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Importância
Ponto fundamental numa empresa, as operações com mercadorias representam,
obviamente, o núcleo da atividade comercial. De um bom sistema de apuração de resultados
em operações com mercadorias, bem como dos controles físicos paralelos, depende, em
grande parte, o sucesso da empresa. O Resultado com Mercadorias (Resultado Bruto) é
responsável por cerca de 80% do Resultado Líquido (Lucro Líquido) de boa parte das
empresas comerciais, descontando-se, é, claro, as demais despesas, cuja influência média de
outros itens não operacionais de receita é de apenas 20%.
Vendas
Numa primeira acepção, “Vendas” representa o total faturado contra o cliente, quer a
vista, quer a prazo. Todavia, a esse valor podem ocorrer “deduções”, que são os “impostos e
taxas sobre vendas” (ICMS, PIS s/Faturamento, COFINS s/Faturamento).
Além dessas “deduções”, duas outras bem típicas ocorrem nas empresas, quais sejam:
as “devoluções de vendas” e os “descontos (abatimentos) incondicionais sobre vendas”.
Assim, quando se afirma que o RCM = Vendas – CMV, a palavra Vendas tem sempre o
significado de “Venda – deduções de vendas”.
Por isso, muitas vezes fala-se em Vendas Brutas (ou Receita Operacional Bruta) e
Vendas Líquidas (ou Receita Operacional Líquida).
Quando é efetuada uma compra, lança-se o seu valor a débito da conta Compras.
D – Compras
C – Fornecedores (Caixa ou Bancos)
Se houvesse uma compra total, no período, de R$ 223.000,00, esta conta seria apresentada
com este saldo:
Mercadorias Compras
100.000 | 223.000 |
Quando se realiza a venda, lança-se a operação pelo seu valor total da venda, assim:
D – Clientes (ou Caixa)
C – Vendas
Este lançamento torna nulo o saldo da conta Mercadorias e da conta Compras. Logo a
seguir:
D – Mercadorias (pelo valor do Estoque Final)
C – Custo das Mercadorias Vendidas (idem)
Este lançamento permite que a conta CMV apresente como saldo o correto valor do
“custo das mercadorias vendidas” no período e, ao mesmo tempo, volte a dar saldo à conta
Mercadorias: o valor do estoque final que constará o balanço. O valor de R$ 205.000,00
registrado como estoque final é obtido após a empresa ter feito o levantamento físico e
valoração monetária das existências naquele momento.
Para isso, transferem-se os saldos das contas Vendas e CMV para a conta RCM, da
seguinte forma:
D – Resultado com Mercadorias
C – Custo das Mercadorias Vendidas (pelo saldo)
D – Vendas
C – Resultado com Mercadorias (pelo saldo da conta Vendas)
Após os lançamentos mostrados, basta transferir o saldo da conta RCM para a conta
Apuração do Resultado do Exercício (ARE). No caso do exemplo, foi obtido um Lucro
Operacional Bruto de R$ 80.000,00.
Por outro lado, os clientes da empresa podem defrontar-se com situações similares.
Logo, a questão das “devoluções” e dos “abatimentos” pode ser analisada sob dois ângulos: a
empresa como compradora das mercadorias que revende e a empresa como vendedora destas
últimas.
Para a visualização completa das situações apontadas são elas exemplificadas com
lançamentos feitos a partir de contas que já possuem os seguintes saldos (mostrados com
asteriscos nos razonetes):
b) A empresa havia feito uma venda a um cliente (portanto, já registrara a receita com
vendas) e o cliente alega que a mercadoria apresenta alguns pequenos defeitos,
mostrando desejo de devolvê-la. A empresa propõe a concessão de um abatimento
de $4.000 para que o cliente não o faça e ele concorda:
Observe-se que neste caso a mercadoria não retornou para a empresa que vende;
ocorreu somente redução de parte da dívida de cliente para com a empresa ou, caso ele já
tivesse pago, devolução de parte de seu pagamento.
Antes dos lançamentos para obter o CMV e o RCM existem, neste caso, dois outros (e e
f).
D – Vendas ($10.000)
C – Devoluções de Vendas ($6.000)
C – Abatimentos s/Vendas ($4.000)
Agora, o saldo da conta Vendas passou a ser de $214.000, valor que representa as
Vendas Líquidas (Receita Operacional Líquida).
