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RESOLUÇÕES I CONFERÊNCIA NACIONAL DE ORGANIZAÇÃO

COLETIVO FEMINISTA CLASSISTA ANA MONTENEGRO

APRESENTAÇÃO

Este Caderno de Resoluções foi elaborado a partir da I Conferência Nacional de


Organização do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro (CFCAM). A
conferência contou com etapas de núcleo, estaduais e nacional, nas quais, as
militantes do coletivo debateram profundamente as questões organizativas e
estruturais do CFCAM. As etapas de núcleo e estaduais ocorreram ao longo do ano
de 2021 e a etapa nacional foi realizada nos dias 21, 22 e 23 de janeiro de 2022,
com a participação de mais de 80 delegadas, representando 17 estados: BA, GO,
DF, SP, SC, AL, CE, PR, MG, ES, MT, RN, RS, RJ, PE, PI e PA. Seu conteúdo foi
elaborado e discutido exaustivamente por todas que querem a construção de uma
sociedade comunista e feminista.

1. Feminismo Classista

1. O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro é um coletivo do Partido


Comunista Brasileiro (PCB). Temos como linha estratégica o feminismo classista,
partindo do entendimento de que as relações sociais de classe, sexo/gênero e
raça/etnia, historicamente interligadas no desenvolvimento do capitalismo, não
podem ser analisadas e compreendidas separadamente. Visamos, com isso, a
organização estratégica do socialismo como via de chegada ao comunismo, em que
existirá uma sociedade sem classes e sem dominação entre sexos/gêneros e
raças/etnias, na qual a humanidade estará plenamente emancipada.

2. Para nós, do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, a questão central,


aquela que guia nossas análises e nossa ação, é a luta pelo fim da exploração da
classe trabalhadora, contra as opressões e dominações perpetuadas pelo modo de
produção capitalista. Em síntese, a luta de classes, ou aquilo que denominamos de
contradição capital-trabalho, é o que nos move sob uma perspectiva revolucionária.
3. Compreendemos que as relações sociais baseadas na dominação de sexo e de
gênero se estabeleceram em contextos anteriores ao surgimento do modo de
produção capitalista. Mais precisamente, a dominação da mulher tem origem em
conjunto com a divisão das sociedades em classes sociais. Dessa maneira, tal
dominação não é algo dado naturalmente ou sustentado a partir de condições
biológicas, mas construída socialmente.
4. A partir da complexificação das relações sociais que ocorreu de diferentes
formas nas sociedades coletivistas, desenvolveu-se um novo modelo de
organização societária, pautado na propriedade privada, na exploração do
trabalho, na apropriação do excedente produzido e na divisão sexual do trabalho.
Nesse contexto, a família monogâmica emergiu como base de sustentação da
sociedade de classes. Atribuíram-se assim, os papéis designados aos homens e
às mulheres no interior da família e espelhados em todas as esferas das relações
sociais, reforçando e se apropriando de uma relação de subordinação da mulher
ao homem.

5. A divisão sexual do trabalho designa as mulheres como principais responsáveis


pela reprodução social, ou seja, por todo o trabalho que cria e mantém a vida, não
apenas no sentido biológico, mas que também permite a manutenção das condições
necessárias para que a força de trabalho se renove diariamente. Neste trabalho,
incluem-se a criação e educação de crianças, os serviços domésticos cotidianos, a
atenção às pessoas idosas e que necessitem de cuidados e toda a gama de
atividades que suprem todas as condições materiais, sociais e culturais
fundamentais para a sociedade humana e a contínua produção capitalista.

6. Nas sociedades capitalistas, todo o trabalho de reprodução social é ocultado. A


geração de vidas também se volta para a produção de lucros e assim, esse
trabalho é não remunerado e naturalizado como aptidão biológica. A organização da
reprodução social é delegada às mulheres, considerando sempre as questões de
raça e classe como agravantes nesse processo. Assim, a divisão sexual do trabalho
busca manter as mulheres passivas, subordinadas e invisibilizadas, limitando sua
participação na sociedade.
7. Com o desenvolvimento do capitalismo, as mulheres passaram a receber
salários mais baixos e a ocupar os postos mais precarizados no interior das
fábricas, além de também serem responsáveis pelos trabalhos domésticos e de
cuidados, acumulando múltiplas jornadas e sujeitas a uma série de violências nos
âmbitos públicos e “privado” da família. Tais mecanismos se perpetuam até os dias
atuais.

8. Sabemos que não existe solução para a exploração e opressão da mulher na


sociedade capitalista, uma vez que é inerente a este sistema a exploração de uma
classe pela outra. A plena emancipação das mulheres, somente será possível em
uma nova sociedade, livre da divisão sexual e racial do trabalho, da propriedade
privada e da divisão de classes. Dessa maneira, compreendemos que a vida das
trabalhadoras em suas diferentes expressões de sexualidade e gênero, do campo e
da cidade, periféricas e/ou de comunidades tradicionais, PcDs, indígenas, negras,
quilombolas, ribeirinhas, precisam estar no centro das lutas comunistas, já que são
parte da totalidade do modo de produção capitalista. A mediação entre as pautas
imediatas, que perpassam pela manutenção da vida e melhores condições de
trabalho, alimentação, saúde, educação, moradia, transporte, cultura e lazer e a
estratégia socialista, deve orientar todas as nossas táticas de luta. As mulheres, em
toda sua diversidade, devem ser parte orgânica das lutas pelo fim da exploração do
trabalho, da propriedade privada e da sociedade de classes, para que possamos
efetivamente chegar a uma sociedade sem classes e livre de todas as formas de
opressão e dominação de sexo/gênero, raça/etnia e classe, na qual a humanidade
esteja plenamente emancipada.

9. A concentração e centralização ampliada de capitais e sua financeirização são


partes estruturantes da atual fase monopolista e imperialista do capitalismo. A
concentração de capitais impulsionou e impulsiona a extração de mais valia e a
expropriação, seja pela contínua retirada dos meios de subsistência que ainda
restam para a classe trabalhadora, seja pela remoção de direitos sociais e
trabalhistas, tornando assim, as(os) trabalhadoras(es) plenamente disponíveis para
a exploração do capital. As mulheres são as mais atingidas mundialmente pelo
processo de aumento da exploração, sendo a maioria na zona de pobreza e nas
profissões com as menores rendas, e os empregos mais precarizados.
10. As mudanças climáticas afetam principalmente os países de capitalismo tardio,
dependente e subordinado, afetando a vida de toda a classe trabalhadora, em sua
diversidade. Desta forma, a luta anticapitalista e o feminismo classista possuem
dentre suas bandeiras as ações na luta contra a exploração da natureza e as
crises ecológicas atuais, agudizadas após a última crise do capitalismo, afetando a
vida de toda a classe trabalhadora, especialmente dos povos originários,
populações ribeirinhas, trabalhadoras do campo e quilombolas.

11. Vivemos em um país no qual o capitalismo se consolidou de forma tardia,


dependente e subordinada às economias centrais, com um passado de colonização,
marcado pelo extermínio, escravização e/ou catequização dos povos originários e
africanos. Essas determinações históricas, econômicas e políticas conformam as
relações sociais no capitalismo e seus mecanismos de coerção e consenso de
classe.

12. Os processos de expropriação e aumento da exploração são amparados pelas


leis burguesas que são criadas ou modificadas de acordo com os interesses da
classe dominante, a exemplo no Brasil, do Projeto de Lei 490/2021 que propõe um
Marco Temporal para a demarcação das terras indígenas, cometendo o arbitrário
anacronismo ao afirmar que a presença de indígenas em terras brasileiras é datada
e posterior a chegada dos colonizadores. Destaca-se também a Emenda
Constitucional 95 que restringe a aplicação de recursos públicos em áreas
fundamentais para a vida da classe trabalhadora, as contra-reformas trabalhistas,
da previdência e administrativa, que intensificam a retirada de direitos e a
precarização das condições de trabalho.

13. Perante a crise econômica, política e sanitária que afeta o país, temos
enfrentado o aumento da carestia, do desemprego estrutural, da informalidade e da
precarização do trabalho, como resultado da implementação de políticas
econômicas liberais e medidas de austeridade que atacam conquistas históricas da
classe trabalhadora, tais como a retirada de direitos trabalhistas e a fragilização dos
instrumentos de organização política.

14. A piora nas condições de vida da classe trabalhadora impacta as mulheres com
maior intensidade, sobretudo as mulheres racializadas, com deficiência e LBTs, uma
vez que esse setor da classe ocupa os postos de trabalho mais precarizados e é a
maioria dentre os desempregados. Além disso, o avanço do capital sobre o trabalho
produz um correspondente aumento da violência estrutural que se expressa tanto
nos espaços públicos, quanto nos espaços privados, atingindo com maior
intensidade os setores mais vulneráveis da classe trabalhadora, tal como ocorre
com a violência doméstica. O aumento da violência aliado à maior extensão das
jornadas de trabalho remunerado ou não remunerado, tais como os afazeres
domésticos e o trabalho de reprodução, contribuem para uma limitação cada vez
maior das trabalhadoras às necessidades da divisão social e sexual do trabalho.

15. Se, por um lado, algumas profissões majoritariamente ocupadas por homens
agora têm sido ocupadas por mulheres – em áreas como medicina, direito,
arquitetura, jornalismo e no meio acadêmico –, por outro, isso não implicou
igualdade salarial entre os gêneros, muito menos em igualdade no prestígio
concedido aos profissionais. Ademais, as atividades “típicas femininas” nas áreas da
saúde e da educação – como as realizadas por professoras primárias, auxiliares de
enfermagem e cuidadoras, para além de uma série de trabalhos informais, de
serviços terceirizados e de trabalhos temporários – são ocupadas, majoritariamente,
por mulheres. Essa dicotomia entre homens ocupando profissões altamente
intelectualizadas e grande parte das mulheres realizando funções subalternas e
precárias só aumenta a desigualdade social e a distância entre os dois grupos.

