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Angelino Bozzini
Embora a finalidade da existência de uma banda não seja participar de concursos e ganhá-
los, o sucesso de uma atuação pode ser um fator de estímulo essencial à existência.
Infelizmente, na prática, a não observância de alguns princípios básicos faz com que, para
muitas bandas, a participação em um concurso se transforme numa experiência frustrante.
A regra de ouro para mudar essa situação é ter sempre em mente que uma apresentação,
da entrada à saída da banda, deve ser pensada como um todo único, onde cada aspecto
está interligado ao outro. Embora as tarefas de organização, concepção, preparação e
realização sejam divididas entre várias pessoas, deve haver um esforço comum para se
conseguir a unidade.
Vamos agora analisar os principais aspectos que devem ser levados em conta para se
organizar uma apresentação de sucesso.
Para que isso aconteça, ela deve ser musicalmente simples, para ser facilmente
compreendida, e ter um ritmo não muito lento e que estimule a todos a ouvi-la. Não deve
ser tecnicamente complicada, para que possa ser executada facilmente durante a marcha
com evoluções coreográficas. É importante que ela esteja musicalmente amadurecida entre
os integrantes da banda. Ela precisa transmitir algo como: "Venha, vamos brincar juntos,
veja como nós estamos felizes em tocar para vocês e como é divertido o que fazemos!".
As duas músicas que serão avaliadas precisam ser capazes de mostrar a habilidade técnica
e o amadurecimento musical da banda. Tecnicamente, a banda tem que mostrar seu
controle sobre as seguintes características musicais:
Para que o arranjo seja adequado a esses princípios, pode-se executar alguns trechos uma
oitava abaixo e mudar a instrumentação de outros. O importante é que, depois da execução
dessa peça, nenhum instrumentista se sinta cansado.
A ordem das duas músicas que serão avaliadas também deve ser escolhida com cuidado. É
preciso que tanto o maestro como cada músico tenha certeza que terá condições físicas de
executar os trechos tecnicamente difíceis. Nesse sentido, a seqüência das peças pode ser
decisiva para o sucesso ou fracasso da apresentação.
Vamos analisar alguns detalhes técnicos para ajudar a escolher as músicas e a forma de
prepará-las.
A dinâmica é uma das características do som, não uma prova de força. Muitos músicos (e
alguns maestros) acreditam que, quanto mais forte consigam tocar, melhores serão.
Quando se toca no limite do fortíssimo, além de os lábios se cansarem muito mais rápido,
perde-se o controle sobre a afinação, articulação e expressão.
A afinação é outro fator extremamente importante. Muitos acreditam que basta afinar o
instrumento no início do espetáculo e tudo ficará bem. Na verdade, deve-se aprender a
afinar. O ouvido precisa ser educado dia-a-dia, ou melhor, "ensaio a ensaio", para aprender
a afinar.
O maestro pode, durante a preparação de uma peça, indicar para cada músico que
instrumento ele deveria estar ouvindo naquele momento como referência. Pouco a pouco,
os integrantes vão começar a desenvolver uma escuta harmônica. Como conseqüência,
haverá um maior entrosamento entre os instrumentistas e um ganho de qualidade no
controle.
Das características do som, a articulação costuma ser a mais negligenciada. A maioria acha
que, se tocar as notas na altura e nos tempos certos, tudo estará bem. Isso provoca um
empobrecimento da expressão musical, fazendo com que as frases percam sua
personalidade.
Um trabalho bem feito com a articulação é uma prova do bom preparo da banda. Articular
bem é uma habilidade sutil e frágil. Por exemplo, num trecho em staccato, basta um único
músico de uma banda inteira tocar em legato que o efeito do staccato estará perdido.
Todo tempo gasto nos ensaios com a articulação será revertido em qualidade musical nas
apresentações!
A dificuldade técnica
Entre outras coisas, num concurso, uma banda deve mostrar o quanto é capaz
tecnicamente. Acontece que, muitas vezes, o passo acaba sendo maior do que a perna.
Escolhe-se alguma peça cuja dificuldade técnica está além da habilidade real dos
participantes, e o resultado é uma imagem distorcida daquilo que a música deveria soar.
