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O Romantismo
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicaçã o (CIP) :


( Câ mara Brasileira do Livro, SP, Brasil )

O Romantismo / J. Guinsburg , organização .


Sã o Paulo : Perspectiva , 2011 . —
(Stylus ; 3 / dirigida por i . Guinsburg)

2a reimpr. da 4. ed. de 2002 .


Bibliografia .
- -
ISBN 978-85-273 0287 6

1 . Romantismo - História e critica I . Guinsburg, J .


II . Sé rie.

05-4336 -
CDD 700.4145
;

índices para catá logo sistemá tico:


I . Romantismo : Artes 700.4145

4;' edi çã o - 2J reimpressã o

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2011
:

\
2 OS FUNDAMENTOS HIST Ó RICOS DO
ROMANTISMO
Nachman Falbel

I. Introdução

Um dos mais autorizados estudiosos da hist ó -


ria européia contemporânea , ao traçar o plano
de sua obra sobre a época do Romantismo, escre-
ve “serem poucos õ? éHõaW da histófiã7 cÕ rno os
^
'
' '‘

anos entre 1815 e 1848, que realçam com tanta


evidencia o fato de cada período nao ser mais
do que uma etapa no processo hist órico 1” .
Na verdade, o exame do período n ão permite ao
historiador fixar balizas cronológicas n ítidas en -
tre causas e efeitos e nem tampouco determinar
uniformemente o in ício e o fim do grande movi -
mento espiritual que t ão profundas ra ízes deixou
no Ocidente.
Pré-Romantismo e Romantismo nascem do
mesmo movimento histórico e o seu in ício coinci -
dente em vá rios lugares, com diversos grupos que
Revis ão especial cieste trabalho : Fany Kon .
M \ . TAJ.MOX , J. L , Romantismo t Revolta , liuropa
hisboa. e <l, Verbo, 1967* p. 7.
Í 81 Õ -
1848 .

OS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DO ROMANTISMO 23

\
então se desconhecem uns aos outros, mostra o de sua liberdade nacional. Boa parte das nações
quanto tentaram resolver os mesmos problemas européias acabam por adotar as formas governa-
humanos nas circunst â ncias que favorecem a mentais republicanas que substituem os Estados
ruptura com o passado próximo, ou com o mun
do “ordenado” da Idade Média, permitindo uma
- mon árquicos absolutistas. Tais revolu ções se alas
trariam inevitavelmente a outros continentes, en-
-
nova transmutação de valores. contrando solo f értil nas coló nias espanholas da
Amé rica e outras regiões do Continente europeu ,
O período do Romantismo é fruto de dois
grandes acontecimentos na história da Kumanida * - O fundo geral de tais revoluções aponta
derõlTsisjai ã Revolu ção Francesa TSUM deriva
'

ções, e a Revolução Industrial. As duas revòlíi-


- causas ligadas à própria estrutura da sociedade,
ao desenvolvimento económico e às conjunturas
çoes ~prõvÕcãrãm e geraram novos processos, políticas do tempo. A “idade do absolutismo” 2,
desencadeando forças que resultaram na forma - que se estende de 1660 a 1815, caracteriza-se pelo
ção da sociedade/ moderna , moldando em grande estabelecimento de governos fortes, assentados sob
-
parte os seus ideais (sociais) . As instituições polí
ticas tradiconais sofreram fortes abalos e as fron-
o absolutismo moná rquico. Ê justamente contra
o princípio político absolutista que vão atuar as
teiras entre os povos foram modificadas criando idéias e os programas políticos dos revolucion á -
.
novo equilíbrio entre as nações O nacionalismo rios do século XVIII, os quais fazem do ideal
democrá tico sua bandeira de luta , de forma que
nesse tempo irrompe impetuqsat óente em cena,
arrastando consigo boa parte dos povos europeus a história da humanidade caminha cada vez mais
em direção às suas aspirações políticas e sociais. nesse rumo e as massas populares participam
Novas ideologias e teqnas , aççm do.Ektado. acom
, - mais e mais nas decisões políticas ligadas ao seu
panhatn as mudan ças rapidas inerentes a tal pro - pró prio destino. Sob esse aspecto o Ancien Régime
cesso. As ciências se ampliam em um vasto nú
mero de novas areas do conhecimento humano,
- era na verdade fundamentado sobre classes ou
grupos privilegiados, limitados a . certas oligar-
que se abrem para.a. investigação e o estudo. As , quias rurais e urbanas concentradas t ão-somente
artes recebem os novos elementos gerados em em seus pró prios interesses. Tal situação, que
-
tais circunstancias, incorporando os em suas va- cingia a uma pequena minoria as conquistas cul-
.
rias formas de expressao^qa antenormente pre
parados com a revolução intelectual dos séculos
- turais e científicas da civiliazção, era o ideal para
represar descontentamento e revolta que iriam
XVII e XVIII. eclodir com violência a partir da segunda metade
do século XVIII. O desenvolvimento de novas
O período que se estende de 1770 a 1848 é forças sociais e de novos credos políticos e filo-
agitado incessantemente por revolu ções e basta- sóficos se conjugaram no assalto às velhas insti -
ria lembrarmos as mais significativas para ava- tuições que já apresentavam sinais de fissura e
liarmos o quanto determinaram o espírito da anacronismo.
época. De 1770 a 1783, temos a Revolução Ame-
ricana que daria um governo constitucional e As revolu ções, Americana e Francesa, seriam
democrá tico aos Estados Unidos, De 1787 a 1790, as primeiras de uma longa sé rie de revoluções
- que teriam como cená rio as mesmas ou idê nticas
-
deparamo nos com uma onda de agitação revo
lucioná ria nos Pa íses Baixos austríacos que se causas. Mas áo movimento político antecede um
sublevam contra o absolutismo ilustrado de processo económico e social profundo, que ocor-
José II. De 1787 a 1789, assistimos à Revolu çã o reu na Europa aproximadamente a partir de
Francesa, que determinaria de modo t ão decisivo 1750 : a Revolu ção Industrial .
os destinos das nações européias. De 1788 a 1794,
a Polónia trava uma luta revolucioná ria em prol York, Harper Torchbooks, 1962.
-
2 . BELOKF , Max. The Age of Absolutist » , 1660 1815 . Nova

