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29/09/21, 22:03 UNINTER - REGÊNCIA DE BANDA, CORO E ORQUESTRA

 
 
 
REGÊNCIA DE BANDA, CORO E
ORQUESTRA
AULA 1

Prof. José Luis Manrique

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29/09/21, 22:03 UNINTER - REGÊNCIA DE BANDA, CORO E ORQUESTRA

CONVERSA INICIAL

Os grupos musicais como as bandas, os coros e as orquestras são espaços


que promovem a

socialização entre cantores e instrumentistas e contribuem para


o desenvolvimento musical e

humano de cada pessoa.  No meio destas formações, a


figura do regente aparece como elemento
norteador da prática do conjunto.
Alguns cantores e instrumentistas ficarão entusiasmados com a

ideia de algum
dia estar à frente de um grupo musical, coisa que é muito salutar, mas para
isso é

necessária uma preparação específica. Algumas pessoas demonstrarão, pela


sua vivência pessoal,

maior ou menor facilidade ao desempenhar esta função, o


que não exime ninguém do dever de

aprimorar sua própria percepção estética e


seus gestos, eliminando ruídos, buscando uma

interpretação verdadeiramente
artística, contribuindo com seu meio cultural e promovendo uma

atividade
musical saudável e frutuosa.

Para iniciar com este aprimoramento direcionado à regência, nesta aula


exploraremos os

principais elementos, a emissão e recepção do capital


artístico, os cenários vocais e instrumentais

brasileiros e os passos sugeridos


para a preparação de uma interpretação musical.

TEMA 1 – ELEMENTOS DA REGÊNCIA

A história da regência, como conhecida globalmente hoje, tem seu


desenvolvimento na cultura
ocidental. Embora muitos povos ao redor do mundo
dentro da sua prática musical possuam um líder

que conduza a outros na prática


musical coletiva, é no contexto europeu que aparece a figura do

regente
propriamente. Nesse sentido, é importante para o regente conhecer este
desenvolvimento

que passa por diversas épocas, cada uma com as suas


necessidades particulares. Brevemente pode-

se apontar que a necessidade da


figura do regente nasce na Antiguidade com duas possibilidades: a

marcação
sonora por meio de batidas ou canto, e a condução por meio de gestos, conhecida
como

quironômica. Na Figura 1, mostra-se um exemplo de canto gregoriano


em notação quadrada, com

sua transcrição em notação moderna assinalando a


regência quironômica com linhas curvas que

acompanham a melodia da partitura.

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Figura 1 – Exemplo de movimentos de regência quironômica gregoriana

Fonte: Carrol, 1955, p. 28.

Na Idade Média estes líderes de grupos musicais passaram a ser também


os educadores,

caraterística enfatizada nos momentos de ensaio e preparação.


Depois, na Renascença e no Barroco,
aparecem como peças-chave também nos
momentos interpretativos, dividindo a atenção entre

dirigir a interpretação
musical do grupo e participar como instrumentistas, geralmente no cravo ou

no
violino (Zander, 2003, p. 30-44). É só no período clássico que, “pelas
inovações instrumentais

introduzidas por Mannheim[1] e pelo sinfonismo clássico de Haydn e Mozart”, a


regência passa a ser

necessária e exclusivamente dedicada a uma pessoa


específica, a quem hoje chamamos de regente

(Lago, 2008, p. 25). Com este breve


resumo da origem da regência, destaca-se que esta atividade não
foi inventada
do dia para a noite, pelo contrário, obedece a um longo processo evolutivo da
prática

musical ocidental e com a colaboração de várias gerações de músicos.

Uma vez que o regente é líder, educador e intérprete, ele precisa


explorar as possibilidades que

a fruição da arte propõem desde a reflexão


estética. Assim, o regente é chamado, no seu fazer

artístico, a assimilar que “a


arte não é somente executar, produzir, realizar, e o simples “fazer” não

basta
para definir sua essência. A arte é também invenção” (Pareyson, 2001, p. 25).
Isto quer dizer que

o regente não se limita a executar um plano consagrado de


regência para cada obra já existente, mas

que ele precisa estudar, inovar, ou


inventar novas abordagens a partir de novos contextos inseridos

numa
determinada cultura. Desta forma, a arte se mantém viva por meio das infinitas
possibilidades

de interpretação de uma mesma obra, nas mãos de regentes que não


apenas desenvolvem um bom

artesanato musical, mas que inventam novas formas de


aprofundar nas próprias obras com base em

uma vivência particular e concreta.

