Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
,:
O Romantismo
|
i 11
i i . J. Guinsburg
-
{
i
Organização
-
i
i
i
f im
I PERSPECTIVA
* J
>
I
\
f
j
05-4336 -
CDD 700.4145
;
Direitos reservados à
EDITORA PERSPECTIVA S.A .
Av. Brigadeiro Lu ís Ant ô nio, 3025
- -
01401 000 - São Paulo SP - Brasil
Telefax : (11 ) 3885-8388
www.editoraperspectiva .com. br
2011
:
\
2 OS FUNDAMENTOS HIST Ó RICOS DO
ROMANTISMO
Nachman Falbel
I. Introdução
\
então se desconhecem uns aos outros, mostra o de sua liberdade nacional. Boa parte das nações
quanto tentaram resolver os mesmos problemas européias acabam por adotar as formas governa-
humanos nas circunst â ncias que favorecem a mentais republicanas que substituem os Estados
ruptura com o passado próximo, ou com o mun
do “ordenado” da Idade Média, permitindo uma
- mon árquicos absolutistas. Tais revolu ções se alas
trariam inevitavelmente a outros continentes, en-
-
nova transmutação de valores. contrando solo f értil nas coló nias espanholas da
Amé rica e outras regiões do Continente europeu ,
O período do Romantismo é fruto de dois
grandes acontecimentos na história da Kumanida * - O fundo geral de tais revoluções aponta
derõlTsisjai ã Revolu ção Francesa TSUM deriva
'
24
II. A Revolução Industrial e Intelectual e rendas, onde não faltam as artimanhas da es-
peculação que a caracterizará futuramente.
As m ú ltiplas inovações ocorridas na técni
ca industrial a partir dos meados do século
- Na Inglaterra, desenrola-se o início de uma
evolu ção industrial que vai substituir as oficinas e
XVIII tinham por fundo histórico mais longín
quo o desenvolvimento do comércio que levou,
- tendas dos artesã os pelas grandes manufaturas e
abrir o caminho a um avanço tecnológico decisivo
como consequ ê ncia, ao desenvolvimento e ao
est ímulo dado à ind ústria. O comércio marítimo,
na história da economia ocidental .
que se fazia entre as metrópoles e as colónias O fenômeno paralelo que acompanha e parti
cipa desse processo é o crescimento demográfico
-
espanholas e portuguesas, até as do Extremo
Oriente, traz ao Continente europeu um gran - que, numa demonstração estatística ligada à re
gião da Inglaterra e ao País de Gales, aponta
-
de afluxo de metais preciosos. A Inglaterra ,
com sua política colonial e, utilizando-se de que o n ú mero de habitantes em 1700 era ao redor
de 5,5 milhões, em 1750 de 6,5 milhões e em
tfatados que a favorecem abertamente, tais co
mo o de Methuen, em 1703, e o de Paris,
- 1801 de 9 milhões, atingindo em 1831 a cifra de
14 milhões 3. O fato é que na segunda metade
em 1763, adquire privilégios comerciais imensos do século XVIII a população havia aumentado
que acabam canalizando para seus cofres quan
.
tidades significativas de metal precioso Também
- em 40 % e nas três primeiras décadas do século
XIX o crescimento foi superior aos 50 % . No
a França se beneficia do comércio intenso com a
Espanha e acumula continuamente o metal tão
Continente, por volta de 1700, a população passa
ria de 118 milhões para 180 milhões no fim do
-
procurado pelos governos das nações implicadas
nesse comércio internacional. Além do mais, já .
século Este aumento populacional n ão era con -
sequê ncia somente da taxa de natalidade, mas de
naquela é poca, pela facilidade e cará ter prático, é
outras causas, tais como a queda do índice de
-
introduzido o papel moeda que acompanha a di
fusão da técnica bancá ria, bastante aperfeiçoada
- mortalidade, que decresceu quase continuamente
.
a partir de 1740 Segundo Ashton, a introdu ção
pelo acú mulo de uma experiência que vinha des
de as grandes cidades medievais ligadas ao comér
-- das colheitas de tubérculos tomou possível ali -
cio internacional, tais como as cidades costeiras mentar mais gado nos meses de inverno, tornando
da It á lia e outras como Antuérpia, Amsterd ã, que maior o fornecimento de carne verde durante todo
o ano. A produção cada vez mais elevada do trigo
receberão posteriormente no século XVII, incen
tivos. Os bancos conquistam os Estados europeus
- e de cereais forneceu alimento importante para
do Ocidente ao Oriente, e as transações comer -- aumentar a resistê ncia dos indivíduos às doen -
ciais já não se fazem habitualmente com o empre ças. A imunização contra as enfermidades tam
bém cresceu devido à aquisição de hábitos de
-
go direto do vaior met á lico, mas de um meio cir - higiene pessoal melhor difundidos. O emprego de
culante mais cômodo e rápido, como o papel
-moeda, títulos de banco, letras de câmbio, que
- tijolos em lugar de madeira e da pedra em lugar
.
acabam por sobrepujar o anterior Os bancos e os do colmo na feitura dos telhados das casas pro
tegeu melhor as populações contra as epidemias.
-
banqueiros incentivam a ind ústria, desenvolvendo
uma técnica de crédito que encoraja os empreen - O cuidado com a localização das habita ções ope -
dimentos e os negócios industriais através de rá rias longe dos lugares insalubres e nocivos
trouxe mais conforto doméstico. O desenvolvi-
empréstimos f áceis, às vezes, em troca de tí
tulos e ações. Esse é o passo dado para a criação
- mento urbano levou ao emprego da pavimenta -
de sociedades de ações que encontram na Bolsa ção das ruas e à utiliza ção de esgotos e água
o seu mercado de transações, onde pululam os .
.
3 . ASHTON, T S < A Revolu ção Industrial , Lisboa , Pub
agentes de câ mbio que vendem ações, obrigações - .
Europa Am é rica, 1971, p 23.
OS FUNDAMENTOS HIST ÓRICOS DO ROMANTISMO 25
corrente, tornando a vida da cidade mais saud á - també m exercia alguma atividade agr ícola ao
vel do que era antes. A evolução das ciências mé- par do seu trabalho artesanal onde produzia teci -
dicas, da higiene, da cirurgia e constru ção acele- dos, armas e outros artigos que entravam no
rada de hospitais contribu íram para combater circuito do mercado nacional e eram també m ex-
doenças que até ent ão ceifavam as populações portados para as colónias no estrangeiro. Mas,
menos favorecidas. O progresso industrial deu quando os comerciantes se dedicam à ind ústria ,
també m sua ajuda ao cerscimento populacional , altera-se o sistema de produ ção; eles mesmos
pois a multiplica ção dos meios de subsist ê ncia aju-
dou a desenvolver o n ível do consumo em rela-
-
passam a fornecer a mat éria prima e a exercer o
papel de distribuidor do produto no mercado, li-
ção ao passado pró ximo. dam diretamente com o comprador e o fornece-
A introdu çã o de novas culturas e dissemina- dor, sendo que o passo final e decisivo será a
transformação do artesão independente em as-
:
çã o de outras, como o nabo e a batata , alé m
de fornecerem uma alimenta ção mais substancio- salariado com a apropriaçã o das m áquinas pelo
sa ao gado e aos homens, levou a um aproveita- comerciante, quer pelo fato de o artesão n ão
mento maior das á reas a serem lavradas. Houve poder cumprir com os compromissos financeiros
ampliação da superf ície cultivada, pâ ntanos e assumidos com o comerciante-empresá rio, quer
águas estagnadas foram drenados e antigas pas- por causa de adversidades ligadas à atividade agrí
cola do produtor art ífice. Nesse período, o da
-
tagens comunais transformadas em solo ar á vel .