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II. A Revolução Industrial e Intelectual e rendas, onde não faltam as artimanhas da es-
peculação que a caracterizará futuramente.
As m ú ltiplas inovações ocorridas na técni
ca industrial a partir dos meados do século
- Na Inglaterra, desenrola-se o início de uma
evolu ção industrial que vai substituir as oficinas e
XVIII tinham por fundo histórico mais longín
quo o desenvolvimento do comércio que levou,
- tendas dos artesã os pelas grandes manufaturas e
abrir o caminho a um avanço tecnológico decisivo
como consequ ê ncia, ao desenvolvimento e ao
est ímulo dado à ind ústria. O comércio marítimo,
na história da economia ocidental .
que se fazia entre as metrópoles e as colónias O fenômeno paralelo que acompanha e parti
cipa desse processo é o crescimento demográfico
-
espanholas e portuguesas, até as do Extremo
Oriente, traz ao Continente europeu um gran - que, numa demonstração estatística ligada à re
gião da Inglaterra e ao País de Gales, aponta
-
de afluxo de metais preciosos. A Inglaterra ,
com sua política colonial e, utilizando-se de que o n ú mero de habitantes em 1700 era ao redor
de 5,5 milhões, em 1750 de 6,5 milhões e em
tfatados que a favorecem abertamente, tais co
mo o de Methuen, em 1703, e o de Paris,
- 1801 de 9 milhões, atingindo em 1831 a cifra de
14 milhões 3. O fato é que na segunda metade
em 1763, adquire privilégios comerciais imensos do século XVIII a população havia aumentado
que acabam canalizando para seus cofres quan
.
tidades significativas de metal precioso Também
- em 40 % e nas três primeiras décadas do século
XIX o crescimento foi superior aos 50 % . No
a França se beneficia do comércio intenso com a
Espanha e acumula continuamente o metal tão
Continente, por volta de 1700, a população passa
ria de 118 milhões para 180 milhões no fim do
-
procurado pelos governos das nações implicadas
nesse comércio internacional. Além do mais, já .
século Este aumento populacional n ão era con -
sequê ncia somente da taxa de natalidade, mas de
naquela é poca, pela facilidade e cará ter prático, é
outras causas, tais como a queda do índice de
-
introduzido o papel moeda que acompanha a di
fusão da técnica bancá ria, bastante aperfeiçoada
- mortalidade, que decresceu quase continuamente
.
a partir de 1740 Segundo Ashton, a introdu ção
pelo acú mulo de uma experiência que vinha des
de as grandes cidades medievais ligadas ao comér
-- das colheitas de tubérculos tomou possível ali -
cio internacional, tais como as cidades costeiras mentar mais gado nos meses de inverno, tornando
da It á lia e outras como Antuérpia, Amsterd ã, que maior o fornecimento de carne verde durante todo
o ano. A produção cada vez mais elevada do trigo
receberão posteriormente no século XVII, incen
tivos. Os bancos conquistam os Estados europeus
- e de cereais forneceu alimento importante para
do Ocidente ao Oriente, e as transações comer -- aumentar a resistê ncia dos indivíduos às doen -
ciais já não se fazem habitualmente com o empre ças. A imunização contra as enfermidades tam
bém cresceu devido à aquisição de hábitos de
-
go direto do vaior met á lico, mas de um meio cir - higiene pessoal melhor difundidos. O emprego de
culante mais cômodo e rápido, como o papel
-moeda, títulos de banco, letras de câmbio, que
- tijolos em lugar de madeira e da pedra em lugar
.
acabam por sobrepujar o anterior Os bancos e os do colmo na feitura dos telhados das casas pro
tegeu melhor as populações contra as epidemias.
-
banqueiros incentivam a ind ústria, desenvolvendo
uma técnica de crédito que encoraja os empreen - O cuidado com a localização das habita ções ope -
dimentos e os negócios industriais através de rá rias longe dos lugares insalubres e nocivos
trouxe mais conforto doméstico. O desenvolvi-
empréstimos f áceis, às vezes, em troca de tí
tulos e ações. Esse é o passo dado para a criação
- mento urbano levou ao emprego da pavimenta -
de sociedades de ações que encontram na Bolsa ção das ruas e à utiliza ção de esgotos e água
o seu mercado de transações, onde pululam os .
.
3 . ASHTON, T S < A Revolu ção Industrial , Lisboa , Pub
agentes de câ mbio que vendem ações, obrigações - .
Europa Am é rica, 1971, p 23.
OS FUNDAMENTOS HIST ÓRICOS DO ROMANTISMO 25
corrente, tornando a vida da cidade mais saud á - també m exercia alguma atividade agr ícola ao
vel do que era antes. A evolução das ciências mé- par do seu trabalho artesanal onde produzia teci -
dicas, da higiene, da cirurgia e constru ção acele- dos, armas e outros artigos que entravam no
rada de hospitais contribu íram para combater circuito do mercado nacional e eram també m ex-
doenças que até ent ão ceifavam as populações portados para as colónias no estrangeiro. Mas,
menos favorecidas. O progresso industrial deu quando os comerciantes se dedicam à ind ústria ,
també m sua ajuda ao cerscimento populacional , altera-se o sistema de produ ção; eles mesmos
pois a multiplica ção dos meios de subsist ê ncia aju-
dou a desenvolver o n ível do consumo em rela-
-
passam a fornecer a mat éria prima e a exercer o
papel de distribuidor do produto no mercado, li-
ção ao passado pró ximo. dam diretamente com o comprador e o fornece-
A introdu çã o de novas culturas e dissemina- dor, sendo que o passo final e decisivo será a
transformação do artesão independente em as-
:
çã o de outras, como o nabo e a batata , alé m
de fornecerem uma alimenta ção mais substancio- salariado com a apropriaçã o das m áquinas pelo
sa ao gado e aos homens, levou a um aproveita- comerciante, quer pelo fato de o artesão n ão
mento maior das á reas a serem lavradas. Houve poder cumprir com os compromissos financeiros
ampliação da superf ície cultivada, pâ ntanos e assumidos com o comerciante-empresá rio, quer
águas estagnadas foram drenados e antigas pas- por causa de adversidades ligadas à atividade agrí
cola do produtor art ífice. Nesse período, o da
-
tagens comunais transformadas em solo ar á vel .
O aumento do capital que se verifica na época manufatura , encontramos as primeiros escalas na
també m é acompanhado de um acréscimo na divisã o do trabalho que se aprofundarão na in-
capacidade de poupança em largas camadas da d ústria moderna. A divisã o de trabalho est á liga-
sociedade, poupança essa aplicada no mercado da à introdu ção da técnica do fabricante em
de capital que experimenta grande impulso nessas sé rie, que encontra um modelo precursor na in-
condições. A diminuiçã o gradativa da taxa de d ústria da l ã e na de alfinetes onde, segundo
juros em meados do século XVIII constituiu um Adam Smith, em 1776, os oper á rios, executando
sério fator que acentuou o desenvolvimento eco - uma, duas ou três das dezoito opera ções em que
n ómico, pois a livre iniciativa era estimulada por se dividia o fabrico, conseguiam produzir à mã o,
encontrar capital relativamente barato. 48 000 alfinetes por dia 5. Se a manufatura, de
um modo generalizado, caracterizava-se pelo fa-
As relações comerciais com os pa íses ultra- to de a produ ção se fazer em pequenas oficinas
marinos, a intensificação das trocas, a demanda
cada vez maior de produtos, as necessidades ou
individuais que trabalhavam para um comercian -
te, paralelamente encontramos grandes oficinas
os gostos especiais dos novos clientes, a luta con- onde se realiza o acabamento final do produto,
tra os concorrentes haviam operado uma con - oficinas que já pressupõem as f ábricas da nova
centraçã o comercial na ind ústria 4. Tal situa çã o sociedade industrial.
faria com que a ind ú stria dom é stica , principal -
. A Revolu ção Industrial també m se realizou
mente a ind ústria da l ã, onde trabalhavam nu-
gra ças a empresá rios ambiciosos que souberam
merosos propriet á rios das máquinas que utiliza
vam, sqfresse a pressã o das novas necessidades
- empregar a imagina çã o a fim de combinar os
do mercado. At é agora o artesão comprava a fatores produtivos em fun ção do atendimento
dos mercados, ampliando-os em benef ício pró-
maté ria-prima, trabalhava-a em sua máquina, para
depois vend ê-la pessoalmente , como produto, no prio. Tal espí rito empreendedor era acompanha
do de uma nova mentalidade e de novos senti
-
-
mercado. Normalmente era ele um campon ês que
mentos cuja b ússola económica foi a livre em - Vv-

