Você está na página 1de 6

Oskar Lange – Ensaios Sobre Planificação Econômica

I – Modelos de desenvolvimento econômico

O desenvolvimento segundo Lange não tinha muita importância para muitos


economistas, os estudos de alguns deles estava centrado no equilíbrio econômico e esse
desenvolvimento ocorreria espontaneamente.

O autor faz um breve comentário sobre a primeira guerra mundial abordando que
houve desenvolvimento nos países socialistas quando teve inicio a Revolução Russa,
surgindo assim países como China e União Soviética. Outro exemplo que ele cita foram
os movimentos denominados por ele de movimentos revolucionários nacionalistas,
revoluções que foram feitas por países que eram colônias. Com esse levantamento os
países que não eram desenvolvidos tinham problemas de progressão econômica e que
foram fatores centrais para estudar o tema de planificação.

Lange enumera três modelos:

I – Modelo Capitalista (Europa Ocidental e EUA).

II – Modelo Socialista (União Soviética, Europa Oriental/Central, China e outros países


asiáticos).
III – Modelo Nacionalista–Revolucionário (Países/Dependentes coloniais e
semicoloniais)

Segundo Lange o fator essencial do desenvolvimento econômico é o aumento da


produtividade do trabalho. Isso será possível de três maneiras, acumulação de parte do
produto para investimento, progressão da técnica e uma melhor organização nas
atividades da economia. Economias estagnadas tem baixo índice de recursos para se
investir gerando uma baixa produtividade do trabalho e pequenos índices de excedentes
não são suficientes para o motor econômico trabalhar, sendo que parte do excedente
deve ser para investimento. Para alguns economistas o modelo capitalista é essencial ao
desenvolvimento da economia, mas porque o sistema em si gera tantas desigualdades
sociais econômicas? Simplesmente por suas falhas sistemáticas, como ressaltou
Schumpeter em seus ciclos econômicos.

Lange enumera algumas características do capitalismo, são elas: acumulação do


capital, investimento produtivo e exploração. Isso acelera o desenvolvimento. Sendo
que o Estado subsidia muitas empresas privadas e essas aceleram. Acelerar o
desenvolvimento não é sinônimo de que o sistema permaneça constante para sempre.
Para Lange países que eram menos desenvolvidos, taxas de lucros que são maiores
ajudam a se desenvolver. O capitalismo dos países desenvolvidos estavam se tornando
monopolistas e imperialistas, dessa forma era impraticável em países subdesenvolvidos
essa forma dinâmica de capitalismo.
O capital das economias subdesenvolvidas é de caráter muitas vezes unilateral,
grande parte desses investimentos não vai para o país que utiliza essa forma dinâmica de
se desenvolver, mas para o país sugador. Esse capital implementado não tem força
motora para desenvolver-se, nisto Lange é preciso. Países que sofriam disso tomam
outro rumo.

Dentro desse aspecto Lange diz que os agentes principais da revolução social foram
a estatização dos setores de indústrias, comércio, finanças e transportes. Fazendo uma
reforma agrária adequada e assim abolindo elementos feudais e dividindo a terra. Se
voltarmos no tempo e analisar a situação da América do Norte e Américo do Sul
percebemos que são bem distintas e há uma diferença na colonização de ambos, EUA e
Brasil. Se no Brasil em tempos passados fosse criado sistemas de estatização isso iria
fornecer lucros para novos investimentos industriais, assim iria gerar reinvestimentos
sobre os próprios lucros, mas isso era inviável, pois não existia estado e muito menos
indústria. A indústria que existia todo seu lucro iria para a capital sugadora.

Em alguns países parte dos camponeses, que receberam terras, contribuía com um
pequeno imposto, o Estado recolhia esse imposto para novos investimentos, mas o
Brasil na situação que vivia era inviável tal prática, pois era uma sociedade na base da
escravidão e cobrar imposto de escravo é muito contraditório, muitos até pagaram
imposto só que esse foi com sua própria vida.

O modelo nacionalista-revolucionário, segundo Lange, é organizado nos mesmos


moldes que o modelo socialista, investimentos estatais e públicos. O investimento
público será a força motora. Nos países nacionalistas-revolucionários a estatização é
limitada no quesito, capital estrangeiro. Nota-se que o Estado tem em parte total
autonomia. O modelo de desenvolvimento para Lange é: “o desenvolvimento
econômico não é espontâneo como no modelo capitalista clássico; ele é conseguido
conscientemente através de planificação” (p.12). Fica claro que o modelo nacionalista-
revolucionário e o socialismo tinham em comum, coisa que no capitalismo pode até ter,
mas não duradouro.

2 – Desenvolvimento Econômico Planificado

A planificação econômica tem sua origem nas economias socialistas, e essa mesma
planificação tem o objetivo de promover o desenvolvimento econômico. O
desenvolvimento não ocorre do Big Bang, mas de planificação econômica. O fator
estratégico da planificação é o investimento produtivo, havendo esse investimento ele
deve ser canalizado para setores da economia que iram aumentar o produto da economia
nacional.

