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História Contemporânea

Autoria: Fábio Luiz da Silva

Tema 03
Da Revolução Industrial ao Imperialismo
Tema 03
Da Revolução Industrial ao Imperialismo
Autoria: Fábio Luiz da Silva
Como citar esse documento:
SILVA, Fábio Luiz da. História Contemporânea: da Revolução Industrial ao Imperialismo. Caderno de Atividades. Valinhos: Anhanguera Educacional,
2016.

Índice

CONVITEÀLEITURA PORDENTRODOTEMA
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ACOMPANHENAWEB
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© 2016 Anhanguera Educacional. Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua
portuguesa ou qualquer outro idioma.
CONVITEÀLEITURA
No caderno que você começa a estudar agora, estudaremos alguns dos temas mais empolgantes da História.
Você já parou para pensar que quase tudo o que consumimos, hoje, é produzido em uma indústria? Olhe ao seu redor:
desde o computador que você utiliza até as coisas que você come, tudo tem, pelo menos em parte, origem no trabalho
assalariado de alguém. Esse trabalhador que, por exemplo, fez sua camisa teve de começar e terminar seu dia de
trabalho em determinado horário. Ele pertence a determinada classe social, assim como o dono da fábrica pertence a
outra classe social. Então, entender a Revolução Industrial é fundamental para a compreensão de nosso próprio dia-a-
dia. A Revolução Industrial produziu mais do que objetos, ela contribuiu para a emergência de novas ideias e movimentos
sociais no século XIX, mas que têm ecoado até nossos dias.

O período contemporâneo pode ser caracterizado como sendo a época em que os ideais iluministas materializaram-
se, mas também como sendo o tempo em que passamos a duvidar dos princípios do século das luzes. No primeiro
caso, Napoleão Bonaparte teve um importante papel na difusão dos princípios iluministas pela Europa. O segundo caso
tem como exemplo o processo imperialista europeu, ou seja, a submissão de grandes áreas da África e da Ásia aos
interesses econômicos das potências europeias. Assim, podemos prever que o estudo dos temas constantes desse
caderno estimulará seu desejo de aprender ainda mais sobre a História do mundo contemporâneo.

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Da Revolução Industrial ao Imperialismo

No primeiro caderno entramos em contato com as ideias que contribuíram na construção do mundo contemporâneo.
No caderno seguinte, estudamos as revoluções políticas que configuraram o mundo no qual vivemos. Neste caderno que
você tem em mãos agora, uma outra revolução será estudada. Uma transformação tão grande nos modos de produção
que dificilmente encontramos uma data para escolher como sendo o seu término. A indústria e tudo que a envolve fazem
parte do nosso cotidiano de forma tão essencial que pensamos ser natural essa sociedade na qual vivemos e com a
qual estamos acostumados.

Máquinas, é isso que lembramos quando nos referimos à Revolução Industrial, e estamos corretos. Elas, no entanto,
existem há muito tempo. Um antepassado dos motores a vapor pode ser encontrado na Grécia Antiga, quando Heron
de Alexandria construiu uma pequena esfera de metal com duas aberturas opostas, encheu de água e colocou sobre
o fogo. Então ela girou utilizando a força do vapor que se formou em seu interior. Estava aí o princípio que somente
seria utilizado de forma prática muitos séculos depois. Faltavam, na época de Heron, as condições necessárias para o
surgimento da indústria como a conhecemos. Foi preciso muitos anos de história para que essas condições se fizessem
presentes.

Assim, a Revolução Industrial e suas consequências somente podem ser entendidas se compreendermos o contexto
de sua possibilidade. A Inglaterra tornava-se um império mundial que possuía uma burguesia ativa e próspera. Em seu
território, amplas quantidades de matéria prima garantiam o suprimento necessário. Obras de engenharia dinamizavam
os transportes internos, complementando a já eficiente marinha britânica. Vencido o antigo inimigo, a França de Napoleão
Bonaparte, a Inglaterra era a superpotência do século XIX. Parecia imbatível em sua “Era Vitoriana”. No entanto, novos e
poderosos adversários estavam surgindo. A Alemanha unificou-se em 1871 e rapidamente tornou-se adversário à altura
dos britânicos na corrida industrial. Do outro lado do Atlântico, suas antigas colônias cresciam rápido. Os Estados Unidos
avançavam para o oeste, concretizando o impulso civilizador previsto no Destino Manifesto.

Simultaneamente, novas ideias surgiam para explicar o mundo conturbado do século XIX. Como compreender uma época
em que a produção era a mais intensa da História, mas que convivia com uma camada de operários à beira da miséria,
da fome e da morte? Que mundo era esse, capaz de gerar tanta riqueza e tanta pobreza ao mesmo tempo? Socialistas
procuraram encontrar formas de amenizar os conflitos inerentes a uma situação como essa. Comunistas defendiam

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a revolução como a única forma de acabar com a exploração do trabalho operário pelos capitalistas burgueses. Não
tardaram as manifestações e levantes operários. A Europa viu-se mergulhada em convulsões políticas e sociais sem
precedentes.

Porém, os efeitos da Revolução Industrial foram sentidos em lugares muito distantes de Londres ou Paris. Grandes
extensões de terra na África e na Ásia foram sendo conquistadas para suprir as potências europeias de matérias primas
e mercados consumidores. Era o imperialismo em sua forma contemporânea, o neocolonialismo. Domínio e exploração
justificados pelo que de mais moderno havia na ciência.

Revolução Industrial

A Revolução Industrial é o conjunto das mudanças que foram engendradas pelo início da utilização das máquinas
e de novas técnicas de produção. Entre essas mudanças, podemos apontar a divisão do trabalho, processo que está
ligado à simplificação das tarefas. Na produção do tipo artesanal, o artesão realizava todas as fases da confecção de
um objeto, mas com a divisão do trabalho, cada operário faz uma dessas fases. O operário torna-se especialista em
determinada tarefa, o que significa igualmente uma simplificação dessas tarefas. O surgimento das máquinas acentuou
esse processo. Podemos afirmar que esse processo teve um caráter revolucionário, pois praticamente eliminou a
produção do tipo artesanal. Isso significa, também, alterações na forma como o trabalho era realizado. A divisão e
a especialização do trabalho foram intensificadas, bem como o trabalho assalariado. Simultaneamente, a sociedade
deixou de ser majoritariamente rural para ser essencialmente urbana; mesmo que em ritmos diferentes, de acordo com
a realidade de cada nação. Esse quadro de transformações foi completado pela utilização de novas fontes de energia e
pela expansão dos sistemas de transporte e de comunicação.

Além do acúmulo de capital, proveniente da exploração colonial dos séculos precedentes, houve um aumento da população
europeia que forneceu o mercado consumidor e a mão-de-obra necessárias para o advento da Revolução Industrial.
Nada disso, porém, diminui a importância do progresso da produção agrícola. Os métodos tradicionais, ao longo do
século XVIII, foram sendo substituídos por outros, mais modernos e que possibilitavam uma produção que tinha como
destino o mercado e não apenas o consumo familiar ou local. Mudanças na tecnologia de produção foram acompanhadas
por alterações na estrutura agrária em diversos lugares da Europa. Na Inglaterra, pioneira na industrialização, terras que
eram partilhadas pelos camponeses há muitos anos foram simplesmente cercadas pelos grandes proprietários, o que
impedia o acesso desses pequenos agricultores a essas terras. Esse processo de concentração fundiária é chamado de
cercamento ou enclosure. Assim, houve aumento da produção e, simultaneamente, fornecimento de mão-de-obra, pois

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muitos camponeses tiveram de abandonar suas terras. Um contingente de pessoas que tinha poucas alternativas além
de tentar emprego nas indústrias que estavam nascendo na Inglaterra.

