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CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL

Prof. Monteiro Jr.

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

INTRODUÇÃO
Na Inglaterra, a partir da segunda metade do século XVIII, tem início uma série de transformações no processo de produção. A
essas transformações dá-se o nome de Revolução Industrial. Em linhas gerais, a Revolução Industrial proporcionou a mecanização da
indústria, com a substituição da força motriz humana por outras como
REVOLUÇÃO OU EVOLUÇÃO?
o carvão, o vapor, a eletricidade, o que desencadeou grandes mudan- Uma das discussões envolvendo a Revolução Industrial trata
da caracterização do processo como revolução ou evolução.
ças nas relações de trabalho, no uso da tecnologia, na economia dos Apesar do impacto que Revolução Industrial trouxe para o
mundo, não podemos esquecer que a mesma proporcionou a
países, na organização do espaço urbano e nos próprios fundamentos mecanização da indústria, que já existia (na forma de
manufaturas). Portanto, a Revolução Industrial não foi uma
do sistema capitalista.
ruptura, mas sim a herdeira de toda uma cadeia de inovações
“A Revolução Industrial assinala a mais radical transformação
tecnológicas.
da vida humana já registrada em documentos escritos. Durante um bre-
ve período ela coincidiu com a história de um único país, a Grã-Bretanha (...) que por isso ascendeu temporariamente a uma posição de
influência e poder mundiais sem paralelo na história de qualquer país com as suas dimensões relativas, antes ou desde então, e que
provavelmente não será igualada por qualquer Estado no futuro previsível.”
HOBSBAWM, Eric J. da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1986, p. 13.

O PIONEIRISMO INGLÊS
A Inglaterra foi pioneira no processo de mecanização da indústria. Foi somente na segunda metade do século XIX que a
industrialização se propagou para outros países da Europa e do mundo.
“Quando o reformador chinês Huang-Tsun-Hsien visitou Londres, cerca de 1890, custou-lhe a crer que, apenas um século antes,
a economia da sua pátria e da Grã-Bretanha se tivessem basicamente parecido. Viu a Grã-Bretanha com suas indústrias florescentes, ao
passo que a China, que acabava de deixar, era ainda uma terra de artes campesinas e arrozais. (...) Foi uma das maiores transformações
da História; em cerca de cem anos, a Europa de quintas, rendeiros, e artesãos tornou-se uma Europa de cidades abertamente industriais.
Os utensílios manuais e os dispositivos mecânicos simples foram substituídos por máquinas; a lojinha do artífice pela fábrica. O vapor e a
eletricidade suplantaram as fontes de energia – água, vento e músculo. Os aldeões, como as suas antigas ocupações se tornavam
supérfluas, emigravam para as minas e para as cidades fabris, tornando-se os operários da nova era, enquanto uma classe profissional de
empreiteiros, financeiros e empresários, de cientistas, inventores e engenheiros se salientava e se expandia rapidamente. Era a Revolução
Industrial.”
FIQUE POR DENTRO
HENDERSON, W. O. A Revolução Industrial, 1780-1914. Lisboa: Verbo
Vejamos os principais elementos que favoreceram o pioneirismo Propostos por Oliver Cromwell e aprovados pelo Parlamento, os
inglês na Revolução Industrial: Atos de Navegação (1651) impulsionaram o desenvolvimento
 acumulação de capitais, provenientes das atividades mer- marítimo comercial da Inglaterra, uma vez que estabeleciam que
cantilistas desenvolvidas pelo país, especialmente depois as mercadorias inglesas só poderiam ser transportadas em navios
que os Atos de Navegação (1651) entraram em vigor. ingleses ou em navios de países com quem a Grã-Bretanha
comercializasse.
 triunfo do liberalismo político e econômico, a partir
da Revolução Gloriosa (1688), que sepultou de vez o SAIBA MAIS
Absolutismo e as práticas intervencionistas do Estado A partir da segunda metade do século XVII, muitas fazendas inglesas
na economia. tiveram suas terras cercadas para a criação de ovelhas, devido ao
 os cercamentos (enclosures), que, ao promoverem a crescimento das tecelagens que produziam tecidos de lã (era lucrativo
transformação de fazendas agrícolas em pecuaristas, prover essas tecelagens com sua matéria prima). Esse processo,
provocaram desemprego no campo e a consequente denominado cercamentos (ou enclosures), fez com que milhares de
migração de mão de obra para as cidades. camponeses ficassem sem trabalho, uma vez que a pecuária exige
 avanços tecnológicos, como a máquina a vapor paten- menos mão de obra do que a agricultura. Sem perspectivas no campo,
teada por James Watt e os teares mecânicos e hidráulicos, essa massa miserável migrou para as cidades, transformando-se num
que proporcionaram um significativo aumento na produção. exército reserva de mão de obra abundante e barata.
 abundância de matérias primas, como carvão, ferro, algodão e lã.

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AS PRINCIPAIS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


O primeiro setor produtivo a se mecanizar foi o têxtil. O algodão foi sua principal matéria prima e o carvão vegetal, usado para mover
as máquinas a vapor, sua principal fonte de energia.
Entre as inovações tecnológicas do período, destacam-se:
 a máquina de fiar (1767), de James Hargreaves, com capacidade para produzir vários
fios de forma simultânea, sob a assistência de um único operário.
 a máquina a vapor (1768), de James Watt, tornando possível o uso da energia mecâ-
nica para mover diversas outras máquinas.
 o tear mecânico (1785), de Edmund Cartwright, movido a vapor.
 o descaroçador mecânico (1792), de Eli Whitney, que separava o caroço da fibra de
algodão, permitindo uma espantosa produtividade a baixo custo.
 o navio a vapor (1807), de Robert Fulton, permitindo maior rapidez aos transportes
fluviais e marítimos.
Modelo didático da máquina a vapor, de James Watt.
 a locomotiva a vapor (1814), de George Stephenson, trazendo maior rapidez aos
transportes terrestres.

AS FASES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


Para fins didáticos, costuma-se dividir a Revolução Industrial em dois momentos, cada um com suas características:
 Primeira Revolução Industrial
- de 1760 a 1860;
- circunscrita à Inglaterra e poucos países da Europa Ocidental;
- conhecida como a “era do carvão e do ferro”;
- o carvão era a principal fonte de energia;
- o ferro era o principal produto da indústria de base.

 Segunda Revolução Industrial


- de 1860 a 1914;
- a expansão da industrialização atinge praticamente toda a Europa Ocidental, EUA e Japão;
- conhecida como a “era do aço e da eletricidade”;
- a eletricidade era a principal fonte de energia;
- o aço era o principal produto da indústria de base.