Outra falta mais sutil, mas tão grave quanto a anterior, é a de se escolher uma peça cuja
dificuldade técnica esteja no limite das habilidades da banda, onde cada músico tem de se
concentrar ao extremo para conseguir executá-la. Todos ficam tão preocupados em acertar
as notas que não sobra nada para a interpretação musical. A performance soa fria e
maquinal.
Outro detalhe decisivo numa apresentação é o bem-estar físico dos músicos. A escolha de
um uniforme adequado é muito importante para isso. Vivemos em um país tropical,
portanto, os uniformes têm que possibilitar uma apresentação no verão com sol a pino. Para
tanto, já estão descartados tecidos grossos e pesados, como o veludo, por exemplo. O ideal
é que o uniforme seja normalmente adequado ao verão e que nos dias frios possa-se
colocar uma camiseta por dentro, por exemplo.
Boinas, quepes, chapéus, etc. devem ser arejados ao mesmo tempo em que protejam a
cabeça dos raios solares. O corte deve ser folgado o bastante para permitir a livre
movimentação e execução do instrumento.
A Baliza
Uma boa baliza pode ser o toque de classe na apresentação de uma banda. Mas, mesmo
que seu desempenho seja impecável, se sua atuação não for integrada ao todo, poderá ter
efeito negativo sobre a parte musical.
Em relação aos concursos, o importante é que tudo o que for feito pela baliza esteja
integrado à apresentação musical da banda. Isso pode parecer simples num primeiro
momento, mas, para que aconteça realmente, precisa de um cuidado especial na
elaboração de sua coreografia.
Com um simples exemplo, pode-se compreender o que seria essa integração ou a falta
dela: é comum, em trechos musicais lentos e suaves, onde a música convida à reflexão, as
balizas executarem seqüências, que pela habilidade e expressividade, levam o público
quase ao delírio, justo quando ele deveria esta ouvindo a banda. Às vezes, o entusiasmo
provocado no público por uma baliza é tamanho que sua ovação chega a encobrir o som da
música.
Todos desejam seus instantes de glória, mas, para isso, não é preciso encobrir o trabalho
dos outros.
Basicamente, para se ter equilíbrio entre coreografia e música, podese utilizar os trechos
lentos e em piano para seqüências que enfatizem as habilidades expressivas da baliza; já
as habilidades da ginasta e da bailarina precisam, normalmente, de trechos mais rápidos e
fortes.
Quanto mais bem-cuidada for essa relação, tanto maior será o impacto expressivo sobre o
público.
O estômago...
Precisamos falar de outro instrumento. O estômago também faz música: ronca. E, além de
roncar, quando está vazio, pode comprometer a atuação de um músico.
Agógica, termo introduzido por H. Reiman no seu Musicalische Dinamik und Agogik para
descrever os desvios e alterações do tempo os quais são necessários para conferir sutileza
e um maior interesse na frase musical; o termo é de origem greco-latina (segundo a
enciclopédia Collins) e é usado para ressaltar todas as sutilezas da performance, criando
agentes de vitalização através do uso inteligente do rubato, precipitações, ralentamento,
interrupções, etc.
Inúmeros são os termos e expressões usados na música para caracterizar, definir, alterar,
modificar ocasionalmente ou definitivamente os andamentos pré-estabelecidos. Vamos
então achar o significado dos termos italianos em uso mais comum com explicações de
suas respectivas abreviações. A língua italiana foi quase que exclusivamente usada como a
linguagem para expressar as indicações necessárias, assim como a maneira da execução
desejada pelo compositor, mas com a chegada do movimento romântico, muitas palavras
foram substituídas para a língua mãe do compositor; no entanto o repertório clássico, exibe
costumeiramente os termos em italiano e é considerado que os mesmos sejam bem
versados nos seus significados e comumente usados com as abreviações e sinais,
indispensável para uma adequada performance.
Gostaria ainda de aconselhar que neste campo fossem aprendidos todos os termos em
italiano, alemão, inglês e francês, principalmente para os diretores e regentes de
orquestras, bandas e fanfarras.
Classe 1
• Adagio – bem devagar (existe muitas divergências de opinião de qual seria o tempo
mais devagar possível de adágio, Grave ou Largo, provavelmente na maioria dos
casos este tempo situa-se entre o primeiro e o segundo nome)
• Lento – devagar
Classe 2
A seguinte tabela nos mostra uma relação dos termos em italiano com as suas costumeiras
abreviações e significados.