O aumento do capital que se verifica na época manufatura , encontramos as primeiros escalas na
també m é acompanhado de um acréscimo na divisã o do trabalho que se aprofundarão na in-
capacidade de poupança em largas camadas da d ústria moderna. A divisã o de trabalho est á liga-
sociedade, poupança essa aplicada no mercado da à introdu ção da técnica do fabricante em
de capital que experimenta grande impulso nessas sé rie, que encontra um modelo precursor na in-
condições. A diminuiçã o gradativa da taxa de d ústria da l ã e na de alfinetes onde, segundo
juros em meados do século XVIII constituiu um Adam Smith, em 1776, os oper á rios, executando
sério fator que acentuou o desenvolvimento eco - uma, duas ou três das dezoito opera ções em que
n ómico, pois a livre iniciativa era estimulada por se dividia o fabrico, conseguiam produzir à mã o,
encontrar capital relativamente barato. 48 000 alfinetes por dia 5. Se a manufatura, de
um modo generalizado, caracterizava-se pelo fa-
As relações comerciais com os pa íses ultra- to de a produ ção se fazer em pequenas oficinas
marinos, a intensificação das trocas, a demanda
cada vez maior de produtos, as necessidades ou
individuais que trabalhavam para um comercian -
te, paralelamente encontramos grandes oficinas
os gostos especiais dos novos clientes, a luta con- onde se realiza o acabamento final do produto,
tra os concorrentes haviam operado uma con - oficinas que já pressupõem as f ábricas da nova
centraçã o comercial na ind ústria 4. Tal situa çã o sociedade industrial.
faria com que a ind ú stria dom é stica , principal -
. A Revolu ção Industrial també m se realizou
mente a ind ústria da l ã, onde trabalhavam nu-
gra ças a empresá rios ambiciosos que souberam
merosos propriet á rios das máquinas que utiliza
vam, sqfresse a pressã o das novas necessidades
- empregar a imagina çã o a fim de combinar os
do mercado. At é agora o artesão comprava a fatores produtivos em fun ção do atendimento
dos mercados, ampliando-os em benef ício pró-
maté ria-prima, trabalhava-a em sua máquina, para
depois vend ê-la pessoalmente , como produto, no prio. Tal espí rito empreendedor era acompanha
do de uma nova mentalidade e de novos senti
-
-
mercado. Normalmente era ele um campon ês que
mentos cuja b ússola económica foi a livre em - Vv-
26
presa. A regulamentação da ind ústria e, ao mes- inventores fossem homens sempre destitu ídos de
mo tempo, sua limita ção por meio de corpora- saber teó rico, como muitos autores afirmam com
ções, leis municipais e pelo Estado, cede lugar à insistência , pois ningué m ignora que f ísicos e
-
livre iniciativa, e foi nas regi ões menos submeti-
das à regulamenta ção e onde n ão se faziam sentir
qu ímicos, assim como cientistas de v á rias á reas,
estavam vinculados por diferentes laços de ami-
as organizações corporativas, tais como Manches - zade a muitas das personalidades da ind ústria, o
ter e Birmingham na Inglaterra, que se deu um
rá pido desenvolvimento industrial.
que envolve de certo modo uma via de comuni
cação entre a ciê ncia do pesquisador de gabinete
-
O espírito inventivo, devido aos fatores con
cretos mencionados anteriormente, levou a uma
- ou laborató rio e a experimentaçã o na oficina de
trabalho, para a solu ção dos problemas surgidos
verdadeira eclosão de inventos, que vieram so- na produ ção.
lucionar problemas ligados diretamente à técnica Uma longa sé rie de inventos ocorrem em pri -
de produção. A ind ústria, a tecnologia e a ciência meiro plano na ind ústria do algodão, livre dos
estavam indiscutivelmente atendendo às mesmas entraves corporativos e em rá pido desenvolvimen-
necessidades econ ó micas e sociais, ainda que mui- to. Em 1733 John Kay introduziu no tear im -
tas vezes o sistema de patentes, destinado a esti
mular o inventor , apresentasse o paradoxo de di-
- portante melhoria , a lançadeira . Ligada a um
sistema de duas rodas era atirada de uma ourela
ficultar o caminho a novas criações pelo fato de a outra por meio de martelos, atravessando com
confirmar privilégios durante espaço de tempo a trama toda a urdideira . Tal inovação, a lan-
-
excessivo. Contra esses abusos criaram se asso - çadeira volante, acarretava grande economia de
trabalho e permitia a um ú nico tecel ão confeccio-
ciações que n ão só visavam a contestar a legali
dade dos direitos exigidos pelos patenteadores,
- nar panos de uma largura que antes exigia o tra-
mas procuravam convencer os inventores a colo- balho de dois homens. Já em 1760, após serem
carem seus inventos à disposi çã o de todos, como vencidas as dificuldades da inova ção, a lan çadeira
no caso da Sociedade Promotora das Artes, Ma
nufaturas e Com é rcio, fundada em 1754, que
- estava difundida na ind ústria têxtil. Em 1738 Le-
wis Paul introduziu o cilindro de torçã o que de-
também os premiava. O Parlamento, por seu la
do, concedeu iguaimente recompensas àqueles
- sempenhou enorme papel na ind ú stria da fia ção.
A partir desse marco, os aperfeiçoamentos
que abrissem mão dos produtos de seu engenho t cnicos na ind ú stria t êxtil se sucederam num
é
em favor da sociedade e em benef ício direto dela . encadeamento cont ínuo, tais como a fiação com
Desta forma podemos encarar a Revolução In
dustrial como ligada à divisão de trabalho, sendo
- mais de um fuso ou spinning - jenny , em 1764,
de James Hargreaves; a water- frame , a m á quina
em parte causa e em parte efeito dessa divisão, movida a água , em 1767, de Thomas Highs ; o
que significava uma amplia ção do princípio da engenho mecâ nico de fiação, um desenvolvimento
especialização. -
da m á quina autom á tica de Lewis Paul , foi a con
Devemos ainda considerar que o surto de tribuição decisiva de Richard Arkwright , em 1768,
inven ções durante o per
íodo em questão, especial- para o avan ço da técnica têxtil; a mule- jenny ,
mente na Inglaterra, é fruto de um processo de em 1774, de Samuel Compton, que permitiu a
acú mulo de conhecimentos teóricos, a partir de urdidura de fios finos e resistentes; em 1784,
Francis Bacon, que contribuiu para o estabeleci- , Cartwright constrói o tear inteiramente mecâ nico
mento da ciência experimental, com a contribui- / e, no mesmo ano, Delaroche , na França, a m á -
ção de uma plêiade de filósofos e cientistas, tais quina de aparar o tecido. Na metalurgia , a fun-
como Robert Boyle e Isaac Newton , que assen- dição do coque, em 1735, por Darby, resolve o
taram os fundamentos do método científico mo
derno. N ão parece ser algo firmado que os
- problema da escassez do carv ão vegetal, devido
à constante ampliação dos pastos e a conse-
I
mais deixando-lhe senão o papel de preservador Concord e de Lexington , que um exército civil
da ordem em seu favor, voltar-se-á na Fran ça poderia se sobrepor a um exército militar, der -
diretamente contra a estrutura estatal, eliminando rotando-o. Já em 1775, após o segundo Con -
os ú ltimos entraves pol íticos do processo que ha- gresso “Continental”, os patriotas americanos, sob
o comando de George Washington, organizaram
via se iniciado com a Revolução Industrial,
as milícias a fim de lutar contra as forças da me -
tró pole. Sua plataforma pol ítica era anunciada
III. O Perí odo Revolucionário: A Revolução por Thomas Paine num folheto onde pregava a
Francesa e as Revoluções Européias independ ê ncia das col ónias e, mais do que isso, a
sua transforma çã o em rep ú blica. Em 4 de julho
Podemos falar na existê ncia de um período de 1776, após o Congresso que constitu íra a
revolucion á rio que se inicia a partir da Revolu
ção Americana e se estende até a Revolu ção
- -
Federação Americana, deçlarava se a indepen -
---
d ê ncia. A Revolu çã o Americana antecedia assim
Francesa. A colónia inglesa na América, bem su o movimento revolucion á rio europeu e fortifica -
cedida em seu desenvolvimento econ ómico, rei ria os sentimentos de independ ê ncia entre aque-
vindicou a independ ê ncia em relação à Inglater
ra, após uma fase de luta intensa contra o do - les que observavam os acontecimentos e cons -
tatavam a sua vit ó ria. Volunt á rios vindos da Eu-
m ínio brit â nico. ropa , tais como o polonês Kosciusko e o fran -
A Revolu ção Americana foi provocada pela cês La Fayette, mostravam que os acontecimen -
imposição inglesa proibindo a colónia de além
-mar de comerciar com qualquer outro país que
- tos no solo americano eram vivamente acompa
nhados pela Europa, pois a independê ncia ame-
-
n ão fosse a metró pole, ou seja, a imposiçã o de ricana alteraria o poderio colonial inglês. A
um com é rcio unilateral e exclusivo que limitava Fran ça n ão deixou de enviar forças para lutar
a col ónia e beneficiava a metrópole. Uma política ao lado dos americanos, até que a vitó ria militar
de impostos opressiva criou o ressentimento entre se decidiu favoravelmente aos revolucion á rios.