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Complementarmente a estar situado historicamente e possuir um


pensamento estético

aprimorado, a pessoa do regente precisa ser um bom músico.


Ou seja, conhecer profundamente

sobre o artesanato da música, também chamado de


técnica musical, teórica e prática. Nas palavras

do maestro Emanuel Martinez, o


regente precisa de quatro atributos essenciais: “a) percepção

musical acurada,
b) discernimento auditivo de intervalos melódicos e harmônicos, c) sentido
rítmico

firme e constante, ser um comunicador e até certo ponto um pedagogo” (Martinez,


2000, p. 38).

O seguinte elemento a ser trabalhado nesta atividade musical é a comunicação.


Por um lado,

possuir um vocabulário linguístico verbal apropriado, conciso e


assertivo com os cantores e

instrumentistas, por outro, desenvolver um


repertório gestual e corporal que permita uma expressão

artística eficiente de
acordo com cada obra e estilo musical. Aqui aparece claramente a importância
do
corpo como instrumento de comunicação e seus devidos cuidados. O maestro Jorge
Geraldo, na

sua tese de doutorado em música, estuda este aspecto dos cuidados:

As
evidências apontam que o regente está sob riscos associados aos movimentos
repetitivos,
postura, uso excessivo da voz e aspectos ambientais que podem ser
minimizados através da
conscientização dos profissionais e oferecimento de
informações sobre prevenção. Muitos dos
problemas podem ser evitados de forma
relativamente simples o que reduz custos econômicos
com o afastamento das
atividades de trabalho e ações de reabilitação nos casos em que houve
lesão
grave ou acometimento por doença. (Geraldo, 2019, p. 117)

Nesse sentido, nesta mesma tese, intitulada “Evidências do impacto


ocupacional da atividade da

regência e sugestões de prevenção”, aparecem


algumas sugestões de aquecimento (warm-up) para

regentes, com a intenção


de que estas lesões e doenças não apareçam e acabem colocando em risco

a carreira
profissional de qualquer regente. Na Figura 2 mostram-se alguns dos exercícios
incluídos

no material citado.

Figura 2 – Alongamento de membros inferiores

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Créditos: Elias Aleixo.

Esta série de exercícios sugeridos consta de 11 passos a serem


realizados antes das

apresentações e dos ensaios. Inclusive, alguns deles são


recomendados para fazer durante o intervalo

de ensaios mais longos ou no final


das atividades.

Finalmente, para complementar esta visão ampla da regência, é


necessário dizer que o regente

não só se ocupa das questões musicais, mas


também das extramusicais. Um regente à frente de um

grupo artístico também


precisa se preocupar de questões administrativas, como o número de

cadeiras e
estantes para seu grupo, especificidades de transporte de instrumentos em caso
de

viagem ou até o tipo de alimento que os cantores vão consumir na recepção do


teatro na qual serão

acolhidos.

TEMA 2 – EMISSÃO E RECEPÇÃO DE CAPITAL ARTÍSTICO

Na introdução da tese de doutorado “O amor pela música”, o regente e


trompetista Jorge

Scheffer inicia o discurso questionando o motivo pelo qual as


pessoas decidem sair de casa para

assistir uma apresentação ao vivo. Nesta


abordagem, percebe-se que a música, entendida como sons

organizados pelo ser


humano, é permeada por um campo maior de relações humanas, entre

indivíduos que
fazem parte de uma coletividade, em que a prática sonora é significativa na
sociedade

na qual está inserida, despertando emoções e impactando na vida das


pessoas. Assim, nesse
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estreitamento e ampliação do relacionamento entre seres


humanos que a música propõe, o regente

não deve se preocupar apenas pela


qualidade da música, mas também incluir todas as ações que

envolvem as pessoas
na participação de uma performance. Alargando o conceito de música no seu

fazer
musical, amplo e coletivo, a experiência musical não é elaborada apenas com os
intérpretes e

compositores das obras, mas também com o público, na sua tarefa


de decodificação prazerosa dos

códigos linguísticos e com o importante trabalho


dos agentes culturais encarregados de toda a

administração e logística
envolvida (Cf. Scheffer, 2019, p. 23-26).

