para a composição de um Coral luterano; como a harmonia
pode sublinhar o texto, e como os encadeamentos dos acordes respondem às
relações referidas no parágrafo anterior.
116
esta esperança é positiva desde o momento que a cadência da frase é conclusiva,
na tónica de Sol maior, em estado fundamental.
Os encadeamentos são I - ii, segunda ascendente; ii - V, quinta
descendente; V- I, quinta descendente; I - ii, segunda ascendente; ii - I na
segunda inversão (funciona como V), quinta descendente; V - III9, terceira
descendente, etc.
Resumimos nestes quatro compassos o que é prática ensinar através da
observação de inúmeros Corais harmonizados por J. S. Bach.
A melodia tradicional empregue vem do cante Alentejano, Ó rama, ó que
linda rama...
117
tratou de uma razão acústica, mas sim de uma valorização estética e de estilo
com respeito da linguagem anterior. Algo semelhante sucede quando Arnold
Schönberg sugere evitar oitavas (simultâneas e sucessivas) e desenhos que
sugiram acordes perfeitos maiores ou menores (por exemplo), para eliminar
todo rasto que possa ter ficado do Tonalismo na linguagem que ele começou a
desenvolver durante os primeiros anos do século XX, e cristalizou na técnica de
composição com doze sons, ou Dodecafonismo.
Com respeito ao aspeto das duplicações de notas nos acordes a quatro
vozes, na harmonização de corais, podemos dizer que nas realizações de Bach
se encontram duplicações de todo o tipo, mas, se sugere:
a) Acordes perfeitos maiores ou menores, em estado fundamental, duplicar
a fundamental.
b) Acordes perfeitos maiores ou menores, na primeira inversão, duplicar a
fundamental ou a quinta.
c) Acordes de sétima de dominante, duplicar a fundamental e
eventualmente a quinta. Nunca duplicar vozes que tenham uma condução
obrigatória, como é o caso da sensível tonal e da sensível modal.
d) Acordes na segunda inversão duplicam a quinta.
e) Acordes de quinta diminuta, quando são utilizados como dominantes,
devem estar na primeira inversão e só duplicam, em princípio, a terceira.
Com respeito a distâncias entre as vozes, recomenda-se evitar intervalos
maiores que uma oitava entre as vozes superiores, deixando mais liberdade
para o intervalo entre o tenor e o baixo. Isto se deve a que podem acontecer
disparidades nas tensões dos registos e eventualmente, uma voz ficar mais
abafada ou evidente que outras.
118
donzela. Em 1613 aparece como coral fúnebre com o título, Desejo com todo o
meu coração, e posteriormente na Paixão segundo São Mateus.
Três das cinco harmonizações serão comentadas desde o ponto de vista da
sua linguagem harmónica.
119
e) Na segunda semínima do terceiro compasso, o I grau tem a terceira
duplicada. Em particular, este procedimento é relativamente
frequente nas harmonizações realizadas por Bach. Ver como as
terceiras procedem por movimento contrário.
f) A quarta (dó) do acorde de Ic, na voz de tenor, está preparada com a
fundamental do acorde de tónica anterior, na mesma voz.
120
6.4.3.3 Wenn ich einmal soll scheiden (Quando eu tiver de partir)
O último Coral da Paixão advém a seguir ao momento em que o
Evangelista diz: ... e clamando em voz alta, morreu.
O texto e a música na segunda frase são dolorosos e angustiantes39.
Poucas melodias harmonizadas por Bach têm um tratamento tão
“modulante”. Esta harmonização em particular passa pelas tonalidades de:
39
Lembro como nas aulas de Filosofia, quando o professor Adúriz relacionava a sensação
angústia com o NADA, e a morte, na obra de Heidegger.
121
Figura 96 - Wenn ich einmal soll scheiden
40
Dois por um.
122
fundamentais de: quintas descendentes, terceiras descendentes e segundas
ascendentes (entre pulsações fracas e pulsações fortes do grande ritmo)
b) Movimentações entre as quatro vozes que resultam de verticalizar os
acordes diluídos melodicamente, à maneira de encadeamentos a quatro vozes
do Coral Luterano.
c) Observar como a “primeira parte” até o compasso 19 há cinco cadências,
cada uma mais “interessante” que a anterior.
1) I – ii7d – V7b – I
2) vib – II7d – Vb – I7d
3) (IV7d) – ii7 – V7 – I SOL MAIOR
4) VI9o – iib – V9o – Ib
5) IV7d – ii7 – V7 – I
123
fraco. Lembrar do capítulo sobre Ritmo os parágrafos dedicados a como os
compassos podem funcionar como pulsações de um Ritmo Maior (1.6).
1) Primeira quebra, na terceira frase (cadência) da primeira parte.
2) Perto do fim temos dois “compassos analíticos” de três tempos (três por
um) a partir do compasso 29.
g) No compasso 23, o lá bemol do baixo, não é nona do acorde de dominante,
é uma apojatura, que, situada em parte forte de “compasso analítico” resolve na
fundamental do acorde de V grau na parte fraca do grande compasso41.
41
Classicamente, a nona, para ser nona, deve estar por cima da sétima. Ver o capítulo
sobre os acordes de nona no Livro de Harmonia de Schönberg (1911).
124
Figura 97 - Bach, Prelúdio em Dó, CBT, análise harmónica
125
A primeira linha representa a estrutura geral, 35 compassos, duas partes
e uma coda. A segunda linha representa a análise harmónica e os aspetos
rítmicos (quebras da quadratura). Na segunda linha podem ver-se as secções
áureas, a principal e as duas de cada parte.
Observar como antes da proporção áurea de cada uma das secções, Bach
altera a métrica do grande ritmo provocando uma irregularidade, uma
assimetria rítmica, como se de um ritardando escrito se tratasse.
126
Figura 98 - Mozart, Lied, esquema analítico da primeira secção
127
6) A primeira frase e a última se correspondem em registo e na nota inicial
principal, mi bemol.
7) O encadeamento i - viib - ib foi muito utilizado também por Bach. O viib
é um acorde azedo, cru, muito apropriado para o caráter de este Lied.
42
Ver 1.9
43
Um exemplo de aula.
128
C1 – C2: V7d – Ib: quinta descendente. C2 – C3, V7b – I, quinta descendente.
C3 – C4: II7c (V do V) – V, quinta descendente.
C4 – C5: mantêm a mesma função (V – vii).
C5 – C6: V7d – Ib, quinta descendente.
C6 – C7: VI7 – ii, quinta descendente.
