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HOBSBAWM, Eric J.

A era das
revoluções. Rio de Janeiro: Editora
Paz e Terra, 1977.
Problema de pesquisa: explicar triunfo dos elementos de uma nova
economia e sociedade; “não a evolução do gradual solapamento que
foram exercendo em séculos anteriores, minando a velha sociedade,
mas sua decisiva conquista da fortaleza”.

Também problema de pesquisa: traçar as profundas mudanças que


este súbito triunfo trouxe para os países mais imediatamente
afetados por ela e para o resto do mundo - impacto do "burguês
conquistador"
Primeiro Capítulo
O MUNDO NA DÉCADA DE 1780
I

O mundo na década de 1780: ao mesmo tempo menor e muito maior


que o nosso.

[...] dificuldade ou incerteza das comunicações faziam-no


praticamente maior do que é hoje.

O final do século XVIII era, pelos padrões medievais ou do século XVI,


uma era de comunicações rápidas e abundantes [...]. Entre a década
de 1760 e o final do século, a viagem de Londres a Glasgow foi
reduzida de 10 ou 12 dias para 62 horas.
II

O mundo era essencialmente rural – na Inglaterra, a população


urbana ultrapassou a população rural pela primeira vez em 1851.

A linha que separava a cidade e o campo [...] era bem marcada.

A cidade provinciana ainda pertencia essencialmente à sociedade e


à economia do campo.
“Suas classes média e profissional eram constituídas pelos
negociantes de milho e de gado, os processadores de produtos
agrícolas, os advogados e tabeliões que manipulavam os assuntos
relativos ao patrimônio dos nobres [...], os empresários mercantis
que exploravam os empréstimos aos fiandeiros e tecelões dos
campos, e, por fim os mais respeitáveis representantes/do governo, o
nobre e a Igreja. Seus artesãos e lojistas asseguravam as provisões
aos camponeses e aos citadinos que viviam às custas dos
camponeses”.

Como havia declinado, [a cidade provinciana] agarrou-se com


crescente obstinação ao monopólio do mercado local [...]. No sul da
Europa, os cavalheiros e até mesmo os nobres viviam desse
provincianismo, alugando suas propriedades.
III

Problema agrário era o fundamental no ano de 1789


Ponto crucial: relação entre os que cultivavam a terra e os que a
possuíam, os que produziam sua riqueza e os que a acumulavam.

Do ponto de vista das relações de propriedade agrária, podemos


dividir a Europa - ou melhor, o complexo econômico cujo centro
ficava na Europa Ocidental- em três grandes segmentos:

1. A oeste da Europa ficavam as colônias de além-mar. Nelas, com a


notável exceção da parte norte dos Estados Unidos da América e
alguns trechos menos significativos de exploração agrícola
independente, o lavrador típico era o índio que trabalhava à força
ou se encontrava virtualmente escravizado, ou o negro que
trabalhava como escravo; um pouco mais raramente, um camponês
arrendatário, um meeiro ou algo semelhante.
2. A leste da Europa Ocidental (de uma linha que passaria mais ou
menos ao longo do rio Elba, e dali em direção ao sul rumo a Trieste,
ficava a região de servidão agrária. Socialmente, a Itália, ao sul da
Toscana e da Ümbria, e o sul da Espanha pertenciam a esta região,
embora não a Escandinávia (com a exceção parcial da Dinamarca e
do sul da Suécia).

Trechos onde viviam camponeses tecnicamente livres: colonos


alemães espalhados por toda a região
Região do Báltico: agricultura servil produz culturas de exportação
para países do Ocidente: milho, fibra de linho, cânhamo e produtos
florestais usados principalmente na fabricação de navios.

Rota do Mar Negro + crescente urbanização da Europa Ocidental,


principalmente Inglaterra, estímulo exportações milho cinturão
terra negra da Rússia - base comércio externo russo até a
industrialização da URSS.

Área servidão oriental considerada também "economia dependente",


produtora de alimentos e matérias-primas para a Europa Ocidental,
de forma análoga colônias de além-mar.
IV

3. Resto da Europa: estrutura agrária socialmente semelhante; mas


camponês típico tinha perdido muito da sua condição de servo.
Propriedade típica deixara de ser unidade de iniciativa econômica -
se tornara sistema de cobrança de aluguéis e de outros rendimentos
monetários.