Figura 3 – O regente como articulador da prática musical

Todos estes atores


presentes na Figura 3, incluindo o regente, estão articulados para que exista
uma emissão e uma recepção de elementos musicais os quais diferenciam uma
determinada obra de

outras. Aqui entendemos que emissão é “atualização de um


processo de interlocução entre vários
discursos, manifestações de diálogos,
entre os mais diversos gêneros e [...] épocas”, enquanto

recepção é uma
ressignificação do que se “ouve, vê ou lê, apropriando-se daquilo a partir da
sua
cultura, do universo de sua classe, para incorporar ou não a suas práticas”
(Baccega citado por

Scheffer, 2019, p. 41). Assim, os elementos musicais e


traços estilísticos que uma obra carrega são
chamados de capital artístico.
Isto quer dizer que o papel do regente implica em cuidar e colaborar

com que
este fluxo de capital artístico aconteça da melhor maneira entre todos os
envolvidos:
compositores, intérpretes, público e agentes culturais (Scheffer,
2019, p. 36-37).

Em termos práticos, é possível que esse fluxo artístico não aconteça


por falta de codificação ou

decodificação. Quando o regente lê ou decodifica


uma partitura para revelar a música contida nela,
precisa de um estudo maior do
que simplesmente tocar o que está escrito musicalmente, pois a

partitura não é
suficiente para codificar o que uma obra é por completo. Ao estudar a época, a
vida
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do autor e as características interpretativas, é possível ter uma visão


mais ampla da obra, o que vai

proporcionar informações importantes para uma


interpretação verdadeiramente artística e que
colaboram com a experiência
musical como um todo, na relação entre as pessoas e sua coletividade

no momento
da apresentação. A segunda parte do esforço é munir o público com as
capacidades
necessárias para poder decodificar estas informações, envolvendo-o
no fluxo do capital artístico e

oportunizando uma fruição da arte plena.

Será que o público de determinado contexto conseguirá diferenciar uma


obra de Mozart de uma

de Debussy dentro do repertório da música erudita


ocidental? Ou uma salsa de um merengue entre
os ritmos latino-americanos? Ou
ainda um forró de um samba, falando de música brasileira? Tudo
isto vai
depender da realidade cultural do público para o qual o regente vai preparar
determinado

repertório, e terão que ser propostos meios pelos quais o público


seja capaz de entrar e envolver-se
no fluxo do capital artístico, afetando-o
cognitiva, sensorial e espiritualmente.

TEMA 3 – O CENÁRIO VOCAL BRASILEIRO

A prática coral no Brasil é amplamente difundida e apoiada por diversas


instituições, públicas e

privadas. Isto se deve não só ao simples gosto pela


música, mas também por toda a articulação
humana e social que traz tal capital
artístico. Não significa que a música vocal/coral nestes casos seja

um
interesse secundário, pelo contrário, afirma-se que sua prática intrinsecamente
afeta aos grupos
humanos de maneira particular. Isto fica evidente nas palavras
do maestro Carlos Alberto Figueiredo:

Cantar
em coro deveria ser sempre uma experiência de desenvolvimento e crescimento,
individual e
coletivo: o desenvolvimento da musicalidade e da capacidade de se
expressar através de sua voz; a
possibilidade de vir a executar obras que tocam
tanto no cognitivo quanto no coração, ensejando o
crescimento intelectual e
afetivo do cantor e de outros agentes envolvidos; o desenvolvimento da
sociabilidade e da capacidade de exercer uma atividade em conjunto, onde
existem os momentos
certos para se projetar e se recolher, para dar e receber. (Lakschevitz,
2006, p. 9)

Percebe-se também um alerta, ao dizer que o coro nem sempre é uma


experiência de
desenvolvimento e crescimento, individual e coletivo. Isto pode
ser provocado pela condução do

próprio regente, com posturas muito rígidas e


autoritárias, ou colocando padrões estéticos e/ou
repertórios não adequados
para as capacidades dos coralistas, gerando rejeição, sensação de

incapacidade
e frustração. O que deve ser uma oportunidade ímpar, pode chegar a ser uma

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mortificação, principalmente quando os integrantes não estão ali por uma


vontade inicial própria,
mas por uma exigência de plano curricular, laboral,
prática religiosa ou outra forma de necessidade.

Numa entrevista[2] com a maestrina Haydée


Gorosito, ao ser questionada sobre o que a prática

do coral traz às pessoas,


ela responde que uma coisa fundamental é a alegria. É ali que começa toda

a
disponibilidade de espírito de uma pessoa para o que se lhe apresente como
desafio. Por outro
lado, “a atividade coral é associativa por excelência, sendo
um trabalho de equipe, que, bem

conduzido, prepara indivíduos para uma


convivência positiva em sociedade” (Lakschevitz, 2006, p.
17). Desta forma,
escolas, universidades, empresas, municípios, grupos de pessoas idosas,
confissões

religiosas e outras formas de coletividade apostam na prática coral


como uma ferramenta de
desenvolvimento humano integral; e cada um destes
espaços apresentará desafios e especificidades
diferentes, demandando do
regente uma capacitação específica para cada entorno.

