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Economia Política

Capitalismo industrial e a sociedade Unidade III – aula I


O que foi a Revolução
Industrial?
• Denomina-se Revolução Industrial as
transformações econômicas ocorridas
na Inglaterra a partir das últimas
décadas do século XVIII, tempo em
que a máquina a vapor passou a ser
sistematicamente utilizada na
produção de mercadorias, em especial
na fabricação de tecidos, na mineração
e na metalurgia. Essas mudanças
levaram à implantação da indústria
contemporânea.
• Primeira Revolução
Industrial: compreendida
entre fins do século XVIII e a
década de 1830. O foco foi a
renovação do sistema fabril
ligado à produção de tecido
de algodão;

• Segunda Revolução
Industrial: cujo apogeu
ocorreu a partir de 1850 e é
caracterizada pelo avanço da
metalurgia, sobretudo da
indústria do ferro, e pela
A Revolução Industrial pode ser construção de ferrovias.
dividida em dois momentos:
A Revolução Industrial
• No século XVIII, a Inglaterra era um país rico, com a maioria da população vivendo
no campo. Em 1700, a população girava em torno de 6 milhões de pessoas, com
cerca de 70% ocupadas nas atividades agrárias. A produção agrícola, entretanto,
vinha sofrendo mudanças importantes.
• Novas técnicos de plantio, de tratamento da terra, o uso de animais e novos
cultivos proporcionaram a chamada “Revolução Agrícola” nos campos ingleses.
Houve, na verdade, uma redefinição da propriedade agrária e das relações de
trabalho no campo.
• O rompimento da forma tradicional com a qual os trabalhadores rurais se
relacionavam com a terra e as novas condições agrárias representaram um duro
golpe ao campesinato: o contrato de trabalho passou a ser individual, e não mais
por grupo familiar.
A Revolução Industrial
• Com o aumento da produtividade das terras em decorrência das
novas técnicas, só acessíveis aos mais ricos, o preço do arrendamento
subiu muito e até mesmo os pequenos arrendatários não puderam
mais arcar com o aluguel.
• Em 1700, estima-se que metade das terras cultiváveis inglesas era
utilizada por meio da exploração dos campos comuns. Ao fim do
século XVIII, elas praticamente já não existiam. O fim das terras
comuns e o cercamento dos campos concentraram a propriedade
fundiária nas mãos de cada vez menos pessoas.
A Revolução Industrial
• O cercamento dos campos foi elemento decisivo
para o desenvolvimento da indústria;
principalmente pela maior oferta de alimentos e
pela liberação de camponeses a trabalhar nas
fábricas e viver em centros urbanos.
• É certo que essas mudanças transformaram
profundamente o universo econômico e cultural dos
camponeses, que tiveram de se submeter a uma
ordem nova: a do capital. Tornaram-se assalariados
do campo e das cidades.
A Revolução Industrial
• A mão de obra das primeiras fábricas têxteis inglesas, no final do
século XVIII, resultava do aumento demográfico. Nessa época,
houve um aumento da população urbana e rural na Inglaterra.
Industrialização e crescimento demográfico se alimentavam
reciprocamente. A população da Grã-Bretanha saltou de 6
milhões para 10 milhões de pessoas, em fins do século XVIII, e
para impressionantes 18 milhões na década de 1840.
• O pioneirismo inglês na industrialização ocorreu, ainda, devido à
existência de vias fluviais. Elas permitiram um rápido e eficiente
sistema de transporte entre o interior e os portos marítimos,
além de serem mais econômicos do que as terrestres no
transporte de mercadorias pesadas ou volumosas, como o
carvão.
A Revolução
Industrial
• Em resumo, o fato de a Revolução
Industrial ter ocorrido
especialmente na Inglaterra não
pode ser atribuído somente a um
aspecto, mas a um conjunto de
fatores. E, como em todo processo
histórico, não ocorreu de uma hora
para a outra, nem se estendeu a
todas as regiões inglesas naquele
momento. Embora restrita a alguns
produtos e centralizada em certas
regiões, a Revolução Industrial
transformou a Inglaterra na principal
economia do mundo.
Máquina à Vapor
Capitalismo Industria
Revolução Industrial –
Unidade III – Aula I
• A máquina a vapor sempre
foi explorada como fonte de
energia desde o século XVI,
principalmente na captação
de água e na exploração de
ferro e carvão. Contudo, elas
não se mostravam muito
eficientes e com baixo
tempo de longevidade.