Além desses fatores econômicos e sociais, as condições culturais da Inglaterra também eram favoráveis às transformações
em curso. Havia uma mentalidade individualista que favoreceu o surgimento de uma classe de burgueses ambiciosos.
Comerciantes, banqueiros e industriais sentiam-se cada vez mais livres para lucrar à medida em que os princípios
mercantilistas eram abandonados em favor de uma política econômica liberal. Segundo Hobsbawm (1997), já havia,
na Inglaterra, as condições para que os burgueses fossem recompensados por meio do lucro, especialmente aqueles
que fossem capazes de expandir a produção rapidamente por meio de inovações simples e baratas, porque havia um
mercado consumidor mundial sob a hegemonia britânica.

É impossível estudarmos a Revolução Industrial sem dedicarmos um tempo às máquinas, afinal, elas são, em certo
sentido, as protagonistas desse processo. A expressão “Revolução Industrial” nos lembra sempre a indústria têxtil e a
máquina a vapor. Segundo Hobsbawm (1997), a indústria algodoeira era a única a utilizar a fábrica até a década de
1830. A indústria do tecido realmente foi a que deu origem ao processo de produção por meio de máquinas e o motor
movido a vapor proporcionou a energia necessária à produção em massa de tecidos. Porém, a produção industrial de
tecidos iniciou com máquinas movidas à força hidráulica, ou seja, as primeiras máquinas têxteis eram movidas a rodas
d’água e não por motores a vapor.

Em 1733, John Kay inventou a lançadeira volante. A lançadeira era utilizada para passar o fio de um lado ao outro,
no processo de produção de tecido. Inicialmente, isso era feito de forma manual, o que limitava a largura do tecido ao
tamanho dos braços do operário. A lançadeira de John Kay possibilitava que isso fosse feito de forma automática, o que
permitiu que um só trabalhador pudesse fabricar tecidos muito mais largos e em uma velocidade também maior. Maior
produtividade e menores custos. Apesar do sucesso de sua invenção, John Kay morreu pobre, sem receber qualquer
direito sobre sua máquina (BRYSON, 2011).

Ainda assim, o incremento na produção de tecidos somente seria possível com um aumento correspondente na fabricação
dos fios. Portanto, em 1764, James Hargreaves inventou a roca manual de oito fusos, máquina que era capaz de fazer
oito fios simultaneamente. A máquina de Hargreaves, chamada de Spinning Jenny (figura 3.1), porém, trouxe problemas
para seu inventor. Em certo momento, uma multidão, insatisfeita com a possiblidade de perderem seu ganha pão diante
da máquina Hargreaves, invadiu sua casa e queimou vinte máquinas e as ferramentas (BRYSON, 2011). A ira popular,
no entanto, não impediu o crescimento da produção de tecidos de algodão na Inglaterra.

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Figura 3.1 Máquina de James Hargreaves

T.E. Nicholson, The Spinning Jenny, 1835, parte do livro History of the Cotton Manufacture in Great Britain. Licenciado em domínio público, via
Wikimedia Commons. Disponível em: < https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Zeichnung_Spinning_jenny.jpg?uselang=pt-br>. Acesso em 21 abr.
2016.

Algum tempo depois, Richard Arkwright desenvolveu uma máquina semelhante a de Hargreaves, que primeiramente era
movida a cavalos e depois por uma roda d’água. Uma consequência dessas máquinas que devemos nos lembrar é que
elas exigiam que os trabalhadores fossem até a fábrica, inaugurando uma nova relação entre empregador e empregado.
Samuel Compton, na década de 1770, criou uma máquina que combinava as duas anteriores, de Hargreaves e Arkwright,
e é conhecida como Spinning Mule. Sendo capaz de produzir fios finos e resistentes, forneceu matéria prima para a
confecção de tecidos de algodão de alta qualidade e que foram um grande sucesso comercial.

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Além desses nomes importantes para o desenvolvimento da indústria têxtil, muitos outros contribuíram para o nascimento
da indústria. No entanto, não podemos nos esquecer do motor a vapor, pois foi esse que deu o grande impulso que
faltava para o nascimento da verdadeira indústria. Na década de 1760, James Watt desenvolveu as primeiras máquinas
a vapor a partir de exemplares que já existiam desde a época de Thomas Newcomen. James Watt foi responsável por
aperfeiçoar essas máquinas de modo a torná-las realmente eficientes. Segundo Huberman (1986), as máquinas de
James Watt já estavam sendo utilizadas em 30 minas de carvão, 22 minas de cobre, 28 fundições, 17 cervejarias e 8
empresas de algodão. As consequências sociais e econômicas disso foram enormes, pois podia-se empregar operários
mais jovens e menos qualificados; inclusive mulheres e crianças, que recebiam menos ainda.

A passagem do uso nas minas e fábricas para a utilização no transporte foi uma questão de tempo. Em 1804, o primeiro
exemplar de trem a vapor conseguiu puxar dez toneladas de carga por oito quilômetros. O limitante, no entanto, não era
o motor, mas a baixa qualidade do ferro com que os trilhos eram feitos (WILLIAMS, 2009). Quatro anos depois, em 1808,
o trem chegava ao lazer quando uma linha circular foi construída e as pessoas pagavam para andar de trem e se divertir.

A utilização de máquinas movidas a vapor revolucionou a sociedade, mas a forma como as coisas eram produzidas
também tiveram sua importância. Desse ponto de vista, isto é, do método de produção, destaca-se o exemplo dos
revólveres de repetição de Samuel Colt. As armas que fabricava foram utilizadas na Guerra de Secessão e o modelo
calibre 45, conhecido como peacemaker, tornou-se o símbolo do velho oeste norte-americano. A novidade era a utilização
de peças intercambiáveis na fabricação das armas.

A criação de um processo mais eficiente para a produção do aço foi o passo seguinte em direção à economia plenamente
industrializada. O aço já era conhecido há muito tempo, mas era produzido em pequenas quantidades, o que fazia com
que fosse caro. Na metade do século XIX, porém, desenvolveu-se o processo de descarbonização do aço por meio da
injeção de ar no metal ainda líquido. Duas pessoas foram responsáveis por essa inovação tecnológica: William Kelly e
Henry Bessemer, nos Estados Unidos e na Inglaterra respectivamente. A produção de aço em larga escala foi importante
pois permitiu a confecção e trilhos mais eficientes para os trens, além de possibilitar a construção de estruturas muito
sofisticadas (WILLIAMS, 2009).

A utilização das máquinas não teve, no entanto, apenas consequências econômicas no sentido estrito do termo.
O crescimento acelerado da indústria de fios e tecidos de algodão engendrou uma série de manifestações de
descontentamento operário. Para Hobsbawm (1997), a transição para a nova economia criou miséria e descontentamento,
que era combustível para uma revolução social. Segundo esse historiador, esse estado de coisas foi responsável por
levantes operários espontâneos, pelas revoltas de 1848 e pelos movimentos trabalhistas na Grã-Bretanha.

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O uso de máquinas gerou novas situações e comportamentos na relação entre trabalho e trabalhador. A máquina, por
exemplo, podia exigir um ritmo mais acelerado de trabalho. Como máquinas não cansam, as jornadas de trabalho podiam
chegar a 16 horas diárias e extraíam dos operários toda força possível. A rotina da fábrica exigia que os trabalhadores se
adaptassem a uma nova noção de tempo, e o tempo das fábricas não seguia o ritmo da natureza. A sociedade anterior,
predominantemente rural, era regulada pelo tempo da natureza, do plantar e do colher. Na sociedade industrial e urbana,
porém, o tempo passou a ser regulado pela necessidade da produção capitalista.

