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NOÇÕES BÁSICAS

DO

CANTO
SUMÁRIO

1. Processo do aprendizado ................................................................................ 3


2. Postura ............................................................................................................ 4
3. Instrumento Vocal ............................................................................................ 5
3.1. Aparelho Respiratório ............................................................................................................ 5
3.2. Aparelho Fonador .................................................................................................................. 5
3.3. Aparelho Ressonador ............................................................................................................ 8
4. Extensão, Tessitura e Registro ........................................................................ 9
5. Classificação Vocal ........................................................................................ 10
6. Preparação Vocal .......................................................................................... 12
7. Dinâmica Vocal .............................................................................................. 14
8. Afinação Vocal ............................................................................................... 16
9. Desenvolvimento e Equalização .................................................................... 17
10. Expressão Vocal .......................................................................................... 18
11. Alguns Exercícios Básicos ........................................................................... 19
12. Higiene Vocal ............................................................................................... 20
13. Processo de Muda Vocal ............................................................................. 21
14. Envelhecimento da Voz ............................................................................... 22
15. O Mau Uso da Voz ...................................................................................... 23
16. Entoação na Voz Fala e Cantada ................................................................ 24
17. O Falsete e a Voz de Cabeça ...................................................................... 25
18. Parâmetros do Som ..................................................................................... 26
19. Uso do Microfone ......................................................................................... 27

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PROCESSO DO APRENDIZADO

Geralmente não gostamos de ouvir a nossa própria voz quando é gravada, mas é
exatamente essa voz que todos escutam quando falamos ou cantamos, menos nós
mesmos. Nós nos ouvimos através da audição óssea e isso é um fator preponderante
para que desconheçamos nossa voz. Precisamos ser mais ouvintes de nós mesmos
para reconhecermos nossa voz.

Na maioria das vezes, o(a) cantor(a) não tem consciência corporal do que está
realizando enquanto canta. Prefere cantar emocionalmente, sem domínio da técnica
vocal. O estudo do canto começa pelo “aprender a ouvir”. Só cantamos bem se
ouvimos bem. Não existe um bom cantor ou uma boa cantora sem um bom ouvido, pois
a audição e a percepção musical são aspectos fundamentais na execução de uma boa
voz.

Como qualquer instrumento, é preciso persistência e dedicação no estudo, a fim de


alcançar o objetivo de cantar com propriedade e consciência melódica. Todos podem
aprender, independentemente da idade. É só ter a iniciativa e disposição para aprimorar
seus conhecimentos em relação aos conteúdos teóricos e práticos do canto.

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POSTURA

Ter uma postura para o canto significa usar o corpo de maneira que os músculos
empregados na respiração possam atuar com agilidade, assim como deixar o som fluir
com naturalidade:

• cabeça e pescoço: a cabeça deve ser mantida com o olhar paralelo ao chão e o
pescoço relaxado;
• ombros: relaxados para baixo e para trás;
• tronco: ereto, sem elevar o tórax;
• quadris: encaixados, para não forçar a coluna;
• pernas: esticadas, mas sem rigidez nos joelhos;
• pés: paralelos, podendo um ficar levemente à frente do outro.

Sempre que possível, o cantor deve ficar de pé diante de um espelho enquanto pratica,
a fim de poder observar-se de perto. O mais importante é manter o corpo sob controle,
isto é, permanecer quieto, evitando elevar a cabeça, pois se trata do nosso
“amplificador natural” e sua movimentação pode trazer alterações na projeção vocal.

Quanto mais calmo e tranquilo o cantor estiver, mais significativa será cada expressão
que ele usar; quanto menos movimentos fizer, mais importantes serão esses
movimentos. Exatamente o mesmo deve suceder com a voz. Todo mau hábito deve ser
eliminado, para que o cantor possa extrair dela aquilo que a correta interpretação
musical requer.

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INSTRUMENTO VOCAL

Nossa voz é um instrumento melódico. Por isso, é importante estudar um instrumento


harmônico (como piano ou violão) para ampliar os conhecimentos teóricos e práticos
relacionados à técnica vocal.

Fisiologia

1. Aparelho respiratório:

- vias aéreas: narinas, fossas nasais, faringe, glote, laringe e traqueia.


- pulmões: brônquios, bronquíolos e alvéolos.

2. Aparelho fonador:

Onde o ar se transforma em som ao passar pelas pregas vocais localizadas na laringe.

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• Pregas vocais:

Pregas vocais durante a fonação Pregas vocais durante a respiração (silêncio)

• Articuladores:
- mandíbula inferior, língua, palato mole (véu palatino), lábios; alvéolos, dentes
e palato duro (articuladores passivos).