Com isso, o saldo da conta Compras passou a ser de $168.000, valor que representa as
Compras Líquidas.
h) Este lançamento permite obter o RCM que, no presente exemplo, será um Lucro
Operacional Bruto (Lucro Bruto) de $44.000:
D – Vendas
C – Resultado com Mercadorias ($214.000)
e
D – Resultado com Mercadorias
C – Custo das Mercadorias Vendidas ($170.000)
i) Apurado o Resultado Operacional Bruto (que no exemplo, por ser positivo, pode ser
chamado de Lucro Operacional Bruto, ou Lucro Bruto), resta a transferência deste
para a conta Apuração do Resultado do Exercício (ARE), para a qual são
transferidos os saldos das demais contas de resultado do período (demais contas de
receitas e de despesas):
RCM
Devoluções de Vendas Devoluções de Compras Resultado Operacional Bruto
(a) 6.000 9.000 (c) (h.1) 170.000 214.000 (h)
6.000 (e) (f) 9.000 (i) 44.000
Vendas 224.000
Menos:
Devoluções de Vendas (6.000)
Abatimentos s/Vendas (4.000) (10.000)
Vendas Líquidas 214.000
(-) CMV:
Estoque Inicial 30.000
(+) Compras 182.000
Menos:
Devoluções de Compras (9.000)
Abatim. s/Compras (5.000) (14.000) 168.000
Mercadorias Disponíveis 198.000
(-) Estoque Final (28.000)
Custo das Mercadorias Vendidas (170.000)
Lucro Bruto 44.000
$168.000 correspondem às compras líquidas. Devoluções e abatimentos alteram o valor das compras ou das vendas, diminuindo-
as.
Descontos comerciais
Descontos comerciais são os concedidos pelo vendedor a favor do comprador, no ato
da compra, em função de vários motivos: seja pela grande quantidade que está sendo vendida,
seja porque o comprador é um cliente especial ou, ainda, porque a empresa imprime catálogos
com os preços das mercadorias e, para não alterá-los frequentemente, faz a aplicação de
porcentagem de desconto sobre os mesmos etc.
Tais descontos são diferentes dos abatimentos. Enquanto estes são concedidos após a
venda, em função de avaria ou outro motivo descoberto a posteriori, os Descontos Comerciais
já são contratados no ato da venda, conhecidos em seu montante.
O procedimento mais comum é o seu não-registro na contabilidade do comprador e do
vendedor.
Caso, porém, haja necessidade ou interesse das empresas em deixar registrados tais
Descontos Comerciais, proceder-se-á com eles da mesma forma que no caso das Devoluções e
dos Abatimentos, com a abertura, é claro, de contas específicas de Descontos Comerciais sobre
Vendas ou Descontos Comerciais Concedidos, para o vendedor, e Descontos Comerciais sobre
Compras ou Descontos Comerciais Obtidos, para o comprador.
CMV
(a) 36.000 18.000 (e) (EF)
(d) 263.000
299.000 18.000
281.000
Observação: Caso a empresa assuma esporadicamente despesas com frete para entregar mercadorias que vendeu,
tal despesa deve ser registrada como uma das “despesas com vendas”.
Para calcular o CMV de março e o valor do Estoque Final de março pelo “método do
custo específico” há que se informar, relativamente às vendas, que unidades estão sendo
vendidas. Suponha-se, agora, as seguintes informações:
• as 10 unidades vendidas dia 11/mar. saíram do lote comprado dia 5/mar.;
• as 20 unidades vendidas dia 17/mar. saíram do estoque inicial;
• as 10 unidades vendidas dia 29/mar. saíram do lote comprado dia 23/mar.
20 20,00 400,00
5/mar. 30 30,00 900,00 - - - 30 30,00 900,00
50 1.300,00
10 20,00 200,00
11/mar. - - - 10 20,00 200,00 30 30,00 900,00
40 1.100,00
10 20,00 200,00
17/mar. - - - 10 30,00 300,00 20 30,00 600,00
20 500,00
20 30,00 600,00
23/mar. 30 35,00 1.050,00 - - - 30 35,00 1.050,00
50 1.650,00
10 30,00 300,00
29/mar. - - - 10 30,00 300,00 30 35,00 1.050,00
40 1.350,00
Observa-se que o estoque no final de março será de 40 unidades avaliadas a $ 1.350,00 pelo PEPS. O
CMV de março será de $ 1.000,00 ($ 200,00 + $ 500,00 + $ 300,00).
20 20,00 400,00
5/mar. 30 30,00 900,00 - - - 30 30,00 900,00
50 1.300,00
20 20,00 400,00
11/mar. - - - 10 30,00 300,00 20 30,00 600,00
40 1.000,00
20 20,00 400,00
23/mar. 30 35,00 1.050,00 - - - 30 35,00 1.050,00
50 1.450,00
20 20,00 400,00
29/mar. - - - 10 35,00 350,00 20 35,00 700,00
40 1.100,00
Observa-se que o estoque final de março será de 40 unidades avaliadas por $ 1.100,00 pelo uso
do método UEPS. O CMV de março será de $ 1.250,00 ($ 300,00 + $ 600,00 + $ 350,00).
