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A Revolução Industrial

Objetivo

Você aprenderá sobre as transformações pelas quais a Inglaterra passou nos


campos social e econômico no século XVIII, entendendo o processo de
Revolução Industrial, possibilitado pelo desenvolvimento de novas
tecnologias e formas de organização da produção.

Curiosidade

Apesar de parecer óbvio, pouco se fala da relação entre a Revolução


Industrial e o surgimento da indústria da moda. O primeiro setor a investir em
máquinas foi o têxtil, e sua expansão ao longo do século XVIII e XIX levou ao
surgimento do denim. Este é um tecido com o qual são feitas as peças jeans,
e elas surgiram exatamente para dar conta de uniformes de trabalho nos
séculos XVIII e XIX.

Teoria

As mudanças nas formas de produção na Idade Moderna

O advento de novas tecnologias no setor produtivo revolucionou o modo de


produção, os acordos comerciais e as relações de trabalho, devido a uma
nova dinâmica. Para compreeender os fatores que levaram a essa nova
realidade econômica, política e cultural, é preciso remontar o contexto que
permitiu que o antigo sistema (capitalismo comercial) fosse superado.
As bases para a construção da chamada primeira fase do capitalismo
(capitalismo comercial ou mercantilista) foram firmadas já na mudança na
Idade Média para a Idade Moderna, com o despontar do reavivamento do
comércio e das cidades, o surgimento da burguesia, a formação dos antigos
Estados nacionais e a expansão marítima.
A conquista de novos territórios propiciou a formação de um conjunto de
práticas, chamadas de mercantilistas; que foram, em geral, estruturadas de
forma a explorar as novas terras, extraindo o máximo de riquezas possível,
enquanto as Monarquias Nacionais europeias investiam em manufaturas
dentro do seu próprio território, monopolizando a prática comercial.
A acumulação primitiva de capital, que foi um fator essencial para a
Revolução Industrial, contou com a importante participação do tráfico
negreiro, devido à alta rentabilidade do mesmo. Utilizada em larga escala
nas colônias, a escravização de africanos foi uma das principais fontes de
arrecadação tanto para o continente europeu quanto para aqueles que se
mudaram para os novos territórios conquistados.
Simultaneamente à escravidão, que se tornou uma importante mão de obra
do novo sistema, houve o crescimento e fortalecimento do trabalho livre e
assalariado na Europa, com o aumento do comércio e das cidades,
substituindo gradualmente o trabalho servil, que era comum no mundo feudal.
O surgimento das manufaturas (espaços onde artesãos na mudança das
relações de trabalho, uma vez que os trabalhadores deixaram de ser donos
do seu meio de produção para venderem a sua força de trabalho).
Assim, o sistema capitalista comercial se manteve durante séculos:
explorando colônias, acumulando metais preciosos, no exclusivismo da
produção agrícola, no comércio e na manutenção de uma ordem que
favorecia a nobreza e o clero, enquanto a burguesia ascendia cada vez mais
ao ganhar poder econômico. Foi dentro desse contexto que importantes
acontecimentos políticos e econômicos apontaram para o esgotamento do
capitalismo comercial, que cada vez mais se encontrava em contradição.
Outro fator essencial para o desenvolvimento do capitalismo industrial foi o
surgimento do iluminismo nos séculos XVII e XVIII, movimento de caráter
cultural, intelectual e filosófico, que expandiu os ideais burgueses, a razão e a
ideia de progresso baseado na ciência. A expansão das ideias de liberdade
política e econômica, além da igualdade jurídica, foram demandas que
surgiram em um mundo que não estava mais dando conta do crescimento da
burguesia e da manutenção de uma sociedade baseada em privilégios
nobiliárquicos, na prática mercantilista e no forte controle do Estado sobre as
relações comerciais.