a popula ção da colónia e fortificou o sentimento
de revolta. A sucessão de protestos contra a
-
Em 1783, com o tratado franco inglês de Versa
lhes, a pró pria Inglaterra reconheceria a inde
--
Stamp Act de 1765 e contra os impostos do pend ê ncia dos Estados Unidos, que agora passa -
-
--- -
ch á, papel, vidro, chumbo, apoiavam se nas as riam a inspirar outros povos que tinham as mes
sembl éias coloniais que, por sua vez, se basea mas aspirações políticas. Se a revoluçã o ou a
vam na sustentação popular. O boicote e a agita independ ê ncia americana foi haurida nos escri -
çã o aumentaram a tensão entre os colonos ame - tos dos filósofos europeus desde Locke, Mon -
ricanos e os soldados ingleses, a ponto de se da - tesquieu e Rousseau , cujas teorias pol íticas foram
rem os primeiros recontros violentos em março de adaptadas às aspira ções locais das col ó nias, por
1770, na conhecida “ matan ça” de Boston. outro lado, as constitui ções e as declara ções de
Em prosseguimento a esse conflito, que se de direitos por ela elaborados serviram de mode -
travava entre a Companhia das índias e as co -
l ó nias americanas, o centro da disputa se desloca
lo a serem imitados pelos europeus em geral e em
particular pelos franceses durante a sua revolu-
para o monopólio do chá . Além das leis coer - ção.
O movimento de id éias que antecede a Re-
citivas contra os interesses dos colonos, a Quebec
Act de 1774, aumentou mais ainda o descon
tentamento geral , originando o Congresso antibri
-- volu çã o Francesa conhecido sob o nome gen érico
de “ Filosofia das Luzes” serviu de fundo ideológi-
.
tâ nico, organizado pelas colónias em 1774 Logo co para as teorias revolucioná rias. Observa se -
a guerra frontal eclodiria contra os ingleses, que Lock, em seu tratado sobre o governo civil ,
revelando pela primeira vez, nas batalhas de em 1689, isto é , cem anos antes da Revolu çã o
30
O Vag ão de Terceira Classe . por Daumier.
--
direito natural e expressas pela teoria de que o revelavam os pesados tributos que o rei outorga
poder legislativo deveria ser exercido por todos va à nobreza cortesã. Ao lado da crise financei
os cidad ãos e o poder executivo seria subordina - ra, a crise económica era també m profunda, e
do a ele. O Estado ideal para Rousseau é a pe
quena Rep ú blica do tipo existente na Antiguida-
- era motivada , em parte , por fatores indepen-
dentes da vontade humana. Más colheitas que se
de grega tal qual a de Atenas. Essa concepçã o re- acumularam durante alguns anos, a grande seca
teriormente sofreria acréscimos significativos. Os
-
percutiria al é m das inten ções de seu autor e pos de de 1785, que dizimou parte dos rebanhos e
do gado, arruinou o campesinato francês t ão
escritos de Rousseau o Discurso sobre as pressionado pelos impostos. De fato, nota-se um
Artes e Ciências ( 1755 ) , o Discurso sobre a De
sigualdade ( 1755 ) e o Contrato Social ( 1762 )
- decréscimo de nascimentos em contraste com o
aumento da mortalidade, à medida que se pas-
— constituem a literatura política de onde todas
as tend ê ncias modernas encontrarã o uma filoso -
sa do esplendor do reinado de Lu ís XV à deca
d ê ncia do reinado de Lu ís XVI. Tanto no co-
-
fia para a organizaçã o do Estado e da sociedade. mé rcio como na ind ústria , a França se achava
..
. Foi a Enciclop édia , publicada a partir de 1751 numa posi ção inferior e de atraso em relação
e traduzida em muitas l í nguas, que reuniu em
seus - verbetes a grande elabora ção intelectual do
'
'
à Inglaterra e uma política econ ómica desastro -
sa de exporta ção ajudou mais a outros pa íses do
I í uminismo. Na efervescê ncia pol ítica e cultural que à pró pria França. Desde 1783, quando Ca-
desse per íodo, surgiram uma infinidade de socie -
dades para divulgar as novas id éias dos Enciclope-
lonne é nomeado inspetor geral de Finan ças, a
inquietação em torno dos problemas financeiros
distas e seus disc ípulos. Antes que derrubassem
a Bastilha , s í mbolo do Ancien Regime , minaram
aumenta consideravelmente, em grande parte de
vido aos projetos de reforma do novo ministro.
-
os seus alicerces com as novas idéias. A Assembléia dos Not á veis, reunidos em 22 de
A revolu çã o de 1789 pode ser considerada
como parte da grande onda revolucioná ria que
fevereiro de 1787, que deveria aprovar os pro
jetos de reforma, n ão os aceitou e Calonne foi
-
atingiu todo o Ocidente europeu na luta contra o substitu ído pelo arcebispo de Toulouse, Lomé-
Antigo Regime. Ê claro que causas particulares
agiram favoravelmente para o sucesso da Revo-
nie de Brienne, para esta fun ção. Diante da opo
si ção reiterada da Assembl éia frente ao novo
-
32
ministro, Luís XVI acabou por dissolver a As - Com a formação da Assembléia Nacional, o
sembíéia, encerrando com este ato a primeira o Terceiro Estado estava preparado para uma in --
manifesta ção da nobreza contra a monarquia. vestida política que procurava representar os inte
Isto serviria de preâ mbulo ao futuro movimento resses do povo francês, começando por impor os
pol ítico da revolução. Quando o ministro Brienne seus projetos ao rei, a ponto de Luís XVI permi
tir aos nobres que se juntassem aos “comuns”, na
-
recorreu ao Parlamento de Paris para aprovar os
seus projetos de reforma, viu-se recha çado no Assembléia. A interpretação desse movimento
mais importante de todos, que era o da subven- pol ítico por parte da burguesia e do campesinato,
ção territorial, e mais ainda, o Parlamento exi- a certa altura, foi de temor e desconfian ça em rela
çã o a um poss ível complot da aristocracia contra
-
giu a convocação dos Estados Gerais. Mediante
tal pressão, e em consequ ê ncia da agita ção aris- os interesses do povo. Em princ í pios de julho de
tocrá tica que estava se formando, o governo foi 1789, tanto o campo como as cidades francesas, e
forçado a ceder. A monarquia , a essa altura, em especial Paris, passaram a hostilizar aberta
mente a aristocracia. Com a destituiçã o de Necker,
-
começara a perder o apoio da aristocracia, e os
parlamentares para obter o apoio da burguesia a rebelião explodiu com violência, e, em 14 de
falavam em nome dos “direitos da na ção”. Não julho , o povo de Paris, após ter assaltado os depó
sitos de armas, se dirigiu à Bastilha, sí mbolo do
-
é de se estranhar que se tenha formado um par-
tido de luta contra o governo com o nome de “ na- poder real. A revolta alastrou -se por toda a Fran
-
-
cional” ou “patriota ”, liderado pelos nobres li - ça em pouco tempo e o povo, desenfreado, pôs se
berais, por alguns magistrados, periodistas, “filo - contra os poderes municipais. O campesinato em
f ú ria , encontrando resist ê ncia , queimava os caste-
sofes” e advogados. Um comit é de coordenação
centralizava a a çã o desse “ partido” e uma de los feudais e as mansões senhoriais, querendo
abolir pela viol ê ncia o regime feudal. A violê ncia
suas exigê ncias bá sicas era a convocaçã o dos
Estados Gerais, ainda que divergisse da aristocra - gerou o terror e entre os pró prios insurgentes im -
cia quanto ao n ú mero de representantes do Ter-
perava o pâ nico, la grande peur. O medo ao ter
ror campesino impôs à Assembl éia Nacional uma
-
ceiro Estado e à exigência do “ voto por cabeça ” e
altera çã o em sua a çã o pol í tica , pois se tornou
de uma “constitui çã o”. A situa çã o pol ítica torna-
va-se cada vez mais delicada , quando um decreto
urgente a necessidade de terminar com a insurrei
çã o do campo antes que ela atingisse a proprie
--
anunciou que os Estados Gerais deveriam ser con-
vocados a primeiro de maio de 1789. Desde os dade burguesa. A forma de fazê-lo era canalizaT
primó rdios de 1789 começaram os preparativos
as reivindicações dos camponeses para os do
Terceiro Estado. Por isso a Assemblé ia Na-
para as eleições dos Estados Gerais, dando opor-
tunidade à burguesia de reivindicar livremente a
cional decretou a aboliçã o do regime de privilé
gios, a igualdade perante os impostos, a supressã o
-
supressã o dos privilégios, a elabora çã o de uma
dos d ízimos, resolu ções que repercutiram por todo
constituição e também a introdu ção do liberalis - o pa ís e arrefeceram o ímpeto revolucion á rio do
mo econ ómico. Em suma , a Revolu ção Francesa campo.