16. Não obstante, dentro do mundo do trabalho, enquanto as mulheres brancas


estão ocupando setores como enfermagem e pedagogia, as mulheres negras são
maioria em profissões domésticas – isto é, atividades realizadas na casa de outra
pessoa ou família. Apesar das atividades domésticas se encaixarem no conceito de
trabalho improdutivo, por não gerarem valor, são trabalhos essenciais para o
processo produtivo. Assim, o trabalho doméstico está inserido na dinâmica de
acumulação de capital (e aqui não importa se produtivo ou improdutivo), sujeitando
milhares de trabalhadoras, principalmente as mulheres negras, à sua reprodução.
Dessa forma, é necessário que nos articulemos nas lutas pela garantia dos direitos
trabalhistas conquistados pelas trabalhadoras domésticas, bem como por medidas
públicas que garantam a socialização desses trabalhos – tais quais creches,
lavanderias e restaurantes públicos, voltados para o acesso da classe trabalhadora.
A sindicalização das trabalhadoras domésticas é uma tarefa tática para a
organização de tais.

17. A última reestruturação produtiva do capital implicou em uma redução profunda


dos empregos e consequentemente o aumento do trabalho informal. Isso reforça a
importância da nossa maior inserção nos bairros e locais de moradia e, ao mesmo
tempo, a necessidade de pensarmos formas de fortalecer a organização das
trabalhadoras informais e dos sindicatos classistas. Para o próximo período, as
feministas classistas devem ter como centralidade continuar a construir e fortalecer
a organização das mulheres nos locais de trabalho, com o objetivo da retomada de
pautas que caminhem perspectiva revolucionária sindical e de reorganização de
nossa classe, e também construir e intensificar o desenvolvimento de trabalho nos
bairros por meio da agitação e propaganda, denunciando o capital e trabalhando
na construção do poder popular como o caminho concreto para emancipação da
classe.

18. Acerca das possibilidades de avanço que se traduzem em tarefas pelas quais
podemos lutar de forma imediata, entendemos que se faz essencial a construção de
uma moral proletária. A moral proletária é constitutiva dos processos de avanço na
consciência da classe trabalhadora, que, junto às condições objetivas, possibilitam a
transformação radical da sociedade e se faz presente enquanto aspecto subjetivo
que é parte de um processo total de organização dessa mesma classe. Entendemos
que a completa construção da moral proletária se dá com a mudança radical e
concreta da sociedade capitalista, sendo necessária e ganhando espaço no
processo de transição socialista e realmente efetivada na sociedade comunista.
Dialeticamente, também entendemos que é preciso iniciar essa construção
imediata, já que, no que concerne às mulheres trabalhadoras, ela é imprescindível
para que haja relações de camaradagem que tornem sua militância possível, como
contraponto à forma das relações da moral burguesa, determinada pela estrutura
familiar monogâmica.

19. Sabendo disso, é fundamental que o Coletivo Feminista Classista Ana


Montenegro leve sempre em questão em sua organização, estrutura e debates que
as militantes se dividem entre jornadas de trabalho remunerado e trabalho
doméstico e de cuidado não remunerado. As militantes do CFCAM são também
mães e cuidadoras e os espaços, horários e tarefas da militância devem levar isso
em consideração. Além de sempre pautar nas formações e discussões o tema do
trabalho doméstico e de cuidado na sua articulação com o capitalismo.

20. Analisar as contradições do modo de produção capitalista e as formas que o


capital produz, reproduz, atualiza e modifica o processo de exploração/dominação a
partir das suas necessidades e da dinâmica da luta de classes são pontos centrais
do feminismo classista. Assim, nos diferenciamos, de correntes do movimento
feminista que negam ou dão por superada a luta de classes, e que se pautam pela
centralidade das especificidades culturais e pelo individualismo proveniente da
lógica liberal.

21. Muitas das correntes do feminismo não estão empenhadas no processo de


emancipação das mulheres trabalhadoras e de sua classe como um todo. Algumas,
inclusive, ganharam novas roupagens nas últimas décadas, considerando as
mudanças ocorridas no mundo do trabalho. Defendem prioritariamente a ascensão
social e econômica de parte das mulheres, garantindo, contudo, a manutenção da
ordem social do capital. O feminismo liberal, por exemplo, segue a lógica do
mercado e vem reforçando as ideias de empoderamento individual,
empreendedorismo feminista, representatividade nos espaços burgueses,
estimulando ações assistencialistas por meio de Organizações Não Governamentais
(ONGs) e entidades financiadas por grandes corporações.
22. A lógica de promoção do empoderamento individual tem por objetivo frear a
consciência de classe, tratando de aproximar as necessidades da mulher
trabalhadora às da mulher burguesa, pelo mero fato de serem mulheres, ocultando
as diferenças das condições sociais, políticas, culturais e econômicas entre elas.
Nesse sentido, o propósito do empoderamento é diluir por completo os interesses
de classe das mulheres trabalhadoras e das mulheres burguesas, para impor a
ideia do “poder das mulheres” como suposta inspiração para reforçar a ideia de
que as ações individuais são capazes de substituir a organização coletiva para
combater a exploração e a opressão.

23. Dessa maneira, pautas como de empreendedorismo e empoderamento agem na


contramão da emancipação das mulheres da classe trabalhadora ao deslocarem as
opressões da estrutura social, construídas sob o modo de produção capitalista, para
o atendimento de necessidades sociais e a criação de alternativas individuais
atrelada aos interesses do capital. O liberalismo busca cooptar as lutas históricas
das mulheres vendendo a ideia do empreendedorismo como solução individual para
um problema coletivo, iludindo mulheres da classe trabalhadora de que é possível
reverter a ordem social pela via do mercado. Sabemos que essa é mais uma
estratégia do capitalismo para aumentar nossa exploração e submissão, e que a
resolução verdadeira da opressão feminina se dará apenas pela organização
coletiva e revolução.

24. A perspectiva feminista classista se difere também de outras correntes


excludentes do feminismo, visto que compreendemos o trabalho como aspecto
central para compreender a exploração e opressão das mulheres trabalhadoras,
nesse sentido entendemos como essencial a participação de toda a classe
trabalhadora no movimento. Compreendemos que essa concepção essencialista
ignora as relações de classe e assim, produzem cisões no interior das lutas, ao
excluir, muitas vezes, pessoas transexuais e travestis. O feminismo radical costuma
operar com pressupostos que apagam as nuances do espectro de manifestações do
sexo e das identidades de gênero, e, por consequência, comumente se aliam a
movimentos conservadores para reprimir as lutas por direitos da população trans. O
feminismo classista se posiciona não só ao lado do reconhecimento e solidariedade
às pessoas que estão fora da esquematização binária de sexo e de gênero, como
também traz para o centro de suas lutas as pautas da população trans trabalhadora
e se coloca na vanguarda do combate a todas as faces da transfobia.
25. Nos diferenciamos também das matrizes pós-modernas, as quais 1) fragmentam
o sujeito, tirando-o da estrutura da qual é resultado em detrimento das identidades
autoconstruídas – como se essas identidades nada tivessem a ver com a
materialidade das relações sociais hierárquicas, antagônicas, que nos forjam
enquanto seres sociais; 2) negam a possibilidade do conhecimento totalizante,
apostando em verdades diversas, o que decorre na compreensão fragmentada do
real. O pós-modernismo vai ao encontro com o individualismo pregado pelo modelo
neoliberal, cooptando as lutas sociais em favor da manutenção da ordem vigente. A
concepção pós-moderna decorre na impossibilidade da ação política que vise a
construção de uma nova ordem societária, ainda que alguns de seus seguidores e
teóricos se reivindiquem “anticapitalistas”: a perspectiva pósmoderna, em sua
essência, impossibilita o enfrentamento do sistema que dá origem à dominação e
exploração da nossa classe, de raça/etnia e sexo/gênero.

II. Organização, Disciplina Revolucionária e Centralismo Democrático

Organização

26. O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro é composto por camaradas do


Partido Comunista Brasileiro, militantes de seus coletivos partidários e admite
militantes independentes, não podendo ser incorporadas ao Coletivo aquelas e
aqueles que são filiadas/os a outros partidos, suas frentes de massa ou coletivos
internos.
27. O Coletivo se organiza a partir de núcleos e coordenações estaduais/distrital e
nacional, e deve direcionar sua atuação para potencializar a organização das
mulheres trabalhadoras e dirigir as frentes de lutas de mulheres e de combate às
opressões de gênero e demais formas de opressão, tendo como referência a linha
política do PCB e a estratégia socialista.
28. As táticas do Coletivo deverão ser orientadas pelas resoluções do congresso e
conferências e as ações deverão ser definidas em reunião plenária de cada
instância.
29. São instâncias deliberativas do Coletivo em ordem decrescente de hierarquia:

I) Congresso e Conferência Nacional divididos nas seguintes etapas:

a) Nacional

b) Estadual / Distrital

c) Municipal ou de núcleo
II) Coordenação Nacional

III) Coordenação Estadual

IV) Núcleo de Base

30. A organização revolucionária dos trabalhadores deve articular diferentes


sobredeterminações políticas e econômicas das condições materiais brasileiras,
investigando, analisando e mediando a massificação do feminismo classista.

Núcleos e Coordenações Estaduais / Distrital e Nacional

31. Os núcleos são os espaços centrais de organização do Coletivo, por meio dos
quais o CFCAM estabelece relações orgânicas com as mulheres da classe
trabalhadora. Devendo ser organizados a partir de locais de estudo, trabalho,
moradia ou espaços comuns de atuação. Necessitam, para sua constituição, a
presença de no mínimo três militantes, que constituirão o secretariado de núcleo,
sendo responsáveis pelas secretarias de organização, política e de finanças.

32. A partir das diretrizes nacionalmente formuladas, compete aos núcleos de base
a investigação crítica das condições materiais de atuação local, massificando o
feminismo classista e organizando as trabalhadoras e os trabalhadores locais na via
do Poder Popular.

33. Entende-se como militante orgânica do coletivo, todas as camaradas que


estejam participando da vida interna do núcleo, resguardados os casos de
militantes afastadas de forma temporária.

34. A ausência sem justificativa em três reuniões internas do coletivo deverá ser
mediada pelo secretariado do núcleo com o auxílio da assistência, para verificar a
situação da militante e se há necessidade de afastamento.

35. As direções do CFCAM são compostas por militantes mulheres cis e/ou
transgênero com compromisso com o Coletivo e capacidade de organização e
direção, podendo nas secretarias de núcleo ou coordenação estaduais/distrital do
Coletivo, participar camaradas que ainda não sejam militantes do PCB, desde que
estejam afinadas com a linha política partidária. As membras da Coordenação
Nacional devem ser também militantes do PCB. Na Coordenação Estadual deverão
ser militantes do PCB aquelas que compõem as secretarias política, de organização
e de formação. Nos núcleos, é ideal que no mínimo duas secretarias sejam
compostas por militantes do PCB, sendo a secretaria política necessariamente
ocupada por militantes do partido. Em caso de núcleos que ainda não tenham
militantes do PCB disponíveis para a secretaria política, este deve contar com a
assistência da CE até que se faça o recrutamento de militantes do CFCAM para o
partido, ou do partido para o coletivo.