Se estes vínculos políticos fossem retirados, uma enorme parte da


Europa surgiria como uma área de agricultura camponesa; na qual,
geralmente, uma minoria de camponeses abastados tendesse a se
tornar fazendeiros comerciais e uma maioria de pequenos e médios
camponeses vivesse de suas propriedades mais ou menos de forma
autosuficiente.
Somente algumas áreas levaram o desenvolvimento agrário mais
adiante, rumo a uma agricultura puramente capitalista. A
Inglaterra, em particular... Propriedade de terras extremamente
concentrada; agricultor típico: arrendatário com empreendimento
comercial médio, operado por mão-de-obra contratada.

Século XVIII não era um século de estagnação agrícola. [...] longo


período de expansão demográfica, urbanização crescente
encorajava a melhoria da agricultura. O que impressionava era o
tamanho dos obstáculos para o avanço agrícola.
V

Mundo agrícola lerdo, a não ser em seu setor capitalista... Já os


mundos do comércio e das manufaturas, e as atividades intelectuais
e tecnológicas que os acompanhavam, eram seguros e dinâmicos, e
as classes que deles se beneficiavam eram ativas, determinadas e
otimistas.

As ciências; ainda não divididas pelo academicismo do século XIX em


uma ciência "pura" superior e uma outra "aplicada" inferior,
dedicavam-se à solução de problemas produtivos [...].
O "iluminismo", a convicção no progresso do conhecimento humano,
na racionalidade, na riqueza e no controle sobre a natureza derivou
sua força primordialmente do evidente progresso da produção, do
comércio e da racionalidade econômica e científica.

Não é propriamente correto chamarmos o "iluminismo" de uma


ideologia da classe média [...]. Embora na prática os líderes da
emancipação exigida pelo iluminismo fossem provavelmente
membros dos escalões médios da sociedade [...].
Apesar da cautela e moderação política de muitos de seus expoentes
continentais [...] o iluminismo implicava a abolição da ordem
política e social vigente na maior parte da Europa.

Era demais esperar que os anciens régimes se abolissem


voluntariamente.
VI

Com exceção da Grã-Bretanha, que fizera sua revolução no século


XVII, e alguns Estados menores, as monarquias absolutas reinavam em
todos os Estados em funcionamento no continente europeu; aqueles
em que elas não governavam ruíram devido à anarquia e foram
tragados por seus vizinhos, como a Polônia.

É verdade que a simples necessidade de coesão e eficiência estatais


em uma era de aguçada rivalidade internacional tinha de há muito
obrigado os monarcas [...] a preencher seu aparelho estatal tanto
quanto possível com pessoal civil não aristocrata.

A monarquia absoluta, não obstante quão moderna e inovadora,


achava impossível e pouco se interessava em libertar-se da hierarquia
dos nobres proprietários, à qual, afinal de contas, pertencia [...], e de
cujo apoio dependia grandemente.
Havia um conflito entre as forças da velha e da nova sociedade
"burguesa", que não podia ser resolvido dentro da estrutura dos
regimes políticos existentes exceto onde estes regimes já
incorporassem o triunfo burguês: como a Grã-Bretanha.

Seu ponto mais vulnerável era aquele em que as oposições do velho


e do novo tendiam a coincidir: nos movimentos autônomos das
colônias ou províncias mais remotas.

A dissidência colonial ou provinciana não foi fatal.

A guerra/rivalidade internacional testava os recursos de um Estado


como nenhum outro fator poderia fazê-Io.
VII

O completo domínio político e militar do mundo pela Europa (e seus


prolongamentos ultramarinos, as comunidades de colonização
branca) viria a ser o produto da era da dupla revolução. Em fins do
século XVIII, várias das grandes civilizações e forças não europeias
ainda se confrontavam com o colonizador, o marujo e o soldado
brancos em termos aparentemente iguais.

Ainda assim a rápida e sempre crescente expansão maciça do


comércio e do empreendimento capitalista europeu minava a ordem
social dessas civilizações.
Segundo Capítulo
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Comecemos com a revolução industrial, isto é, com a Inglaterra


As repercussões desta revolução se fizeram sentir de uma maneira
óbvia e inconfundível - pelo menos fora da Inglaterra - não antes de
1840 ou por essa época
“A revolução industrial explodiu" O que significa?
Que a certa altura da década de 1780, e pela primeira vez na história
da humanidade, foram retirados os grilhões do poder produtivo das
sociedades humanas, que daí em diante se tornaram capazes da
multiplicação rápida, constante, e até o presente ilimitada, de
homens, mercadorias e serviços.