principia como uma revolta dos corpos consti - A Assembl é ia Nacional, através de seus cons --
tu ídos pela oposi çã o aristocrá tica e passa em
tituintes, iniciou em seguida a elabora ção da De
seguida a ser substitu ída por uma revolta da bur
guesia, que recebe o apoio maciço do campe-
- claraçã o dos Direitos do Homem e do Cidadão,
sinato. Este movimento no seu todo resultará na cujo teor acentuadamente universalista ultrapas
sou , em significado, o documento elaborado pelos
-
queda do velho regime 6.
revolucion á rios americanos. A ê nfase dada à
liberdade, fundamentada na afirma çã o de que
6 . CODEC HOT. ) , L* J Revoluciones
.
Nueva SHo, 1969 p. 44 .
- 1799 .
\ 177*1 ) ttnreeloun ,
“ os homens nascem livres e devem viver livres”,
34
:!
•
Revolu ção Francesa causava o maior impacto
na vida social européia. O pensamento social, a
subsistência. Os observadores da vida social tam
bém perceberam o paradoxo criado pela riqueza ,
-
partir desse tempo, criticou os sistemas sociais do de um lado, e a extrema miséria, do outro, de
passado como fundamentados na violência e no modo que, em meio da abund â ncia, grassava a
egoísmo que impediam o livre desenvolvimento fome provocada muitas vezes por crises decorren-
da natureza privilegiada do ser humano, ápice da tes de um regime de produção desordenado e
criaçã o divina. O socialismo passou a fazer parte an á rquico, conceituado pelo liberalismo econó-
de todas as doutrinas políticas que procuravam mico.
criar condições que permitissem o surgimento de Os pensadores mais extremados, como Blan-
uma sociedade harmoniosa e justa, onde o homem qui , Babeuf ,JBuonarrotti , partiram das posições
poderia dar expressão ao seu ser e à criatividade, jacobinas radicais para formularem uma doutri -
livre de entraves económicos e sociais. na social esteada na ígualdade absoluta. Esses ^
A Revolução Francesa, ainda que abolisse os ; pensadores n ã otratam somente~claTêvo í u ção po-
~
direitos e as instituições feudais, não aboliu a j j l ítica mas tambem dãTl oTu çâõ sõcÍã1 ê™aurecli
desigualdade entre os homens. A liberdade sem j j tã m na Lmnsf órmaçao dò omem~ OTrsidg ^^
^
" ^
-
"
^ | ldO
a igualdade foi considerada insatisfatória , pro -
como um animal soci à l ~ capaz de evoluir cada
-
pondo se, já naquela ocasião, que a propriedade vez..iRaisv-sejxm.e.
^ Na afiTmaçaõTfe
fosse limitada perante a lei e se reduzisse a dis- BÍ anqui , de que a moralidade é ~cTfundamento da
t â ncia abissal entre pobres e ricos, ou entre os
possuidores e “os que nada tinham a perder”. A
sociedade, encontra-se uma cren ça otimista quan
to à natureza humana, bem como f é na ciência e
-
política revolucion á ria formulou a teoria da to
mada do poder e a t á tica de manuten çã o no poder.
-
no valor da educa ção. Mas esse progressismo de
BÍ anqui não o impede, por outro lado, de se
A resistência dos privilegiados e da aristocracia mostrar intolerante, chauvinista e anti-semita ,
provava que toda transformação social era im
possível sem coação ou opressão social através
-
atributos que passarão a ser típicos da burguesia
francesa no fim do século XIX.
do uso da violê ncia. A idéia de que a revolu ção
exigia a formação de um governo revolucioná rio
O jargão revolucioná rio que antecede o sur
gimento do marxismo, posteriormente , aparece
-
ou de uma ditadura revolucion á ria tinha como nos escritos daqueles pensadores cujo “socialis-
fundamento a experiência francesa e os dias do mo” transparece em concepções confusas e
Terror que visava a combater a reação contra re
volucioná ria.
- -
muito vagas, ainda que um BÍanqui escreva ser
A igualdade social e o regime de propriedade a emancipação dos trabalhadores, o fim do regime de ex -
foram alvo de novas teorizações por parte dos ploração . . . o advento de uma nova ordem social destina-
pensadores franceses e ingleses. Esses ú ltimos da a libertar os trabalhadores da tirania do capitalismo
seguiam princípios filosóficos que vinham desde aquilo que a rep ú blica deve realizar
Locke e se estendiam através de Adam Smith,
penetrando no terreno mais sólido da economia. Buchez, em 1833, na Introduction à la Science
O capital, na interpreta ção dos socialistas, era de VHisfoire , considera que é a sociedade dividida
o fruto do trabalho dos oper á rios, após terem " em classes, uma das quais possui os instru-
eles recebido o seu quinhão em forma de sal á
rio; portanto, eram os trabalhadores os criadores
-
mentos de trabalho, terra, f ábricas , casas , capi-
tais, nada possuindo a outra , “ que trabalha para
da riqueza social. Assim sendo, era injusto que a primeira ” 9.
não tivessem o direito ao valor integral do pro
duto de seu trabalho e ficassem limitados apenas
-8 . TOUCH . m > , J , / / istorio dv las Ideas Pol í ticas. Madri ,
\
Ed . Tecnos. 1970, p 442. ,
a uma parte do valor que permite apenas a sua 9 , Idem , ibidetn , p . 445 .
Ú
vezêTcorn
J
^mantismo pol í tico manifesta-se muitas
tendências sócrã is cóht íâditórias, sendo,
participação popular, Chegou a vez do verbo, do
convencimento, do entusiasmo, todos eles confi-
portanto, impossí vel determinar- se qual a ligação
"
gurados peia literatura pol í tica t í pica do Roman-
direta do socialismo da epoca com todas as dire
ções que . o . Romantismo tomou em termos po-
- tismo. A literatura histórica é parte da literatura
pol í tica . As grandes obras , como a Histoire de
liticos JPodemos _ale diferenciar entre o roman- la R êvolution Française de Thiers, escrita entre
tismo^pol ítico alemão , nitidamente coriservãdor, e 1823 e 1827 , a Histoire des Girondins de Lamar -
ò italiano, em sua maioria liberal , o ingles apre- tine . escrita durante os anos de 1848 - 1849 , ou
sentando as duas tendê ncias em vá rios de seus ainda a Histoire de la R ê volution de Michelet, em
representantes, como poder í amos exemplificar em 1847 , foram elaboradas com conceitos impregna-
Byron e Coleridgé i ^ dos de romantismo pol ítico, procurando, ao mes-
- - Na França, várias foram as fases do roman
tismo pol í tico, não se encontrando nenhuma linha
- mo tempo, extrair do passado uma orientação para
o futuro da sociedade humana . A História oferece
os ~ã7gu
uniforme que permita fazer uma caracterização
ecisa . Se , de um lado , o saudosismo sentimen - ^ í t ica , comprovando
as concepções pessoais dos historiadores e tal in-
^ ^^
, -j taLpara com a antiga Fran ça impera nos primei- tenção é expressa por .Thierry no pref á cio ao Dix
^
\ " ros românticos , já em Chateaubriand e Lamarti -
ne se visualiza uma concepção inteiramente mo-
n á rquica . Na Revolução de 1830 contra a monar-
quia dos Bourbons, os revolucionários parecem
Ans D' Ê ttides Historicities , quando escreve que
em È S 17 . preocupado pelo vivo desejo de contribuir
para 0 tnunfo^
da$ idéias constitucionais mt ®
n procurar nos livros de Historia provas e argumentos
ao mesmo tempo querer derrubar o romantismo
t
em apoio minhas crenÇas pol í ticas * « .