Segundo Lange a planificação tem dois problemas, mobilizar os recursos para


investimento e encaminhar os investimentos. Existe os estímulo aos poupadores
privados para que eles canalizem seus recursos para o desenvolvimento e uma
tributação dos usos improdutivos da riqueza que não levam ao investimento produtivo.
O problema do desenvolvimento planificado é assegurar os recursos e direcioná-
los. Lange subintitula o direcionamento do investimento em três problemas que são:
alocar investimentos tentando assegurar o crescimento da produção, assegurar o
desenvolvimento equilibrado e, a eficácia dos recursos para o desenvolvimento da
economia. Esses são os problemas enfrentados pela planificação ressaltados por ele. “É
só pelo desenvolvimento das indústrias que produzem meios de produção que a
capacidade produtiva da economia pode ser elevada” (p.14).

O investimento nos meios de produção não são únicos, para Lange é necessário
mais dois tipos de investimentos, na agricultura aumentando a produção de alimentos,
com parte da população empregada na área industrial é necessário aumentar o nível de
produção alimentícia, pois o padrão da vida aumenta. O outro tipo de investimento é na
infraestrutura, sistema de transporte, estradas etc. Lange diz: “ um dos problemas de
muitos, se não da maioria dos países subdesenvolvidos era – e isso fazia parte do
sistema colonial ou imperialista – que ocorria uma significativa construção dessa
infraestrutura econômica puramente para atender ás necessidades de exploração
colonial, não para o desenvolvimento do poderio produtivo do país” (p.15). Vendo essa
afirmativa pensamos no caso do Brasil em sua época de exploração e prostração aos
Europeus.

As economias subdesenvolvidas vivem dois dilemas “(1) métodos com menor


intensidade de mão de obra e que propiciam um nível de emprego mais baixo, mas que
elevam rapidamente a produção e a renda nacional, ou de (2) outros métodos com
elevado coeficiente de mão de obra mas que levam a um ritmo mais lento do aumento
da produção e da renda nacional” (p.15). A economia subdesenvolvida deve escolher a
que plano deve seguir, em curto prazo maior intensidade de mão de obra, pois
aumentará o emprego. No longo prazo, investir nas indústrias para aumentar a
produção, assim a renda do país irá se elevar, pois em certo tempo as indústrias que
mesmo desenvolvendo-se de maneira devagar, posteriormente o que foi investido irá se
tornar em emprego.

Segundo Lange no estágio inicial de desenvolvimento surge a necessidade de


importar matéria-prima e máquinas. O processo de se industrializar exige aumento das
importações. Sendo que certo países detém produtos exportáveis e isso facilita o
desenvolvimento, como era o caso do Brasil, nosso país detinha de muitas riquezas que
por falta de organização foram se esvaindo para Europa. Os países que não tem recursos
próprios devem reduzir os bens de consumo, para assim arrecadar divisas e gerar
investimentos, se o Brasil tivesse feito isso a história seria outra.

Lange cita o equilíbrio físico que faz uma avaliação entre investimento e produção,
fala de equilíbrio monetário, que é o equilíbrio nas rendas da população, o equilíbrio
entre consumo e a produção de bens de consumo. É preciso existir um sistema de preços
para contabilizar os custos. O sistema de preços torna-se base para a contabilidade e
incentivo. O problema nas economias socialistas e nacionalistas-revolucionarias é
assegurar o crescimento da capacidade produtiva. No estágio inicial a questão é
mobilizar recursos para o investimento produtivo e dar direção para setores da economia
que aumenta mais rapidamente o potencial produtivo do país, utilizando formas de
tecnologia com maior índice de produtividade.

3 – O desenvolvimento econômico e a cooperação internacional

No terceiro tópico ele cita três problemas, sobre questões de desenvolvimento,


comércio internacional, ajuda aos países em desenvolvimento e por último questões de
origem política que será relacionadas ao desarmamento. O desarmamento para Lange é
uma ameaça a humanidade. Desarmamento radical causa problemas de realocação de
recursos, as economias capitalistas tem problemas de demanda efetiva. “Uma redução
de gastos em armamentos feita rapidamente e em larga escala reduz a demanda dos
produtos industriais armamentistas” (p.20). Com isso reduz a produção e também o
nível de emprego, reduzindo o consumo e investimento, é uma quebra na balança.

Existem duas maneiras de resolver o problema do desarmamento nos países


capitalistas sem causar recessão ou depressão, uma é o aumento do comércio
internacional e a outra é ação do planejamento para a progressão econômica dos países
que são subdesenvolvidos. Lange faz a proposta que os países tanto capitalistas como
socialistas se desarmem, para assim liberar recursos para regiões menos desenvolvidas.

Regular a expansão do comércio externo para Lange é a essência para se progredir


economicamente em regiões de subdesenvolvidos. Países em desenvolvimento precisam
importar capitais de outros países ricos. O capital monopolista colhe grandes lucros,
segundo Lange o capital privado que nos manuais de economia era de uma forma, na
prática é totalmente outra, esse capital era de forma invertido agindo como um vampiro
sugador no qual os países dependentes sofriam com essa sucção feita.

