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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CCH


CURSO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: MODERNA II

PROF: Renato de Ulhôa Canto Reis


ALUNO: Antônio Charles Andrade da Silva

Ensaio sobre a Revolução Industrial

Falar agora sobre a Revolução Industrial, partindo do pressuposto que refletimos


outrora como o capitalismo surgiu com bases nas ideias de Adam Smith, Karl Marx, Karl
Polanyi e Perry Anderson, permite-nos compreender a Revolução Industrial como o
maior evento da modernidade e a inauguração do capitalismo. O mundo essencialmente
rural, denominado de feudalismo ou sistema feudal, foi sacudido por uma “grande
transformação”, segundo a definição de Polanyi (2000). Esse acontecimento ocorreu na
Grã-Bretanha do séc. XVIII, fazendo-nos indagar-se, tal qual Erik Hosbawm em “Da
Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo”, provoca-nos, sobre o por que a Revolução
Industrial ocorreu na Grâ-Bretanha? por que no séc. XVIII e não antes ou depois?

Antes de adentramos nas questões apontadas por Hosbawm sobre essas


indagações, precisamos retomar os estudos de Polanyi e Marx, acerca dos cercamentos
ou enclousures e acumulação primitiva. Enclousures foi um movimento histórico
ocorrido a partir do séc. XVII na qual a burguesia crescente e grandes comerciantes
passaram a expropriar as terras comunais que pertencia aos camponeses que viviam da
compra e vende do produto da terra e da subsistência, causando aquilo que Marx aponta
como acumulação primitiva, quando ocorre essa retirada dos meios de produção dos
trabalhadores. Dito isso, podemos viajar juntamente com Hosbawm a 1750 para
entendemos porque a Grã-Bretanha e o séc. XVIII foi palco da maior Revolução moderna.
Já em 1750 poderemos perceber o início da Revolução, verificaremos que se
tratava de uma nação prospera, haja vista que muitos camponeses tiveram que sair do
campo em direção as cidades – no processo descrito acima. As cidades na Grã-Bretanha
poderiam se gabar por ter um comércio, ciência, literatura e claro tecnologia pungente.
Permitindo-nos, inclusive, notar aquilo que hoje chamamos de liberalismo como o
progresso econômico, técnico, iniciativa privada, livre comércio. É como se saímos de
um país subdesenvolvido hoje e visitássemos um país avançado como por exemplo EUA,
ficaríamos abismados com tantas lojas, industriais, arranha-céus, numerosos carros e
milhares de habitantes.

O que verificamos na Grã-Bretanha realmente pode ser considerada a primeira


grande revolução em provocar profundas transformações sociais, econômica, política e
cultural, mas isso não significa segundo Hosbawm que ela tenha ocorrido do zero ou que
não se possa apontar fases anteriores de rápido desenvolvimento industrial e tecnológico,
tanto que as técnicas eram tipicamente primitivas:

Ela foi simples, de modo geral, porque a aplicação de ideias e dispositivos


simples, ideias muitas vezes conhecidas havia séculos, muitas vezes pouco
dispendiosas, era capaz de produzir resultados espetaculares. A novidade não
estava nas inovações, e sim na presteza com que homens práticos se dispunham
a utilizar a ciência e a tecnologia desde muito disponíveis e a seu alcance; e no
amplo mercado que se abria às mercadorias, à medida que os preços e os custos
caíam rapidamente. (HOSBAWM, 2000, p. 57)

Portanto, trata-se de uma sociedade que soube usar a seu favor os recursos
tecnológicos no contexto em que o capitalismo florescia pautando os interesses
econômicos no aumento da produtividade e lucratividade. Ainda assim, isso não explica
porque ocorreu na Grã-Bretanha e no séc. XVIII, por que não ocorreu na Espanha ou
Portugal que foram pioneiros nas navegações ultramarinos, ou no séc. XVII com a
revolução cientifica, ou no contexto da Reforma Protestante quando prolifera a ideia do
“espírito capitalista”, mesmo a reforma ter ocorrido dois séculos antes. Hosbawm rejeita
todas essas interpretações e ainda cita como exemplo que “as partes dos Países Baixos
que permaneceram católicos (a Bélgica) industrializaram-se antes daquela parte que se
tornou protestante (a Holanda) (idem, p. 36). Ele ainda aponta rejeita fatores políticos,
pois todos os países desejavam se industrializar, mas o governo britânico estava mais
comprometido com políticas aliadas ao capitalismo, busca pelo lucro acima de outros
objetivos.
Voltemos para nossa viaja a 1750, aquela sociedade pungente apresentava-se as
principais pré-condições para a industrialização ou poderia cria facilmente, a
transformação do homem do campo em massa no processo descrito por Polanyi de
“Moinho satânico” escancara a brutal violência que o capitalismo provoca na sociedade,
na medida que retira os meios de produções e insere maquinário. Estamos vendo o início
da insaciável busca por matéria-prima e mão-de-obra para gerar lucro à burguesia.