AS TRANSFORMAÇÕES PRODUZIDAS PELA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


A Revolução Industrial consolidou definitivamente o capitalismo e o trabalho assalariado, separando de vez capital e trabalho.
Proporcionou o nascimento da classe operária e possibilitou a polarização da mesma com a burguesia.
As manufaturas foram substituídas gradativamente pelas fábricas,
caracterizadas pela mecanização no processo produtivo, que passou a
ser em massa e em série. O trabalho dos artesãos sofreu desvaloriza-
ção, acarretando a falência das manufaturas e corporações de ofícios.
A divisão e especialização do trabalho promoveram a alienação do
proletariado em relação ao processo produtivo. Especializando-se em
operar uma determinada máquina, o operário se transformou numa
espécie de robô, sujeito à monotonia que os repetitivos movimentos na
operação das máquinas impunham.
Nas indústrias têxteis inglesas predominava o trabalho de mulheres
e crianças, mais barata e tida como mais dócil e obediente pelos
empresários. Não havia legislação trabalhista que estabelecessem
garantias ou direitos legais à classe trabalhadora. Instalações de uma fábrica do século XIX. No primeiro plano, aquele que
De acordo com o historiador americano Edmund Wilson, em parece ser o dono. Atente as condições do ambiente e a postura disciplinada e
subserviente dos operários.
Rumo à Estação Finlândia, a crescente demanda “(...) de mulheres e
crianças nas fábricas fazia com que muitos chefes de família se tornassem desempregados crônicos, prejudicava o crescimento das
meninas, facilitava o nascimento de filhos de mães solteiras e ao mesmo tempo obrigava as jovens mães a trabalharem grávidas ou antes

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de se recuperarem plenamente do parto, terminando por encaminhar muitas delas à prostituição; as crianças, que começavam a trabalhar
nas fábricas aos cinco ou seis anosde idade, recebiam pouca atenção das mães, que também passavam o dia inteiro na fábrica, e
nenhuma instrução de uma sociedade que só queria delas que executassem operações mecânicas; quando deixavam-nas sair das
verdadeiras prisões que eram as fábricas, as crianças caíam exaustas, cansadas
demais para lavar-se ou comer, quanto mais estudar ou brincar – às vezes can-
sadas demais até para ir para casa.”
As jornadas de trabalho eram extensas (em média de 15 horas diárias, sem
descanso semanal remunerado ou férias), as condições de traba-lho precárias
e os salários extremamente baixos. Acidentes de trabalho eram comuns e os
operários vitimados pela mutilação de dedos e outros membros não tinham direito
a nenhum tipo de indenização.
Essas condições de trabalho e de vida levaram a classe operária a se
organizar em torno de movimentos e/ou ideologias em favor dos seus direitos e
interesses, como veremos no próximo capítulo.
Flagrante de crianças operárias nos EUA, século XIX.
A paisagem urbana também foi afetada pela industrialização. Segundo
Hobsbawm, a típica cidade industrial era “(...) uma cidade de tamanho médio, mesmo por padrões atuais, embora (...) algumas cidades
(que tendiam a ser muito grandes) também se tornaram centros maiores de produção (...). A nova região industrial típica tomava em geral a
forma de pequenas vilas, que se transformavam em pequenas cidades, que depois se desenvolviam transformando-se em grandes
cidades.”
Friedrich Engels, em A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, descreve o cenário de um bairro dessas cidades industriais: “É
uma massa de casas de três ou quatro andares, construídas sem plano, com ruas tortuosas, estreitas e sujas onde reina uma animação tão
intensa como nas principais ruas que atravessam a cidade com a diferença que (...) só se vêem pessoas da classe operária. O
mercado está instalado nas ruas: cestos de legumes e de frutos, todos naturalmente de má qualidade, e dificilmente comestíveis, ainda
reduzem a passagem e deles emana, bem como dos açougues, um cheiro repugnante. As casas são habitadas dos porões aos desvãos,
são tão sujas no exterior como no interior e têm um tal aspecto que ninguém as desejaria habitar. Mas isto não é nada comparado às
habitações nos corredores e vielas transversais onde se chega através de passagens cobertas, e onde a sujeira e a ruína ultrapassam a
imaginação; não se vê, por assim dizer, um único vidro inteiro, as paredes estão leprosas, os batentes das portas e os caixilhos das janelas
estão quebrados ou descolados, as portas – quando existem – são feitas de pranchas velhas pregadas umas às outras (...). Em toda parte
montes de detritos e de cinzas, e as águas vertidas em frente às portas acabam por formar charcos. É aí que habitam os mais pobres, os
trabalhadores mais mal pagos, com os ladrões (...) e as vítimas da prostituição, todos misturados.”
Em contrapartida, a classe burguesa habitava em magníficas e luxuosas casas localizadas em largas alamedas, os boulevares,
margeadas por jardins bem cuidados, em zonas exclusivamente residenciais, distantes da sujeira, do barulho e do burburinho dos bairros
operários.

HISTÓRIA E ARTE
Pintado por Vincent Van Gogh (1885), durante a fase em que o artista se encontrava sob a influência do realismo, “Os Comedores de
Batatas” denuncia a miséria das famílias trabalhadoras do século XIX.

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Para conferir realismo à obra, Van Gogh destacou traços grosseiros nos trabalhadores, explorando os tons escuros, típicos da
luminosidade barroca. Para Van Gogh, a escuridão também poderia ser considerada uma cor, por isso os trabalhos que o pintor produziu
nessa fase são escuros e pesados.
Vincent trabalhou as sombras com outros tons que, junto ao interior pouco iluminado pelo lampião, dão um aspecto frio ao ambiente.

LEITURA COMPLEMENTAR I: O SISTEMA DE TRABALHO


O escritor norte-americano Leo Huberman, em História da riqueza do homem, apresenta uma classificação quanto à evolução do
sistema de trabalho, do período medieval à Revolução Industrial:
1 – Sistema familiar: os membros de uma família produzem artigos para o seu consumo, e não para a venda. O trabalho não se fazia
com o objetivo de atender ao mercado. Princípio da Idade Média.
2 – Sistema de corporações: produção realizada por mestres artesãos independentes, com dois ou três empregados, para o mercado,
pequeno e estável. Os trabalhadores eram donos tanto da matéria prima que utilizavam como das ferramentas com que trabalhavam. Não
vendiam o trabalho, mas o produto do trabalho. Durante toda a Idade Média.
3 – Sistema doméstico: produção realizada em casa para um mercado em crescimento, pelo mestre-artesão com ajudantes, tal como
no sistema de corporações. Com uma diferença importante: os mestres já não eram independentes; tinham ainda a propriedade dos
instrumentos de trabalho, mas dependiam, para a matéria prima, de um empreendedor que surgira entre eles e o consumidor. Passaram a
ser simplesmente tarefeiros assalariados. Do século XVI ao XVIII.
4 – Sistema fabril: produção para um mercado cada vez maior e oscilante, realizada fora de casa, nos edifícios do empregador e sob
uma rigorosa supervisão. Os trabalhadores perderam completamente sua independência. Não possuem a matéria prima, como ocorria no
sistema de corporações, nem os instrumentos, tal como no sistema doméstico. A habilidade deixou de ser tão importante como antes,
devido ao maior uso da máquina. O capital tornou-se mais necessário do que nunca. Do século XIX até hoje.”

