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29/09/21, 22:05 UNINTER - REGÊNCIA DE BANDA, CORO E ORQUESTRA
CONVERSA INICIAL
O fluxo do
capital artístico pressupõe uma vivência coletiva da música entre todos os
hoje
permitem, é importante que o regente saiba localizar-se levando em conta sua
própria cultura
Para
aprofundar esses aspectos da regência contemporânea, nesta aula trataremos da
relação
entre interpretação musical e a etnomusicologia, as tradições musicais
europeia, africana e oriental-
O
conhecimento da humanidade, especialmente o científico, mostra-se cada vez mais
articulado
Neste contexto
é que aparece a etnomusicologia como parte integrante ao estudo da regência. A
Do ponto de
vista da etnomusicologia, o estudo da música dos povos e de suas caraterísticas
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música
africana com o povo Venda:
Os
Venda me ensinaram que a música nunca poderá ser uma coisa nela mesma, e que
todo tipo de
música é música folclórica, no sentido que a música não pode ser
transmitida ou ter significado
desprovida de associações entre pessoas.
Distinções entre a complexidade aparente de diferentes
estilos musicais e
técnicas não nos diz nada relevante sobre os propósitos expressivos e o poder
da
música, ou sobre a organização intelectual envolvida na sua criação.
O conceito de
capital artístico estudado anteriormente entra em ressonância com as palavras
de
diferente. Essas
limitações a respeito do fluxo do capital artístico no âmbito intercultural
começam já
“música”,
termo que tantos utilizam até hoje como se universal fosse, seria tão somente
um termo
criado em determinado contexto ocidental, porém de aplicação muitas
vezes precária, impositiva e/
ou mesmo violenta a outras práticas e saberes, (Lühning;
Tugny, 2016, p. 8)
Aqui,
entende-se que música, compreendida e aplicada desde a perspectiva
europeia, não seja
a
articulação entre discursos, ações e políticas concernentes ao sonoro, como
esta se apresenta,
Em termos
práticos, os autores apresentados estão fundamentando que a perspectiva
ocidental
Um claro
exemplo encontra-se nas aulas anteriores, quando foram abordadas as
responsabilidades
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utilizado maioritariamente no
Brasil é herdado da colonização europeia. Assim, confirmamos que o
palavra, mas deve se preocupar com todos os fatores que intervêm na práxis
sonora.
Em alguns
casos, pela falta de cuidado em reconhecer a diversidade de possibilidades que
a
entre
os aspectos culturais sucumbidos por tais processos de inferiorização, práxis
musicais não
alinhadas às perspectivas da música erudita ocidental, referência
de arte e de ensino de música na
Europa colonizadora, foram excluídas de
contextos “civilizados” de produção musical e,
consequentemente, do processo de
institucionalização do ensino de música. (Queiroz, 2017, p. 137)
Como foi
possível apreciar, a etnomusicologia é uma ferramenta importantíssima para a
até inexistentes.
O objetivo
desta seção não será especificar todas as caraterísticas da tradição europeia,
pois
Pode-se dizer
que uma grande contribuição da música europeia foi o desenvolvimento da
regência. Este legado precisa ser valorizado em suas bases e fazê-la interagir
com outras práxis
Outro aspecto
marcante do percurso da música europeia é a sua notação musical. Os primórdios
dessa tradição escrita datam “aproximadamente do século III antes de nossa era
e provêm da Grécia”
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posteriormente à notação
pneumática de alturas aproximadas, que logo decantou em notação
musicais no papel.
A
alfabetização e a invenção da notação são claramente fatores importantes que permitiram
gerar
estruturas musicais maiores, mas estas expressam diferenças de graus, mas
não uma diferença no
sentido que está implícito na distinção entre música
“artística” e “folclórica”. (Blacking, 1974, p. xi,
tradução nossa)
A presença
ou preponderância de notação musical numa determinada cultura não determinam
a
superioridade desta frente a outras que privilegiam a comunicação oral. A escrita
musical europeia
a
criação e notação musical se influenciam mutuamente e as metamorfoses da
escrita dependem
fortemente de suas interações e de suas tensões. Conduzido
pela necessidade de uma estética em
constante evolução, o compositor é levado
sem cessar a transgredir as regras da notação existente.
