Você está na página 1de 13

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE HUMANIDADES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
MESTRADO ACADÊMICOEM CIÊNCIAS SOCIAIS

O PROTAGONISMO DAS MULHERES NA CONSERVAÇÃO DO


MODO DE VIDA CAMPONÊS NAS COMUNIDADES RURAIS DO
MUNICÍPIO DE BREJINHO/PE.

Aucilene Rodrigues da Silva

Projeto de pesquisa apresentado à comissão para ingresso no Mestrado do


Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais- PPGCS/UFCG

Linha de pesquisa: Desenvolvimento, Ruralidades e Políticas Públicas


Orientadora: Ramonildes Alves Gomes

CAMPINA GRANDE
2023
RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo investigar as contradições existentes na atuação das mulheres
para o fortalecimento do modo de vida camponês nas comunidades rurais do município de Brejinho/
PE. Para tal, será adotada a abordagem qualitativa a partir da observação participante e realização de
entrevistas semiestruturadas com mulheres camponesas de três comunidades rurais do referido
município. No que se refere ao aporte teórico, será utilizado os seguintes autores (as): Bosetti (2012),
Wanderley (1996; 2015), Shanin (2008), Carvalho (2015), Nabarro (2021), Funnari (2016), Rapozzo
(2022) e Shiva (1995). Como aponta a literatura, as mulheres camponesas, ao longo da história, tem
desempenhado um papel central na salvaguarda e transmissão dos conhecimentos relacionados ao
modo de vida camponês. No contexto específico, o semiárido pernambucano, já existem trabalhos que
ilustram o papel das mulheres camponesas no processo de produção, reprodução e armazenamento das
sementes crioulas, bem como na organização social das comunidades rurais nas quais estão
envolvidas, mas esse tema é secundário nos estudos mencionados. Portanto, ainda se faz necessário
explorar mais profundamente o impacto das mulheres nesse contexto específico do campesinato,
destacando suas contribuições únicas e muitas vezes invisibilizadas para a conservação da diversidade
biológica, bem como para a conservação das práticas culturais e relações de sociabilidade inseridas no
meio rural. Espera-se com esse trabalho contribuir para um entendimento mais profundo do
protagonismo das mulheres na salvaguarda do modo de vida camponês, bem como denunciar a
invisibilidade de sua atuação. Igualmente, contribuir com a formulação de políticas e práticas que
reconheçam e promovam o papel vital das mulheres na conservação da diversidade biológica e
cultural, intrínsecas ao modo de vida camponês.