C7 – C8: V7 – I, quinta descendente.
129
de vista mais especulativo que surge depois de observar a sequência dos
harmónicos.
44
Inícios ambíguos podemos citar, o da Sinfonia em sol menor, Nº40 de Mozart, na qual,
no primeiro compasso não aparece a quinta do acorde de tónica, propiciando a ambiguidade
entre sol menor e Mi bemol maior. Haydn, na Criação, no segundo compasso, também omite a
quinta do acorde de dó menor, propiciando a ambiguidade entre dó menor e Lá bemol maior
(embora o primeiro gesto da obra tenha sido a articulação em tutti, da tónica em oitavas. Bach
no recitativo Ach Golgotha, da Paixão segundo São Mateus, começa com um acorde de
dominante.
130
Uma análise administrativamente correta pode interpretar as harmonias
deste início como:
Dó: I7 (dominante do IV) – IV / V7 – vi / II7 (dominante do V) / V
Assim observamos que os encadeamentos realizados através da barra
imaginária do grande ritmo (que começaria num um compasso fraco)
pertencem todos à categoria de encadeamento frequente. Lembrar que estes
encadeamentos são os de quinta descendente, terceira descendente e segunda
ascendente. Nos compassos quatro e cinco desta introdução, Beethoven repete
a mesma harmonia, dominante, pois estamos num grande ritmo (dois por um)
constituído por dois compassos reais (Forte e fraco), e entre os compassos seis e
sete, Beethoven encadeia I – V, mas como se a relação rítmica fosse Forte –
fraco (um dois de dois por um), não sendo necessário criar o impulso para o
“tempo forte” seguinte.
Na Figura 101 pode ver-se o que foi narrado com palavras.
131
Até aqui podemos ficar satisfeitos porque este discurso e esta maneira de
analisar é correta e lógica, mas, sempre há um mas...
Um dos meus Mestres, Roberto Caamaño, falava nas aulas de Harmonia
que, tudo deve analisar-se segundo como se escuta45 e não forçar as observações
em função de códigos desenhados (como é o caso da partitura escrita).
Se, em função disto temos que determinar o que acontece no primeiro
compasso, não há dúvidas que ninguém, com algum sentido do ouvido mais ou
menos apurado ia dizer que o primeiro acorde se trata do acorde de tónica de
Dó maior; e o segundo acorde, a subdominante da tonalidade de Dó maior. O
ouvido reconhece a relação dominante tónica é esta última função pertence à
tonalidade de FÁ MAIOR.
Já no segundo compasso, depois de um tempo e meio (lento) de pausas,
onde o ouvido “limpa” a sonoridade anterior, Beethoven, sim, introduz o acorde
de dominante de Dó maior, mas ele engana na resolução evitando a simetria
com o compasso anterior (V – I) e propõe: V7 – vi, cadencia interrompida,
evitando assim a afirmação da cadencia conclusiva.
No terceiro compasso, volta a nós despistar, não só com a dinâmica, piano
súbito, mas sim com outra dominante, neste caso o acorde de dominante de SOL
MAIOR, que resolve conclusivamente na sua Tónica, Sol (V7 – I), neste caso, o
ritmo harmónico dilata-se, e cada acorde tem a duração de um compasso real
(quatro por quatro), como para que o ouvido e a mente de quem escuta não
tenha dúvidas da confirmação de uma nova tonalidade.
Só no sexto compasso da introdução assoma timidamente, na sua primeira
inversão, a tónica de Dó maior; e só no oitavo compasso esta tónica aparece na
posição de fundamental, estabelecendo a primeira cadência conclusiva desta
introdução.
Segundo o meu ponto de vista, e sabendo que nesta sinfonia, na introdução
ao quarto andamento, Beethoven faz alarde do seu senso de humor, posso dizer
que nestes primeiros compassos, o Génio de Bonn “Brincou com a gente”, dando
risadas disfarçadas, talvez com os pizzicati a cargo dos instrumentos de arco).
45
Também está o lado da medalha que versa que, muitas coisas se escutam como se
pensam.
132
Assim, a semelhança do que Wagner fará uns 60 anos depois (no início de
Tristão e Isolda), Beethoven passa pelas tonalidades de Fá maior, Dó maior, Sol
maior antes de assumir a tonalidade de Dó maior. O percurso tonal é de
QUINTAS ASCENDENTES, tensão harmónica, espectativa que confluirá alfim
no oitavo compasso desta introdução.
Outro facto curioso, esta introdução tem 13 compassos, a primeira
cadência conclusiva acontece no compasso 8... a que lembram estes algarismos?
Casualidade?
Tematicamente, Beethoven também brinca connosco, insinuando por
quatro vez o intervalo de segunda menor ascendente, como querendo descolar,
arrancar, sem conseguir decidir-se, para logo, a partir do compasso 5 (outro
algarismo a ter em conta) ganhar impulso numa sequência de graus conjuntos
ascendentes, no âmbito de uma quarta perfeita, até atingir a terceira do acorde
de tónica em estado fundamental, no oitavo compasso desta introdução.
Este gesto temático acompanha o desenvolvimento harmónico referido
parágrafo acima, como si ele estivesse a contar uma historieta; demora, cria
espectativa e depois de um tempo desvela o final.
133
Figura 103 - Esquema melódico da introdução ao quarto andamento
46
Patético, pathetikós, comovente.
47
Sensível, que provoca dor, doloroso.
134
a ideia de regra, de obediência à regra; e como toda regra que tem que ser
obedecida suscita certa resistência48, certa reação negativa; dai que a resolução
de um cromatismo, como também de algumas segundas menores (meios tons),
embora sejam passos pequenos e confortáveis, não devem ser executados de
maneira fluente49.
O acorde de sétima diminuta, como foi visto na página 100, 5.2.14, Figura
85, tem três tensões, a sétima diminuta, e duas quintas diminutas.
Culturalmente é um dos acordes mais dramáticos, mais trágicos, embora
(e como tudo depende do contexto) pode manifestar um caráter extremamente
doce50.
Outra coisa que salta à vista neste Grave de Beethoven, é que entre o
primeiro acorde que define a tonalidade principal de maneira afirmativa, e a
nota dó, que define a tónica no início do Allegro di molto e com brio, não há
nenhuma cadência conclusiva que recaia no primeiro grau de dó menor, isto é,
não há nenhuma cadência ao primeiro grau de dó menor em posição de
fundamental. Esta expansão tonal já tinha começando a ser explorada bastante
tempo antes por compositores como Kuhnau, Bach, Haydn, propiciando um
sentido de instabilidade, de interrogação, de “angústia”51 à música.
