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PROPÓSITO
Apresentar a definição de mundo contemporâneo a partir da consolidação do capitalismo para a
compreensão das mudanças econômicas que tanto impactam nossas relações sociais.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Na escola, nós aprendemos a velha linha do tempo. Ela dizia que depois da Revolução Francesa – em
especial a Queda da Bastilha – iniciava-se o período contemporâneo. Na prática, precisamos entender
que o criador desse modelo vivia logo após do momento emblemático na França, no seu próprio tempo,
na contemporaneidade, e não sabia o que viria depois.
Passados alguns anos e muitos estudos, percebemos que houve muito mais do que uma mudança
política. Se a Revolução Francesa foi importante, outro evento criaria uma ideia de mundo: a Revolução
Industrial.
Fonte: wikipedia.
Ferro e carvão, William Bell Scott, 1855-1860. Fonte: Hohum.
Os pensadores que discorreram sobre o funcionamento desse maior e mais complexo mundo financeiro.
A partir do século XIX, a produção em escala industrial alcançou países de diversos continentes – como
Estados Unidos, Japão e Bélgica – inserindo a energia elétrica, o motor a vapor, a utilização do aço,
dentre outras fontes de energia.
Podemos chamar todo esse processo de revolução porque ele possibilitou uma maior produção em
menos tempo, aumentando a margem de lucro dos proprietários das máquinas industriais. Além disso,
impactou diretamente no crescimento das cidades, na concentração populacional urbana e nas formas
de realização do trabalho.
As novas formas de realização do trabalho tiveram como desdobramento a separação definitiva entre:
Capital
Representado pelos donos dos meios de produção (instrumentos de trabalho)
Trabalho
Dessa forma, os trabalhadores perdiam a posse das ferramentas e máquinas, passando a trocar sua
força de trabalho por um salário.
Um dos principais impactos do avanço industrial foi o impulso no processo de urbanização, devido à
concentração de indústrias e da grande massa de trabalhadores. A população urbana aumentou
rapidamente.
EXEMPLO
Na Inglaterra, a população urbana deu um salto de 6,5 milhões de habitantes, em 1750, para 27,5
milhões, em 1851. Isso levou ao desenvolvimento dos meios de transporte e de comunicação, sem os
quais seria impossível vender produtos industrializados no mercado.
MÓDULO 1
REVOLUÇÃO GLORIOSA
Conhecida por outros nomes, como Revolução de 1688, foi um acontecimento político anterior à
Revolução Industrial (1868-1869). A Inglaterra sempre teve suas bases ligadas ao protestantismo, até a
entrada da dinastia Stuart, que seguia os preceitos do catolicismo.
Em 1685, o monarca regente era James II, suas políticas favoreciam, obviamente, à sua religião.
Portanto, esse período era uma constante ameaça ao protestantismo, não somente para a Inglaterra,
mas para toda a Europa.
Com a intenção de acabar com essa influência, William II e mais um grupo de nobres ingleses
arquitetaram um plano para invadir a Inglaterra. E foi dessa maneira que, em 1689, o atual rei foi
destituído, trazendo voz ao parlamento, limitando o poder do rei.
Essa revolução serviu de base para o estabelecimento do equilíbrio nas relações políticas e
econômicas. Além disso, trouxe várias consequências que ainda podem ser vistas atualmente. Uma
delas foi a declaração dos direitos e outra a consolidação do poder burguês na Inglaterra.
Resumindo, esse primeiro momento possibilitou uma estabilidade política: as tensões entre rei e
parlamento e a criação de uma monarquia constitucional haviam terminado.
VOCÊ SABIA
A Revolução Gloriosa reposicionou o papel ocupado pela aristocracia na sociedade inglesa. Diante dos
efeitos desse processo revolucionário, esse segmento social passou a desfrutar de apenas uma parte
dos privilégios e imunidades legais. A distinção social passou a ser, cada vez mais, prerrogativa
garantida pelo critério de riqueza, de sorte que o poder e o prestígio passassem a ser proporcionados
por esta.
Importante ressaltar, nesse contexto, a centralidade da questão da terra. No século XVIII, a terra
representava a principal fonte de riqueza para todos os Estados europeus e era dela que a maior parte
dos habitantes retirava seus proventos e sua subsistência.
COMENTÁRIO
Sobre o cercamento de terras e seus impactos para o desenvolvimento econômico inglês, Huberman
(1986) afirma que ele permitiu melhoramentos nas ferramentas e máquinas usadas na indústria,
introduzindo arados, enxadas etc.
De efeitos tão danosos aos mais pobres, o cercamento de terras impulsionou melhoramentos na
técnica, na ciência e ferramentas agrícolas em larga escala.
ESSE DESENVOLVIMENTO TERIA SIDO IMPOSSÍVEL COM
OS VELHOS SISTEMAS DE CAMPOS ABERTOS, DE TERRAS
COMUNS A TODOS.
A prática de cercamento dos campos já era recorrente desde o século XIII. No entanto, é no
século XVII que esse procedimento conhece uma intensificação, em função dos enclosure acts,
atos legislativos emanados do Parlamento no ano de 1760.
O objetivo desses atos era transformar campos abertos em fazendas compactas, em que as
novidades científicas e tecnológicas associadas ao sistema agropecuário pudessem gerar mais
lucro.
A política de cercamento dos campos trouxe como consequência a extinção dos pequenos
proprietários e o crescimento dos gentry .
GENTRY
Era a nobreza da terra providos de grandes propriedades que tinha uma mentalidade
burguesa. Eles haviam comprado títulos nobiliárquicos e ocupavam importantes cargos no
Parlamento.
Em suma, no início do século XVIII a Inglaterra já não contava com resquícios do mundo feudal,
direcionando suas atividades agrícolas para uma lógica de mercado. Como explica Eric
Hobsbawn:
ÀS VÉSPERAS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL AS
ATIVIDADES AGRÍCOLAS ESTAVAM PREDOMINANTEMENTE
DIRIGIDAS PARA O MERCADO; AS MANUFATURAS DE HÁ
MUITO TINHAM SE DISSEMINADO POR UM INTERIOR NÃO
FEUDAL.
Ainda segundo o historiador inglês, a agricultura já estava preparada para desempenhar suas
três funções primordiais numa fase pré-industrialização, quais sejam:
Fornecer um mecanismo para o acúmulo de capital, a ser utilizado nos setores mais modernos
da economia.