LEITURA COMPLEMENTAR II: OUTRO OLHAR SOBRE A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


Uma história bem conhecida da Revolução Industrial é a dos trabalhadores “ludistas”, aqueles que se revoltaram contra as máquinas
por acharem que elas destruíam empregos e impunham uma concorrência desleal. Esses protestos são tão antigos quanto as primeiras
máquinas. Tão logo o carpinteiro e tecelão James Hargreaves começou a vender sua fiandeira jenny, vizinhos e colegas invadiram sua
casa e destruíram os equipamentos. Os quebra-quebras ganharam força a partir de 1811, quando costureiros da cidade Nottingham se
armaram com machados e porretes, invadiram fábricas de tecidos e arruinaram 60 fiandeiras mecânicas.
Basta olhar para o lado para constatar como os ludistas fracassaram. Daquela época até hoje, as fábricas foram tomadas por uma onda
inescapável de engrenagens, máquinas, motores elétricos, esteiras rolantes, computadores e robôs; as cidades passaram a abrigar carros,
trens, tratores, aviões e lâmpadas elétricas; o celular no bolso das pessoas tem processadores mil vezes mais potentes que os usados na
Apollo 11. E qual foi o resultado desse enorme fracasso dos protestos dos trabalhadores? O contrário do que eles imaginaram. O número
de empregos na Inglaterra (cerca de 6 milhões em 1750) não só não caiu como acompanhou o enorme crescimento populacional,
chegando a 30 milhões hoje. Foi uma elevação tão intensa que os ingleses – e boa parte dos países industrializados – precisaram contratar
estrangeiros para cumprir a demanda por empregos.
O erro da idéia de que as máquinas roubam empregos é achar que os desejos humanos, e os empregos para satisfazer esses desejos,
são finitos. Desse ponto de vista, se uma máquina tira a função de um artesão, não vai sobrar outra atividade para sustentá-lo. Quem
primeiro espalhou esse equívoco foi Karl Marx. “O instrumento de trabalho, quando toma a forma de uma máquina, se torna imediatamente
um concorrente do operário. A expansão do capital por meio da máquina está na razão direta do número de trabalhadores cujas condições
de existência ela destrói”, escreveu ele.
Não é nenhum milagre o fato de que, desde os primeiros protestos ludistas até hoje, o número de empregos cresceu tanto quanto o de
máquinas. A produção em série diminuiu o custo dos produtos que ficaram acessíveis a mais pessoas ao redor do mundo, que criaram uma
demanda maior, que só pode ser cumprida com mais trabalhadores para operar as máquinas, mais vendedores, maquinistas e marinheiros
para transportá-las, mais operários para construir as próprias máquinas, assim como trens, navios etc. É o caso da produção de roupas.
Feitos a mão, casacos e vestidos custavam quase o salário de um ano de um empregado doméstico e constavam em testamentos e
heranças. A concorrência livre e a mecanização fizeram o preço das roupas baixar continuamente. Com mais gente podendo comprar
roupa, mais fábricas foram construídas. Em 1820, já havia na Inglaterra mais de 1.200 fábricas de tecidos de algodão, 1.300 de lã e mais
de 600 moinhos de linho e seda.
Além disso, a mão de obra das pessoas que perderam o emprego para teares movidos a vapor no século 19 ou tratores nas fazendas
do século 20 foi liberada para atividades mais produtivas ou criativas. É verdade que a “destruição criativa” das inovações provoca falências
de empresas, demissões, migrações, uma completa instabilidade e reorganização do trabalho. Mas, no fim das contas, há um benefício
para todos. “A grande causa do aumento dos padrões de vida das nações industrializadas é o capital sendo usado para substituir trabalho,
afirma o economista americano Walter Williams. O exemplo mais evidente disso é o sistema de produção de alimentos. Nos Estados

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Unidos do fim do século 18, mais de 90% das pessoas trabalhavam nos campos de cultivo e pecuária. Para que alimentos chegassem à
boca de quase 4 milhões de habitantes, era preciso que 19 a 20 americanos adultos trabalhassem nas fazendas. Dois séculos depois, a
mecanização da agricultura liberou 18 deles: hoje, apenas um em cada 20 trabalhadores americanos contribui para cultivar alimentos aos
mais de 300 milhões de habitantes. O que aconteceria se alguma lei do governo proibisse a introdução de máquinas no campo e impedisse
as demissões nas plantações e fazendas?
Vale imaginar um pouco mais: e se os manifestantes ingleses tivessem conseguido que o governo proibisse máquinas para preservar
empregos?
O resultado seria que os descendentes daqueles trabalhadores teriam hoje uma vida imensamente mais difícil. Não só os alimentos e
as roupas custariam mais, como não haveria gente para projetar edifícios, carros, telefones celulares, máquinas de lavar roupa, sistemas
de internet e para escrever livros. Nada de iluminação elétrica na rua, em respeito ao emprego dos acendedores de lampião a gás (que
trabalharam no Rio de Janeiro até 1933). Páginas da internet não poderiam mostrar mapas de graça, para não acabar com o trabalho dos
cartógrafos. Seria preciso ligar para uma telefonista para completar cada ligação telefônica, pagar a ascensoristas nos elevadores não
automatizados, passar a maior parte do tempo na roça cultivando os próprios alimentos e usar o fim de semana para tricotar casacos, já
que as roupas continuariam pouco acessíveis aos pobres. Ou esperar meses até que elas chegassem à cidade por meio do sistema de
carroças (em respeito ao emprego dos fabricantes de carroça e dos criadores de cavalo, trens e caminhões de carga seriam banidos). Por
causa de uma lei imposta pelos sindicatos do transporte coletivo para evitar demissões, todo ônibus urbano teria, além do motorista, um
entediado cobrador (ops, esse ainda existe).
As pessoas que perdem o emprego para as máquinas não são vítimas do progresso. São consumidores que usufruem dos prazeres
infinitos que a inovação, a concorrência desleal e as máquinas tornaram acessíveis.
NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da história do mundo. São Paulo: Leya, 2013, p. 106-110.