4 . i\ loi sNtKR , R. e E , LABROVSSE, C. O S éculo Xi I I I . S ã o


.
Paulo, Difusã o Européia <Jo Livro, 1968 o. 136. 5. .
Idem , Ibidem , p 137 .

26
presa. A regulamentação da ind ústria e, ao mes- inventores fossem homens sempre destitu ídos de
mo tempo, sua limita ção por meio de corpora- saber teó rico, como muitos autores afirmam com
ções, leis municipais e pelo Estado, cede lugar à insistência , pois ningué m ignora que f ísicos e
-
livre iniciativa, e foi nas regi ões menos submeti-
das à regulamenta ção e onde n ão se faziam sentir
qu ímicos, assim como cientistas de v á rias á reas,
estavam vinculados por diferentes laços de ami-
as organizações corporativas, tais como Manches - zade a muitas das personalidades da ind ústria, o
ter e Birmingham na Inglaterra, que se deu um
rá pido desenvolvimento industrial.
que envolve de certo modo uma via de comuni
cação entre a ciê ncia do pesquisador de gabinete
-
O espírito inventivo, devido aos fatores con
cretos mencionados anteriormente, levou a uma
- ou laborató rio e a experimentaçã o na oficina de
trabalho, para a solu ção dos problemas surgidos
verdadeira eclosão de inventos, que vieram so- na produ ção.
lucionar problemas ligados diretamente à técnica Uma longa sé rie de inventos ocorrem em pri -
de produção. A ind ústria, a tecnologia e a ciência meiro plano na ind ústria do algodão, livre dos
estavam indiscutivelmente atendendo às mesmas entraves corporativos e em rá pido desenvolvimen-
necessidades econ ó micas e sociais, ainda que mui- to. Em 1733 John Kay introduziu no tear im -
tas vezes o sistema de patentes, destinado a esti
mular o inventor , apresentasse o paradoxo de di-
- portante melhoria , a lançadeira . Ligada a um
sistema de duas rodas era atirada de uma ourela
ficultar o caminho a novas criações pelo fato de a outra por meio de martelos, atravessando com
confirmar privilégios durante espaço de tempo a trama toda a urdideira . Tal inovação, a lan-
-
excessivo. Contra esses abusos criaram se asso - çadeira volante, acarretava grande economia de
trabalho e permitia a um ú nico tecel ão confeccio-
ciações que n ão só visavam a contestar a legali
dade dos direitos exigidos pelos patenteadores,
- nar panos de uma largura que antes exigia o tra-
mas procuravam convencer os inventores a colo- balho de dois homens. Já em 1760, após serem
carem seus inventos à disposi çã o de todos, como vencidas as dificuldades da inova ção, a lan çadeira
no caso da Sociedade Promotora das Artes, Ma
nufaturas e Com é rcio, fundada em 1754, que
- estava difundida na ind ústria têxtil. Em 1738 Le-
wis Paul introduziu o cilindro de torçã o que de-
também os premiava. O Parlamento, por seu la
do, concedeu iguaimente recompensas àqueles
- sempenhou enorme papel na ind ú stria da fia ção.
A partir desse marco, os aperfeiçoamentos
que abrissem mão dos produtos de seu engenho t cnicos na ind ú stria t êxtil se sucederam num
é
em favor da sociedade e em benef ício direto dela . encadeamento cont ínuo, tais como a fiação com
Desta forma podemos encarar a Revolução In
dustrial como ligada à divisão de trabalho, sendo
- mais de um fuso ou spinning - jenny , em 1764,
de James Hargreaves; a water- frame , a m á quina
em parte causa e em parte efeito dessa divisão, movida a água , em 1767, de Thomas Highs ; o
que significava uma amplia ção do princípio da engenho mecâ nico de fiação, um desenvolvimento
especialização. -
da m á quina autom á tica de Lewis Paul , foi a con
Devemos ainda considerar que o surto de tribuição decisiva de Richard Arkwright , em 1768,
inven ções durante o per
íodo em questão, especial- para o avan ço da técnica têxtil; a mule- jenny ,
mente na Inglaterra, é fruto de um processo de em 1774, de Samuel Compton, que permitiu a
acú mulo de conhecimentos teóricos, a partir de urdidura de fios finos e resistentes; em 1784,
Francis Bacon, que contribuiu para o estabeleci- , Cartwright constrói o tear inteiramente mecâ nico
mento da ciência experimental, com a contribui- / e, no mesmo ano, Delaroche , na França, a m á -
ção de uma plêiade de filósofos e cientistas, tais quina de aparar o tecido. Na metalurgia , a fun-
como Robert Boyle e Isaac Newton , que assen- dição do coque, em 1735, por Darby, resolve o
taram os fundamentos do método científico mo
derno. N ão parece ser algo firmado que os
- problema da escassez do carv ão vegetal, devido
à constante ampliação dos pastos e a conse-

