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CENTRO DE HUMANIDADES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
MESTRADO ACADÊMICOEM CIÊNCIAS SOCIAIS
CAMPINA GRANDE
2023
RESUMO
A presente pesquisa tem como objetivo investigar as contradições existentes na atuação das mulheres
para o fortalecimento do modo de vida camponês nas comunidades rurais do município de Brejinho/
PE. Para tal, será adotada a abordagem qualitativa a partir da observação participante e realização de
entrevistas semiestruturadas com mulheres camponesas de três comunidades rurais do referido
município. No que se refere ao aporte teórico, será utilizado os seguintes autores (as): Bosetti (2012),
Wanderley (1996; 2015), Shanin (2008), Carvalho (2015), Nabarro (2021), Funnari (2016), Rapozzo
(2022) e Shiva (1995). Como aponta a literatura, as mulheres camponesas, ao longo da história, tem
desempenhado um papel central na salvaguarda e transmissão dos conhecimentos relacionados ao
modo de vida camponês. No contexto específico, o semiárido pernambucano, já existem trabalhos que
ilustram o papel das mulheres camponesas no processo de produção, reprodução e armazenamento das
sementes crioulas, bem como na organização social das comunidades rurais nas quais estão
envolvidas, mas esse tema é secundário nos estudos mencionados. Portanto, ainda se faz necessário
explorar mais profundamente o impacto das mulheres nesse contexto específico do campesinato,
destacando suas contribuições únicas e muitas vezes invisibilizadas para a conservação da diversidade
biológica, bem como para a conservação das práticas culturais e relações de sociabilidade inseridas no
meio rural. Espera-se com esse trabalho contribuir para um entendimento mais profundo do
protagonismo das mulheres na salvaguarda do modo de vida camponês, bem como denunciar a
invisibilidade de sua atuação. Igualmente, contribuir com a formulação de políticas e práticas que
reconheçam e promovam o papel vital das mulheres na conservação da diversidade biológica e
cultural, intrínsecas ao modo de vida camponês.
INTRODUÇÃO
Nas ciências sociais, assim como acontece em outras ciências, os fatos são descritos,
transcritos e marcados conforme seu aparecimento ou desaparecimento. No que tange ao
campesinato, essa classe social foi rotulada como “destinada ao fracasso e desaparecimento”
pelas teorias clássicas marxistas alinhadas ao paradigma do capitalismo agrário, levando em
conta a inserção do capitalismo no meio rural, através do processo de modernização da
agricultura (Bosetti, 2012).
Por outro lado, autores como Wanderley (1996; 2015), Shanin (2008), Sabourin (1999;
2009), Oliveira (1991; 2001), Nascimento Rosa e Stacciarini (2014), entre outros, alinhados
ao paradigma da questão agrária, afirmam que os(as) camponeses(as) criam e recriam seus
modos de vida, mesmo dentro do modo de produção capitalista. Isto é, não deixam de resistir
com suas técnicas tradicionais e com seus modos de vida (Oliveira, 2018). Esses sujeitos do
campo têm desenvolvido várias estratégias para resolver com criatividade os problemas
causados pela insustentabilidade do sistema de produção capitalista que afeta toda a
sociedade.
Dentro desse contexto, destaca-se o papel crucial desempenhado pelas mulheres
camponesas, que, ao longo da história, têm desempenhado um papel central na salvaguarda e
transmissão dos conhecimentos relacionados ao modo de vida camponês. O protagonismo
dessas mulheres na salvaguarda do modo de vida camponês acontece porque como bem
destaca Vandana Shiva (1995), as mulheres partem de uma perspectiva holística baseada em
um considerável respeito pela diversidade e aos princípios da natureza.
No contexto do Semiárido pernambucano, especialmente, do município de Brejinho,
Pernambuco, já existem trabalhos (Silva, 2021; Silva, 2022; Funnari, 2016) que ilustram o
papel das mulheres camponesas no processo de produção, reprodução e armazenamento das
sementes crioulas, bem como na organização social das comunidades rurais nas quais estão
envolvidas, mas esse tema é secundário nos estudos mencionados. Portanto, ainda se faz
necessário explorar mais profundamente o impacto das mulheres nesse contexto específico do
campesinato, destacando suas contribuições únicas e muitas vezes invisibilizadas para a
conservação da diversidade biológica, bem como para a conservação das práticas culturais e
relações de sociabilidade inseridas no meio rural.