Paralelamente, a rápida urbanização das cidades industriais ocasionou uma série de problemas sociais. Os operários,
além das condições de trabalho horríveis a que estavam submetidos, viviam em péssimas condições de habitação.
Amontoados em lugares insalubres, esses trabalhadores estavam sujeitos a todo tipo de doenças trazidas pela miséria
e pela sujeira. Não era espantoso, portanto, que revoltas e novas ideias surgissem para tentar modificar tal situação. Em
muitos lugares, a luta dos trabalhadores trouxe melhorias consideráveis às condições de vida do proletariado. Muitos
direitos trabalhistas foram sendo conquistados, mas a contradição fundamental entre capital e trabalho permanece
existindo, mesmo com o desenvolvimento do capitalismo – talvez por isso mesmo.
Napoleão Bonaparte

Antes de passarmos às revoltas e às novas ideias de abalaram a Europa no século XIX, devemos lembrar de uma
figura sem a qual não compreenderíamos aquele agitado século. Estamos nos referindo a Napoleão Bonaparte, talvez
um dos personagens históricos mais conhecidos no mundo todo. Napoleão Bonaparte nasceu em 15 de agosto de 1769,
em Ajaccio, na ilha da Córsega, que estava ocupada pelos franceses desde o ano anterior. Aos nove anos foi estudar
na França, prrimeiro em Autun, depois em Brienne e, por fim, na academia militar em Paris, onde formou-se em 1785.

Iniciou sua carreira como segundo tenente de artilharia, mas sua ascensão seria rápida. Após a sua primeira vitória militar,
em Toulon, 1793, Napoleão foi promovido a general. Ele tinha apenas 24 anos de idade. Tendo sido elogiado diante
de Robespierre – que naquele momento era o homem forte que governava a França -, Napoleão foi nomeado inspetor
da artilharia do exército francês nos Alpes. Suas façanhas militares garantiram sua sobrevivência mesmo depois da
queda de Robespierre. Em 1785, mais um evento militar ajudou na sua trajetória ascendente. Mesmo em desvantagem
numérica, Napoleão conseguiu derrotar tropas monarquistas e salvar a república.

No entanto, nem só de vitórias militares vivia Napoleão Bonaparte. Em 1795, Napoleão conheceu Josephine (ou Josefina,
como preferem alguns), uma viúva cujo marido havia sido guilhotinado durante o governo de Robespierre. Quando
Napoleão a conheceu, Josephine era amante de Paul-François-Jean-Nicolas, um dos mais poderosos membros do

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Diretório. Depois de um rápido noivado, Napoleão e Josephine casaram-se em 1796. Para ela, que era alguns anos
mais velha que ele, era um casamento de conveniência. Em uma época conturbada como aquela, o casamento com o
jovem general representava a possibilidade de segurança para ela e para seus filhos. Napoleão, porém, não permaneceu
muito tempo na França.

Sua lealdade ao governo francês foi recompensada com o posto de comandante do exército na Itália. Apesar de ter
encontrado uma tropa mal preparada e mal equipada, Napoleão conseguiu importantes vitórias na península itálica. Além
de mais experiência militar e de comando, Napoleão ganhou ainda mais prestígio. As vitórias francesas no continente
europeu deixaram Napoleão mais ambicioso. Agora, o novo inimigo estava a poucos quilômetros da França: a Inglaterra.
Invadir a Inglaterra, no entanto, não seria fácil. A última vez que alguém havia conseguido invadir a ilha da Grã-Bretanha
fora em 1066, quando Guilherme, o Conquistador, dominou os anglo-saxões. Esperando prejudicar a economia inglesa
e construir um império francês no oriente, Napoleão dirigiu-se ao Egito. A ideia era interromper o comércio inglês com
a Índia. No entanto, se em terra Napoleão parecia imbatível, no mar a realidade era outra. Na batalha do Nilo, a frota
francesa foi destruída pelo almirante inglês Horatio Nelson e as tropas francesas ficaram impossibilitadas de voltar para
a França.

Napoleão, no entanto, conseguiu voltar à Europa. A situação política na França era complexa, muitos, como Seiyès,
estavam convencidos de que somente um líder militar forte poderia impedir a volta da monarquia. Ocorreu, então, o
Golpe de 18 Brumário de 1799, que fez com que Napoleão chegasse ao poder na França. Em 1802, Napoleão já havia
conseguido derrotar os austríacos na Itália e na Alemanha. No campo externo, ele já alcançava o sucesso e no campo
interno, o Código Napoleônico garantia as conquistas obtidas na Revolução Francesa, tais como a liberdade individual e
a igualdade perante a lei. Tornar-se cônsul vitalício foi consequência natural. As ambições de Napoleão não paravam de
crescer. Em 1804, ele torna-se Imperador da França, coroado pelo próprio Papa, na catedral de Notre-Dame (MAUROIS,
2013). Assim, depois de todo esforço revolucionário, iniciado em 1789, a monarquia era reestabelecida, mesmo que em
um novo contexto.

Uma de suas maiores realizações foi, sem dúvida, o Código Napoleônico. Até então, a França vivia sob uma infinidade de
leis dispersas e diferentes dependendo da região geográfica. Inspirado no direito romano, o Código Napoleônico serviu de
referência para muitos países ocidentais depois da França. A principal característica desse conjunto de leis foi a garantia
das conquistas obtidas pelo processo revolucionário. A criação do Banco da França contribuiu para o fortalecimento da
economia francesa e financiamento de suas conquistas posteriores. No campo educacional, fez grandes reformas, que
mudaram substancialmente o quadro social da França. Napoleão Bonaparte conseguiu unir e reerguer a França depois
de tantos anos de luta interna.

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Essa situação, porém, não duraria muito tempo. Os prejuízos econômicos causados à Inglaterra pelo Tratado de Amiens,
assinado em 1802, provocaram o surgimento da Terceira Coligação (Inglaterra, Rússia e Áustria). Napoleão adiantou-
se aos seus inimigos e venceu os austríacos na batalha de Ulm. Depois de avançar vitorioso para Viena, Napoleão
venceu os austríacos e o russos na batalha de Austerlitz, também conhecida como batalha dos Três Imperadores. A
vitória não significou um triunfo total para Napoleão, pois a Inglaterra continuava a ser um grande adversário. A derrota
da marinha francesa na batalha de Trafalgar, em 1805, é um exemplo disso. Sem muitas opções no que se refere aos
ingleses, Napoleão decidiu por uma estratégia econômica.

O imperador francês decretou, então, o Bloqueio Continental em 1806. Segundo essa determinação, todos os portos
europeus deveriam fechar-se às embarcações inglesas. A ideia era arruinar a economia da Inglaterra, um país dependente
do comércio marítimo. A Igreja não concordou com as ordens de Napoleão e o Papa Pio VII acabou sendo preso. Em
Portugal, os efeitos também foram sentidos. Governado por D. João, príncipe regente, Portugal não tinha condições de
enfrentar qualquer uma das duas potências em conflito. O governo português fez de tudo para evitar tomar partido. No
entanto, a invasão francesa de seu território não deixou opção à monarquia lusitana senão refugiar-se no Brasil a partir
de 1808.

Decidido a invadir a Rússia, Napoleão Bonaparte aliou-se à Áustria (Napoleão casou-se com a filha do imperador
austríaco Francisco I) e à Prússia. Formou-se, então, um poderoso exército para enfrentar o czar Alexandre I. O czar
utilizou a mesma estratégia que Pedro, o Grande (1672-1725), havia adotado contra as tropas do rei sueco Carlos XII:
o czar ordenou o recuo das tropas russas e a destruição de tudo o que pudesse ajudar o inimigo, atraindo os invasores
para o interior do imenso e gelado território russo. Mesmo tendo derrotado os russos e invadido Moscou, Napoleão estava
com sérios problemas em virtude da falta de suprimentos para suas tropas. O tempo estava a favor do czar Alexandre I,
que contava com um poderoso aliado de seu país, o inverno. Não restou outra alternativa e Napoleão ordenou a retirada
de suas tropas, o que se tornou um dos maiores desastres de toda a história. Milhares de soldados franceses morreram
de fome e de frio. Poucos homens conseguiram chegar à França (figura 3.2).