difundido nos meios intelectuais franceses. Mais
tarde, com Victor Hugo, que se identifica com A imaginação do historiador e sua participa-
as idé ias de progresso, fraternidade e democracia ção pol í tica pessoal nos acontecimentos da época,
do povo , deparamos com uma nova tendência do bem como suas convicções intelectuais s ão ele-
romantismo pol í tico. mentos que interferem na ciência histórica desses
Çertos yajores sobress -se nesse romantis- homens. Ê inegável , poré m , que a ciência histó-
^^
mo pol ítico , valores esses que o definem melhor e rica da época se vincule ao romantismo pol ítico
õ quá l íficâ m histõncã mentr como perté ncénte ao
'
e aos sentimentos mais profundos sobre um pe-
secuIo XiA r pois ele se alimenta das evocações da
(
. ríodo considerado de transição, paralelamente do-
Revolução Francesa e do Impérío qUe a SUcedé
"
O Heroísmo, o sacrif
^^
^
passado representado pelos grandes acontecimen- próprio , se manifesta como piedade pa15W os
~
-
^
imensamente rico e criador. A idealização ocorre
^
^ ^
Indifference en Ma
/ /ère e Religion e Livre du Peuple , foram escritos
também em relação à pol^ítica que, desde Ma
quiavel , estava ligada às manifestações mais
- com este espírito, tendente a um socialismo senti-
mental de uma personalidade româ ntica . Nele se
feias da alma humana, assentando-se na habili- mesclam e acabam se identificando ética religio-
dade da manipulação pessoal , secreta e enganado- sa ética social , onde uo que o povo quer,
ra. Agora , a pol í tica é arejada pela participação
pú blica do acontecimento e peio apelo verbal à 10 - idem , ibidem , p , í 00.
>
36
Deus mesmo o quer”, sendo a causa do po -
de Blanc, muitas vezes mal interpretado, teve
vo uma causa santa, a causa de Deus Mui -
aceita ção bãst á nté à mplà n õ níéíó opêrã r ío^cia
*
-
ção Francesa não se acham em contradi ção com
os princípios cristãos, mas que decorrem deles. de Independence americana , a qual assistiu e deu
Para Buchez, a civilização cristã culmina na Re -
um 'significado histórico político cêndentai; - «
volu ção Francesa e a civilização moderna se
'
crend ò, mesmo, que levaria á tfanstofmação à
inspira no Evangelho. Entre as idéias socializan -
sociedade europeia então vigente. O saint-simo-
tes que Buchez desenvolve, já nos deparamos com nismo chegou a formar uma verdadeira escola
a afirma ção teórica da associação operá ria e do com T multiplicação de adeptos que o seguiram
cooperativismo de produ ção. Sua influ ê ncia foi e adaptaram as doutrinas originais do fundador.
importante nos meios operá rios e constata se -
Um centro de irradiação de suas doutrinas foi a
certa relação entre suas idéias, que formulam um Escola Politécnica de Paris, onde se destacaram
socialismo crist ão, e as de Pierre Leroux ( 1797- nomes, como Enfantin , Michel Chevalier e ou -
-1871 ) , que tenta uma síntese entre o Evange- tros engenheiros, que seguiram o espírito positivis -
lho e a Revolução em um vasto conjunto de obras ta das f érteis id éias de Saint-Simon. O positivis-
dedicadas às questões sociais. No mesmo per íodo mo filosófico sairá do arsenal de idéias de Saint -
temos o nome de JLoui§.,Blanc ( 1811-1882 ) jmjas Ç- -Simon através de seu famoso secretá rio Augusto
id éias deixaram a burguesia francesa preocupada, ^
Comte. Touchard dirá com razão que o saint-si-
devidoa ê nf ãsFd âid áà ^organTzãçaõ dolr ãbãlíio” .
^
momsmo é um positivismo apaixonado, impregna7
Em um lblheto publicádif em ' T82P0C sòb "Ôl®u!o cio de romantismo 12.
'
'
^ /^f
i ^ /
C
/ óí , •'
V '"
*•
V
^ VV
*
v £ A/ V
v£> ^
u.
:]
mudan ça social, ele deve empreendê la organi - - ro limitado de 1 600 pessoas que assumiriam to-
zando a economia e em particular o crédito. O go - das as fun ções do pequeno núcleo social reve-
verno ideal seria um governo tecnocrá tico que ti
vesse a capacidade de planejar os assuntos econó-
- zando-se uns aos outros. A arquitetura do falans-
tério obedece a critérios que devem favorecer a
micos. Mas seria simplificar em demasia se vísse - cria ção de um ambiente agradá vel e atraente aos
-
mos em Saint Simon apenas o formulador de uma seus habitantes. O trabalho deverá ser organiza-
reforma econ ómica, incapaz de extrair conclusões
mais amplas sobre a vida social. Desde já deve-
do de modo a evitar o cansaço e a rotina desgas
tante, alternando-se o labor artesanal com a fama
-
mos declarar que o aristocrata francês antecede, agr ícola. Também Fourier, que n ão preconiza exa-
em suas conclusões, boa parte das premissas teó - tamente um sistema comunista, quer associar os
ricas de Marx e seus seguidores mais próximos.
-
Porém em Saint Simon e sua escola o progresso é
capitalistas à criação dos falanstérios, sob a pro
messa de que as inversões de capital resultarão em
-
representado como uma linha cont ínua que deverá bons lucros. Na composição da sociedade ideal ,
levar a uma nova sociedade da fartura onde reina- isto é, do falanst é rio, haveria que levar em conta
rá a harmonia universal. A realizaçã o desses so- a diversidade da natureza humana e as paixões
nhos ficará a cargo de engenheiros, como Fer
dinand de Lesseps, que abrirá o Canal de Suez;
- que movem o homem em sua a ção a fim de
combinar os caracteres em grupos harmónicos
dos irm ãos Pé reire, que organizarão o crédito e integrados. Orientadas com inteligê ncia , as
mobiliá rio, de financistas, administradores, como paixões favoreceriam a fraternidade e a colabo-
Michel Chevalier, expoentes da economia capita
lista em franca expansão. A utopia social saint
-
-
ra ção entre os membros do falanstério , que
seria o modelo de uma sociedade racional,
-simoniana vai ao encontro do próprio desenvol- todirigida e capaz de satisfazer os anseios huma -
-
vimento do capitalismo e do bem estar que ele po
derá promover em toda a sociedade.
- manos.
-
Menos influente do que Saint Simon , porém
Com a morte de Fourier, suas doutrinas con
.
-
trar o remédio certo para os males sociais.
Na Inglaterra, o socialismo ut ó pico tem seu
representante num empresá rio de talento, bem
Stiaj> aumçntp jde pxõdu çao sucedido economicamente , que pouco especulou
más o bem-estar dos consumidores e a organiza-
^
38
,
y
:»
U UW ' A
Kl > */
•••
r í *
v\&
4
-
v'XA **ly/uV''
/ ( ív) JC/ sí As ®C •
*
_
sobre a natureza humana, mas que se empenhou
com energia e aplica ção met ódica em realizar a
reforma social , Robert 0>ven ( 1771-1858 ) co-
meça seu programa de reforma assumindo uma
reinará uma nova morai e imperará a felicidade
entre os homens, concepções que expressa no
Catecismo do Novo Mundo Moral em O Novo
Mundo Morah O pragmatismo de Owen, que con -
~
atitude filantrópica perante o trabalhador de sua fiava na reforma da sociedade sém à necessidade
" '
própria empresa, melhorando sua habitação, re - dõ emprego de meios políticos, contrasta çppLi>
duzindo a jornada de trabalho, construindo esco- cartismo, que no inicio foi impulsionado por
las , desenvolvendo as condi ções - de higiene, au- owemstas dissidentes e_mti£os.disciDulos.dajadus
. -
mentando os salá rios e dando-lhe boas condições trial ingles O movimento cartista adotou essen -
de trabalho. Nesse sentido, o experimento em New cialmente uma linha política e a Working Men’s
Lanark foi uma inovação para os padrões da Association, fundada em 1836, era composta
-
época, apresentando se Owen como um empre - somente de trabalhadores, apresentando se como
uma organização popular. Animado por uma ideo-
-
sá rio pioneiro e ilustrado, assim como um capi-
talista inovador em relaçã o à classe produtora. -
logia de classe, transforma se em um movimento
revolucioná rio que penetrará nas regiões mais
Por outro lado, o pensamento de Owen recorre à
ajuda do Estado para que se imponha uma le- industrializadas da Inglaterra, mas que começará
gislação social capaz de proteger o trabalho de a esmorecer a partir de 1848.
menores e, em 1819, tal legislação foi adotada, Notá vel será a influência de Proudhon 11809- ,
^
é de urna sociedade aná rquica, onde o poder pol í-
nos ú ltimos anos de sua vida se fixa na idéia e tico seria substh u íírõ p Ialívré ãssôciãçao dõslxã
" "
^
’
-
na crença de que se aproxima o tempo em que balhadores. A sua concepção de Estado e federa
's s (P
tf í\
"
-
OS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DO ROMANTISMO 39
lista, pois no seu entender, essa , instituição é con- prometêico de Proudhon e, mesmo que se possa
sequência da reuni ão de vá rios grupos diferentes, criticar as f órmulas pouco aplicá veis que propôs
por natureza e por objetivo, “formados cada um para aliviar as enfermidades sociais, não deixa
para o exercício de uma fun ção especial e a cria - de ser admirável até os dias de hoje a riqueza
que manifesta sua obra .
