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CONTABILIDADE EMPRESARIAL

2º Sem.- Adm./C.Contábeis - JUNÇÃO - - - - - - - - - - - - - Apostila nº03


Prof. Es.: Mário Rizzatto Filho

OPERAÇÕES COM MERCADORIAS

Importância
Ponto fundamental numa empresa, as operações com mercadorias representam,
obviamente, o núcleo da atividade comercial. De um bom sistema de apuração de resultados
em operações com mercadorias, bem como dos controles físicos paralelos, depende, em
grande parte, o sucesso da empresa. O Resultado com Mercadorias (Resultado Bruto) é
responsável por cerca de 80% do Resultado Líquido (Lucro Líquido) de boa parte das
empresas comerciais, descontando-se, é, claro, as demais despesas, cuja influência média de
outros itens não operacionais de receita é de apenas 20%.

Resultado com Mercadorias (RCM)


É obtido da diferença entre o valor das Vendas efetuadas num determinado período e o
valor do Custo das Mercadorias Vendidas incorrido nesse mesmo período.
Assim:
RCM = V – CMV
ou:
RESULTADO COM MERCADORIAS = VENDAS – CUSTO DAS MERCADORIAS VENDIDAS

O Resultado com Mercadorias (RCM) é também denominado Resultado Operacional


Bruto ou, simplesmente, Resultado Bruto. Quando positivo, é denominado Lucro Operacional
Bruto (ou Lucro Bruto) e, quando negativo, Prejuízo Operacional Bruto (ou Prejuízo Bruto).
O Resultado Líquido de um período (lucro líquido/prejuízo líquido) é obtido
adicionando-se ao RCM as outras receitas e deduzindo-se as outras despesas.

Vendas
Numa primeira acepção, “Vendas” representa o total faturado contra o cliente, quer a
vista, quer a prazo. Todavia, a esse valor podem ocorrer “deduções”, que são os “impostos e
taxas sobre vendas” (ICMS, PIS s/Faturamento, COFINS s/Faturamento).
Além dessas “deduções”, duas outras bem típicas ocorrem nas empresas, quais sejam:
as “devoluções de vendas” e os “descontos (abatimentos) incondicionais sobre vendas”.
Assim, quando se afirma que o RCM = Vendas – CMV, a palavra Vendas tem sempre o
significado de “Venda – deduções de vendas”.
Por isso, muitas vezes fala-se em Vendas Brutas (ou Receita Operacional Bruta) e
Vendas Líquidas (ou Receita Operacional Líquida).

Custo das Mercadorias Vendidas (CMV)


Representa o valor atribuído às mercadorias negociadas pelo comerciante com seus
clientes. O CMV, como o nome indica, é um valor de custo para o comerciante, valor que será
confrontado com o valor de venda (receita) para a obtenção da Resultado com Mercadorias –
RCM.
Monetariamente, o valor do CMV é obtido pela equação:
Custo das Mercadorias Vendidas = Estoque Inicial + Compras – Estoque Final
CMV = EI + C - EF

O adquirente de mercadorias nem sempre considera todo o valor cobrado como


integrante de seus estoques. Surgem, então, as figuras das Compras Brutas (valor total
constante da Nota Fiscal/Fatura de aquisição) e das Compras Líquidas (valor efetivamente
considerado como estoque do adquirente). Para as finalidades deste capítulo supõe-se
Compras Brutas = Compras Líquidas.
Para a obtenção do valor do CMV é necessário o conhecimento de três valores, a saber:
o do Estoque inicial (igual ao do Estoque Final do período anterior e, portanto, conhecido); o
das Compras (conhecido a partir dos registros efetuados quando elas ocorrem); e o Estoque
Final.
Se uma empresa nunca vendesse suas mercadorias, o Estoque Final seria, a qualquer
momento, igual à soma do Estoque Inicial com as Compras até então efetuadas. Na prática, tal
fato não ocorre, mas uma sucessão interminável de compras e vendas intercaladas. A
obtenção do valor do Estoque Final é feita por uma das formas de controle dos estoques,
conhecidas por “inventário periódico” e “inventário permanente” (denominados “regimes de
inventários”).