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• Articulação vocal:

Coloque os indicadores (bem relaxados) entre o lábio superior e a gengiva, um


de cada lado, sobre os caninos, e pronuncie as cinco vogais na seguinte ordem:
U O I E A. A boa articulação fará os músculos se contraírem, empurrando os
dedos em direção ao centro do lábio superior. Esse movimento será mais
acentuado nas vogais U e O. Se a articulação for fraca, esses movimentos não
acontecerão.

O controle da emissão é auxiliado também por uma boa articulação. Para


exercer uma boa articulação, é necessário ter uma abertura de boca satisfatória.
Essa abertura está relacionada principalmente com o “desenho” de cada vogal:

O simples fato de pensarmos em qualquer uma destas vogais é suficiente para


colocar a laringe, a língua e o palato na relação entre si.

As consoantes, em geral, estão relacionadas ao preparo da formação de cada


palavra. Esse movimento forma a chamada “dicção”. Quanto mais clara a dicção,
maior será o giro da ressonância1.

Posição da língua: a posição correta da língua antes de começarmos a cantar, é


obtida quando pronunciamos o ditongo AU, como se fôssemos bocejar.

Classificação das consoantes:

- bilabiais: ex.: P, B e M.
- labiodentais: ex.: F e V.
- linguodentais: ex.: D, T e N.
- alveolares: ex.: S, Z e L.
- palatais: ex.: X, J, Lh e Nh.
- velares: ex.: K, G(u) e R.

A boa dicção e articulação favorece a ressonância.

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O giro da ressonância está associado ao movimento do palato ao constituir a cúpula de encontro a qual o ar se choca e um piso
extremamente elástico para o ar que ressoa acima dele de encontro ao palato duto (céu da boca) ou no nariz.

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3. Aparelho Ressonador:

- Caixa de ressonância inferior: faringe, traqueia, brônquios e pulmões.


- Caixa de ressonância superior: cavidades bucais e cavidades da face.

Os ressonadores faciais (superiores) são os mais importantes. Essa região de


ressonância é chamada de MÁSCARA. A expressão “CANTAR NA MÁSCARA”
significa cantar utilizando os ressonadores da face. Exercícios para a percepção da
utilização das caixas de ressonância:

CAIXA DE RESSONÂNCIA SUPERIOR

Inspire profundamente;
Expire emitindo o fonema: mémmmmmmmmm;
Coloque as mãos no rosto para sentir a vibração.

CAIXA DE RESSONÂNCIA INFERIOR

Inspire profundamente;
Expire emitindo a vogal A (no grave);
Coloque as mãos no peito para sentir a vibração.

O maior ponto de ressonância está localizado entre os olhos. O levantamento do


músculo tensor do nariz contra os olhos e têmporas é uma ajuda extraordinária durante
o canto. As vogais I e E acentuam mais essa tensão do nariz.

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EXTENSÃO, TESSITURA E REGISTRO

Extensão é o termo utilizado na técnica vocal para se referir ao limite de sons emitidos
por uma voz (do grave ao agudo).

Tessitura é o conjunto de notas onde o cantor emite a voz com maior facilidade, ou
seja, de forma mais homogênea. Esse conjunto de notas é formado, geralmente, por
uma oitava mais uma quinta.

Registro é a parte central da tessitura de uma voz.

Para ilustrar, podemos pensar na disponibilização da extensão, tessitura e registro na


forma de “expressão numérica”:

{ EXTENSÃO }
[ TESSITURA ]
(REGISTRO)
Ao iniciar o trabalho com a voz no estudo específico do canto, é aconselhável iniciar os
vocalizes no registro, atingindo posteriormente a região da tessitura e, por fim,
envolvendo as notas mais agudas da extensão vocal, trabalhando o ataque e explosão
dos limites da emissão dos sons de determinada voz.

Importante salientar que a nossa voz requer descanso e limites, pois ambos são
fundamentais para o desenvolvimento técnico. É preciso conhecer a capacidade
máxima do aparato vocal e tirar o melhor deles sem danos. Toda iniciativa vocal que
provoca dor não é correta e muito menos saudável.

É preciso desenvolver o canto com consciência sonora, emocional e física para


localizar no espaço à sua volta a direção do som que emite, percebendo sua projeção e
qualidade na execução.

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CLASSIFICAÇÃO VOCAL

• Classificação Vocal Masculina:

No canto popular, classificamos as vozes masculinas em três tipos:

- tenor (mais aguda);


- barítono (intermediária);
- baixo (mais grave).

No canto lírico, a variação aumenta em alguns naipes:

Tenor ligeiro Barítono lírico

Voz intermediária entre agudo e


Voz pouco forte; alcança notas grave.
agudas. 1º TENOR

Tenor lírico Barítono dramático

Voz mais forte; timbre suave. Voz mais forte e timbre metálico.
2º TENOR

Tenor dramático Baixo cantante

Voz forte; timbre metálico.