ACUMULAÇÃO DE CAPITAL
Fonte: PopularResistance.org
As bases para uma sociedade industrial estavam lançadas pela Inglaterra setecentista. Dois
avanços ainda eram necessários:
Uma indústria capaz de oferecer recompensas financeiras exponenciais aos seus fabricantes,
permitindo uma expansão rápida da produção.
Tanto um ponto quanto o outro foram obtidos com êxito pelos ingleses, transformando-os em
uma das principais potências econômicas mundiais do século XIX.
A INDÚSTRIA DO ALGODÃO
Foi nessas condições que a indústria do algodão se desenvolveu, associada ao comércio
colonial ao qual estava relacionada. Trata-se de um comércio que gerava uma expectativa de
expansão rápida e imprevisível, capaz de estimular os empreendedores a investir em técnicas
revolucionárias que produzissem mais em menos tempo.
De acordo com Hobsbawm (1988), foi assim que a exportação inglesa de tecidos de algodão
aumentou mais de dez vezes entre 1750 e 1769, o que recompensou, aos pioneiros do mercado
de algodão, os riscos implicados no investimento de uma aventura tecnológica.
História da fabricação de algodão na Grã-Bretanha por Sir Edward Baines. (Fonte: Wikipedia).
História da fabricação de algodão na Grã-Bretanha por Sir Edward Baines. (Fonte: Wikipedia).
A indústria do algodão, primeira que pode ser caracterizada nos termos de uma revolução na
produção, fortaleceu-se devido aos seguintes fatores:
ATENÇÃO
Por meio do Estado, era possível assegurar a qualidade dos produtos, um apoio a políticas
protecionistas em relação à lã e à abertura a mercados internacionais “ilimitados”. Tal expansão
se valeu de um período marcado pela desindustrialização da Índia, ocorrência de guerras,
bloqueio de mercado da América colonial portuguesa e espanhola.
NA ESTRUTURA E NA TAXA DE CRESCIMENTO DO
PRODUTO NACIONAL DE QUE SE COMPÕE UMA
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, DEVE HAVER PROFUNDAS
MUDANÇAS TANTO NA QUANTIDADE QUANTO NA
QUALIDADE DA FORÇA DE TRABALHO.
Por outro, isso acabou produzindo impactos sociais em grande escala, mantendo “a marca
constante do período do século XVI ao XVIII – a riqueza e a pobreza correm juntas.
CONDIÇÕES DE TRABALHO
CONDIÇÕES DE TRABALHO
A rigor, numa sociedade industrial a maior parte da mão de obra é formada por trabalhadores
proletários, ou seja, aqueles que dispõem apenas de sua força de trabalho para adquirir um
salário que lhes sirva de sustento. No caso da Inglaterra do século XVIII, formou-se um enorme
excedente de trabalhadores proletários que, em função da oferta, trabalhavam em péssimas
condições e em troca de baixíssimos salários. Enquanto o crescimento demográfico permanecia
elevado, a reserva de mão de obra continuava maior do que a procura, mesmo em condições de
expansão industrial. Assim, os empregadores tinham uma gama de candidatos para um emprego,
da qual retiravam os mais baratos (DEANE, 1975, p.165).
Cabe ressaltar, inicialmente, que todo operário tinha que aprender a trabalhar de uma maneira
adequada à indústria, ou seja, em ritmo regular de jornada diária e ininterrupta, em uma lógica
inteiramente diferente das oscilações provocadas pelas diferentes estações do ano vinculadas
ao ritmo do trabalho agrícola, ou da intermitência autocontrolada do artesão independente. A
mão de obra tinha que aprender a responder a incentivos monetários. Os empregadores
britânicos daquela época constantemente reclamavam da “preguiça” do operário ou de sua
tendência para trabalhar até que tivesse ganho um salário tradicional de subsistência semanal, e
então parar. Como resposta, pagava-se pouco ao operário a ponto de ele ter de trabalhar
incansavelmente durante toda a semana para obter uma renda mínima. Nas fábricas onde a
disciplina do operariado pudesse ser um problema, descobriu-se que era mais conveniente
empregar mulheres e crianças, vistas como menos afeitas à “desobediência”: de todos os
trabalhadores nos engenhos de algodão ingleses em 1834-47, a quarta parte, aproximadamente,
era de homens adultos, mais da metade eram mulheres e meninas, e o restante, rapazes abaixo
de 18 anos.
A política de cercamento dos campos foi decisiva para o fundamental processo de transformação
no campo. O antigo protecionismo dispensado pelos reis aos camponeses, impedindo os
cercamentos, caíra por terra. Foram cercados os open fields (campos abertos) e as common
lands (terras comuns), criando-se em seu lugar grandes propriedades nas quais se faziam
investimentos capitalistas.
Era uma forma de proletarizar as relações de trabalho no campo, intensificando a divisão social
da produção e dinamizando os procedimentos técnicos.
Esse processo rompe a famosa dualidade camponesa, baseada na identificação entre o trabalho
artesanal, realizado nos campos, e o trabalho agrícola. O prejuízo social de tal medida é uma
expropriação ainda mais evidente. Analisando depoimentos do século XVIII, o filósofo alemão
Karl Marx afirmou:
KARL MARX
EM MUITOS LUGARES, CENTENAS DE MORADIAS E DE
FAMÍLIAS FICARAM REDUZIDAS A OITO OU DEZ. QUANDO
A TERRA VAI PARAR NAS MÃOS DE UM REDUZIDO
NÚMERO DE GRANDES ARRENDATÁRIOS, OS PEQUENOS
ARRENDATÁRIOS SERÃO TRANSFORMADOS EM PESSOAS
FORÇADAS A GANHAR O SUSTENTO TRABALHANDO PARA
OUTREM E A IR COMPRAR NO MERCADO OS MEIOS DE
SUBSISTÊNCIA.
Nesse estágio da Revolução Industrial, a força de trabalho era, na sua maioria, não qualificada.
Os homens desempenhavam as tarefas que exigiam maior força física e as mulheres e crianças
se concentravam nas que exigiam maior destreza. A mão de obra era formada, em grande parte,
por famílias possuidoras de suas próprias propriedades agrícolas e oficinas artesanais.
SAIBA MAIS
As condições de trabalho na fábrica, descritas por Marx quando analisa a grande indústria
inglesa, são extraídas de relatórios de autoridades públicas que, a partir de 1845, começaram a
inspecionar as fábricas periodicamente. É desse contexto que constam as numerosas
investigações sobre os meios de vida e de trabalho do homem pobre empreendidos por pessoas
das mais variadas condições.