Inventário periódico versus inventário permanente


A característica básica do inventário periódico é a de que a empresa toma
conhecimento do volume de seus estoques (para fins contábeis) de tempos em tempos, ou
seja, no final de cada período (mês, semestre, ano). Com isso, o valor do CMV também só é
conhecido periodicamente. Por isso, não há registro do CMV à medida que as vendas vão
ocorrendo.
No final do período é feito um inventário físico das mercadorias existentes, o qual, após
valorado, passa a se constituir no valor do Estoque Final. Como era conhecido o valor do
Estoque Inicial e como as Compras foram registradas, o fato de estar sendo conhecido o valor
do Estoque Final (via inventário físico) permite obter o CMV do período, através da fórmula:
CMV = EI + C – EF.
No inventário permanente implica o uso de controles adicionais (fichas de controle de
estoque manualmente preenchidas ou um sistema operado por processamento eletrônico de
dados) que permitam acompanhar as flutuações de cada tipo de mercadoria negociada.
No caso do inventário periódico, o uso dos controles mencionados no parágrafo
anterior é dispensável a nível de Contabilidade (existem casos em que são adotados processos
de controle físico das mercadorias para outras finalidades). Indispensável, porém, no final de
cada período, o levantamento físico dos itens em estoque e sua valoração em moeda.
O fato de o “inventário permanente” se basear em controles que registram todas as
operações ocorridas (entradas ou saídas) não significa que a empresa deva dispensar por
completo os levantamentos inventariais físicos (com a freqüência que julgar necessária) como
forma de testar a veracidade das informações geradas pelos controles.
A adoção de uma ou de outra forma de controle de estoques (inventário periódico ou
inventário permanente) deve levar em conta a profundidade e a periodicidade de informações
desejadas do sistema contábil da empresa, o porte da empresa, a quantidade de itens
negociados, o volume de negociações, a intensidade das operações, o comportamento do
preço de aquisição (custo) dos itens etc.
Uma desvantagem da adoção do “inventário periódico” é a de que, por não registrar
saída por saída, deixa de detectar saídas não motivadas por vendas (devoluções a
fornecedores, roubos, perdas por incêndios, por enchentes etc). Como está-se referindo ao
custo dessas saídas (que deixa de ser registrado), o CMV do período obtido poderá estar
distorcido se ocorrerem aquelas saídas não motivadas por vendas. Distorcido o valor do CMV,
estará distorcido o valor do RCM e, consequentemente, qualquer avaliação da empresa feita
em cima desse valor.
Para exemplificar o que foi dito, suponha-se que no início de um período possua 200
unidades de uma mercadoria avaliada a R$ 1,50/u. Logo, seu Estoque Inicial vale R$ 300,00.
As compras ocorridas e registradas contabilmente no período foram de 340 unidades a
R$ 1,50 cada. Logo, o total de compras do período foi de R$ 510,00.
À medida que a empresa foi vendendo no período, era feito unicamente o registro
contábil das receitas que iam sendo auferidas (preços de venda). Suponha-se que tenha sido
de R$ 817,00 no período o total das receitas.
No final é feito um inventário físico e constata a existência de 110 unidades, as quais,
avaliadas a R$ 1,50 cada, conduzem ao valor do Estoque Final de R$ 165,00.
Nada mais sendo informado, conclui-se que o Custo das Mercadorias Vendidas no
período foi de R$ 645,00, assim obtido:
CMV – EI + C – EF = R$ 300 + R$ 510 – R$ 165 = R$ 645,00
O Resultado com Mercadorias do período foi de R$ 172,00, assim obtido:
RCM = V – CMV = R$ 817,00 – R$ 645,00 = R$ 172,00
Suponha, todavia, que após tais cálculos venha a ser conhecido o seguinte fato: durante
o período 30 unidades saíram da empresa por motivo de roubo, por exemplo. Em isso sabido,
a quantidade física efetivamente vendida foi de 400 unidades, assim obtidas:
Unidades existentes no início (200) + unid. compradas (340) – unid. roubadas (30) –
unid. existentes no final (110) = Unidades vendidas (400).
Portanto, o verdadeiro CMV do período vale R$ 600 (400 x R$1,50) e o RCM é de R$
217,00 (R$817 – R$600).
Os R$ 45,00 (30 un. X R$1,50) relativos ao custo das unidades roubadas no período
representam uma perda para a empresa, mas não devem ser tratados como CMV, pois este diz
respeito, apenas, às unidades efetivamente vendidas.
Note-se, todavia, que a adoção do “inventário periódico” na sua acepção pura não
permitiria obter tais informações. Isso não quer dizer que certo tipo de saídas (tal como por
roubo, descontrole etc.) seja detectado pelo “inventário permanente”. Neste último, apenas,
restringem-se às situações de saídas cujos custos não são contabilizados no momento da
ocorrência do evento.
Numa ou noutra forma de controle, constados os fatos citados e sendo eles passíveis de
mensuração, o correto é proceder aos ajustes cabíveis. Se adotado o inventário periódico,
ajustar o valor do CMV calculado, registrando a diferença em conta própria (de ganho ou de
perda, conforme o caso). Se adotado o inventário permanente, a diferença existente entre o
real e o acusado nos controles adicionais (fichas de estoque, por exemplo) deve ser neles
ajustada para, então, a apuração do correto valor do CMV.

Inventário periódico (resumo de contabilização pelo método do inventário periódico)


Já se sabe que a apuração do Resultado com Mercadorias (RCM), no caso de Inventário
Periódico, há necessidade do levantamento físico do Estoque, o que, portanto, oferece uma
informação extracontábil.
Já se sabe, também, como apurar o RCM, após se estar de posse desse dado, porém
apenas por meio de aplicação das fórmulas.
É necessário, entretanto, contabilizar essa apuração de RCM, pois a conta Mercadorias
precisa ter o seu saldo correto, com o valor do Estoque no último dia do período, para
apresentação em balanço. Resultado com Mercadorias também deve apresentar o Resultado
Bruto obtido, para ser transferido para Resultado, onde, depois de lançadas as demais
Receitas e Despesas, figurará o Resultado Final do Período.
Podem-se contabilizar todas as operações mercantis e abrir uma conta para cada tipo
de operação, ou seja, uma para registrar as Compras, outra para Vendas e uma terceira,
normalmente Mercadorias, para o registro do valor do Estoque. São estas as três contas
básicas, utilizadas no período:
Compras e Vendas de Mercadorias.
Suponha-se, por exemplo, a existência de um estoque inicial, no primeiro dia do
período, de R$100.000,00.
A conta que o representará é:
Mercadorias
100.000 |

