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PREFÁCIO

A teoria musical é considerada muitas vezes um "bicho de sete cabeças", algo


dificílimo de se aprender. Por outras, é tida como algo fundamental para se fazer
música, sela com instrumentos ou com a própria voz. Pretendo mostrar a você que lê
essa apostila que não é nenhum dos dois!

A dificuldade que temos para entender a teoria musical é quase a mesma que
qualquer pessoa tem ao começar a estudar um outro idioma - sendo que no nosso
caso, o alfabeto é um pouco diferente. Mas não é impossível, basta ter paciência com
você mesmo e insistência para captar o que quero dizer.

E quanto à necessidade de saber a teoria para tocar, lembro de um


comentário que uma professora da faculdade onde estudei fez uma vez: "Você
aprende primeiro a falar ou a escrever?". Não quero dizer que não é importante o
estudo da teoria - senão, nem faria esta apostila hehehe... Mas para iniciar um fazer
musical, basta começar. A teoria entra como ferramenta para registrar e representar
os sons que produzimos com nossos instrumentos ou vozes.

E a grosso modo, aquelas bolinhas com perninhas dispostas sobre 5 linhas


(chamadas de pentagrama) trazem duas informações básicas: que som é aquele (ou
silêncio) e quanto tempo ele dura. Somente isso. Mas a quantidade de símbolos e
nomes estranhos que são usados para representar estas duas informações causa uma
estranheza natural...

Esta apostila não está organizada como um método "de cabo a rabo", mas
procura apresentar os assuntos aos poucos, intercalando o estudo de alturas e
durações sonoras na intenção de que não se tenha a impressão que são fenômenos
distintos, e sim aspectos diferentes que andam juntos e que precisam ser traduzidos
pelo executante ao se deparar com os signos da escrita musical tradicional.

Espero que você aproveite estas páginas ao máximo, para poder se


expressar, ler ou escrever seus sons sempre que puder ou precisar.

Vamos nessa!

Alexandre "Bebeto" Mangeon


Quarentena COVID-19, 2020

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1. INTRODUÇÃO

Para começarmos a nossa jornada, temos que entender alguns conceitos básicos sobre
o som e a ausência de som (sim, com silêncio também se fá música!).

a) Altura: para nós, altura não representa o volume do som (lembro de meu pai, na
minha adolescência: "Alexandre! Abaixa a guitarra!"). Volume é outra coisa que
iremos falar em seguida. A altura aqui se refere ao sentido de grave e agudo do som.
Como assim? Se você ouve um violino, ele executa notas agudas...
agudas... Um contrabaixo,
notas graves... As notas do violino são mais altas que as do contrabaixo. Outro
exemplo: uma flauta e um violão. A flauta executa notas mais altas que o violão (na
maior parte do tempo).

b) Intensidade: aqui sim, temos o botão de volume na história. Intensidade tem a ver
com a energia com que o som é produzido. Se tocarmos com mais ou menos força num
violão ou piano, teremos sons mais ou menos intensos na proporção da força que
fazemos no instrumento. Daa mesma maneira, ao girarmos um botão de volume de um
aparelho de som para a direita, o mesmo estará permitindo mais eletricidade passar
ao estágio de amplificação do som (portanto mais energia). É medida universalmente
em decibéis (dB), e nas partituras é indicada por palavras em italiano que veremos
mais para frente.

c) Duração: a duração do som (ou do silêncio) é fundamental para estabelecermos


uma construção musical. E essa duração é uma das informações que a notação musical
(ou seja, o jeito de escrever
ver música na partitura) traz pra gente.

d) Pulso: o pulso é um intervalo de tempo regular e constante que conduz a música


(seja instrumental ou cantada, erudita ou popular) do início ao final. É o que nós, de
modo muito espontâneo, usamos como referência
referência para dançar ou bater palmas. Toda
música tem seu pulso.