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Figura 3.2 Retirada das tropas de Napoleão

Adolph Northen, Napoleon’s retreat from Moscow, século XIX. Licenciado em domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em:

<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Napoleons_retreat_from_moscow.jpg>. Acesso em 21 abr. 2016.

A invasão da França pelos ingleses forçou a abdicação de Napoleão Bonaparte e sua partida para a ilha de Elba. Na
França, o governo foi entregue a Luís XVIII, irmão do rei Luís XVI, que fora guilhotinado durante a Revolução Francesa.
Aproveitando-se de uma situação política favorável, Napoleão voltou à França e reassumiu o governo, obrigando Luís
XVIII a fugir novamente. O novo governo de Napoleão Bonaparte durou apenas cem dias. Na batalha de Waterloo, em

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1812, Napoleão foi definitivamente derrotado pelos ingleses comandados pelo duque de Wellington. Napoleão entregou-
se aos ingleses na esperança de poder viver como cidadão comum, mesmo com as restrições que o governo inglês
desejasse impor-lhe (BURKE; PALLARES-BURKE, 2016). Ele, no entanto, não conseguiu a pretendida hospitalidade
inglesa. O governo da Inglaterra tornou-o prisioneiro e o mandou para a ilha de Santa Helena, que fica no meio do
oceano Atlântico. Napoleão Bonaparte morreu alguns anos depois, em 1821.

Interpretando e mudando o mundo: ideias e revoltas

O Liberalismo surgiu muito antes do século XIX, no entanto, para compreendermos as revoluções burguesas
e a revolução industrial é fundamental entender o que é o Liberalismo. Esses processos revolucionários podem ser
entendidos como parte das transformações que se iniciaram no final do medievo, quando o renascimento urbano e
comercial deu início ao mundo moderno. O surgimento da burguesia foi o evento que mais caracteriza a diferença entre
a sociedade medieval e a moderna. As mudanças nas estruturas econômicas e sociais alteraram significativamente as
formas de pensar e de agir.

O conjunto de ideias ao qual chamamos de Liberalismo surgiu nesse contexto de nascimento da sociedade capitalista. É
possível afirmar que Liberalismo é uma doutrina que defende e pretende realizar a liberdade no campo político. Em que
consiste, então, essa liberdade? É, antes de tudo, a liberdade do indivíduo, que se expressa pelo seu direito pensar, crer
e se expressar livremente. Essa ideia está intimamente ligada ao princípio da igualdade fundamental entre os homens.
Do ponto de vista econômico, a liberdade se manifesta na livre ação dos indivíduos. Em outras palavras: liberdade de
empreender. Em uma economia baseada no Liberalismo, todo indivíduo é livre para abrir uma empresa e enriquecer
pelo seu trabalho. Por isso, os liberais criticam a interferência do Estado na economia.

As ideias liberais estavam vinculadas ao mundo capitalista que se expandia por meio das indústrias e do imperialismo
do século XIX. Economia de mercado é o conceito chave para compreender a mentalidade liberal e, nesse sentido,
devemos entender que os liberais se opunham ao Mercantilismo. Sendo defensores do individualismo econômico, os
liberais também eram favoráveis à propriedade privada, que é consequência do direito de empreender.

Os fundamentos do Liberalismo foram sendo estabelecidos por diversos autores – você deve se lembrar de John Locke,
por exemplo, estudado no primeiro caderno dessa disciplina –, mas quando pensamos em Liberalismo econômico
um autor se destaca, Adam Smith (1723-1790). O princípio básico das ideias de Adam Smith é a coincidência entre
os interesses econômicos dos indivíduos e os da sociedade. Assim, quando cada indivíduo for livre para realizar seus
interesses individuais, os interesses de toda a sociedade serão satisfeitos. Sua principal obra foi A Riqueza das Nações,
publicada em 1776 (coincidentemente, o mesmo ano da independência dos Estados Unidos). Em geral, afirma-se que

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Adam Smith defendia a não interferência do Estado na economia, ou seja, o Estado mínimo. Aqui, é preciso compreender
que Adam Smith acreditava na capacidade de julgamento moral dos indivíduos. Por isso, para esse autor, deveria ser
limitada a intervenção daqueles que governam. Isto não significa, no entanto, que numa sociedade regida pelas ideias
de Adam Smith, os indivíduos possam tudo e o Estado nada possa.

Para Adam Smith, “[...] os Estados poderiam e deveriam redistribuir a riqueza em algum grau e defender os pobres e
desfavorecidos contra aqueles que sobre eles exercem o poder no setor privado” (STANFORD, 2013, s/p). Quando
Adam Smith criticou a interferência do Estado ele tinha em mente as práticas mercantilistas, que ainda eram comuns em
sua época. Ele certamente acreditava que as decisões sobre negócios deveriam ser deixadas para os empresários, que
conhecem as particularidades de suas atividades melhor do que qualquer funcionário do governo. Também acreditava,
por outro lado, que o governo deveria ficar longe das mãos dos empresários, uma vez que eles tendem a usá-lo
para promover seus próprios interesses, não se preocupando com o bem-estar dos demais cidadãos. Por isso, Adam
Smith criticava o poder dado à Companhia das Índias Orientais (STANFORD, 2013). O Liberalismo é apenas um dos
conjuntos de ideias que devemos conhecer para compreender a história contemporânea.

O conceito de utopia está substancialmente relacionado à obra de Thomas Morus (1478-1535). Almino (2004), no
prefácio a uma edição do livro Utopia, afirma que a ilha imaginária chamada de lugar nenhum (esse é o significado da
palavra utopia) pode ser interpretada como uma crítica aos Estados europeus de sua época. Os habitantes de Utopia
comportam-se seguindo a razão e, por isso, vivem melhor que os europeus. Seriam, na verdade, melhores cristãos que
os europeus, mesmo sem conhecer o cristianismo. Aquilo que era uma crítica ao mundo conhecido por Thomas Morus
passou a significar o desejo por um mundo melhor. Mais do que isso, passou a indicar um sonho impossível de ser
realizado. Então, no sentido mais corriqueiro para a palavra utopia, podemos perceber duas interpretações. A primeira,
vincula o conceito de utopia a uma proposta impraticável e, por isso, alienante. Nesse sentido, as ideias utópicas
impediriam de agir nos problemas reais do mundo. A segunda interpretação relaciona o conceito de utopia ao estímulo
que deveríamos ter para lutar pela transformação do mundo em um lugar melhor.

Compreender isso é importante para entender a expressão socialismo utópico, que está ligada a autores como Robert
Owen (1771-1858), Charles Fourier (1772-1837) e Saint-Simon (1760-1825). O primeiro deles, Robert Owen, era um
industrial que decidiu promover diversas inovações em suas fábricas. A jornada de trabalho foi reduzida para apenas 10
horas diárias e foram criadas creche e escola. Apesar de parecerem modestas para os padrões atuais, essas mudanças
geraram a desconfiança de outros empresários e Owen foi obrigado a deixar a Inglaterra e refugiar-se nos Estados
Unidos, onde fundou uma cidade chamada New Harmony. A seguir você verá uma representação artística da proposta
de Owen, na figura 3.3.

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Figura 3.3 Posposta de comunidade segundo Robert Owen

Fonte: F.Bate, Vista de uma comunidade pelo olho de um pássaro, 1838. Licenciado em domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em:
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:New_Harmony_by_F._Bate_(View_of_a_Community,_as_proposed_by_Robert_Owen)_printed_1838.jpg>.
Acesso em 24 abr. 2016.

Na França, Charles Fourier acreditava que a sociedade corrompia os homens, assim como pensou Rousseau muito
antes dele. Imaginou, então, os chamados falanstérios, que eram fazendas coletivistas. Nunca, porém, conseguiu colocar
em prática suas ideias. Já o terceiro autor, Saint-Simon, abriu mão de seu título de nobreza e passou a defender que a
sociedade não deveria permitir a existências de ociosos, nem a exploração do trabalho alheio.