Revolução Industrial

As Revoluções Inglesas transformaram a Inglaterra em uma potência


comercial, devido à diminuição do poder do rei e ao aumento da participação
da burguesia nas decisões políticas por meio do parlamento. Como
consequência da ascensão da burguesia ao poder, houve um crescimento
comercial, proporcionado pela abertura na política econômica, que
beneficiava diretamente a classe burguesa, que agora possuía legitimidade
política para fazer com que seus interesses fossem atendidos.
Pega a visão: Lembre - se de que nada na história de modo isolado.
Dito isso, um dos meios que a Inglaterra utilizou para acumular capital
foi o Tratado de Methuen, com Portugal. Isso garantiu que uma parte
considerável do ouro explorado na colônia portuguesa na América
fosse parar nas mãos dos ingleses.
Assim a Lei de Cercamentos (Enclosure Acts), atualizada ao longo dos
séculos por monarcas ingleses, ganhou consistência no século XVIII, quando
as terras utilizadas de forma comunitária pelos camponeses foram
privatizadas. Sem ter uma forma de sustento e sem emprego, esses
camponeses migraram para as cidades, a fim de tentar melhorar suas
condições de vida. Ao chegar nas cidades, não havia emprego suficiente
para todo esse contingente populacional, o que criou um batalhão de mão de
obra disponível para a Revolução Industrial.
A fabricação têxtil foi um dos principais setores de investimento dos
ingleses que, a princípio, utilizavam a lã de carneiro, mas passaram a usar o
algodão que era plantada na sua colônia na América, devido a seu baixo
custo. Com um mercado cada vez maior, a produção inglesa se expandiu,
assim como os investimentos na melhoria do processo produtivo, fazendo
surgir tecnologias que foram empregadas dentro das manufaturas, que
gradativamente foram se transformando em indústrias.
Munidos de um estoque de ferro e de carvão mineral, a criação da máquina
a vapor foi uma importante invenção que impulsionou aos poucos a
substituição da mão de obra humana pela utilização das máquinas.
Desenvolvida por James Watt em 1769, foi aperfeiçoada e adaptada,
gerando uma série de outras tecnologias que facilitaram a produção industrial
em larga escala.
A Revolução Industrial surgiu em uma Inglaterra que reuniu condições
propícias para a criação de maquinários e o desenvolvimento das indústrias,
iniciando o que denominamos como a “primeira fase” da revolução. Depois
da Inglaterra, ainda no século XVIII, a Bélgica também se industrializou e,
posteriormente, ao longo do século XIX, países como Japão, França. Estados
Unidos e Prússia passaram por processo semelhante.
A expansão de novas fases do capitalismo modificou as relações e ambições
dos países ao redor do mundo. Se, no primeiro momento, a Inglaterra e o
carvão foram os protagonistas de uma revolução que mudou os costumes, a
divisão social do trabalho, o consumo, as relações entre os países, etc.,
novas tecnologias e modelos de produção surgiram posteriormente, a fim de
dar conta de uma demanda cada vez maior de inovação e tecnologia de
ponta.
Pega a visão: Apesar de falarmos da Revolução Industrial dividida em
fases, é importante pontuar que boa parte dos autores compreendem
que ela não possui uma data certinha, também não é um movimento
que sofreu qualquer tipo de interrupção. A divisão do processo
industrial em fases é apenas para distinguir as principais modificações
e as singularidades presentes em cada período.

Formação do espaço e a Revolução Industrial

A Reolução Industrial consiste em uma mudança radical no modo de


transformar a matéria. A constante evolução técnica e diversas outras
características permitem dividir esse processo em três ou quatro fases. Antes
de estudar as características de cada uma dessas fases, é importante
destacar que a economia pode ser dividida em três setores. São eles:

 Setor primário: Corresponde à agricultura, à pecuária e ao


extrativismo, ou seja, atividades relacionadas à obtenção/produção
de matéria - prima.
 Setor secundário: Corresponde à indústria, isto é, a transformação
da matéria - prima.
 Setor terciário: Corresponde ao comércio, bancos e serviços.

O surgimento do proletariado e as relações trabalhistas

A Revolução Industrial também deu palco para o surgimento de uma nova


classe social, o proletariado. Embora o consumo tenha aumentado, por
causa da mão de obra assalariada, a maior parte do lucro proveniente da
industrialização se concentrou nas mãos dos donos dos meios de produção.
Para manter seu estoque de mão de obra, a Inglaterra, por exemplo, prendia
por vadiagem os operários que abandonassem seus postos de trabalho,
proibindo também a mendicância, além de encaminhar pessoas em situação
de rua e os desassistidos para o trabalho compulsório.
Ainda no século XVIII, não havia direitos ou legislações que
regulamentassem as relações entre patrões e operários; assim, a indústria
não oferecia condições de trabalho satisfatórias. As jornadas costumavam
passar de doze horas por dia, os salários eram baixíssimos (mais baixos
ainda para mulheres e crianças) e havia crianças em idade escolar na linha
de produção, deixando os operários em condições miseráveis nas periferias
das cidades industriais. Ondas de reivindicação atingiram o país por meio de
greves, quebra de maquinários e proposições políticas, que deixava claro que
os burgueses e os proletariados estavam em lados opostos.
Assim, tendo em vista a extrema precariedade nessa fase da Revolução
Industrial, grupos de operários passaram a se organizar em associações e
sindicatos, inicialmente conhecidos como trade unions, para reivindicar seus
interesses e organizar ações para pressionar o patronato a melhorar suas
condições de trabalho e remuneração (as táticas eram mais comumente as
de protestos e greves).
Alguns movimentos tomaram ações mais diretas contra os abusos dos
patrões, como o Ludismo, movimento inglês muito comum entre 1811 e
1812, inspirado pelo operário Nedd Ludd, que quebrava as máquinas da
indústrias, contra a substituição da mão de obra humana. O movimento
atingiu seu auge quando, em 1812, o condado de York processou sessenta e
quatro pessoas por destruírem uma fábrica na região (com treze
condenações à morte e duas deportações para as colônias). O movimento
perdeu força, com a organização dos sindicatos.
Ainda nos movimentos de luta e reivindicações desse período, destaca - se a
resistência mais legalista, marcada sobretudo pelo cartismo, de 1830. Nesse
caso, Feargus O’Connor e William Lovertt lideraram o movimento, que lutava
pelo sufrágio universal masculino, por melhores salários e condições de
trabalho e a representação operária no parlamento. Eles organizaram uma
marcha em 1848; que, mesmo não tendo atingido as expectativas de adesão,
ganhou apoio no parlamento.
O movimento enfraqueceu antes da conquista do voto e da representação
parlamentar dos operários, mas estes conseguiram impor outras
reivindicações, como a lei de proteção infantil, em 1832; a lei de imprensa,
em 1836; a reforma do código penal, em 1837; a suspensão da Lei dos
Cereais; a lei permitindo as associações políticas e a jornada de trabalho de
10 horas.

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