ção de um objeto particular, unidos sob uma .
lei comum e com um interesse id êntico” 14. O O anarquismo que frutificou, ao lado do socia-
princípio federalista também se estende ao campo lismo como uma forma do romantismo pol ítico da
-
internacional, apresentando se como solução para época, também teve em Proudhon um de seus
doutrinadores. Os historiadores do anarquismo,
as rela ções entre países ; nesse sentido, escreveu
uma obra em 1863 sob o t ítulo Du Prí ncipe Fédê- como George Woodcock, apontam o papel rele -
.
ratif A diferença de Proudhon com respeito a vante que as idéias proudhonianas exerceram no
muitos dos socialistas contempor â neos é o iguali- movimento:
tarismo extremado, e a famosa frase segundo a Em 1840, Pierre-Joseph Proudhon, aquele tempes -
qual “a propriedade é um roubo” advé m de uma tuoso, argumentative individualista que se orgulhava
convicção profunda na igualdade de condições,
que Proudhon considera o prmcípio umversal da
”
de ser um homem de paradoxo e provocador de con
tradições, publicou a obra que o firmou como um pen
--
* sociedade. A liberdade e a igualdade devem en - sador libertá rio pioneiro. Foi O que é a propriedade? ,
onde deu à sua pr ó pria pergunta a célebre resposta:
contrar o seu equilíbrio, sem o sacrif ício de uma
- “ A propriedade é um roubo”. No mesmo livro tornou-se
à outra , mas se realizando pela solidariedade fra o primeiro homem a reivindicar voluntariamente o t ítulo
.
ternal Em Confessions d f V n Révolutionnaire for - de anarquista
mula seu ponto de vista, dizendo:
--
O socialismo do século passado, que se le
Do â ngulo social , liberdade e solidariedade são termos vantara contra o liberalismo, defensor das posi
idênticos: a liberdade de cada um encontra na liberda
de dos demais, não um limite, mas um apoio: o ho-
- ções da classe média, proclamando os direitos das
mem mais livre é o que tem mais relações com os seus classes trabalhadoras 17, reuniu em sua forma ção
semelhantes 15. três contribuições, segundo a feliz interpretação
Na aplicação prá tica dessas idéias, e como uma de Moisés Hess: a francesa , no campo da teoria
possibilidade de resolver o problema social sem revolucion ária ; a inglesa, no campo da economia ; e
violência e sem luta de classes, propõe como a alem ã , na esfera da filosofia. A inten ção univer-
. modelo a associação mutualista , que garante a salista dos pensadores socialistas n ão era suficien -
seguran ça econ ómica e social aos seus afilia - temente forte para impedir a manifestaçã o de ca -
dos. Proudhon imaginou o Banco do Povo co- rá ter nacional, onde poderíamos encontrar as
mo uma das formas mutualistas sem que tal raízes mais profundas de sua inspiração Ê im . -
projeto fosse jamais concretizado na prática. possível entendermos o romantismo político da
Apesar de tudo, encontra-se no proudhonismo época sem levarmos em conta a poderosa força
uma exaltação radical de valores morais, fun- do nascente nacionalismo.
damentalmente o da justiça, que justifica as
revoluções na história da humanidade. A essência V. A questão nacional e o surgimento do
da justi ça é o respeito à dignidade humana no nacionalismo
tempo e no espaço, sem compromissos com os
obst áculos que se possam apresentar em sua de - O golpe de Estado de 18 de brum á rio do
ano VIII (9 de novembro de 1799 ) passou a ser
fesa. Aqui surge o fundamento do humanismo
14 , De la ustice, quarto estudo, apud TOUCHARD, Op, cit ., 16 . WOODCOCK , G. Anarchism. Penguin Books, 1970 , p. 9.
p. 437 . . .
. .
17 LASKI, H . J. Bl liberalismo europeo Mexico, Ed Foado
.
IS . TOUCHARD, Op citp. 437, dc Cultura Econ ómica, 1953, p 206,
40
um marco histó rico n ã o somente para a França esses utilizados na literatura patriótica do século
mas també m para o continente europeu. Al ém de passado. Foi Rousseau quem deu ê nfase ao patrio-
estabelecer um regime autorit á rio apoiado na força tismo republicano que identificaria a Revolução
militar, desencadeará um novo processo de conso
lidaçã o da Revolu çã o Francesa perante os Esta-
- com a nação. Em seu Discurs Sur UOrigine et
Les Fondements de Vlnégalit é Parmi Les
dos europeus. As guerras empreendidas por Na
poleão Bonaparte faziam parte desse desenvolvi
-- Hommes, transparece esse patriotismo sob a for
ma de amor à liberdade e às leis e costumes tra
-
-
mento político-militar que levaria os exércitos da dicionais. Na Encyclopédie escreve que o amor à
França a enfrentarem as forças coligadas da In -
glaterra , Á ustria , Ná poles e os Estados satélites
pá tria é o meio mais seguro para algu ém ser um
bom cidad ão: “O amor à pá tria é o meio mais efi -
que dependiam dos aliados. Com habilidade de caz; pois, como já disse, todo homem é virtuoso
estadista e gê nio militar, Napoleão havia impos- quando sua vontade particular é conforme em tudo
to em 1801 uma verdadeira pacificação geral com a vontade geral, e nós queremos de bom
entre os beligerantes europeus, mas os trata - grado aquilo que querem as pessoas que ama -
dos assinados nesse ano foram de pouca dura ção. mos” 18. Mas é necessário ressaltar que, em Rous -
Outros planos se escondiam atrás da política do seau, o cidad ão individual continua sendo a base
ditador corso, pois logo ficou evidente que cons
tru íra uma estratégia ligada a uma forte ambição
- da pátria , e o fim do Estado é a felicidade e a li-
berdade individuais. Com razão um autor ressal-
pessoal, que deveria assumir a forma de uma ta que, em Rousseau, a natureza mais íntima
monarquia expansionista tendo por objetivo a do homem é constituída pelos simples sentimen -
conquista de todo o Continente. Durante o seu ; ;
poder, as vitórias e as derrotas, a guerra e a paz, \
tos morais e gostos estéticos que são desfigura
dos e embotados pelas exigências da civilização.
-
contribu íram para transformar o panorama políti l \
co europeu e, mais ainda, ajudaram à emergência \ \
- O Estado ideal seria aquele que pudesse restabe-
lecer uma primeira idade de ouro, onde uma co-
de novos Estados nacionais inspirados, de um lado, j j munidade natural est á unida por sentimentos mo-
-
nas id éias revolucion á rias e, de outro, nas tradi j \ rais e uma vontade comum 19. A sua contribuição <
çoes culturais e populares despertadas em na j
cionalidades que haviam recém-descoberto a sua
-^ maior para o nacionalismo moderno foi a de ape
larraos"Fundamentos sentimentais e morais da co -^
consciência nacional e ambicionavam um lugar ao mumdade e do Estado para levar o cidadao a
sol entre as na ções. A figura rom â ntica do im - participar ativamente como responsavél por seu
perador francês aparece, ao mesmo tempo, co- destino. O amor a patria e a virtude eram~~
possí -
mo o “libertador” das na ções, a ponto de um veis em um Estado no qual oscídãd ãõs f õssêm 11-
"
"
musicais, para retirar a dedicatória pouco depois, Róusseau já compreendia o papel que as
com forte sentimento de decepção para com o condições históricas e ambientais assumiam ao
“ opressor” das nacionalidades. Cedo ou tarde, diferenciar os agrupamentos humanos e criar as
essas nacionalidades reivindicariam o direito à
autodeterminaçã o, convictas de que eram do - individualidades nacionais. Em um de seus úl -
timos escritos políticos, Considérations Sur Le
nas de seu pró prio destino, n ão devendo obe - Gouvernement de Pologne , esclarece qual de -
diência a nenhum poder, vendo na liberdade ve ser o m é todo acertado para educar os ci -
coletiva e na igualdade da cidadania a realiza
ção dos ideais supremos da humanidade.