OS FUNDAMENTOS HISTÓ RICOS DO ROMANTISMO 27


quente derrubada das florestas. Em 1740, Ben - lucionam os entraves técnicos da produ ção, de
sencadeia-se uma verdadeira caudal de aperfei-
-
jamin Huntsman inova a técnica do aço, inven -
tando a fundição por cadinho que abre caminho çoamentos industriais, que procuram incrementar
à produ ção industrial ligada à metalurgia. A a produ ção e baratear o custo da mercadoria,
pudelagem e a laminaçã o foram patenteados por ampliando e estimulando o mercado de consumo.
Henry Cort , cerca de 1784, libertando a Inglater- Um invento provoca outro, numa sucessão inin -
ra da necessidade de importar grandes quantida - terrupta , que leva uma ind ústria a auxiliar a
outra, para a melhoria de todas. O fenômeno
des de carv ão vegetal do Bá ltico e deslocando as
forjas para as zonas carvoeiras, onde o preparo de das concentrações industriais também faz parte
ferro fundido se podia fazer ao lado dos altos-for- do processo ligado à Revolução Industrial, Onde,
nos produtores da gusa . A produ çã o de ferro au- -
at é h á pouco, a dispersã o imperava, passava se a
mentou extraordinariamente e o metal substituiu a concentrar certas ind ústrias em determinadas
madeira e a pedra em muitos dos produtos que á reas. Verifica-se, n ã o somente a concentração
habitualmente eram usados, A m á quina a vapor geográfica mas a chamada concentração verti -
de Newcomen , inventada no século XVI, foi aper- cal , de forma que certos capitalistas re ú nem em
fei çoada por James Watt em 1765 e utilizada em suas mãos os mais variados ramos da atividade
vá rios tipos de ind ústria , nas f á bricas de cerveja , industriai, desde a possess ão de minas até fun -
nas destilarias, nas salinas, nos reservató rios de di ções e outros ramos. Algumas vezes a concen -
água , e outras atividades, traçã o se d á em um ú nico ramo tendendo à mo-
A engenharia civil desenvolve-se como uma nopolizar certa produ ção industrial. Toda essa
nova ind ústria impulsionada pelas necessidades transformaçã o estava ligada ao grande comé rcio
comerciais que levam à melhoria dos meios de de importação e exportação, como no caso da
-
comunicaçã o. Constru íram se novas estradas,
pontes, canais, bem como se aplicaram novas
Inglaterra, berço e centro da Revolu ção Indus
trial, que importava do estrangeiro madeira, fi
--
t écnicas no travejamento das minas de carv ã o -
bras, seda, algod ã o, produtos de tinturaria e ou
al é m de se aperfei çoar a sua exploração. O grave
problema da infiltra ção de á gua nas minas , amea-
tros como ch á , caf é, tabaco, e exportava produ
tos manufaturados de l ã , ferro, couro, para as
-
ça permanente a este setor industrial , foi sendo regi ões pouco desenvolvidas, desde a África até
aos poucos solucionado pelo aperfei çoamento dos -
as í ndias Ocidentais. Tratava se de um comércio
meios de bombeamento e extra ção da água. Outro por vezes triangular em que a Inglaterra trocava
invento cuja plenitude técnica seria atingida pos - com a Á frica quinquilharias e bugigangas por
escravos, que, por sua vez, eram cambiados nas
feriormente, mas que teve seus primórdios nesse
per íodo, , é a locomotiva a vapor , que substitui- í ndias Ocidentais por matéria-prima e artigos de
ria o cavalo como traçã o. Houve alguns prece - luxo. O comé rcio intenso com as í ndias Ociden -
dentes antes que George Stephenson constru ísse tais e o Bá ltico teve importâ ncia capital na
o seu “Foguete”, a primeira locomotiva a vapor
empregada na tra ção por ferrovia. Este foi um
acumula ção de grandes fortunas por determina
das fam ílias participantes dessas empresas.
-
dos maiores trunfos da Revolu çã o Industrial. Mas a Revolu ção Industrial n ão se produziu
Todos os setores das principais atividades do sem marcar profundamente a vida social. Em
homem em sua luta econ ómica participaram, de meio à grande expansão econ ómica, ao súbito
certo modo, na Revolu ção Industrial, que no seu enriquecimento de uma minoria, da desabalada
todo representou uma conjuntura onde as cres- corrida dos inventos e inovações no setor tecno -
-
centes disponibilidades de terra, mão de-obra e lógico , e à crença na prosperidade e progresso
capital favoreciam a grande expansão industrial. humanos, surgiram graves problemas de ordem
À medida que os novos inventos se impõem e so- social em relação às massas de trabalhadores que