36. A despeito da aceitação de camaradas homens em nossas fileiras, todas as


instâncias de direção do coletivo devem ser compostas por camaradas cuja
identidade de gênero não seja masculina. Aqui compreende-se que não é papel da
organização deslegitimar a identidade de militantes de forma persecutória, mas sim
garantir, como política organizativa, o protagonismo político dessas camaradas na
construção da vanguarda do feminismo classista.

37. A organização das tarefas da direção deve ser planejada buscando alcançar
uma divisão revolucionária do trabalho militante, pautada na direção coletiva dentro
do centralismo democrático e na responsabilidade militante.
38. As militantes de direção estadual/distrital ou nacional são entendidas como
membras plenas nos espaços de decisão da direção, assim elas não são
orientadas por decisões de seus núcleos, mas sim pelas resoluções congressuais
e pela leitura da conjuntura.
39. Compete às direções do Coletivo garantir a independência orgânica e política
do Coletivo nos espaços de atuação frente às demais organizações externas ao
complexo partidário, atuando em conformidade com os posicionamentos debatidos
nas instâncias deliberativas do coletivo.
40. Os núcleos serão assistidos pela Coordenação Estadual de seu Estado, que
por sua vez contará com assistência da Coordenação Nacional; e as
Coordenações estaduais/distrital e nacional contarão, também, com a assistência
da direção partidária correspondente. Caso não haja Coordenação Estadual
formada no Estado, o núcleo será assistido temporariamente pela Coordenação
Nacional. Compete às assistências do Coletivo garantir o diálogo entre as
instâncias assistidas e as de direção imediatamente superiores, repassando as
orientações e posições de sua própria instância e recolhendo críticas e pontos de
vista da instância assistida. A assistência partidária, por sua vez, não poderá ser
feita por militante do Coletivo. Além das secretarias política, de organização e
finanças, as direções, em suas respectivas instâncias, poderão estabelecer novas
secretarias para condução dos trabalhos, como exemplo secretaria de formação,
secretaria de agitação e propaganda, entre outras, conforme necessidade e
viabilidade de ampliação do secretariado sem prejuízos ao funcionamento das
secretarias já constituídas, e com o devido acompanhamento e orientação
cuidadosa das respectivas assistências.
41. As coordenações estaduais/distrital e nacional serão eleitas nas respectivas
etapas do Congresso Nacional do Coletivo, prioritariamente, ou na Conferência
Nacional do Coletivo quando o congresso não puder ser realizado, enquanto o
secretariado de núcleo deverá ser discutido e referendado anualmente. Poderão
ser feitas reposições ou reorganizações, a partir da avaliação em plenária da
instância, desde que apreciadas pela instância imediatamente superior do Coletivo
e a instância correspondente do Partido.
42. Compete ao secretariado de núcleo dirigir as atividades políticas de cada
núcleo, de acordo com as deliberações coletivas; convocar as reuniões e
plenárias, e manter a comunicação com a instância do Coletivo imediatamente
superior e assistência partidária da instância correspondente.

43. É necessário que cada instância do CFCAM trace e cumpra seu planejamento
coletivamente com fins bens estruturados, com objetivos traçados a longo, médio e
curto prazo, e considerando elementos objetivos e subjetivos da nossa atuação:
condição financeira, formação política e conjuntura.

44. Compete ao secretariado de núcleo dirigir as atividades políticas e organizativas


de cada núcleo, de acordo com as deliberações coletivas; convocar as reuniões e
plenárias, dividindo as tarefas de acordo com o planejamento do núcleo e
cumprimento das funções revolucionárias particulares, além de manter a
comunicação com a instância do Coletivo imediatamente superior e assistência
partidária da instância correspondente.
45. Compete à secretaria política orientar e coordenar as ações do Coletivo, a
partir da linha política deliberada; representar publicamente o CFCAM no espaço
político devido de sua instância, e articular com outras organizações atividades
unitárias conforme política definida no Coletivo, além de manter ativa a relação
local com o Partido.
46. A secretaria de organização é responsável pelo bom desenvolvimento da
organização do Coletivo; manter o calendário das atividades em dia, por meio do
acompanhamento da realização das tarefas definidas coletivamente; convocar com
antecedência as reuniões, definindo data, local e os assuntos a serem tratados;
organizar os registros das reuniões, dos informes e orientações a serem
socializados entre todas as militantes, e apresentar à instância devida o plano de
organização. Além disso, tem a função de acompanhar a política de recrutamentos
da instância e traçar os processos de afastamento e desligamento de militantes, e
a garantia da militância orgânica das camaradas em seus respectivos espaços de
atuação.
47. A secretaria de finanças é responsável por manter em segurança os recursos
financeiros da instância devida, apresentando a prestação de contas às demais
militantes de sua instância e às instâncias superiores, apresentar à instância
devida o plano de política de finanças, que contemple a organização e o
envolvimento de todas as militantes do núcleo de base em campanhas para a
ampliação dos recursos financeiros; no caso da secretaria de núcleo, receber e
cobrar a cotização das militantes do núcleo e encaminhar parte dos recursos
levantados à Coordenação Estadual, respeitando-se as cotas estabelecidas.
48. A secretaria de agitação e propaganda é responsável pela massificação
política, agitação revolucionária e propaganda das contradições de classe, por
promover apresentações do coletivo em espaços de militância e promover a
agitação em torno de todas as pautas que apresentem-se como agenda de luta
das mulheres trabalhadoras. É de competência da secretaria a produção dos
materiais para propaganda e agitação do coletivo, assim como pela alimentação
das redes sociais, como também eventos culturais de resistência da cidade, como
feiras, exposições, atividades em viadutos, centros e etc.
49. A secretaria de formação política é responsável pelo auxílio aos trabalhos de
formação desenvolvidos pelo núcleo de base ou pelas coordenações; apresentar
um plano de formação envolvendo cursos, seminários e debates de acordo com as
necessidades verificadas na instância.
50. Cada secretaria deve elaborar um planejamento e um plano de ação dos
objetivos traçados, que deve ser debatido na sua respectiva instância para que
possa se concretizar o princípio da direção coletiva. Caso necessário, o núcleo
poderá formar comissões para auxiliar as secretarias, de forma que melhore a
dinâmica da secretaria e também que contribua com a formação de outras
camaradas.
51. Todas as instâncias do CFCAM devem se reunir anualmente para realizar
planejamento e balanço das atividades.
52. A coordenação Estadual deve fazer planejamento anual preferencialmente
antes dos núcleos por receberem orientações do Comitê Regional do Partido, da
própria Coordenação Nacional do CFCAM e demandas da organização de frentes
nacionais que o coletivo esteja inserido (como o Fórum sindical, popular e de
juventudes de luta por direitos e pelas liberdades democráticas), sendo necessário
que sejam debatidas internamente na coordenação para serem repassadas aos
núcleos.

Disciplina revolucionária

53. O CFCAM precisa ser o gérmen da sociedade que deseja construir, qual seja,
livre de opressões e exploração, em que as relações sejam pautadas por ideais de
camaradagem, coletividade e solidariedade. Para que isso seja possível, faz-se
fundamental desenvolver a disciplina revolucionária, baseada no livre e consciente
comprometimento com a construção coletiva.
54. A disciplina revolucionária faz parte do movimento da consciência de classe,
que está ligada ao processo de aproximação e engajamento nas lutas e pode se
desenvolver a partir da compreensão da importância da divisão das tarefas
militantes no corpo organizativo. Não é algo linear e ascendente, que se acumula
com mais tempo de militância ou por ocupar tarefas de direção, é preciso reflexão
coletiva constante sobre como desenvolvê-la e potencializá-la. Por isso, se faz
necessário o debate constante sobre o assunto nas reuniões do coletivo, uma vez
que o movimento da realidade é dialético e está sujeito a ser modificado a qualquer
momento.
55. A disciplina revolucionária de nosso Coletivo em nada se confunde com a
disciplina militarizada ou a disciplina da ordem do capital, onde regras são
cumpridas de forma hierárquica e burocrática, sem uma compreensão dos
processos que as produziram e sem possibilidades de mudá-las. Ela é
desenvolvida através da práxis cotidiana, pautada pela organização coletiva e por
princípios como o centralismo democrático, a crítica e a autocrítica, a direção
coletiva, a liberdade de pensamento e a unidade de ação.
56. A disciplina, como todos elementos da nossa subjetividade, é perpassada
pelas contradições que vivemos em uma sociedade individualista, que coloca o
desenvolvimento individual sempre acima e desligado de qualquer processo
coletivo. Dessa forma, compreendemos que o compromisso com as tarefas e lutas
do CFCAM se dará de maneiras diferentes entre as pessoas que ingressam e
estão no coletivo. É necessário que as direções compreendam isso e se coloquem
para fornecer estímulo e cuidado para potencializar a práxis de cada militante.
57. Não há contradição entre a disciplina revolucionária e a autonomia de cada
militante no Coletivo. Pelo contrário, é por meio da disciplina revolucionária que a
autonomia de cada uma de nós poderá se fortalecer. Por essa razão, nos
organizamos através de instâncias, construímos espaços de discussão coletiva
como: reuniões, plenárias, conferências e o congresso com o intuito de elaborar
sínteses e resoluções que expressem as múltiplas realidades e ideias que fazem
parte de nossa organização, no horizonte da concretização de uma sociedade sem
classes, sem exploração e opressão de gênero, sexualidade, raça/etnia, entre
outros, que rume à emancipação humana.
58. Toda militante tem o dever de contribuir para o desenvolvimento da disciplina
revolucionária na organização, sempre com base nos vínculos de camaradagem.
Em outras palavras, precisamos estimular o senso de pertencimento, a integração,
o cuidado coletivo e a democracia interna, a fim de que a disciplina não seja uma
mera reprodução mecânica ou uma imposição vertical.
59. A disciplina é construída no cotidiano de uma organização e deve estar
presente na cultura política que estabelecemos internamente no coletivo, na
relação que estabelecemos com o PCB, com os demais coletivos partidários e em
todos os espaços nos quais nos inserimos junto aos mais variados setores da
classe trabalhadora. Ela tem aspectos mais gerais, como o compromisso com o
centralismo democrático enquanto princípio organizativo e aspectos cotidianos da
dinâmica das reuniões, como nos comportamos nos espaços de luta, nas relações
que estabelecemos no trabalho de base e em nossas relações pessoais.
60. A disciplina é fundamental tanto para conseguirmos ampliar nossa inserção na
luta de classes, quanto para crescermos quantitativa e qualitativamente. Nos
espaços em que nos inserimos, como sindicatos, ocupações urbanas, associações
de bairro, centros acadêmicos, movimentos sociais populares, frentes de massas,
precisamos ser referência de compromisso com as lutas da classe trabalhadora.
Por outro lado, manter a disciplina nas atividades internas, como participação das
reuniões, horário de chegada, cumprimento das tarefas assumidas, contribuição
com as finanças, justificativa de ausências, fortalece e mantém o trabalho do
coletivo. É importante que, ao não haver a possibilidade de cumprir as tarefas que
a militante se dispôs a realizar, isso seja informado às demais camaradas de forma
antecipada e responsável, a fim de prezar pela continuidade das ações coletivas
acima das impossibilidades pessoais. Evitando assim, deixar o coletivo
desamparado e, desta forma, também deixando o núcleo a par da realidade
individual da militante, para que o secretariado do núcleo consiga distribuir as
tarefas da maneira mais orgânica possível perante a materialidade das camaradas.
61. A ausência de disciplina militante na realização de tarefas necessárias - tais
como finanças, planejamento coletivo de atuação, entre outras, faz com que ações
pontuais prevaleçam sobre a política organizativa permanente do feminismo
classista.