Gorosito, nesta entrevista mencionada anteriormente, também afirma que


o coral é um espaço
privilegiado para a musicalização de uma pessoa que nunca
teve estudos formais de música.

Figueiredo, por sua vez, complementa que além


da musicalização, a prática coral promove o
desenvolvimento do cantor em
questões de afinação, emissão vocal, leitura e percepção de forma;

elementos
valiosíssimos para um crescimento gradativo na capacidade interpretativa de
repertórios
cada vez mais exigentes (Lakschevitz, 2006, p. 16-25).

As interações humanas dentro do coral também provocam interações macro


com outros coros,

que se expandem envolvendo a sociedade toda. Os encontros de


coros e festivais a nível regional,
estatal, nacional e internacional são
motores propulsores no âmbito social e econômico das cidades,

promovendo
valores humanos universais e uma cultura de irmandade e paz. Como exemplo,
podemos mencionar na cidade de Curitiba/PR a Semana de Canto Coral Henrique de
Curitiba e o

Festival Internacional de Corais de Curitiba (Cantoritiba)[3].

TEMA 4 – O CENÁRIO INSTRUMENTAL BRASILEIRO

O cenário da prática instrumental em conjunto no Brasil também é


bastante apreciado, embora
possua especificidades que se diferenciam com os da
experiência coral. Uma primeira diferença para

poder oportunizar esta prática é


o investimento econômico, que é envolvido para chegar a resultados
plausíveis. Diferentemente
do cantor, a prática instrumental logicamente demanda a compra de

instrumentos,
em que sua qualidade está diretamente relacionada com o valor monetário,
escapando
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muitas vezes do orçamento dos próprios instrumentistas iniciantes e


dos projetos sociais e

institucionais. No caso de propostas culturais com


instrumentistas profissionais, a questão econômica
também repercute no caso da
manutenção de orquestras numerosas e suas necessidades. Scheffer

comenta esta
questão e expande:

No caso
das orquestras – que necessitam de um alto investimento estatal ou privado para
a sua
manutenção, bem como, que constroem as temporadas com programas de
concerto que
privilegiam em grande parte a música escrita nos últimos cinco
séculos – existem significativas
preocupações na elaboração de novas
estratégias que permitam uma adaptação aos novos
conceitos relacionados ao
gosto musical, às formas de se relacionar com a percepção musical e,
principalmente, na busca da renovação do público que frequenta as salas de
concerto. (Scheffer,
2019, p. 31)

Outra diferença que aparece aqui, e que impacta diretamente no fluxo do


capital artístico, é que
a música puramente instrumental não conta com a
mediação da linguagem verbal dentro da sua

expressão de sensações e emoções,


dando mais liberdade e possibilidades ao imaginário das
pessoas, mas, por outro
lado, demandando maior compromisso estético e uma escuta mais

aprimorada por
parte do ouvinte comum; isto para poder decodificar as informações sensoriais e
fazer parte ativa da experiência instrumental. Este ponto é reforçado com a
visão de Scheffer sobre o

gosto e percepção musical.

Assim como acontece com a música coral, no meio cultural brasileiro


existem diversas propostas
de festivais e congressos que promovem o encontro
dos instrumentistas segundo suas famílias

instrumentais, gêneros musicais e outros


vínculos de interesse comum. Como exemplo, pode-se
mencionar o Festival
Internacional de Inverno de Campos do Jordão[4], dentro da especialidade de

música sinfônica e de
câmara.

TEMA 5 – PREPARAÇÃO DE UMA INTERPRETAÇÃO MUSICAL

  O material inicial da preparação para uma interpretação musical


geralmente é uma partitura.
Nela encontramos os elementos básicos que foram
possíveis capturar segundo as possibilidades e

tendências de cada época. Mas na


partitura não estão contidos todos os elementos necessários para
a
interpretação. Por esse motivo, o regente está obrigado a investigar sobre a
vida da obra, ou seja, o

contexto em que ela foi composta, as tendências


estilísticas da época, de seu contexto cultural e a
vida e pensamento do
compositor. Todos esses dados repercutirão na capacidade interpretativa do

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regente no momento de tomar decisões estéticas e planejar a emissão e recepção


do capital artístico
da obra.