Quando é efetuada uma compra, lança-se o seu valor a débito da conta Compras.
D – Compras
C – Fornecedores (Caixa ou Bancos)

Se houvesse uma compra total, no período, de R$ 223.000,00, esta conta seria apresentada
com este saldo:
Mercadorias Compras
100.000 | 223.000 |

Quando se realiza a venda, lança-se a operação pelo seu valor total da venda, assim:
D – Clientes (ou Caixa)
C – Vendas

Se o total das Vendas do período fosse de R$ 198.000,00:

Mercadorias Compras Vendas


100.000 | 223.000 | |198.000

Como se depreende, a conta Mercadorias permanece intacta durante o exercício, e o


seu saldo, é óbvio, depois da primeira operação de compra ou venda, já não representa ao
valor do estoque. Tal situação perdura até o final do período (que pode ser o exercício social).

NO FINAL DO PERÍODO, para a apuração do Resultado com Mercadorias (RCM) passa-


se por duas etapas, a saber:

1ª ETAPA – APURAÇÃO DO CUSTO DAS MERCADORIAS VENDIDAS


O CMV, contabilmente falando, somente pode ter saldo devedor, representando a
redução sofrida pelo Patrimônio Líquido em decorrência da redução verificada no Ativo
exatamente pelo valor de custo das mercadorias que foram vendidas e que não mais são de
propriedade da empresa.
Para a apuração do CMV é utilizada, então, uma conta com tal denominação para a qual
são transferidos, a seu débito, os valores do Estoque Inicial e das Compras e, a seu crédito, o
valor do Estoque Final:
CMV = EI + C - EF
(saldo devedor) (débito) (débito) (crédito)

D – Custo das Mercadorias Vendidas


C – Mercadorias (pelo valor do Estoque Inicial)
C – Compras (pelo saldo)

Este lançamento torna nulo o saldo da conta Mercadorias e da conta Compras. Logo a
seguir:
D – Mercadorias (pelo valor do Estoque Final)
C – Custo das Mercadorias Vendidas (idem)

Este lançamento permite que a conta CMV apresente como saldo o correto valor do
“custo das mercadorias vendidas” no período e, ao mesmo tempo, volte a dar saldo à conta
Mercadorias: o valor do estoque final que constará o balanço. O valor de R$ 205.000,00
registrado como estoque final é obtido após a empresa ter feito o levantamento físico e
valoração monetária das existências naquele momento.

2ª ETAPA – APURAÇÃO DO RESULTADO COM MERCADORIAS

Para isso, transferem-se os saldos das contas Vendas e CMV para a conta RCM, da
seguinte forma:
D – Resultado com Mercadorias
C – Custo das Mercadorias Vendidas (pelo saldo)

D – Vendas
C – Resultado com Mercadorias (pelo saldo da conta Vendas)

Mercadorias Compras Vendas


100.000 | 223.000 | | 198.000
|100.000 | 223.000 |
205.000 | | 198.000 |

Resultado com Mercadorias Custo Merc. Vendidas Apuração do Resultado do


RCM CMV Exercício - ARE
118.000 198.000 100.000 80.000
80.000 223.000 205.000
O Saldo devedor
até aqui,
representa o
CVM = R$ 118.000
118.000

Após os lançamentos mostrados, basta transferir o saldo da conta RCM para a conta
Apuração do Resultado do Exercício (ARE). No caso do exemplo, foi obtido um Lucro
Operacional Bruto de R$ 80.000,00.

D – Resultado com Mercadorias (RCM)


C – Apuração do Resultado do Exercício (ARE)

Para a conta ARE convergiriam, naturalmente, os demais saldos de contas de resultado


para, então, ser obtido o resultado líquido do período (exercício).

Observação:- Existem diversos modos de proceder o encerramento das contas de resultado no


final de um período (exercício). No que diz respeito à obtenção do RCM, o que foi mostrado é um
deles. Outro, seria a não-utilização das contas CMV e RCM e transferir direito para a conta ARE
os valores que compõem o RCM, obtendo-se o mesmo resultado final. O uso de um ou de outro
mecanismo depende do grau de informação desejada da Contabilidade: numa empresa em que
se negociam vários produtos pode ser de grande valia para a administração conhecer o CMV e o
RCM de cada um deles (ou por linha de produto). Para isso, estruturará o Plano de Contas de
acordo com tal necessidade.

Contabilização de algumas operações que afetam vendas e compras


Devoluções e abatimentos (descontos incondicionais)

Quando um comerciante se vê prejudicado ao receber certa mercadoria cujo tipo,


qualidade, preço ou outra característica esteja em desacordo com seu pedido, ou com a nota
fiscal, ou mesmo com as condições físicas que deveriam cercar o produto, pode ele adotar uma
das seguintes medidas:
a) devolver a mercadoria, total ou parcialmente; ou
b) solicitar um abatimento (desconto) ao vendedor.