Ademais, a Grã-Bretanha passou por um desenvolvimento econômico de pelo


menos 200 anos que permitiu acumular capital suficiente para industrializar e homens
dispostos a investir no progresso econômico, lembre-se que estamos falando de uma
sociedade aristocrática eminentemente burguesa, sem contar que transporte e
comunicação não era o empecilho haja vista que nenhuma parte do país acha-se mais de
112 km do mar ou de algum curso de água navegável (HOSBAWM, 2000).

Podemos citar ainda que a Grã-Bretanha pode contar com um mercado interno
protegido pelo governo e o externo garantia a segurança para empresários investir nas
suas produções, pois ambas os mercados eram fortes e geravam retornos satisfatórios.
Mas falamos sobre industrialização britânica não podemos esquecer do algodão que
alavancou esse processo, evoluindo gradativamente a sociedade via as máquinas serem
inseridas e aprimoradas, bem como, víamos também força do imperialismo colocando
seus tentáculos nas colônias, ao passo que avançava, fazia crescer as exportações
britânicas.

Considero que a principal vantagem do pioneirismo industrial britânico foi sua


capacidade tornar a Grã-Bretanha indispensável para o funcionamento da economia
mundial do século XIX. Perceba que a Grã-Bretanha somente adotará o liberalismo
econômico como política econômica para si quando tiver se industrializado, ou seja,
aquilo que citei acima sobre mercado interno protegido: "a indústria britânica pôde
crescer tendo à sua disposição um mercado interno protegido (...) até tornar-se bastante
forte para exigir livre acesso aos mercados de outros povos, isto é, 'Livre Comércio'"
(HOBSBAWM, 2014, p. 20). A exemplo disso, o autor cita, proibição da
importação de tecidos de algodão estrangeiros que possibilitou grande crescimento do
mercado interno.

É muito comum ouvimos falar hoje sobre “Livre Comércio”, mas os países que
foram se industrializando protegeram sua economia e só depois passaram a exigir uma
economia de mercado, na qual o mercado está subordinado a auto-regulação, exigindo
que todos sigam a lógica do mercado. Sendo a primeira a se industrializar poderá defender
tranquilamente o livre comércio internacional, pois terá a capacidade econômica de obter
as maiores vantagens. As diferentes economias do globo pautavam seu desenvolvimento
especializando-se em um produto destinado a servir a economia britânica

Até 1770, mais de 90% das exportações britânicas de algodão dirigiam-se para
os mercados coloniais dessa forma, e sobretudo para a África. A enorme
expansão das exportações após 1750 deu ímpeto à fabricação entre aquele ano
e 1770 as exportações de algodão mais que decuplicaram. (...) As plantações
de algodão das Índias Ocidentais supriam a matéria-prima necessária, até que
na década de 1790 a atividade algodoeira ganhou uma nova fonte de matéria-
prima, praticamente ilimitada, nas plantações do sul dos Estados Unidos, cuja
economia passou assim, no fundo, a depender de Lancashire. O mais moderno
centro de produção preservou e ampliou, assim, a mais primitiva forma de
exploração do trabalho, a escravatura. (HOSBAWM, 2000, p. 55)

Essa política imperialista, pois a Grã-Bretanha fazia uso da guerra também, foi
construindo em torno de si uma economia forte globalmente, em que as economias que
nela orbitavam dependia dela, muito comum nos dias atuais quando comparamos o poder
econômico dos EUA e sua política imperialista em países subdesenvolvidos. Mas
podemos perceber também que assim como a Grã-Bretanha viveu o auge do liberalismo
e depois o declínio, quando outros países passaram pelo mesmo processo de
industrialização e então reduziu a dependência em relação às importações de alimentos e
matérias-primas da Grã-Bretanha, logo, podemos concluir que o liberalismo e assim
como o capitalismo tem um fim anunciado.

Finalizando nossa viajem para compreendemos a Revolução Industrial ocorrida


na Inglaterra do séc. XVIII, vemos que o país contou com a sorte em diferentes frentes e
sua política imperialista, resultando assim, na exploração humana seja no campo da
fábrica ou do outro lado do oceano através das colônias que aumentaram o tráfico negreiro
a fim de produzir mais matéria-prima para ser escoada para Grã-Bretanha. Essa
Revolução realmente transformou e continua transformando o mundo que conhecemos
hoje, vemos um longo rasto de crueldade sendo provocada na sociedade com o viés de
obter sempre mais e mais dinheiro, enquanto agrava cada vez mais a desigualdade social
e o aquecimento global.
Referências

POLANYI, Karl. O moinho satânico. In: POLANYI, Karl. A grande transformação: as


origens da nossa época. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política [1867]. São Paulo: Boi Tempo,
2011.

HOBSBAWM, Eric. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. 5ª ed. Rio de


Janeiro: Forense Universitária, 2000.

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