Cabe destacar que para além da relevância acadêmica da pesquisa, existe uma
motivação pessoal para sua execução. O interesse em estudar essa temática surge na
graduação de Licenciatura em Ciências Sociais, no Centro de Desenvolvimento Sustentável
do Semiárido, da Universidade Federal de Campina Grande (CDSA/UFCG), ao desenvolver o
trabalho de conclusão do curso, no qual foi analisado o modo de vida camponês na
comunidade Caldeirão em Brejinho/ PE e verificar participação significativa das mulheres em
sua construção.
Como mulher, camponesa, militante nas causas sociais e do campo e habitante do
referido município me incomodou a invisibilidade das atividades produtivas, socioculturais e
políticas desenvolvidas pelas mulheres no meio rural dessa região. Como não cabia no recorte
escolhido para a monografia, acreditamos que o mestrado possibilitará aprofundar essas
questões. Esperamos contribuir para um entendimento mais profundo do protagonismo das
mulheres na salvaguarda do modo de vida camponês, bem como denunciar a invisibilidade de
sua atuação. Igualmente, acreditamos que este contribuirá com a formulação de políticas e
práticas que reconheçam e promovam o papel vital das mulheres na conservação da
diversidade biológica e cultural, intrínsecas ao modo de vida camponês.
QUESTÃO PROBLEMA
OBJETIVO GERAL
REFERENCIAL TEÓRICO
A fim de refletir sobre a problemática elencada acima, a pesquisa se propõe a trabalhar
com três conceitos-chave: campesinato, modo de vida e princípio feminino.
No que se refere ao conceito de campesinato, destacamos que a teoria do
desaparecimento do campesinato foi formulada inicialmente por Karl Marx no século XIX e,
posteriormente, teve continuidade por Lênin e Kautsky. A tese ganhou grande visibilidade no
campo acadêmico devido ao processo de industrialização/modernização da agricultura,
vivenciado na Inglaterra, Rússia e Alemanha em diferentes momentos, que significativamente
contribuiu para a diminuição da população do campo e, por conseguinte, do campesinato
(Bosetti, 2012). Diante desse contexto, os respectivos teóricos defendiam que a entrada do
capitalismo no campo, por meio do processo de modernização da agricultura, poderia levar ao
fim do campesinato e, automaticamente, do modo de vida camponês.
Como contraponto as ideias apresentadas pelos autores acima, Chayanov (1974)
defendia que:
O modo de produção capitalista era predominante, mas não único o que, por
seu turno, implica que a economia camponesa deveria ser tratada como um
sistema econômico próprio não capitalista, com análises e parâmetros
diferentes dos habituais (Chayanov, 1974 apud Carvalho, 2015, p. 08).
Nessa perspectiva, autores como Wanderley (1996; 2015), Shanin (2008), Sabourin
(1999; 2009), Oliveira (1991; 2001) e Nascimento Rosa e Stacciarini (2014) têm
desenvolvido trabalhos evidenciando a necessidade de estudar o modo de vida camponês para
que possamos aprender com essa categoria que tem desenvolvido diversas estratégias para
viver e resolver com criatividade os problemas causados pela insustentabilidade do sistema de
produção capitalista que afeta toda a sociedade.
Para Oliveira (2001, p.185) “o camponês não é um sujeito social de fora do
capitalismo, mas um sujeito social de dentro dele”. Para ele, essa existência do campesinato
no território brasileiro se dá mediante a própria contradição do sistema capitalista. No
entendimento de Wanderley (2015, p. 27), a existência do campesinato no Brasil já é algo
consolidado, porém é necessário “compreender, em cada caso, as estratégias – fundiárias,
produtivas e familiares” existentes, ou seja, o modo de vida camponês e as suas
especificidades.