Por outro lado, os clientes da empresa podem defrontar-se com situações similares.
Logo, a questão das “devoluções” e dos “abatimentos” pode ser analisada sob dois ângulos: a
empresa como compradora das mercadorias que revende e a empresa como vendedora destas
últimas.
Para a visualização completa das situações apontadas são elas exemplificadas com
lançamentos feitos a partir de contas que já possuem os seguintes saldos (mostrados com
asteriscos nos razonetes):

Mercadorias : $ 30.000 (valor do Estoque Inicial)


Compras : $ 182.000 (total Compras até o momento)
Vendas : $ 224.000 (total Vendas até o momento)
Caixa/Clientes : $ 322.000 (saldo hipotético)
Fornecedores : $ 107.000 (saldo hipotético)

Acompanhe as seguintes operações nos razonetes, supondo que a empresa adota o


“inventário periódico”:
a) A empresa havia vendido por $ 6.000 (receita de vendas já registrada) e o cliente
devolve as mercadorias pelo fato de serem completamente diversas das que foram
encomendadas:

D – Devoluções de Vendas ($6.000)


C – Caixa/Clientes ($6.000)

Observe-se que, apesar de as mercadorias devolvidas retornarem à empresa, nenhum


registro contábil é realizado em relação ao custo dessa devolução, pois está sendo adotado o
“inventário periódico”.

b) A empresa havia feito uma venda a um cliente (portanto, já registrara a receita com
vendas) e o cliente alega que a mercadoria apresenta alguns pequenos defeitos,
mostrando desejo de devolvê-la. A empresa propõe a concessão de um abatimento
de $4.000 para que o cliente não o faça e ele concorda:

D – Abatimento s/Vendas ($4.000)


C – Caixa/Clientes ($4.000)

Observe-se que neste caso a mercadoria não retornou para a empresa que vende;
ocorreu somente redução de parte da dívida de cliente para com a empresa ou, caso ele já
tivesse pago, devolução de parte de seu pagamento.

c) A empresa, ao receber certas mercadorias de um de seus fornecedores, constata


que parte delas estava totalmente danificada e resolve devolvê-las ao fornecedor. O
valor da parte devolvida é de $9.000 (tal valor havia apresentado um custo de
aquisição para a empresa, já registrado na conta Compras; para o fornecedor, cuja
contabilidade não está sendo retratada neste exemplo, fora receita de vendas):

D – Fornecedores (ou Caixa) ($9.000)


C – Devoluções de Compras ($9.000)
d) A empresa alega a um de seus fornecedores que as mercadorias recebidas
apresentam defeitos e se propõe devolvê-las. O fornecedor, para que tal não ocorra,
contrapropõe um abatimento de $ 5.000 e a empresa aceita:

D – Fornecedores (ou Caixa) ($5.000)


C – Abatimento sobre Compras ($5.000)

Antes dos lançamentos para obter o CMV e o RCM existem, neste caso, dois outros (e e
f).

e) As contas Devoluções de Vendas e Abatimentos s/Vendas terão seus saldos


transferidos para a conta Vendas.

D – Vendas ($10.000)
C – Devoluções de Vendas ($6.000)
C – Abatimentos s/Vendas ($4.000)

Agora, o saldo da conta Vendas passou a ser de $214.000, valor que representa as
Vendas Líquidas (Receita Operacional Líquida).

f) As contas Devoluções de Compras e Abatimentos s/Compras terão seus saldos


transferidos para a conta Compras.

D – Devoluções de Compras ($9.000)


D – Abatimentos s/Compras ($5.000)
C – Compras ($14.000)

Com isso, o saldo da conta Compras passou a ser de $168.000, valor que representa as
Compras Líquidas.

Continuando, ocorrerá a sequência com os lançamentos g, h e i.

g) Inventariado o estoque final e a ele atribuído valor, suponhamos de $28.000, é


possível obter o CMV através dos seguintes lançamentos:

D – Custo das Mercadorias Vendidas ($30.000 + $168.000)


C – Mercadorias ($30.000)
C – Compras ($168.000)
e
D – Mercadorias ($28.000)
C – Custo das Mercadorias Vendidas ($28.000)

h) Este lançamento permite obter o RCM que, no presente exemplo, será um Lucro
Operacional Bruto (Lucro Bruto) de $44.000:

D – Vendas
C – Resultado com Mercadorias ($214.000)
e
D – Resultado com Mercadorias
C – Custo das Mercadorias Vendidas ($170.000)

i) Apurado o Resultado Operacional Bruto (que no exemplo, por ser positivo, pode ser
chamado de Lucro Operacional Bruto, ou Lucro Bruto), resta a transferência deste
para a conta Apuração do Resultado do Exercício (ARE), para a qual são
transferidos os saldos das demais contas de resultado do período (demais contas de
receitas e de despesas):

D – Resultado com Mercadorias (RCM)


C – Apuração do Resultado do Exercício (ARE) ($44.000)

Convém lembrar que, se tivesse ocorrido um Resultado Operacional Bruto negativo


(um Prejuízo Operacional Bruto), a conta RCM apresentaria um saldo devedor antes de ser
encerrada.