- dad ãos desde a inf â ncia para que adquiram o
Nesse sentido, certos conceitos são emprega - -
Fondo de Cultura Econ ómica , 1949 , pp. 208 209.
.
IS . KOHN , Mans. Historia del nacionalismo M é xico, Ed .
dos como se possu íssem o mesmo significado, tais . -
19 . CROSSMAN , R . H .S. Biografia del Estado Moderno M é xi
como república, pá tria, nação, Estado, termos -
co, Ed. Fondo de Cultura Econ ó mica , 1970 , pp. 133 4.
das etapas primitivas e pré-civilizadas da evolu ção A reaçao contra as invasões dos exercitos
humana 20. Em Herder, o conceito de Volk ainda napoleônicos também se apresentou sob a forma
- ---
assume um significado cultural mais do que pol í de luta entre dois princípios: o nivelador ou uni
tico e, de fato, os estudos que encetou no campo versal, que visava eliminar as peculiaridades na
da lingu ística e da literatura revelam a paixã o cionais de cada povo, e o princípio da identida
peto trabalho erudito e pela investigação profun - de nacional, que cada territó rio invadido sentia
ameaçado. A resist ê ncia jnilitar contra as tropas
20 , KOHN . Op. citji. 2<>7 . francesas de Napoíeão provocaram o advento
:r:
=
v.vw:*: ' •
44
como representante do rei da Prussia; Lorde Cas - ja Romana recupera seu prest ígio e assume nova -
-
tlereagh atuando pela Grã Bretanha e Talleyrand mente uma elevada posição, recebendo apoio
pela Fran ça, tinha pOT objetivo apaziguar as ques
t ões européias, atacando de frente as velhas pen-
- do Estado e participando ativamente na socieda
de. Mesmo na Fran ça onde fora perseguida, ela
-
-
dências. Antes de tudo, devia se evitar uma nova
agressão da Fran ça e restaurar os legítimos go-
ganha terreno com a reação ao racionalismo do
século anterior e ao livre pensamento dos grupos
vernantes em seus respectivos territórios a fim de mais radicais.
estabelecer o equilíbrio do poder entre os gran- -
Os anos de 1815 1816 não foram favorá veis
às colheitas e os resultados se fizeram sentir em
des Estados. Tal princípio condutor da política do
Tratado de Viena acabou por designar territó rios todos os setores da vida económica, provocando
a poderes contra a vontade de seus habitantes. A uma depressão geral. Desemprego, altos impos
tos, falência de bancos e de muitas companhias
-
Bélgica e a Holanda formaram os Pa íses Baixos
como um Estado-tampão contra a Fran ça. A No
ruega passou da Dinamarca para a Su écia . O
- comerciais caracterizaram esses anos dif íceis, que
já faziam parte do grande processo de revolu ção
Palatinado se agregou à Bavá ria. As províncias .
industrial descrito anteriormente Tal situação
alem ãs da Saxônia , Vestf á lia e da Ren â nia, bem -
n ã o trazia simpatias políticas ao regime mon á r
como as polonesas de Posen e Pomorze passaram quico restaurado. O crescimento demográfico ex -
-
à Prussia, incluindo se també m a Pomerânia sue
ca. A Alemanha foi constituída em confedera ção
- plosivo, acompanhando o desenvolvimento econó-
mico que forçou a mudança na técnica de pro-
de Estados dominados pela Á ustria, englobando
a Lombardia e Veneza. A Polónia perdeu a sua tensã o, exigiu e formou novas classes, remodelou
-
du ção e na formulaçã o das ci ências em toda a ex
independência como Estado, caindo boa parte a organização estatal, criou novas forças políti -
de seu territó rio nas m ã os da R ússia. Esta obteve cas que disputaram o poder político com a aristo -
ainda a Finl â ndia e a Bessará bia. A Gr ã-Bretanha, -
cracia. Banqueiros influentes, financistas e indus
além de conservar boa parte de suas conquistas, triais exigiam a participação na conduta dos as
suntos de governo e Estado e começaram a
-
acabou ganhando Malta e Heligol â ndia, al ém das
col ónias holandesas do Cabo, Ceil ã o e as Ilhas substituir nobres, clé rigos e militares com a in-
Maur ício. A Grã-Bretanha , Prussia, Á ustria e .
tenção de defenderem seus interesses A aristo -
Russia se propuseram a manter o estabelecido
seguiKh : princí pio do equil í brio do poder durante
• >
cracia estava pouco habilitada a enfrentar e di
rigir uma sociedade política inteiramente trans-
-
muito tempo, mas pouco duraria a união entre os formada e avançando para novos rumos históri-
grandes Estados europeus. A Inglaterra se mos - cos. A revolução económica se refletiu nas rela -
trava pouco propensa a intervir em outros Esta
dos para manter o combinado; no Congresso de
- ções entre os povos europeus e os de outros con
tinentes, levando à emancipação das colónias
-
-
Aix-la Chapelle de 1818 e novamente no de americanas, bem como à abolição da escravatura.
,
Troppau em 1820, ela se negou a fiscalizar a po - A fermentação política caracteriza o per íodo a
lítica européia. Tal papel caberia à Áustria, que
o aceitou de boa vontade e Metternich tornou-se
partir de 1815. Espanha, Portugal, Piemonte e Ná-
poles, inspirados na tentativa fracassada da Espa-
o cão de guarda do Continente, estabelecendo um nha, dè conseguir uma Constituição em 1812, se
sistema de espionagem e repress ã o contra todo e vêem envoltos por agitações e revoltas que es -
qualquer lugar que apresentasse sinais de agita
çã o revolucion á ria.
- -
touram nos anos de 1820 1821, Os revoltosos
exigem constituições democrá ticas para os seus
A Restaura ção trouxe de volta a monarquia .
pa íses e reinos E enquanto as tropas austr
íacas se
e o princípio din ástico, que atraíram as forças de dispuseram a sufocar os levantes do Piemonte e
maiores oposição contra si. Alé m do mais, a Igre- de Ná poles, as rebeliões em Portugal e Espanha
^
Çxfoí 7 so o HÕme nJê CarXos
^^ ^ ' " X , provocou a bloqueou a costa da Holanda , os revolucion á rios
^ ^
^^
<
ira dos revolucion á rios com a sua pol í-
tica osten belgas foram bem sucedidos, impondo como so -
sivamente reacion á ria que chegou a indenizar os berano -
do novo reino, Leopoldo de Saxe Cobur
go. Em 1839, a Bélgica foi reconhecida como
-
antigos nobres pelos bens a eles expropriados,
durante a Revolu ção de 1789. Os melhores repre
da vida intelectual francesa
--
e dos cír
reino independente. Em outros lugares da Eu
ropa, tais como nos Estados confederados da Ale
-
-
sentantes
cú los liberais lideraram a oposi çã o à monarquia manha , em Hanover, Saxônia e Brunswick irrom -
pouco habilidosa de Carlos X, figurando, entre peram revoltas locais que lograram certas conces -
eles , Lamartine, Victor Hugo, Thiers e Royer
, que n ã o pouparam esfor ç os
- em apon -
soes de seus governantes. Em alguns Estados, co
mo Baden e Bavá ria, que já haviam instaurado
-
-Collard
tar a política retrógrada do governo. O maior sistemas parlamentares, os liberais chegaram a
embate entre o rei e a opinião pública se deu ter vit ó rias pol íticas que favoreceram a liberda-
s
no momento
ã o da
em
liberdade
que
de
Carlos
imprensa
X prop
contra
ô s-a
a supres
vontade
de
te
de imprensa e permitiram atitudes abertamen-
cr .