INTRODUÇÃO

Nas ciências sociais, assim como acontece em outras ciências, os fatos são descritos,
transcritos e marcados conforme seu aparecimento ou desaparecimento. No que tange ao
campesinato, essa classe social foi rotulada como “destinada ao fracasso e desaparecimento”
pelas teorias clássicas marxistas alinhadas ao paradigma do capitalismo agrário, levando em
conta a inserção do capitalismo no meio rural, através do processo de modernização da
agricultura (Bosetti, 2012).
Por outro lado, autores como Wanderley (1996; 2015), Shanin (2008), Sabourin (1999;
2009), Oliveira (1991; 2001), Nascimento Rosa e Stacciarini (2014), entre outros, alinhados
ao paradigma da questão agrária, afirmam que os(as) camponeses(as) criam e recriam seus
modos de vida, mesmo dentro do modo de produção capitalista. Isto é, não deixam de resistir
com suas técnicas tradicionais e com seus modos de vida (Oliveira, 2018). Esses sujeitos do
campo têm desenvolvido várias estratégias para resolver com criatividade os problemas
causados pela insustentabilidade do sistema de produção capitalista que afeta toda a
sociedade.
Dentro desse contexto, destaca-se o papel crucial desempenhado pelas mulheres
camponesas, que, ao longo da história, têm desempenhado um papel central na salvaguarda e
transmissão dos conhecimentos relacionados ao modo de vida camponês. O protagonismo
dessas mulheres na salvaguarda do modo de vida camponês acontece porque como bem
destaca Vandana Shiva (1995), as mulheres partem de uma perspectiva holística baseada em
um considerável respeito pela diversidade e aos princípios da natureza.
No contexto do Semiárido pernambucano, especialmente, do município de Brejinho,
Pernambuco, já existem trabalhos (Silva, 2021; Silva, 2022; Funnari, 2016) que ilustram o
papel das mulheres camponesas no processo de produção, reprodução e armazenamento das
sementes crioulas, bem como na organização social das comunidades rurais nas quais estão
envolvidas, mas esse tema é secundário nos estudos mencionados. Portanto, ainda se faz
necessário explorar mais profundamente o impacto das mulheres nesse contexto específico do
campesinato, destacando suas contribuições únicas e muitas vezes invisibilizadas para a
conservação da diversidade biológica, bem como para a conservação das práticas culturais e
relações de sociabilidade inseridas no meio rural.
Cabe destacar que para além da relevância acadêmica da pesquisa, existe uma
motivação pessoal para sua execução. O interesse em estudar essa temática surge na
graduação de Licenciatura em Ciências Sociais, no Centro de Desenvolvimento Sustentável
do Semiárido, da Universidade Federal de Campina Grande (CDSA/UFCG), ao desenvolver o
trabalho de conclusão do curso, no qual foi analisado o modo de vida camponês na
comunidade Caldeirão em Brejinho/ PE e verificar participação significativa das mulheres em
sua construção.
Como mulher, camponesa, militante nas causas sociais e do campo e habitante do
referido município me incomodou a invisibilidade das atividades produtivas, socioculturais e
políticas desenvolvidas pelas mulheres no meio rural dessa região. Como não cabia no recorte
escolhido para a monografia, acreditamos que o mestrado possibilitará aprofundar essas
questões. Esperamos contribuir para um entendimento mais profundo do protagonismo das
mulheres na salvaguarda do modo de vida camponês, bem como denunciar a invisibilidade de
sua atuação. Igualmente, acreditamos que este contribuirá com a formulação de políticas e
práticas que reconheçam e promovam o papel vital das mulheres na conservação da
diversidade biológica e cultural, intrínsecas ao modo de vida camponês.

QUESTÃO PROBLEMA

Como explica Wanderley (1996), as mulheres camponesas realizam atividades


pautadas na valorização dos trabalhos comunitários, nas tradições culturais persistentes e/ou
adaptáveis e na relativa autonomia socioeconômica. Essas atividades são, em sua maioria,
executadas a partir de conhecimentos adquiridos, guardados e repassados de geração para
geração, pautadas no cuidado com os bens comuns da natureza, com a reprodução social da
família e com a manutenção da vida em comunidade.
Todavia, essas atribuições, muitas vezes, não são reconhecidas como trabalho (vistas
como ajuda) e nem valorizadas, pois estão associadas ao universo feminino. Essa situação é
decorrente da cultura machista que legitimou o homem como sendo o propulsor e dirigente
em todas as esferas: produtivas, sociais, culturais, econômicas e políticas, invisibilizando a
presença e atuação feminina na sociedade como um todo e, especificamente, no meio rural
(Oliveira, 2018).
Diante dessa problemática, a pesquisa buscará responder a perguntas fundamentais,
como: como as mulheres percebem seu papel na conservação do modo de vida camponês e na
transmissão de conhecimento relacionado? Como as práticas das mulheres contribuem para a
biodiversidade biológica/cultural e para a resiliência dos sistemas alimentares locais? Quais as
contradições (protagonismo/invisibilidade) então presentes nas relações que envolvem as
atividades produtivas e socioculturais das mulheres camponesas do município de Brejinho?

OBJETIVO GERAL

Investigar as contradições existentes na atuação das mulheres para o fortalecimento do


modo de vida camponês nas comunidades rurais do município de Brejinho/ PE.
.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Averiguar as atividades produtivas realizadas por mulheres camponesas em


comunidades rurais do município de Brejinho, PE;
 Compreender as atividades socioculturais mantidas por essas mulheres em suas
comunidades;
 Analisar as contradições (protagonismo/invisibilidade) que envolvem as atividades
produtivas e socioculturais das mulheres camponesas no município de brejinho.

