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Oficina de

Canto
Coral Infantil

Isaías Monteiro

Manaus, 2017
Oficina de
Canto
Coral Infantil

Isaías Monteiro*

“A Música começa no ser humano. Não começa com um


instrumento em sua primeira posição e com o primeiro dedo, não
começa por um ou outro acorde. Primeiro teremos que estudar
nosso próprio silêncio, nosso próprio interior e prepararmo-nos
para a música escutando nosso próprio pulso e respiração”

(Carl Orff, 1932)

No Coro Infantil, a criança participa ativamente do fazer musical através do


corpo, desenvolvendo a audição interior e aprendendo noções que trarão
benefícios para todas as áreas de sua vida.

Socialização Concentração

Sensibilidade

Emocional Disciplina
Organização do Coro

Número de participantes

Não existe um número definido de participantes de um coro infantil. A


disciplina e inquietação, traços característicos nas crianças, faz com que
pensemos que grupos pequenos são mais fáceis de ser conduzidos. Porém,
questões como volume, divisão de vozes e crianças com dificuldades de afinação
são mais difíceis de serem trabalhadas em grupo reduzido.
O número pode variar dependendo de outros fatores como espaço físico, duração
do ensaio, número de pessoas que atuam junto ao grupo, etc.

Faixa etária

Cada idade tem suas próprias características físicas, emocionais, intelectuais e de


sociabilização.
Vejamos:
 2 anos, a criança é capaz de cantar versos soltos, fragmentos de canções,
geralmente fora do tom. Reconhece algumas melodias e cantores. Gosta de
movimentos rítmicos.
 3 anos, a criança consegue reproduzir canções inteiras embora geralmente fora
do tom. Tem menos inibição para cantar em grupo. Reconhece várias melodias.
 4 anos, a criança progride no controle da voz. Participa com facilidade de jogos
simples, cantados.
 5 anos, a criança entoa mais facilmente e consegue cantar melodias inteiras.
Reconhece e gosta de um extenso repertório musical.
 6 anos, a criança percebe sons ascendentes e descendentes. Identifica as
fórmulas rítmicas, os fraseados musicais, as variações de andamento e a duração
dos valores sonoros.
 7 anos, a criança expõe e defende suas ideias. Ouve em silêncio, acompanha a
melodia e o ritmo da música.
 8 anos, a criança é mais rápida em suas próprias reações e também compreende
melhor as dos demais.
 9 anos, a criança adquiri maior domínio de si mesma. Gosta muito de conversar.
É capaz de distinguir os elementos da música: melodia, ritmo, harmonia.
 10 anos, a criança facilmente cria sonoplastias para histórias e trilhas sonoras.
Canta a duas ou três vozes. Gosta de cantar, mas não canções pueris.
 A partir dos 11 anos, o entusiasmo é o traço mais característico. Facilmente
perde a sua própria identidade em função do grupo.
Todas essas características variam de crianças para crianças, e seu desenvolvimento
pode ser acelerado pela interferência do trabalho de musicalização realizado na escola
ou na igreja.
Equipe de trabalho

É sempre mais cansativo trabalhar sozinho. Além do acúmulo de atividades e


responsabilidades, não há com quem dividir as dificuldades e conquistas.
O trabalho em conjunto envolve deveres e direitos mútuos. É preciso conviver
com delegação de responsabilidades, estabelecimento de limites, respeito e
aceitação de opiniões contrárias, mas tudo isso torna o cumprimento dos
objetivos uma tarefa mais fácil e agradável.

Ficha do cantor

Para que se conheça melhor a criança, deve manter um arquivo de fichas com os
dados pessoais de cada uma delas, tais como: nome: endereço, nome dos pais,
telefone para contato, informações sobre a vivência musical, etc.

Preparação do espaço físico

Perfil e papel do regente

 Gostar de criança e do trabalho que vai realizar;

 Ter liderança e equilíbrio;

 Ter noções básicas de Psicologia Infantil, Pedagogia e Didática;

 Ter pelo menos conhecimento básico de música;

O Regente precisa
 Estabelecer uma comunicação visual, verbal e gestual direta, firme e
amável para com os coristas;

 Orientar o coro sobre o que ensaiará e como fará;

 Dinamizar e fazer fluir o ensaio;

 Evitar situações que possam causar aborrecimentos ao grupo;

 Motivar e estimular;

 Recapitular e avaliar;
Repertório – análise, escolha e preparo

 O que cantar e como cantar

 Escolher o repertório e comentar o tema.