Caixa/Clientes Mercadorias Fornecedores


*322.000 | * 30.000 | | 107.000*
| 6.000 (a) | 30.000 (g) (c) 9.000 |
| 4.000 (b) (g.1) 28.000 | (d) 5.000 |

Vendas Compras CMV


224.000* *182.000 (g) 30.000
(e) 10.000 4.000 (f) (g) 168.000
(h) 214.000 168.000 (g) 28.000 (g.1)
170.000 (h.1)

RCM
Devoluções de Vendas Devoluções de Compras Resultado Operacional Bruto
(a) 6.000 9.000 (c) (h.1) 170.000 214.000 (h)
6.000 (e) (f) 9.000 (i) 44.000

Abatimentos s/Vendas Abatimentos s/Compras ARE


(b) 4.000 5.000 (d) 44.000 (i)
4.000 (e) (f) 5.000

A Demonstração do Resultado do Exercício (do período) será:

A DEMONSTRAÇÃO NA FORMA DEDUTIVA

Vendas 224.000
Menos:
Devoluções de Vendas (6.000)
Abatimentos s/Vendas (4.000) (10.000)
Vendas Líquidas 214.000
(-) CMV:
Estoque Inicial 30.000
(+) Compras 182.000
Menos:
Devoluções de Compras (9.000)
Abatim. s/Compras (5.000) (14.000) 168.000
Mercadorias Disponíveis 198.000
(-) Estoque Final (28.000)
Custo das Mercadorias Vendidas (170.000)
Lucro Bruto 44.000

$168.000 correspondem às compras líquidas. Devoluções e abatimentos alteram o valor das compras ou das vendas, diminuindo-
as.

Descontos comerciais
Descontos comerciais são os concedidos pelo vendedor a favor do comprador, no ato
da compra, em função de vários motivos: seja pela grande quantidade que está sendo vendida,
seja porque o comprador é um cliente especial ou, ainda, porque a empresa imprime catálogos
com os preços das mercadorias e, para não alterá-los frequentemente, faz a aplicação de
porcentagem de desconto sobre os mesmos etc.
Tais descontos são diferentes dos abatimentos. Enquanto estes são concedidos após a
venda, em função de avaria ou outro motivo descoberto a posteriori, os Descontos Comerciais
já são contratados no ato da venda, conhecidos em seu montante.
O procedimento mais comum é o seu não-registro na contabilidade do comprador e do
vendedor.
Caso, porém, haja necessidade ou interesse das empresas em deixar registrados tais
Descontos Comerciais, proceder-se-á com eles da mesma forma que no caso das Devoluções e
dos Abatimentos, com a abertura, é claro, de contas específicas de Descontos Comerciais sobre
Vendas ou Descontos Comerciais Concedidos, para o vendedor, e Descontos Comerciais sobre
Compras ou Descontos Comerciais Obtidos, para o comprador.

Despesas de transporte e outras


O Custo real de uma mercadoria adquirida não é somente o constante de nota fiscal,
mas o que resulta da soma deste com todas as despesas necessárias para a colocação do
produto em condições de venda. Normalmente, são os custos de fretes e seguros os que
aparecem com maior freqüência.
O seu registro deve ser feito a débito da conta própria:

D – Despesas c/Transporte em Compras


C – Caixa (ou Contas a Pagar)

Essa conta, no encerramento, acrescentará o saldo de Compras, e, na Demonstração de


Resultados na forma dedutiva, aumentará o total das Compras. Exemplo:

Desp. Transp. s/Compras Compras Mercadorias Dev.Abat.s/Compras


7.000 7.000 (b) 270.000 14.000 (c) 36.000 36.000 (a) (c) 14.000 14.000
(b) 7.000 (e) 18.000
277.000 14.000
263.000 263.000 (d)

CMV
(a) 36.000 18.000 (e) (EF)
(d) 263.000
299.000 18.000
281.000

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO (APENAS TRECHO DO CMV)


(-) CMV
Estoque Inicial 36.000
(+) Compras 270.000
(+) Transporte 7.000
Soma 277.000
(-) Devol. e Abatimentos (14.000) 263.000
Merc. Disp. Período 299.000
(-) Estoque Final (18.000) 281.000 = CMV

Observação: Caso a empresa assuma esporadicamente despesas com frete para entregar mercadorias que vendeu,
tal despesa deve ser registrada como uma das “despesas com vendas”.