O valor do estoque final (40 unidades) ficou sendo de $ 1.256,00 pelo método do “custo médio
ponderado móvel” enquanto o valor do CMV de março foi de $ 1.094,00.
O estoque inicial era o mesmo nas quatro situações ($ 400,00) e as compras também
foram as mesmas, pelos mesmos valores, ou seja, de $ 1.950,00. Em qualquer das situações
havia $ 2.350,00 de mercadorias disponíveis para venda ($ 400,00 + $ 1.950,00).
Logo, o que não sobrou em estoque final em termos de valor é porque foi vendido.
Observa-se que isto é verdade, pois, somando-se, em cada caso, o valor do CMV com o valor do
Estoque Final resulta sempre $ 2.350,00!
Por outro lado, as receitas foram iguais nos quatro casos. Os lucros brutos foram
diferentes em função de CMVs diferentes!
Em qualquer das situações, as quantidades físicas iniciais, compradas e vendidas foram
absolutamente iguais. Os diferentes valores de CMV e de Estoque Final se devem, então,
unicamente ao método que foi usado. E todos os métodos se basearam nos CUSTOS DE
AQUISIÇÃO.
É claro que se Estoque Final for diferente em cada situação, o será o estoque inicial do
período seguinte. Só haveria igualdade entre os quatro métodos se nada restasse em estoque.
Como isso não ocorreu, o método PEPS (que tem o menor CMV e o maior estoque final)
colaborará no período seguinte com um CMV maior (por enquanto “estocado”) do que os
métodos UEPS e “média ponderada”.
Qualquer que seja o método utilizado, se baseado única e exclusivamente nos custo de
aquisição como os que observamos, não considera se o preço de venda está sendo capaz de
repor as unidades vendidas. Pode ocorrer que o custo das unidades vendidas não seja igual ao
montante necessário para adquirir a mesma quantidade física que saiu da empresa.
Tomemos um deles como exemplo.
Pelo PEPS o CMV foi de $ 1.000,00 correspondendo a 40 unidades vendidas e a um
lucro (bruto) de $ 800,00. Se a empresa, no final de março, desejasse repor as 40 unidades
vendidas e constatasse serem necessários, para tal, $ 1.680,00 (cada unidade custasse $ 42,00
no final de março!)?
Para continuar afirmando que o lucro foi de $ 800,00 ela não poderia repor as 40
unidades com os $ 1.000,00 que restaram das vendas (reporia aproximadamente 24
unidades).
Mas se ela julgar que é mais importante repor as 40 unidades, antes de qualquer
consideração, saberá que serão necessários $ 1.680,00 dos $ 1.800,00 e que a “sobra” é de
apenas $ 120,00 (e não $ 800,00).
Esse é um problema gerencial com o qual os administradores se defrontam no dia-a-
dia. A Contabilidade escriturada nos moldes tradicionais (respeitando-se os princípios
contábeis tais como são hoje enunciados) não leva em conta tais situações. Para que os custos
de reposição sejam considerados (e, com isso, a continuidade do empreendimento), a
Contabilidade deve ser feita, também, em nível gerencial, abrindo campo para o que se
denomina Contabilidade Gerencial.
PEPS (FIFO)
Como já foi visto, este método supõe que as mercadorias que foram compradas
primeiro serão as primeiras a serem entregues. Conhecido como PEPS (Primeiro que Entra,
Primeiro que Sai), este método de avaliação tem a vantagem de tender a fornecer, em períodos
de alta de preços, um valor para o estoque final próximo do valor das últimas compras;
portanto, próximo do custo de reposição. Em compensação, as saídas são normalmente
avaliadas por preços mais antigos e dão origem a um CMV relativamente baixo, a um RCM
relativamente alto e, portanto, a um lucro líquido comparativamente alto também, originando
maior carga fiscal.
UEPS (LIFO)
Como já foi visto, este método supõe que as mercadorias que foram compradas por
último serão as primeiras a serem entregues. Conhecido como UEPS (Último que Entra,
Primeiro que Sai), este método apresente características opostas ao método anterior (em
períodos de alta de preços conduz a um estoque final com preços mais próximos das
aquisições mais antigas e um CMV refletindo as compras mais recentes). Tal método não é,
usualmente, permitido pela legislação brasileira.
A sua aplicação no inventário periódico é extremamente difícil, pois há necessidade de
fazer levantamentos das mercadorias mais antigas que não foram vendidas ainda. Observe-se
que as aquisições recentes é que são consideradas como entregues.