Qualquer que tenha sido a razão do avanço britânico, ele não se deveu
à superioridade tecnológica e científica.
A educação inglesa era uma piada de mau gosto, embora suas
deficiências fossem um tanto compensadas pelas duras escolas do
interior e pelas universidades democráticas, turbulentas e austeras da
Escócia calvinista, que lançavam uma corrente de Jovens
racionalistas, brilhantes e trabalhadores, em busca de uma carreira no
sul do país: James Watt, Thomas Telford, Loudon McAdam, James Mill.
Sistema de educação primária com os quaker Lancaster (e, depois
deles, seus rivais anglicanos); espécie de alfabetização em massa
elementar e realizada por voluntários, no princípio do século XIX,
[...] selando para sempre a educação inglesa com controvérsias
sectárias. Temores sociais desencorajavam a educação dos pobres.

Dadas as condições adequadas, as inovações técnicas da revolução


industrial praticamente se fizeram por si mesmas, exceto talvez na
indústria química. [...] primeiros industriais constantemente
interessados na ciência e em busca de seus benefícios práticos.
Condições adequadas estavam visivelmente presentes Grã-Bretanha

1. mais de um século se passara desde que o primeiro rei tinha sido


formalmente julgado e executado pelo povo e desde que o lucro
privado e o desenvolvimento econômico tinham sido aceitos
como os supremos objetivos da política governamental.

2. a solução britânica do problema agrário, singularmente


revolucionária, já tinha sido encontrada na prática. Uma relativa
quantidade de proprietários com espírito comercial já quase
monopolizava a terra, que era cultivada por arrendatários
empregando camponeses sem terra ou pequenos agricultores.
3. as manufaturas de há muito tinham-se disseminado por um interior
não feudal.
4. a agricultura já estava preparada para levar a termo suas três
funções fundamentais numa era de industrialização: aumentar a
produção e a produtividade de modo a alimentar uma população não
agrícola em rápido crescimento; fornecer um grande e crescente
excedente de recrutas em potencial para as cidades e as indústrias; e
fornecer um mecanismo para o acúmulo de capital a ser usado nos
setores mais modernos da economia. (Duas outras funções eram
provavelmente menos importantes na Grã-Bretanha: a criação de um
mercado suficientemente grande entre a população agrícola [...] e o
fornecimento de um excedente de exportação que contribuísse para
garantir as importações de capital.)
5. considerável volume de capital social elevado - o caro
equipamento geral necessário para toda a economia progredir
suavemente - já estava sendo criado, principalmente na construção
de uma frota mercante e de facilidades portuárias e na melhoria das
estradas e vias navegáveis.

6. possuía uma economia bastante forte e um Estado


suficientemente agressivo para conquistar os mercados de seus
competidores.

7. possuía uma indústria admiravelmente ajustada à revolução


industrial pioneira sob condições capitalistas e uma conjuntura
econômica que permitia que se lançasse à indústria algodoeira e à
expansão colonial.
II

Indústria algodoeira britânica [...] originalmente subproduto do


comércio ultramarino produzia sua matéria-prima e os tecidos
indianos de algodão, ou chita, que conquistaram os mercados que os
fabricantes europeus tentariam ganhar com suas imitações.

Durante todo o período de que trata este livro [1789–1848], a


escravidão e o algodão marcharam juntos.

[...] quando o fornecimento destas mercadorias era interrompido


pela guerra ou uma revolta na índia ou arredores, entrava em jogo a
região de Lancashire.
O algodão fornecia possibilidades suficientemente astronômicas
para tentar os empresários privados a se lançarem na aventura da
revolução industrial e também uma expansão suficientemente
rápida para torná-Ia uma exigência.

Os novos inventos que o revolucionaram - a máquina de fiar, o tear


movido a água, a fiadeira automática e, um pouco mais tarde, o
tear a motor - eram suficientemente simples e baratos e se pagavam
quase que imediatamente em termos de maior produção.

