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Lição 8 - Operações com Mercadorias

Inúmeras são as operações que envolvem mercadorias, e que devem ser re-
gistradas contabilmente em contas apropriadas, permitindo a elaboração
de Demonstrações Contábeis com plena exatidão.

Os fatos relacionados com Mercadorias serão escriturados obedecendo ao


sistema de controle de estoques adotado pela empresa, isto é, periódico ou
permanente.

Os registros das operações com Mercadorias efetuados na Contabilidade do


comprador são as seguintes:

1. Compra de Mercadorias
COMPRAS: o custo unitário de compras de um determinado tipo de Merca-
doria é obtido pelo valor total das respectivas compras, inclusive seguros e
fretes, dividido pela quantidade adquirida.

Nas compras efetuadas para Mercadorias que serão revendidas as empresas


tem o direito de se recuperar do ICMS incidente sobre as compras.

As aquisições de mercadorias são contabilizadas a débito da conta “Mercado-


rias” e a crédito da conta “Caixa” (se for a vista) ou da conta “Fornecedores” se
a compra for a prazo.

Se for mencionado na nota fiscal o Desconto Incondicional, a contabilização


se dará pelo valor líquido ou pelo valor total da nota fiscal.

A compra será lançada nas três colunas de ‘Entradas’ na Ficha de Controle de


Estoque

D - Mercadorias
C - Caixa ou Fornecedores

2. Venda de Mercadorias
VENDAS: numa primeira acepção, ”Vendas” representa o total faturado con-
tra o cliente à vista ou a prazo. Todavia, a esse valor podem ocorrer “deduções,
que são os impostos e taxas sobre vendas (ICMS, PIS sobre Faturamento, Co-
fins sobre Faturamento).

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Além dessas deduções, duas outras bem típicas ocorrem nas empresas, quais
sejam: as devoluções de vendas e os descontos (abatimentos) incondicionais
sobre Vendas.

Se contabiliza a venda apenas pelo seu valor de venda, em que se debita a


conta ‘Caixa’ ou ‘Clientes’ além da conta ‘Desconto s/ Vendas’ , caso seja con-
cedido, e se credita a conta de ‘Vendas’. Na Ficha de Controle de Estoque, lan-
ça-se nas três colunas de ‘Saídas’ pelo valor de custo.

D - Caixa ou Cliente
D - Descontos s/ Vendas (se houver)
C - Vendas

3. Resultado com Mercadorias – RCM


É obtido da diferença entre o valor das Vendas efetuadas num determinado
período e o valor do Custo das Mercadorias Vendidas incorrido nesse mesmo
período.

Assim:

RCM = V - CMV

V = Receita de Vendas
CMV = Custo das Mercadorias Vendidas

O Resultado com Mercadorias – RCM é também denominado Resultado Ope-


racional Bruto ou, simplesmente, resultado Bruto.

Quando positivo é denominado Lucro Operacional Bruto (ou Lucro Bruto) e,


quando negativo, Prejuízo Operacional Bruto (ou Prejuízo Bruto).

O Resultado Líquido de um período (lucro líquido/prejuízo líquido) é obtido


adicionando-se ao RCM as outras receitas e deduzindo-se as outras despesas.

4. Apuração do Custo das Mercadorias Vendidas – C.M.V.


Nas médias e grandes empresas há a necessidade de controle contínuo do
estoque de Mercadorias e também da quantidade de unidades existentes em
determinada data. Consegue-se isso através da baixa da mercadoria que está
sendo vendida. O valor dessa baixa é exatamente o custo da venda, ou melhor,
o Custo das Mercadorias Vendidas (CMV).

CUSTO DAS MERCADORIAS VENDIDAS (CMV): representa o valor atribuído


às mercadorias negociadas pelo comerciante com seus clientes.

O CMV, como o nome indica, é um valor de custo para o comerciante, valor


que será confrontado com o valor de venda (receita) para obtenção do Resul-
tado com Mercadoria – RCM.

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Monetariamente, o valor do CMV é obtido pela equação:

CMV = EI + C - EF

EI = Estoque Inicial
C = Compras
EF = Estoque Final

Compras = Valor das Mercadorias Adquiridas


+ Despesas Acessório para Entregas
- impostos Recuperáveis
- Devoluções de Compras

Para a obtenção do valor do CMV é necessário o conhecimento de três valo-


res, a saber: o do Estoque Inicial (igual ao do Estoque Final do período anterior
e, portanto conhecido); o das Compras (conhecido a partir dos registros efe-
tuados quando elas ocorrem); e o do Estoque Final.