FRIEDRICH ENGELS
Intelectual, político e teórico inglês. Foi fundamental nos estudos sobre a Revolução
Industrial, mesmo antes de seu encontro com Karl Marx e de terem inaugurado a teoria
político-econômica do materialismo histórico.
A SUJEIRA, OS MONTES DE ENTULHO E DE CINZAS, ASSIM
COMO OS CHARCOS NAS RUAS, SÃO COMUNS (...)
CONSTATAMOS AINDA UM OUTRO FATO MUITO
PREJUDICIAL À HIGIENE DOS HABITANTES: O GRANDE
NÚMERO DE PORCOS QUE PASSAM POR TODO O LADO
NAS RUAS REMEXENDO O LIXO (...). NA MAIOR PARTE DOS
BAIRROS OPERÁRIOS DE MANCHESTER OS CRIADORES
ALUGAM OS PÁTIOS INSTALANDO AÍ POCILGAS; EM
QUASE TODOS OS PÁTIOS HÁ UM OU MAIS RECANTOS
SEPARADOS DO RESTO, ONDE OS MORADORES JOGAM O
LIXO E DETRITOS. OS PORCOS ALIMENTAM-SE DISSO E A
ATMOSFERA DESSES PÁTIOS, FECHADOS DE TODOS OS
LADOS, FICA EMPESTEADA DEVIDO À PUTREFAÇÃO DAS
MATÉRIAS ANIMAIS E VEGETAIS.
Para concluir, podemos destacar como pontos centrais relacionados à formação do proletariado
associada ao desenvolvimento da Revolução Industrial inglesa:
RADICAL TRANSFORMAÇÃO
PROLETÁRIO INDUSTRIAL
Devido às péssimas condições às quais eram submetidos, reagiram e se organizaram das
mais diversas formas, seja por meio dos sindicatos ou por meio de movimentos
espontâneos.
ATIVIDADE DE REFLEXÃO
Considerando o trecho destacado abaixo, responda à questão indicada:
Explique três características associadas ao contexto político inglês que ampliaram as condições
de realização da Revolução Industrial inglesa.
RESPOSTA
A Revolução Gloriosa, ocorrida no século XVII, permitiu um equilíbrio político capaz de garantir
estabilidade política necessária a um desenvolvimento econômico em favor dos interesses dos
proprietários de terras e industriais. Desse modo, a aristocracia era atravessada por valores
burgueses pautados na lógica do lucro e da acumulação em padrões capitalistas. O Estado criou leis,
como a lei dos cercamentos dos campos, que favoreceram o desenvolvimento agrícola e industrial,
estimulando os proprietários capitalistas a investirem com mais intensidade na produção. Além
disso, cumpriu um papel decisivo nas relações internacionais e no comércio externo.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
C) Estabelecimento das relações de salário como moeda econômica para mediar a relação entre
proprietários e trabalhadores.
GABARITO
Todas essas condições modificaram a relação entre os detentores dos bens de produção, alguns
em crise como as relações do campo; outros abrindo a possibilidade do uso dessa mão de obra.
Dessa forma, o que observamos, na Inglaterra, foi um prenúncio de uma mudança mundial das
relações políticas.
Politicamente – apesar da Europa ser dominada por monarquias conhecidas como absolutistas –,
o caso inglês, após a Revolução Inglesa, é de um comando monárquico relativo, constitucional e
com grande atuação de suas câmaras.
MÓDULO 2
AS CONTRADIÇÕES DA SOCIEDADE
CAPITALISTA INDUSTRIAL
O historiador britânico Eric Hobsbawm realizou um balanço dos impactos da Revolução
Industrial na sociedade inglesa. Ele chegou à conclusão de que, para a aristocracia e os
proprietários de terra não houve grandes mudanças. E aquelas que, porventura, aconteceram,
foram para melhor.
O HOMEM DE NEGÓCIOS AO ESTILO ANTIGO, O GRANDE
COMERCIANTE, “CONTINUOU A SER O TIPO DE
EMPRESÁRIO MAIS RESPEITADO, MESMO QUANDO AS
USINAS JÁ COBRIAM OS CÉUS DE FUMAÇA.”
(HOBSBAWM, 1988)
Ao mesmo tempo crescia, também, uma massa de homens de origem modesta que ingressava
nas “classes médias”. Esse conceito se generalizou, sobretudo, a partir de 1830. Ainda de acordo
com o historiador inglês:
HAVIA AÍ O DINHEIRO, A CASA CONFORTÁVEL CADA VEZ
MAIS DISTANTE DA FUMAÇA DA FÁBRICA E DO
ESCRITÓRIO, A ESPOSA DEVOTA E RECATADA, O CÍRCULO
FAMILIAR, O GOZO DAS VIAGENS, DA ARTE, DA CIÊNCIA E
DA LITERATURA. ERAM BEM-SUCEDIDOS E RESPEITADOS.
(HOBSBAWM, 1988)
Podemos observar que a classe média britânica se empolgava com as inovações técnicas; e os
empresários mais capitalizados e empreendedores corriam para garantir o pioneirismo no
processo produtivo.
Ela se via obrigada a vender a força de trabalho de toda a família e a viver com salários que nem
sempre garantiam um nível mínimo de sobrevivência.
Fonte: Chialynn.
Ilustração retratando o movimento ludista, autor desconhecido, 1812.
O PERÍODO PRÉ-INDUSTRIAL
A SOCIEDADE INDUSTRIAL
O PERÍODO PRÉ-INDUSTRIAL
A mão de obra era formada basicamente por famílias detentoras de propriedades agrícolas ou
oficinas artesanais.
Na antiga situação, apesar dos longos dias de trabalho e seu modesto salário, ele podia começar
a tarefa e abandoná-la à vontade. Não estava preso a horas regulares, distribuindo-as como bem
entendesse, ir e vir, parar um instante para repousar ou até ficar desocupado.
A SOCIEDADE INDUSTRIAL
Ela é composta fundamentalmente por “proletários”, que contam apenas com sua força de
trabalho para vender. Seu único vínculo com o empregador está no recebimento de um salário.
Segundo Canedo (1987), entre o final do século XVIII e o início do XIX, grande parte dos
empregadores acreditava que a única maneira de obterem lucros estava em pagar salários
degradantes. E em troca disso, queriam o maior número possível de horas de trabalho e o
aumento da velocidade e do ritmo.