Voz grave, timbre suave.

Baixo profundo

Voz bem grave e mais forte que a


anterior.

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• Classificação vocal feminina:

Bem como na classificação masculina, encontramos três tipos de vozes para a


feminina:

- soprano (mais aguda);


- mezzo-soprano (intermediária);
- contralto (mais grave).

Segue a variação dos naipes femininos no canto lírico:

Soprano ligeiro Soprano dramático

Voz forte; timbre doce.


Voz agudíssima; timbre fraco, de
grande agilidade.

Mezzo-soprano Contralto

Voz intermediária entre agudo e


grave. Voz feminina mais grave, timbre
escuro.

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PREPARAÇÃO VOCAL

Assim como precisamos de um preparativo baseado em alongamentos e aquecimentos


antes de uma atividade física, também precisamos desse momento antes de cantar. A
preparação vocal consiste, basicamente em três etapas: relaxamento, respiração e
aquecimento vocal.

1. Relaxamento: exercícios básicos para livrar o corpo de tensões.

2. Respiração: a respiração possui dois movimentos: inspiração e expiração. Esses


movimentos contam com o suporte do músculo chamado diafragma. O diafragma é o
músculo que separa a cavidade torácica da cavidade abdominal. É ele quem permite a
entrada do ar no nosso corpo, e também quem expulsa esse ar. Ou seja, ele é o
músculo que controla nossa respiração. Essa respiração recebe várias nomenclaturas:
respiração diafragmática, respiração baixa, respiração intercostal, entre outras.

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Para demonstrar o movimento da respiração diafragmática, usamos o exemplo do
balão:

- quando sopramos o balão, ele expande, tomando a forma arredondada;

- quando deixamos o ar sair do balão, ele diminui, voltando à forma inicial.

• Respiração Nasobucal:

A respiração nasal é melhor porque o ar é filtrado, aquecido e umedecido, mas


terão momentos durante a execução vocal que precisaremos utilizar a respiração
nasobucal, que é a respiração pelo nariz e pela boca de forma combinada. A
necessidade se encontra nos curtos espaços de tempo entre uma frase e outra
de longa duração. A ideia é deixar o maior espaço possível para a passagem de
ar ser feita em menos tempo.

3. Aquecimento vocal: antes de cantar, nossa voz se encontra na condição de voz


falada, por isso é necessário aquecer nossa voz para colocá-la nas frequências da voz
cantada. Para isso são realizados exercícios de vocalizes, preferencialmente junto ao
piano, para que a voz possa ser trabalhada com uma sonoridade adequada dentro da
extensão vocal de cada aluno(a), desenvolvendo frases em graus conjuntos e arpejos
variados:

Também é importante realizar após as atividades vocais, o desaquecimento vocal. Para


voltarmos a condição de voz falada, precisamos também realizar alguns exercícios que
fazem com que retomemos este estado. Algumas dicas são: exercícios de relaxamento,
atividades que tenham o início com escalas ascendentes terminando em descendentes,
permanecer aproximadamente cinco minutos em silêncio.

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DINÂMICA VOCAL

A dinâmica vocal é utilizada para conseguir o efeito desejado de som vocal, tais como:
agressivo, alegre, melancólico, suave, forte, vigoroso, introspectivo, reflexivo, sensível,
etc. Saber como cantar e quando cantar é essencial para um vocalista. Aquele
backvocal que fica cantando o tempo todo, enchendo todo o espaço de frases bem
elaboradas e dobrando todas as notas da harmonia acaba se tornando maçante. Isto
porque ele colabora para poluir a música, deixando-a "suja". Às vezes, é necessário
suavizar. Nem sempre todos os vocais cantam ao mesmo tempo, fica muito bom
quando, de repente, soa apenas uma voz com a melodia, cantando mais forte, as
outras só dando um suporte. Use a criatividade e o bom senso.

A intensidade das notas pode variar ao longo de uma música. Isso é chamado de
dinâmica. A intensidade é indicada em forma de siglas que indicam expressões em
italiano sob a pauta.

• Alguns elementos de dinâmica:

Contraponto - A arte de combinar duas ou mais linhas musicais simultâneas. O termo deriva do latim,
contrapunctum, "nota contra nota".

Crescendo – Aumentando gradativamente a intensidade do som.

Decrescendo - Diminuindo gradativamente a intensidade do som.

f - Forte - Dinâmica na música que indica forte.


ff - Fortíssimo - Dinâmica na música que indica um mais intenso que forte.
fff - Più fortíssimo.