28
este processo mobilizava e proletarizava, junta - di ções de trabalho assaz precária para a vida
do trabalhador que consumia seus dias junto às
mente com suas famílias, e que, no fundo, eram
a base humana na qual se apoiava a profunda m áquinas.
transformação sofrida pela sociedade européia
daquele tempo. Muito já se escreveu sobre as
-
O desenvolvimento econ ómico industrial des-
crito anteriormente apresentaria as contradi ções
dif íceis condições de trabalho que envolveram que passaram a ser conhecidas, devido a certas
a vida oper á ria durante a Revolu ção Industrial. frequ ê ncias, como os fen ômenos de superpro-
Os ganhos desses trabalhadores eram insuficien- dução, da livre-concorrência descontrolada e, por
tes e na maioria das vezes recebiam seus magros outro lado, das tentativas de regulamentar a pro-
salá rios de uma forma irregular, através de in- du çã o, assim como controlar os preços e o mer -
termediá rios duros, que viam unicamente a quan- cado. Do mesmo modo que se formavam clubes e
tidade produzida, pois normalmente a paga era associações de indústrias e de homens de negó-
feita pelo n ú mero de peças produzidas. A pre - cios nos mais diversos n íveis, també m os traba-
cariedade das instalações industriais, a falta de lhadores (e isto desde a primeira metade do
seguran ça, as péssimas condi ções higié nicas dos século XVIII ) se associavam em organiza ções
locais onde mulheres e crian ças constituíam a vá rias, tais como as de cardadores de l ã, alfaia-
mão-de-obra ao lado de homens, respirando o tes, tecelões, fabricantes de prego, segundo um
ar contaminado das minas, das oficinas mal ins - molde que em m édia se aproximava da antiga
taladas, tudo isso convertia o per íodo em um corpora çã o e do sindicato moderno. Tais asso-
dos mais cruéis para a grande massa que sempre ciações visavam a vá rios objetivos ligados aos seus
viveu do suor do rosto. Da escravid ão na Anti - interesses de classe. Enquanto a dos industriais
guidade à nova escravid ão, poucas eram as di- procurava ampliar sua influ ê ncia junto ao poder
feren ças, mesmo se do â ngulo jur -
ídico legal o governamental, a ponto de fundar na Inglaterra,
trabalhador agora n ão fosse propriedade do em- uma Câ mara Geral da Ind ústria em 1785, para
pregador ou do industrial. Na realidade, a depen- combater a pol ítica de admitir a participação da
d ê ncia do operá rio sob o aspecto financeiro, Holanda no com ércio externo e colonial ingl ês ; a
vava a ficar inteiramente ao dispor de seu pa
-
muitas vezes, era tal que o peso das dívidas o le
- dos trabalhadores, além de procurar regulamen -
tar questões ligadas diretamente ao salá rio, assu-
tr ão. A falta de regulamenta ção quanto à jornada
mia posições cada vez mais radicais, chegando a
de trabalho, ao emprego de aprendizes e à limita
ção de idade tornava o labor nas f ábricas em um
- organizar greves, quebrar engenhos, máquinas e
castigo divino e um sofrimento sem fim , por mais casas, motivados pela fome e opress ão. Tais asso-
que se procurassem justificativas para tal fato. ciações tinham na maioria das vezes cará ter pro-
Os contratos de trabalho, em certas atividades, visó rio e se desfaziam logo que eram atendidas
eram de longos anos, ainda que com o tempo co- em suas reivindica ções imediatas. Somente no
meçassem a ser restringidos, como no caso do fim do século é que a organiza ção sindical apa -
serviço nas minas. Os sal á rios passaram a depen- recer á como capaz de impor uma política traba-
der do jogo da oferta e da procura, sujeitando-se lhista de longo alcance. Por isso mesmo será
-
às variações do mercado de m ão de-obra , mas combatida pela legisla çã o vigente na época em
vale notar que uma boa parte subiu, o que se tra- que, segundo a lei de 1799, qualquer pessoa que
duziu na melhoria do n ível de vida , ocasionando se unisse a outra para tentar obter um aumento
melhores condi ções de alimentaçã o e saúde e, de sal á rio ou redu ção de horas de trabalho, se-
por consequê ncia, prolongando a duração da ria levada a ju ízo. Este período de individualismo
existê ncia humana. Porém, muitos setores da ati- -
e de laisser faire , que eliminou a interferê ncia do
vidade industrial continuaram apresentando con - poder do Estado nos assuntos económicos nada