Como consequência, a jornada de trabalho subiu para 16 e até 18 horas por dia. Era comum,
ainda, o sistema de dois turnos, de modo a não se deixar nunca a maquinaria ociosa.
LÓGICA INDUSTRIAL
“Entrar para uma fábrica era, diziam, como ir para um quartel ou para uma prisão.”
(MANTOUX, 1978)
Fonte: Parrot of Doom.
Ilustração retratando a crise na indústria do algodão, autor desconhecido, Lancashire, 1862.
ATIVIDADE DE REFLEXÃO
Agora que já conhecemos a lógica do trabalho nas fábricas, responda:
Responda à pergunta e depois compare com as informações que você obterá ao longo deste
tema.
RESPOSTA
O empregador contava com um exército reserva de efetivo de trabalho, ou seja, uma grande gama de
candidatos para emprego da qual tinha condições de retirar os mais baratos.
Levando-se em conta que a taxa de crescimento demográfico permanecia elevada, a reserva de mão
de obra continuava maior do que a procura e isso fazia com que os custos com os trabalhadores
permanecessem confortavelmente baixos.
Fonte: Chialynn.
Ilustração retratando o movimento Ludista, autor desconhecido, 1812.
Diante de tantas pressões para produzir mais, com baixos salários e condições de vida
subumanas, os operários reagiram muitas vezes contra as próprias máquinas – por meio do
chamado movimento ludista.
LUDISTA
De acordo com Canedo (1987), elas simbolizavam a desqualificação do seu trabalho, numa
fase em que a jornada de trabalho durava entre 12 e 19 horas, a disciplina era de um rigor
extremado, além das multas e brutalidades serem a norma conhecida para se conseguir o
acúmulo de capital necessário para a manutenção do ritmo industrial.
Na Inglaterra, houve bastante luta da classe trabalhadora explorada desde os mais antigos
movimentos de destruição de máquinas até o aparecimento dos primeiros sindicatos para a luta
e organização operária. Todos esses movimentos se dirigiam a um conjunto de reivindicações
comuns:
PROTEÇÃO AO TRABALHO DAS MULHERES E DAS
CRIANÇAS, REGULAMENTAÇÃO DA JORNADA DE
TRABALHO, DIREITO À ASSISTÊNCIA MÉDICA E
HOSPITALAR EM CASO DE ACIDENTES E LIBERDADE DE
EXPRESSÃO E DE ORGANIZAÇÃO.
(OLIVEIRA, 1987)
Substituição, em 1867, da lei do “Senhor e Empregado” pela dos “Patrões e Operários”. Essa
nova lei eliminou a prisão por quebra de contrato, convertendo patrão e operário em partes
iguais de um contrato civil.
Nesse mesmo eixo, podemos destacar o movimento cartista, ocorrido entre 1830 e 1840.
O movimento cartista ficou conhecido por esse nome devido a uma carta escrita pelo operário
William Lovett.
WILLIAM LOVETT
Ativista inglês, cartista, buscava mobilizar o público a partir de cartas públicas e da nova
movimentação da urbanidade.
Fonte: Bammesk.
Reunião cartista em Kennington Common por William Edward Kilburn, 1848.
ATENÇÃO
É importante sinalizar que o que vimos na Inglaterra foi prenúncio das mobilizações e
reivindicações que marcaram a reacomodação e a dinamização dessa sociedade contemporânea.
AS REVOLUÇÕES DE 1848
Em fevereiro de 1848, uma série de revoltas começou a agitar as ruas de algumas das principais
capitais da Europa, espalhando-se de Paris para outras grandes cidades de regiões diversas,
como Berlim, Budapeste, Viena e Nápoles.
Pintura da Revolução em Berlim, autor desconhecido, 1848.
Talvez você já tenha ouvido falar sobre a “Primavera dos Povos”. Esse processo revolucionário
generalizado marcaria o que o historiador Eric Hobsbawm chama de a primeira revolução
potencialmente global. Tornando-se um paradigma de “revolução mundial” que alimentou
rebeldes de várias gerações.
COMENTÁRIO
Desde o final do século anterior, a ideia da revolução estava presente no vocabulário político
europeu. Essa nova onda revolucionária parecia, então, ainda mais assustadora aos olhos
daqueles que a testemunhavam.
Quando os movimentos tiveram início, seus temores ganharam uma feição mais clara:
Essa era a hora de constituir um primeiro momento de enfrentamento aberto dos trabalhadores
de baixa renda contra a lógica da sociedade capitalista industrial.
À França coube, mais uma vez, o papel de epicentro desse processo revolucionário. A cidade de
Paris foi palco de violentas batalhas de rua que depuseram de imediato o reinado de Luís Filipe I,
instaurando a República.
Fonte: Shutterstock
A falta de controle das lideranças políticas de oposição sobre o fluxo desses acontecimentos
deixava claro que ele era o fruto direto da insatisfação popular. Esse resultado teve sua origem
em uma revolução que previa os trabalhadores como sujeito principal.
SAIBA MAIS
O mesmo tipo de atitude era notado no campo, onde os aldeões atacaram aqueles que tentavam
restringir seu direito de uso da terra.
Por meio dessas ações, desencadeadas pela revolução parisiense, era possível evidenciar o
sentido que os trabalhadores atribuíam à mudança do regime. Era como uma efetivação de suas
aspirações, ligada à justiça e à igualdade, que eles entendiam a proclamação da República. Veja
o desenrolar dos fatos a seguir:
De início, essa postura ajudou a conter a insatisfação popular. Porém, as eleições para uma nova
Assembleia Constituinte foram marcadas por suspeitas de que os grupos liberais teriam
promovido manobras que limitariam as chances dos possíveis representantes dos trabalhadores.
Isso serviu, então, como novo estopim, incitando o reinício dos conflitos.
Tal fato gerou, no fim de abril, novas manifestações de rua duramente reprimidas pelas tropas do
governo provisório. Confronto que causou a morte de dezenas de operários.
Como podemos verificar, ficava evidente o fosso que separava as aspirações dos trabalhadores
pelas ruas e os rumos do novo regime. Nas semanas seguintes, novos atos e manifestações
contra as primeiras decisões da Assembleia radicalizaram os confrontos.
Em junho, grupos de trabalhadores se rebelaram pelas ruas de Paris contra a tendência liberal do
novo governo. Como resposta, foram novamente enviadas tropas para reprimi-los violentamente.