Glissando- Aplicado ao piano e à arpa, refere-se ao efeito obtido através de um deslizamento rápido sobre as
teclas ou cordas.

mf - Mezzo forte - Dinâmica na música intermediário entre normal e forte.


mp - Mezzo piano - Dinâmica na música intermediário entre normal e piano.
Monódico - Cantado por uma só voz, sem acompanhamento.

p - Piano - Dinâmica na música que indica fraco, leve, o volume um pouco mais baixo que o normal .
pp - Pianíssimo - Dinâmica utilizada na partitura um pouco mais fraco que piano ( p ) .
ppp - Più pianíssimo - quase inaudível.
Piu mosso - Mais depressa
Poco a poco - Aos poucos.

Rallentando (rall.) - Atrasando velocidade do trecho correspondente

Rittardando (rit.) - Retardando velocidade do trecho correspondente.

Vibrato - Uma oscilação de altura em uma única nota durante a execução.

Dinâmica é saber graduar o volume de voz durante a execução musical. Essas


alterações de intensidade durante o andamento de uma canção devem ser controladas,
de maneira que haja ligação entre as notas conforme a necessidade de cada fraseado.

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• Vibrato:

Ele tem um efeito estético evidente e um papel primordial porque ele dá a voz sua
riqueza expressiva, sua leveza e seu poder emocional. Ele se caracteriza por
modulações de frequência (na razão de cinco a sete vibrações por segundo),
acompanhadas de vibrações sincrônicas da intensidade de dois a três decibéis e da
altura ¼ de tom e ½ tom que tem uma influência sobre o timbre. Estas flutuações são
criadas pelo cantor e tem uma ação musical importante.

O vibrato só se adquire a medida que o cantor domina sua técnica e realiza da melhor
maneira possível a junção faringo-laríngea: seu mecanismo fisiológico corresponde a
finas tremulações do conjunto da musculatura respiratória e laríngea.

O vibrato, então, é uma variação na frequência da nota (diferente do tremolo que


constitui a variação na sua intensidade). Essa variação tonal ocorrida no vibrato é
inferior a um semitom.

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AFINAÇÃO VOCAL

Só cantamos bem se ouvimos bem. Não existe um bom cantor sem um bom ouvido,
pois a audição e, principalmente, a percepção musical são as principais armas na
execução de uma boa voz. A musicalidade de um cantor também inclui elementos
importantes que levam tempo para serem adquiridos. Só com a disciplina de uma
intensa escuta musical e de pesquisa é que se adquire sentido melódico, rítmico e
harmônico. Essa prática consolida a chamada memória musical, o que torna um ouvido
sensível e respeitável, atento para uma boa projeção e afinação vocal. Ouvimos,
guardamos o som na memória e só então o emitimos.

Os intervalos musicais na vocalização ajudam a educar o ouvido e trabalham


consistentemente as pregas vocais. Os vocalizes costumam oferecer todos os
intervalos para que seja trabalhada tanto a técnica vocal quanto a percepção musical.
Através desses intervalos é possível aprender com maior facilidade e agilidade uma
melodia, além de melhor a afinação e ganhar mais segurança para cantar.

Diz-se que o cantor é afinado quando ele atinge as alturas sonoras propostas de
maneira correta. Alguns fatores interferem na afinação. A falta de percepção é um
deles. Todos devem aprender a ouvir. Nenhuma técnica ou experiência ajuda o cantor a
afinar, se ele não é capaz de se ouvir.

É necessário agregar a ideia de cantar


sobre uma linha vocal. Tecnicamente a
sustentação de uma linha vocal
significa manter o apoio respiratório
abdominal, a fim de que a afinação e
sustentabilidade dos fraseados sejam
ligadas do início ao fim.

Esse nível de controle e execução só


será atingido quando o cantor passar
por uma reformulação e mudança de
hábito em relação ao trabalho de
apreciação musical e desenvolvimento
da percepção auditiva através dos
mecanismos específicos para este
trabalho.

Qualquer pessoa pode vir a aprimorar


sua capacidade de afinar, mudando seu
estado inicial.

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DESENVOLVIMENTO E EQUALIZAÇÃO

Existem vozes fortes, fracas e agudas por natureza, mas qualquer voz, por meio de um
estudo adequado, pode atingir determinado nível de força, flexibilidade e amplitude de
tessitura.

Tudo deve ser cantado com uma voz mista de tal modo que nenhum tom seja reforçado
às custas de outro. A fim de evitar a monotonia, o cantor deve ter à sua disposição uma
gama de meios de expressão em toda a tessitura de sua voz. Antes de mais nada, ele
deve conhecer as vantagens da ressonância de certos tons, e de sua conexão uns com
os outros.

A escala musical passa de um semitom para outro; cada um deles é diferente: à medida
que prosseguimos, cada um deles exige uma altura maior e, portanto, a posição dos
órgãos não pode ser a mesma para vários tons diferentes. Cada tom deve ser
imperceptivelmente preparado num canal elástico e produzir uma sensação de
facilidade para o cantor, bem como uma impressão agradável ao ouvinte.