Para Lange existe o investimento bilateral, ou seja, é o investimento de estado para


estado, a maioria dos países socialistas utiliza esse tipo de acordo. A questão em si é
adotar investimento que levem diretamente ao desenvolvimento do potencial industrial
do país. A União Soviética tomou essa atitude para ajudar países como, Índia, a se
desenvolver e ter um possível crescimento. Se muitos países capitalistas se
desarmassem os recursos que antes se utilizavam na construção de armamentos seria
direcionado para os países subdesenvolvidos.

“Países industrializados mais desenvolvidos podem encontrar um campo útil de


cooperação econômica planificada em comum” (p.25), ou seja, é possível encontrar um
acordo se muitos países deixarem de lado suas ferramentas bélicas e unirem forças para
assim promover o progresso do desenvolvimento. A cooperação internacional será de
maneira pacífica, sem motivo de guerra, a teoria é bela no papel na prática vemos uma
discrepância total, essa cooperação internacional é para a sociedade se ajustar
politicamente e economicamente, sendo assim terá seu progresso.

II – Alguns problemas referentes a planificação econômica dos países


subdesenvolvidos
1 - O problema fundamental de uma economia subdesenvolvida

Para Lange uma economia subdesenvolvida é: “uma economia em que o acervo


disponível de bens de capital não é suficiente para dar emprego a totalidade da força de
trabalho disponível utilizando as modernas técnicas de produção” (p.26). O capital é
escasso para a sociedade trabalhadora.

Existem duas opções para tais economias subdesenvolvidas, empregar mão de obra
com técnicas atrasadas de trabalho que resultam numa renda mais baixa. Outra forma
seria adotar técnicas mais sofisticadas de produção, segundo Lange poderá ocasionar
alto desemprego ou subemprego devido ao capital ser escasso. Percebe-se aqui que a
teoria do equilíbrio econômico é falha. Com a mão de obra totalmente empregada a
renda da economia será baixa.

Lange destrincha a fórmula do desenvolvimento, onde:

c → Valor do acevo total de bens de capital disponíveis;


v → Valor total da força de trabalho empregada;
→ grau médio de intensidade de capital da produção;

N → Total de força de trabalho empregada


w → Taxa média de salários

Total de emprego

N Total da força de trabalho disponível, para Lange está em subdesenvolvimento


sempre que N<N0; onde mede o grau de subdesenvolvimento.
Em sua abordagem só poderá se elevar o emprego sob duas formas, reduzindo
com baixa produtividade, ou c tem de aumentar para que o pleno emprego seja
correspondente as novas técnicas de produção e ande na mesma proporção. A única
via para tirar um país do subdesenvolvimento é acumular capital, na visão de Lange. A
questão em jogo é que o excedente das economias subdesenvolvidas não são destinadas
a si próprias, mas para onde vai esses excedentes? A resposta é simples, a classe
dominante recolhe e usa esses recursos para fins próprios ofuscando o desenvolvimento,
a concentração desse excedente fica nas mãos de classes dominantes.

O capital estrangeiro que vem para os países subdesenvolvidos não são reinvestidos
no país, mas simplesmente tomado por grande parte dos monopolistas. Parte do lucro,
extraído dos países subdesenvolvidos, destinam-se a países metrópoles. Lange afirma
que esse capital, grande parte dele, é reinvestido nos países subdesenvolvidos em forma
de indústrias de bens de consumo e produção de matérias primas e produtos
alimentícios, essa análise retrata o caso de países como o Brasil onde muitos estados
brasileiro são pobres quando se fala de desenvolvimento.

2 – A acumulação mediante o desenvolvimento econômico planificado

O Capital estrangeiro, muitos deles, vem para os países subdesenvolvidos em forma


de capital monopolista. Esse mesmo capital estrangeiro deve ser utilizado para fins de
desenvolvimento econômico, mas o país precisa de recursos internos que possam
favorecer o terreno tais condições serão impostas pelos países subdesenvolvidos.
Os investimentos públicos segundo Lange é a mola que liga o desenvolvimento da
economia. Estatizar as indústrias e os bancos públicos é uma via de melhoria, pois
nenhum recurso será para capitais monopolistas. Lange aconselha aos países a fazerem
uma revolução popular. Mas é preciso conscientizar as pessoas de tais revoluções, que
não seja que qualquer maneira, a utilidade de promover tais revoluções. O problema de
fazer revoluções é que certas políticas não deixam.

3 – O papel do setor estatizado

O setor estatizado é a força motriz do desenvolvimento da economia, é nesse setor


que ocorre investimento. O desenvolvimento do setor estatizado em economias
subdesenvolvidas é de grande importância. Para Lange ele é o núcleo e o ponto de
partida do desenvolvimento para uma sociedade socialista.
“O investimento público socialista e a empresa estatizada socialista serve as
necessidades da nação como um todo para desenvolver a economia nacional de uma
forma equilibrada e para liberá-lo da dominação das concentrações privadas de poder
econômico” (p.31).
O capitalismo pode dar inicio a um progresso na sociedade, mas não dá sustento
por períodos longos, bem analisados nos ciclos de Schumpeter, o capitalismo oscila.

Você também pode gostar