Era o início do embate que ficou conhecido como as Jornadas de Junho.
Perante a virulência com a qual o governo passou a agir contra as classes trabalhadoras,
afastava-se temporariamente o perigo de uma revolução social.
Era o fim de uma ameaça de revolução que, a essa altura, já se havia espalhado por toda a
Europa, na esteira da crise econômica que se estendia pelo continente.
A participação de trabalhadores ocorrida nas Jornadas na França podia ser notada em várias
outras localidades atingidas pela chama revolucionária. No entanto, a resposta de outros
governos a tais revoltas foi igualmente violenta.
Assustadas com a força que os trabalhadores demonstravam pelas ruas, as classes médias e a
burguesia de diferentes regiões trataram de se afastar de seus movimentos. Eram vistos como
elementos de perigo.
A ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DOS
TRABALHADORES
As Jornadas de 1848 representaram a derrota inquestionável dos operários e o recuo claro de
suas pretensões. A força potencial demonstrada pelos trabalhadores revelou, porém, que um
novo sujeito político havia aparecido na cena pública europeia. Veja mais a seguir:
Nos anos que se seguiram ao esmagamento das insurreições, verificou-se um grande retrocesso
no processo de organização da classe trabalhadora. As instituições, agremiações e partidos
operários, constituídos no período anterior, foram quase completamente desmantelados pela
violenta repressão.
O massacre da Galícia, Jan Lewicki, séc. XVIII. Fonte: Hohum.
Charge The Head ache, George Cruikshank, 1819. Fonte: Frank Schulenburg.
No final da década de 1850, os ideais presentes nas Jornadas de Junho se mostraram novamente
presentes no processo de organização da classe trabalhadora. A vivência comum de novas
dificuldades e privações concorreu para que as ideologias socialistas ganhassem, novamente,
sentido na experiência dos trabalhadores, passando mais uma vez a alimentar sua organização.
A PRIMEIRA INTERNACIONAL
Essa instituição tinha um perfil que apontava para um diálogo com a classe trabalhadora. Eram
ideias bem mais diretas, tratavam da experiência dos próprios trabalhadores e de diversas
ideologias políticas forjadas por intelectuais.
Fonte: Wuyouyuan.
Ficha de filiação à Associação Internacional dos Trabalhadores, Jean Jaurès, 1908.
RECUPERANDO AS PROPOSTAS
Até aqui você compreendeu que o processo de mudança da contemporaneidade se materializa
pelas relações entre a política e a economia na Inglaterra com a Revolução Industrial. E pelo peso
desta acaba se multiplicando pelo mundo.
O novo modelo de sociedades urbanas, repleto de trabalhadores das fábricas, das obras, do
cotidiano dessas cidades, passa a se organizar e pressionar para que os governos atuassem
garantindo defesas, garantias e melhores condições de vida.
A) Expunham a rápida e eficaz ação dos sindicatos, capazes de coordenar ações destrutivas em
fábricas de diversas partes do país.
C) Indicavam o aprimoramento das condições de trabalho nas fábricas, que contavam com
aparato de segurança interna contra atos de vandalismo.
GABARITO
1. (UNESP 2017) Nem todos os homens se renderam diante das forças irresistíveis do novo
mundo fabril. E a experiência do movimento dos quebradores de máquina demonstra uma
inequívoca capacidade dos trabalhadores para desencadear uma luta aberta contra o sistema de
fábrica. De um lado, esse movimento de resistência visava investir contra as novas relações
hierárquicas e autoritárias introduzidas no processo de trabalho fabril; nessa medida, a
destruição das máquinas funcionava como mecanismo de pressão contra a nova direção
organizativa das empresas. De outro lado, inúmeras atividades de destruição carregaram
implicitamente uma profunda hostilidade contra as novas máquinas e contra o marco
organizador da produção que essa tecnologia impunha. (Edgar de Decca. O nascimento das
fábricas, 1982. Adaptado.)
O mundo contemporâneo é marcado pela mudança das relações de trabalhos. O tempo natural
fazia parte da concepção central de interpretação dos sujeitos e de relações entre os que
trabalhavam e os que possuíam o meio de produção. A indústria tem outro tipo de relação entre
trabalho-tempo-pessoas. Assim, o ordenamento das fábricas e a disciplina sem uma mediação
por leis que estabelecessem regras dessa operação são a raiz dessa questão.
MÓDULO 3
O século XVIII é, em geral, caracterizado como o século das luzes. Dele, brotaram tanto os ideais
políticos e sociais associados à Revolução Francesa quanto os avanços científicos e
econômicos decorrentes da Revolução Industrial.
A Comuna de Paris, Bruno Braquehais, 1871. Fonte: Yann.
RESUMINDO
O século XIX pode ser entendido como o momento de hegemonia do liberalismo. E esse status
não se deu imediatamente e sem a coexistência com outras ideologias.
COMENTÁRIO
O liberalismo conseguiu se firmar por meio de uma expansão que se deu tanto no tempo quanto
no espaço, não só na Europa como também pelo resto do mundo. Cabe, por isso, definirmos
melhor o sentido assumido pela ideologia liberal ao longo daquele período e acompanharmos o
processo de amadurecimento e consolidação do capitalismo.
O PENSAMENTO LIBERAL
No final do século XVIII, a defesa do princípio da liberdade não chegava a constituir uma
ideologia coerente e articulada, prestando-se às mais diversas causas. A partir desse processo
de expansão do liberalismo, seu perfil se tornaria cada vez mais claro.
Nas primeiras décadas do século XIX, já era possível pensá-lo como doutrina razoavelmente
coerente. Com princípios básicos que transpareciam tanto nas formas por ele assumidas em
localidades diversas quanto na reflexão proposta por diferentes autores.
Dentre os seus ideólogos, destaca-se Benjamin Constant (1767-1830), pensador suíço que se
tornou figura de proa na França do período restaurador. Adepto do credo liberal, apresentou seu
programa por meio de vários escritos, nos quais tratava de dar ao liberalismo uma tradução
condizente com os desafios do tempo.
Fonte: Guise.
Benjamin Constant, Laderer, séc. XIX.
BENJAMIN CONSTANT
Ele pensava que se a busca da liberdade não era uma novidade na história europeia, o modo pelo
qual a liberdade deveria se expressar nas “nações modernas” seria completamente diverso de
suas formas primitivas.
Para ele, a confusão entre as formas diferenciadas de liberdade era a causa maior dos desvios do
processo revolucionário francês. Por isso, Constant se propunha a analisar como a liberdade
devia se manifestar na realidade do século XIX.