A empresa tem a possibilidade de fazer um só lançamento pelo total do CMV


do período.

Dessa forma, só dará baixa das vendas no dia da apuração do resultado, o que
vai provocar a não atualização constante da conta ‘Estoque de Mercadorias’.
Isto, todavia, não acarreta maiores problemas, pois, se a Ficha estiver atuali-
zada (o que não é só desejável, mas também imprescindível na maioria das
vezes), não há a necessidade da contabilização do custo de cada venda. Fazen-
do lançamentos globais para o período, economizam-se, inclusive, trabalho e
tempo, sem prejuízo da acurácia do sistema.

D - CMV
C - Estoque de Mercadorias

5. Operações com Mercadorias: Despesas Acessórias e Devoluções


Inúmeras são as operações que envolvem mercadorias, e que devem ser re-
gistradas contabilmente em contas apropriadas, permitindo a elaboração de
Demonstrações Financeiras com plena exatidão.

Os registros das operações com Mercadorias efetuados na Contabilidade e,


descriminadas na aula anterior, sofrem influências de determinadas ocor-
rências que são as seguintes:

5.1 Frete sobre Mercadorias Compradas e Vendidas

O custo real de uma mercadoria adquirida não é somente o constante na nota


fiscal, mas o que resulta da soma deste com todas as despesas necessárias
para a colocação do produto em condições de venda.

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Normalmente são os custos de fretes e seguros os que aparecem com maior
frequência.

O seu registro deve ser feito a débito da conta de Compras (Estoque):

D – Compras
C – Caixa ou Contas a Pagar

Frete sobre compras.

Valor que será adicionado ao valor da Mercadoria adquirida e, não considera-


do como Despesa (Resultado).

Isto se o comprador tiver que arcar com essa despesa. Em alguns casos o frete
corre por conta do vendedor, caso em que não haverá despesa adicional.

5.2 Devolução de Mercadorias Compradas, Vendidas e Abatimentos

Quando um empresário se vê prejudicado ao receber certa mercadoria cujo


tipo, qualidade, preço ou outra característica esteja em desacordo com seu
pedido, ou com a nota fiscal, ou mesmo com as condições físicas que deve-
riam cercar o produto, pode ele adotar uma das seguintes medidas:
- devolver a mercadoria, total ou parcialmente; ou
- solicitar um abatimento (desconto) ao vendedor.

Por outro lado, os clientes da empresa podem defrontar-se com situações si-
milares.

Logo, a questão das “devoluções” e dos “abatimentos” pode ser analisada sob
dois ângulos: a empresa como compradora das mercadorias que revende e a
empresa como vendedora dessas últimas.

Para visualização completa da situação (devolução) apontada exemplifica-


mos com lançamentos feitos a partir de contas que já possuem os seguintes
saldos (mostrados com asteriscos nos razonetes):

MERCADORIAS: $ 30.000,00 (valor do estoque inicial).


COMPRAS: $ 182.000,00 (total de compras até o momento).
VENDAS: $ 224.000,00 (total de vendas até o momento).
CAIXA/CLIENTES: $ 322.000,00 (saldo hipotético).
FORNECEDORES: $ 107.000,00 (saldo hipotético).

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Acompanhe as seguintes operações nos razonetes, supondo que a empresa
adota o “Inventário Periódico”:
a) A empresa havia vendido por $6.000,00 (receita de vendas já registrada)
e o cliente devolve as mercadorias pelo fato de serem completamente
diversas das que foram encomendadas:

D – Devolução de Vendas
C – Caixa/Clientes $6.000,00

Observe-se que, apesar de as mercadorias devolvidas retornarem à empresa,


nenhum registro contábil é realizado em relação ao custo dessa devolução,
pois está sendo adotado o “Inventário Periódico”.
b) A empresa, ao receber certas mercadorias de um de seus fornecedores,
constata que parte delas estava totalmente danificada e resolve devolvê-
las ao fornecedor. O valor da parte devolvida é de $9.000,00 (tal valor
havia representado um custo de aquisição para a empresa, já registrado
na conta de Compras; para o fornecedor, cuja contabilidade não está
sendo retratada neste exemplo, fora receita de vendas):

D – Fornecedores (ou Caixa)


C – Devolução de Compras $9.000,00

Antes dos lançamentos para obter o CMV e o RCM existem, neste caso, dois
outros:
c) A conta de Devolução de Vendas terá seu saldo transferido para a conta de
Vendas.