REFERENCIAL TEÓRICO
A fim de refletir sobre a problemática elencada acima, a pesquisa se propõe a trabalhar
com três conceitos-chave: campesinato, modo de vida e princípio feminino.
No que se refere ao conceito de campesinato, destacamos que a teoria do
desaparecimento do campesinato foi formulada inicialmente por Karl Marx no século XIX e,
posteriormente, teve continuidade por Lênin e Kautsky. A tese ganhou grande visibilidade no
campo acadêmico devido ao processo de industrialização/modernização da agricultura,
vivenciado na Inglaterra, Rússia e Alemanha em diferentes momentos, que significativamente
contribuiu para a diminuição da população do campo e, por conseguinte, do campesinato
(Bosetti, 2012). Diante desse contexto, os respectivos teóricos defendiam que a entrada do
capitalismo no campo, por meio do processo de modernização da agricultura, poderia levar ao
fim do campesinato e, automaticamente, do modo de vida camponês.
Como contraponto as ideias apresentadas pelos autores acima, Chayanov (1974)
defendia que:
O modo de produção capitalista era predominante, mas não único o que, por
seu turno, implica que a economia camponesa deveria ser tratada como um
sistema econômico próprio não capitalista, com análises e parâmetros
diferentes dos habituais (Chayanov, 1974 apud Carvalho, 2015, p. 08).

As ideias construídas por Marx, Lênin e Kautsky não foram confirmadas, o


campesinato não desapareceu. Já a ideia apresentada por Chayanov sobrevive até os dias e é
fundamental para a compreensão de que o campesinato desenvolve suas próprias maneiras de
existir e resistir. Acerca dessa perspectiva, autores como Guzmán; Molina (2013) e Carvalho
(2015) defendem que:
O campesinato sempre existiu e sempre vai existir; que ele encontra
formas de cooperação e cria espaço próprio dentro do modo de
produção no qual se produz e reproduz. Portanto, a tese do “fim do
campesinato” não tem fundamentação, serve apenas de instrumento de
luta ideológica para justificar o modelo dominante de produção
agrícola (Guzmán; Molina, 2013, p. 10).

O campesinato não é simplesmente uma forma ocasional, transitória,


fadada ao desaparecimento, mas ao contrário, trata-se de um sistema
econômico sobre cuja existência é possível encontrar as leis de sua
própria reprodução e desenvolvimento (Carvalho, 2015, p.08).

Nessa perspectiva, autores como Wanderley (1996; 2015), Shanin (2008), Sabourin
(1999; 2009), Oliveira (1991; 2001) e Nascimento Rosa e Stacciarini (2014) têm
desenvolvido trabalhos evidenciando a necessidade de estudar o modo de vida camponês para
que possamos aprender com essa categoria que tem desenvolvido diversas estratégias para
viver e resolver com criatividade os problemas causados pela insustentabilidade do sistema de
produção capitalista que afeta toda a sociedade.
Para Oliveira (2001, p.185) “o camponês não é um sujeito social de fora do
capitalismo, mas um sujeito social de dentro dele”. Para ele, essa existência do campesinato
no território brasileiro se dá mediante a própria contradição do sistema capitalista. No
entendimento de Wanderley (2015, p. 27), a existência do campesinato no Brasil já é algo
consolidado, porém é necessário “compreender, em cada caso, as estratégias – fundiárias,
produtivas e familiares” existentes, ou seja, o modo de vida camponês e as suas
especificidades.
No mesmo sentido, Shanin (2008, p. 28)ressalta:
Precisamos estudar os camponeses não só para ajudá-los, mas para
nos ajudar. Nós não temos que ensinar aos camponeses como viver,
nós é que temos que aprender com eles como viver e como resolver
problemas nos quais a maior parte da população está envolvida.
Especialmente aprender a partir da criatividade e multiplicidade de
respostas dos camponeses em situações de crise e de sua capacidade
para usar a família como instrumento para se defender de
calamidades.