Eis a principal crítica que se poderia apresentar a esses autores: suas ideias são mais sonhos do que propostas realizáveis.
Por isso chamou-se tais ideias de socialismo utópico. No lado oposto, mas no mesmo campo de crítica aos problemas
sociais, estavam os chamados socialistas científicos. Esses últimos acreditavam estar propondo mudanças profundas e
verdadeiras em virtude de terem descoberto a raiz das desigualdades sociais de sua época. Para o socialismo científico,
os mecanismos sociais e econômicos do capitalismo deveriam ser analisados para descobrir-se os meios de transformar-
se a realidade pela própria destruição da sociedade burguesa. Enquanto os socialistas utópicos propunham reformas a
fim de melhorar a sociedade, os científicos tinham uma ideia revolucionária.

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Karl Marx (1818-1883) é um dos mais importantes e conhecidos pensadores da História. Sua obra é tão vigorosa que
influenciou diversos ramos do conhecimento humano. Sua obra mais conhecida é O Capital, na qual ele revela os
mecanismos econômicos do modo de produção capitalista. Marx tinha como amigo e colaborador Friedrich Engels (1820-
1895). O pensamento marxista está fundamentado em um método de interpretação da realidade a que chamamos de
materialismo histórico. Trata-se de uma reinterpretação do idealismo de Hegel, que colocava a dialética no plano ideal,
do espírito. Para Marx, no entanto, a dialética deve ser encontrada no mundo material, dos homens concretos. Por isso
a expressão materialismo histórico: por um lado o método preocupa-se com a organização dos homens na sociedade,
em suas ações para a produção e reprodução da vida material; por outro lado, preocupa-se com as diferentes formas
como os homens têm se organizado ao longo da história.

As condições materiais de existência humana formam a infraestrutura, enquanto a superestrutura é representada pela
política, pela religião, pela arte e pela cultura. As mudanças na infraestrutura e na superestrutura são provenientes das
lutas de classe. Segundo o princípio da luta de classes, em todas as épocas da humanidade as sociedades dividiram-se
em dominantes e dominados e, do conflito entre elas, nascem as transformações. Por isso diz-se que a luta de classes
é o motor da história. Na prática, isso tudo significava que uma nova sociedade somente poderia realmente existir se
surgisse da destruição da burguesia (classe dominante) pelo proletariado (classe dominada). Mas nem só de ideias
viveu o século XIX.

Nós já estudamos que, em 1804, Napoleão Bonaparte tornou-se imperador da França. Vimos também que uma série
de guerras eclodiram na Europa, fruto dos conflitos entre Napoleão Bonaparte e as demais potências europeias. Após
a derrota definitiva de Napoleão Bonaparte, o poder chegou às mãos de Luís XVIII, irmão do guilhotinado Luís XVI.
A família Bourbon estava novamente no poder. Mas havia agora uma monarquia constitucional, cujas leis eram uma
mistura de princípios oriundos da Revolução Francesa e do período napoleônico. Mesmo assim, o rei possuía uma série
de poderes, como, por exemplo, nomear ministros e propor leis.

Havia, no entanto, aqueles que defendiam a monarquia absolutista, eram os ultrarrealistas. Eram liderados pelo conde
de Artois e odiavam qualquer referência à Revolução Francesa ou à Napoleão Bonaparte. Entre esses ultrarrealistas
estavam membros da aristocracia emigrada – aquela que fugira da França depois de 1789 -, grandes proprietários de
terra e membros reacionários do clero. Nas eleições de 1815 esse grupo conseguiu eleger a maioria na Câmara dos
Deputados. A consequência disso foi a perseguição àqueles considerados vinculados à Revolução ou à Napoleão. Esse
período é chamado de Terror Branco e foi nesse contexto que artistas de alguma forma ligados à Napoleão vieram para
o Brasil, entre eles Jean-Baptiste Debret, que era primo de Louis David, principal artista da Revolução e de Napoleão.

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PORDENTRODOTEMA
Além dos ultrarrealistas, havia outro tipo de monarquistas, eram chamados de realistas. Membros da alta burguesia,
nobres de pensamento liberal e intelectuais faziam parte desse grupo. Defendiam uma monarquia constitucional e eram
contrários às perseguições efetivadas pelos ultrarrealistas. Luís XVIII escolheu diversos nomes desse grupo para seu
governo. Com a morte de Luís XVIII, foi seu irmão que assumiu com o nome de Carlos X e que passou a governar de
forma cada vez mais autoritária. O auge ocorreu em 1830, quando Carlos X assinou decretos que acabavam com a
liberdade de imprensa, dissolvia a Câmara dos Deputados, convocava eleições e estabelecia critérios mais restritivos
de participação política para a burguesia.

Em reação às tentativas de Carlos X de centralizar o poder em suas mãos, as ruas de Paris foram ocupadas por
manifestantes. Carlos X retirou-se da capital e o governo provisório ficou com o general La Fayette, que defendia que o
duque de Orleans assumisse no lugar de Carlos X. Foi o que aconteceu, em agosto de 1830, o duque de Orleans jurou
fidelidade à constituição e passou a chamar-se Luís Felipe I. Isso garantiu que a ordem fosse mantida, com o acesso
da alta burguesia e da nobreza moderada ao poder. Mas, as lutas pelo poder político não eram os únicos problemas da
França.

A situação dos operários era extremamente difícil, não apenas na França, mas em toda a Europa. As tensões geradas
por essa situação desencadearam inúmeras manifestações em 1848. Nesse ano, agitações operárias e até de parte da
burguesia revelavam o grau de descontentamento que reinava no continente europeu. Paris estava repleta de barricadas
construídas pelos revoltosos em fevereiro de 1848. O rei Luís Felipe I tentou agradar a multidão demitindo o ministro
Guizot, mas pouco adiantou. A insatisfação crescia. No final de fevereiro, o rei foi vaiado pelos próprios soldados. Diante
dessa situação, pouco restava a Luís Felipe I senão a abdicação. A república voltava a ser instalada na França.

Um governo provisório, sob liderança de Lamartine e de Luís Blanc, foi instalado. Eleições para uma Assembleia
Constituinte foram marcadas. Isso não impediu, no entanto, que novas manifestações ocorressem. O novo governo
tomou várias medidas para conter as revoltas operárias, inclusive o uso de tropas do exército. Milhares de revoltosos
foram presos e outros tantos foram deportados para a Argélia, na época uma colônia da França. No final de 1848, uma
nova constituição foi aprovada instituindo a república e o sufrágio universal. Em dezembro desse mesmo ano, as eleições
foram vencidas por Luís Napoleão Bonaparte, sobrinho de Napoleão Bonaparte. Seu governo deveria acabar em 1852,
no entanto, ele conseguiu articular um golpe de Estado em 1851, tornando-se imperador, tal qual seu tio. Apesar disso, o
exemplo das revoltas francesas espalhou-se pela Europa. Na figura 3.4, você pode ver uma representação das revoltas
ocorridas em Berlin, em 1848; note que algumas bandeiras estão com as três listras na vertical, posição inspirada na
bandeira francesa.

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PORDENTRODOTEMA
Nada melhor expressa o significado das agitações de 1848 do que as palavras de Victor Hugo, reproduzidas por
Hobsbawm:

Em 1831, Victor Hugo escreveu que já ouvia o “ronco sonoro da revolução, ainda profundamente encravado nas
entranhas da terra, estendendo por debaixo de cada reino da Europa suas galerias subterrâneas a partir do eixo
central da mina, que é Paris”. Em 1847, o barulho se fazia claro e próximo. Em 1848, a explosão eclodiu. (1997,
p. 332)

Figura 3.4 Revoltas em Berlim, 1848

Fonte: Autor desconhecido, Berlim em Março de 1848. Licenciado em domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em: < https://translate.
google.com.br/?hl=pt-BR&tab=wT#de/pt/Maerz1848%20berlin>. Acesso em 24 abr. 2016.