62. A disciplina militante exige analisar coletivamente os nossos contextos locais e


nacional para que as ações pontuais colaborem com a política organizativa
permanente cumulativa do feminismo classista. Isso pressupõe o compromisso com
as tarefas assumidas desde de finanças, formativas, organizativas entre outras.

63. Ademais, muitas vezes, os espaços de luta e organização nos quais


predominam graus baixos de organização interna e de disciplina entre seus
membros são lugares férteis para práticas opressoras, como o machismo, racismo,
LGBTfobia, gordofobia, capacitismo, entre outros e podem se tornar ambientes
ainda mais hostis para as mulheres e todos os setores oprimidos da classe
trabalhadora. Nesse sentido, o CFCAM deve ter atenção ao funcionamento de suas
instâncias internas, bem como nos espaços mais amplos onde nos inserimos,
intervindo para que situações de indisciplina não sejam tomadas como naturais,
para que estejam sujeitas à crítica e à autocrítica e assim, sejam devidamente
refletidas e enfrentadas coletivamente.
64. Na organização interna do CFCAM, é importante para a formação coletiva de
nossas militantes que sejam estabelecidas na rotina de suas instâncias práticas, a
contribuição permanente com a disciplina revolucionária, por meio de ações como:
o acompanhamento e auxílio na realização das tarefas, se necessário; a
verificação de possíveis atrasos; o balanço ao final do cumprimento das tarefas e o
relatório do trabalho realizado como prática sistemática e regular.
65. Quanto mais o coletivo conseguir se organizar, dividir suas tarefas, planejar
suas atividades a curto, médio e longo prazo, realizar formações entre a militância,
estimular que todas militantes participem de forma democrática e consciente das
decisões e planejamento, maior a probabilidade da disciplina consciente permear
nossas fileiras. O acesso à história do movimento comunista, das revoluções
socialistas, das lutas das mulheres feministas e/ou socialistas e do movimento
operário fazem desenvolver maior criticidade, espírito coletivo e ímpeto
revolucionário entre as militantes. Por isso, a relação orgânica entre teoria e prática
é imprescindível.
66. Por outro lado, o grande acúmulo de tarefas e as múltiplas jornadas de trabalho
desgastam militantes e dificultam a disciplina. Dessa forma, o CFCAM precisa
estar em diálogo constante com o partido e seus demais coletivos partidários, a fim
de evitar diferentes jornadas militantes em distintos espaços. O descanso é
fundamental para a disciplina ser mantida, pois garante a qualidade da atuação
militante, no sentido de contribuir na manutenção da saúde mental e emocional da
nossa militância. Desse modo, indicamos que todas as camaradas do coletivo
possam ter um tempo de suspensão das suas atividades de militância conforme
necessidade e após combinado nas devidas instâncias das quais participa. Isso
pode auxiliar a evitar afastamento ou saídas e potencializar a realização das
nossas tarefas.
67. Além disso, é preciso que seja realizado um diálogo com as camaradas que
demandarem um afastamento de longo prazo, para entendimento das suas
motivações, o que servirá como ferramenta de aprimoramento da dinâmica
organizativa interna. Casos de imprevistos pessoais que exijam afastamentos
devem ser discutidos dentro do núcleo.

68. Muitas vezes, nossas militantes só compreendem seus desgastes quando já


estão inseridas em diversas tarefas e totalmente sobrecarregadas, ocasionando em
afastamentos e, até mesmo, desligamentos. É fundamental que prestemos atenção
às particularidades, a fim de evitar todo e qualquer esgotamento de nossas
camaradas, considerando que muitas mulheres necessitam cumprir dupla ou tripla
jornada de trabalho. A saúde mental é de extrema importância para que possamos
manter nossos horizontes vivos.

O Centralismo Democrático como princípio organizativo

69. O centralismo democrático é uma ferramenta organizativa que pode impelir a


militância para uma disciplina consciente e coletiva, a depender de como é
utilizada. Ele não se resume à submissão da minoria à maioria, assim como não
são normas estanques, congeladas em regulamentos. Tanto o elemento do
centralismo, como a democracia, precisam de uma contínua adequação
relacionada ao movimento real. Nesse sentido, o instrumento de direção precisa
assegurar a continuidade da organização e concomitantemente trazer para seu
interior o acúmulo de experiências que surgem da práxis das lutas. Isso gera uma
organicidade, ao trazer para seu centro a realidade histórica, evitando o
enrijecimento burocrático.
70. É fundamental levarmos em consideração as experiências históricas do PCB.
No partido, a correlação entre o centralismo e a democracia variaram ao longo da
sua vida, modificando-se a partir das condições concretas nas quais se
desenvolvia a luta de classes. O partido conheceu malefícios tanto de excessos de
centralismo como do democratismo. A democracia, sem direção coletiva e
centralizada, convertia o partido em um clube de discussões ou de atividades
voluntaristas. O centralismo sem democracia, por seu turno, engendra o culto à
personalidade, às mistificações e deságua no burocratismo.
71. Nesse sentido, devemos evitar a centralização burocrática e ao mesmo tempo,
a paralisação das ações do coletivo devido a divergências fora da nossa linha
política e organizativa. Por outro lado, precisamos manter vivo o espírito crítico de
nossa militância, que deve se sentir estimulada a participar ativamente dos
debates políticos e das análises táticas e estratégicas que movem nossa ação.
Não podemos nos dar por satisfeitas por termos chegado a determinados
consensos em relação a questões estratégicas, táticas e organizativas, a realidade
é dinâmica e sempre traz novos elementos para a luta de classes. A construção da
unidade em torno da nossa linha revolucionária se dá pela possibilidade de
refletirmos como corpo coletivo, que tem capacidade e possibilidade de fazer
críticas e autocríticas, utilizando nossos espaços democráticos como gérmen do
poder popular.
72. A partir do centralismo democrático, todas as decisões e resoluções são
debatidas nas reuniões do núcleo de base, nos momentos congressuais ou nas
instâncias de direção. Todas as militantes orgânicas têm o direito de manifestar-se
a respeito, expressando suas análises e opiniões. Deve-se buscar exaustivamente
o consenso, para a definição de uma ação unitária do coletivo partidário. Contudo
isso não significa empobrecer o debate ou chegar a posições conciliatórias a
qualquer custo. Nos casos que não se chegar a um consenso acerca dos pontos
de vista expostos, a coordenadora da reunião submete a voto os posicionamentos
apresentados. Aquela proposta que obtiver a maioria dos votos das camaradas
presentes passa a ser a posição oficial de todo o coletivo, devendo todas as
militantes acatá-la e trabalhar para o sucesso do caminho traçado.
73. Se uma camarada discorda das decisões tomadas, tem o direito de manter sua
opinião e, nos espaços deliberativos cabíveis, poderá solicitar que o assunto seja
rediscutido. Mas as determinações aprovadas pela maioria das membras da
organização devem ser cumpridas por todas, após a decisão resultante da
discussão coletiva.
74. Um fator muito importante para a garantia da democracia interna é a
disponibilização das informações a toda militância, exceto o que for reservado às
instâncias de direção. As informações reservadas às coordenações nacionais e/ou
estaduais devem ser as mínimas possíveis, se restringindo àquelas referentes à
questões que possam afetar a segurança do coletivo. A falta da informação
necessária pode produzir ações arbitrárias e personalismo em diferentes esferas.
75. Os princípios organizativos fundamentais do centralismo democrático que
orientam o Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro são:
a) A democracia interna tendo como base a unidade de ação, alcançada à
custa de extensa e profunda discussão, do convencimento das minorias, do
respeito a elas, da circulação vertical e horizontal das informações, da
disciplina consciente.
b) O cumprimento obrigatório das resoluções do Coletivo, com o acatamento
por parte da minoria às decisões da maioria.
c) A liberdade de discussão nos organismos e instâncias.
d) A responsabilidade e a autonomia de atuação dos organismos nas
respectivas áreas de atividade, resguardadas as resoluções políticas e
programáticas e o respeito às decisões dos órgãos e instâncias de direção.
e) A responsabilidade de cada militante perante o organismo de que for
membra.

f) A direção coletiva, sem prejuízo das responsabilidades pessoais.

g) A liberdade de os organismos estabelecerem relações entre si, para


estudos, consultas, colaboração e formulação de propostas, assim como
para formulação de propostas, desde que seguindo as instâncias corretas.
h) O acompanhamento permanente das atividades do Coletivo através das
assistências.

Trabalho de direção e a crítica e autocrítica

76. O trabalho das direções é uma peça-chave para a organização das lutas
feministas classistas e comunistas. Exercer tais tarefas não significa mérito de uma
militante, mas maiores responsabilidades, bem como maior compromisso com o
trabalho do coletivo.