Toda a sua matéria-prima vinha do exterior, e seu suprimento podia


ser expandido pelos drásticos métodos que se ofereciam aos brancos
nas colônias - a escravidão e a abertura de novas áreas de cultivo -
em vez dos métodos mais lentos da agricultura europeia [...].
A máquina de fiar hidráulica (spinning jenny) é um quadro de fiação multi-
fuso e foi um dos principais desenvolvimentos durante a Revolução Industrial
inicial. Foi inventado em 1764 por James Hargreaves.
A máquina de fiar múltipla (spinning mule) foi inventada por Samuel
Crompton, em 1779, tornou possível para apenas um operador controlar
mais de 1.000 eixos de rotação ao mesmo tempo.
Manufatura de algodão em 1830, com uso da fiadeira automática
patenteada por Richard Roberts em 1825. Repare na presença da criança
representada dentro do maquinário.
Cronograma histórico do tear
Fonte: https://textileindustry.ning.com/profiles/blogs/tear-a-evolucao-dos-fios-e-a

1733: Invenção da lançadeira volante, por John Kay.

1760[80]-1850: 1ª etapa da Revolução Industrial.

1764: Invenção da spinning Jenny, por James Hargreaves.

1768[5]: James Watt inventa a máquina a vapor.

1769: Invenção da water frame, por Richard Arkwright.

1779: Invenção da mule, por Samuel Crompton.

1785: Edmund Cartwright inventa o tear mecânico.


III

Até a década de 1830, o algodão era a única indústria britânica em


que predominava a fábrica ou o "engenho".

Os produtos de algodão constituíam entre 40 e 50% do valor anual


declarado de todas as exportações britânicas entre 1816 e 1848.

[...] progresso indústria algodoeira longe de ser tranquilo:

Por volta década de 1830 princípios de 1840 grandes problemas de


crescimento,[...] agitação revolucionária sem paralelo em qualquer
outro período da história britânica recente

Essa primeira crise geral do capitalismo não foi puramente um


fenômeno britânico.
Depois das guerras napoleônicas, o drama periódico do boom e da
depressão - em 1825-6, 1836-7, 1839-42, 1846-8 – dominou
claramente a vida econômica da nação em tempos de paz.

[...] a revolução industrial e a competição provocaram uma queda


dramática e constante no preço dos artigos acabados mas não em
vários custos de produção. [...] depois de 1815, a situação geral dos
preços era de deflação e não de inflação, ou seja, os lucros, longe
de um impulso extra, sofriam um leve retrocesso.

E, de todos os custos, os salários – que McCulloch calculou em três


vezes o montante anual da matéria-prima - eram os mais
comprimíveis.
E de fato os salários caíram brutalmente no período pós-
napoleônico. Mas havia um limite fisiológico nessas reduções [...].

Somente se o custo de vida caísse podiam também os salários cair


além daquele limite.

Os fabricantes de algodão partilhavam o ponto de vista de que o


custo de vida era mantido artificialmente alto pelo monopólio da
propriedade fundiária, piorado ainda pelas pesadas tarifas
protetoras que um Parlamento de proprietários de terra tinha
assegurado às atividades agrícolas britânicas depois das guerras - as
Leis do Milho (Corn-Laws).

Mas as Leis só foram abolidas em 1846 e sua abolição não levou


imediatamente a uma queda no custo de vida, sendo duvidoso que
antes da era das ferrovias e dos navios a vapor mesmo importações
livres de alimentos o tivessem feito baixar.
A indústria estava assim sob uma enorme pressão para que se
mecanizasse (isto é, baixasse os custos através da diminuição da
mão-de-obra), racionalizasse e aumentasse a produção e as vendas,
compensando com uma massa de pequenos lucros por unidade a
queda nas margens.

[...] esta consideração leva-nos à fase seguinte do desenvolvimento


industrial - a construção de uma indústria básica de bens de capital.
IV

É evidente que nenhuma economia industrial pode-se desenvolver


além de um certo ponto se não possui uma adequada capacidade de
bens de capital.

