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Centro de Ciências Humanas – CCH

Curso de História
Disciplina: História Moderna II
Professor: Renato Ulhôa

Ensaio sobre a Revolução Industrial: atores, conflitos e resistência.

Alexandra Lima Araújo

Sobral – CE
Junho/2022
1. INTRODUÇÃO

Durante um longo período de tempo uma das questões que mais intrigou os
historiadores foi dizer ao certo quando se iniciou a Revolução Industrial, o historiador
Eric Hobsbawm assim como muitos outros, tem a data de 1780 como a fase inicial do
que chamou de a maior revolução da história do mundo. A revolução Industrial ocorreu
no final do século XVIII, e resumidamente, foi um movimento que fez com que a
Inglaterra se tornasse a grande potência econômica que é hoje, o que de certa forma
mudou o sistema de produção de forma radical.

A Inglaterra já vinha passando por um processo de “industrialização” pois já


existia mudanças no seu processo de produção que se acelerou no fim do século XVIII,
e é a partir disso que muitas pessoas já consideram o início da Revolução Industrial.
Essa revolução nada mais foi do que uma profunda mudança técnológica no meio de
produção da sociedade inglesa, que iniciou uma nova relação entre o termo capital e o
modo de produção que foi implementado. A principal e maior mudança que se deu, foi
no meio agrícola, onde a agricultura passou a não ser mais o motor da sociedade, e sim
o trabalho através das máquinas, o que gerou um grande acúmulo de capital.

O maior motivo pela qual a Inglaterra foi pioneira do desenvolvimento industrial,


teria sido pelo fato de ser a nação que mais possuía as condições necessárias para o
desencadear desse processo, que com o passar do tempo espalhou-se para muitas outras
partes do mundo. Outro motivo teria sido o processo de cercamento, que foi o
movimento ocorrido a partir do século XVII formando uma burguesia crescente e
grandes comerciantes que compraram terras comunais, expulsando dali camponeses que
habitavam a centenas de anos e que faziam dessas terras sua produção de subsistência,
forçando-os a deixarem essas terras e irem para os grandes centros urbanos, onde
acabavam tornando-se operários e usados como mão de obra barata, sendo explorados
pelo capitalismo. Temos então, a substituição da lavoura de subsistência pela produção
da pecuária, sobretudo de ovelhas.

Outro fator seria também o aumento do consumo de mercadorias geradas pelo


aumento da população mundial, por isso, nesse período essas invenções fazem com que
a diminuição do custo e o aumento da produção barateiem os preços fazendo com que
seus produtos ingleses fossem consumidos em escala global.
2. DESENVOLVIMENTO

A Revolução Industrial pode ser dividida em quatro fases, a primeira, como já


citado, teve início na Inglaterra, durando de 1750 a 1850 e foi caracterizada
principalmente pelas inúmeras descobertas que acabaram favorecendo a expansão das
indústrias. Destaca-se o progresso técnico, científico e é claro, a introdução de
máquinas, sendo estas a máquina de fiar, o tear mecânico e a máquina de vapor que
foram fundamentais nesse período, trazendo a substituição da manufatura pela maquino
fatura.

A segunda fase dessa revolução ocorre em meados do século XIX, durando de


1850 a 1950, período marcado pela consolidação do progresso científico e tecnológico
que se espalhou por outros países da Europa, França e Alemanha, nesse período
destaca-se as criações como a lâmpada incandescente, o telégrafo, o telefone, a
televisão, o cinema e etc. Tais avanços caíram também sobre a medicina e a química
que acabaram trazendo à tona a invenção das vacinas e antibióticos, o que melhorou em
grande escala a vida de grande parte da população.

A terceira fase da Revolução Industrial, deu início em meados do século XX, e


permanece até os dias atuais, foi nesse momento que ocorreu um grande avanço da
ciência tecnológica, sobretudo no campo da informática em que se destaca a criação da
internet, software, robótica, dispositivos móveis e muitos outros.

Segundo o historiador Eric Hobsbawm após chegar a seu limite, a primeira fase
da industrialização britânica deu lugar a uma nova fase industrial apoiada nas indústrias
de bens de capital, no aço e também no carvão. Duas razões contingentes para isso
seriam o crescimento acelerado da industrialização no mundo, a criação de um mercado
que se fortalecia para aquele tipo de bens de capital que por muitos motivos não podiam
ser importados nem reproduzidos em grandes quantidades internamente. O pico das
importações britânicas teria sido entre 1840 e 1860 o que beneficiou grandemente os
bens de capital, (o carvão, ferro e o aço) que eram influenciados pelo boom ferroviário e
a navegação a vapor, trazendo em menor escala, o algodão. Outra razão seria a pressão
do acúmulo de capital para o investimento lucrativo que crescia a cada dia em grande
escala.