77. As direções são o elemento principal de coesão e organização do nosso corpo


coletivo, tendo como suas principais funções: a) Organizar nosso trabalho político,
de agitação e propaganda, mantendo a unidade a nível nacional e estando
preparada para dar as respostas políticas em tempo oportuno; b) Formar as novas
direções que emergem das lutas no seio de nossa classe.

78. As direções do coletivo vêm sendo forjadas recentemente nas lutas enfrentadas,
no próprio trabalho diretivo e organizativo e nos espaços de formação. A história
recente do coletivo nos impõe muitos desafios, um intenso trabalho investigativo da
realidade, com criatividade, organização e disciplina. Dessa forma, temos
aprendido, formulado e criado novas direções enquanto ampliamos e consolidamos
o CFCAM, num momento de brutais ataques à classe trabalhadora. Isso torna
nossas batalhas ainda mais complexas e ainda mais necessárias.

79. As formas de trabalho não são atemporais, absolutas e imutáveis. Elas estão
relacionadas com as condições objetivas em que o coletivo atua, com o movimento
da consciência da classe em cada momento histórico, com o desenvolvimento
histórico, político e organizativo do próprio coletivo e com a preparação de nossos
quadros.

80. As decisões e orientações principais tomadas pela direção devem ser adotadas
por suas militantes, e não por dirigentes isoladas, salvo algumas situações que
precisem de respostas imediatas e não há possibilidade de consulta. Isso não
contraria a divisão de tarefas, mas sim a potencializa e permite maior dinamicidade.
Os planejamentos e as atividades das secretarias devem ser compartilhadas,
discutidas e aprovadas pelo corpo diretivo. As opiniões divergentes e contribuições
individuais devem ser acolhidas e discutidas sempre que necessário. Porém,
nenhuma membra pode se sobrepor às decisões do coletivo.

81. As direções devem estimular a participação, intervenção e a contribuição


constante das militantes. A convergência das ideias e dos esforços deve ser
construída buscando a opinião, a iniciativa, o estudo e a criatividade de todas. O
trabalho coletivo é essencial para garantir a democracia interna, a unidade e a
disciplina.
82. Vivemos em uma sociedade capitalista patriarcal, capacitista, racista e com
herança escravocrata, na qual o processo de consciência da classe foi forjado em
famílias nas quais os homens (principalmente homens brancos) mandam e
decidem hierarquicamente. Esse papel também pode ser reproduzido por
mulheres, principalmente quando os homens estão ausentes. Dessa forma, o
mandonismo (fenômeno que reproduz o autoritarismo) deve ser reconhecido e
combatido, especialmente entre as dirigentes, bem como outros vícios, como o
personalismo e a competitividade individualista. As militantes devem estar atentas
a não reproduzir o machismo nos espaços de militância, mesmo em presença
apenas de mulheres, sejam cis ou trans, brancas, negras ou de demais grupos
racializados, para que não sejam perpetuadas nos espaços de militância heranças
coloniais e patriarcais.
83. É infrutífero para o trabalho coletivo o cerceamento do debate através de
recursos de poder sob o risco de a função de direção, que deve ser uma
organizadora, educadora e estimuladora da auto-organização de nossa classe, se
reverter em seu contrário. Se não discutirmos o porquê de determinadas tarefas
serem realizadas da forma apontada pela dirigente, elas tornam-se mera
burocracia - compreendida aqui como normas engessadas e repetidas – que
devem ser perpetuadas porque “vêm da direção”.

84. A formação de novas dirigentes, ou seja, de organizadoras coletivas da classe,


deve ser assumida como peça-chave do nosso trabalho. As dirigentes não têm
apenas a função de serem coerentes politicamente e tomar as decisões mais exatas
nos momentos cruciais, também têm a tarefa de formar as novas direções.

85. Nesse sentido, é necessário forjarmos condições para a possibilidade de crítica


e autocrítica entre as militantes do coletivo, como parte de uma cultura organizativa
interna. Os espaços de avaliações devem se tornar rotina e acontecer para além
dos momentos congressuais. Deve fazer parte dos trabalhos dos Núcleos de Base,
das Coordenações Estaduais e da Coordenação Nacional avaliar seu planejamento,
as tarefas cumpridas e o próprio organismo. A base deve realizar balanços para
avaliar a direção nas instâncias devidas, isto é, em seus núcleos, não existindo a
necessidade de criar um novo espaço para que isso seja feito. A criação de espaços
regulares que atuariam como uma nova instância para além do núcleo seria
prejudicial para a organização do coletivo. É tarefa da direção imediatamente
superior prestar assistência às instâncias e núcleos que assistem, a fim de auxiliar o
trabalho diretivo.

86. Toda dirigente e militante precisa acolher as críticas sem rechaços e se colocar
para avaliar a necessidade de autocrítica, que precisa ser feita na prática diária.

87. É necessário que os planejamentos de qualquer direção ou núcleo tenham


elementos táticos que estejam ligados de forma clara e objetiva a nossa estratégia.
Nossa inserção em qualquer espaço deve ter fins bem estruturados, com objetivos
traçados a curto, médio e longo prazo. É fundamental o direcionamento da militância
no cumprimento do planejamento em que a mesma esteve inserida na construção.
Em um momento em que a classe está cada vez mais adoecida mentalmente,
planos difusos e múltiplos só geram mais frustração, ansiedade e autodepreciação
por não alcance de determinados fins traçados.

V. O CFCAM e FDIM

88. A Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM) foi fundada em


Paris em 1945, em um congresso no Palácio da Mutualidade, com participação de
oitocentos e cinquenta mulheres de 40 países, as “irmãs da resistência”. As pautas
principais eram a luta contra o facismo, a Segunda Guerra Mundial, pela paz e pela
igualdade de direitos entre homens e mulheres no trabalho, na educação e no
acesso aos direitos sociais. Era um período de intensa articulação do movimento
comunista internacional e, em especial, das mulheres comunistas. Eram herdeiras
de Rosa Luxemburgo (1871-1919), de Clara Zetkin (1857-1933) e da Revolução
Russa de Outubro de 1917.

89. A FDIM sempre esteve presente nas lutas anti-imperialistas, anticoloniais e


anticapitalistas no mundo. Logo nos primeiros anos de sua existência, sua sede
precisou ser mudada da França devido à forte campanha da sua presidente, a
comunista Eugenié Cottonm, contra a postura colonial da França diante do Vietnã.

90. Durante as lutas anticoloniais na África, a FDIM atuou ativamente no Conselho


Consultivo da ONU e da UNESCO contra a colonização europeia. Nas décadas de
1950-70, muitas mulheres da FDIM foram para a Ásia e África, principalmente com o
apoio soviético, para missões de solidariedade aos processos revolucionários. Em
1954, a organização esteve na apuração dos crimes cometidos pelos EUA e Coréia
do Sul contra a Coréia do Norte.

91. A revista Mulheres do Mundo Inteiro, editada desde 1961 e traduzida em seis
idiomas, foi um importante espaço de luta e organização das mulheres do mundo.
Durante as ditaduras militares na América Latina, várias exiladas conseguiram
trabalhar e denunciar os crimes da ditadura através da escrita nesse periódico. Ana
Montenegro, militante do Partido Comunista Brasileiro, foi redatora da revista entre
1964 e 1979. Essa atividade possibilitou à nossa camarada inspiradora viajar pela
Ásia, África, Europa e América Latina, participar das lutas anticoloniais de Angola,
Cabo Verde e Moçambique e em eventos no Chile, durante o governo Allende.

92. Atualmente, a FDIM tem mais de 200 organizações filiadas nos cinco
continentes. Defendemos a autodeterminação dos povos e nos mantemos nas lutas
contra o capitalismo, o imperialismo, o patriarcado, a misoginia, o racismo e a
LGBTfobia. Contra o extermínio de milhares de vidas nas guerras de rapina, na
exploração do trabalho, contra a destruição ambiental e os retrocessos nos direitos
sociais.

93. Em todos os Congressos da FDIM, que acontecem a cada 4 anos, elege-se uma
nova direção que cumprirá os principais trabalhos da Federação. Atualmente, a
presidenta é Lorena Pena, de El Salvador, eleita após o XVI Congresso, no qual o
Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro esteve presente. Antes disso, durante
12 anos a presidência esteve com Márcia Campos, membra da Confederação de
Mulheres do Brasil (CMB), mostrando a força que essa organização brasileira tem
na Federação. O secretariado da FDIM é composto pela presidente, pelas duas
vice-presidentes de cada continente e a coordenação regional de cada continente.

94. Foi também no XVI Congresso, em 2016, que o Coletivo Feminista Classista
Ana Montenegro filiou-se à Federação. Até então, participávamos na condição de
convidadas. Ao filiar-nos à FDIM, assumimos o compromisso de concretizar tarefas
de solidariedade internacional, de fortalecer as discussões sobre o imperialismo e a
luta anti-imperialista, além de levar a sigla da entidade em nossas bandeiras por
todo o Brasil.

95. O principal fundamento organizativo que justifica nossa participação na FDIM é


a construção do internacionalismo proletário rumo ao socialismo sendo fundamental
nossa disputa nessa direção. Nosso fortalecimento no interior da FDIM depende
diretamente do poder de intervenção do CFCAM na realidade brasileira, isto é, da
ampliação de nossas bases e da construção de ações concretas por todo o país.

96. Nas Américas, são diversas as organizações filiadas à Federação. No Brasil,


podemos citar a Confederação de Mulheres do Brasil, a União Brasileira de
Mulheres (UBM), além do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro. Embora
estejamos construindo juntas a Federação, cada organização carrega diferentes
concepções do imperialismo, da estratégia e das táticas prioritárias para o
movimento internacional de mulheres, sendo que as ações da FDIM tendem a ser
reflexo das organizações com mais estrutura e poder de articulação. Portanto, para
que as ações da FDIM reflitam nossa política revolucionária, é necessário uma
mudança na correlação de forças em seu interior.

97. Nesse sentido, uma das principais tarefas do CFCAM para o período será
estabelecer laços em nosso continente com organizações que partilhem de
concepções mais próximas às nossas, havendo um mapeamento regional, bem
como estabelecimento de metodologias que não firam as resoluções congressuais
do PCB. Com as devidas mediações, devemos mapear e convocar organizações
para atividades conjuntas que envolvam análise de conjuntura, formação política e
outros temas pertinentes para o estreitamento de laços. A participação em brigadas
internacionalistas e outras atividades de solidariedade pode ser um caminho para a
construção de alianças.