íticas em face da política governamental Mas
da Câ mara , o que levou à dissolução desta . A em 1832, a Á ustria e a Prussia forçaram a Con -
seguir, o rei assinou as “Ordenações de Julho” federa ção, em Frankfurt , a aprovar resoluções
que decretavam : a ) a supress ão da liberdade que possibilitaram controlar a imprensa e oprimir
de imprensa ; b ) a modificação da lei eleitoral, a oposição em todos os Estados germ â nicos. Na
alterando o censo exigido aos eleitores; c ) a dis
solu çã o da C â mara ; d ) a convoca çã o
- de novas
It ália e nos Ducados de Parma, de Modena e na
Romagna , que pertenciam ao Papa, o movimen -
elei ções. Era o que faltava para que se deflagrasse to revolucion á rio, a partir de fevereiro de 1831,
a insurreiçã o dos grupos republicanos e bonapar
tistas que , com armas , invadem as casas
-e arrastam
procurar á estabelecer regimes constitucionais em
lugar dos déspotas do poder e também criar as
atrás de si o povo revoltado. Os amotinados con
seguem enfrentar as tropas legalistas e provo-
- “ províncias unidas da It á lia”, como in ício de uma
grande unifica ção nacional. Os austr íacos, n ão
cam a abdica çã o de Carlos X que se refugiou na \ i consentindo que se chegue a concretizar tal inten -
Inglaterra. Tudo indicava que a república como \ cão pol ítica , esmagar ã o a revolta com os seus
o ideal pol ítico almejado pelos insurretos triunfa - \5 exé rcitos. Por fim , as lutas e insurreições de 1830
ria em 1830 mas, na verdadépornovo govèffid I entre forças conservadoras, dinásticas e clericais,
^
^
TTòTiJríêntáção de Thiers, coube à pessoa de Lu ís j de um lado, e as liberais nacionalistas e republi-
Filipe de Orleans, que deu in ício a uma nova , j \ canas, de outro, tornaram-se generalizadas na
realeza , embora mascarada por um soberano bur - maior parte dos territórios do continente euro -
gu ês. As “ Ordenações de Julho” e a censura são . peu A maioria dos liberais, que desejava criar
abolidas e o monarca passa a usar o título de regimes parlamentares e representativos, também
“ Rei dos Franceses”, que substitui o de “ Rei da era nacionalista, e visava à unificação e à inde -
Fran ça ”. No fundo, a revolução dos republicanos pendência das nacionalidades que tinham cons -
--
e bonapartistas levou à cria ção de uma monar ciê ncia de suas diferenças em relação às demais,
quia constitucional, inspirada , é verdade, em prin Era um período favorável às sociedades secretas
--
ficuldades pelas quais passavam as camadas mats Mas tal orientação se mostrou inoperante e anti
baixas econômica, n ão solucionando a questão do de
^
proletariado J á em 1834, havia explodido uma
insurreição de operá rios em Lyon, ao mesmo
semprego, o que levou o governo a fechar as
“ Oficinas”. O proletariado, desgostoso com a si -
tempo que uma grande agita ção republicana, diri
gida contra o regime de Lu ís Filipe , tomava con-
- tuaçãOj levantou-se e foi novamente para as barri
cadas, provocando uma rea çã o violenta por parte
-
ta de Paris, promovida pela importante sociedade do governo, o qual nomeou o cé lebre General Ca-
secreta, intitulada Sociedade dos Direitos do
Homem .
vaignac, que reprimiu com violê ncia e muito san
gue a rebelião. As tristes “Jornadas de Junho”
-
S O clima de agitação política na França era
: \ motivado, além
do mais pelos grupos que pro -
resultaram num balanço trágico para o operaria
do francês. Uma nova Constituiçã o rezava que o
-
: ; curavam criar condições para a volta de Carlos
? Poder Executivo deveria ser exercido por um
f i X ao poder ; eram eles os legitimistas, ao passo presidente eleito por quatro anos, mas as classes
.
j l qu èsoutros grupos bonapà rtistas, queriam grovo - conservadoras conseguiram elevar à presidência
\ I carja^volta jdas guarnições militares èm favor
^
^ Lu ís Napoleão, que acabou estabelecendo uma
\ d è Lu ís Napoleão, sobrinho dò imperãcf
"
ôrT^ A ditadura e por fim assumiu o t ítulo de Napoleão
oposição dos socialistas de Louis Blanc e dos mo
narquistas moderados como Thiers, juntamente
- III.
com Odilon Barrot , começou no verão de 1847 O movimento nacionalista italiano teve em
com uma campanha em todo o pa ís em favor de 1848 uma atuação política intensa sob a chefia
uma reforma eleitoral inspirada no modelo inglês. de Mazzini , que era animado por um idealismo
O mé todo adotado para a difusã o da campanha liberal voltado para a restauração do velho espírito
era o da realização de banquetes que, em dado nacional e contra o domínio austríaco. Mas o mo-
momento, foram proibidos pelo ministro Guizot. vimento n ão era uniforme, pois os conservadores
O povo revoltado por esse fato levantou barrica-
das e a insurreição se alastrou , recebendo, em
liberais dirigiam os olhos para Carlos Alber
to de Piemonte e Sardenha, os católicos fede
-
-
48
ralisías depositavam suas esperanças pol íticas no -
vam se governosJoxtes -como^ de Schwarzenberg
--
”
^
^-
1850, a grande onda revolucionária, iniciã3a cf
'
óir T 0R The Stru ie f r MUSURY in Europe : 1848 ms
^ ° - .
anos -htès ém quase toda
' ^^ "
1
1821 , a revolta da Grécia contra os turcos, que ços de unifica ção da Alemanha e da It á lia foram 1 ! •
serviu de exemplo e modelo para a literatura ro - motivados, indiretamente, por uma mudança que
-
m â ntica e patriótica do período, suscitando o en - se processava nos meios de produ ção, nas co
tusiasmo das elites intelectuais do Ocidente O
movimento de liberta çã o grego era composto de
Klephtas , que viviam nas montantas da Moréia
.
,
municações, acompanhando a formid á vel expan
sao
ras
económica e financeira, derrubando frontei
regionais e caminhando em direção a unidade
--
- . nianha, o johticomipor -
—^
nacional j jAl
resistentes à aceita çã o de todo elemento
geiro, e de uma burguesia culta e enriquecida pelo
estran
comé rcio marí timo, bastante desenvolvido. Além }Xo d ê
^
ntro de um
1~
espirito
^
conservador , ^ s e mantin a
enquanto que, ”
do mais , o nacionalismo grego encontra apoio n a I t á l i a, 0 nacionalismo de Mazzim apresentava
Hetairia , sociedade patri ótica no estrangeiro, que crater revolucion á rio e radical . Assim , como
procura angariar o apoio da opini ão pú blica em
ciona í ismo ,
? strar
tal como
a9
^os moviment j iais que _
favor de seus objetivos. M ú ltiplas razões favore-
ciam o apoio de vá rias pot ê ncias pol íticas euro
pé ias, pois a imagem da Hé lade antiga se identi -
-se encetam a partir da
corporou e gerou , ao mesmo . . - _. ... . . , o esp í rito
tempo
^^
rom â ntico.
••••• v •« * •:
-
r
, A çao
! JL como a simpatia
assirn simnatia dos liberais alinhava-se
V!mento que parece ter atingido em espa ço e tem-
diferentes os povos do Velho Continente, esten-
com aqueles que combatiam pela independeu-
cia de sua patria . Apesar da interven ção de Mo-
vras de j L
aos d £ encontrada nas Ppala -
hamed Ah , que infligiu aos gregos as graves
derrotas dos anos de 1824 - 1827, a rebeli ã o re-
0;s entusiasmos e paixões, os v ôos do pensamento e do
cebeu o apoio da R ússia, da França e da Ingla- idealismo, as teorias, as aspirações e as ilusões , por con -
terra , acabando por destruir as forç as otomanas traditórias que pareçam , e , .sem d ú vida os empreendi -
e criando um Estado autónomo grego em 1830 . mentos art ísticos da é poca podem ser encarados conto
No mesmo ano explode a mal sucedida revolta reflexos de uma grande luz. a do Romantismo. Foi esu-
impulso, a penetrar mdo , que elevou as energias do
polonesa cultivada pelo patriotismo recalcado
,
de uma na çã o espoliada . Ao movimento naciona -homem e deu a forma a um estilo distinto, que dife
rencia nitidamente esta é poca de todas as que a pre -
-
lista grego, sucederam -se outros em vá rios recan
.
-cederam ou se lhe seguiram 25,
tos dos impé rios dominantes na Europa Os esfor -
25 . TALMON , J . JL . .,
Op cif p „ 138.
50