D – Vendas
C – Devolução de Vendas $6.000,00

Agora, o saldo da conta Vendas passou a ser de $ 218.000,00, valor que repre-
senta as Vendas Líquidas (Receita Operacional Líquida).
d) A conta Devolução de Compras terá seu saldo transferido para a conta
Compras.

D – Devolução de Compras
C – Compras $9.000,00

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Com isso, o saldo da conta Compras passou a ser de $173.000,00, valor que
representa as Compras Líquidas.

Continuando, vamos apurar os resultados:


e) Inventariando o estoque final e a ele atribuído valor, supõe de $28.000,00,
é possível obter o CMV através dos seguintes lançamentos:

D – Custo das Mercadorias Vendidas – CMV $ 203.000,00


C – Mercadorias $ 30.000,00
C – Compras $ 173.000,00

D – Mercadorias
C – Custo das Mercadorias Vendidas – CMV $ 28.000,00

f) este lançamento permite obter o RCM que, no presente exemplo, será um


Lucro Operacional Bruto (Lucro Bruto) de $43.000,00

D – Vendas
C – Resultado com Mercadoria $ 218.000,00

D – Resultado com Mercadoria


C – Custo das Mercadorias Vendidas $ 175.000,00

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g) Apurado o Resultado Operacional Bruto (que no exemplo, por ser positivo,
pode ser chamado de Lucro Operacional Bruto, ou Lucro Bruto), resta
a transferência deste para a conta Apuração do Resultado do Exercício
(ARE), para a qual são transferidos os saldos das demais contas do
Resultado do período (demais contas de receitas e despesas):

D – Resultado com Mercadorias (RCM)


C – Apuração do Resultado do Exercício (ARE) $43.000,00

5.3 Descontos Obtidos e Concedidos (Comerciais e Financeiros)


Descontos Comerciais são concedidos pelo vendedor a favor do comprador,
no ato da compra, em função de vários motivos: seja pela grande quantidade
que está sendo vendida, seja porque o comprador é um cliente especial ou,
ainda, porque a empresa imprime catálogos com os preços das mercadorias
e, para não alterá-los frequentemente, faz a aplicação de porcentagem de
desconto sobre os mesmos, entre outros motivos.

Tais descontos são diferentes dos abatimentos. Enquanto estes são concedi-
dos após a venda, em função de avaria ou outro motivo descoberto a poste-
riori, os Descontos Comerciais já são contratados no ato da venda, conhecidos
em seu montante.

O procedimento mais comum é o seu não registro na Contabilidade do com-


prador e do vendedor.

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Caso, porém, haja necessidade ou interesse das empresas em deixar registra-
dos tais Descontos Comerciais, proceder-se-á com eles da mesma forma que
no caso das Devoluções e dos Abatimentos registrados no item anterior, em
contas específicas.

Descontos Financeiros estão condicionados, no caso do comprador ser o be-


neficiários, a algumas condições, previamente estabelecidas, como por exem-
plo, antecipação da data do pagamento das faturas.

6. Inventário Periódico e Inventário Permanente


Estoques são os bens armazenados e destinados à Venda, quer sejam de pro-
dução própria (normalmente identificados como produtos) ou simplesmente
adquiridos para Revenda, sem sofrerem processo de transformação (Merca-
dorias).

O levantamento dos estoques é providência integrante dos procedimentos


para a elaboração de Balanços e Apuração dos Resultados das pessoas jurí-
dicas.

Em princípio, todas as pessoas jurídicas estão obrigadas a escriturar o livro


REGISTRO DE INVENTÁRIO, que não exige registro nos órgãos competentes
e, as empresas podem adotar o modelo que melhor lhe convier (Fichas ou
Livro), desde que apresentem claramente as informações necessárias para a
administração e as exigidas pelas legislações comerciais e tributárias.

O Inventário dos Estoques deve ser efetuado na data do Balanço Patrimonial


ou do Balancete, seja esta determinada por conveniência administrativa ou
pela legislação tributária.

No livro REGISTRO DE INVENTÁRIO deverão ser arroladas as Mercadorias e


outros itens, existentes na data do Balanço, Balancete, observadas as seguin-
tes regras (arts. 261 a 298, do RIR/99):
- o arrolamento deverá ser efetuado com especificações que facilitem a
identificação dos bens (espécie, marca, modelo);
- os bens serão relacionados e avaliados de acordo com os critérios
admitidos pela legislação do Imposto de Renda.