Estas observações quase extramusicais, ou com pouco rigor analítico,
desde o ponto de vista das observações relativas a como funcionam os
encadeamentos no contexto do Tonalismo, servem como introdução a; primeiro,
à descrição sumária dos encadeamentos entre os acordes usados por Beethoven;
segundo, à explicação, desde o ponto de vista da estatística, das regras, de como
foram empregues, por outros compositores, alguns dos recursos utilizados por
48
Lembro o estado e angústia provocado pela presença de algumas “autoridades”, sejam
patronais, administrativas, familiares, etc.
49
Esta afirmação, como toda afirmação em Arte, que não é uma ciência exata, é relativa
ao contexto.
50
Lembro o Lied de Schubert, Du bist die Ruh, onde o acorde de sétima diminuta
utilizado no compasso dezasseis, fez-me lembrar sempre ao segundo acorde de Lua, lua, lua,
cantada por Caetano Veloso.
51
Inquietude metafísica e moral, como consciência de um destino pessoal sob o signo da
ameaça do nada.
135
Beethoven nesta introdução; e terceiro, num breve exemplo a maneira de
metamorfose, como puderam ter sido aproveitados os meios usados por
Beethoven em outro contexto, menos especulativo.
Na Figura 104 ilustro com uma análise harmónica elementar, acho eu,
bastante descritiva, o percurso tonal:
136
Figura 104 – Análise harmónico estrutural
137
B) O acorde que se articula no tempo forte, É um acorde de sétima
diminuta, mas funciona como V do V, sendo a dominante secundária
do quinto, ou seja, o II grau maior, com nona menor, mas com a
fundamental omitida.
C) Este trecho é algo ambíguo, duvido em afirmar se se trata de uma
primeira parte de compasso onde o acorde é um acorde de sétima
diminuta sobre o vii grau de dó menor e que articula como acorde de
passagem (em tempo forte) o V grau sem sétima; ou, a primeira
instância é o acorde de V grau onde o lá bemol do baixo é uma
apojatura descendente da fundamental do V grau, articulando, para
aumentar a tensão do gesto anacrúsico da fusa que precede a
apojatura do terceiro tempo, um acorde de dominante com nona com
a fundamental omitida.
D) Quatro momentos de tensão e distensão marcam esta frase, e duas
novas alterações cromáticas; a primeira, a terceira do acorde da
tónica, que sendo ascendida meio tom cromático (mi bequadro) ganha
a categoria de sensível ascendente; enquanto a terceira do quinto
grau de dó menor, que se encontrava no baixo do acorde anterior, é
alterada descendentemente para si bemol, sétima menor sobre dó,
convertendo assim o i grau de dó menor, na dominante secundária do
iv.
Este iv grau, na primeira inversão, funcionará também como acorde
comum, pivô, neutro, agora como iib de Mi bemol maior. Este
procedimento para modular foi explicado no capítulo dedicado à
modulação.
E) Esta frase, talvez, é a frase mais interessante desde o ponto de vista
da harmonia, pelos vários pontos de vista possíveis.
Os dois primeiros tempos do quinto compasso estendem-se sobre o
primeiro grau de Mi bemol maior, como se o nevoeiro começasse a
dissipar-se. No terceiro tempo, sobre a tónica, Beethoven continua
com o segundo grau de Mi bemol maior. O acorde com estrutura de
sétima diminuta, si bequadro, ré, fé e lá bemol, no início do quarto
138
tempo deste quinto compasso, pode ser um acorde de passagem ou
apojatura das notas que contemplam o acorde de ii grau de Mi bemol
maior. Ver como o si bequadro é um ornato (em tempo forte) entre os
dois dós, enquanto o ré, do baixo, é uma nota de passagem (em tempo
forte) entre o mi bemol, fundamental do primeiro grau e o dó, quinta
do ii grau de Mi bemol maior. De esta maneira, este quinto compasso
fica só abrangido por duas harmonias, o I grau e o ii grau de Mi bemol
maior.
O sexto compasso começa com o acorde de sétima diminuta, si
bequadro, ré, fá e lá bemol, o que tonalmente poderia sugerir um giro
muito, mas muito passageiro a dó menor, já que a seguir, Beethoven
introduz o acorde de sétima de dominante de Mi bemol maior. Talvez,
para continuar com um pensamento tonal e linear, posso especular e
dizer que, o acorde de sétima diminuta do primeiro tempo é um acorde
de passagem em tempo forte, onde o si bequadro é realmente um dó
bemol (nota de passagem entre dó bequadro o do bequadro do ii grau
e o si bemol si bemol, fundamental do V grau, com sétima, de Mi bemol
maior.
Aproveito para esclarecer que, se a um acorde de sétima diminuta
abaixamos meio tom qualquer das quatro notas que compõem o
acorde, o resultado será um acorde de sétima de dominante. E graças
a suas enarmonias e simetrias, pode resolver em várias tonalidades.
139
este tipo de acorde pode, graças à enarmonia entre a sétima de um
acorde de sétima de dominante e a sensível do acorde de sexta
aumentada, ser ferramenta para modular. Neste caso, a sétima do
acorde de dominante de Mi bemol maior, lá bemol; é a sensível do
acorde de sexta alemã de Ré maior, sol sustenido.
Assim, este acorde de sexta aumentada alemã introduz ao acorde de
dominante de Ré maior.
F) A última frase harmonicamente falando começa com o acorde de
tónica de Ré maior na primeira inversão que é o acorde de II grau
maior de dó menor, que funciona como dominante secundária do V.
Sucedendo-se encadeamentos frequentes em dó menor para atingir a
tónica no início do Allegro di molto e com brio.
Outro ponto de vista para explicar a súbita modulação de Ré maior
para dó menor é o movimento cromático de duas vozes, terceira e
quinta do acorde de Ré maior, que descem cromaticamente em direção
da sétima e a nona do acorde de V grau, com a fundamental omitida,
de dó menor. Procedimento utilizado desde J. Kuhnau, como se verá
no capítulo dedicado a comentar o início do Prelúdio de Tristão.
140
Figura 107 – Análise pormenorizada
Ré
dó Mib dó
141
A seguir, a maneira de clarificação e de aplicação dos critérios de análise
empregues, apresento um breve trecho onde utilizo os recursos harmónicos
como foram observados nesta análise. O caráter desta breve metamorfose é
completamente diferente ao do Grave de Beethoven.