A violação deste importante princípio leva geralmente ao esforço excessivo das pregas
vocais e dos músculos da garganta. O motivo pelo qual um tom soa muito agudo é um
excesso de ressonância nas cavidades da cabeça, nas quais o tom já deveria ter sido
misturado com ressonância palatal.

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EXPRESSÃO VOCAL

A expressão vocal é caracterizada pela forma como nós conduzimos os fraseados, ou


seja, conforme a ênfase que damos na melodia e o volume com o qual cantamos.
Nossa voz é um instrumento extremamente importante para construir uma
caracterização clara e mostrar como sentimos a canção para o público. Nenhum
instrumento é comparável à voz, pois ela é a única que têm o privilégio de unir o texto à
melodia. É preciso envolver as palavras com as ideias que a canção oferece. Algumas
atitudes são básicas para uma boa expressão: cantar alto para ser ouvido(a), claro o
suficiente para ser entendido(a) e afinado(a) para manter o interesse da plateia.
Expressão vocal não é simplesmente o que cantamos, mas como cantamos.

• Mecanismos da expressão vocal:

Nossa voz possui três mecanismos de controle:

- volume;
- ritmo;
- afinação.

Manipulando esses mecanismos, expressamos uma ampla gama de ideias e


sentimentos. Essa postura certamente manterá um público atento e interessado na
mensagem que estamos passando através do canto. É necessário que a ideia central
esteja sempre presente e, por isso, devemos evitar adornos e nuances desnecessárias,
a fim de não prejudicar o contorno da imagem geral que desejamos transmitir. Toda
palavra é uma ideia e devemos expressar não somente essa ideia, mas a maneira
como a ideia se relaciona com o todo.

Essa ideia central deve ser


apresentada ao público pelo cantor
desde a primeira palavra e desde a
primeira nota; isto depende, em
parte, da postura do cantor e da
expressão do seu rosto durante à
execução, que devem despertar o
interesse do público para o
encaminhamento da canção durante
sua estrutura.

A conscientização melódica permite ao cantor ativar ainda mais sua expressão vocal.
Expressar a voz nada mais é do que revelar a própria personalidade. A voz mais bonita
é a mais verdadeira.

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ALGUNS EXERCÍCIOS BÁSICOS

Na mesma nota, bem ligadas, cantar as vogais i, iê, iá, io, iu. O ditongo ajuda o trabalho
do músculo tensor do nariz. Subir e descer em semitons bem lentamente.

Boca fechada – quando reprimimos um bocejo, os lábios se fecham, o fundo da


garganta está aberto, o palato se eleva, a boca se abre ao máximo interiormente.
Nessa posição bucal, emitir M M M...

Staccatos – com as vogais I e U – escolha a variação dos exercícios, de acordo com o


nível técnico. Não esquecer o músculo tensor do nariz e a firmeza dos lábios ao
pronunciar as vogais do exercício. Também com a inserção da consoante V, forme a
sílaba Vi e alterne com a vogal U, repetindo o staccato em graus conjuntos como: dó,
dó, ré, mi, mi, ré, dó (vi, vi, u, vi, vi, u, vi).

Intervalos de quarta – em todas as vogais. Ótimo para trabalhar a afinação.

RR forte – “Posição de assobio” – ponta da língua contra os alvéolos. Pode ser


trabalhado nota por nota. Em arpejo (dó, mi, sol, mi, dó), duas, três vezes seguidas,
dependendo do fôlego de cada um.

BR forte – projetando os lábios para exercer a vibração entre eles, pode ser trabalhado
também através de graus conjuntos (no máximo três notas) para desenvolver o
relaxamento dos articuladores.

Fortalecimento dos lábios – crie quantos exercícios quiser com as consoantes


bilabiais (pa, pe, pi, po, pu, ma, me, mi, mo, mu, etc) pronunciadas enérgica e
rapidamente.

Articulação em geral – é importante pronunciar com um certo exagero nos exercícios.


Não esquecendo a firmeza dos lábios, o músculo tensor do nariz, o levantamento do
palato, das orelhas, assim como dos músculos que sustentam seu diafragma e seus
músculos intercostais, ou seja: abdominais, pélvicos, glúteos e o períneo.

Saltos de oitava – De cima para baixo e debaixo para cima. Não esquecer a leve
contração dos músculos glúteos e pélvicos, tanto quando cai na nota de baixo, como
quando vai para a nota de cima. Não perca a tensão dos músculos do nariz e evite
portamentos.

As vogais exigem um movimento de adução (junção das pregas) lento e mantido; as


consoantes são emitidas sem o mecanismo laríngeo, em sua maioria, com movimentos
bruscos e de breve duração, ou seja, diferentes tipos de “ataque vocal”: soproso,
brando, duro, etc. As consoantes não têm “continuidade” como as vogais.