Os bens devem ser discriminados individualmente, com especificações que


indiquem a sua natureza, unidade, quantidade, valor unitário e valor total de
cada um, bem como valor global por agrupamento (IN SRF nº 81/86).

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O controle do estoque de mercadorias é feito em uma ficha, conforme mo-
delo abaixo, sendo que o CMV é mostrado na coluna ‘Valor Total das Saídas’ e
o Estoque de Mercadorias atualizado é visto na coluna ‘Valor Total do Saldo’.

6.1. Controle de Estoque de Mercadorias

Tipo de Mercadoria: Método: Período:

Data Operação Entradas Saídas Saldo


- - Quant. Vl. Vl. Quant. Vl. Vl. Quant. Vl. Vl.
Unit. Total Unit. Total Unit. Total

Existem dois sistemas para controlar contabilmente os Estoques: o Periódico


e o Permanente.

►►6.1.1 Inventário Periódico


O registro contábil do estoque de mercadorias ocorrerá apenas no final dos
exercícios, quando da contagem física das quantidades existentes. Nesse caso,
as Compras são registradas em conta específica, cujo saldo dirá o seu mon-
tante cumulativo, não sendo apurado o Custo das Mercadorias Vendidas após
cada Venda. No final do exercício é efetuado Inventário físico dos Estoques
existentes (Estoque Final) e apurado o Custo das Mercadorias Vendidas (CMV)
que será:

Valor do Estoque Inicial (EI) somado ao valor das Compras (C), subtraído do
Estoque Final (EF, ou seja, a equação

CMV = EI + C – EF

Na adoção do Inventário Periódico não se exigem controles adicionais, po-


rém, indispensável, no final de cada período, o levantamento físico dos itens
em estoque e sua valoração em moeda.

►►6.1.2 Inventário Permanente


Consiste em contabilizar o Custo das Mercadorias no ato da Venda, permitin-
do que a empresa mantenha controle contínuo sobre entradas e saídas em
quantidades e valores, consequentemente dispondo de informações atuali-
zadas dos Estoques e do Custo das Vendas. De acordo com a IN DRF nº 56/92,
a empresa que possuir Registro Permanente de Estoques só estará obrigada a
ajustar os saldos contábeis, pelo confronto com a contagem física, ao final do
período de apuração relativo ao mês de dezembro de cada ano-calendário.

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A adoção do Inventário Permanente implica o uso de controles adicionais (fi-
chas de estoque manualmente preenchidas ou um sistema operado por pro-
cessamento eletrônico de dados) que permitam acompanhar as flutuações de
cada tipo de mercadoria negociada.

►►6.1.3 Importância da Exatidão nos Inventários


Não importando se será utilizado o Inventário Periódico ou Permanente, é
importante dizer que a exatidão na determinação do Estoque Final e do CMV
afeta diretamente a Demonstração de Resultado do Exercício e o Balanço Pa-
trimonial.

Partindo da fórmula:

CMV = Estoque Inicial + Compras – Estoque Final

podemos concluir que:

Se o estoque final é superestimado, o CMV é subestimado e o Lucro é superesti-


mado.

Se o estoque final é subestimado, o CMV é superestimado e o Lucro é subestimado.

e também que:

Se o estoque Inicial é superestimado, o CMV é superestimado e o Lucro é subes-


timado.

Se o Estoque Inicial é subestimado, o CMV é subestimado e o Lucro é superesti-


mado.

O inventário deve abranger, como regra geral, todas as mercadorias de pro-


priedade da empresa, quer estejam em seu poder, que sob custódia de tercei-
ros, excluídas, porém, as mercadorias de propriedade de terceiros que este-
jam em poder da empresa.

Portanto, a inclusão de mercadorias no inventário deve basear-se no critério


da propriedade e não no da posse.

Atenção também deve ser dada à mercadoria que está em trânsito.

Neste caso, as condições contratuais e o momento exato da liberação e des-


pacho é que vão determinar a inclusão ou não da mercadoria no estoque da
empresa.

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Na operação de consignação, o consignante mantém a propriedade da mer-
cadoria até que o consignatário a venda. Assim, quando aquele remete a mer-
cadoria para este, não há registro de venda no consignante nem de compra
no consignatário.

O estoque, apesar de fisicamente nas mãos de um, está no BALANÇO PATRI-


MONIAL de outro.

Quando o consignatário vender a mercadoria, fará, ao mesmo tempo, o regis-


tro da compra e o da venda.

E o consignante fará seu registro de venda.

Tudo porque o consignatário poderá devolver a mercadoria e nada lhe pode-


rá ser cobrado pelo consignante.

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