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Resumen de ponencia
Esse artigo tem como objetivo discutir sobre o lugar da trabalhadora no rural brasileiro, as opressões e relações
sociais de poder a que estão submetidas, e o papel da auto-organização das mulheres do MST na construção
coletiva de um feminismo camponês popular. Para isso, partimos da compreensão da situação da mulher no meio
rural, determinada tanto pelo machismo e pelo patriarcado expressos nas relações de gênero e na divisão sexual
do trabalho estabelecida, como também pelo papel desempenhado pelo grande latifúndio e do agronegócio na
determinação da vida das trabalhadoras rurais. O artigo tem como ferramentas de análise do método materialista-
articulação entre estas três categorias dentro do recorte de gênero pretendido coloca em evidência a trabalhadora
rural, em sua identidade de mulher, camponesa, e de classe trabalhadora em si, e para si, que se põe em luta por
mudanças sociais no Brasil, e na América Latina. Tendo como referência um grupo de intelectuais como André
Gunder Frank, Vânia Bambirra, Theotonio dos Santos, Rui Mauro Marini, Heleieth Saffioti e Florestan
Fernandes, que problematizaram a ideia de que internamente nos países dependentes, articulada às transferências
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de valores ao exterior e à garantia dos lucros e rendas das classes dominantes, internas e externas, a necessidade
de gerar ainda maiores excedentes, aparece combinada com o uso de tecnologias avançadas com formas
“arcaicas” de relações sociais de produção, pautadas na superexploração dos trabalhadores em geral, e das
trabalhadoras rurais em especial. Trazem, portanto, contribuições importantes para a formulação da teoria da
Brasil. Encerraremos o debate com um estudo sobre a auto-organização das camponesas nos coletivos de gênero
do Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST como práxis organizativa de construção do feminismo
camponês popular. As relações de gênero entendidas na perspectiva de Faria e Nobre (2003), como relações de
poder, evidenciam que seu exercício apresenta-se bastante desfavorável às mulheres, tanto dentro do
assentamento, como da organização, das associações e cooperativas. O próprio Setor de Gênero, criado no
Encontro Nacional do MST em 2000, é fruto das históricas reivindicações por maior participação das militantes
nas instâncias políticas e na construção de novas relações sociais e de poder entre sexos dentro do próprio
Movimento e na sociedade como um todo. Com base em estudos clássicos, o setor abre a defesa sobre a
importância da participação das mulheres em todas as instâncias de decisão e organização, nas associações,
cooperativas e movimentos sociais. Assim, são vários os exemplos de lutas e vários os estudos realizados pelas
mulheres do MST auto-organizadas que nos levam a refletir sobre a construção do feminismo popular camponês
e a sua importância para a superação das relações de produção e reprodução impostas pelo atual modelo de
produção no campo. Nesse contexto, as mulheres aparecem no MST como protagonistas tanto nos processos de
luta pela terra e resistência no campo, como na produção de alimentos e reprodução de práticas agroecológicas,
pauperismo é que estas mulheres se colocam em luta, em um primeiro momento pela conquista da terra, e depois
para viver nela com sua família. Por que entendemos a reforma agrária em um sentido mais amplo, pois a luta
não para quando se conquista o chão, é preciso também viabilizar a condição de produção e reprodução da vida
nos assentamentos. Pensar essa condição é importante para a compreensão de qual camponesa estamos falando,
assentada da reforma agrária, que se põe em movimento e se auto-organiza em coletivos para a superação das
dificuldades econômicas e sociais. Não é uma camponesa em geral que este estudo pretendeu pôr em foco. É
particularmente aquela que se pôs em movimento na luta pela terra como militante do MST antes mesmo de ser,
e depois enquanto, feminista. O papel do MST na formação da consciência de classe dessas trabalhadoras rurais
não pode ser subestimado, pois como militantes orientam suas ações pela própria organização produtiva e
política de coletivos de mulheres proposta nos documentos e cartilhas de orientação do movimento. A auto-
organização das mulheres aparece desde as primeiras cartilhas do Setor de Gênero no MST. Do programa à
práxis, porém, encontram se imensos obstáculos e contradições que somente uma análise da realidade objetiva
concreta desses coletivos de auto-organização pode desvendar. O MST atua nessa perspectiva como instrumento
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de potencialização dos coletivos de mulheres nos assentamentos e acampamentos como importante forma de
luta, resistência e produção (CAMPOS,2005). A auto-organização das mulheres é fomentada pelas militantes nos
assentamentos na busca coletiva pela superação dos problemas econômicos e sociais. A discriminação de gênero
também se reproduz nas relações entre mulheres e homens no campo, no assentamento e no próprio movimento
social. Porém, como discutem Pinassi e Mafort (2012), nem todos entendem a luta das mulheres do MST nessa
dimensão mais ampla, sendo o Setor de Gênero, apesar de prever a participação também de homens desde sua
criação, um setor que ainda incomoda ao desvelar e lutar contra as práticas machistas e opressoras e propor
novas relações sociais para além dos laços patriarcais fortemente reproduzidos na sociedade em geral, e
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* Do Amaral
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA SOCIAL DA UFES - PPGPS. SERRA, Brasil
* Moreira
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA SOCIAL DA UFES - PPGPS. SERRA, Brasil
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