142
compõem o pequeno texto lemos, desejo, anelo e ardor. Todo desejo supõe uma
expectativa; o anelo nos remete a certa ansiedade, uma incerteza aflitiva e o
ardor podemos ligá-lo à veemência, à eloquência.
Musicalmente, estas qualidades, segundo um possível ponto de vista,
podem estar representas pela instabilidade harmónica da introdução e pelo
final, cujo último acorde é a dominante de fá sustenido menor, um gesto
interrogativo.
143
fórmula ii7 – V7; e a incerteza do anelo pela súbita mudança de tonalidade, fá
sustenido menor para lá maior.
A indeterminação, as espectativas também podem estar sugeridas pelo
ritmo. O início do Lied é feito através de uma anacruse suspensiva, uma subtil
demora na semicolcheia que antecipa a dúvida do poeta.
A indeterminação, as espectativas também podem estar sugeridas
também pela linha melódica “básica” que abrange uma sexta maior
descendente, entre sol sustenido e si.
Vem à minha memória a peça Aufschwung (elevação), das Fantasiestücke
op.12, para piano, onde as primeiras frases começam em fá menor e culminam
em Lá bemol maior, mas a última cadência, a última frase remata o discurso de
maneira pessimista, em fá menor. Como se a música se elevasse a Lá bemol
maior, mas, a última palavra a tem a queda, o “estrondo” em fá menor.
144
Wagner deu ao cromatismo de Kuhnau, Bach, Mozart, Beethoven, Chopin
um cariz diferente, novo, irreconhecível, tanto é assim que as análises mais
convencionais, penso eu que, não atiram ao alvo que motivou ao compositor de
Bayreuth.
Os trechos citados têm em comum movimentos melódicos cromáticos,
simultâneos, entre pelo menos duas vozes.
145
3) Mozart: dois primeiros tempos do compasso, observar como sobre uma
nota pedal, mi, mudam cromaticamente si bequadro para si bemol, e
sol sustenido para sol bequadro, a mudança inversa do caso anterior,
um acorde de dominante para um acorde de (eventualmente) sétima
de sensível.
O cromatismo ao serviço do drama.
Particularmente penso e vejo que na música de Mozart, cada frase,
cada gesto pode ser associado a uma cena ou a uma personagem de
uma ópera.
146
Ilustração 33 - Beethoven, Sonata para piano op. 13
6.4.10.2 O Prelúdio
O início do Prelúdio de Wagner é muito ambíguo, interrogativo, instável,
imprevisível tonalmente.
52
Quem sabe se Tom Jobim teve presente este início para idealizar as harmonias de
Garota de Ipanema.
147
Seguindo o axioma de que todo deve analisar-se segundo como se escuta,
eu particularmente não consigo de deixar de ouvir uma direção para ré menor
nos primeiros três sons, da seguinte maneira:
148
A semelhança com o que constatamos nos primeiros compassos da
Sinfonia op. 21 de Beethoven, o ouvido nos leva a “devanear” por três
tonalidades diferentes, neste caso, ré menor, mi bemol menor e lá menor. A
questão que é colocada em quase todas as análises é a ligação entre o acorde de
sétima de sensível e o acorde de sétima de dominante.
Em função do que foi observado nas palavras prévias, reparamos que o
procedimento utilizado por Wagner é semelhante ao mecanismo utilizado por
Kuhnau, Bach, Mozart, Beethoven e Chopin, o movimento cromático de duas
vozes entre dois acordes de sétima, neste caso um de sétima de sensível e um
de dominante.
53
Lembro do acorde de nona na última inversão criticado pela comissão da Sociedade de
Concertos onde foi apresentada a Noite transfigurada op. 4 de Schönberg.
149
A seguir à ideia de melodia infinita wagneriana, a seguir a algumas
músicas de Liszt (Sinfonia Fausto, Nuages Gris), Mahler; Schönberg, a partir
dos primeiros anos do século XX teve o intuito de que a linguagem musical
devia dar uma viragem abandonando a estabilidade anterior, em direção a uma
multidireccionalidade, da espectativa constante, da liberdade que soltasse às
amarras das regras do passado54.
No seguinte trecho, traduzido de uma carta escrita para Ferruccio Busoni
a 13 de Agosto de 1909, Schönberg expressa a sua atitude perante a sua criação
musical:
54
Substituídas aquelas, por outras regras, não menos rigorosas.
150
não está entre aqueles que vão-me queimar: que eu saiba.
55
Austin, William, A., Music in the 20th century, W.W. Norton & Company. Inc. New
York, 1966, pp. 204 – 205.
Os aforismos de onde foi retirado este breve texto foram publicados na revista Die
56
Musik em 1909. Esta revista cobria todos os aspetos da vida musical alemã e austríaca e foi
nesta mesma revista que onde Schönberg publicou os seus primeiros trabalhos escritos.
151
Os intervalos e as pequenas células que constroem os motivos, são alguns
dos elementos que caraterizam a linguagem melódica e harmónica musical. É
claro que outros elementos como se verá, como o ritmo, a textura e a forma, são
determinantes.
Nos primórdios da música ocidental, até o século XIX (talvez) os intervalos
utilizados com mais frequência foram os mais estáveis (harmonicamente, e os
diatónicos, melodicamente.
Paul Hindemith, no seu livro Craft of musical composition, dá-nos uma
sequência de intervalos de acordo com a sua força harmónica, e a sua força
melódica.
153
Figura 116 - "Tradução" atonal do início dos Amores de Poeta
154
Ilustração 36 - Schönberg, Peça para piano op.19 Nº4 (início)
a) Evita oitavas.
b) Evita acordes tríade (menos entre as três primeiras semicolcheias).
c) Utiliza acordes que depois tiveram a hierarquia de arquétipos:
1) Acorde menor com sétima maior (quinta espécie)
2) Arquétipo de quarta perfeita – quarta aumentada (arquétipo
Webern)
3) Acorde por quartas (ver Sinfonia de câmara op. 9)
4) Acorde aumentado com sétima maior (sexta espécie)
d) No compasso 3, não há sons equivalentes à volta do intervalo de oitava.
e) Não utiliza mais de três notas sucessivas relacionadas com uma
mesma tonalidade.
f) O gosto implícito de Schönberg pelas simetrias, pode observar-se em:
1) Primeiro e últimos acordes da frase contêm uma sétima maior e
uma quinta aumentada (quinta e sexta espécies dos acordes de
sétima).
Observar como a posição da quinta aumentada57 está invertida:
57
O acorde de quinta aumentada é simétrico.