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PORDENTRODOTEMA
O conjunto desses processos revolucionários é conhecido como Primavera dos Povos. A expressão primavera indica
uma espécie de avivamento político das massas, pois na primavera a natureza adormece e no inverno desperta. Por isso
a analogia foi utilizada outras vezes na história. Em 1968, houve a Primavera de Praga, quando movimentos políticos
na Tchecoslováquia desafiaram o poder da União Soviética. Mais recentemente ouviu-se falar da Primavera Árabe, que
designa uma série de agitações políticas em Estados autoritários do norte da África.

Imperialismo

No século XIX, as transformações na sociedade e na economia mudaram a paisagem política mundial. A ideia do
expansionismo e da busca por novos mercados levaram os europeus a partirem para novas conquistas territoriais. O
avanço da conquista sobre a Ásia e a África foram denominadas neocolonialismo, o prefixo neo (novo) é utilizado para
diferenciar este movimento de conquista territorial do ocorrido no período anterior: a descoberta e conquista da américa
nos séculos XV e XVI.

Na Europa do século XIX, pensadores como Karl Marx discutiam o novo sistema econômico que estava se consolidando,
o capitalismo industrial. O mundo estava mudando juntamente com as máquinas a vapor. A velocidade, a energia elétrica
e a alta produção de bens de consumo alteraram aquilo que antes era produzido artesanalmente e em pequena escala.
Como exigência das mudanças desse novo tempo estavam as novas relações de trabalho e a necessidade de encontrar
novos fornecedores de matéria prima e de mercados consumidores.

Os continentes africano e asiático, desde o império romano, possuíam relações comerciais com as monarquias e com
os comerciantes europeus. Havia, agora, um novo ingrediente na política europeia, os países estavam unificados e, nas
nações capitalistas, surgiu a política imperialista, apoiada pela ideologia de que os europeus cristãos eram superiores aos
outros povos e que eles deveriam levar ao mundo a cultura, libertando os outros do estado de barbárie. Este pensamento,
baseado na ciência que afirmava que havia raças superiores e inferiores no mundo, justificou a conquista territorial. A
expansão Imperialista se deu em diversos pontos da África e Ásia como veremos a seguir. No início do século XIX, a
Inglaterra era uma grande potência econômica, tendo o mundo como fornecedor e comprador, o capitalismo industrial
estava em franco desenvolvimento e no movimento expansionista utilizou-se do comércio e das armas.

A China comercializava com o ocidente através do porto de Hong Kong, vendia à Inglaterra carregamentos de chá, seda
entre outros, e comprava em maior quantidade dos ingleses o ópio (droga alucinógena) produzido na Birmânia e na
Índia, isso produziu um problema na balança comercial chinesa, enfraquecendo a sua economia. Como solução para o
problema, no ano de 1839, o governo chinês proibiu a importação da droga, mas, mesmo assim, o produto continuou a

19
PORDENTRODOTEMA
entrar nas fronteiras através do contrabando. Ao descobrir um grande carregamento de ópio inglês, este foi queimado e,
como reação, a Inglaterra promoveu a Guerra do Ópio entre 1839 e 1842.

Como o poderio bélico do Império Inglês era maior que o Chinês, este último perdeu as batalhas e foi assinado o Tratado
de Nanquim que, passou o importante porto de Hong-Kong ao controle dos ingleses, abrindo para estes o acesso ao
comércio com outras cinco cidades chinesas. A China procurou colocar fim a esse domínio no final do século XIX, com
a Revolta dos Boxers, mas infelizmente perderam, uma vez que suas principais armas eram seus homens treinados
nas artes marciais, mas que eram impotentes contra as armas de fogo. No século XIX a China perdeu parte de seus
territórios para as grandes potências europeias, para os russos e para os japoneses.

A Inglaterra dominou a Índia, através da Companhia da Índias Orientais no início do século XIX, tendo o monopólio do
mercado, mas isto acabou em 1833; mesmo com o fim deste monopólio a Inglaterra continuou a dominar grande parte
da Índia durante as guerras napoleônicas, utilizando as rivalidades internas da sociedade indiana. A indústria de tecidos
inglesa sufocou a economia local, pois seus produtos eram muito mais baratos do que os produzidos pelos artesãos,
isso levou a miséria ao país. Enquanto isso, o comércio naval com a Índia foi facilitado com a construção do Canal de
Suez.

O imperialismo inglês sofreu resistência dos indianos. Uma das revoltas se iniciou em 1857, a Revolta dos Sipaios,
que foi debelada em 1859, o que ocasionou a solidificação do domínio do império britânico. A índia só conseguiu a sua
liberdade ao se tornar independente no século XX. A França em sua expansão durante a década de 60 do século XIX
conquistou o Sudeste da Ásia (a Indochina) ocupando e incorporando ao seu império o Vietnã, o Laos e o Camboja.

A África já era conhecida do mundo europeu desde Roma antiga e era exportadora de mão de obra escrava durante
os séculos XVI, XVII e XVIII. A lógica expansionista deste período levou ao continente africano missões religiosas e
expedições de exploração com a intenção de conhecer, converter e dominar. O continente africano foi dividido entre os
países imperialistas e, assim, os franceses ocuparam a Argélia, dominaram a Tunísia, o Marrocos, o Sudão, Madagascar
e a Somália. Enquanto a Inglaterra conquistou o continente verticalmente mantendo o controle começando pelo norte
com o Egito e terminando ao sul, na África do Sul. Para falar dessa conquista, usavam a expressão “do Egito ao Cabo”.
Com o caminho aberto pelo Canal de Suez o domínio inglês se consolidou no norte da África, incorporando a Rodésia,
o Quênia e parte da Somália, Uganda entre outros.

O império Belga (Bélgica) ficou com o Congo, mas este território entrou como propriedade particular do rei Leopoldo II.
O objetivo do rei era claro, ganhar dinheiro com a exploração de marfim retirado dos elefantes, da borracha e fazer uma
rota comercial entre o baixo e o alto Congo. Apesar de ter se comprometido com a repressão do comércio de escravos,

20
PORDENTRODOTEMA
foi em vão. O rei Leopoldo II tornou-se proprietário do “Estado Livre do Congo” a partir de 1886 e esmagou com crueldade
e força bruta diversas revoltas em suas terras na África. Em 1908, o Congo foi transferido para o Estado da Bélgica. O
Congo tornou-se um país livre, deixando de ser colônia da Bélgica, apenas em 1960.

O pensamento imperialista teve seu auge com a Conferência de Berlim, em 1884-1885, da qual participaram 14 países
europeus, a Rússia e os Estados Unidos. A África foi distribuída e firmadas fronteiras sem considerar que ela era
habitada, se os povos ali eram amigos ou inimigos, se tinha seus sistemas de governo e como era a sua economia local,
isso levou a ter muitos problemas sociais.

Mesmo assim, os portugueses garantiram seu espaço com Angola e Moçambique, os espanhóis com a região do
Rio do Ouro e alguns territórios ficaram nas mãos de italianos e alemães. O mundo estava assim dividido entre as
potências econômicas ocidentais na passagem do século XIX para o XX. As colônias tiveram suas estruturas econômicas
estruturadas para garantir a produção de matérias-primas através da monocultura e foram construídas ferrovias para o
escoamento dos produtos que seriam enviados às metrópoles.

ACOMPANHENAWEB
As Transformações Urbanísticas de Paris no Século XIX: Análise e Reflexões
– Robert Ponge e Nara Helena N. Machado

• Nesse artigo, os autores analisam as transformações que a cidade de Paris sofreu a partir
das intervenções do Barão Haussmann. A reurbanização de Paris fez-se necessária devido aos
crescentes problemas que a cidade vinha acumulando. Questões que devem ser entendidas no
contexto da Revolução Industrial e que se acentuaram durante o século XIX. Assim, as medidas
para reurbanizar Paris, e posteriormente outras cidades, são tentativas de aplicar na vida urbana
a lógica e a razão científicas.
Disponível em: <http://periodicos.unb.br/index.php/revistaXIX/article/view/11066/7940>. Acesso em 23 abr.
2016.