Esta investigação prévia também servirá inclusive na escolha da edição


da partitura a ser

utilizada, procurando uma interpretação historicamente


informada. Quanto mais antiga uma obra
musical, maior a probabilidade de esta
ter sofrido modificações na sua escrita musical ao longo do

tempo. O maestro
Figueiredo alerta sobre a questão:

Nesse
processo de transmissão a obra vai, inevitavelmente, sofrendo modificações, já
que em cada
etapa do processo há agentes modificadores – copistas e editores –
que interpretam os dados
escritos, segundo as convenções de escrita, auditivas
e de execução válidas para esses agentes e
seu meio cultural. (Lakschevitz,
2006, p. 31)

Agora, focando mais na parte técnico-musical, o professor e maestro


Joseph A. Labuta sugere

três passos básicos para o estudo de uma partitura. O


primeiro passo é explorar a partitura, tendo
uma ideia geral da estrutura da
obra com base em sua escrita, identificando, por exemplo, a forma

musical,
motivos rítmicos e melódicos, tonalidade, modalidade ou atonalidade, formação
instrumental, tessitura das vozes etc. O segundo passo é antecipar os desafios
de regência, pontos

em que a técnica de regência precise ser aprimorada e/ou o


repertório gestual precise ser
incrementado ante uma estética musical ainda não
explorada. Aqui sugere-se estabelecer uma linha

de regência que é a criação de


uma linha melódica/rítmica adicional, criada com base nos materiais
musicais
mais importantes da obra. Finalmente, o terceiro passo consiste em identificar
os desafios

para o grupo, momento no qual é possível pensar em exercícios para


serem propostos ao grupo e
assim facilitar a assertividade de um determinado
trecho, como parte das estratégias de ensaio (cf.

Labuta, 2008, p. 74-76).

Uma vez que já exploramos todos os itens acima mencionados, é salutar


procurar referências
interpretativas em áudio ou vídeo. Esta procura de
referências nunca se faz com a intenção de copiar

uma interpretação, mas de


comparar a nossa investigação musical e preparação técnica com as
abordagens de
outros regentes, enriquecendo o processo interpretativo com outros olhares

diferentes do próprio.

NA PRÁTICA

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Como exemplo prático, retomaremos a reflexão sobre o capital artístico.


Um dos subsídios mais

comuns com o qual o público consegue entrar na dinâmica


do fluxo do capital artístico é o programa
de concerto. O programa de concerto,
comumente impresso e distribuído a cada pessoa na entrada
do evento, é um
folheto que reúne informações relevantes sobre as músicas que serão executadas,

seus respectivos compositores e dados do grupo artístico, o projeto, os agentes


culturais e os
patrocínios.

Figura 4 – Recorte de programa de concerto

Fonte: Sesi, 2015.

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No exemplo da Figura 4, que mostra parte de um programa de concerto,


encontramos
informações sobre o projeto e a poética que o sustenta, a numeração
das músicas e seus

compositores na ordem em que serão apresentadas e os


intérpretes que executarão as peças. Na

seção seguinte da íntegra do programa,


aparece o descritivo de cada peça e compositor, dos quais

pode-se apreciar um
exemplo na parte direita da figura exposta. Este descritivo é particularmente
importante ao tratar-se de um concerto de obras inéditas, estreias, peças que
serão apreciadas pela

primeira vez por uma audiência pública. No caso da música


Ayllu ruru[5], de estética
contemporânea,

especifica-se o nome do autor e procedência da letra extraída de


um poema, que na sequência é

apresentado junto com a sua tradução por estar


numa língua ancestral. Por último, aparece um breve
resumo sobre o compositor.

Este exemplo permite compreender melhor a função do programa de


concerto e como este
contribui com o fluxo do capital artístico. Apenas com a
audição da obra, que aconteceu em Curitiba,

Paraná, seria muito difícil que o


ouvinte brasileiro médio se conectasse com a ancestralidade de uma

obra em
idioma quéchua[6] de um povoado dos
Andes peruanos, numa releitura contemporânea

feita por um compositor peruano


radicado na cidade da estreia com referências estilísticas da sua
própria
cultura. Qualquer mediação cultural, seja ela próxima ou afastada da realidade
cultural do

público, precisa deste tipo de subsídios para promover a


participação da plateia, em diferentes níveis,

da experiência coletiva do fazer


musical.