Mas não existe um mercado [... suficientemente vasto] para pesados


equipamentos de ferro ou ligas de aço. Ele só passa a existir no
curso de uma revolução industrial, e os que colocaram seu dinheiro
nos altíssimos investimentos exigidos até por metalúrgicas bem
modestas (em comparação com enormes engenhos de algodão) são
antes especuladores, aventureiros e sonhadores do que verdadeiros
homens de negócios.
Em 1800, a Grã-Bretanha deve ter produzido perto de 10 milhões de
toneladas de carvão, ou cerca de 90% da produção mundial.

Esta imensa indústria [...] era grande o bastante para estimular a


invenção básica que iria transformar as indústrias de bens de
capital: a ferrovia. Pois as minas não só necessitavam de máquinas a
vapor em grande quantidade e de grande potência, mas também de
meios de transporte eficientes para trazer grandes quantidades de
carvão do fundo das minas até a superfície e especialmente para
levá-Ias da superfície aos pontos de embarque.
A estrada de ferro [...] era o próprio símbolo do triunfo do homem
pela tecnologia. [...] o imenso apetite das ferrovias por ferro e aço,
carvão, maquinaria pesada, mão-de-obra e investimentos de capital
[...] propiciava justamente a demanda maciça que se fazia
necessária para as indústrias de bens-de-capital se transformarem
tão profundamente quanto a indústria algodoeira.

Nas primeiras duas décadas das ferrovias (1830-50), a produção de


ferro na Grã-Bretanha subiu de 680 mil para 2.250.000 toneladas,
em outras palavras, triplicou. A produção de carvão, entre 1830 e
1850, também triplicou de 15 milhões de toneladas para 49 milhões.
[...] em 1855, a rentabilidade média do capital aplicado nas
ferrovias britânicas era de apenas 3,7%. Sem dúvida, os agentes
financeiros, especuladores e outros se saíram muito bem, mas não o
investidor comum – [Mauá: o imperador e o rei]

O fato fundamental na Grã-Bretanha nas primeiras duas gerações da


revolução industrial foi que as classes ricas acumulavam renda tão
rapidamente e em tão grandes quantidades que excediam todas as
possibilidades disponíveis de gasto e investimento.

Era uma conjuntura feliz, pois de imediato as ferrovias resolveram


virtualmente todos os problemas do crescimento econômico.
V

Traçar o ímpeto da industrialização é somente uma parte da tarefa


deste historiador. A outra é traçar a mobilização e a transferência
de recursos econômicos, a adaptação da economia e da sociedade
necessárias para manter o novo curso revolucionário.

O primeiro e talvez mais crucial fator que tinha que ser mobilizado
e transferido era o da mão-de-obra, pois uma economia industrial
significa um brusco declínio proporcional da população agrícola e
um brusco aumento da população não agrícola, e quase certamente
um rápido aumento geral da população, o que portanto implica, em
primeira instância, um brusco crescimento no fornecimento de
alimentos, principalmente da agricultura doméstica [...].
O vasto aumento na produção, que capacitou as atividades agrícolas
britânicas na década de 1830 a fornecer 98% dos cereais consumidos
por uma população duas a três vezes maior que a de meados do
século XVIII, foi obtido pela adoção geral de métodos descobertos no
início do século XVIII [...].

Tudo isto foi obtido pela transformação social e não tecnológica:


pela liquidação do cultivo comunal da Idade Média com seu campo
aberto e seu pasto comum [...], da cultura de subsistência e de
velhas atitudes não comerciais em relação à terra.
Era bem mais difícil recrutar ou treinar um número suficiente de
trabalhadores qualificados ou tecnicamente habilitados [...].

Felizmente, a vagarosa semi-industrialização da Grã-Bretanha nos


séculos anteriores a 1789 tinha produzido um reservatório bastante
grande de habilidades adequadas, tanto na técnica têxtil quanto no
manuseio dos metais.
Na teoria, as leis e as instituições comerciais e financeiras da Grã-
Bretanha eram ridículas e destinadas antes a obstaculizar do que a
ajudar o desenvolvimento econômico; por exemplo, [...] a
promulgação de caros "decretos privados" do Parlamento toda vez
que se desejasse formar uma sociedade anônima.

A Revolução Francesa forneceu [...] mecanismos muito mais


racionais e eficientes para tais propósitos. Na prática, os britânicos
se saíram perfeitamente bem e [...] consideravelmente melhor que
seus rivais.

Deste modo bastante empírico, não planificado e acidental,


construiu-se a primeira economia industrial de vulto.

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