• Forte piano (fp) – um forte repentino, seguido por um igualmente repentino piano
• Ad. Lib. (ad. lib.) – Ad libitum (lat.) e a piacere indicam que se deve executar à
vontade e em liberdade o trecho em referência
• Alla breve – o andamento deverá ser executado o dobro mais rápido do que o
indicado
• Allargando – alargando
• Amoroso – amorosamente
• Attaca – escrito normalmente entre movimentos e indica que não deve haver pausa
• Basso – baixo
• Coda – parte conclusiva de um movimento, indica também um certo ponto para onde
se deve ir
• Col or colla, Colla parte – com a, tocar junto com determinada parte (colar)
• Con – com
• Dolce – docemente
• E or ed – e
• Energice – energicamente
• E poi – e então
• Fermata – sinal colocado sobre a nota ou pausa para sustentá-la até o corte do
regente
• Grazioso – graciosamente
• Incalzando – pressionando
• Lamentoso – lamentosamente
• Largamente – alargadamente
• Legatto – ligado
• L’istesso – o mesmo
• L’istesso tempo – o mesmo tempo ainda que a unidade de compasso possa ser
mudada
• Lusingando – cuidadosamente
• Ma – mas
• Maggiore – maior
• Martellato – martelado
• Non – não
• Pesante – pesadamente
• Poi – então
• Pomposo – pomposidade
• Precipitoso – precipitadamente
• Repetizione – repetição
• Risoluto – resolutamente
• Segue – segue-se
• Semplice – simples
• Senza – sem
• Soave – suavemente
• Subito – imediatamente
• Tosto – rápido
Tranquillo – tranqüilamente
• Troppo – muito, bastante
• Veloce – rapidamente
• Volta – tempo
• Quasi – quase (ex.: andante quase allegreto – um pouco mais que andante)
• Non troppo – não tanto (ex.: adágio ma non troppo – não tão lento)
Beto Barros
Esta matéria técnica aborda os problemas costumeiros que tenho observado no acompanha
mento do Campeonato de Bandas e Fanfarras da Secretaria da Juventude do Estado de
São Paulo, no qual venho atuando como jurado há algum tempo. Os assuntos que devo
abordar nesta e edição é Fraseado e Articulações, mas outros tópicos serão publicados nos
próximos meses.
O fraseado deve possuir precisão rítmica, definição exata das articulações, silabação
adequada (pronúncia) e definição do estilo, imprescindíveis quando executadas em naipe.
Nosso sistema ocidental de notação rítmica não é adequadamente equipado para tratar
com a complexidade de ritmos de jazz derivados da África e ainda das influências latinas da
música popular de várias etnias, que agora se fundem e desembocam em um formidável
caldeirão multicultural do século XXI. Por exemplo, as colcheias com swing, freqüentemente
escritas como colcheias regulares . Alguns escritores preferem indicar da seguinte
maneira . Ambas as notações são inadequadas. A colcheia swingada, quando
propriamente executada, representa , enfatizando pulsação ternária. Portanto, no
estilo clássico, a colcheia deve mesmo ser regular , no entanto, no jazz e em outros
ritmos latinos, a colcheia regular deve ser executada .
Exemplo 1
Tem existido alguma confusão entre os maestros com relação ao tamanho e interpretação
das anotações de acento. O acento longo, que recebe o valor integral da nota, deve ser
marcado como
, e o pequeno e pesado acento deve ser anotado como . O acento marcato [^] deve
indicar: mais pesado e mais longo do que uma colcheia, ou do que uma semínima staccato.
No estilo "swing" (popular não clássico), todo final de frase normalmente deve ser cortado, a
não ser que exista outra indicação.
As semínimas com grande exposição no tempo fraco geram sincopas e devem ser
acentuadas como no Exemplo 7
Colcheias com ligadura sobre a barra de compasso e ligadas às notas com valor maior do
que colcheia, são normalmente tocadas com acentos longos.
Exemplo 8
Notas ligadas dentro do compasso, ou sobre a barra do compasso são acentuadas e
tocadas com valor integral, a não ser que outra indicação exista.
Exemplo 9
Colcheias ligadas sobre a barra de compasso a outra colcheia poderão ser articuladas de
duas maneiras, dependendo do estilo e das frases precedentes e subseqüentes.
Exemplo 10
Uma figura rítmica muito comum que aparece sempre no tempo primeiro ou terceiro é no
estilo de swing. Ela deverá ser articulada dos seguintes modos.