98. Ao mesmo tempo, é necessário que os núcleos do CFCAM trabalhem com mais
frequência em suas reuniões e atividades os temas relativos ao internacionalismo
proletário, para que possamos formar camaradas com o devido conhecimento para
partilharem as tarefas da FDIM e de solidariedade internacional.

99. Não obstante, é preciso levar em consideração a efervescência do movimento


feminista em nosso continente nos últimos anos, que levou a inúmeras conquistas,
mas também provocou uma forte reação e articulação de setores
neoconservadores. Precisamos nos atentar ao papel da FDIM nessas
manifestações e o modo que a entidade tem cumprido seu papel originário na luta
por mais direitos para as mulheres. Nesse sentido, é nossa tarefa atuar para a
aproximação da FDIM com a classe trabalhadora garantindo uma maior participação
da Federação nas lutas populares no sentido de contribuir para o fortalecimento e
avanço da luta proletária internacionalista.
100. Certamente, é preciso levar em consideração que há características
específicas do movimento feminista contemporâneo que dificulta o trabalho coletivo
por meio de entidades. Amplamente influenciados por tendências liberais e
individualistas, o crescimento do movimento feminista internacional tem se dado
prioritariamente por meio de redes de ativistas que apostam na força espontânea
das massas. Como transformar a FDIM em uma ferramenta que possa ser vista
como alternativa por parte desses movimentos é, sem dúvidas, uma questão sobre
a qual temos que nos debruçar cada vez mais.

VII. Agitação e propaganda

101. O Coletivo vêm crescendo e se fortalecendo cada vez mais em todo país.
Temos construído e participado ativamente não apenas das construções do
movimento feminista, mas de toda a luta da classe trabalhadora. Nossa agitação e
propaganda, assim como a nossa participação organizada nas manifestações, junto
ao partido e demais coletivos, vem atraindo muitas pessoas interessadas em se
organizar.

102. Desde o nosso Encontro Nacional ocorrido em 2015, temos avançado


significativamente na agitação e propaganda, tendo um salto expressivo no
planejamento e produção de materiais, pela coordenação nacional e diversos
estados e núcleos em todo país. O atual momento da luta de classes exige cada vez
mais capacidade de intervenção e disputa junto às mulheres e toda a classe
trabalhadora.

103. A agitação e propaganda estão entre as nossas principais tarefas e têm papel
fundamental para seguirmos avançando no crescimento e fortalecimento do
coletivo, e na nossa capacidade de mobilização. Nesse sentido, temos a
responsabilidade de ampliar e qualificar a capacidade de comunicação, a partir de
estudos e planejamento, sempre atentas às pautas da classe trabalhadora. Para
desta forma organizar o trabalho conforme as condições organizativas de cada
instância.

O que é Agit&Prop?

104. Agitação e propaganda é uma tarefa imprescindível na construção do processo


revolucionário. A propaganda é o instrumento responsável por levar muitas ideias
para pequenos grupos da classe trabalhadora, constantemente denunciando as
contradições do capital. A agitação é parte de um sistema comunicacional que se
complementa na propaganda. São características diferentes de comunicação,
relevantes e complementares, que precisam ser consideradas para melhor realizar
nossa organização e planejamento.
105. Uma boa propagandista e agitadora deve ter conhecimento dos assuntos em
causa, para além disso, deve dominar a relação entre a teoria com a realidade
viva, tornando compreensível, ao mesmo tempo, ambas. Agitação ligando teoria e
prática, organiza as massas e as estimula para a ação.

106. As mulheres comunistas ao longo da história contribuem de forma expressiva


na agitação e propaganda, levando para a prática a compreensão da necessidade
de pautar a divisão sexual do trabalho na produção e reprodução social da vida para
a mobilização e organização das mulheres. Essa mobilização tem papel decisivo no
processo de luta revolucionária, na emancipação da classe trabalhadora e na
superação do capitalismo.

107. É preciso avançar na agitação e propaganda marxista-leninista, fortalecendo os


instrumentos e meios de comunicação da classe trabalhadora, pautando a
importância e necessidade de alcançar e organizar as mulheres trabalhadoras.

108. É importante conhecer a especificidade das formas de comunicação e a


dificuldades de acesso e transmissão. Geralmente, há altos índices de
analfabetismo, e por isso precisamos ter criatividade ao formular agitação e
propaganda.

109. Inspirando-se no trabalho das comunistas que vieram antes de nós,


precisamos avançar na agitação e propaganda marxista-leninista. Hoje isso implica
tanto no desenvolvimento de formas próprias de comunicação junto à classe
trabalhadora, quanto no planejamento tático para ocupar os demais meios de
comunicação onde haja possibilidade de disputa. Sempre pautando a importância e
necessidade de alcançar e organizar as mulheres trabalhadoras.

110. Com o avanço dos meios de comunicação, intensificado com o acelerado


desenvolvimento de tecnologias, traz para a conjuntura desafios mais complexos no
setor da comunicação. Uma das principais tarefas da agit&prop é falar para fora dos
nossos espaços internos, o que não é fácil em um cenário de monopólio dos meios
de comunicação tanto nas redes sociais, quanto nas tvs, rádios e mídias impressas.

111. As redes sociais hoje aglutinam uma grande parcela da classe trabalhadora,
mas não em sua totalidade, por isso não podemos concentrar todos os nossos
esforços de agitação e propaganda em apenas um meio. Precisamos diversificar
nossa comunicação para atingir as brechas deixadas pelos veículos de massa.
Precisamos ressaltar a potência da comunicação nas ruas, com panfletagens,
colagens de lambes (nos mais diversos tamanhos), riscos nos muros, banquinhas,
reuniões abertas para discutir questões da cidade (quando possível) e etc.

112. Nos trabalhos desenvolvidos nas redes sociais precisamos qualificar o debate
técnico e político para encontrarmos a mediação tática para ocupar esses espaços.
Não podemos nos deslumbrar com a massificação de nossas ideias em uma
plataforma onde grande operador das regras é o grande capital. Precisamos
conhecer suas formas e saber como podemos utilizá-la sem rebaixar nossas pautas
e símbolos, e, também sem gerar grande concentração de trabalho em detrimento
de outras ações.

113. Uma das formas de construir uma ação de agitação e propaganda sem ser
centralizada apenas em um meio é a formulação de campanhas. Com um
planejamento bem estruturado, as campanhas podem levar para as ruas durante um
período e das mais diversas formas de comunicação as nossas pautas. A
campanha pode apontar um tema e a partir disso serem realizadas panfletagens,
colagem de lambes, sequências de postagem, vídeos, atos de rua, atividades de
debate, artigos críticos e etc. Com essa estrutura, a possibilidade de atingirmos o
maior número de trabalhadoras em torno da pauta é muito maior do que realizar
cada uma das ações com temáticas e abordagens diferentes.

A secretaria de agitação e propaganda

114. Uma das principais atividades desenvolvidas pelos núcleos e coordenações, é


o trabalho de agitação e propaganda. É por meio da ação e divulgação política das
análises e propostas do coletivo e da agitação em torno das pautas mais relevantes
para as mulheres da classe trabalhadora, que conseguimos nos fortalecer,
convencer sobre nossas táticas, contribuindo para a organização e avanço da luta
popular.

115. É importante a organização e regularidade de ações junto à classe


trabalhadora no seu local de atuação, trabalho e moradia. A partir do momento em
que se estabelece essa relação militante/trabalho junto às massas, a militância
cresce politicamente com sua experiência, forjando no coletivo um conhecimento
atualizado e realista das especificidades e dificuldades de cada movimento,
firmando assim a militante e o coletivo, como referência junto à classe trabalhadora.

116. A secretaria de agitação e propaganda deve atuar junto a todo o secretariado


para organizar e divulgar todas as ações do coletivo. Para tanto, ações como
palestras, debates, seminários, bandeiraços, passeatas, manifestações, colagens,
panfletagens, atividades culturais etc. - devem ser estimuladas por meio das
orientações da coordenação nacional, estadual e secretariado de núcleo, no sentido
de mobilizar e divulgar o coletivo. Deve-se procurar aliar a agitação e propaganda a
atividade culturais, de forma que integre militantes e /ou comunidade, direcionando
a nossa linha política e atraindo maior interesse da população.

117. As mulheres começam a acessar a internet com regularidade por volta dos dez
anos de idade, dois anos mais cedo que os homens. Elas também consomem mais
conteúdo televisivo e, em geral, mais conteúdos informativos. À semelhança do
legado deixado pelas trabalhadoras russas, urge a implementação de uma revista
revolucionária multimídia responsável pela difusão sistemática e orgânica do
feminismo-marxista, em disputa direta com os veículos da imprensa filiada ao
reformismo típico do feminismo liberal.

118. Um calendário internacional de lutas deve ser estimulado e politicamente


disputado, em movimento catalisador da massificação política do feminismo
classista, internacionalista e proletário.

Comissão nacional e comissões estaduais

119. Precisamos avançar na formação de quadros agitativos e propagandistas,


avançar do trabalho artesanal para a profissionalização das nossas ações por meio
de elementos organizativos. A formação de bons agitadores de massa pressupõe o
acúmulo de experiência na ação prática e de formação teórica, que devem ser
sempre perseguidas pela militante, com o apoio de todo o coletivo partidário.

120. Todo núcleo deve buscar garantir uma secretaria e/ou comissão de agitação e
propaganda, fazendo um levantamento regular das camaradas com alguma
formação e/ou experiência na área da comunicação e interessadas em aprender e
contribuir com esse trabalho, além de contribuir para a realização de cursos que
capacitem a militância.

121. As coordenações estadual e nacional devem buscar estabelecer comissões


ampliadas de agitação e propaganda, reunindo camaradas de diversos núcleos,
para organização, planejamento e divulgação das ações e materiais produzidos,
sempre considerando e dando a devida importância também a autonomia dos
núcleos com suas pautas específicas locais, desde que essas estejam alinhadas
com nossa linha política.

122. É necessário estudar a realidade em que estamos inseridos e compreender as


particularidades de cada local de atuação, precisamos sempre atualizar nossas
metodologias de agitação e propaganda. Pensar em alternativas que propaguem a
teoria marxista sem simplificá-la.

123. A dinamicidade dos meios digitais dificulta a manutenção de uma diretriz que
se mantém pelo decorrer dos anos. Diante disso, cabe às coordenações estadual e
nacional a organização de ativos de Agit&Prop para repensarmos e reavaliarmos
nossas táticas agitativas regularmente e também para profissionalização e troca de
experiências entre os núcleos do Brasil.