Nesse tocante, Nascimento Rosa e Stacciarini (2014) apontam que o campesinato,


enquanto tipo social integrante do capitalismo, tem se deparado com novas condições
econômicas, sociais, culturais e desenvolvido estratégias de trabalho, de produção e
reprodução social.
É importante deixar claro que o campesinato do qual estamos nos referindo neste
trabalho não está independente ou desconectado do sistema global. Estamos considerando que
ele está atrelado a esse sistema, sob variadas formas. Nesse sentido, o desafio atual da
sociologia tanto do ponto de vista reflexivo como metodológico é compreender o modo de
vida camponês dentro da economia capitalista, buscando compreender quem são esses
sujeitos e suas formas de organização social e de permanência no campo.
O entendimento de modo de vida utilizado aqui se assimila as ideias externadas pelo
sociólogo Sorokin (1889; 1968 apud Nabarro, 2021) de que o modo de vida é um produto da
cultura e está associado ao convívio social, isto é, costumes, formas de interação, de agir,
pensar e viver.
Para retratar sobre o modo de vida camponês pedimos emprestado o conceito na
geografia, formulado por Suzuki (2013) que diz:
Poderíamos redefinir modo de vida pela forma como os moradores
percebem, vivem e concebem o espaço, mediados pelo conjunto de
suas práticas cotidianas e por sua história, posição que ocupam na
sociedade envolvente e forma específica que assegura a sua
reprodução social, constituindo-se no modo pelo qual o grupo social
manifesta sua vida. (../..) O modo de vida se realiza, então, a partir de
dimensões materiais e imateriais, como forma de apropriação e de
reprodução das relações sociais em que se inserem os sujeitos,
definindo práticas territoriais, com produção de territorialidades e
territórios, relacionados, assim, à sociedade e à natureza (Suzuki, 2013
apud Nabarro, 2021, p.30).

Para o autor só considerando as dimensões materiais e imateriais para compreender o


modo de vida e a relação de pertencimento dos sujeitos com o espaço a qual estão inseridos.
Sobre isso, Benfica, Carvalho e Witkoski (2019) enfatizam que:
A racionalidade camponesa detém o material, o imaterial, e não visa
exclusivamente à obtenção de lucro. Em um viés material, são
realizadas a produção e a comercialização de mercadorias para o
abastecimento familiar, a reprodução econômica da família e a troca
de bens entre os indivíduos. Em um viés imaterial, destaca-se o
etnoconhecimento, a troca de saberes entre os indivíduos, a
conservação da biodiversidade, a religiosidade, as crenças, os mitos,
entre outros (Benfica; Carvalho; Witkoski, 2019, p. 14).

Essas atividades destacadas pelos autores acima são, em sua grande maioria,
realizadas pelas mulheres camponesas. Como explica Wanderley (1996), as mulheres
camponesas realizam atividades pautadas na valorização dos trabalhos comunitários, nas
tradições culturais persistentes e/ou adaptáveis e na relativa autonomia socioeconômica. A
autora afirma que o campesinato enquanto modo de produção e de vida é extremamente
influenciado pelas mulheres camponesas.
Em concordância com ela, Oliveira (2018, p.1076) acrescenta que: “as camponesas
reproduzem fatores típicos do campesinato, apresentam relação de cuidado com a natureza e
realizam atividades agrárias, especialmente para a manutenção familiar e comunitária”.
No entanto, vale ressaltar que essas atividades agrárias desenvolvidas pelas mulheres,
ainda não são reconhecidas como trabalho, predominando a compreensão socialmente
construída de que essas ações são extensivas aos serviços domésticos e tidas como ajuda.
Como mencionado por Souza e Barros (2021), o menosprezo ou omissão do trabalho,
saberes e habilidades associadas ao feminino é praticada na tentativa de invisibilizar a
presença, atuações femininas em seus variados aspectos (socioeconômicos, culturais, políticos
e ambientais) e seu papel enquanto sujeito de luta e resistência.
Nesse tocante, Rapozzo (2022) faz a seguinte provocação:
Se o que as camponesas, agricultoras e trabalhadoras rurais realizam
não é trabalho, o núcleo doméstico, a comunidade e a sociedade
poderiam se reproduzir socialmente, economicamente, culturalmente e
politicamente sem o trabalho desenvolvido pelas mulheres em todos
os espaços e escalas da agricultura camponesa?(Rapozzo, 2022,
p.184).