Inventário permanente e avaliação dos estoques


Como foi visto antes, a adoção do “inventário permanente” exige um controle, pela
Contabilidade, de qualquer movimentação ocorrida nos estoques (quer de entrada, quer de
saída), pois são elas contabilizadas à medida que ocorrem.
Por isso, quando usado o “inventário permanente” não basta, a partir do valor do
Estoque Inicial, registrar os valores de custo de cada uma das compras (entradas). Quando
mercadorias são vendidas, a Contabilidade deve conhecer o custo de cada lote vendido (além
da receita de venda, é claro) para registrá-lo. Para que tal ocorra, a empresa deve dispor de
mecanismos que gerem essa informação.
Os mecanismos são os mais variados possível e podem ser processados manualmente
ou com o uso de equipamentos, nestes se incluindo o processamento eletrônico de dados. Os
controles mencionados não devem ser confundidos com aqueles existentes nos almoxarifados
onde, via de regra, apenas se anota a movimentação das quantidades físicas.
Para fins de atender a Contabilidade pode até ocorrer um tipo de fusão entre os
controles físicos e os controles financeiros, mas é a partir destes últimos que são feitos os
registros contábeis.
A questão de dispor da informação do valor do custo de cada mercadoria (cada lote)
vendida está intimamente ligada com a avaliação das próprias mercadorias. E nem poderia ser
diferente, pois definido o valor do Estoque Final fica, por decorrência, definido o valor do
CMV, e vice-versa.
O assunto “avaliação de mercadorias” está contido em outro bem mais amplo –
“avaliação de todos os itens patrimoniais” – e que é uma das “dores de cotovelo” da
contabilidade, quiçá a maior, pois, variando o valor atribuído aos itens ativos e aos itens
passivos (obrigações), variará o valor do Patrimônio Líquido (situação líquida), o tão
discutido “valor da empresa”.
A Contabilidade, tal como é feita na maior parte dos países do mundo, se orienta nos
“princípios fundamentais da contabilidade” (alguns autores ainda os denominam “princípios
contábeis geralmente aceitos”) sendo um deles o do “custo original (histórico) como base de
valor”.
Adotado o “princípio do custo original (histórico)”, as mercadorias são registradas pelo
valor pactuado entre o comerciante e seu fornecedor, na data da transação. Esse valor (o valor
original, histórico) é o que ficará sendo o valor das mercadorias, enquanto de propriedade da
empresa (Estoques, no Ativo) até que, quando vendidas, tal valor passa a ser o CMV.
Apesar de esse ser o princípio orientador para a avaliação das mercadorias, enquanto
no Ativo (e do CMV, quando vendidas) existem outras formas de encarar o assunto “avaliação
das mercadorias”. Muitas delas surgiram para atender a situações específicas enfrentadas
para ser possível gerir a empresa.
Existem vários critérios para avaliar as mercadorias (e, teoricamente, outros Ativos)
quais sejam:
a) levando em conta o “custo de aquisição” (histórico);
b) levando em conta o “custo de reposição”, ou “custo corrente”;
c) levando em conta o preço de venda, ou preço de mercado.

Os critérios b e c abandonam o tradicional “princípio do custo original (histórico)”.


Cada um dos critérios arrolados pode ser subdividido em métodos distintos de abordar
o assunto. Apenas a título de curiosidade citamos a seguir alguns dos métodos possíveis
dentro do “critério do custo de aquisição”.
• método do custo específico;
• método do custo mais recente;
• método PEPS (ou FIFO), conhecido por “Primeiro a Entrar é o Primeiro a Sair”, do
inglês “first In, First Out”;
• método UEPS (ou LIFO), conhecido por “Último a Entrar é o Primeiro a Sair”, do
inglês Last In, First Out”;
• método do “custo médio ponderado”;
• método do “custo médio ponderado variável”.
A seguir, adotando como posição o exame de avaliação das mercadorias pelo critério do
custo de aquisição, serão abordados quatro dos métodos arrolados, tendo-se em vista sua
aplicação no “inventário permanente”.

Método do custo específico


Segundo este método, o custo de uma mercadoria vendida é exatamente o custo de
adquiri-la. Há, portanto, uma relação íntima e indissociável entre as unidades físicas e seus
custos de aquisição, enquanto estiverem no Ativo, tanto para fins de balanço como para fins
de determinação do CMV.
Fácil observar, portanto, que este método é aplicável em circunstâncias especiais, mas
raramente em atividades comerciais altamente repetitivas, com itens altamente homogêneos,
em que seria muito custoso (e inútil) identificar cada saída com anota fiscal/fatura original da
compra para, então, atribuir valor ao custo da(s) mercadoria(s) vendida(s).
Poderia ser usado, por exemplo, no comércio de glebas de terras, de aparelhos de
precisão para laboratórios, de jóias de alto valor, de produtos feitos em pequenas quantidades
sob encomenda e de telas raras.
Para ilustrar numericamente, suponha-se que uma empresa, no início do mês de
março, possua um estoque (inicial) de 20 unidades de certa mercadoria avaliada a $ 20 cada
uma, ou seja, um total de $ 400 de Estoque Inicial. A movimentação dessa mesma mercadoria
em março é a seguinte:
Data Operação
5/mar. Compra de 30 unidades a $ 30 cada
11/mar. Venda de 10 unidades
17/mar. Venda de 20 unidades
23/mar. Compra de 30 unidades a $ 35 cada
29/mar. Venda de 10 unidades

Para calcular o CMV de março e o valor do Estoque Final de março pelo “método do
custo específico” há que se informar, relativamente às vendas, que unidades estão sendo
vendidas. Suponha-se, agora, as seguintes informações:
• as 10 unidades vendidas dia 11/mar. saíram do lote comprado dia 5/mar.;
• as 20 unidades vendidas dia 17/mar. saíram do estoque inicial;
• as 10 unidades vendidas dia 29/mar. saíram do lote comprado dia 23/mar.

Com isso, o custo das mercadorias vendidas será de $ 1.050 (10 x $ 30 + 20 x $ 20 + 10


x $ 35) e o Estoque Final será de $ 1.300,00.