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HIGIENE VOCAL

Algumas dicas e cuidados que devemos ter com a nossa voz:

• beba bastante água em temperatura natural (no mínimo 2 litros por dia) para
manter as pregas vocais hidratadas e em boa condição de vibração;
• coma maçã; a maçã possui propriedades adstringentes que auxiliam na limpeza
da boca e da faringe, favorecendo uma voz com melhor ressonância;
• evite usar roupas apertadas, principalmente nas regiões do abdômen, cintura,
peito e pescoço, pois isso poderá dificultar a respiração;
• não use pastilhas, sprays, anestésicos sem orientação médica, pois para cada
caso existe uma medicação específica, portanto nunca se automedique;
• evite alimentos gordurosos e "pesados" antes das apresentações, pois dificultam
a digestão;
• dê preferência aos alimentos leves e de fácil digestão (verduras, frutas, peixe,
frango);
• durma bem; procure dormir, no mínimo, 8 horas por dia;
• não durma de estômago cheio, pois pode provocar refluxo gastresofágico que é
altamente prejudicial às pregas vocais;
• não cante se estiver doente! Quando cantamos envolvemos todo o nosso corpo
e gastamos muita energia, então recupere-se antes de voltar a cantar;
• evite ficar exposto por muitas horas em ambiente que utiliza ar-condicionado,
pois provoca ressecamento das pregas vocais. Em casos onde isso não for
possível, procure estar sempre lubrificando as pregas vocais com água ou suco
sem gelo;
• evite ambiente com mofo, poeira ou cheiros muito fortes, principalmente se você
for alérgico;
• evite a competição sonora, ou seja, falar ou cantar em lugares muito barulhentos;
• evite choques bruscos de temperatura;
• evite bebidas geladas;
• evite cochichar, pois ao contrário do que pensamos, no ato de cochichar
submetemos nossas pregas vocais a um grande esforço provocando um
desgaste muitas vezes maior do que se conversarmos normalmente;
• evite gritar, pigarrear, falar durante muito tempo sem lubrificar as pregas vocais,
fumar, ingerir bebidas alcoólicas antes de cantar para "melhorar" a voz.

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PROCESSO DE MUDA VOCAL

Até aproximadamente 11 anos de idade, se verifica pouca diferença entre o aparelho


vocal do menino e o da menina, sendo a extensão da voz cantada igual para ambos os
sexos. Por esse motivo, as vozes infantis devem ser tratadas identicamente nessa
etapa.

No momento da puberdade a criança se depara com o fenômeno da muda vocal. Ou


seja, a voz abandona o timbre infantil e suas características peculiares para
amadurecer e adquirir o timbre adulto. A muda vocal é normalmente aceita como
consequência de uma alteração fisiológica, muito mais acentuada nos meninos e do
que nas meninas, nas quais a transição se produz muito mais rápida e silenciosamente.

A muda vocal ocorre entre 14 e 16 anos e se apresenta como um sinal exterior do


crescimento da laringe. No período da muda, as pregas vocais se alargam e ao término
desta etapa, após um desenvolvimento normal, as pregas vocais masculinas revelam
um aumento de um centímetro de comprimento, ao passo que as femininas crescem
apenas de três a quatro milímetros.

Por esse motivo, a voz do “rapaz” desce uma oitava, encorpa-se, aumenta de força e
adquire o timbre masculino; enquanto que nas meninas abaixa somente algumas notas,
uns três tons, e, embora as mudanças não sejam tão agressivas, o timbre da sua voz
ganha maturidade.

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ENVELHECIMENTO DA VOZ

Ao contrário da puberdade, quando a voz de todos muda, as alterações na voz com o


envelhecimento não são universais. Existem dois motivos principais pelos quais sua voz
pode mudar com a idade:

- Um mecanismo vocal de envelhecimento –


causa mais comum de uma alteração na voz
conforme a idade avança é o envelhecimento
da caixa vocal e do sistema respiratório que
alimenta a voz. O envelhecimento pode trazer
uma perda de flexibilidade. As articulações da
laringe podem ficar rígidas e sua cartilagem
pode calcificar. As pregas vocais podem
perder tônus muscular, flexibilidade e
elasticidade e ressecar.

Às vezes, os músculos da laringe podem


atrofiar, tornar-se mais finos e fracos. Suas
costelas podem ficar mais calcificadas. Seu
torso pode encolher e seus pulmões podem
ficar menores, mais rígidos e menos flexíveis.

- Um declínio no estado geral de saúde - às


vezes, uma mudança na voz pode ser o prenúncio de um problema médico em
desenvolvimento. Por exemplo, fadiga crônica e problemas neurológicos podem causar
tremores na voz. A voz também pode mudar devido a lesões benignas (nódulos,
pólipos) ou malignas (câncer), ou se uma das pregas vocais ficar paralisada.