Exemplo 11
Uma articulação apropriada para a segunda colcheia é dependente do que virá após esta
mesma figura. No estilo rock é normalmente articulado do seguinte modo.
Exemplo 12
Exemplo 13
Exemplo 14
Semínimas no estilo swing são freqüentemente tocadas curtas com o acento marcato.
Regentes, atenção aos músicos com pouca experiência, pois eles tenderão a apressar os
tempos fortes, particularmente nos andamentos lentos e moderados. Os alunos deverão ser
instruídos para esperar por cada tempo. É uma grande idéia instruir o estudante a tocar
com caráter "para trás" (lay back), mas com o cuidado de não atrasar ou arrastar o
andamento: é muito importante manter o tempo.
Exemplo 15
Para se ter certeza de um limpo e preciso ataque no tempo fraco, com valor de colcheia,
precedida por uma longa nota ligada, proceda do seguinte modo: interrompa a nota na
última ligadura do tempo forte. A porção final da nota ligada deverá ser considerada como
pausa. Veja o exemplo a seguir:
Exemplo 16
Shakes são freqüentemente seguidos por uma colcheia no tempo fraco. O ataque da
colcheia pode ser mais preciso se parar o Shake no tempo forte ao invés do tempo fraco.
Esta técnica é similar àquela descrita no exemplo acima, e não deverá ser sempre
desejada, mas ela é, todavia, um meio de sucesso para limpar o problema em uma banda
com pouca experiência.
Exemplo 17
Crescendo e decrescendo, quando são indicados, devem ser adicionados e seguir contorno
natural das linhas melódicas. Se a linha sobe na tessitura, então um suave crescendo será
benéfico e vice-versa. Estas nuances não devem ser muito evidenciadas e devem parecer
naturais. Os crescendos geram uma pequena tensão e os decrescendos geram, ao
contrário, um relaxamento da frase.
Exemplo 18
Exemplos 19 e 20
Aguarde o complemento desta matéria na próxima edição.
Nesta edição, vamos finalizar o tema iniciado na Revista Weril 141: Fraseado e
Articulações, com dicas particularmente indicadas para os mestres de banda.
As bandas logo se tornam familiares com as figuras rítmicas sincopadas (figuras que
aparecem no tempo fraco). Por esta razão, poderá ser um aspecto dificultante para alunos
com pouca experiência em seguir o tempo forte do compasso. Portanto pede-se ao regente
uma instrução especial neste sentido, particularmente se existir uma síncopa com nota
longa, esta deve ser acentuada.
Exemplo 22
Estudantes jovens podem ter a tendência em entrar atrasado nas mínimas. Veja o exemplo
22a. A pausa de semínima no tempo forte é passada antes que eles se dêem conta.
Ensine-os a não se perderem. A pausa de semínima, particularmente em andamentos
rápidos, é difícil de contar. Os alunos devem aprender a "ler na frente". Ritmos tais como os
do exemplo 23 podem apresentar problemas similares devido à alternância entre tocar no
tempo forte e fora de tempo. Os alunos devem ser instruídos a marcar as notas tocadas no
tempo.
Exemplo 23
Em vez de explicar uma síncopa de colcheia como sendo a segunda metade de um tempo
cheio, tente explicá- la como sendo uma antecipação do próximo tempo.
Exemplo 24
Falls off (queda) podem apresentar muitos problemas, o maestro deve instruir os alunos
acerca do tamanho do fall. Alguns arranjadores são bastante específicos e indicam se o fall
é short (curto) ou long (longo) - veja a tabela sobre articulações no final desta matéria.
Confusões poderão ser evitadas, aconselhando os alunos a terminarem o fall num
determinado tempo. O fall não deve ser abrupto, mas desaparecer gradualmente, seguido
de um diminuendo ao longo do fall. Os alunos não precisam se preocupar com uma escala
particular, pois o fall é meramente um efeito.
Exemplo 25
No caso do fall off, os músicos não devem se perder no compasso. Eles precisam continuar
contando cuidadosamente através de seu comprimento inteiro. O fall deve ser curto se
existe uma entrada imediatamente após, assim como no exemplo 26. Existem outros termos
para fall off, como por exemplo, spill ou gliss, ou ainda drop, todas com o mesmo
significado, que seria "cair fora da nota". Veja exemplo 26. No caso deste exemplo, não
existe muita diferença se o fall off não for executado, já que ele está muito perto do
compasso seguinte. Em outros casos ele funciona com muita propriedade.