Diante do exposto, acreditamos que a abordagem do princípio feminino nos ajuda a


refletir sobre o protagonismo e invisibilidade das mulheres no contexto do campesinato.
Especialmente, partindo do entendimento apresentado de que o campesinato é uma categoria
que existe e resiste ao modo perverso do capitalismo.
Para Vandana Shiva, o princípio feminino é “um projeto político, ecológico e
feminista que legitima a vida e a diversidade e elimina a legitimidade do conhecimento e de
práticas de uma cultura de morte que serve de base para a acumulação do capital” (Shiva,
1995, p.44).
A autora argumenta que a recuperação do princípio feminino é um desafio em virtude
da forma como a mulher foi excluída dos processos produtivos, políticos, econômicos e
científicos ao longo da história. É uma oposição por seu modo não violento de conceber o
mundo e atuar para manter a interconexão e diversidade da natureza. Permite uma transição
ecológica da destruição para a criatividade, da uniformidade à diversidade, do reducionismo
ao holismo e complexidade, vinculado a ideia do compartilhar.
Portanto, a perspectiva do princípio feminino é apresentada como uma possibilidade
de resposta as múltiplas formas de colonialidades e privações que padecem não somente as
mulheres, mas a natureza e as culturas não ocidentais. Representa a recuperação econômica
com base em princípios de solidariedade, a libertação da natureza, da mulher e dos homens
que dominando a natureza e a mulher tem sacrificado a própria humanidade. (Shiva, 1995,
p.96).
Apesar do camponês sempre prezar pela diversificação sabe-se que muitos aderiram
aos ciclos produtivos de cada época, a exemplo da pecuária, ainda que em pequena escala, do
algodão e do sisal no Semiárido nordestino, destinando boa parte do tempo de trabalho e das
terras para tais atividades.
Nesse sentido, conforme destacam Silva, Silva e Pereira (2019) as mulheres sertanejas
além de se juntarem aos homens nas atividades relacionadas à roça e ao gado, desempenham
um papel importante na garantia da segurança alimentar da família e na conservação da
biodiversidade. Pois, plantam nos arredores de casa para o consumo familiar, estão à frente
das hortas e executam diversas atividades relacionadas ao manejo dos bens naturais como a
produção e troca de sementes e de mudas com suas vizinhas.
A mulher camponesa está integrada à natureza de forma complexa. Como menciona
Vandana Shiva (1995) a mulher do campo produz e reproduz a vida não só biologicamente,
mas também através da sua função social de promover o sustento em interação com a
natureza. Ela não só recolhe e consome os frutos da natureza, mas também, faz produzir e
crescer as coisas. Ou seja, mulher e natureza em interação. A sua apropriação da natureza não
constitui uma relação de dominação, mas de cooperação com a terra.
O princípio feminino se baseia na ecodependência entre árvores, animais e cultivos, e
o trabalho das mulheres é responsável por manter esses vínculos na produção de alimentos.
Evidenciando que a agricultura que tem a natureza como modelo tem sido auto reprodutora e
sustentável porque os bens são renovados internamente (Shiva,1995).
Além dessas questões, trabalhar na perspectiva do princípio feminino é denunciar as
diversas colonialidades que existem contra a mulher e caminhar para além apontar as
resistências que as mulheres têm feito para superar a crise ecológica e as amarras do sistema
capitalista (Shiva, 1995). Resistência que começa na terra com diversidade, na conservação
das sementes crioulas, na produção de alimento para autoconsumo e fuga dos impérios
agroalimentares, na conservação dos conhecimentos tradicionais, nas tecnologias sociais e
organização social.