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O MAU USO DA VOZ

Deve-se ter em mente que o mau uso da voz não começa ao cantar de maneira errada,
mas sim ao falar de modo errado. Os cantores estão duplamente expostos a ter
problemas nas pregas vocais como calos, fendas e nódulos. Por isso, é necessário
saber como preservar a voz tanto ao falar quanto ao cantar.

O início dos problemas nas pregas vocais pode ser sutil, com uma rouquidão
esporádica, uma fadiga vocal momentânea, entre outros sintomas. No entanto, este é
um assunto extremamente importante para ser ignorado, pois, às vezes, o descaso
pode levar à perda completa da voz.

Cantar e falar fora do próprio timbre natural pode provocar uma descaracterização da
voz e, com, isso, gerar a perda de qualidade da emissão vocal. Quando há excesso de
compressão, as pregas vocais ficam muito apertadas e isto pode ser devido a tensões,
falta de orientação técnica, e resulta em um som gutural, provocando tensão nos outros
músculos relacionados à produção vocal.

A maioria das pessoas acredita em certas formas de terapia para tratar a voz. Essa
crendices são infundadas, portanto, incorretas. Alguns métodos caseiros podem até ser
úteis, porém durante períodos limitados, apenas “mascarando” os sintomas verdadeiros
sem eliminar a causa do problema, que pode ser uma vocalização incorreta, o uso
abusivo da voz ou até mesmo problemas como a faringite.

Ao menor sinal de que algo não vai bem com as pregas vocais ou qualquer outro órgão
do aparelho fonador, é necessário procurar um especialista (otorrinolaringologista,
fonoaudiólogo).

23
ENTOAÇÃO NA VOZ FALADA E CANTADA
ÇÃO

Durante a fala o tom de voz muda constantemente, tornando-se difícil construir a sua
linha melódica apenas através da percepção auditiva. Na voz falada praticamente não
existem situações em que o tom permaneça constante; ou sobe ou desce por intervalos
muito reduzidos, inferiores a ¼ de tom. Na voz cantada podem acontecer intervalos
maiores de tom, mas geralmente é mais fácil segui-los e reproduzi-los numa partitura.

A entoação de uma frase corresponde então ao modelo de mudanças de tom que


ocorre nessa frase. Ela pode ser definida pelos parâmetros definidos para a
acentuação; pode definir-se pelas variações da frequência fundamental, da Intensidade,
da energia e da duração de cada segmento ao longo de uma sequência de fraseados; o
que importa considerar na entoação são as diferenças de valor na sequência e não os
valores absolutos dos índices. A entoação pode ser usada de uma forma rica e variada
(com saltos de tonalidade mais ou menos próximos) ou igual (voz monótona), de forma
ascendente ou descendente.

Na língua de um país ou região as entoações de diferentes tipos de frase não são


totalmente livres; há algumas regras que de certo modo produzem “clichés melódicos”.
Experimentando realizar vocalmente linhas melódicas sem palavras, e pretendendo
associar-lhes um texto ou uma intenção, é muito provável que as interpretações de
várias pessoas diferentes entre si, ou o tipo de discurso encontrado pelos ouvintes, seja
semelhante. Tomando como exemplo as frases interrogativas, é muito frequente que
elas tenham uma subida melódica muito evidente na última sílaba, atingindo o registro
agudo da pessoa.

A entoação reveste-se assim de uma importância primordial na caracterização do estilo;


mas esta característica não possui individualidade própria, se inter-relacionando
permanentemente, num ato de fala, com as outras características e com os parâmetros
acústicos que as justificam. Por isso a importância de trazer as peculiaridades da voz
falada para a técnica vocal aplica à melodia, como recursos de dinâmica e interpretação
musical.

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O FALSETE E A VOZ DE CABEÇA

O nome “falsete” vem de “som falso”. No entanto, ao longo dos anos, muitos cantores
demonstraram que não há nada de falso nisso. É uma técnica vocal muito útil que
possui uma qualidade delicada e emocional. As pregas vocais ficam ligeiramente
separadas quando cantamos o falsete; o ar passa por elas e as mesmas não se unem
integralmente. É fácil confundir a voz da cabeça e o falsete. Isso ocorre porque ambos
se encontram nas regiões mais agudas da voz e têm um som semelhante. Vejamos a
principal diferença: quando estamos cantando em "voz de cabeça", as pregas vocais se
unem e isso produz um som com maior profundidade e consistência do que o falsete;
quando cantamos em falsete, as pregas vocais ficam ligeiramente separadas e isso
permite uma passagem de ar que gera o som mais soproso.
A voz de cabeça e o falsete são qualidades vocais importantes a serem desenvolvidas
e ambos têm suas vantagens. O falsete é inegavelmente belo, mas se for usado
excessivamente, pode prejudicar a voz. Se usarmos muito falsete, com o tempo a voz
perderá qualidade. O falsete é uma maneira fantástica de adicionar nuances ao canto.
Tem uma bela qualidade arejada que pode realmente conectar com seu público. Para
fazer seu falsete funcionar, cante alto em seu alcance e encontre aquele lugar onde seu
tom fica suave e soando como uma flauta.
Portanto, se desejamos criar um som de falsete por longos períodos, podemos
desenvolver uma voz "mista" nas partes superiores da extensão vocal e teremos um
som muito semelhante. A longo prazo, isso é ideal, pois produzirá maior flexibilidade,
sem causar danos à saúde vocal.