Com os grandes investimentos e após a chegada das ferrovias, houve uma alta
demanda no aumento da economia e a aparição de inúmeros investidores e homens de
negócio que apresentaram interesse em expandir o comércio de suas cidades com a
intenção de conseguir um maior retorno de capital. Em pouco tempo, não se sabia mais
absorver essa economia de alta magnitude, o que levou a optarem pelos investimentos
no exterior.

Diferente da primeira revolução, a segunda atingiu diretamente na vida das


pessoas, na Inglaterra o capital a ser investido era em menor escala, e os ingleses,
atraídos pela revolução tecnológica usavam seu capital em prol da construção das
estradas embora essas construções fossem de valores muito elevados. Com isso, surgiu
um novo sistema de transportes trazendo consigo uma nova e vasta “forma de
emprego.”

A construção das ferrovias ampliou-se por todo o mundo e seguia em crescimento


e foi o reflexo de dois grandes processos paralelos: a industrialização nos países
“desenvolvidos” e a abertura econômica das áreas subdesenvolvidas fazendo os Estados
Unidos e a Alemanha se tornarem economias industriais comparável a britânica. Por
consequência da mudança na orientação da economia burguesa, vale destacar a
Revolução Industrial, que supriu com abundância a economia de ferro e do aço pela
primeira vez, melhorias essas que se deram através dos altos-fornos. Outra
consequência seria o grande aumento de “oportunidade” de emprego, pelo fato da
mudança da mão de obra pelas ocupações mais bem remuneradas, porém o salário de
muitas categorias era precário, assim como as condições de habitação e de serviços
urbanos, outra consequência seria também o aumento da exportação de capital britânico
para o exterior.

Muitas foram as vagas para emprego surgidas nesse período “mudando” a


situação dos trabalhadores rurais, a mão de obra que mais se qualificou foi sobre a área
da metalúrgica, bem mais que na área têxtil, a partir de então formou-se a relação
empregadores e empregados, onde os empregadores seguiam o mesmo parâmetro da
primeira fase da revolução onde estes ofereciam longas jornadas de trabalho, com um
baixo salário a ser pago, ou seja, em péssimas condições, os empregados eram sujeitos a
trabalhar de forma absurda o que só veio mudar em meados da década de 1840.

Hobsbawm ressalta em seu texto que durante a “Grande Depressão” entre 1890-
95 Alemanha e Estados Unidos superaram a Grã-Bretanha na produção do aço o que a
levou por um certo período tornar-se a “mais fraca” das três grandes potências. Uma
nova fase tecnológica começou na década 1890 para a Grã-Bretanha e aos poucos foram
procurando meios de melhorar a crise pela qual estavam passando, essa crise acabou por
revelar que outros países agora tinham suas próprias condições e meios de produzirem
para si mesmo. Por ter um certo “comprometimento” com a tecnologia e a organização
da primeira fase da industrialização, sua “única saída” embora também já adotada pelas
potências concorrentes seria a conquista econômica (e cada vez mais política) de áreas
do mundo até então inexploradas. O imperialismo. Dessa forma, é perceptível a
participação da Grande Depressão sobre a era do imperialismo nacional e internacional.

Uma das principais características do historiador britânico Edward Thompson é se


evidenciar dos textos da juventude de Marx, para pensar realidade social a partir um
ponto da visão Marxista incorporando as questões culturais de modo a superar uma
visão ortodoxa economicista e de caráter reducionista da realidade histórica. Thompson
em seu texto “A economia moral da multidão inglesa no século XVIII” apresenta as
rebeliões, revoltas e levantes deste século, principalmente em função aos altos preços
dos cereais que de certa forma eram os principais alimentos dos ingleses considerados
“pobres.” Diferente de muitos historiadores britânicos, Thompson fala sobre o que
chamou de “economia moral da multidão” existente na Inglaterra.

O historiador britânico fala sobre os “motins da fome” e evidencia uma tradição


de protestos “rebeldes” que tinham como principal objetivo fixar um preço justo ao pão
e a farinha de trigo branca, demostrando a já existência de movimentos populares
durante o século XVIII, ele usa o termo “economia moral da multidão” para contrapor a
ideia de que as classes inglesas não exerceram papel protagonistas históricos antes da
Revolução Francesa. Nos textos em questão o autor demostra que esses protestos
tinham como principal alvo os representantes do capitalismo e liberalismo e a todos que
compravam as produções tendo como objetivo vende-los na intenção de obter lucros
para si. Segundo Thompson:

Assim como falamos do nexo monetário que emergiu com a


Revolução Industrial, em certo sentido podemos falar do nexo
do pão no século XVIII. O conflito entre o campo e a cidade era
mediado pelo preço do pão. O conflito entre o tradicionalismo e
a nova economia política girava em torno das Leis dos Cerais. O
conflito econômico das classes na Inglaterra do século XIX
encontrou sua expressão característica na questão dos salários;
no século XVIII, os trabalhadores mobilizavam-se rapidamente
e partiam ´para a ação por causa do aumento dos preços.
(THOMPSON, 1998, p. 153)