Método Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair (PEPS)


O método em epígrafe adota, para considerar o valor do CMV, o raciocínio de que:
vendem-se primeiro as unidades que foram adquiridas primeiro.
Com isso, o CMV retrata o valor das mercadorias adquiridas há mais tempo e o que
resta, o Estoque Final, retrata o valor do custo das mercadorias que foram compradas mais
recentemente. Utilizando os mesmos dados fornecidas para exemplificar o método do
custo específico, observe-se como pode ser representada a movimentação física e financeira
pelo método PEPS:

ENTRADAS SAÍDAS SALDOS


Datas Valores ($) Valores ($) Valores ($)
Quant. Unit. Total Quant. Unit. Total Quant. Unit. Total
EI - - - - - - 20 20,00 400,00

20 20,00 400,00
5/mar. 30 30,00 900,00 - - - 30 30,00 900,00
50 1.300,00
10 20,00 200,00
11/mar. - - - 10 20,00 200,00 30 30,00 900,00
40 1.100,00

10 20,00 200,00
17/mar. - - - 10 30,00 300,00 20 30,00 600,00
20 500,00

20 30,00 600,00
23/mar. 30 35,00 1.050,00 - - - 30 35,00 1.050,00
50 1.650,00

10 30,00 300,00
29/mar. - - - 10 30,00 300,00 30 35,00 1.050,00
40 1.350,00
Observa-se que o estoque no final de março será de 40 unidades avaliadas a $ 1.350,00 pelo PEPS. O
CMV de março será de $ 1.000,00 ($ 200,00 + $ 500,00 + $ 300,00).

Método Último a Entrar, Primeiro a Sair (UEPS)


O método em exame raciocina assim: as unidades que por último foram adquiridas, são
as primeiras a serem vendidas.
Com isso, o CMV obtido pelo UEPS reflete ao valor das mercadorias compradas mais
recentemente e o Estoque Final retrata o valor das mercadorias compradas mais antigamente.
Novamente se valando dos dados fornecidos ao exemplificar o método do custo
específico, vejamos como representar a movimentação física-financeira pelo UEPS.

ENTRADAS SAÍDAS SALDOS


Datas Valores ($) Valores ($) Valores ($)
Quant. Unit. Total Quant. Unit. Total Quant. Unit. Total
EI - - - - - - 20 20,00 400,00

20 20,00 400,00
5/mar. 30 30,00 900,00 - - - 30 30,00 900,00
50 1.300,00

20 20,00 400,00
11/mar. - - - 10 30,00 300,00 20 30,00 600,00
40 1.000,00

17/mar. - - - 20 30,00 600,00 20 20,00 400,00

20 20,00 400,00
23/mar. 30 35,00 1.050,00 - - - 30 35,00 1.050,00
50 1.450,00

20 20,00 400,00
29/mar. - - - 10 35,00 350,00 20 35,00 700,00
40 1.100,00

Observa-se que o estoque final de março será de 40 unidades avaliadas por $ 1.100,00 pelo uso
do método UEPS. O CMV de março será de $ 1.250,00 ($ 300,00 + $ 600,00 + $ 350,00).

Método do custo médio ponderado móvel


Por meio desse método, há uma fusão das quantidades monetárias decorrentes de
novas compras com o custo total do que existia em estoque antes da compra. O novo custo
unitário passa, então, a ser obtido pela divisão desse valor global pelo total de unidades
existentes. Cada nova compra, se for feita por um custo unitário diferente do até então
existente, provocará alteração do novo custo unitário. Influem nesse novo custo unitário tanto
as quantidades (existentes e compradas) como o custo unitário (existente e da nova compra).
As vendas não vão provocar alteração no custo unitário, pois o custo unitário das
unidades vendidas é, sempre, o último custo unitário calculado.
Com os dados já conhecidos, vejamos como registrar a movimentação físico-financeira
pelo método em exame, também vulgarmente denominado somente por “média ponderada”.

ENTRADAS SAÍDAS SALDOS


Datas Valores ($) Valores ($) Valores ($)
Quant. Unit. Total Quant. Unit. Total Quant. Unit. Total
EI - - - - - - 20 20,00 400,00
5/mar. 30 30,00 900,00 - - - 50 26,00 1.300,00
11/mar. - - - 10 26,00 260,00 40 26,00 1.040,00
17/mar. - - - 20 26,00 520,00 20 26,00 520,00
23/mar. 30 35,00 1.050,00 - - - 50 31,40 1.570,00
29/mar. - - - 10 31,40 314,00 40 31,40 1.256,00

O valor do estoque final (40 unidades) ficou sendo de $ 1.256,00 pelo método do “custo médio
ponderado móvel” enquanto o valor do CMV de março foi de $ 1.094,00.