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1. ASPECTOS RÍTMICOS: FUNDAMENTO .
PRIMEIROS FUNDAMENTOS

1.1 O Pulso e o Som.

Já vimos que o pulso conduz a música como um coração batendo, na mesma


velocidade do início ao fim. Irei representar o pulso po
porr uma barra retangular
dividida em partes iguais.

O intervalo entre cada pulso está em cada barra vertical. Reparem que eu não coloquei
número nenhum no final do retêngulo... Porque ali se iniciaria o 5º pulso, mas encerrei
a contagem ali.

izer que o 4º pulso não termina em cima do número 4?". Exatamente: ele
"Ué... Quer dizer
vai terminar no final do retângulo.

Vamos imaginar que temos um sino tocando em cada pulso:

O som no quarto pulso começa em cima do número 4 e para no fim dele (que seria o
começo do pulso 5).

Para representar sons que duram um pulso, por enquanto, assumiremos essa figura,
que chamaremos de semínima:

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Da mesma maneira, caso eu queira representar silêncios na duração de um pulso, eu
usarei a figura que representa a pausa de semínima:
semín

Então, voltando aos nossos sinos, eu poderia escrever o seu badalar assim:

Caso a duração dos sinos fosse de metade do pulso, ou seja, duas badaladas por pulso,
teríamos o seguinte gráfico:

Para representar a duração do som dos sinos equivalente a metade de um pulso,


usaremos a figura da colcheia:

1 e 2 e 3 e 4 e

4
Assim como na semínima, temos uma figura representativa para silêncios na duração
de metade do pulso - a pausa de colcheia

Então, pode-se dizer que o tempo de duração de uma semínima é o mesmo de duas
colcheias, certo?

Seguindo o raciocínio, temos outras figuras de som e de silêncio, que representam


frações menores ou maiores do pulso:

NOME PULSO SOM SILÊNCIO

semibreve 4

mínima 2

semínima 1

colcheia 1/2

semicolcheia 1/4

fusa 1/8

semifusa 1/16

Vou colocar alguns exemplos, usando ainda o gráfico de representação do som de um


sino como referência:

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a)

Neste exemplo, o sino toca a cada pulso, e seu som dura exatamente a duração do
pulso.

b)

Neste exemplo, o sino toca nos dois primeiros pulsos, seu som dura exatamente a
duração do pulso, e depois fica em silêncio no 3º e 4º pulsos.

c)

Neste exemplo, o sino toca no 1º e 3º pulsos, seu som dura exatamente a duração
do pulso, e depois fica em silêncio no 2º e 4º pulsos.

d)

Neste exemplo, o sino toca no 2º e 3º pulsos, seu som dura exatamente a duração
do pulso, e temos silêncio no 1º e 4º pulsos.

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Para entendermos melhor os sons que duram metade do pulso, irei fazer uma
pequena alteração no nosso gráfico: na metade de cada pulso, irei colocar a vogal "e".

1 e 2 e 3 e 4 e

E com isso, podemos exemplificar a escrita de várias situações onde o som do sino
dura metade do pulso (seja a primeira metade ou segunda).

1 e 2 e 3 e 4 e

Em tempo: a partir de agora, usarei a notação tradicional para escrever colcheias


consecutivas, ligando as figuras pelas hastes.

s = s

Dessa maneira, o exemplo anterior fica:

ss

1 e 2 e 3 e 4 e

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Mais alguns exemplos com as colcheias:

a)

1 e 2 e 3 e 4 e

Neste exemplo, toda segunda colcheia de cada pulso é em silêncio.

b)

1 e 2 e 3 e 4 e

Neste exemplo, todas as duas colcheias do 1º e 3º pulsos são tocadas e as do 2º e


4º pulsos são em silêncio.

c)

1 e 2 e 3 e 4 e
Neste exemplo, as três primeiras colcheias e as três últimas são tocadas, ficando a
colcheia do "2e" e do "3" em silêncio.