Máquina à Vapor
Máquina à Vapor
• Em 1712, Thomas Newcomen, aprimora a máquina a vapor e a deixa
apta a ser utilizada pela indústria incipiente; mas existe um
contraponto: ela é muito cara. Somente em 1769, com James Watt, é
que a máquina a vapor é aperfeiçoada, baixando os custos de sua
produção, estando apta a ser implantada e utilizada pela indústria na
fabricação de suas mercadorias.
• Ela foi utilizada em todas as áreas industriais, mas principalmente na
área têxtil, onde a Inglaterra possuía um amplo mercado global.
• Era o impulso que a Revolução Industrial precisava.
A nova divisão do trabalho
Capitalismo Industrial e a Sociedade
Revolução Industrial – Unidade III – Aula I
Divisão Social do Trabalho
• A fabricação de tecidos era atividade tradicional na Inglaterra. A maioria
das famílias camponesas estava, de alguma forma, envolvida com o
processo de fiar e tecer. A introdução de uma nova matéria-prima, o
algodão, no século XVIII, não mudou em princípio essa organização.
• Com a utilização cada vez maior da fiandeira hidráulica, inacessível aos
camponeses, as fábricas de fiação se multiplicaram, mantendo um ritmo de
trabalho diário e ininterrupto. Tradicionalmente, eram mulheres e crianças,
os principais trabalhadores domésticos da fiação. E os negociantes
mantiveram o emprego dessa força de trabalho em suas fábricas, cuja
disciplina era muito mais rigorosa do que no sistema de fiação doméstica.
Divisão Social do Trabalho
• Entre os séculos XVIII e XIX, as formas de trabalho se
transformaram radicalmente. Milhares de trabalhadores,
principalmente mulheres e crianças, concentravam-se em
fábricas, sob um regime de serviço intenso e rigoroso. Sem uma
regulamentação específica, as jornadas de trabalho, no início,
eram acima de 12 horas por dia; com o passar dos anos, as leis
foram aparecendo e esta jornada foi sendo reduzida: em 1847,
uma lei estipulou uma jornada de trabalho de dez horas diárias e
outra de 1850 estipulou o descanso semanal aos domingos.
Divisão Social do Trabalho
• A introdução das máquinas no processo produtivo aumentou o
montante dos investimentos no setor têxtil, restringindo o
número de empresários com dinheiro para montar fábricas.
Assim, somente aqueles empresários ricos poderiam comprar
estas máquinas e utilizá-las em suas fábricas.
• Na fábrica, os operários atuavam somente em uma etapa da
produção – uma mudança radical na forma de realizar seu
trabalho. Em outras palavras, o processo produtivo nas fábricas
tendia a se fragmentar: estava em curso uma nova divisão do
trabalho.
Divisão Social do
Trabalho
• No contexto fabril, essa divisão do trabalho mostrava-se mais
produtiva e capaz de atender ao aumento do consumo –
consumo de massa. Dessa forma, os trabalhadores eram
tragados por um sistema em que a máquina era o centro do
processo produtivo.
• Na passagem do século XVIII para o XIX, o aumento da
população nas cidades, que não estavam preparadas para
receber tanta gente, teve repercussões sociais significativas:
multiplicavam-se os bairros pobres, havia ruas sem
calçamento, lixo por todos os lados, muitas pessoas morando
numa mesma casa. A situação era propícia para a disseminação
de doenças.
• Aprofundaram-se as desigualdades sociais entre ricos e pobres.
A defesa do livre comércio
• Em meados do século XVIII, na França, apareceram os primeiros
estudos ou reflexões dos fisiocratas, que criticavam as políticas
mercantilistas dos Estados europeus. A principal base do pensamento
fisiocrata é a do direito natural: todos têm direito de usufruir a vida e
de exercer suas faculdades, tendo como limite o respeito à vida e aos
bens dos outros. Também defendiam que principalmente a agricultura
produzia riqueza; criticavam o protecionismo alfandegário,
defendendo a liberdade de comércio.
• Adam Smith, escocês e fisiocrata, foi um pensador e prestigiado
teórico do liberalismo econômico. Os países, segundo ele, não tinham
de promover o crescimento com políticas que arruinavam outros
povos. Adam Smith sustentava que a riqueza era essencialmente
produto do trabalho humano. Mais ainda: “a opulência nasce da
divisão do trabalho” e da especialização, seja na agricultura ou na
indústria.
A defesa do livre comércio
• Os fisiocratas e Adam Smith são considerados os fundadores da Economia Política
moderna. A frase Laissez faire, laissez passer (deixai fazer, deixai passar) tornou-se um
emblema do liberalismo econômico. Apesar de ser uma simplificação, ela reproduzia a
ideia de que era necessário defender a liberdade econômica em oposição ao controle
por parte do Estado ou de qualquer instituição contrária à liberdade humana.
• Estava claro que os pressupostos de Adam Smith foram muito bem aceitos, em particular
pelos grandes empresários. Os governos, entretanto, insistiram no controle sobre as
esferas da produção, até mesmo na Inglaterra.
• A ênfase na divisão do trabalho foi considerada como acertada. Mas não se pôde fazer
muito em relação à liberdade do comércio. As tarifas alfandegárias e protecionistas
permaneceram. Não restava dúvida de que as teorias do liberalismo econômico foram
um grande estímulo à iniciativa privada na Inglaterra e à formação do futuro império
britânico.
O que é capitalismo?
• O termo capital começou a ser usado como
sinônimo de um conjunto de bens em comércio
ou na produção. No século XVII, começou a ser
usado como substantivo e sinônimo de riqueza,
valor, a maior expressão da riqueza do homem.
• O termo capitalista, por sua vez, já era usado no
século XVIII. Dele se originou a palavra
capitalismo, que define uma forma específica de
agir econômico, datado historicamente, e parte
de um sistema político e social maior.
O que é capitalismo?