Comparação entre os métodos


Para uma observação dos reflexos dos quatro métodos ilustrados, suponha-se que os
preços unitários das três vendas realizadas tenham sido de $ 40,00, $ 45,00 e $ 50,00
conforme a ordem cronológica em que ocorreram. Logo, a receita total do mês de março foi de
$ 1.800,00.
Tabulando os dados de forma resumida teremos:

Custo Específico PEPS UEPS Média Ponderada Móvel


Vendas 1.800 1.800 1.800 1.800
(-) CMV 1.050 1.000 1.250 1.094
Lucro Bruto 750 800 550 706
Est. Final 1.300 1.350 1.100 1.256

O estoque inicial era o mesmo nas quatro situações ($ 400,00) e as compras também
foram as mesmas, pelos mesmos valores, ou seja, de $ 1.950,00. Em qualquer das situações
havia $ 2.350,00 de mercadorias disponíveis para venda ($ 400,00 + $ 1.950,00).
Logo, o que não sobrou em estoque final em termos de valor é porque foi vendido.
Observa-se que isto é verdade, pois, somando-se, em cada caso, o valor do CMV com o valor do
Estoque Final resulta sempre $ 2.350,00!
Por outro lado, as receitas foram iguais nos quatro casos. Os lucros brutos foram
diferentes em função de CMVs diferentes!
Em qualquer das situações, as quantidades físicas iniciais, compradas e vendidas foram
absolutamente iguais. Os diferentes valores de CMV e de Estoque Final se devem, então,
unicamente ao método que foi usado. E todos os métodos se basearam nos CUSTOS DE
AQUISIÇÃO.
É claro que se Estoque Final for diferente em cada situação, o será o estoque inicial do
período seguinte. Só haveria igualdade entre os quatro métodos se nada restasse em estoque.
Como isso não ocorreu, o método PEPS (que tem o menor CMV e o maior estoque final)
colaborará no período seguinte com um CMV maior (por enquanto “estocado”) do que os
métodos UEPS e “média ponderada”.
Qualquer que seja o método utilizado, se baseado única e exclusivamente nos custo de
aquisição como os que observamos, não considera se o preço de venda está sendo capaz de
repor as unidades vendidas. Pode ocorrer que o custo das unidades vendidas não seja igual ao
montante necessário para adquirir a mesma quantidade física que saiu da empresa.
Tomemos um deles como exemplo.
Pelo PEPS o CMV foi de $ 1.000,00 correspondendo a 40 unidades vendidas e a um
lucro (bruto) de $ 800,00. Se a empresa, no final de março, desejasse repor as 40 unidades
vendidas e constatasse serem necessários, para tal, $ 1.680,00 (cada unidade custasse $ 42,00
no final de março!)?
Para continuar afirmando que o lucro foi de $ 800,00 ela não poderia repor as 40
unidades com os $ 1.000,00 que restaram das vendas (reporia aproximadamente 24
unidades).
Mas se ela julgar que é mais importante repor as 40 unidades, antes de qualquer
consideração, saberá que serão necessários $ 1.680,00 dos $ 1.800,00 e que a “sobra” é de
apenas $ 120,00 (e não $ 800,00).
Esse é um problema gerencial com o qual os administradores se defrontam no dia-a-
dia. A Contabilidade escriturada nos moldes tradicionais (respeitando-se os princípios
contábeis tais como são hoje enunciados) não leva em conta tais situações. Para que os custos
de reposição sejam considerados (e, com isso, a continuidade do empreendimento), a
Contabilidade deve ser feita, também, em nível gerencial, abrindo campo para o que se
denomina Contabilidade Gerencial.

Avaliação do estoque no caso de inventário periódico


Embora se tenha tratado do inventário periódico no início, retorna-se a ele agora
porque naquela oportunidade não foram abordados os métodos de valorização dos estoques,
que são os mesmos do Inventário Permanente, porém com algumas restrições.

Método do preço específico


O uso deste método exige identificação do custo de cada unidade e de qual unidade foi
vendida. Como tais identificações são excessivamente onerosas, desaconselha-se o uso deste
método para inventário periódico.

PEPS (FIFO)
Como já foi visto, este método supõe que as mercadorias que foram compradas
primeiro serão as primeiras a serem entregues. Conhecido como PEPS (Primeiro que Entra,
Primeiro que Sai), este método de avaliação tem a vantagem de tender a fornecer, em períodos
de alta de preços, um valor para o estoque final próximo do valor das últimas compras;
portanto, próximo do custo de reposição. Em compensação, as saídas são normalmente
avaliadas por preços mais antigos e dão origem a um CMV relativamente baixo, a um RCM
relativamente alto e, portanto, a um lucro líquido comparativamente alto também, originando
maior carga fiscal.

UEPS (LIFO)
Como já foi visto, este método supõe que as mercadorias que foram compradas por
último serão as primeiras a serem entregues. Conhecido como UEPS (Último que Entra,
Primeiro que Sai), este método apresente características opostas ao método anterior (em
períodos de alta de preços conduz a um estoque final com preços mais próximos das
aquisições mais antigas e um CMV refletindo as compras mais recentes). Tal método não é,
usualmente, permitido pela legislação brasileira.
A sua aplicação no inventário periódico é extremamente difícil, pois há necessidade de
fazer levantamentos das mercadorias mais antigas que não foram vendidas ainda. Observe-se
que as aquisições recentes é que são consideradas como entregues.

Média ponderada móvel


Supõe-se que as mercadorias entregues são compostas por lotes recentes e antigos;
uma espécie de média, portanto; daí serem avaliadas por um preço médio.
Este método é quase impraticável no inventário periódico, pois há um esforço tão
grande em levantamentos de compra, e baixa para encontrar o preço médio ponderado, que é
melhor trabalhar com o inventário permanente. Pode-se trabalhar com a média simples (não
ponderada) das últimas compras (que muitas vezes não reflete a realidade).

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