No mesmo sentido, Shanin (2008, p. 28)ressalta:
Precisamos estudar os camponeses não só para ajudá-los, mas para
nos ajudar. Nós não temos que ensinar aos camponeses como viver,
nós é que temos que aprender com eles como viver e como resolver
problemas nos quais a maior parte da população está envolvida.
Especialmente aprender a partir da criatividade e multiplicidade de
respostas dos camponeses em situações de crise e de sua capacidade
para usar a família como instrumento para se defender de
calamidades.
Essas atividades destacadas pelos autores acima são, em sua grande maioria,
realizadas pelas mulheres camponesas. Como explica Wanderley (1996), as mulheres
camponesas realizam atividades pautadas na valorização dos trabalhos comunitários, nas
tradições culturais persistentes e/ou adaptáveis e na relativa autonomia socioeconômica. A
autora afirma que o campesinato enquanto modo de produção e de vida é extremamente
influenciado pelas mulheres camponesas.
Em concordância com ela, Oliveira (2018, p.1076) acrescenta que: “as camponesas
reproduzem fatores típicos do campesinato, apresentam relação de cuidado com a natureza e
realizam atividades agrárias, especialmente para a manutenção familiar e comunitária”.
No entanto, vale ressaltar que essas atividades agrárias desenvolvidas pelas mulheres,
ainda não são reconhecidas como trabalho, predominando a compreensão socialmente
construída de que essas ações são extensivas aos serviços domésticos e tidas como ajuda.
Como mencionado por Souza e Barros (2021), o menosprezo ou omissão do trabalho,
saberes e habilidades associadas ao feminino é praticada na tentativa de invisibilizar a
presença, atuações femininas em seus variados aspectos (socioeconômicos, culturais, políticos
e ambientais) e seu papel enquanto sujeito de luta e resistência.
Nesse tocante, Rapozzo (2022) faz a seguinte provocação:
Se o que as camponesas, agricultoras e trabalhadoras rurais realizam
não é trabalho, o núcleo doméstico, a comunidade e a sociedade
poderiam se reproduzir socialmente, economicamente, culturalmente e
politicamente sem o trabalho desenvolvido pelas mulheres em todos
os espaços e escalas da agricultura camponesa?(Rapozzo, 2022,
p.184).
METODOLOGIA
CRONOGRAMA
Bimestres
Atividades 2024 2025
01 02 03 04 05 06 01 02 03 04 05 06
Cursar Disciplinas Obrigatórias
Levantamento bibliográfico
Leitura e fichamento dos textos
Pesquisa exploratória
Participação em eventos,
inclusive Feira de sementes,
Saberes e Sabores de Brejinho
Realização de entrevistas nas
comunidades
Tratamento e análise dos dados
coletados em campo
Redação e revisão da dissertação
Entrega e apresentação da
dissertação
Bimestre 01: Março e Abril de 2024
REFERÊNCIAS
GIL, Antônio Carlos. Método e Técnicas em Pesquisa Social. 6. Ed. – São Paulo. Atlas,
2008.
OLIVEIRA, Larissa Carvalho. Perspectivas sobre o direito de produzir das camponesas. Ver.
Direito Práx, Vol. 10, N. 02, P. 1071- 1091. Rio de Janeiro, 2018.
RAPOZZO, Bruna Maria da Silva. Mulheres Camponesas e Trabalhadoras Rurais em
Movimento: Ressignificando Relações de Gênero, Trabalho, Saberes e Poderes na
Agricultura Camponesa do Sertão de Pernambuco (tese de doutorado). Universidade Federal
de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil, 2022.
SHIVA, Vandana. Abrazar la vida: mujer, ecología y desarrollo. Horas y Horas, Madrid.
1995.
SILVA, Valcilene. R.; SILVA, Aucilene. R.; PEREIRA, Mônica. C. Mulheres Sertanejas e
Agrobiodiversidade: um Olhar desde o Sertão do Pajeú, Pernambuco, Brasil. In: XXXII
Congreso Internacional ALAS Perú 2019: Haciaun Nuevo Horizonte de Sentido Histórico de
una Civilización de Vida., 2019, Lima PE. Anais do XXXII Congresso Internacional ALAS
Perú 2019, 2019.