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ACOMPANHENAWEB
As Razões do Laissez-Faire: uma Análise do Ataque ao Mercantilismo e da
Defesa da Liberdade Econômica na Riqueza das Nações – Laura Valladão de
Mattos

• Nesse artigo, a autora realiza uma análise das críticas que Adam Smith faz ao Mercantilismo.
Esse estudo baseia-se no impacto econômico dos dois sistemas (o mercantilista e o liberal) e no
grau de justiça e liberdade que cada sistema pode proporcionar. Para Adam Smith, segundo a
autora, o Liberalismo é superior devido ao maior crescimento econômico que proporcionaria e à
justiça que representa um sistema no qual não se privilegia setor algum da sociedade.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rep/v27n1/06.pdf> Acesso em 23 abr. 2016.

Why the Industrial Revolution Happened Here

• Nesse vídeo, você conhecerá um pouco mais a respeito das condições que fizeram da Inglaterra
a nação pioneira na Revolução Industrial. Fique atento aos fatores tecnológicos, políticos e
econômicos.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=UM2Aw4kmA0s>. Acesso em 23 abr. 2016

Doutores da Economia: Marx

• Nesse vídeo, você poderá compreender as ideias básicas de Karl Marx por meio de referências
ao mundo atual. Vídeo bastante interessante especialmente devido a essa característica, ele
consegue atualizar para nossos dias os princípios fundamentais das temáticas que preocupavam
Marx no século XIX.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_UBfwjkI-9Q&list=PLxI8Can9yAHd7JSFI2KZxeRTY-
7L_0CoRm&index=3>. Acesso em 23 abr. 2016

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AGORAÉASUAVEZ
Instruções:
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará algumas questões de múltipla
escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.
Questão 1

Observe a seguinte imagem:

Jean Marc Cote, Um Explorador, 1899. Licenciado em domínio público, via Wikimedia Commons. Disponível em: < https://commons.wikimedia.org/
wiki/File:France_in_XXI_Century._Air_explorer.jpg?uselang=pt-br>. Acesso em 24 abr. 2016.

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AGORAÉASUAVEZ
A imagem faz parte de uma coleção chamada “No Ano 2000”, publicada entre 1899 e 1910. Jean Marc Cote e outros artistas
produziram imagens que representavam como seria o mundo no ano 2000. Inicialmente eram distribuídas em caixas de cigarros
ou charutos e, depois, em cartões postais. Na imagem da questão, vemos um explorador branco em uma espécie de avião so-
brevoando uma aldeia na África. Identifique as informações que podemos obter nessa imagem a respeito da Revolução Industrial
e o Imperialismo.

Questão 2

Leia o seguinte trecho, retirado de uma página da internet: “É central para a nossa missão a nossa crença de que os mercados
livres funcionam melhor para os pobres. Nenhum sistema tirou as pessoas da pobreza e deu-lhes a liberdade de viver suas vidas
como quiserem, como mercados livres têm feito. Na política de hoje é, geralmente, as pessoas mais pobres que mais sofrem com
as piores políticas do governo em áreas como educação, saúde e bem-estar. Nossa missão é a utilização de mercados livres para
acabar com a pobreza [...].”

Mesmo sem saber à qual organização a página pertence, podemos afirmar que ela defende os princípios do:

a) Mercantilismo.

b) Anarquismo.

c) Socialismo.

d) Comunismo.

e) Liberalismo.

Questão 3

Leia o trecho: “A propriedade privada baseada no trabalho do pequeno patrão, a livre concorrência, a democracia, todas essas
palavras de ordem por meio das quais os capitalistas e a sua imprensa enganam os operários e os camponeses, [...]. O capitalis-
mo transformou-se num sistema universal de subjugação colonial e de estrangulamento financeiro [...]” (LENIN, 1916, p. 3)

Conhecendo as críticas que o comunismo faz ao sistema capitalista, podemos afirmar que a palavra “capitalistas”, no trecho, po-
deria ser substituída por uma das apresentadas nas alternativas a seguir, sem alterar o sentido do texto:

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AGORAÉASUAVEZ

a) operários.

b) proletários.

c) burgueses.

d) camponeses.

e) servos.

Questão 4

Leia o trecho: “Em sua administração, Napoleão nomeou Antoine-François, conde de Fourcroy, com o intuito de que o mesmo or-
ganizasse e sistematizasse um estudo sobre a situação escolar francesa. Em 19 de abril de 1802 o conde apresentou, ao Conseil
d’État, um informe no qual destacou que as escolas primárias voltariam a serem controladas pelas comunidades, as secundárias
por entidades privadas, os liceus substituiriam as escolas centrais e, no topo, haveriam as escolas vocacionais e profissionais
especializadas. Por esse informe, ficava definido que as escolas primárias ensinariam: a alfabetização e os números, para as
crianças de seis aos doze anos; as escolas secundárias: francês, latim, história natural, geografia, matemáticas, física e dese-
nho, durante quatro anos; os liceus ministrariam uma educação liberal, centrada no estudo das línguas e da ciência. Deveriam
ser criados trinta liceus, de frequência facultadas somente aos meninos, que seriam mantidos pelo Estado. ” (ARRIADA, 2012, p.
189-190)

Em que sentido podemos ver na preocupação de Napoleão com o sistema educacional francês uma consequência dos ideais
iluministas?

Questão 5

Não é sem razão que Eric Hobsbawm colocou como limites temporais para o seu livro “A Era das Revoluções” em 1789 e 1848.
São dele as seguintes palavras: “[...] o mundo da década de 1840 se achava fora de equilíbrio. As forças de mudança econômica,
técnica e social desencadeadas nos últimos 50 anos não tinham paralelo, eram irresistíveis mesmo para o mais superficial dos
observadores” (HOBSBAWM, 1997, p. 327).

Como podemos entender as revoltas de 1848 como parte desse mundo em desequilíbrio comentado por Hobsbawm?

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FINALIZANDO
Nesse caderno você entrou em contato com um dos períodos mais intensos da História da humanidade. O século
XIX foi de imensas transformações. A ciência, em um processo que começara ainda no Renascimento Cultural, libertava-
se do jugo da filosofia e da religião e grandes inovações surgiram. A tecnologia, quase sempre ligada à ciência, avançava
a passos largos. A industrialização do mundo tornava-se uma realidade inquestionável. A urbanização era um processo
igualmente poderoso. As antigas formas de viver modificavam-se rapidamente. Da luz de vela, passando pela lâmpada
a querosene e chegando à luz elétrica, o século XIX viu a civilização vencer as trevas. As distâncias tornavam-se mais
curtas com o trem e o navio a vapor. As comunicações nunca foram tão rápidas até aquele momento. As imagens
podiam ser eternizadas pela fotografia e colocadas em movimento pelo cinema. Esse lado brilhante, porém, era somente
uma face do mundo do século XIX. Um outro lado, muito menos luminoso, era habitado por operários que mal tinham o
que comer e onde dormir. Trabalhando muitas horas por dia sem descanso, eles não tinham razões para admirar todo o
progresso do século XIX, assim como aqueles que viviam nas colônias europeias na África e na Ásia. Dessa realidade
também surgiram mudanças, revoltas e novas ideias. Esperamos, portanto, que você tenha se entusiasmado tanto
quanto nós ao elaborarmos este material, afinal há muito mais para conhecer sobre esse período histórico.