Trazendo essa representação para o pentagrama (falerei mais sobre ele quando
começarmos a tratar da representação das alturas), teremos:

1 e 2 e 3 e 4 e

Ainda manterei a contagem de pulsos e suas metades, para facilitar o entendimento.

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Para representarmos sons que duram a metade da metade do pulso, ou seja 1/4 do
pulso, usaremos a figura da semicolcheia e sua respectiva pausa:

1 a e i 2 a e i 3 a e i 4 a e i

As vogais "a" e "i" entram para auxiliar na correta noção de "posicionamento" de cada
som dentro do pulso.

Exemplificando com as figuras de silêncio agora:

a)

1 a e 2 a e 3 a e 4 a e

Neste, a quarta semicolcheia não é executada - o "i" está representado mais claro.
Assim, para fins didáticos, leia este ritmo emitindo os sons correspondentes aos
números, aos "a" e aos "e", mas nos "i" só mova a boca sem emitir sons.

b)

1 a i 2 a i 3 a i 4 a i

Agora, a terceira semicolcheia não é executada - o "e" está representado mais claro.
Assim, leia este ritmo emitindo os sons correspondentes aos números, aos "a" e aos
"i", mas nos "e" só mova a boca sem emitir sons.

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c)

1 e i 2 e i 3 e i 4 e i

Neste exemplo, a segunda semicolcheia não é executada - por isso seu "a" esta
representado mais claro. Para fins didáticos, sugiro que você leia este ritmo emitindo
os sons correspondentes aos números, aos "e" e aos "i", mas nos "a" só mova a boca
sem emitir sons.

d)

Neste exemplo, a primeira semicolcheia não é executada - por isso número


correspondente ao início dos pulsos esta representado mais claro. Leia este ritmo não
emitindo os sons correspondentes aos números (só mova a boca sem emitir sons),
mantendo a emissão das letras "a", "e" e "i".

Em tempo, na prática do dia a dia de seu fazer musical (seja cantando ou tocando algum
instrumento), você não ficará abrindo a boca "fingindo" dizer "1", "a", "e" ou " i". Este
pequeno artifício serve para que você se acostume com a colocação de cada momento de
silêncio na subdivisão do pulso por 4.

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2. REPRESENTAÇÃO DAS ALTURAS: PRIMEIROS FUNDAMENTOS.

Como foi dito na introdução, o som possui uma propriedade chamada altura, que significa
o quanto o mesmo é mais "fino" ou mais "grosso". Todos nós já nos deparamos com esse
tipo de comparação. Em geral, uma sirene é mais fina do que o apito de um navio. Ou o
ronco de um carro de fórmula 1 é mais fino que o ronco de um caminhão...

Em música, as características "fino" e grosso" são chamadas de agudo e grave. e é com


elas que trabalharemos agora. Mas como representar isso? Usando um conjunto de 5
linhas e 4 espaços chamado pentagrama.

espaços
linhas

5
4 4
3 3
2
2
1 1

As alturas são representadas no pentagrama de acordo com a posição onde a nota é


escrita: a nota será mais grave ou aguda quanto mais alta estiver no pentagrama.
agudo

grave
Acontece, porém, que somente as linhas do pentagrama não significam nada em
termos de que som queremos. É preciso indicar uma referência, dizer que nota estará
em qual posição. Para isso existem as claves, (que significa chave em italiano). A clave
é quem decifra para o músico a posição das notas na pauta - como se fosse a chave de
um mistério.

Temos hoje em uso três claves a saber:

Clave de Sol na 2ª Linha Clave de Fá na 4ª Linha Clave de Dó na 3ª Linha

& ? B

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A clave de sol começa a enrolar-se pela 2ª linha do pentagrama, indicando que ali é a
nota Sol.

&
sol

Assim, se continuarmos preenchendo linhas e espaços e seguindo a ordem das notas naturais, temos:

&
sol lá si dó ré mi fá sol sol fá mi ré dó

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