155
Figura 117 - Simetria dos acordes de sétima com quinta aumentada
58
Ver nas últimas obras de Scriabin.
Tristão. Vozes que se mantêm e vozes que procedem por segunda menor ou
meio tom cromático.
Observar como a relação entre as fundamentais do primeiro acorde da
frase e o último, é de quinta descendente (mais um ressaibo do Tonalismo
clássico)
Na letra A do exemplo seguinte, o fá se mantém, o ré bemol procede para
dó e, o si bemol procede para si bequadro.
Na letra B do exemplo seguinte, o sol se mantém, o dó procede para si
bequadro e, o ré procede para mi bemol.
Nos dois “encadeamentos”, uma ou duas vozes se mantêm, duas procedem
por segundas menores e movimento contrário, e uma voz de cada acorde fica
sem resolver (lá e fá). As resoluções por meio tom são feitas recorrendo à
deslocação de oitava, procedimento que promove o aumento da tensão melódica
na mudança de campo harmónico.
Na segunda das peças op. 19, Schönberg também faz alarde nos gestos
simétricos. Um rítmico, entre os ataques das colcheias na pauta debaixo e um
melódico.
157
A simetria, na melodia da parte da mão direita, está explicada na Figura
120.
Ver as relações de quartas aumentadas (intervalo que divide a oitava em
duas partes iguais, seis meios tons), entre o primeiro e o último som, entre o
segundo e o quinto som e entre o terceiro e o quarto som59.
Ver a simetria intervalas (em função dos meios tons que constituem os
intervalos): 4 – 3 – 6 – 3 – 4.
59
Ver a série dodecafónica da Sinfonia op. 21 de Anton Webern.
7 CIFRAS
7.1 Cifras 1
Tabela 4 - Tabela com cifras clássicas
159
7.2 Cifras 2
7.2.1 Outra possibilidade
160
sistema de cifragem foi introduzido em Portugal, na década de 1980 pelo
professor Christopher Bochmann e pode estudar-se no seu livro, A Linguagem
Harmónica do Tonalismo (JMP, 2003).
A relativa coerência de este sistema fundamenta-se em que não há
mistura de conceitos, pois, as cifras só indicavam e indicam uma relação
intervalar (XVIII), e os números romanos indicam uma função tonal (XIX – XX).
Nem no Tratado de Harmonia de Rameau, nem no Tratado de
Tchaikovsky há referência ao número romano que indica função, ambos
utilizam os algarismos árabes para identificar intervalos.
O Tratado de Harmonia de Rimsky- Korsakov (de 1886), e o Tratado de
Contraponto de Ebenezer Prout (1890), começam a utilizar números romanos
para indicar o grau do acorde em questão, a função tonal!
A letra “o”, pequena, por debaixo do número romano, indica que este acorde
tem a fundamental omitida.
Na página seguinte podem observar-se dois exemplos de cifragem; o
primeiro (A), um baixo cifrado relativamente clássico, sem realização; o segundo
(B), utiliza uma cifragem mais atual e apropriada para a linguagem do
Tonalismo, que descreve, funcionalmente, o “texto” escrito.
161
A
162
8 CONSOLIDAÇÕES
8.1 Consolidação 1, Ritmo
1) O que é ritmo segundo Platão?
4) O que é quadratura?
165
8.2 Consolidação 2, Escalas e modos
1) O que é escala?
2) O que é modo?
a) __________________
b) __________________
166
8.3 Consolidação 3, Contraponto
Realizar contrapontos em todas as espécies sobre o seguinte Cantus
firmus:
Primeira espécie
Segunda espécie
Terceira espécie
Quarta espécie
Quinta espécie
167
8.4 Consolidação 4, Tonalidade e círculo de quintas
1) O que é tonalidade?
168
8.5 Consolidação 5, Tonalismo
1) O que é harmonia?
169
8.6 Consolidação 6, Acordes e funções tonais
1) Das espécies de acordes de três sons que conhece, escreva um exemplo
de cada uma na pauta dada por baixo. (4)
170
8.7 Consolidação 7, Acordes de sétima
1) Quantos sons tem um acorde de sétima?
a)
b)
171
8.8 Consolidação 8, Acordes de nona e sexta napolitana
1) Num acorde de nona, a sétima pode estar por cima da nona?
2) Quem é conhecido como o compositor das nonas maiores de dominante?
3) No seguinte trecho identifique o acorde de nona, indicando tonalidade
e grau harmónico.
Debussy, Bruyères
Compasso 4, ______________________________________________________
Tonalidade: _______________________________________________________
Compasso: ________________________________________________________
172
8.9 Consolidação 9, Cadências
1) O que é uma cadência?
A: ________________________________________________________________
B: ________________________________________________________________
C: ________________________________________________________________
D: ________________________________________________________________
E: ________________________________________________________________
173
8.10 Consolidação 10, Notas ornamentais
1 2 3 4 5 6 7 8
Notas de passagem
diatónicas
Notas de passagem
cromáticas
Ornatos
Retardos
Apojaturas
Escapadas
Antecipações
174
8.11 Consolidação 11, Modulação
Identificar as modulações passageiras no seguinte trecho e referir o
procedimento.
a) ______________________________________________________________
b) ______________________________________________________________
c) _______________________________________________________________
d) _______________________________________________________________
e) _______________________________________________________________
175
8.12 Consolidação 12, Dominantes secundárias
Indicar no seguinte trecho as dominantes secundárias e a sua função com
um cifrado conveniente.
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
176
8.13 Consolidação 13, Acordes de sexta aumentada
Identificar no seguinte trecho os acordes de sexta aumentada e indicá-los
com um cifrado conveniente.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
177
8.14 Consolidação 14, Análise harmónica
Cifrar os seguintes trechos de maneira inteligível, indicando também a
tonalidade e o percurso tonal.
178
8.15 Consolidação 15, Análise, melodias harmonizadas a
quatro vozes
8.15.1 Coral 1
a) Indicar a tonalidade
179
8.15.2 Coral 2
a) Indicar a tonalidade
180
8.15.3 Coral 3
a) Indicar a tonalidade
181
8.15.4 Coral 4
a) Indicar a tonalidade
182
8.16 Consolidação 16, Análise harmónica, modo maior
Realizar uma análise “completa” do seguinte trecho para guitarra60, que
inclua; tonalidade, percurso tonal, análise harmónica (funcional), análise
estrutural e rítmica, cadências, dominantes secundárias, acordes de sexta
napolitana, acordes de sexta aumentada.