LEITURA COMPLEMENTAR III: DEPOIMENTO


Perante uma comissão do Parlamento inglês, em 1816, John Moss, capataz de aprendizes numa tecelagem de algodão, prestou o
depoimento a seguir, acerca das condições de trabalho envolvendo crianças:
Eram aprendizes órfãos? – Todos aprendizes órfãos.
E com que idade eram admitidos? – Os que vinham de Londres tinham entre 7 e 11 anos. Os que vinham de Liverpool tinham de 8 a 15
anos.
Até que idade eram aprendizes? – Até 21 anos.
Qual o horário de trabalho? – De 5 da manhã até 8 da noite.
Quinze horas diárias era um horário normal? – Sim
Quando as fábricas paravam para reparos ou falta de algodão, tinham as crianças, posteriormente, de trabalhar mais para recuperar o
tempo parado? – Sim.
As crianças ficavam de pé ou sentadas para trabalhar? – De pé.
Durante todo o tempo? – Sim.
Havia acidentes nas máquinas com as crianças? – Muito frequentemente.”
(HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1983, p. 191.)

LEITURA COMPLEMENTAR IV: O TRABALHO DAS MULHERES


Depoimento de Betty Harris, 37 anos:
Casei-me aos 23 anos, e foi somente depois de casada que eu desci à mina; não sei ler nem escrever. Trabalho para Andrew Knowles,
da Little Bolton (Lancashire). Puxo pequenos vagões de carvão; trabalho das 6 da manhã às 6 da tarde. Há uma pausa de cerca de uma
hora, ao meio dia, para o almoço; dão-me pão e manteiga, mas nada para beber. Tenho dois filhos, porém eles são jovens demais para
trabalhar. Eu puxava esses vagões, quando estava grávida. Conheci uma mulher que voltou para casa, se lavou, se deitou, deu à luz e
retornou o trabalho menos de uma semana depois.
Tenho uma correia em volta da cintura, uma corrente que passa por entre as minhas pernas e ando sobre as mãos e os pés. O caminho
é muito íngrime, e somos obrigados a segurar uma corda – e quando não há corda, nós nos agarramos a tudo o que podemos. Nos poços
onde trabalho, há seis mulheres e meia dúzia de rapazes e garotas; é um trabalho muito duro para uma mulher. No local onde trabalho, a
cova é muito úmida e a água sempre cobre os nossos sapatos. Um dia, a água chegou até minhas coxas. E o que cai do teto é terrível!
Minhas roupas ficam molhadas durante quase o dia todo. Nunca fiquei doente em minha vida, a não ser na época dos partos.
Estou muito cansada quando volto à noite para casa, às vezes adormeço antes de me lavar. Não sou mais tão forte como antes, mas
não tenho mais a mesma resistência no trabalho. Puxei esses vagões até arrancar a pele; a correia e a corrente são ainda piores quando
se espera uma criança.”
(Depoimento extraído de um relatório parlamentar inglês, 1842.)

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CINEMATECA
Filmes relacionados com o tema do capítulo:
 A Nós, a Liberdade (1931), do diretor René Clair, estabelece um paralelo entre o trabalho forçado numa prisão e numa fábrica.
 Tempos Modernos (1936), dirigido por Charles Chaplin, apresenta uma crítica à exploração dos trabalhadores e sua transformação
em ferramenta de trabalho.
 Oliver Twist (1948), do diretor David Lean, narra a trajetória de um garoto de 12 anos, em meio à Revolução Industrial.
 Germinal (1993), dirigido por Claude Berri, retrata o cotidiano de uma comunidade de mineiros de carvão na França rural do século
XIX.
 Ver-te-ei no Inferno (1969), do diretor Martin Ritt, a trama gira em torno de uma comunidade de mineiros de origem irlandesa na
Pensilvânia do século XIX.

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EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM c) demonstra que a produtividade está diretamente relacionada ao


número de empregados da fábrica, ao contrário das Corporações
Questão 01 de Ofício, em que a produção artesanal dependia do mestre.
A expressão Revolução Industrial tem sido utilizada para designar d) destaca a importância da especialização do trabalho para o
um conjunto de transformações econômicas, sociais e aumento da produtividade, situação semelhante à que ocorria nas
tecnológicas que teve início na Inglaterra, na segunda metade do Corporações de Ofício, de que participavam aprendizes, oficiais e
século XVIII. Em pouco tempo, essas mudanças afetariam outros mestre.
países da Europa e outros continentes, alterando definitivamente e) evidencia as ideias fisiocráticas e mercantilistas, ao realçar a
as relações entre as sociedades humanas. divisão do trabalho, características marcantes da Revolução
FIGUEIRA, D. G. "História". São Paulo: Ática, 2005. p. 193. Comercial.

Sobre a temática exposta no texto, pode-se inferir que Questão 03


a) a produção de tecidos foi um dos primeiros setores a
desenvolver o processo industrializador juntamente com a
metalurgia do aço.
b) ao aumentar a produtividade de cada trabalhador, aumentou a
oferta de mercadoria e, por consequência, possibilitou uma
redução nos preços dos produtos.
c) o sucesso da Revolução Industrial foi tão significativo que
facilitou uma ampla melhoria das condições materiais da
sociedade como um todo.
d) a industrialização foi um processo urbano com poucas relações
com o meio rural
e) a indústria eliminou a produção artesanal e manufatureira na
Europa.