METODOLOGIA

A pesquisa será realizada em três comunidades rurais do município de Brejinho, a


saber: Vila de Fátima, São Joaquim e Serrinha. A escolha dessas comunidades levou em conta
a participação expressiva das mulheres em processos produtivos e em espaços políticos do
município.
Metodologicamente a pesquisa é de abordagem qualitativa (Triviños, 1987). A escolha
pela abordagem qualitativa se deu pelo entendimento de que o objeto de estudo das Ciências
Sociais por essência é dinâmico, complexo e interpretativo. Sendo assim, exige uma
abordagem que dê conta dessa complexidade.
A primeira etapa do estudo será constituída pela pesquisa bibliográfica, ou seja, o
levantamento bibliográfico de artigos no Google acadêmico, bancos de teses e dissertaçõesde
universidades visando delimitar a literatura e estudos sobre a temática.
Para a obtenção dos dados empíricos, serão realizados trabalhos de campo com
entrevistas com as camponesas de três comunidades rurais do município de Brejinho,
contendo perguntas acerca dos aspectos produtivos, socioculturais e políticos vivenciados por
elas nos espaços em que estão inseridas. Optou-se por essa técnica de coleta por considerar
adequada para atingir o objetivo aqui proposto, tendo em vista que:
A entrevista é bastante adequada para a obtenção de informações acerca do
que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer,
fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a
respeito das coisas precedentes (Selltlz, 1967 apud Gil, 2008, p.128).

Adicionalmente, cabe mencionar que a pesquisa tem características da pesquisa-ação


(Tripp, 2005), visto que a candidata desempenha algumas atividades no âmbito das
comunidades em estudo, a exemplo da organização da Feira anual de Saberes, Sementes e
Sabores do município de Brejinho, PE. Assim, nos trabalhos de campo serão realizadas ações
rotineiras nas comunidades e atividades específicas da pesquisa, mas em ambos os casos será
efetuada a observação participante, registros fotográficos e anotações no diário de campo. No
que se refere aos envolvidos diretamente na pesquisa empírica, pretendemos entrevistar
mulheres das referidas comunidades participantes (ou não) das associações comunitárias
rurais, mas também mulheres que atuam no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais e Movimentos Sociais do Campo.
Após a coleta, os dados serão analisados conforme análise de conteúdo formulada por
Bardin (1977), na qual os dados devem ser tabulados, categorizados e analisados. Para tal,
serão usados os programas Word e Excel na sistematização dos dados da pesquisa.

CRONOGRAMA
Bimestres
Atividades 2024 2025
01 02 03 04 05 06 01 02 03 04 05 06
Cursar Disciplinas Obrigatórias
Levantamento bibliográfico
Leitura e fichamento dos textos
Pesquisa exploratória
Participação em eventos,
inclusive Feira de sementes,
Saberes e Sabores de Brejinho
Realização de entrevistas nas
comunidades
Tratamento e análise dos dados
coletados em campo
Redação e revisão da dissertação
Entrega e apresentação da
dissertação
Bimestre 01: Março e Abril de 2024

REFERÊNCIAS

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 70. Ed. – Lisboa, 1977.

BENFICA; Thalita Pedrosa Vieira de Carvalho; CARVALHO, Martha Benfica do


Nascimento de; WITKOSKI, Antônio Carlos. Modo de vida camponês e identidade
indígena na comunidade Dom Pedro II, em Barcelos, AM. Dossiê Amazonas, Barcelos,
2019.

BOSETTI, Cleber José. O camponês no olhar sociológico: de fadado ao desaparecimento à


alternativa ao capitalismo. Revista IDeAS, v.5. n.2, p. 08-32, Rio de Janeiro, 2012.
Disponível em: https://revistaideas.ufrrj.br/ojs/index.php/ideas/article/view/87/87

CARVALHO. Joelson Gonçalves de. Camponês e campesinato: contribuições teóricas de


uma evidência empírica no Brasil. In: 39º Encontro Anual da Anpocs. São Paulo, 2015.
Disponível em: http://www.anpocs.com/index.php/encontros/papers/39-encontro-anual-da-
anpocs

FUNNARI, Juliana Nascimento. Um sertão de águas: mulheres camponesas e a reapropriação


social da natureza no Pajeú. Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco,
Brasil,2016.