60
Tenho consciência de que tem partes pouco idiomáticas instrumentalmente.
183
8.17 Consolidação 17, Análise harmónica, modo menor
Realizar uma análise “completa” do seguinte trecho para guitarra61, que
inclua; tonalidade, percurso tonal, análise harmónica (funcional), análise
estrutural e rítmica, cadências, dominantes secundárias, acordes de sexta
aumentada.
61
Tenho consciência de que tem partes pouco idiomáticas instrumentalmente.
184
8.18 Consolidação 17, Análise harmónica
Realizar uma análise relativamente completa do seguinte trecho. Esta
análise deve considerar aspetos estruturais, percurso tonal, análise harmónica,
comentários sobre a condução das vozes e considerações tanto estilísticas como
interpretativas.
185
186
9 Conteúdos programáticos por anos
9.1.1 Primeiro ano
9.1.1.1 Módulos 1
Ritmo, intervalos, escalas, tonalidades, tríades, graus tonais
9.1.1.2 Módulos 2
Tonalidade
Sistema tonal, funções tonais, cifragem de acordes
Cadências, cadencia 6/4
Acordes de sétima
Encadeamentos mais frequentes no tonalismo
Ritmo harmónico
9.1.1.3 Módulos 3
Notas ornamentais
Harmonização a quatro vozes
Baixos dados, cantos dados
Corais a quatro vozes
Harmonia e texto
Análise
9.1.2 Segundo ano
9.1.2.1 Módulo 4
Dominantes secundárias, modulação a tonalidades próximas
Análise de obras entre os séculos XVIII e XIX
9.1.3 Terceiro ano
9.1.3.1 Módulo 7
Modulação cromática
Acordes de sexta aumentada e sexta napolitana
Misturas, enarmonia, modulações a tonalidades afastadas
9.1.3.2 Módulo 8
Tonalismo, análise temática, estrutural e interpretativa. Repertório.
Teoria da Música e da Prática instrumental.
187
10 MATERIAIS DE APOIO
Serve esta lista muito magra como material de apoio para o estudo
individual dos alunos e, como referência para o professor.
10.1 Ritmo
1) Beethoven, Sonata para piano op.14 Nº2, Andante
2) Beethoven, Sonata para piano op.28, Allegro
3) Chopin, Mazurcas.
4) Purcell, Chaconne da ópera The fairy Queen.
5) Beethoven, Sonata para piano, op. 28, Scherzo
6) Beethoven, Sonata para piano op10 Nº1, Allegro molto e com brio
7) Beethoven, Sinfonia Nº1, Tempo di menuetto
8) Haydn, Sinfonia Nº93, primeiro andamento (Allegro assai).
9) Beethoven, Sonata para piano op. 7, Allegro molto e com brio
10) Beethoven, Sonata para piano op.7, Rondo
11) Schubert, Impromptu op. 90 Nº2
12) Beethoven, Sinfonia op. 67, Allegro com brio
13) Bartók, 15 Canções paisanas húngaras, Balada
14) Ravel, Ma mére l´oye, início.
15) Messiaen, Modo de valores e intensidades
10.2 Modos
1) Bartók, Mikrokosmos, números, 37, 40, 42, 48, 51, 55, 63, 65.
2) Debussy, Voiles, De spas sur la neige, La sérénade interrompue, La
Cathédrale engloutie
10.3 Contraponto
1) Thomas Morley, Canzonets to two voices.
2) Orlando di Lassus, Bicinia.
3) W. Byrd, Missa a 3 vozes
189
10.4 Melodias de corais luteranos harmonizadas por Bach
1) Aus meines Herzens Grunde
2) An Wasserflüssen Babylos
3) Christus, der ist mein Leben
4) Ewigkeit, du Donnerwort
5) Nun danket aller Gott
6) Ich dank dir, lieber Herr
7) Nun lob‘, meine Seel‘, den Herren
8) Freuet euch, ihr Christen
9) Puer natus in Bethlehem
10) Freu dich sehr, o meine Seele
10.5 Modulação
1) Mozart, Sonata para piano KV 545, Allegro
2) Beethoven, Sonata para piano op.10 Nº1, Allegro molto e com brio
3) Beethoven, Sonata op.2 Nº1, Allegro
4) Beethoven, Sonata para piano op.10 Nº3, Largo e mesto
5) Beethoven, Sonata para piano op.13, Grave, Andante cantabile
10.7 Atonalismo
1) Schönberg, Peças para piano op. 11
2) Schönberg, Peças para piano op.19
3) Schönberg, Pierrot Lunaire
190
ÍNDICE
1 RITMO ........................................................................................................................... 5
191
4.3.6 Quinta espécie - Contraponto florido ......................................................... 43
4.3.6.1 Regras .................................................................................................................... 43
4.3.6.2 Exemplos ................................................................................................................ 43
4.3.7 Bicínio (Bicinia) ........................................................................................... 44
4.3.7.1 Exemplos ................................................................................................................ 44
192
5.2.13.2 Dominantes secundárias no modo menor ........................................................... 99
5.2.14 Acordes de sexta aumentada ................................................................... 100
7 CIFRAS...................................................................................................................... 159
193
8.7 CONSOLIDAÇÃO 7, ACORDES DE SÉTIMA ................................................................ 171
8.8 CONSOLIDAÇÃO 8, ACORDES DE NONA E SEXTA NAPOLITANA .................................... 172
8.9 CONSOLIDAÇÃO 9, CADÊNCIAS ............................................................................. 173
8.10 CONSOLIDAÇÃO 10, NOTAS ORNAMENTAIS ............................................................. 174
8.11 CONSOLIDAÇÃO 11, MODULAÇÃO ......................................................................... 175
8.12 CONSOLIDAÇÃO 12, DOMINANTES SECUNDÁRIAS .................................................... 176
8.13 CONSOLIDAÇÃO 13, ACORDES DE SEXTA AUMENTADA ............................................. 177
8.14 CONSOLIDAÇÃO 14, ANÁLISE HARMÓNICA .............................................................. 178
8.15 CONSOLIDAÇÃO 15, ANÁLISE, MELODIAS HARMONIZADAS A QUATRO VOZES ............... 179
8.15.1 Coral 1 ...................................................................................................... 179
8.15.2 Coral 2 ...................................................................................................... 180
8.15.3 Coral 3 ...................................................................................................... 181
8.15.4 Coral 4 ...................................................................................................... 182
8.16 CONSOLIDAÇÃO 16, ANÁLISE HARMÓNICA, MODO MAIOR ......................................... 183
8.17 CONSOLIDAÇÃO 17, ANÁLISE HARMÓNICA, MODO MENOR ........................................ 184
8.18 CONSOLIDAÇÃO 17, ANÁLISE HARMÓNICA .............................................................. 185
194
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Ritmo binário .............................................................................. 5
Figura 2 - Ritmo ternário (a) ....................................................................... 7
Figura 3 - Ritmo ternário (b) ....................................................................... 8
Figura 4 - Compasso como pulsação ........................................................... 9
Figura 5 - Quebra da quadratura ............................................................. 10
Figura 6 - Início tético ............................................................................... 11
Figura 7 - Início anacrúsico ....................................................................... 11
Figura 8 - Anacruse motriz ....................................................................... 12