Questão 02 Tendo como base de análise a figura e os aspectos que definiram


"Um fato saliente chamou a atenção de Adam Smith, ao observar a Primeira Revolução Industrial, considere as afirmativas a seguir:
o panorama da Inglaterra: o tremendo aumento da produtividade
resultante da divisão minuciosa e da especialização de trabalho. I. Inicia-se nas últimas décadas do século XVIII e estende-se até
Numa fábrica de alfinetes, um homem puxa o fio, outro o acerta, meados do século XIX. A invenção da máquina a vapor e o uso
um terceiro o corta, um quarto faz-lhe a ponta, um quinto prepara do carvão como fonte de energia primária marcam o início das
a extremidade para receber a cabeça, cujo preparo exige duas ou mudanças nos processos produtivos.
três operações diferentes: colocá-la é uma ocupação peculiar;
II. O Reino Unido foi o primeiro país a reunir condições básicas
prateá-la é outro trabalho. Arrumar os alfinetes no papel chega a
para o início da industrialização devido à intensa acumulação
ser uma tarefa especial; vi uma pequena fábrica desse gênero,
com apenas dez empregados, e onde consequentemente alguns de capitais no decorrer do Capitalismo Comercial.
executavam duas ou três dessas operações diferentes. E embora III. Os mais destacados segmentos fabris desta fase foram o têxtil,
fossem muito pobres, e portanto mal acomodados com a o metalúrgico e o de mineração.
maquinaria necessária, podiam fazer entre si 48.000 alfinetes num IV. As transformações produtivas desta fase atingiram
dia, mas se tivessem trabalhado isolada e independentemente, rapidamente outros países como a Alemanha, França e
certamente cada um não poderia fazer nem vinte, talvez nem um Estados Unidos ainda no Século XVIII recrutando operários
alfinete por dia." com salários atrativos promovendo, assim, um intenso êxodo
FARIA, Ricardo de Moura et all. "História". Vol. 1. Belo Horizonte: rural.
Lê, 1993. [adapt.].
Estão corretas
O documento sobre a Revolução Industrial, na Inglaterra,
a) relaciona a divisão de trabalho com a alta produtividade,
a) apenas I, II e III.
situação bem diferente da produção artesanal característica da
b) apenas I, II e IV.
Idade Média.
c) apenas II, III e IV.
b) enfatiza o trabalho em série e as condições do trabalhador nas
d) apenas I, III e IV.
fábricas, reforçando a importância das leis trabalhistas, no início
e) I, II, III e IV.
da Idade Moderna.

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Questão 04
"O duque de Bridgewater censurava os seus homens por terem
voltado tarde depois do almoço; estes se desculparam dizendo
que não tinham ouvido a badalada da 1 hora, então o duque
modificou o relógio, fazendo-o bater 13 badaladas."

Este texto revela um dos aspectos das mudanças oriundas do


processo industrial inglês no final do século XVIII e início do
século XIX. A partir do conhecimento histórico, pode-se afirmar
que

a) os trabalhadores foram beneficiados com a diminuição da


jornada de trabalho em relação à época anterior à revolução Cenas do filme Tempos Modernos (Modern Times), EUA, 1936,
industrial. Direção: Charles Chaplin, Produção: Continental.
b) a racionalização do tempo foi um dos aspectos psicológicos
significativos que marcou o desenvolvimento da maquinofatura. A figura representada por Charles Chaplin critica o modelo de
c) os empresários de Londres controlavam com mais rigor os produção do início do século XX, nos Estados Unidos da América,
horários dos trabalhadores, mas como compensação forneciam que se espalhou por diversos países e setores da economia e
remuneração por produtividade para os pontuais. teve como resultado
d) as fábricas, de modo em geral, tinham pouco controle sobre o
horário de trabalho dos operários, haja vista as dificuldades de a) a subordinação do trabalhador à máquina, levando o homem a
registro e a imprecisão dos relógios naquele contexto. desenvolver um trabalho repetitivo.
e) os industriais criaram leis que protegiam os trabalhadores que b) a ampliação da capacidade criativa e da polivalência funcional
cumpriam corretamente o horário de trabalho. para cada homem em seu posto de trabalho.
c) a organização do trabalho que possibilitou ao trabalhador o
Questão 05 controle sobre a mecanização do processo de produção.
d) o rápido declínio do absenteísmo, o grande aumento da
O aumento populacional, a Revolução Industrial e o crescimento
produção conjugado com a diminuição das áreas de estoque.
das cidades proporcionaram novos estilos de vida, tanto para a
classe média urbana quanto para a classe trabalhadora urbana. e) as novas técnicas de produção que provocaram ganhos de
Sobre essas mudanças, pode-se afirmar que produtividade, repassados aos trabalhadores como forma de
eliminar as greves.
a) o principal investimento da maioria da classe trabalhadora era a
educação dos filhos, pois garantia a mobilidade social. Questão 07
b) as moradias da classe média, localizadas nas proximidades Até o século XVII, as paisagens rurais eram marcadas por
das indústrias, simbolizavam lucro e prosperidade. atividades rudimentares e de baixa produtividade. A partir da
c) o acesso ao mercado de trabalho, nas fábricas, restringiu-se às
Revolução Industrial, porém, sobretudo com o advento da
mulheres oriundas da classe média, enquanto as de classe baixa
revolução tecnológica, houve um desenvolvimento contínuo do
dedicavam-se ao trabalho doméstico.
d) a contratação de mulheres e crianças, em lugar dos homens, setor agropecuário. São, portanto, observadas consequências
provocava desagregação no sistema de vida familiar. econômicas, sociais e ambientais inter-relacionadas no período
e) o aumento da produção de bens duráveis (eletrodomésticos) posterior à Revolução Industrial, as quais incluem
garantiu o acesso a esses produtos por parte dos operários.
a) a erradicação da fome no mundo.
Questão 06 b) o aumento das áreas rurais e a diminuição das áreas urbanas.
c) a maior demanda por recursos naturais, entre os quais os
recursos energéticos.
d) a menor necessidade de utilização de adubos e corretivos na
agricultura.
e) o contínuo aumento da oferta de emprego no setor primário da
economia, em face da mecanização.

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Questão 08
Este considerável aumento de produção que, devido à divisão do
trabalho, o mesmo número de pessoas é capaz de realizar, é
resultante de três circunstâncias diferentes: primeiro, ao aumento
da destreza de cada trabalhador; segundo, à economia de tempo,
que antes era perdido ao passar de uma operação para outra;
terceiro, à invenção de um grande número de máquinas que
facilitam o trabalho e reduzem o tempo indispensável para o
realizar, permitindo a um só homem fazer o trabalho de muitos.
(Adam Smith. “Investigação sobre a Natureza e as Causas da
Riqueza das Nações (1776)”. In: Adam Smith/Ricardo. Os
pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1984.)

O texto, publicado originalmente em 1776, destaca três


características da organização do trabalho no contexto da
Revolução Industrial:

a) a introdução de máquinas, a valorização do artesanato e o


aparecimento da figura do patrão.
b) o aumento do mercado consumidor, a liberdade no emprego do
tempo e a diminuição na exigência de mão de obra.
c) a escassez de mão de obra qualificada, o esforço de
importação e a disciplinarização do trabalhador.
d) o controle rigoroso de qualidade, a introdução do relógio de
ponto e a melhoria do sistema de distribuição de mercadorias.
e) a especialização do trabalhador, o parcelamento de tarefas e a
maquinização da produção.