Exemplo 26
Quando for realizar um gliss, glissando entre duas notas como no exemplo 27. A nota que
aparece no final do glissando deverá ser ligeiramente acentuada, já que ela é a culminação
do glissando. A escolha da escala para o glissando é livre, em alguns casos, é governada
pela distância entre as notas das pontas do glissando.
Exemplo 27
Exemplo 28
Notas fantasmas (ghost notes) são aquelas dedilhadas, mas que não soam realmente com
a mesma força, peso e ataque, ou importância de uma nota regular. O exemplo 29 mostra o
uso das notas fantasmas.
Exemplo 29
É responsabilidade do líder, primeiro sax alto, decidir onde as notas fantasmas são
apropriadas. Mesmo que não sejam indicadas, elas são muito usadas em andamentos
rápidos e complexos. Normalmente em colcheias e semicolcheias, para facilitar um
fraseado suave e equilibrado. O exemplo 30 ilustra a notação apropriada para trompetes e
trombones nas notas abertas e fechadas. Com surdina plunger mute, o sinal (+) indica
fechado e o sinal (0) indica aberto.
Exemplo 30
Aguarde os próximos tópicos que serão abordados em edições futuras. Esta matéria é
complicada e difícil, tanto para os alunos com pouca experiência, quanto para os
instrutores. No entanto, a chave para o sucesso com a banda ou fanfarra é muito trabalho,
ensaio e experimentação, por isso, o instrutor/maestro poderá mudar ou acrescentar
marcações de articulações no seu repertório, adaptando-as para o seu grupo. O importante
é ter uma direção da articulação que será usada para todos. Uma banda afinada e com
fraseado e articulações bem resolvidos, já está um passo à frente.
Bandas e Fanfarras: Responsabilidades, Deveres e Atitudes do Regente
Beto Barros
Assim que a música estiver selecionada, (adequada para o seu grupo) o regente deverá se
ater a duas atitudes básicas: (1) preparação da grade (score) e das partes individuais (2)
ensaio e performance.
2. Ensaio e performance
Na hora de dar vida à composição, o regente deve aterse aos problemas de afinação,
sonoridade, timbragem (blend), fraseado e articulações, estilo, agógica, precisão rítmica,
dinâmica, equilíbrio, estética, etc, e, por fim, caminhar para conseguir a concepção
imaginada usando o seguinte método: tocar, escutar, comparar, diagnosticar, prescrever
medidas corretivas e iniciar novamente a corrente de escutar, comparar, diagnosticar e
prescrever, aprimorando cada vez mais até chegar ao resultado desejado.
2. Planeje para que, se possível, nenhum assunto que não seja referente aos aspectos
musicais sejam abordados. Durante o ensaio, o ideal é usar cada minuto para tratar
de assuntos musicais.
3. Sempre que possível, adiante as partes individuais antes do ensaio. Mesmo que os
músicos não tenham muito tempo para prática individual, isto será muito benéfico.
5. Use um quadro negro ou algum outro método para dispor os títulos das peças a
serem ensaiadas e para adicionar explicações técnicas e explanações das
dificuldades. Lembre-se: um maestro que trabalha com grupo de jovens deve ser ao
mesmo tempo educador e professor. O ideal é ter pelo menos um dos ensaios da
semana acoplado a um curso musical, fazendo com que os aspectos que não estão
indo muito bem nos ensaios, possam ser abordados com mais calma e trabalhado
com técnicas específicas, para a real compreensão dos problemas.
10. Planeje conseguir muitos avanços nos ensaios, trabalhe duro para isto, mas esteja
preparado, porque o grupo normalmente consegue menos do que o desejado.
Saiba tirar o máximo proveito dos ensaios, mostre aos músicos que a questão da
perfeição será conseguida com a cooperação de todos e que cada músico deve ser
um parceiro do maestro no sentido de conseguir os objetivos. Mesmo quando as
coisas não vão bem, procure terminar o ensaio pontualmente e em alto astral.