GIL, Antônio Carlos. Método e Técnicas em Pesquisa Social. 6. Ed. – São Paulo. Atlas,
2008.

NABARRO, Sergio Aparecido. O Conceito Modo de Vida no Pensamento Social


Moderno. Revista Bibliográfica de Geografia y Ciencias Sociales. Vol XXVI, num 1.316.
Barcelona, 2021.

NASCIMENTO ROSA, M. do; STACCIARINI, J. H. R. Os camponeses: uma leitura


necessária. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEÓGRAFOS, 7, 2014, Vitória.
Anais...Vitória: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 2014.

_______AS ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO CAMPONESA NA LUTA PELA


PERMANÊNCIA NA TERRA: uma leitura a partir da Comunidade Ribeirão município de
Catalão/GO/Brasil. Goiás, 2012.

OLIVEIRA, A. U. Modo de Produção Capitalista, Agricultura e Reforma Agrária. São Paulo:


Labur Edições, 2007.

OLIVEIRA, Larissa Carvalho. Perspectivas sobre o direito de produzir das camponesas. Ver.
Direito Práx, Vol. 10, N. 02, P. 1071- 1091. Rio de Janeiro, 2018.
RAPOZZO, Bruna Maria da Silva. Mulheres Camponesas e Trabalhadoras Rurais em
Movimento: Ressignificando Relações de Gênero, Trabalho, Saberes e Poderes na
Agricultura Camponesa do Sertão de Pernambuco (tese de doutorado). Universidade Federal
de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil, 2022.

SABOURIN. Eric. Práticas de reciprocidade e economia de dádiva em comunidades


rurais do Nordeste brasileiro. Raízes Revista de Ciências Sociais e Econômicas. v.165.
n.20, p. 41-49, Campina Grande, 1999.

_______Camponeses do Brasil entre a troca mercantil e a reciprocidade. Hal open


science. Rio de Janeiro, RJ, 2009.

SHANIN, Teodor. Lições camponesas. In: PAULINO, E. T.; FABRINI, J. E. Campesinato e


territórios em disputa. São Paulo: Expressão Popular, p. 23-48, 2008.

SHIVA, Vandana. Abrazar la vida: mujer, ecología y desarrollo. Horas y Horas, Madrid.
1995.

SILVA, Aucilene Rodrigues. O modo de vida camponês: apontamentos a partir da


Comunidade Caldeirão em Brejinho – PE (monografia). Universidade Federal de Campina
Grande, Sumé, Paraíba, Brasil, 2022.

SILVA, Valcilene R. A complexidade da agroecologia no caminhar para


agroecossistemas e sociedades sustentáveis: uma mirada desde o Semiárido de Pernambuco
(Tese de Doutorado). Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil,
2021.

SILVA, Valcilene. R.; SILVA, Aucilene. R.; PEREIRA, Mônica. C. Mulheres Sertanejas e
Agrobiodiversidade: um Olhar desde o Sertão do Pajeú, Pernambuco, Brasil. In: XXXII
Congreso Internacional ALAS Perú 2019: Haciaun Nuevo Horizonte de Sentido Histórico de
una Civilización de Vida., 2019, Lima PE. Anais do XXXII Congresso Internacional ALAS
Perú 2019, 2019.

TRIPP, David. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica.Educação e Pesquisa. 31 (3).


Dez 2005. https://doi.org/10.1590/S1517-97022005000300009

TRIVIÑOS, A. W. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 1987.

WANDERLEY, Maria de Narareth Baudel. Raízes Históricas do Campesinato Brasileiro.


In: XX Encontro Anual da Anpocs. Caxambu, MG, 1996.

______O Campesinato Brasileiro: uma história de resistência. RESR, vol.52, 025-044,


Piracicaba, SP, 2014.

ZOUZA, Maria Aparecida; BARROS, Flávio Bezerra. Mulheres Camponesas do Cerrado:


lutas, resistência e legado. Tensões Mundiais, vol. 17, N.33, p.157-179, Fortaleza, 2021.

Você também pode gostar