FINALIZANDO

Uma regência consolidada na sua base histórica, respeitando a saúde do


corpo, interessada
pelos processos cognitivos e afetivos do seu grupo,
comunicando eficientemente suas ideias,

atendendo as demandas logísticas da


prática musical, com uma devida imersão estética e cumprindo

seu papel no fluxo


do capital artístico, será uma regência que contribui com o atual cenário vocal
e

instrumental da comunidade, do país e do mundo.

O desafio está posto para aqueles que, com alma caridosa e aberta, aceitem
trabalhar em prol da
experiência musical das pessoas sem emitir o mínimo som, em
que toda sua carreira estará

submetida aos resultados sonoros dos outros.


Quando os resultados são bons, músicos e plateia

sabem reconhecer e expressar


muito bem sua gratidão. Quando os resultados não chegam ao

esperado, é tempo de
rever os passos trilhados, revisar e melhorar. Sem poder escapar destas duas

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situações necessárias no crescimento de um regente, é possível afirmar que a


regência brinda

intermináveis momentos de alegria e deleite estético.

REFERÊNCIAS

CANTORITIBA. Festival Internacional de Corais de Curitiba. Disponível em:


<https://youtu.be/rOIf5y74qXE>. Acesso em: 30 jul. 2021.

CARROL, J. The
Technique of Gregorian Chironomy. Ohio: Gregorian Institute of America, 1955.

FCC. Inscrições abertas para as oficinas da Semana de Canto Coral. Fundação Cultural de
Curitiba. Disponível
em: <http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/musica/noticias/inscricoes-

abertas-para-as-oficinas-da-semana-de-canto-coral>.
Acesso em: 30 jul. 2021.

Festival de Campos do Jordão. 49º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão |

Núcleo Pedagógico. Disponível em: <https://youtu.be/Of4LGHYQSIg>. Acesso em: 30


jul. 2021.

GERALDO, J. Evidências do impacto ocupacional da atividade da regência e sugestões de

prevenção.
Tese de doutorado em Música – Instituto de Artes da Universidade Estadual de
Campinas,
Campinas, 2019.

LABUTA, J. A. Basic Conducting Techniques. 6. ed. New Jersey: Prentice Hall, 2010.

LAGO, S. Arte da regência: história,


técnica e maestros. 2. ed. São Paulo: Algol Editora, 2008.

LAKSCHEVITZ, E. Ensaios: olhares sobre


a música coral brasileira. Rio de Janeiro: Centro de
Estudos de Música Coral,
2006.

MANRIQUE, J. L.; PACHECO, W. Ayllu Ruru.


Disponível em: <https://youtu.be/IKCtzFWbwoA>.
Acesso em: 30 jul. 2021.

MARTINEZ, E. Regência coral: princípios


básicos. Curitiba: Colégio Dom Bosco, 2000.

PAREYSON, L. Os problemas da estética. São


Paulo: Martins Fontes, 2001.

SCHEFFER, J. Amor pela música: sobre o


fluxo do capital artístico entre a orquestra e o público.
Tese de doutorado em
música – Setor de Artes, Comunicação e Design, Universidade Federal do

Paraná,
Curitiba, 2019.

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SESI. Cinco Líricas Imaginárias. Núcleo


de compositores SESI-EMBAP. Programa de concerto.

Curitiba: Centro Cultural


Sesi Heitor Stockler de França, 2015.

ZANDER, O. Regência coral. 5. ed. Porto


Alegre: Movimento, 2003.

[1] A
Escola de Mannhein foi uma importante escola alemã que surgiu mais ou menos
pela

metade do século XVIII. (Zander, 2003, p. 44-45)

[2] A entrevista está disponível em:


<https://youtu.be/GWw7uk0ohMs>. Acesso em: 2 ago. 2021.

[3] Um vídeo institucional do V


Festival Internacional de Corais de Curitiba está disponível aqui:

<https://youtu.be/rOIf5y74qXE>.
Acesso em: 2 ago. 2021.

[4] Um vídeo institucional do 49º


Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, que

inclui depoimentos
dos participantes, está disponível aqui: <https://youtu.be/Of4LGHYQSIg>.
Acesso

em: 2 ago. 2021.

[5]O registro audiovisual da estreia da


obra no qual foi utilizado este programa de concerto

encontra-se disponível em:


<https://youtu.be/IKCtzFWbwoA>. Acesso em: 2 ago. 2021.

[6] Idioma oficial do Império Inca pré-colombiano, utilizado


até nossos dias pelas comunidades

andinas de América do Sul.

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