 Interpretação – Conhecer a música: frase, articulação, dinâmica,


tempo e dicção.

 Marcação/Compasso– pulso

COMO ENSINAR O REPERTÓRIO:


1º passo: “Cante primeiro a canção por inteiro” (com ou sem instrumento, ou usando
playback). Estude a música antes de ensiná-la.
2º passo: “Leia a letra com as crianças e explique o significado da canção e das
palavras difíceis”.
3º passo: “Cante-o com as crianças”. As canções mais elaboradas devem ser
ensinadas em partes.
4º passo: Durante o aprendizado, corrija os erros de melodia e letra que as crianças
possam ter cometido.
5º passo: Deixe que as crianças cantem sozinhas.
6º passo: Repita a música.

 Outras dicas

 Canção com ostinato

 Cânone

 Escutar o canto com uma gravação ou com a voz e acompanhamento.

 Ler a letra lentamente e com expressividade (como se estivesse


contando uma história);

 Memorização;

 Afirmar a melodia, o andamento, a intensidade e a expressividade;

 Fazer a música à capela;

 Cantar com o acompanhamento;


A voz infantil

Caracteriza-se pelo seu timbre claro, sem vibrato e extensão praticamente sem
graves. Aproxima-se da voz adulta feminina, mas é mais frágil, menos
encorpada no som médio e mais brilhante nos agudos.

De maneira geral, no início de um trabalho verifica-se uma tessitura bem menor


do que esta. A conquista da tessitura ideal é um dos objetivos do trabalho vocal.
Cantando em conjunto, a criança poderá fazê-lo cada vez melhor e sem
constrangimento.

Para possibilitar a divisão dos grupos (três ou mais), o ideal é que as crianças
conquistem a extensão de duas oitavas. No início do trabalho, a voz infantil não
apresenta características muito definidas que permitam classificá-las como
soprano, mezzo ou alto antes da muda vocal.

É importante observar que até a muda vocal, meninos e meninas têm o mesmo
alcance vocal. A muda vocal acontece para meninos e meninas entre 12 e 15
anos.

Extensão

A melhor região para voz infantil é o agudo. É nessa direção que, tanto meninas
quanto meninos, tem mais espaço para ampliar sua extensão vocal.

É também no agudo que a voz infantil tem mais brilho e volume.


Criança que não afina!?

Possíveis causas da desafinação na voz infantil podem ser:

Utilização inadequada da tessitura, músicas em regiões muito graves para a voz infantil;

Falta de conhecimento técnico: respiração deficiente, postura errada, tessitura limitada;

A criança apresenta distúrbio na voz tais como: voz rouca, com excesso de ar (soprosa),
nasalada, estridente, não compatível com a idade cronológica (muito grave ou aguda);

Temperamento: O tímido - tem vergonha da voz e faz com que a emissão seja insegura,
frágil e, portanto imprecisa.

O desatento- afinação é uma prática de concentração. Para repetir com precisão, é


necessário ouvir com atenção.

O que fazer?

 Criança que não afina;

 Um processo, uma ordem;

 Ensinar uma canção simples;

 Colocar as crianças da mesma faixa etária juntos;

 Caminhar pelo grupo para conhecer e identificar as vozes que estão


desentoando;

 Uma criança afinada para exemplificar;

 Buscar exercícios para encontrar a voz cantada;

 Cantar em tessitura média alta;


Preparação do coral

 Técnica vocal
Exercícios carregados de ludicidade facilitam o trabalho e conquistam a vontade da
criança em relação a atividade. Fazer com que a exigência técnica transforme-se em
jogo é uma maneira de manter o interesse, mesmo na repetição da atividade.