OS FUNDAMENTOS HIST ÓRICOS DO ROMANTISMO 29

I
mais deixando-lhe senão o papel de preservador Concord e de Lexington , que um exército civil
da ordem em seu favor, voltar-se-á na Fran ça poderia se sobrepor a um exército militar, der -
diretamente contra a estrutura estatal, eliminando rotando-o. Já em 1775, após o segundo Con -
os ú ltimos entraves pol íticos do processo que ha- gresso “Continental”, os patriotas americanos, sob
o comando de George Washington, organizaram
via se iniciado com a Revolução Industrial,
as milícias a fim de lutar contra as forças da me -
tró pole. Sua plataforma pol ítica era anunciada
III. O Perí odo Revolucionário: A Revolução por Thomas Paine num folheto onde pregava a
Francesa e as Revoluções Européias independ ê ncia das col ónias e, mais do que isso, a
sua transforma çã o em rep ú blica. Em 4 de julho
Podemos falar na existê ncia de um período de 1776, após o Congresso que constitu íra a
revolucion á rio que se inicia a partir da Revolu
ção Americana e se estende até a Revolu ção
- -
Federação Americana, deçlarava se a indepen -
---
d ê ncia. A Revolu çã o Americana antecedia assim
Francesa. A colónia inglesa na América, bem su o movimento revolucion á rio europeu e fortifica -
cedida em seu desenvolvimento econ ómico, rei ria os sentimentos de independ ê ncia entre aque-
vindicou a independ ê ncia em relação à Inglater
ra, após uma fase de luta intensa contra o do - les que observavam os acontecimentos e cons -
tatavam a sua vit ó ria. Volunt á rios vindos da Eu-
m ínio brit â nico. ropa , tais como o polonês Kosciusko e o fran -
A Revolu ção Americana foi provocada pela cês La Fayette, mostravam que os acontecimen -
imposição inglesa proibindo a colónia de além
-mar de comerciar com qualquer outro país que
- tos no solo americano eram vivamente acompa
nhados pela Europa, pois a independê ncia ame-
-
n ão fosse a metró pole, ou seja, a imposiçã o de ricana alteraria o poderio colonial inglês. A
um com é rcio unilateral e exclusivo que limitava Fran ça n ão deixou de enviar forças para lutar
a col ónia e beneficiava a metrópole. Uma política ao lado dos americanos, até que a vitó ria militar
de impostos opressiva criou o ressentimento entre se decidiu favoravelmente aos revolucion á rios.
a popula ção da colónia e fortificou o sentimento
de revolta. A sucessão de protestos contra a
-
Em 1783, com o tratado franco inglês de Versa
lhes, a pró pria Inglaterra reconheceria a inde
--
Stamp Act de 1765 e contra os impostos do pend ê ncia dos Estados Unidos, que agora passa -
-
--- -
ch á, papel, vidro, chumbo, apoiavam se nas as riam a inspirar outros povos que tinham as mes
sembl éias coloniais que, por sua vez, se basea mas aspirações políticas. Se a revoluçã o ou a
vam na sustentação popular. O boicote e a agita independ ê ncia americana foi haurida nos escri -
çã o aumentaram a tensão entre os colonos ame - tos dos filósofos europeus desde Locke, Mon -
ricanos e os soldados ingleses, a ponto de se da - tesquieu e Rousseau , cujas teorias pol íticas foram
rem os primeiros recontros violentos em março de adaptadas às aspira ções locais das col ó nias, por
1770, na conhecida “ matan ça” de Boston. outro lado, as constitui ções e as declara ções de
Em prosseguimento a esse conflito, que se de direitos por ela elaborados serviram de mode -
travava entre a Companhia das índias e as co -
l ó nias americanas, o centro da disputa se desloca
lo a serem imitados pelos europeus em geral e em
particular pelos franceses durante a sua revolu-
para o monopólio do chá . Além das leis coer - ção.
O movimento de id éias que antecede a Re-
citivas contra os interesses dos colonos, a Quebec
Act de 1774, aumentou mais ainda o descon
tentamento geral , originando o Congresso antibri
-- volu çã o Francesa conhecido sob o nome gen érico
de “ Filosofia das Luzes” serviu de fundo ideológi-
.
tâ nico, organizado pelas colónias em 1774 Logo co para as teorias revolucioná rias. Observa se -
a guerra frontal eclodiria contra os ingleses, que Lock, em seu tratado sobre o governo civil ,
revelando pela primeira vez, nas batalhas de em 1689, isto é , cem anos antes da Revolu çã o