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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO Questão 03


O consumo diário de energia pelo ser humano vem crescendo e
Questão 01 se diversificando ao longo da História, de acordo com as formas
Leia as informações a seguir. de organização da vida social. O esquema apresenta o consumo
Em meados do século XVIII, James Watt patenteou na Inglaterra típico de energia de um habitante de diferentes lugares e em
seu invento, sobre o qual escreveu a seu pai: “O negócio a que diferentes épocas.
me dedico agora se tornou um grande sucesso. A máquina de
fogo que eu inventei está funcionando e obtendo uma resposta
muito melhor do que qualquer outra que tenha sido inventada até
agora”.
Disponível em: <http://www.ampltd.co.uk/digital_guides/ind-rev-series-3-parts-1-to-
3/detailed-listing-part-1.aspx>. Acesso em: 29 out. 2012. (Adaptado).

A revolução histórica relacionada ao texto, a fonte primária de


energia utilizada em tal máquina e a consequência ambiental de
seu uso são, respectivamente,
a) puritana, gás natural e aumento na ocorrência de inversão
térmica.
b) gloriosa, petróleo e destruição da camada de ozônio.
c) gloriosa, carvão mineral e aumento do processo de desgelo das
calotas polares.
Segundo esse esquema, do estágio primitivo ao tecnológico, o
d) industrial, gás natural e redução da umidade atmosférica.
consumo de energia per capita no mundo cresceu mais de 100
e) industrial, carvão mineral e aumento da poluição atmosférica.
vezes, variando muito as taxas de crescimento, ou seja, a razão
entre o aumento do consumo e o intervalo de tempo em que esse
Questão 02
aumento ocorreu. O período em que essa taxa de crescimento foi
A Inglaterra pedia lucros e recebia lucros. Tudo se transformava mais acentuada está associado à passagem
em lucro. As cidades tinham sua sujeira lucrativa, suas favelas
lucrativas, sua fumaça lucrativa, sua desordem lucrativa, sua a) do habitante das cavernas ao homem caçador.
ignorância lucrativa, seu desespero lucrativo. As novas fábricas e b) do homem caçador à utilização do transporte por tração animal.
os novos altos-fornos eram como as Pirâmides, mostrando mais a c) da introdução da agricultura ao crescimento das cidades.
escravização do homem que seu poder. d) da Idade Média à máquina a vapor.
DEANE, P. A Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (adaptado).
e) da Segunda Revolução Industrial aos dias atuais.
Qual relação é estabelecida no texto entre os avanços
Questão 04
tecnológicos ocorridos no contexto da Revolução Industrial
Inglesa e as características das cidades industriais no início do "... Um operário desenrola o arame, o outro o endireita, um
século XIX? terceiro corta, um quarto o afia nas pontas para a colocação da
cabeça do alfinete; para fazer a cabeça do alfinete requerem-se 3
ou 4 operações diferentes, ..."
a) A facilidade em se estabelecerem relações lucrativas
SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. Investigação sobre a sua Natureza e suas
transformava as cidades em espaços privilegiados para a livre Causas. Vol. I. São Paulo: Nova Culturas, 1985.
iniciativa, característica da nova sociedade capitalista.
b) O desenvolvimento de métodos de planejamento urbano
aumentava a eficiência do trabalho industrial.
c) A construção de núcleos urbanos integrados por meios de
transporte facilitava o deslocamento dos trabalhadores das
periferias até as fábricas.
d) A grandiosidade dos prédios onde se localizavam as fábricas
revelava os avanços da engenharia e da arquitetura do período,
transformando as cidades em locais de experimentação estética e
artística. A respeito do texto e do quadrinho são feitas as seguintes
e) O alto nível de exploração dos trabalhadores industriais afirmações:
ocasionava o surgimento de aglomerados urbanos marcados por I. Ambos retratam a intensa divisão do trabalho, à qual são
péssimas condições de moradia, saúde e higiene. submetidos os operários.

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II. O texto refere-se à produção informatizada e o quadrinho, à Está correto o que se afirma em:
produção artesanal. a) I, apenas.
III. Ambos contêm a ideia de que o produto da atividade industrial b) I e II, apenas.
não depende do conhecimento de todo o processo por parte do c) I e III, apenas.
operário. d) II e III, apenas.
Dentre essas afirmações, apenas e) I, II e III.
a) I está correta.
b) II está correta. Questão 07
c) III está correta. O modelo T foi um sucesso. Ford aprimorou seus métodos de
d) I e II estão corretas. produção reduzindo o trabalhador a uma mera engrenagem,
e) I e III estão corretas. diminuindo o tempo de montagem – em fins de 1913 o tempo de
produção os chassis passara de 12 horas e meia para duas horas
e quarenta minutos – e baixando os preços. Ford aumentou os
Questão 05 salários e reduziu a carga horária. Um modelo T saia da linha de
Homens da Inglaterra, por que arar para os senhores que vos montagem a cada 24 segundos e o preço estava em 290 dólares
mantêm na miséria? quando sua produção foi interrompida em 1927.
Por que tecer com esforços e cuidado as ricas roupas que vossos FURTADO, Peter. 1001 dias que abalaram o mundo. Rio de Janeiro: Sextante,
2009, p.629.
tiranos vestem?
Por que alimentar, vestir e poupar do berço até o túmulo esses A respeito das inovações técnicas introduzidas nas fábricas de
parasitas ingratos que exploram vosso suor — ah, que bebem Henry Ford a partir de 1908 pode-se inferir que
vosso sangue? a) os resultados obtidos deveram-se muito mais a uma nova
SHELLEY. Os homens da Inglaterra. Apud HUBERMAN, L. História da Riqueza do disciplinarização da mão de obra do que da tecnologia das
Homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. máquinas.
b) não foram capazes de serem aplicados em outros tipos de
A análise do trecho permite identificar que o poeta romântico produção, ficando restritas ao setor automobilístico.
c) a difusão do modelo fordista garantiu o aumento significativo
Shelley (1792-1822) registrou uma contradição nas condições
dos salários dos trabalhadores europeus.
socioeconômicas da nascente classe trabalhadora inglesa durante d) tornaram-se hegemônicas dentro da organização das fábricas
a Revolução Industrial. Tal contradição está identificada capitalistas sem nenhum tipo de sistema concorrente até a
a) na pobreza dos empregados, que estava dissociada na riqueza atualidade.
dos patrões. e) ao baratearem excessivamente os preços contribuíram para a
b) no salário dos operários, que era proporcional aos seus estagnação do capitalismo nas décadas de 30 a 70 do século XX.
esforços nas indústrias.
c) na burguesia, que tinha seus negócios financiados pelo Questão 08
proletariado.
d) no trabalho, que era considerado uma garantia de liberdade.
e) na riqueza, que não era usufruída por aqueles que a
produziam.