COMENTÁRIO
Chama a atenção na reflexão, primeiramente, o modo pelo qual ele representa a relação entre
liberdade e ação política.
Partindo da crítica iluminista acerca das distinções por nascimento próprias do Antigo Regime, a
lógica liberal gestada em meio à Revolução do século anterior sustentara a possibilidade de
participação a todos. Não havia qualquer tipo de restrição ao universo da cidadania.
Mesmo sem negar a validade de tal princípio, Constant aponta para sua historicidade específica.
Desse modo, reconhece que a liberdade se caracterizava para os antigos pela possibilidade
generalizada de participação política.
O pensador entendeu, também, que tal modelo era impossível diante da complexidade das
sociedades modernas. Já que eram marcadas por aumento populacional e maior extensão
territorial de domínio político.
SAIBA MAIS
Na obra de pensadores como Constant, a iniciativa individual era o motor da história, sendo
impróprias quaisquer tentativas sociais ou políticas de lhe impor um limite.
Por um lado, tais autores mostravam preocupação em combater a estrutura de poder própria do
antigo regime, que ainda se mantinha forte naquele momento. Por outro, tratavam de afastar
novos perigos que viriam pela frente — considerando o radicalismo jacobino de memória
recente, que continuava a assombrá-los.
Evidencia-se, dessa forma, a feição assumida pelo pensamento liberal no início do século XIX.
Por essa maneira de entender, a partir da defesa da liberdade individual, ganhava forma uma
ideologia que acabava por conservar inalteradas as estruturas da sociedade constituídas ao
longo do processo de industrialização.
Na prática, o impulso se converteu na defesa dos interesses de uma parcela muito específica da
sociedade europeia do século XIX: a burguesia
De fato, o liberalismo dava aos burgueses uma justificativa moral para sua condição:
Se todos fossem iguais no nascimento, contando com a mesma liberdade de ação, a explicação
para a desigualdade seria dada somente pelo esforço e pela capacidade individual.
O PENSAMENTO SOCIALISTA
A desigualdade constitutiva da nova ordem era imposta pelo capitalismo industrial. E podia ser
verificada em flagrantes de miséria e exploração. Em resposta a isso, vários pensadores
passaram a buscar alternativas à realidade imposta no século XIX.
De maneira quase simultânea, outros pensadores passaram, por volta da década de 1820, a
tentar imaginar modelos alternativos de organização social que respondessem aos problemas
que enxergavam em seus próprios mundos, como, por exemplo:
Conde de Saint-Simon, autor desconhecido. Fonte: Dystopos.
Para Saint-Simon, a alternativa para tal forma de organização seria a constituição de uma
sociedade hierarquizada dirigida por cientistas. Nela, os mecanismos de produção seriam
submetidos a uma administração coletiva.
Por mais que a desigualdade se mantivesse presente em seu sistema, a exploração seria com ela
erradicada. Afinal, toda a produção se submeteria à lógica desinteressada do bem comum e da
fraternidade.
Robert Owen, por sua vez, preferia apostar em um modelo de organização que privilegia o
coletivismo.
Sobre esse pensamento de Owen, podemos dizer que a base seria a criação de pequenas
comunidades que viveriam em uma grande construção retangular na qual compartilhariam todas
as dimensões da vida social. Estando incluída a produção, cujos resultados seriam igualmente
aproveitados pelos membros da comunidade.
Dessa forma, os conflitos e as diferenças sociais seriam apagados pelo senso geral de
comunidade, constituído por meio da proliferação desses núcleos comunitários.
Proposta semelhante foi formulada por Charles Fourier, que defendia também a criação de
pequenas comunidades de moradia e produção. Para ele, seria um caminho prático de superação
da desigualdade que marcava a sociedade de seu tempo.
Tais comunidades, às quais deu o nome de falanstérios, teriam, porém, um perfil diverso daquele
proposto por Owen. Elas, mais do que organizar a produção, rearticulariam todos os elementos
da vida social, inclusive aqueles ligados à esfera do lazer.
Elas constituiriam, desse modo, instituições capazes de antecipar os valores que comporiam a
nova sociedade que desejava ver construída por intermédio de seu exemplo. Era assim como
uma sugestão mais ampla de transformação, capaz de mudar a sociedade como um todo, que se
apresentava sua proposta.
ATENÇÃO
É importante dizer que, ainda, com grandes diferenças, eles se colocavam de forma igualmente
crítica em relação à lógica liberal.
Como vimos na história, a crítica desses primeiros pensadores socialistas à ideologia liberal viria
nos anos seguintes a conformar propostas já bem diversas de enfrentamento daquela realidade.
E, ainda, outros autores passariam a questionar seus pressupostos, atacando diretamente as
bases de sua estruturação. Isso ocorria sem que se limitassem a propor alternativas à
organização social resultante do desenvolvimento das forças capitalistas.
SAIBA MAIS
Era o caso, entre outros, de Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865). Nascido em uma família de
trabalhadores pobres de uma região rural da França, Proudhon se mudou em 1838 para Paris,
onde teve contato com a obra dos principais autores socialistas da época.
Sua perspectiva vem a público pela primeira vez em 1840, no livro O que é a propriedade? Crítico
dos autores socialistas que o antecederam, cujas obras não se ocupariam em combater as
causas da desigualdade para a qual buscavam alternativas, trata de atacar diretamente a própria
ideologia liberal.
Ele evidenciava as lacunas e contradições liberais. O próprio título do livro indica que o alvo
desse esforço se centrou na crítica à noção de propriedade. Proudhon mostra que a noção de
propriedade não pode ser vista como um direito natural, dado o seu caráter individualista e
diferenciador.
Ele também não acreditava que a propriedade pudesse ser um direito civil – que definiria de
modo claro que o direito de ocupar é igual para todos. A partir dessa premissa, passou a
caracterizá-la como um “roubo”, cuja consequência seria a criação da desigualdade.
Em 1848, Marx juntou-se a Friedrich Engels (1820-1895) – já, então, seu colaborador habitual –
para publicar o Manifesto do Partido Comunista. Como indicado pelo título, não se tratava de
obra teórica, mas de um panfleto político.
Embora o termo “partido” colocado no título não se referisse a nenhuma agremiação que se
assemelhasse ao sentido moderno da palavra, o texto foi escrito em nome da Liga dos
Comunistas. Tratava-se de uma organização de artesãos alemães que sucedera à Liga dos
Justos, sociedade secreta revolucionária fundada em Paris, na década de 1830.