30
O Vag ão de Terceira Classe . por Daumier.

Rainha Victoria e o Duque de Wellington passando a


guarda em revista , c. 1839, por Sir Edwin Landseer. ’
Francesa , afirmava que todo governo deve se fun -
damentar em um contrato entre soberano e go -
lu ção Francesa, que atirou burgueses e campe
sinos contra a nobreza monopolizadora dos car
-
-
vernados e que a condi çã o de um governo bem .
gos e das grandes propriedades de terras Uma
sucedido seria a separaçã o dos poderes legislati - grave crise económica, que vinha se alastrando
vo, executivo e judici á rio. Cerca de sessenta anos por muitos anos sem que se encontrasse solução
mais tarde, Montesquieu , no Espírito das Leis , adequada , comprometia seriamente a estabilidade
estudaria a pró pria origem e fundamento do po -
der e a influ ê ncia exercida por fatores exteriores
do regime. Além do mais, a multiplicidade dos
impostos constitu ía um verdadeiro peso para as
na organiza çã o da sociedade humana. Voltaire,
o grande demolidor de verdades convencionadas
camadas mais pobres da população. Uma ten -
tativa de Turgot, inspetor geral , de modificar a
do passado, mesmo n ão negando a monarquia, -
pol ítica financeira de impostos foi criticada pe
-
apoiava a sobre o povo e a orientava pelos fi- los nobres e pelo alto clero, devendo ser abando-
lósofos. Atacando os privilégios da aristocracia
e condenando os clérigos, Voltaire lembra que
nada. Com o ingresso da Fran ça na guerra ame
ricana o deficit acumulado dos anos anteriores
-
todos são iguais perante a monarquia e segundo se avoluma cada vez mais, e o ministro das Fi-
o direito natural. Em Rousseau se manifestam as nan ças, Necker, foi destitu ído quando apresen-
id éias democrá ticas novamente fundamentadas no tou em 1781 um compte rendu au roi, onde se