Figura 9 - Anacruse suspensiva ................................................................ 12
Figura 10 - Início acéfalo ........................................................................... 12
Figura 11 – Situações que contradizem o acento métrico ....................... 14
Figura 12 - Ritmo modal............................................................................ 15
Figura 13 - Ritmo atonal ........................................................................... 17
Figura 14 - Good morning to all ................................................................ 18
Figura 15 - Estrutura da escala do exemplo anterior .............................. 18
Figura 16 - Escala hexatónica ................................................................... 19
Figura 17 - Escala pentatónica ................................................................. 19
Figura 18 - Baguala ................................................................................... 20
Figura 19 - Sete modos medievais ............................................................ 22
Figura 20 - Modo mixolídio transposto ..................................................... 22
Figura 21 – Exemplos musicais sobre modos medievais ......................... 26
Figura 22 - Modos, maior e menor ............................................................ 28
Figura 23 - Quartas e quintas melódicas na mesma direção .................. 35
Figura 24 - Quintas e oitavas paralelas ................................................... 35
Figura 25 - Procedimentos a evitar........................................................... 37
Figura 26 - Exemplos de cambiatas .......................................................... 39
Figura 27 - Paralelismos desaconselhados ............................................... 39
Figura 28 - Linhas melódicas desaconselhadas ....................................... 40
Figura 29 - Tonalidades diferentes ........................................................... 45
Figura 30 – Tetracordes ............................................................................ 46
195
Figura 31 - Aparição dos sustenidos ......................................................... 47
Figura 32 - Escala de Dó maior ................................................................. 48
Figura 33 - Aparição dos bemóis ............................................................... 49
Figura 34 - Acordes nos modos maior e menor harmónico ...................... 55
Figura 35 - Graus tonais ........................................................................... 56
Figura 36 – Funções tonais com acordes primários ................................. 57
Figura 37 – Encadeamentos I - IV - I, I - V – I ......................................... 58
Figura 38 – Encadeamento V – IV ............................................................ 58
Figura 39 – Funções tonais com acordes secundários (a) ........................ 60
Figura 40 – Funções tonais com acordes secundários (b) ........................ 60
Figura 41 - Inversões dos acordes de três sons ........................................ 61
Figura 42 – Utilização de primeiras inversões ........................................ 61
Figura 43 - Acordes no modo maior e as suas primeiras inversões ........ 62
Figura 44 - Acordes no modo menor e as suas primeiras inversões........ 62
Figura 45 - Emprego das segundas inversões .......................................... 63
Figura 46 - Exemplo de utilização de segundas inversões ...................... 63
Figura 47 - Sequência de harmónicos ....................................................... 64
Figura 48 - Sequência dos harmónicos ..................................................... 66
Figura 49 - Acordes de sétima diatónicos – modo Maior ......................... 67
Figura 50 - Acordes de sétima diatónicos – modo menor ........................ 67
Figura 51 - Sete espécies dos acordes de sétima ...................................... 68
Figura 52 – Utilização de acordes de sétima no modo Maior .................. 69
Figura 53 - Utilização de acordes de sétima no modo menor .................. 69
Figura 54 - Inversões dos acordes de sétima e uma possível cifragem ... 70
Figura 55 - Cifragens de acordes de sétima, outra possibilidade ............ 71
Figura 56 - Resoluções de acordes de sétima ........................................... 73
Figura 57 - Acordes de nona no modo Maior ............................................ 73
Figura 58 - Acordes de nona no modo menor ........................................... 73
Figura 59 - Modo frígio transposto sobre dó ............................................. 77
Figura 60 - Escala napolitana transposta sobre dó ................................. 78
Figura 61 - Acordes sobre o modo frígio ................................................... 78
Figura 62 - Exemplo de cadência Napolitana .......................................... 78
196
Figura 63 - Cadências conclusivas ............................................................ 80
Figura 64 - Cadências suspensivas ........................................................... 81
Figura 65 - Cadência composta de segundo aspeto .................................. 82
Figura 66 - Notas de passagem diatónicas ............................................... 83
Figura 67 - Modelo de escala cromática para o modo maior ................... 84
Figura 68 - Modelo de escala cromática para o modo menor ................... 84
Figura 69 - Notas de passagem cromáticas .............................................. 84
Figura 70 - Ornatos ................................................................................... 85
Figura 71 – Retardos ................................................................................. 86
Figura 72 – Apojaturas .............................................................................. 87
Figura 73 - Escapadas ............................................................................... 87
Figura 74 - Antecipações ........................................................................... 88
Figura 75 – Notas ornamentais ................................................................ 88
Figura 76 - Modulações aos tons próximos ............................................... 94
Figura 77 – Dominante principal e secundárias no modo maior ............ 98
Figura 78 - Encadeamentos diatónicos ..................................................... 98
Figura 79 –Dominantes secundárias ........................................................ 98
Figura 80 – Dominantes secundárias com nona e sem fundamental ..... 99
Figura 81 – Dominante principal e secundárias no modo menor ........... 99
Figura 82 - Encadeamentos diatónicos, modo menor ............................. 100
Figura 83 - Dominantes secundárias, modo menor ................................ 100
Figura 84 - Dominantes secundárias com nona, modo menor ............... 100
Figura 85 - Evolução das contradominantes .......................................... 102
Figura 86 - Sexta aumentada italiana .................................................... 103
Figura 87 - Sexta aumentada alemã....................................................... 103