Segundo o autor, os homens e mulheres que viviam nessa sociedade de certa


forma mais “integrada” acreditavam e defendiam esses direitos, sobre a lógica de que o
mercado deveria se submeter as necessidades da população contrário do modelo laissez
fraire defendido por Adam Smith. Thompson ressalta que a partir da segunda metade do
século XVIII, as graduais transformações que ocorreram na sociedade e sob os avanços
da revolução industrial juntamente com todos os esforços das autoridades para combater
esses motins, fez-se triunfar a Nova Economia Política, que baseava-se no não
intervencionismo e também no laissez fraire que provocou o fim dessa “economia
moral” que precisava de um conjunto particular de relações pessoais para que pudesse
ser articulada.

Em relação a visão do autor Edward Thompson no texto “Tempo, disciplina de


trabalho e capitalismo industrial ” o autor tem como principal ideia a percepção do ritmo
do tempo, afirmando a existência de uma pequena mudança muito importante sobre a
compreensão do tempo entre os anos de 1300 e 1650. A forma de medição do tempo
dos povos primitivos seguia uma linha instável, como sendo através das estações do
ano, o som do gado e outros meios, ou seja, uma medição de tempo “humanamente
compreensível.” Essa relação com o tempo, era reflexo de uma íntima relação com o
trabalho levando em consideração que os humanos tem autonomia sobre o seu próprio
tempo. O fato é que, entre 1300 e 1650 apresenta-se uma vertente mudança no tempo
que tenta-se de padronização ao relógio, ou seja, se antes as comunidades e os povos
lidavam com o tempo segundo suas tarefas do dia-a-dia, com esse novo sistema o tempo
torna-se mais “valioso” não podendo ser desperdiçado, ou seja, o tempo é dinheiro, o
autor enfatiza que:

Sem dúvida esse descaso pelo tempo do relógio só é possível


numa comunidade de pequenos agricultores e pescadores, cuja
estrutura de mercado e administração é mínima, e na qua as
tarefas diárias (que podem variar da pesca ao plantio, construção
de casas, remendo de redes, feirinha dos telhados, de berço ou
de um caixão) parecem se desenrolar, pela lógica da
necessidade, diante dos olhos do pequeno lavrador.
(THOMPSON, 2004, p. 271)
O reflexo dessa nova realidade sobre o tempo do relógio aos poucos foi mudando
entre as gerações posteriores, principalmente através da influência escolar que desde
cedo trabalha em cima dessa narrativa contrária, sobre a valorização e transformação do
tempo. Como consequência, durante o século XXI se consolida nossa “não autonomia
de nosso próprio tempo” pois somos condicionados a nos organizar sempre seguindo o
tempo do relógio durante toda a existência, segundo Thompson:

Essa medição incorpora uma relação simples. Aqueles que são


contratados experienciam uma distinção entre o tempo do
empregador e o seu “próprio” tempo. E o empregador deve usar
o tempo de sua mão-de-obra e cuidar para que não seja
desperdiçado: o que predomina não é a tarefa, mas o valor do
tempo quando reduzido a dinheiro. O tempo agora é moeda:
ninguém passa o tempo, e sim o gasta. (THOMPSON, 2004, p.
272)

Edward Thompson traz críticas a forma do tempo “ser dinheiro” e fornece a


possibilidade mais válida que possa conciliar com os requisitos econômicos dentro de
uma sociedade capitalista.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os textos nos levam a analisar e entender as mudanças sociais que influenciaram


na vida de homens e mulheres a partir dos avanços tecnológicos. As consequências da
Revolução Industrial podem ser percebidas até os dias atuais, tendo em vista que os
aspectos de trabalho permanecem em “transformação.” É válido afirmar que como
acontecia antes dessa Revolução, o homem volta a ser o centro das produções, já que as
grandes empresas necessitam constantemente de ideias inovadoras que venham suprir o
desejo de seus clientes.

Os Historiadores britânicos proporcionam a partir de seus escritos o


entendimento de como eram e como vem sendo o dia-a-dia dos sujeitos da era dos
trabalhos flexíveis, especialmente durante o mundo da telefonia celular.
4. REFERÊNCIAS

HOBSBAWM, Eric. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. 5ª ed. Rio de


Janeiro: Forense Universitária, 2000. Cap. 1 e 2, p. 23-52

HOBSBAWM, Eric. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. 5ª ed. Rio de


Janeiro: Forense Universitária, 2000. Cap. 3 e 4, p. 53-89.

THOMPSON, Edward. P. A economia moral da multidão inglesa no século XVIII. In:


Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998. Cap. 4. p. 150-202.

THOMPSON, Edward. P. Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial. In:


THOMPSON, Edward P. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular
tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. Cap. 6. p. 267-304.

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