Questão 06
Considere o papel da técnica no desenvolvimento da constituição
de sociedades e três invenções tecnológicas que marcaram esse
processo: invenção do arco e flecha nas civilizações primitivas,
Uma rua de um bairro pobre de Londres (Dubley Street); gravura de Gustave Doré
locomotiva nas civilizações do século XIX e televisão nas
de 1872. (fonte: BENEVOLO, 1999)
civilizações modernas.
A respeito dessas invenções são feitas as seguintes afirmações:
A gravura do artista remete a um momento de grande ruptura
I - A primeira ampliou a capacidade de ação dos braços,
tecnológica e social ocorrida na Inglaterra como se depreende em
provocando mudanças na forma de organização social e na
uma das afirmativas abaixo:
utilização de fontes de alimentação.
a) A população também foi beneficiada de imediato pelos avanços
II - A segunda tornou mais eficiente o sistema de transporte,
da criação de novas máquinas.
ampliando possibilidades de locomoção e provocando mudanças
b) Aqueles que passavam necessidade eram na maioria pessoas
na visão de espaço e de tempo.
que não buscavam trabalho nas indústrias.
III - A terceira possibilitou um novo tipo de lazer que, envolvendo
c) A falta de emprego gerada pelo avanço das máquinas gerou
apenas participação passiva do ser humano, não provocou
fome e miséria por toda Inglaterra durante o século XVIII.
mudanças na sua forma de conceber o mundo.

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d) A pobreza e a miséria eram vistas apenas nos bairros mais A partir da segunda metade do século XVIII, as chaminés
pobres não chegando a afetar as altas classes sociais protegidas expelindo rolos de fumaça, como as da gravura, passaram a fazer
em seus castelos. parte da paisagem de algumas regiões inglesas, alterando o
e) A burguesia tentando amenizar as crises sociais, rapidamente equilíbrio natural. Essas chaminés eram, na verdade, apenas
ampliou os direitos e salários dos trabalhadores. parte mais visível da fábrica que alterou completamente a
sociedade humana. Dentre as alterações econômicas e sociais
advindas do fenômeno apresentado na gravura, pode-se destacar
Questão 09
a) o processo de desconcentração urbana, haja vista a decisão da
O assalariado na sociedade capitalista é um homem livre. Não burguesia de construir as unidades fabris longe dos centros
pertence a um dono, como na escravidão, nem está preso ao urbanos.
solo, como no regime feudal da servidão. (...) ele foi “libertado” b) a melhoria do padrão de vida do trabalhador fabril, já que a
não só do senhor, mas também dos meios de produção. Vimos máquina o libertou das condições degradantes do trabalho rural.
como os meios de produção (terra, instrumentos, máquinas etc.) c) a preocupação do poder público com a questão ambiental,
passaram a ser propriedade de um pequeno grupo e já não eram impondo rapidamente uma legislação que eliminou os efeitos da
distribuídos geralmente entre todos os trabalhadores. Os que não poluição ambiental.
são donos dos meios de produção só podem ganhar a vida d) a redução do lucro dos capitalistas ingleses porque eram
empregando-se – por salários – aos que são donos. É evidente obrigados a pagar elevadas indenizações aos operários que
que o trabalhador não se vende ao capitalista (isso faria dele um adoeciam nas fábricas.
escravo), mas vende a única mercadoria que possui – sua e) o crescimento populacional próximo às fábricas, dando origem
capacidade de trabalhar, sua força de trabalho. a graves problemas de urbanização, como a proliferação de
HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. 21. ed. Rio de Janeiro: LTC,
cortiços.
1959.

A descrição do mundo do trabalho e da propriedade dos meios de Questão 11


produção retratados no texto acima se refere ao contexto histórico Leia os dois textos seguintes.
a) das grandes navegações, quando o capitalismo comercial se
"No Ocidente Medieval, a unidade de trabalho é o dia [...] definido
consolidou como meio de produção, impondo o modelo de
pela referência mutável ao tempo natural, do levantar ao pôr-do-
trabalho assalariado.
sol. [...] O tempo do trabalho é o tempo de uma economia ainda
b) do nascimento das corporações de ofícios nas cidades dominada pelos ritmos agrários, sem pressas, sem preocupações
medievais, que baniu o trabalho escravo da sociedade europeia. de exatidão, sem inquietações de produtividade".
c) do renascimento comercial e urbano europeu, na Baixa Idade (Jacques Le Goff. "O tempo de trabalho na 'crise' do século XIV".)
Média, quando o trabalho servil foi substituído pelo modelo
assalariado. "Na verdade não havia horas regulares: patrões e administradores
d) da revolução industrial, onde a alienação do trabalhador faziam conosco o que queriam. Normalmente os relógios das
facilitou o processo de acumulação de riquezas pela burguesia. fábricas eram adiantados pela manhã e atrasados à tarde e em
lugar de serem instrumentos de medida do tempo eram utilizados
e) do entre guerras do século XX, quando todos os resquícios do
para o engano e a opressão".
feudalismo foram banidos da Europa, em função do (Anônimo. "Capítulos na vida de um menino operário de Dundee", 1887.)
desmembramento dos impérios continentais europeus.
Entre as razões para as diferentes organizações do tempo do
Questão 10 trabalho, pode-se citar:
Considere a gravura. a) a predominância no campo de uma relação próxima entre
empregadores e assalariados, uma vez que as atividades agrárias
Fundição de cobre em Swansea, Gales, século XIX eram regidas pelos ritmos da natureza.
b) o impacto do aparecimento dos relógios mecânicos, que
permitiram racionalizar o dia de trabalho, que passa a ser
calculado em horas no campo e na cidade.
c) as mudanças trazidas pela organização industrial da produção,
que originou uma nova disciplina e percepção do tempo, regida
pela lógica da produtividade.
d) o conflito entre a Igreja Católica, que condenava os lucros
obtidos a partir da exploração do trabalhador, e os industriais, que
aumentavam as jornadas.
e) a luta entre a nobreza, que defendia os direitos dos
camponeses sobre as terras, e a burguesia, que defendia o êxodo
(In: Divalte Garcia Figueira. "História". São Paulo: Ática, 2005. p. 193) rural e a industrialização.