Figura 88 - Sexta aumentada francesa................................................... 103
Figura 89 - Motivos do 1º andamento da KV 545 de W. A. Mozart ....... 110
Figura 90 - Variações melódicas de Der Doppelgänger, de Schubert.... 111
Figura 91 - Análise harmónica a partir da 4ª frase ............................... 112
Figura 92 - Sucessão de acordes quase paralelos ................................... 114
Figura 93 - Melodia à maneira de coral harmonizada ........................... 116
Figura 94 - Erkenne mich, mein Hüter .................................................. 119
197
Figura 95 - O Haupt voll Blut und Wunden ........................................... 120
Figura 96 - Wenn ich einmal soll scheiden............................................. 122
Figura 97 - Bach, Prelúdio em Dó, CBT, análise harmónica.................. 125
Figura 98 - Mozart, Lied, esquema analítico da primeira secção .......... 127
Figura 99 - Análise harmónica do início do Adagio cantabile ............... 129
Figura 100 - Sequência dos harmónicos ................................................. 130
Figura 101 - Beethoven, Adagio molto, da Sinfonia op. 21 .................... 131
Figura 102 - Desenvolvimento motívico ................................................. 133
Figura 103 - Esquema melódico da introdução ao quarto andamento .. 134
Figura 104 – Análise harmónico estrutural ........................................... 137
Figura 105 - Resoluções de um acorde de sétima diminuta .................. 139
Figura 106 - Encadeamento cromático ................................................... 140
Figura 107 – Análise pormenorizada ..................................................... 141
Figura 108 - Metamorfose sobre harmonias de Beethoven ................... 142
Figura 109 - Esquema harmónico de No esplendor do mês de maio ..... 143
Figura 110 - Início do Prelúdio de Tristão e Isolda ................................ 147
Figura 111 - Polarização “subjetiva” a ré menor .................................... 148
Figura 112 - Resoluções do acorde de sétima de sensível ...................... 148
Figura 113 - Resolução clássica do Acorde de Tristão ........................... 148
Figura 114 - Resolução do Acorde de Tristão ......................................... 149
Figura 115 - Harmonia e melodia (Hindemith)...................................... 152
Figura 116 - "Tradução" atonal do início dos Amores de Poeta ............. 154
Figura 117 - Simetria dos acordes de sétima com quinta aumentada .. 156
Figura 118 - Schönberg, op. 19 Nº4, esquema analítico ......................... 156
Figura 119 - "Schönberg, op.19 Nº4, "encadeamentos" ........................... 157
Figura 120 – Schönberg, gesto melódico simétrico do op. 19 Nº2 .......... 158
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 - Adóro te devóte ................................................................... 23
Ilustração 2 - Bach, Herzliebster Jesu ...................................................... 27
Ilustração 3 - Tropo Cunctipotens genitor ................................................ 29
Ilustração 4 - Organum paralelo ............................................................... 30
198
Ilustração 5 - Perotin, Viderunt omnes, escola de Notre Dame de Paris 30
Ilustração 6 - Machaut, Missa de Notre Dame ......................................... 31
Ilustração 7 - Palestrina, Missa Papae Marcelli ...................................... 32
Ilustração 8 - Círculo das quintas ............................................................. 51
Ilustração 9 - Monteverdi, Lamento de Ariadna ...................................... 66
Ilustração 10 - Quantz, Trio Sonata em Dó, Larghetto ............................ 70
Ilustração 11 - Tom Jobim, Garota de Ipanema ....................................... 74
Ilustração 12 - Ravel, Jogos de água ......................................................... 74
Ilustração 13 - Ravel, Pavana para uma Infanta defunta, compasso 8 ... 75
Ilustração 14 - Debussy, Canope ............................................................... 75
Ilustração 15 - Liszt, Jogos de água na Vila d'Este .................................. 76
Ilustração 16 - Ravel, Pavana para uma Infanta defunta ....................... 76
Ilustração 17 - Beethoven, Sonata 28, compasso 85 ................................. 77
Ilustração 18 - Mozart, Als Luise die Briefe ............................................. 79
Ilustração 19 – Johann B. Cramer (1771 – 1858), estudo em dó menor 79
Ilustração 20 - Círculo das quintas ........................................................... 90
Ilustração 21 - Mozart, Als Luise die Briefe – sexta italiana ................ 103
Ilustração 22 - Beethoven, As criaturas de Prometeu – sexta italiana . 104
Ilustração 23 - Chopin, Scherzo em si menor – sexta alemã ................. 104
Ilustração 24 - Chopin, Noturno op. 15 Nº3 – sexta alemã .................... 104
Ilustração 25 - Beethoven, Sonata op. 10 Nº1 - sexta francesa .............. 104
Ilustração 26 - Beethoven, Sonata op. 10 Nº3 - sexta francesa .............. 105
Ilustração 27 - Schubert, Der Wegweiser - sexta francesa .................... 105
Ilustração 28 - Mozart, Sonata para piano em lá menor ....................... 105
Ilustração 29 - Bin ic gleich von dir gewichen ........................................ 117
Ilustração 30 - Kuhnau, Sonata Bíblica Nº1 ........................................... 145
Ilustração 31 - Bach, Wenn ich einmal soll ............................................ 145
Ilustração 32 - Mozart, Fantasia em ré menor ....................................... 146
Ilustração 33 - Beethoven, Sonata para piano op. 13 ............................. 147
Ilustração 34 - Chopin, Prelúdio op. 28 Nº4 ............................................ 147
Ilustração 35 - Schumann, Im wunderschönen Monat Mai ................... 153
Ilustração 36 - Schönberg, Peça para piano op.19 Nº4 (início) .............. 155
199
Ilustração 37 - Schönberg, Peça para piano op.19 Nº2 (início) .............. 157
ÍNDICE DE DESENHOS
Desenho 1 - Ideia de "serra" tonal............................................................. 54
Desenho 2 - Percurso pouco frequente no Tonalismo .............................. 58
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 – Tons próximos .......................................................................... 91
Tabela 2 - Acordes comuns - Modo maior ................................................. 92
Tabela 3 – Acordes comuns - Modo menor ............................................... 92
Tabela 4 - Tabela com cifras clássicas .................................................... 159
Tabela 5 - Tabela com cifras atuais – Acordes de três sons................... 160
Tabela 6 - Acordes de sétima e nona sem fundamental ......................... 161
ÍNDICE DE ESTRUTURAS
Estrutura 1 – Beethoven, Adagio cantabile da Sonata op. 13 ............... 108
Estrutura 2 - Schubert, Der Doppelgänger - estrutura geral ................ 113
Estrutura 3 – Bach, Prelúdio em Dó maior do CBT1............................. 125
Estrutura 4 - Mozart, Als Luise die Briefe, esquema estrutural ........... 128
Estrutura 5 - Estrutura do Grave da Sonata op. 13 de Beethoven ....... 141
200