• Maurice Dobb, afirma que existem três correntes principais


de entendimento histórico sobre o que é capitalismo. Em
primeiro lugar, ele menciona o desenvolvimento de um
entendimento que busca a essência do capitalismo. Em
épocas diferentes reinaram atitudes econômicas diferentes,
e que é esse espirito o que cria a forma adequada para si
próprio e com isso uma organização econômica. O homem
pré-capitalista era um homem natural que concebia a
atividade econômica como o simples aprovisionamento de
suas necessidades naturais. Por contraste, o capitalista
desarraigando-se do homem natural, com sua visão primitiva
e original e revirando todos os valores da vida, vê na
acumulação de capital o motivo dominante da atividade
econômica, e uma atitude de racionalidade sóbria e através
dos métodos de cálculo quantitativo preciso subordina tudo
o mais na vida a este fim.
O que é capitalismo?
• Em segundo lugar, identifica o capitalismo à
organização de produção para um mercado
distante. O capitalismo poderia ser encarado
como já presente assim que os atos de
produzir e vender a varejo se separaram no
espaço e no tempo pela intervenção de um
atacadista que adiantava dinheiro para
compra de artigos com o fito de mais tarde
efetuar uma venda lucrativa. O critério
essencial é a relação existente entre produção
e consumo dos bens ou, para ser mais exato, o
comprimento da rota percorrida pelos bens,
ao passarem do produtor ao consumidor.
O que é capitalismo?