Site e redes

124. Nosso site e as redes sociais, são instrumentos de comunicação ágeis e


dinâmicos, configuram um importante mecanismo de exposição das ideias e
princípios do coletivo, de denúncias referentes à exploração capitalista sobre as
mulheres, e notas e posicionamentos sobre a conjuntura local, nacional e
internacional. Contudo, ainda que a comunicação via internet venha ganhando
centralidade nos últimos anos, precisamos ter clareza que setores mais
pauperizados da classe trabalhadora não têm acesso ou têm acesso limitado às
redes sociais e, portanto, não podemos abandonar outras formas de agitação e
propaganda nas ruas, conforme colocaremos na próxima seção.

125. As redes sociais possuem características que precisam ser consideradas na


produção de nosso material agitativo e propagandístico. Estar atento aos horários
estratégicos para a publicação de conteúdo, privilegiando os horários de pico. Cada
rede tem suas especificidades quanto ao formato da publicação, número de
caracteres etc. que devem ser consideradas.

126. Precisamos, mesmo com nossas limitações, construir meios para garantir que
todos os nossos instrumentos de comunicação cumpram da melhor maneira
possível o papel de agitar e/ou propagar nossa linha política. Deve-se buscar a
produção de materiais que reflitam a realidade das mulheres trabalhadoras e que
sejam interessantes para o público, procurando diversificar os conteúdos e garantir
ações culturais. Quanto mais interações em nossas publicações, maior seu alcance
para outras pessoas e mais chances de compartilhamento.

127. Sempre que possível, é importante que toda a militância compreenda o papel
da agitação virtual e busque interagir com as nossas mídias, compartilhando os
conteúdos para que alcance cada vez mais pessoas. Todas as camaradas podem e
devem contribuir com sugestões e envio de contribuições para publicações em
nosso site e redes sociais nacionais, enviando notícias, textos e comunicados sobre
as atividades de seus núcleos e estados

128. Entretanto, a fim de evitar o espontaneísmo e garantir, gradativamente, o


profissionalismo deste universo que se faz cada vez mais necessário permear, as
Coordenações pensarão, junto ao PCB, formações e cursos capacitadores sobre as
estratégias de uso das redes sociais.

129. Reconhecemos que a agitação e propaganda inserida em um contexto amplo


de massificação dos meios digitais deve ancorar-se em uma identidade visual
pensada nacionalmente e que esteja em diálogo com a quem desejamos chegar
com nossas ideias divulgadas virtualmente. Dessa forma, é necessário
uniformizarmos nossas páginas (cores, fontes, nomes das páginas, logotipos por
exemplo) de modo a termos nossos símbolos facilmente reconhecidos no âmbito
nacional. A fim de facilitar a uniformização de nossos símbolos, deve-se organizar
um manual a partir de templates que possam ser utilizados por todos os núcleos e
suas respectivas coordenações.

130. Sempre que possível, cada núcleo deverá produzir seus próprios instrumentos
de comunicação (além dos materiais impressos, boletins eletrônicos, blogs, páginas
e comunidades na internet) na sua área de atuação, difundindo informações a
respeito das lutas travadas e das campanhas, dos temas específicos ou gerais. É
importante manter os instrumentos de comunicação ativos e movimentados a partir
de planejamento, seu cumprimento e organização.

131. Tendo em vista nosso princípio organizativo pautado no centralismo


democrático, devemos ter sempre cuidado, para evitar que as redes sociais sejam
utilizadas para a discussão de encaminhamentos das decisões políticas internas,
quando a forma correta de as promover é no interior do coletivo, por meio das
reuniões. Ressaltando que como não possuímos centralismo teórico, o debate
amplo das diversas linhas teóricas dentro do feminismo classista e do marxismo
leninismo sejam fomentadas e realizadas em todos os meios de forma fraterna.

132. Para dinamizar nosso fluxo interno, e viabilizar divulgação e compartilhamento


pela coordenação nacional, todos os conteúdos e publicações produzidas, notas
políticas, vídeos, panfletos, lambes, imagens diversas, eventos e etc.), devem ser
encaminhados para redes nacionais do coletivo e/ou para o e-mail da direção
nacional.

133. Os núcleos devem ter como pauta, nas reuniões ordinárias, discutir e colocar
em prática estratégias de mobilização e agitação pré-ato. Considerando as
particularidades de cada localidade e município. De modo a levarmos cada vez mais
pessoas para as ruas.

Organização nas ruas

134. Por compreendermos que muitas mulheres trabalhadoras não têm acesso à
internet, devemos aumentar o foco na agitação de rua, procurando dialogar com as
mulheres em seus locais de trabalho, moradia e estudo. A panfletagem é uma ação
estratégica e deve ser efetuada cotidianamente, de forma constante e de
preferência em um mesmo ponto estratégico, tomado como espaço de atuação do
núcleo e/ou em locais onde há grande circulação de trabalhadoras de acordo com a
realidade regional. Deve haver intensificação de panfletagens dos materiais
produzidos pelo coletivo e partido antes e durante os atos. Todas as ações de
agitação e propaganda nas ruas e seus registros nas mídias, principalmente as que
precedem atos e manifestações, devem levar em consideração as orientações que
constam em Circulares Internas sobre a segurança das nossas militantes.

135. É uma tarefa a realização de ações de colagem, sempre que possível, dos
lambe-lambes e cartazes produzidos pelo partido e coletivos nas proximidades dos
locais de trabalho, moradia e estudo da classe trabalhadora. As ações de colagem
também podem ser realizadas antes e depois dos atos e nos trajetos das
manifestações.
136. Em ações de rua, é importante destacar pelo menos uma militante que fale
em nome do Coletivo. Além disso, deve estar no planejamento de cada núcleo a
realização de oficinas e formações que instiguem as camaradas a cumprir esse
tipo de tarefa pública. Deve estar no planejamento de cada núcleo a realização de
oficinas e formações que formem as camaradas para o cumprimento de falas
públicas.

137. Sempre que possível, devem ser confeccionadas grandes faixas, bandeiras e
cartazes que possam ser destacadas nas manifestações. Na medida do possível,
tais materiais devem expressar chamadas e consignas sobre as pautas atinentes às
mulheres trabalhadoras

138. É fundamental o registro das nossas intervenções, panfletagens e colagens de


lambes em fotos, vídeos e textos com as informações sobre as ações. Devemos
sempre garantir fotos e vídeos dos nossos militantes durante o ato e gravação das
falas das representantes.

139. Devemos sempre destacar camaradas para as tarefas de cobertura e de


agitação nos atos, além de capacitar constantemente todas as camaradas para
serem agitadoras e estarem aptas a falarem em público se necessário. A agitação é
uma tarefa coletiva.

140. As comissões estaduais de agitprop devem realizar um planejamento que


possibilite a ampliação da nossa agitação nas mídias sociais.

141. A publicação rápida de fotos e vídeos é importante. Dessa forma, orientamos


que os núcleos do coletivo, além de publicar em seus canais, também garantam o
envio dos materiais produzidos de forma célere para a nacional. Também
solicitamos que em todas as publicações realizadas pelas páginas estaduais e de
núcleo, seja marcado o perfil nacional do coletivo. Assim contribuímos na
visibilidade desses perfis e facilitamos possíveis compartilhamentos e republicações
nas nossas redes nacionais.

VIII. Formação e cultura

142. Desde que avançamos com a organização do Coletivo Feminista Classista Ana
Montenegro, e com o crescimento orgânico da militância, a importância da formação
no feminismo classista sempre foi ressaltada. Ela é uma peça chave para qualquer
coletivo político que tenha um fim revolucionário. Se não compreendermos de forma
profunda a história das sociedades anteriores, a partir de uma base filosófica que
permita buscar a materialidade histórica e dialética da exploração e das opressões,
nos manteremos na superficialidade alienante do aparente, que impossibilita
traçarmos táticas condizentes com o horizonte revolucionário. Utilizar os estudos de
Marx e Engels como base para interpretação do mundo, parte da centralidade do
trabalho como elemento ontológico das nossas relações enquanto humanos.

143. Entretanto, não é suficiente apenas nos determos nos estudos das obras de
Marx e Engels, tampouco somente nas obras de Lenin, Rosa Luxemburgo, Clara
Zetkin, Alexandra Kollontai e outras lutadoras e lutadores que deram vida e
continuidade às obras dos mesmos e das mesmas. Para além deles, são
necessários estudos profundos sobre a realidade brasileira e latino-americana,
dentro de um contexto global do capital em sua fase imperialista. Nesse sentido, a
formação do CFCAM precisa englobar diferentes camaradas, que tanto têm se
debruçado sobre os estudos das obras de Marx e Engels e de outros marxistas,
como têm avançado na leitura da realidade brasileira e latino-americana,
estabelecendo um compromisso de buscar referências de mulheres revolucionárias.

144. O Coletivo Feminista Classista deve se debruçar também sobre o estudo e a


publicação dos escritos da camarada que dá nome ao nosso coletivo. Assim, ao
publicarmos suas obras, poderemos ampliar e disseminar o feminismo classista,
aprofundar a compreensão da realidade brasileira e contribuir no resgate da
memória da vida e luta de Ana Montenegro e das mulheres comunistas.

145. Precisamos organizar formações sobre temas mais básicos e gerais sobre o
feminismo classista, seu histórico, objetivos e particularidades, com um
aprofundamento desses temas. Afinal, no feminismo classista lidamos com a
complexidade da realidade, que é atravessada por muitos aspectos; e que em
determinados locais e situações podem exigir formações voltadas a temas
particulares. Ao compreendermos que a luta feminista classista é também
essencialmente antirracista e conjunta pela erradicação da discriminação às
mulheres lésbicas, bissexuais, trans e travestis, enfatizamos que as questões da
luta dos povos negros e originários, LGBT e anticapacitismo, entre outras opressões
devem ser sempre abordadas no Coletivo.

146. Perante o avanço da crise climática e da ascensão do debate entre a


população, que começa a sentir seus efeitos, faz-se necessário o estudo das
dinâmicas ambientais através do materialismo histórico-dialético, a fim de politizar e
radicalizar a luta pelo futuro, enfatizando a centralidade do proletariado não apenas
para a emancipação da classe trabalhadora, mas também para a garantia de
condições de vida para todos os seres. Essa deve ser uma pauta importante para o
CFCAM, uma vez que as mulheres sempre foram responsabilizadas pela
reprodução da classe trabalhadora, trabalho que só se torna mais desafiador diante
de condições ambientais cada vez mais hostis à vida.