As novas implicações
que ele contribui a expor em relação àquela o deixam consecutivamente
assumir
múltiplas extensões em sua reflexão criativa.
Assim como a
música europeia alcançou a sua identidade auxiliada pela evolução da notação
musical,
as outras culturas, que privilegiaram a oralidade musical, se desenvolveram em
outras
e oriental-árabe.
A tradição
africana foi de alguma forma exportada ao mundo por meio da comercialização de
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A tradição
musical africana e seus ritmos foram a alegria do século XX para as orquestras
de
xilofone em
Moçambique (Kubik, 2010, p. 34). Na Figura 1, mostramos algumas dessas
polirritmias,
Outro
elemento expressivo da cultura africana é o seu canto espiritual, que evoluiu
de diferentes
realidade específica,
alcançando sonoridades muito particulares como emissão vocal e nuanças
dinâmicas. Um dos grupos mais representativos de canto africano é Soweto Gospel
Choir que além
Saiba mais
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=EbulUzkDJaE>.
Acesso em: 22 jul. 2021.
A tradição da
música oriental é muito ampla, universo do qual tomaremos a música árabe como
exemplo para este estudo. A música árabe, assim como a africana, tem suas
próprias particularidades,
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progressivo e
o jazz fusão, ao introduzir padrões rítmicos complexos, irregulares e
pouco frequentes
na tradição ocidental. Assim, “são reconhecidas dúzias de
diferentes iqa'at [que pode ser traduzido
sama’i thaqil,
pois vemos que a organização interna do compasso é totalmente irregular. Tal
erro fica
evidente, pois a figura nos mostra a irregularidade didaticamente com
linhas descontinuas, mas nas
Parte da
riqueza dos ritmos irregulares da música árabe vem da música vocal. Com uma
devida
articulação prosódica sem rigorismos, poderíamos dizer que a tradição
europeia ficou mais
Outro aspecto
proveniente do cotidiano da fala presente na estética musical são suas
inflexões
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Kulthum, faz
parte do repertório tradicional árabe. Na comparação entre o áudio e sua
partitura,
verifica-se que as ligaduras de frase são interpretadas como
glissandos, e a notação não inclui os
com a regência de Michael Ibrahim, em que em várias partes vemos uma interação
descontraída
entre o grupo musical e o público, diferentemente do acostumado na
tradição europeia.
Na mesma obra,
podemos encontrar a utilização de quartos de tom, notas não disponíveis nas
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O tetracorde bayati
em ré apresenta a nota mi abaixada um quarto de tom, dividindo
simetricamente o
intervalo entre ré e fá. Esta particularidade de algumas escalas árabes tem
relação
direta com o sistema modal não temperado que é utilizado nesta cultura
e sua relação com a série
harmônica. Na Figura 5, podemos observar um quadro
comparativo entre o sistema modal mantido
Um regente
treinado apenas na tradição musical europeia terá diversos inconvenientes e
desafios ao momento de encarar uma interpretação de repertório árabe. Assim
como um regente
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releituras honestas
são possíveis de ambos os lados, alimentando-se da riqueza do outro e
ressignificando-a na própria cultura.
O panorama
cultural brasileiro é marcado pela pluralidade das suas expressões. Várias etnias
e
é
preciso respeitar a diversidade de manifestações corais em nosso país, os
vários tipos de
repertório executados, as diferentes maneiras de se emitir o
som vocal e outros aspectos. A
proposta de um modelo coral para nosso país,
como já cheguei a ouvir, não deve ser, jamais, um
objetivo dos regentes, em
suas trocas de experiências. As diversas tribos devem se dar conta dessa
diversidade e conviver pacificamente.
A diversidade
criativa dos povos brasileiros pode contemplar várias raízes culturais e
gêneros
Saiba mais
s://www.youtube.com/watch?v=42OnlCuP4zw>.