• O capitalismo como sistema de atividade econômica


dominado por certo tipo de motivo, o motivo lucro; a
existência, em qualquer período, de número substancial de
pessoas que confiam no investimento de dinheiro para dali
extrair uma renda, seja tal investimento no comércio ou na
agiotagem, sendo tomada como demonstração da existência
de um elemento de capitalismo. A tendência dos que assim
encaram o termo é buscar as origens do capitalismo nas
primeiras invasões de transação especificamente comerciais
sobre os horizontes econômicos estreitos e a suposta
economia natural do mundo medieval, e marcar as
principais etapas no crescimento do capitalismo de acordo
com estágios na ampliação do mercado ou as formas
variáveis de investimento e empresa comercial as quais tal
ampliação se ligava.
O que é capitalismo?
• Em terceiro lugar, vários pensadores elaboraram teorias sobre o capital e o
capitalismo, em especial os alemães Karl Marx (1818 – 1883) e Max Weber
(1864 – 1920).
• Karl Marx deu maior importância ao modo como se organizava a produção.
Para ele, só existia capitalismo nas sociedades em que predominava o
pagamento de um salário ao trabalhador. A condição fundamental era o
trabalhador ser livre para vender sua força de trabalho ao proprietário dos
meios de produção. O capitalismo teria se desenvolvido, segundo essa
teoria, a partir das últimas décadas do século XVIII, com a crescente
industrialização e a progressiva transformação dos camponeses e artesãos
em assalariados, sobretudo na Inglaterra.
O que é capitalismo?
• Por sua vez, a alteração na estrutura
da indústria afetou as relações sociais
dentro do modo de produção
capitalista, influenciando radicalmente
a divisão de trabalho, diminuindo as
fileiras do tipo de trabalhador-
proprietário empreiteiro e pequeno
artesão intermediário entre capitalista
e assalariado, e transformando a
própria relação entre trabalhador e o
processo produtivo. (DOBB, 1965)
O que é capitalismo?

• Max Weber definiu o capitalismo como uma


economia baseada no mercado, na compra e
venda de mercadorias, independentemente da
forma como se organiza a produção dos artigos
comercializados. Para ele, o período
compreendido entre os séculos XV e XVIII – em
que prevaleciam as políticas mercantilistas – pode
ser caracterizado como capitalista. Afinal, o
comércio era a fonte principal da riqueza, pouco
importando o tipo de relações de trabalho
predominantes na época. Como a produção estava
voltada para o mercado, havia capitalismo: o
capitalismo comercial.
• Marx, que não baseava a essência
do capitalismo nem num espírito
de empresa e nem no uso da
moeda para financiar uma série
de trocas com objetivo de ganho,
mas num determinado modo de
produção. O que diferencia o uso
desta definição quanto às demais
é que a existência do comercio e
do empréstimo de dinheiro, bem
como a presença de uma classe
especializada de comerciantes ou
financistas, ainda que fossem
homens de posses, não basta para
constituir uma sociedade
capitalista. Os homens de capital,
por mais aquisitivos, não bastam
– seu capital tem de ser usado na
sujeição da mão de obra a criação
O que é capitalismo? da mais valia na produção.
O que é capitalismo?
• Ao longo do século XIX, o capitalismo se tornou muito mais complexo;
no fim do século a economia capitalista era eminentemente
produtora de bens de produção ou bens de capital.
• O desenvolvimento do Capitalismo através das fases principais de sua
história se ligou essencialmente à transformação técnica que afeta o
carácter da produção. (...) os pioneiros das novas formas técnicas
eram, em sua maioria, homens novos, desprovidos de privilégios de
interesse estabelecidos mais antigos, em nome do liberalismo
econômico. (DOBB, 1965)
O que é capitalismo?
• O necessário aumento do volume de investimentos para fazer
funcionar esse capitalismo restringiu, cada vez mais, o número
de empresários que participavam do negócio. E o capitalismo
tendeu a se concentrar em grandes empresas, em geral
associadas ao sistema bancário. Ocorreu uma espécie de fusão
entre o capital industrial e o capital financeiro.
• Em resumo, no século XIX, nas regiões mais dinâmicas,
consolidaram-se o capitalismo e a sociedade industrial – e,
com eles, a concentração da população em zonas urbanas, a
formação de um mercado de trabalho assalariado, o
predomínio dos bens industrializados na economia, a
concentração da riqueza e do capital em grandes empresas e a
venda desses produtos para um mercado mundial.
• HOBSBAWN, Eric. A era das revoluções (1789 –
1848). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
• SOUZA, Ari Herculano. O capitalismo. São Paulo:
Referências Editora do Brasil, 1989.
• DOBB, Maurice. A evolução do capitalismo. Rio
bibliográficas de Janeiro: Zahar, 1965.
• HUNT, E.K.; História do Pensamento Econômico:
uma perspectiva crítica. 2ª Edição. Rio de
Janeiro: Elsevier Editora, 2005.

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