REFERÊNCIAS
ALMINO, João. A Utopia é um império: as relações entre os povos na obra clássica de Thomas More. In: MORE, Thomas.
Utopia. Brasília: UNB, 2004.
ARRIADA, Eduardo. As Reformas napoleônicas e a lei do 11 floreal ano 10 (1º de maio de 1802). In: Revista História da
Educação, v. 16, n. 37, maio/ago., 2012, p. 189-196. Disponível em: <http://www.seer.ufrgs.br/asphe/article/download/28223/
pdf>. Acesso em 24 abr. 2016.
BRYSON, Bill. Em Casa: uma breve história da vida doméstica. São Paulo: Cia das Letras, 2011
BURKE, Peter; PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. Os Ingleses. São Paulo: Contexto, 2016

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REFERÊNCIAS
HOBSBAWM, Eric J. A Era das revoluções (1789-1848). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
LAROUSSE. Directoire. s/d. Disponível em: <http://www.larousse.fr/encyclopedie/divers/Directoire/116603>. Acesso em 23 abr.
2016.
LÊNIN, Vladimir Ilitch. O Imperialismo, etapa superior do capitalismo. 1916. Disponível: <http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/ma000022.pdf>. Acesso em 24 abr. 2016.
MATTOS, Laura Valladão de. As razões do laissez-faire: uma análise do ataque ao mercantilismo e da defesa da liberdade
econômica na Riqueza das Nações. In: Revista de Economia Política, v. 27, n. 1, jan./mar., 2007, p. 108-129. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rep/v27n1/06.pdf>. Acesso em 23 abr. 2016.
MAUROIS, André. Napoleão. São Paulo: Globo, 2013.
PONGE, Robert; MACHADO, Nara Helena N. As Transformações urbanísticas de Paris no século XIX: análise e reflexões. In:
Revista XIX, n. 1, 2014. Disponível em: <http://periodicos.unb.br/index.php/revistaXIX/article/view/11066/7940>. Acesso em 23
abr. 2016.
ROBINS, Nick. A Corporação que mudou o mundo: como a Companhia das Índias Orientais moldou a multinacional moderna.
Rio de Janeiro: Difel, 2012.
STANFORD Encyclopedia of Philosophy. Adam Smith’s moral and political philosophy. 2013. Disponível em: <http://plato.
stanford.edu/entries/smith-moral-political/>. Acesso em 23 abr. 2016.
WILLIAMS, Trevor I. História das invenções: do machado de pedra às tecnologias da informação. Belo Horizonte: Autêntica/
Gutemberg, 2009

27
GLOSSÁRIO
Diretório: Foi o regime político que governou a França entre o fim da Convenção Nacional (1795) e o início do Consulado
(1799). O poder legislativo era representado por dois Conselhos: o dos Quinhentos e o dos Anciãos, cujos membros
eram eleitos em eleições censitárias. O poder executivo era exercido por um diretório com cinco membros eleitos pelo
Conselho dos Anciãos a partir de uma lista com dez nomes apresentada pelo Conselho dos Quinhentos (LAROUSSE,
s/d, s/p). Esse regime acabou com o estabelecimento do Consulado – Golpe do 18 Brumário -, que levou Napoleão
Bonaparte ao poder.

Tratado de Amiens: Tratado de paz entre a França e a Inglaterra, assinado em 1802. Segundo esse documento, a
Inglaterra deveria devolver para a França e seus aliados – Espanha e Holanda – diversos territórios. Por outro lado, a
França se comprometia a desocupar certas regiões. A duração desse tratado foi de apenas um ano.

Terceira Coligação: Esta foi uma das diversas coligações criadas para combater a França no contexto revolucionário
e napoleônico. A Primeira Coligação data de 1792 e era formada por Prússia e Áustria. A Segunda Coligação ocorreu
em 1798 e envolveu, principalmente, a Inglaterra, a Rússia e a Áustria. A Terceira Coligação, de 1805, agrupava
novamente Inglaterra, Rússia e Áustria. Foi no contexto dos conflitos dessa Terceira Coligação que ocorreram: a criação
da Confederação do Reno, por Napoleão Bonaparte; a derrota francesa na Batalha de Trafalgar e a decretação do
Bloqueio Continental.

Mercantilismo: É mais um conjunto de práticas econômicas do que um sistema ordenado de princípios de economia
política. Tais práticas podem ser entendidas como uma fase de transição entre a economia medieval e a economia liberal
capitalista. A ação ativa do Estado na economia era sua principal característica. Ao Estado cabia a iniciativa de controlar
a economia a fim de aumentar a riqueza da nação. Essa riqueza estava baseada no acúmulo de metais preciosos, prata
e ouro. Sendo assim, a balança comercial favorável era essencial para a manutenção dessa riqueza dentro do Estado
nação. Os governos faziam isso por meio do monopólio, que podiam entregar a determinados comerciantes, impedindo
a concorrência.

Companhia das Índias Orientais: Empreendimento fundado em 1600 com o objetivo de financiar uma viagem de
ida e volta às Índias Orientais. O lucro seria repartido entre aqueles que haviam investido na viagem. Em 1613, foram
financiadas quatro viagens ao oriente. A companhia foi criada por uma Carta Real do governo inglês e passou a ter o
monopólio do comércio das Índias Orientais (ROBINS, 2012). Esse é um bom exemplo da política mercantilista da época.

28
GABARITO
Questão 1

Resposta: A imagem é bem clara no que se refere à visão otimista em relação ao futuro que era muito comum na
passagem do século XIX para o século XX. A máquina voadora utilizada pelo explorador demonstra a importância que
as máquinas passaram a ter na vida cotidiana das pessoas e no seu imaginário também. Se grandes invenções haviam
sido criadas até aquele momento, então outras maravilhas viriam a seguir. Por isso o futuro era imaginado cheio de
máquinas. Ao mesmo tempo que celebra a tecnologia, a imagem nos deixa ver o sentimento de superioridade que o
europeu tinha em relação aos demais povos. Primeiro, devemos perceber que o explorador branco está sobrevoando a
aldeia africana, ou seja, as máquinas poderiam evitar que houvesse contato direto com os povos atrasados. Segundo, a
representação dos africanos aparece de forma estereotipada, em forma de caricatura; estão correndo, assustados com
a máquina dos brancos. Terceiro, mesmo tendo passado cem anos, os africanos são representados sem avanço algum,
como se fossem eternamente inferiores aos europeus. Hoje, podemos entender o título da imagem como contendo uma
certa ironia, que não havia na intenção original. Para o autor, “um explorador” refere-se àquele que explora uma região
ou povo desconhecido. Mas, hoje, podemos alargar esse conceito, indicando que o branco era mesmo um explorador
no sentido de que a África, e também a Ásia, forma profundamente exploradas pelos interesses econômicos europeus.

Questão 2

Resposta: Alternativa E.

O trecho esclarece que o objetivo da página é defender o livre mercado. A organização que publicou esse trecho acredita
que um mercado livre diminui a pobreza. Essas ideias são claramente liberais. O trecho está disponível em: <http://www.
adamsmith.org/>. Acesso em abr. 2016.

Questão 3

Resposta: Alternativa C.

No sentido do texto, a palavra “burgueses” pode substituir a palavra “capitalistas” sem que o texto perca o sentido. Isto se
deve ao fato de a teoria comunista considerar a sociedade como composta basicamente de duas classes: os burgueses
e os proletários. Assim, o termo “capitalistas” somente pode se referir aos burgueses, a classe dominante.

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Questão 4

Resposta: Apesar de ter-se tornado imperador dos franceses, Napoleão representava os ideais iluministas. Nesse
sentido, um sistema educacional mais amplo impunha-se como dever do Estado para difundir as luzes aos cidadãos
franceses.

Questão 5

Resposta: Devemos ter em mente a grande desigualdade social que imperava na Europa do século XIX. Assim, quando
eclodiram as manifestações de 1848, elas eram mais do que revoltas sociais. Elas foram levantes dos pobres das
cidades exigindo, não apenas pão e emprego, mas uma nova sociedade e um novo Estado.

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