Fonte: Bulver.
Manifesto do Partido Comunista, em seu título original Kommunistisches Manifest, Friedrich
Engels, Karl Marx, 1848.
ATIVIDADE DE REFLEXÃO
SE ESTAMOS FALANDO SOBRE SOCIALISMO, VOCÊ
SABERIA DIZER O MOTIVO DA ESCOLHA DO TERMO
“COMUNISTA” POR MARX E ENGELS?
Responda à pergunta e depois compare com as informações que você obterá ao longo deste
tema.
RESPOSTA
A justificativa para tal escolha foi dada pelo próprio Engels em um prefácio escrito ao Manifesto em
1889. Ele explica ali que, sendo o socialismo a forma de se identificar tanto os socialistas ditos
utópicos quanto os seguidores de teorias como as de Proudhon, havia uma parcela dos operários
convicta da insuficiência das meras agitações políticas.
E foram esses trabalhadores que passaram a clamar por uma transformação mais radical da
sociedade, a qual poderia ser chamada de comunista.
Foi assim que eles se propuseram a enfrentar a realidade histórica específica de seu tempo,
configurada na sociedade burguesa que combatiam. Nesse modelo, a opressão se caracterizaria
pela oposição entre os interesses da burguesia e aqueles próprios dos trabalhadores. Em vista
disso, cada qual teria sua função na luta:
TRABALHADORES
Caberia aos trabalhadores, cuja força de trabalho sustentava o desenvolvimento da sociedade
liberal, tomar consciência de sua condição de exploração para enfrentar o domínio por ela
exercido.
INTELECTUAIS
A intelectuais como o próprio Marx restava tentar dinamizar este processo, levando aos
trabalhadores a consciência de que precisavam se identificar enquanto classe. O Manifesto
representava, assim, o momento mais direto de exposição da concepção de sociedade que o
próprio Marx vinha desenvolvendo ao longo daquela década.
Havia uma força crescente que assumia, naquela época, o pensamento antiliberal. Esse processo
que, ao longo do século XIX, alimentou a diversificação de correntes identificadas com o ideal
socialista é um bom meio de se compreender isso.
Fonte: Jklamo.
Uma pequena fiandeira em Mollohan Mills, Lewis W. Hine, 1908.
As ideias partiam da experiência de homens e mulheres cujas lutas e cujos desafios estavam
longe de poderem ser resumidos a qualquer tipo de fórmula. Ainda que se pretendesse universal,
o liberalismo tinha declarado em tais doutrinas, por formas e estratégias diversas, as suas
contradições.
O PENSAMENTO CONSERVADOR
O socialismo e o movimento operário não constituíram as únicas ameaças à hegemonia liberal ao
longo do século XIX. É fato que a tensão entre o liberalismo e as ideias socialistas moldou parte
expressiva dos conflitos sociais do tempo.
Porém, na segunda metade dos oitocentos, o conservadorismo ganharia forma. Era uma nova
ideologia contraposta tanto aos adeptos do pensamento liberal quanto às diversas doutrinas que
se formavam em torno do socialismo.
NACIONALISMO
RAÇA
Não estava meramente preocupada na defesa por meio de princípios ligados à tradição ou a uma
visão religiosa do mundo, como no século anterior.
É na obra de alguns dos teóricos do pensamento conservador que a conexão entre ciência e
política pode ser apreendida de forma mais explícita.
SAIBA MAIS
Destaca-se, entre eles, o nome de Gustave Le Bon. Esse pensador, nascido na França em 1841,
testemunhara o entusiasmo pela Ciência como forma de explicar a vida social. Alguns anos
depois, com os estudos de Charles Darwin, Le Bon se sentiria ideologicamente atraído.
Com a publicação, em 1859, da obra A origem das espécies, de Darwin, surgia a crença na
possibilidade de aplicação das leis naturais ao mundo dos fatos sociais e políticos. Essa
corrente constituiria uma linha de pensamento, conhecida, posteriormente, como darwinismo
social.
Adepto de tal crença, Le Bon se torna um de seus principais divulgadores. Mais do que criticar a
ideia da igualdade dos indivíduos e das raças, que caracteriza como uma invenção arbitrária do
final do século XVIII, ele defendia que essa teoria teria lançado o mundo em uma profunda crise,
iniciada com a Revolução Francesa do século anterior.
Do ponto de vista dos conservadores, as teses raciais seriam um meio de afirmar uma doutrina
capaz de justificar e sustentar as próprias diferenças de classe. As desigualdades entre os
homens constituiriam um dado da natureza, do qual não seria possível fugir.
O mercado capitalista, materializado no sistema fabril, tornou-se um fato social que marcou e
ainda marca as relações sociais e econômicas em todo o planeta. A progressiva concentração da
população em empregos industriais provocou o aumento da demanda de produtos agrícolas,
tanto para alimentos como para matérias-primas com destino às fábricas. Assim sendo, um
mercado de economias interdependentes foi sendo criado, fossem elas fabris ou agrícolas.
Fonte: Margalob.
Charge da pirâmide do capitalismo, IWW, 1911.
ATENÇÃO
A reversão das economias rurais para o estabelecimento do sistema fabril ou sua conversão para
economias agrícolas orientadas para o mercado industrial gerou, na maior parte das vezes,
crises sociais profundas.
Até a metade do século XIX, a Grã-Bretanha era o único país industrializado, mas esse cenário se
alterou em meados do século. Os Estados Unidos, a Alemanha, a Bélgica, a França, a Rússia, a
Itália e o Japão iniciaram seus processos de industrialização.
Fonte: Joe Quick.
Ilustração do processo de manipulação do aço, autor desconhecido, 1889.
Se a primeira fase da industrialização britânica havia se baseado nos têxteis, a segunda (1840-
1895) seria nas indústrias de bens de capital, no carvão, no ferro e no aço. A revolução operada
nos transportes abriu novos mercados e expandiu ainda mais os antigos.
A PARTIR APROXIMADAMENTE DE 1860/1870, TENDEM A
ACELERAR-SE DETERMINADAS TRANSFORMAÇÕES
LIGADAS AO FUNCIONAMENTO E À PRÓPRIA
ORGANIZAÇÃO GERAL DO SISTEMA CAPITALISTA,
ESPECIALMENTE NO CAMPO ECONÔMICO.