- voz de cabeça, exercendo o atrito das pregas vocais


e produzindo o som mais forte consistente;

- falsete, com o leve afastamento das pregas vocais,


permitindo maior passagem de ar e gerando o som
mais soproso.

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PARÂMETROS DO SOM

Sons são frequências, medidas em Hertz (o som do diapasão – nota Lá – por exemplo,
é 440 Hz) e contém as propriedades abaixo:

● DURAÇÃO – é o tempo de produção do som / pode ser mais longo ou mais curto;
● INTENSIDADE – é a propriedade do som ser mais forte ou mais fraco;
● ALTURA – é a propriedade do som ser mais grave ou mais agudo;
● TIMBRE – é a qualidade do som que permite reconhecer sua origem. É pelo timbre
que sabemos se o som vem de um piano ou um teclado, um baixo acústico ou elétrico e
etc. No meio musical, usamos o termo timbre para distinguir os diversos sons que um
mesmo instrumento pode produzir, por exemplo: existem vários tipos de “timbres” de
piano, inclusive com efeitos eletrônicos. Todo e qualquer som musical tem,
simultaneamente, os quatro parâmetros. Na escrita musical, os parâmetros do som são
representados da seguinte maneira:

● duração – pelas figuras rítmicas (semínima, colcheia, fusa, etc);


● intensidade – pelos sinais de dinâmica;
● altura – pela posição da nota no pentagrama e pelas claves;
● timbre – pela indicação da voz ou instrumento que deve executar a música.

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USO DO MICROFONE

Muitas pessoas ficam inibidas com a projeção de suas vozes no microfone, mas é
preciso colocá-lo como um grande aliado. Com ele utilizamos menos força física,
podemos lapidar a emissão da voz aplicando mais ou menos intensidade, controlando a
articulação e outros mecanismos da técnica vocal. O importante é, como foi falado
anteriormente, se ouvir e perceber o encaminhamento da nossa voz com a utilização
desse recurso.

Para isso, plugue o microfone e siga treinando, falando, cantando com ou sem o
acompanhamento de um instrumento musical, tentando equalizar os graves, médios e
agudos, utilizando ferramentas como o "reverb” para aprofundar a percepção do seu
timbre. Quando estiver cantando, afaste um pouco o microfone no momento em que
emitir agudos; não afaste demais ao ponto de quebrar abruptamente a intensidade, a
não ser que tenha muita potencia vocal. Nos graves ou aplicação de uma voz mais
airada em momentos de baixa intensidade, procure aproximar mais o microfone.

Importante salientar que algumas letras requerem maior cuidado na pronúncia e


entoação no uso do microfone, como o “P”, que por se tratar de uma consoante de
bloqueio, produz aquele incômodo “puff”, e o “S” que quando prolongado pode trazer o
som de um assobio.

- A figura mostra a posição básica do microfone. Quando o som é


emitido, ele se projeta numa curva descendente e, desta forma, o
rosto não é encoberto.

- A técnica vocal ajuda a encontrarmos um equilíbrio no volume da voz


em suas regiões graves, médias e agudas. Contudo, é normal
colocarmos maior intensidade nas notas agudas e menor nas graves.
Por isso, nas notas mais agudas, convém afastar levemente o
microfone da boa. Cuidado para não afastar demais para não ocorrer
uma queda abrupta de volume.

- Aproxime o microfone nas notas graves e procure encontrar o


equilíbrio ideal. A percepção auditiva deve ser o guia para sentir essas
variações de intensidade.

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Professor formado em Licenciatura em Música pelo Centro
Universitário Metodista do Sul, Porto Alegre, RS, em 2009.

Pós-graduado em Estudos Culturais pela UFRGS, Porto Alegre,


RS, em 2013.

Experiência com canto coral no Coro de Câmara da UFRGS


por três anos atuando como tenor. Além de trabalhar com
grupos vocais de diversas congregações em Porto Alegre e
região metropolitana.

Professor de música em escolas regulares e atuante no ensino


particular de teoria musical, violão, teclado e canto.

NOÇÕES BÁSICAS

DO

CANTO
OSEIAS LEANDRO

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