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Questão 12 (...) que muitas vezes é úmida e fica no subsolo, sempre mal
Analise os três textos seguintes. mobiliada e perfeitamente inabitável, a ponto de um monte de
Eu vi o ferro incandescente sair da fornalha; eu o vi como se tecer palha servir frequentemente de cama para uma família inteira,
em barras e fitas, com uma velocidade e facilidade que pareciam cama onde se deitam, numa confusão revoltante, homens,
maravilhosas. mulheres, velhos e crianças."
(Engenheiro James Nasmyth, 1830)
(The Artisan, 1843. In: Friedrich Engels. A Situação da classe trabalhadora na
Inglaterra. Tradução Porto: Afrontamento, 1975. p.69.)
... como parecia estranho viajar naquilo, sem nenhuma causa
visível do avanço a não ser a máquina mágica, com sua flutuante
O artigo da revista inglesa mostra as contradições de vida
exalação branca e marcha ritmada, invariável, entre aquelas
paredes rochosas ... Senti como se nenhum conto de fadas fosse
a) dos camponeses que trabalhavam no interior das propriedades
tão maravilhoso quanto a metade do que via.
(Atriz Fanny Kemble, 1829) burguesas logo após a realização dos cercamentos das terras.
b) dos trabalhadores artesãos que viviam na periferia das cidades
Pobreza, pobreza, pobreza, em perspectivas quase infindáveis: e industriais, exercendo, com seus próprios instrumentos, atividades
carência e desgraça cambaleando de braços dados por essas em pequenas oficinas.
ruas miseráveis ... Ali, cerca de quinze pés abaixo da calçada, c) das famílias dos operários, que se aglomeravam nas cidades
agachada numa imundice indescritível, com a cabeça inclinada, industriais a partir da Revolução Industrial.
estava a figura do que fora uma mulher. Seus braços azuis
d) dos mendigos de Londres que viviam marginalizados na
cingiam no colo lívido duas coisas mirradas como crianças, que
sociedade porque não se adaptavam ao trabalho disciplinado da
se inclinavam em direção a ela, uma de cada lado. A princípio eu
não sabia se estavam vivas ou mortas. fábrica.
(Herman Melville, 1839) e) dos desempregados, já que não conseguiam pagar os aluguéis
das habitações sanitárias pelos industriais para as famílias
O contexto histórico dos textos apresentados refere-se operárias.

a) ao conflito entre capital e trabalho, na cidade e no campo, Questão 14


provocado por migrações e pobreza nas pequenas cidades "É curioso que quando a fabricação de algodão apenas
inglesas, onde estavam os antigos centros manufatureiros. começava, todas as operações, desde o preparo da matéria-prima
b) ao grande desenvolvimento industrial norte-americano e à até a sua transformação em tecido, se completavam sob o teto da
pobreza vivida por operários na cidade de Nova Iorque. cabana do tecelão. O processo da manufatura determinou que o
c) à segunda etapa da Revolução Industrial, realizada pela fio seria fiado nas fábricas e seria tecido nas cabanas. Na época
expansão da indústria do aço, e ao empobrecimento da atual, quando a manufatura chegou a sua etapa de maturidade,
população como consequência das revoltas operárias. todas as operações voltam a realizar-se em um único edifício,
d) à expansão do imperialismo inglês na África e à miséria recorrendo-se a meios superiores e máquinas mais complexas."
desencadeada pela imposição às populações locais de um modo
Guest, O efeito do tear mecânico sobre a produção.
de vida urbano e segregacionista.
e) às contradições geradas pela Revolução Industrial inglesa, que O fragmento de texto anteriormente transcrito se refere:
promoveu desenvolvimento tecnológico e, ao mesmo tempo,
gerou desemprego e pobreza. a) à consolidação das estruturas capitalistas de produção, com a
valorização do trabalho artesanal.
Questão 13 b) às transformações verificadas na produção a partir da chamada
"Estas ruas são em geral tão estreitas que se pode saltar de uma segunda fase da Revolução Industrial.
janela para a da casa em frente, e os edifícios apresentam por c) ao processo de evolução da produção têxtil, observado a
outro lado uma tal acumulação de andares que a luz mal pode Inglaterra durante a transição feudal/capitalista.
penetrar no pátio ou na ruela que os separa. Nesta parte da d) ao desenvolvimento de um sistema econômico fundamentado
cidade não há nem esgotos nem lavabos públicos (...) nas casas, no trabalho de produtores autônomos.
e é por isso que as imundícies, detritos ou excrementos de, pelo
e) à queima de etapas perceptível na industrialização dos
menos, 50.000 pessoas são lançados todas as noites nas valetas
chamados países capitalistas de segunda geração.
(...) que não só ferem a vista e o olfato, como, por outro lado,
representam um perigo extremo para a saúde dos habitantes. (...)
Os alojamentos da classe pobre são em geral muito sujos e
aparentemente nunca são limpos (...) e compõem-se, na maior
parte das casas, de uma única sala

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Questão 15
Analise os textos:

A indústria foi modernizada na Inglaterra, durante o século XIX,


mas os velhos métodos de exploração do trabalho não mudaram:
as jornadas de trabalho foram prolongadas e os salários
diminuídos, fazendo crescer os lucros, especialmente nas minas
de carvão, com o trabalho infantil. Os escrúpulos humanitários
resumiram-se às casas para trabalhadores desvalidos, sobre as
quais escreveu Charles Dickens, em Oliver Twist: ‘os pobres têm
duas escolhas, morrer de fome lentamente se permanecem no
depósito, ou de repente, se saem de lá’.

ARRUDA, J. Nova História Moderna e Contemporânea. Bauru, SP: Edusc 2005, v.


2, p. 40.

Quando examinei as três cabanas de barro que servem de


hospital aos nativos em Leopoldville, todas deterioradas e duas
com o teto de palha praticamente destruído, encontrei dezessete
pacientes com doença do sono, homens e mulheres, jogados na
pior sujeira. A maioria jazia no chão nu – muitos do lado de fora,
em frente às casas e, pouco antes da minha chegada, uma
mulher em estágio final de insensibilidade tinha caído no fogo e se
queimado horrivelmente.

FARIA, R.; MIRANDA, M., CAMPOS, H. Estudos de História, 2. São Paulo: FTD,
2009, p. 178. (adaptado)

Os textos relatam duas manifestações do(a)

a) racismo dos europeus em relação aos nativos africanos.


b) espoliação dos trabalhadores na etapa imperialista do
capitalismo.
c) falência das políticas assistenciais propostas pelos socialistas.
d) despreparo das autoridades para lidar com moléstias pouco
conhecidas.
e) insuficiência da missão civilizadora restringida à dimensão
religiosa.

GABARITO
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
E E E E E B A C D E
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
C E C C B __ __ __ __ __

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