147. Historicamente, são as mulheres que estão à frente da luta pela terra e pela
água. As mulheres comunistas devem preparar-se para disputar o debate ambiental,
buscando em diversas fontes o acúmulo necessário para expor a falácia do
capitalismo verde, a responsabilidade burguesa pelo aquecimento global, as novas
investidas imperialistas em face da escassez de recursos e a necessidade da
tomada dos meios de produção pelos produtores associados (ou seja, do
comunismo) para a regulação sociometabólica.

148. A formação é essencial no momento de aproximações e recrutamentos de


novas militantes; afinal, é necessário se fazer claro o propósito de nossa luta,
nossos objetivos, forma de atuação, e base teórica que está em conjunto com a
prática. Nesse sentido, o marxismo e as questões das mulheres na sociedade de
classes são apresentadas logo ao início da aproximação ao coletivo. Ou, por vezes,
certas pessoas já procuram nossa militância por conhecerem anteriormente e se
identificarem com essa base teórica, ou ainda, interessam-se e conhecem o coletivo
justamente por conta de uma atividade aberta de formação.

149. Assim, a formação, entendida como central para nossa práxis, é por vezes um
ponto de partida para engajamento no Coletivo, mas não somente: almejamos a
continuidade de debates e enriquecimento desses ao longo de toda a participação
no Coletivo, e por todas as militantes. Compreendemos que por nossa criação e
socialização em uma sociedade patriarcal e capitalista, em diversos assuntos
precisamos de reflexão e estudo revolucionário, pois percebemos que as situações
de exploração/dominação/opressão encontradas pelas mulheres trabalhadoras não
são experiências individuais somente, mas fenômenos coletivos, ligados à classe,
sexo, gênero, raça e etnia. Assim, constantemente precisamos superar alguns
comportamentos e pontos de vista oriundos da ideologia dominante, ou mesmo de
um movimento feminista de base liberal, para que criemos um pensamento e prática
que visem a libertação da mulher trabalhadora.

150. O estudo e a formação coletiva podem se dar nos ambientes das reuniões dos
núcleos, em atividades mais amplas, cursos, ativos. Porém compreendemos que a
formação política não se dá apenas a partir dos nossos estudos teóricos. A teoria e
prática política precisam estar interligadas, se relacionarem à totalidade dialética
das lutas, onde só é possível construir um coletivo que efetive o feminismo classista,
se trouxermos para seu centro as contradições e lutas que germinam no seio da
nossa classe. Sabemos que existem distintos setores de classe e que a depender
do nível de apropriação de elementos objetivos e subjetivos que foram produzidos
pela humanidade, as principais pautas de luta podem ter relevância distinta para
esses setores. Precisamos pensar em como esses diferentes elementos se
interligam à estratégia socialista e como eles podem potencializar e organizar
nossas ações.

151. Até o momento, nos presentes anos do Coletivo Feminista Classista Ana
Montenegro, inúmeras atividades de formação foram realizadas, e camaradas foram
chamadas muitas vezes para compor debates junto de outras instâncias do PCB e
com outros partidos, organizações e movimentos, o que demonstra a precisão
teórica na continuidade da luta das mulheres comunistas que nossa organização
possui. A realização do nosso I Encontro Nacional de Formação que aconteceu em
2017 em Salvador e do nosso Caderno Nacional de Formação foram importantes no
processo de nacionalização, formação de novos quadros e criação de unidade entre
o coletivo. As formações que vêm sendo indicadas no mês de março, em função do
dia internacional da mulher, os livros indicados em nosso site e as formações
organizadas pelos Estados, também têm somado nesse processo formativo. Porém,
precisamos dar um salto de qualidade nesse elemento organizativo.

152. A realidade da mulher trabalhadora, muitas vezes com extensivas jornadas de


trabalho, dificulta a existência de momentos centrados no estudo do feminismo
classista, por meio de leituras e vídeos; mas, por sua importância, eles devem ser
incentivados pela militância, e, principalmente, incrementados com as discussões
coletivas. Para isso, sugerimos que as reuniões mensais iniciem com uma análise
de conjuntura, ou discussão de tema específico.

153. A formação nacional do CFCAM precisa avançar de forma centralizada


nacionalmente, mas recebendo contribuições das secretarias estaduais e de
diferentes militantes que estejam produzindo teoricamente nos Estados. É
fundamental que os esforços sejam empenhados para promovermos diferentes
debates, utilizando os ambientes virtuais e também atividades presenciais como
espaço de formação, agitação e propaganda de nossa linha política sobre o
feminismo classista e sobre os diferentes debates que se ligam taticamente à
estratégia socialista. Devemos ter Encontros Nacionais de Formação, a fim de
manter a qualidade da nossa militância conforme crescemos.

154. Temos nos esforçado para trazer unidade nacional em alguns temas de
formação – como sobre o próprio feminismo classista, aborto, trabalho, violências
contra as mulheres, racismo, capacitismo, educação, sindicalismo -, por meio de
lives, cartilhas de formação, notas, textos e materiais virtuais. Desejamos avançar
nesse sentido, sem deixar de haver autonomia de núcleos e estados para debates
próprios que correspondam às necessidades levantadas em cada local e momento,
para que pensar a formação em cada novo núcleo seja facilitado, e, ainda, para
agirmos em unidade nacionalmente em tantos temas que as mulheres precisam de
avanços urgentes. Para que ocorra essa relação entre formações do coletivo, tanto
locais quanto nacionalmente, é indicado que cada núcleo, se tiver militantes
disponíveis para essa tarefa, destaque uma secretária de formação; e o mesmo
deve ocorrer nas Coordenações Estaduais, a fim de que essa importante política
possa ser desenvolvida.

155. Nem todos os espaços de formação que realizaremos de forma presencial ou


virtual precisam ser feitos exclusivamente por nossas próprias militantes. Podemos
convidar outras/os teóricas/os que têm se debruçado sobre o tema, mas sempre
tentando apresentar as possíveis divergências que tenhamos sobre o mesmo. Por
outro lado, é importante pensarmos taticamente como nos dividirmos nacional e
estadualmente, em relação às tarefas necessárias, para que nossas militantes
participem dos espaços de formação e possam estudar com afinco elementos que
sejam importantes para a leitura da nossa realidade.

Cultura

156. Historicamente, as comunistas participaram ativamente de várias


manifestações culturais da sociedade brasileira. Nossas poetas, escritoras,
musicistas, artistas visuais, cantoras, atrizes e outras apresentaram uma leitura da
realidade sob a ótica da luta de classes.

157. São muitos os exemplos de mulheres comunistas que, nesses 100 anos do
PCB deram importante contribuição para nossa cultura, dentre elas, Laura Brandão,
Pagu, Tarsila do Amaral, Eneida de Moraes, Arcelina Mochel, Ana Montenegro,
Alina Pahim, Jacinta Passos, Djanira, Nora Ney, Thereza Santos, Rachel de
Queiroz, Maria Aragão e Marylucia Mesquita. Elas devem ser rememoradas e
celebradas no centenário do PCB em 2022.

158. A questão cultural é muito importante para nossa atuação. Junto com a
formação, é um espaço importante para difundirmos nossas concepções socialistas,
nos manifestarmos contra o sistema patriarcal, o racismo e o machismo, contra a
exploração e a opressão por que passam as trabalhadoras. Além de ser importante
espaço para aglutinação de forças e até de independentes em prol das nossas
pautas.

159. As diferentes manifestações culturais são momentos oportunos para reflexão


dos males que nos assolam e para elevar a consciência de classe daquelas que
participam, como produtoras ou como espectadoras dessas manifestações.

160. Hoje, temos diversas camaradas que produzem poesia, que escrevem, tocam
algum instrumento e participam ativamente de diversas produções culturais. As
agendas sobre as Mulheres Revolucionárias I e II, o samba do Comuna que Pariu
sobre a luta das mulheres, a nossa participação em diversos eventos, agregando o
discurso político com atividades culturais, são exemplos de nossa atuação.

161. O CFCAM deve estimular, portanto, nossas diferentes atividades culturais. Um


dos objetivos de nossas atividades culturais é construir espaços de manifestações
para as mulheres que não tem acesso às políticas de cultura, levando rodas de
conversa com apresentações culturais diversas, como por exemplo, apresentar
filmes, através de cineclubes, seguidos de debates.

162. É de grande relevância que as militantes do CFCAM estejam inteiradas sobre


movimentos de arte e cultura em seus municípios, buscando conhecer e estreitar
laços, se congruente com a nossa linha política.

163. Com a intensificação da exploração e precarização da vida, temos observado


constantes ataques ao setor de produção cultural. Os retrocessos vividos no país,
principalmente em âmbito federal, mas também nos estados e municípios, tem
esvaziado as, que já eram escassas, possibilidades de acesso à produção cultural
para a classe trabalhadora. Diante desse cenário, é importante conhecermos a área
para desenvolvermos o trabalho junto às mulheres deste setor.

164. Por fim, é importante o entendimento de que a nossa cultura popular nasce e
mora nas periferias do Brasil, e que são inúmeras as atuações que podemos
agregar junto à comunidade, fortalecendo nosso vínculo saudável com associações
de bairro, clube de mães, lideranças políticas de vilas e demais locais estratégicos
que tenham consciência histórica do caráter opressivo de nossa sociedade, sem
precisarmos adentrar com qualquer tom professoral, mas sim como aliadas e
possíveis parceiras para atividades culturais que mostrem a nossa linha,
principalmente calcando o propósito da emancipação total da vida das mulheres.

165. Entendemos o quanto a cultura mobiliza e fortalece subjetivamente a rebeldia e


a luta anticapitalista e antiopressões, por isso é de extrema importância que se
construa espaços de sensibilização sobre a realidade da classe trabalhadora,
através de intervenções culturais e dinâmicas de grupo, por exemplo. Assim,
avançamos para a construção de uma consciência coletiva da luta e dos problemas
sociais. Importante salientar que todo tipo de intervenção cultural e mobilização do
subjetivo é complementar à teoria e à prática revolucionária, não sendo suficientes
para a consolidação da estratégia socialista se apartadas do debate político e de
ações concretas em relação às demandas de nossa classe.

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