Princípios básicos desenvolvidos pela técnica vocal

Relaxamento
Relaxamento/postura – a atuação vocal envolve o corpo todo e não só o pescoço.
Uma boa postura facilita o desempenho do aparelho respiratório, melhorando
consequentemente, a qualidade do som. Cansa menos e confere um bom aspecto a
quem está cantando. É importante, porém, não confundir boa postura com
apresentação estática militar. O movimento natural contribui para precisão rítmica,
melhora o fraseado e torna o grupo mais expressivo.

Não é normal que crianças já apresentam problemas de tensão. No coro infantil, o


relaxamento deve ter a função de criar um estado adequado à produção. A criança
chega com um ritmo diferente daquele que o trabalho exige. Portanto, é um
relaxamento ativo, voltado para a prontidão, que não deve ser confundido com
desabamento de postura.

Existem muitos exercícios de relaxamento que podem ser feitos com crianças.

1. Vamos endurecer o corpo todo. Desde os pés até o pescoço, os braços, tudo.
Apenas por alguns segundos. A uma ordem, todos soltam tudo e deixam o corpo
cair para frente e soltam inclusive a cabeça.
2. Vamos brincar de “Eu sou um picolé”. O Sol começa a esquentar e “derreter” o
picolé. À medida que as crianças vão derretendo, vão soltando o corpo,
abaixando-se e perdendo a cabeça até ao chão. Ficam-se alguns segundos assim.
3. Vamos brincar de “deixar a cabeça cair”. Ficamos retos, não duros. Agora
deixamos cabeça cair para frente, depois para trás, depois para um lado, depois
para o outro lado. Repetimos isso algumas vezes.
4. Vamos brincar de boneco que tem os braços de pano. Abrem-se um pouco as
pernas para dar um equilíbrio. Soltam-se totalmente os braços, de maneira que
perdemos o controle sobre eles. Aí começamos a girar o corpo lentamente, para
um lado e para o outro, aumentando a velocidade. Isso fará com que os braços
batam no corpo, totalmente sem controle.
Respiração;
Respiração- a respiração é um procedimento natural do corpo que não deve ser
transformado em dificuldade para a criança. O professor que tiver atuação
correta e segura em relação a esse assunto evitará explicações que podem mais
confundir do que esclarecer.

Sugestões de exercícios

 Solte bem os braços e o pescoço. Respire lentamente e calmo, encha a


“barriga”, solte devagar e tranquilo. Repita algumas vezes.
 Vamos aprender a dosar o ar. Tome mais ar, quando contar até seis. O ar
deve acabar quando terminar a contagem, Agora conte até cinco. Tome
menos ar. Da mesma forma, o ar deve acabar quando terminar a contagem. E
assim sucessivamente até chegar em um.
 Inspire lentamente por apenas uma narina, e solte o ar pela outra que deve
estar fechada com um dos dedos. Depois inspire pela mesma com que
expeliu o ar, e expire pela que estava fechada com um dos dedos. Deve ser
tudo bem lento.

Ressonância
A voz como todo instrumento, possui caixas de amplificação, ou seja, o som, que é
produzido pelas pregas vocais, é modificado nas cavidades da cabeça e pescoço, que
funcionam como alto falantes; faringe, boca nariz e seios da face. A esta modalidade dá-
se o nome de ressonância.

Sugestões de exercícios

 Imitar o zumbido de uma abelha com a letra M


 Cantar pequenos trechos utilizando sílabas como: ma, me, mi, mo, um, gun,
gan, nam, blim, blem, blom.
 Aproveitar a sonoridade do próprio texto da canção.

Articulação e dicção
Nossa voz soa com as vogais, mas com a articulação é defendida pelas consoantes. Elas
são fundamentais para que não haja comprometimento do ritmo. A dicção deve ser clara
para que o texto seja compreendido.