VERIFICA-SE PROGRESSIVAMENTE, NO SISTEMA
CAPITALISTA, A ALTERAÇÃO TANTO DO NÚMERO GLOBAL
QUANTO DAS DIMENSÕES MÉDIAS DAS EMPRESAS – HÁ,
RELATIVAMENTE, UM NÚMERO CADA VEZ MENOR DE
EMPRESAS, PORÉM AGORA SÃO GRANDES EMPRESAS.
MODIFICA-SE TAMBÉM A CONSTITUIÇÃO DO CAPITAL
DESTAS – AS DE CARÁTER INDIVIDUAL E FAMILIAR
CEDIAM TERRENO ÀS SOCIEDADES ANÔNIMAS.
(FALCON, 2006)
Um acelerador desse processo foi o grande e rápido avanço das estradas de ferro e da
navegação a vapor.
Nas últimas décadas do século XIX, o capitalismo – que até então tinha como principal
característica a livre concorrência – passaria por modificações profundas, as quais teriam amplo
impacto social no seu processo de transformação em capitalismo monopolista.
Por fim, o novo mundo burguês produziu uma migração sem precedentes de povos. Alemães,
italianos, espanhóis, japoneses, poloneses etc. deixavam suas tradicionais áreas camponesas
em função das dificuldades econômicas geradas nas cidades industriais.
Fonte: FastilyClone.
“Do Velho para o Novo Mundo”, Harper’s Weekly, Nova Iorque, 1874.
Sendo assim, saíram da Europa para recriar a “civilização” na América, na África, na Ásia ou na
Oceania. Milhões de imigrantes atravessaram os oceanos em novos navios a vapor ou em
ferrovias, encurtando as distâncias e fortalecendo um paradigma cultural predominantemente
europeu e burguês.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. “O PERMANENTE REVOLUCIONAR DA PRODUÇÃO, O ABALAR
ININTERRUPTO DE TODAS AS CONDIÇÕES SOCIAIS, A INCERTEZA E O
MOVIMENTO ETERNOS DISTINGUEM A ÉPOCA DE TODAS AS OUTRAS. TODAS
AS RELAÇÕES FIXAS E ENFERRUJADAS, COM SEU CORTEJO DE
REPRESENTAÇÕES E CONCEPÇÕES SÃO DISSOLVIDAS, TODAS AS
RELAÇÕES RECÉM-FORMADAS ENVELHECEM ANTES DE PODEREM
OSSIFICAR-SE. TUDO QUE ERA SÓLIDO SE VOLATIZA, E OS HOMENS SÃO,
POR FIM, OBRIGADOS A ENCARAR COM OS OLHOS BEM ABERTOS A SUA
POSIÇÃO NA VIDA.”
(MARX, KARL; ENGELS, FRIEDRICH. ADAPTADO DE MANIFESTO DO PARTIDO
COMUNISTA.)
B) Socialismo científico.
C) Liberalismo.
D) Anarquismo.
GABARITO
A ideia de que as funções do homem estavam sendo suprimidas, que o uso das máquinas de
alguma forma tirava dele a capacidade de perceber o quanto valia a sua força de trabalho é a
crítica à aceleração da tecnologia sem adaptação ou sem ser pelo homem.
A problematização da divisão do trabalho é criticada por fomentar a alienação dos grupos e sua
incapacidade de organização sendo fomentada e classificada, ampliando a pobreza.
O trecho acima pode ser considerado uma síntese dos valores constitutivos da ideologia política
intitulada:
A alternativa "C " está correta.
O ideal liberal é ponto central do pensamento burguês do século XIX, lida com aspectos da
liberdade do indivíduo, de escolher o seu trabalho, suas relações de consumo e ser senhor do
seu próprio corpo.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A definição de mundo contemporâneo a partir da consolidação do capitalismo nos ajudou a
compreender as mudanças econômicas que tanto impactam nossas relações sociais. Este tema
foi dividido em momentos distintos, porém complementares.
O primeiro módulo tratou do exame das condições econômicas e sociais que levaram a Europa à
Revolução Industrial. No módulo 2, pudemos descrever as características dos movimentos dos
operários urbanos na formação do mundo contemporâneo. Já no módulo 3, reconhecemos os
fundamentos teóricos do liberalismo e do socialismo como matrizes do pensamento da formação
do mundo contemporâneo.
Neste tema, verificamos, detalhadamente, que a Revolução Industrial iniciou uma nova dinâmica
mundial. As transformações econômicas formuladas a partir de um novo mundo acabam por
consolidar a ideia de uma ordem burguesa.
Ao menos três consequências são visíveis nessa nova ordem econômica mundial do final do
século XIX que podemos denominar de “ordem burguesa”. Em primeiro lugar, os países que se
industrializavam se tornavam mais ricos do que os não industrializados.
Por outro lado, o impacto da industrialização foi experimentado por meio da difusão da
tecnologia. Houve uma transferência maciça de tecnologia, de modo que médicos e engenheiros
europeus ou americanos passaram a ser vistos por todo o mundo como arautos do progresso
material.
Além disso, centenas de cidades passaram por reformas nos seus sistemas de comunicação,
iluminação e transporte e o interior dos continentes foi aberto por estradas de ferro, minas e
plantations. Essas reformas propiciam aos intelectuais debater sobre as contradições do
sistema, gerando bases de pensamento socialistas, liberais, marxistas e conservadores.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
CANEDO, L. B. A Revolução Industrial. São Paulo: Atual, 1987.
HOBSBAWM, Eric. A era das revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios. 1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
MARX, K.; ENGELS, F. Da ideologia alemã (parte I). São Paulo: Paz e Terra, 1964.
MORTON, A história do povo inglês. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970.
EXPLORE+
Leia o texto O liberalismo vai mudar de novo, do economista Mailson da Nóbrega, publicado
na revista Veja, em 15 de maio de 2020, para compreender a atualidade do liberalismo no
contexto contemporâneo e possíveis transformações operadas na doutrina liberal em
função da crise econômica gerada pela pandemia de Covid-19.
Leia a entrevista do historiador Eric Hobsbawm concedida a Andrew Whitehead para a BBC
News, em 31 de dezembro de 2011, observando as comparações tecidas por ele entre as
recentes revoltas ocorridas no mundo árabe em 2011 e a primavera dos povos de 1848.
Assista ao filme O jovem Marx (2017), dirigido por Raoul Peck, para entender melhor a
biografia e as ideias de Karl Marx.
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