Acesso em: 22 jul. 2021.
expressões musicais
concretas, dentre elas: “A Orquestra de Cordas Dedilhadas de Pernambuco:
sua
Câmara Theatro
São Pedro, de Porto Alegre”, “Novas estratégias na manutenção das atividades da
banda: a Corporação Musical Lira de Serra Negra”, “Música ‘local’, políticas
culturais e gêneros
Assim como
todas essas expressões artísticas convivem num território comum chamado Brasil,
este também faz parte de um outro território, maior, conhecido como América
Latina. Diversos
esforços políticos internacionais estão aproximando cada vez
mais os países do bloco, fomentando
Saiba mais
anteriormente.
Saiba mais
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Na Figura 7,
mostra-se outra parte da obra que está composta a partir de um montuno sobre a
base de uma clave de sol 3 por 2, provavelmente um dos ritmos mais utilizados
no gênero musical
frase musical.
Mesmo que se
trate de uma peça curta e didática, os trechos apontados representam um desafio
NA PRÁTICA
Como foi
mencionado nas aulas passadas, o processo evolutivo do regente contempla
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Hijos del Sol[1], arranjada para uma Big Band estudantil brasileira. A obra
está escrita em 12/8,
Para um
músico nascido no contexto cultural afro-peruano, esta opção de escrita é
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Esta opção de
escrita de fato ajudou aos instrumentistas brasileiros, mas não foi possível
instrumentistas.
Podemos
apontar nesta experiência algumas críticas construtivas:
muito afastado da
realidade cultural dos instrumentistas;
dificuldade;
FINALIZANDO
Uma educação
musical baseada exclusivamente na tradição europeia é limitante em relação às
riquezas estéticas presentes nas manifestações musicais das outras culturas. Na
atual conjuntura
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Sem uma
preparação adequada nas questões etnomusicológicas, torna-se difícil repetir o
famoso ditado que diz que “a música é a linguagem universal”. A música, como
toda linguagem,
com a
interação social intercultural e a comunhão musical entre as pessoas.
REFERÊNCIAS
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J.-Y. Do som ao sinal: história da notação musical. Curitiba: Ed. da
UFPR, 2014.
DIB,
M. Música árabe: expressividade e sutileza. São Paulo: Edição do Autor,
2013.
FIGUEIREDO,
C. A. Reflexões sobre a prática coral. In: LAKSCHEVITZ, E. (org.) Ensaios
– olhares
FRAGOSO,
D. Peteĩ po kyrĩgue mboraei: análise musical de cinco cantos guarani Mbya.
Opus, v.
LOS HIJOS DEL SOL. To My Country. Álbum discográfico. Disponível em: <
https://open.spotify.com/album/5YJoBX0hpn9lHMRTdOC6tj>. Acesso
em: 24/01/2021.
LÜHNING,
A.; TUGNY, R. P. de. Etnomusicologia no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2016.
MANRIQUE,
J. L. El surco. Orquestração para Big Band. Curitiba, 2014. (Partitura não
publicada
utilizada em ensaio).
PRIBERAM.
Etnografia. Priberam, S.d.a Disponível em:
<https://dicionario.priberam.org/etnografia>.
Acesso em: 22 jul. 2021.
_____.
Etnomusicologia. Priberam, S.d.b. Disponível em:
<https://dicionario.priberam.org/etnomusicologia>.
Acesso em: 22 jul. 2021.
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QUEIROZ,
L. R. Traços de colonialidade na educação superior em música do Brasil: análises
a
partir de uma trajetória de epistemicídios musicais e exclusões. Revista
da ABEM, Londrina, v. 25, n.
UNICAMP.
IX Encontro Nacional da Associação Brasileira de Etnomusicologia. Anais.
Campinas:
UNICAMP, 2019.
[1]
A gravação desta
versão está disponível em:
https://open.spotify.com/album/5YJoBX0hpn9lHMRTdOC6tj
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