Sugestões de exercícios:

 Brincar com caretas, dar sorrisos, jogar beijos, estalos com a língua, som com os
lábios, imitar sons como de passarinhos, de água pingando, motor de carro, sinos
tocando etc.
 Cantar música com uma só vocal.
 Falar e cantar trava línguas.
Vocalizes;
 Vocalizes são exercícios cantados, criados com a facilidade de ajudar na melhor
colocação da voz.
 Temos sempre que ter como objetivo um som igual no grupo, com um timbre
agradável, sem perder a pureza e característica infantil.
 Não deve ser gritado. A voz infantil perde seu encantamento quando é
estimulada a gritar. Deve-se sempre evitar o incentivo a isso.
 Ensinar vocalizes é uma arte muito especial. Não deve ser feito de modo que a
criança perca o estímulo. A criatividade é muito importante nesse momento,
para que a criança goste e queira cantar.

Musicalizar .
É levar a criança a entender a natureza da música e a encará-la com familiaridade e
prazer e a perceber a importância de “brincar” com o material sonoro.
É trabalhar conscientemente os conceitos de estrutura do som e seu relacionamento.
É desenvolver sua capacidade musical atuando de maneira individual e em grupo.
É permitir que haja associação no trabalho sensorial (físico), sensível (afetivo) e
intelectual.
A partir da percepção do objeto sonoro, ela chegará ao conceito musical. Ela precisa
ouvir perceber, executar, improvisar, analisar, ordenar, discutir para chegar ao seu
próprio conceito. Cada um desenvolve seus conceitos por meio de experiências
pessoais.

Fases/conteúdos I II III IV

SOM X SILÊNCIO Som x Não-som Som de dentro e Ouvido Interno Apresentação dos
Estátuas Fora da sala mesmo material símbolos do som
Sonoplastia e de silêncio
TIMBRE Sons do corpo Timbre de materiais Timbre com o Apresentação dos
Bandas do corpo diferentes (papel, lata, sons dos instrumentos
plástico, vidro)
INTENSIDADE Muito forte x Códigos vivos Códigos vivos com Apresentação dos
Muito fraco registros códigos de intensidade
Estátuas
DURAÇÃO Longos x Curtos Pulso, apoio e ritmo Figuras de ritmo Compassos simples
Estátuas da letra simples
ALTURA Graves x Agudos Graves, médios Sons ascendentes Sons com 2 e 3
Estátuas e agudos e descendentes alturas diferentes
Gráfico de som
Referências

CHAN, Thelma; CRUZ, Thelmo. Divertimentos para corpo e voz: Exercícios


musicais para crianças, 2001.

Programa N. de Coros (2004). Programa Básico de Dirección de Coros


Infantiles. Bogotá, D.C.: PNMC Ministerio de Cultura.

Programa N. de Coros (2004). Introducción a la Pedagogía Vocal Para Coros


Infantiles. Bogotá, D.C.: PNMC Ministerio de Cultura.

REAM, A.W. Um estudo sobre a voz infantil: para pais e professores. Imprensa
Metodista: São Paulo, 1973.

Revista de música “Louvor”. Ano 27. vol 01. Ano 1998. 1 T 04.

*Isaías Monteiro, natural de Manaus é especialista em Metodologia do Ensino em Música pelo Instituto Pedagógico
de Minas Gerais e Psicopedagogia e Gestão Escolar pela Universidade Estácio de Sá. Licenciado em Música com
habilitação em Regência pela Universidade do Estado do Amazonas. Têm dedicado seus estudos e pesquisa na área da
Educação Musical e Canto e têm ministrado cursos de capacitação em Musicalização e Canto Coral em Manaus e
outras capitais brasileiras.
Professor Formador no Curso de Pós Graduação em Educação Musical na Modalidade EaD pela Universidade Aberta
Brasil 2014/2015 ministrando as seguintes Disciplinas: Pedagogia Musical no Brasil; Música e Mídia e Psicologia da
Educação Aplicada a Música.
Fez parte da comissão organizadora do EMCA- Encontros Musicalizando com Alegria, capacitação continuada desde
2016, onde também tem ministrado oficina de Canto Criativo.
Idealizador do projeto Oficina dos Sons, projeto esse que promove capacitações e oficinas na área da Educação
Musical para professores, pedagogos, pais e interessados no desenvolvimento do ensino musical.
Regente do Coral Infantil do Liceu de Artes e Ofício Claudio Santoro, e é membro do Coral do Amazonas desde o ano
de 2003.

(92) 982312612

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