11. Quando fizer a leitura de uma nova peça musical, o ideal é que as partes individuais
já tenham sido entregues aos músicos com certa antecedência. Caso não tenha
sido possível, inicie a leitura a primeira vista, guiando os músicos a darem uma
olhada geral na partitura, ressaltando as tonalidades, mudanças de tempo, notando
os temas A-B-C-D etc. coda, D.C, locais de dificuldades instrumentais, uníssonos,
soli, solo, etc. Faça em seguida uma leitura D.C. ao fim, antes de começar a
trabalhar os detalhes.
12. Batalhe para que cada músico aceite e pense em termos de conjunto. Estar atento,
escutar a si mesmo e aos outros; conhecer bem o seu papel dentro da composição
a ser tocada; evitar o ego! Este é contraproducente, faz com que o músico fique
insensível, toque alto demais e desafinado, só escutando a si mesmo e
promovendo inveja, ciúmes, racismo, rivalidade, etc.
14. Quando tiver que designar um novo começo após uma parada, dê uma posição
precisa do ponto a ser iniciado, tal como “quatro compassos após A”, começando
no terceiro tempo, ou “dois compassos antes do B”, ou ainda, “nove compassos
antes de C”, etc, e assim por diante.
15. Após uma interrupção, por exemplo, uma explicação técnica, vá direto ao ponto de
forma precisa e concisa. Muita conversa por parte do regente é um dos mais
freqüentes impedimentos de se chegar ao bom resultado musical.
16. Cuidado com o hábito de cantarolar junto com os instrumentos. Isto poderá impedir
que você escute a execução adequadamente.
17. Sempre que possível, chame a atenção dos músicos sobre os aspectos de
conteúdo espiritual das composições, assim como forma, gênero, estilo, etc, porém
sem ser prolixo demais. O tempo dos ensaios é sempre escasso e deve ser bem
aproveitado. O ideal é desenvolver um curso com o grupo, em que estas questões
poderão ser abordadas num dia diferente dos dias de ensaio.
20. Insista sempre em obter um som afinado, bonito e com postura. Lembre-se: em
uma banda desafinada, nada vai bem!
21. Não ensaie uma passagem várias vezes, quando o objetivo da atenção é um
compasso ou dois dentro da passagem. Às vezes, é preferível adiar o problema
para ser resolvido com calma, nos ensaios específicos de naipes. Eleja chefes de
naipes para fazê-lo, num horário fora do ensaio normal.
22. Principalmente quando trabalhar com bandas muito jovens (infantis e juvenis), fique
bem atento com o moral dos integrantes. Não imprima uma quantidade de críticas
que eles não poderão suportar. Lembre-se, por serem ainda muito jovens, eles têm
realmente vários tipos de problemas, ou seja, além dos aspectos técnicos, também
os psicológicos, pessoais e outros, portanto, saiba que é mesmo muito difícil fazer
uma banda jovem tocar com maturidade técnica e artística. Como já disse, o
maestro deve ser um educador e ensiná-los como fazer.
23. Durante os ensaios gerais, evite trabalhar muito somente com um naipe, enquanto
os outros ficam inativos.
24. No instante que você sentir que os músicos não estão respondendo à sua regência
como deveriam, tome ações corretivas. Não ensaie somente para a próxima
performance, mantenha uma filosofia cultural com o grupo. Reúna-os para fazer
audições de grandes bandas e orquestras, estabelecendo um padrão de qualidade
artística. Ouça a Sinfônica de Nova York, Brahms, Strawinsky, Ravel, Debussy,
Shoemberg, Count Basie, muito jazz, etc, etc, etc. Faça comentários, colha opiniões
entre os integrantes, analise, promova o desejo da excelência em música sempre
que possível.
25. No último ensaio que precede a performance é sempre aconselhável encerrar com
o arranjo que estiver mais bem preparado e soando melhor. Toque D.C. ao fim! Isto
irá gerar um clima de confiança entre os integrantes, este mesmo arranjo deverá
começar a apresentação. Lembre-se de que começar bem é sempre um bom
começo.
26. A sua psicologia com relação aos integrantes da banda é, às vezes, mais
importante do que as suas habilidades e competência musical. Trabalhar com
banda de estudantes exige do regente a habilidade de ser ao mesmo tempo
professor e educador. Portanto:
a. Cuidado com o tom de voz nas críticas. Seja firme, mas com brandura,
carinho e bom humor.
b. Críticas de caráter mais pesado a um elemento individual não deve ser
feito na presença da corporação, procure resolver os problemas em
particular.