--
direito natural e expressas pela teoria de que o revelavam os pesados tributos que o rei outorga
poder legislativo deveria ser exercido por todos va à nobreza cortesã. Ao lado da crise financei
os cidad ãos e o poder executivo seria subordina - ra, a crise económica era també m profunda, e
do a ele. O Estado ideal para Rousseau é a pe
quena Rep ú blica do tipo existente na Antiguida-
- era motivada , em parte , por fatores indepen-
dentes da vontade humana. Más colheitas que se
de grega tal qual a de Atenas. Essa concepçã o re- acumularam durante alguns anos, a grande seca
teriormente sofreria acréscimos significativos. Os
-
percutiria al é m das inten ções de seu autor e pos de de 1785, que dizimou parte dos rebanhos e
do gado, arruinou o campesinato francês t ão
escritos de Rousseau o Discurso sobre as pressionado pelos impostos. De fato, nota-se um
Artes e Ciências ( 1755 ) , o Discurso sobre a De
sigualdade ( 1755 ) e o Contrato Social ( 1762 )
- decréscimo de nascimentos em contraste com o
aumento da mortalidade, à medida que se pas-
— constituem a literatura política de onde todas
as tend ê ncias modernas encontrarã o uma filoso -
sa do esplendor do reinado de Lu ís XV à deca
d ê ncia do reinado de Lu ís XVI. Tanto no co-
-
fia para a organizaçã o do Estado e da sociedade. mé rcio como na ind ústria , a França se achava
..
. Foi a Enciclop édia , publicada a partir de 1751 numa posi ção inferior e de atraso em relação
e traduzida em muitas l í nguas, que reuniu em
seus - verbetes a grande elabora ção intelectual do
'
'
à Inglaterra e uma política econ ómica desastro -
sa de exporta ção ajudou mais a outros pa íses do
I í uminismo. Na efervescê ncia pol ítica e cultural que à pró pria França. Desde 1783, quando Ca-
desse per íodo, surgiram uma infinidade de socie -
dades para divulgar as novas id éias dos Enciclope-
lonne é nomeado inspetor geral de Finan ças, a
inquietação em torno dos problemas financeiros
distas e seus disc ípulos. Antes que derrubassem
a Bastilha , s í mbolo do Ancien Regime , minaram
aumenta consideravelmente, em grande parte de
vido aos projetos de reforma do novo ministro.
-
os seus alicerces com as novas idéias. A Assembléia dos Not á veis, reunidos em 22 de
A revolu çã o de 1789 pode ser considerada
como parte da grande onda revolucioná ria que
fevereiro de 1787, que deveria aprovar os pro
jetos de reforma, n ão os aceitou e Calonne foi
-
atingiu todo o Ocidente europeu na luta contra o substitu ído pelo arcebispo de Toulouse, Lomé-
Antigo Regime. Ê claro que causas particulares
agiram favoravelmente para o sucesso da Revo-
nie de Brienne, para esta fun ção. Diante da opo
si ção reiterada da Assembl éia frente ao novo
-
32
ministro, Luís XVI acabou por dissolver a As - Com a formação da Assembléia Nacional, o
sembíéia, encerrando com este ato a primeira o Terceiro Estado estava preparado para uma in --
manifesta ção da nobreza contra a monarquia. vestida política que procurava representar os inte
Isto serviria de preâ mbulo ao futuro movimento resses do povo francês, começando por impor os
pol ítico da revolução. Quando o ministro Brienne seus projetos ao rei, a ponto de Luís XVI permi
tir aos nobres que se juntassem aos “comuns”, na
-
recorreu ao Parlamento de Paris para aprovar os
seus projetos de reforma, viu-se recha çado no Assembléia. A interpretação desse movimento
mais importante de todos, que era o da subven- pol ítico por parte da burguesia e do campesinato,
ção territorial, e mais ainda, o Parlamento exi- a certa altura, foi de temor e desconfian ça em rela
çã o a um poss ível complot da aristocracia contra
-
giu a convocação dos Estados Gerais. Mediante
tal pressão, e em consequ ê ncia da agita ção aris- os interesses do povo. Em princ í pios de julho de
tocrá tica que estava se formando, o governo foi 1789, tanto o campo como as cidades francesas, e
forçado a ceder. A monarquia , a essa altura, em especial Paris, passaram a hostilizar aberta
mente a aristocracia. Com a destituiçã o de Necker,
-
começara a perder o apoio da aristocracia, e os
parlamentares para obter o apoio da burguesia a rebelião explodiu com violência, e, em 14 de
falavam em nome dos “direitos da na ção”. Não julho , o povo de Paris, após ter assaltado os depó
sitos de armas, se dirigiu à Bastilha, sí mbolo do
-
é de se estranhar que se tenha formado um par-
tido de luta contra o governo com o nome de “ na- poder real. A revolta alastrou -se por toda a Fran
-
-
cional” ou “patriota ”, liderado pelos nobres li - ça em pouco tempo e o povo, desenfreado, pôs se
berais, por alguns magistrados, periodistas, “filo - contra os poderes municipais. O campesinato em
f ú ria , encontrando resist ê ncia , queimava os caste-
sofes” e advogados. Um comit é de coordenação
centralizava a a çã o desse “ partido” e uma de los feudais e as mansões senhoriais, querendo
abolir pela viol ê ncia o regime feudal. A violê ncia
suas exigê ncias bá sicas era a convocaçã o dos
Estados Gerais, ainda que divergisse da aristocra - gerou o terror e entre os pró prios insurgentes im -
cia quanto ao n ú mero de representantes do Ter-
perava o pâ nico, la grande peur. O medo ao ter
ror campesino impôs à Assembl éia Nacional uma
-
ceiro Estado e à exigência do “ voto por cabeça ” e
altera çã o em sua a çã o pol í tica , pois se tornou
de uma “constitui çã o”. A situa çã o pol ítica torna-
va-se cada vez mais delicada , quando um decreto
urgente a necessidade de terminar com a insurrei
çã o do campo antes que ela atingisse a proprie
--
anunciou que os Estados Gerais deveriam ser con-
vocados a primeiro de maio de 1789. Desde os dade burguesa. A forma de fazê-lo era canalizaT
primó rdios de 1789 começaram os preparativos
as reivindicações dos camponeses para os do
Terceiro Estado. Por isso a Assemblé ia Na-
para as eleições dos Estados Gerais, dando opor-
tunidade à burguesia de reivindicar livremente a
cional decretou a aboliçã o do regime de privilé
gios, a igualdade perante os impostos, a supressã o
-
supressã o dos privilégios, a elabora çã o de uma
dos d ízimos, resolu ções que repercutiram por todo
constituição e também a introdu ção do liberalis - o pa ís e arrefeceram o ímpeto revolucion á rio do
mo econ ómico. Em suma , a Revolu ção Francesa campo.
principia como uma revolta dos corpos consti - A Assembl é ia Nacional, através de seus cons --
tu ídos pela oposi çã o aristocrá tica e passa em
tituintes, iniciou em seguida a elabora ção da De
seguida a ser substitu ída por uma revolta da bur
guesia, que recebe o apoio maciço do campe-
- claraçã o dos Direitos do Homem e do Cidadão,
sinato. Este movimento no seu todo resultará na cujo teor acentuadamente universalista ultrapas
sou , em significado, o documento elaborado pelos
-
queda do velho regime 6.
revolucion á rios americanos. A ê nfase dada à
liberdade, fundamentada na afirma çã o de que
6 . CODEC HOT. ) , L* J Revoluciones
.
Nueva SHo, 1969 p. 44 .
- 1799 .
\ 177*1 ) ttnreeloun ,
“ os homens nascem livres e devem viver livres”,

OS FUNDAMENTOS HIST Ó RICOS DO ROMANTISMO 33


é o que se destaca no documento. A liberdade in- A Revolu ção Francesa serviu de modelo e
dividual é incorporada ao individualismo da socie
dade burguesa, que nascia politicamente com a
- comunicou a chama revolucion á ria a todo o con
tinente europeu. Os clubes “ jacobinos” forma
--
Revolu ção. A liberdade é formulada juridica - ram-se na Inglaterra, nos Pa íses Baixos, na Su íça,
--
mente como um pressuposto básico na nova so
ciedade e se expressa sob a forma de liberdade
- espalhando-se o processo revolucionário pela Eu
ropa central, isto é, Alemanha, Á ustria até a Hun
i

de opiniã o e liberdade de imprensa. Outro prin


cípio que a Declaração enfatiza é a igualdade,
- gria, Poló nia e Su écia. Na Europa meridional, em
especial na Itá lia, o ardor revolucioná rio mani --
pois “os homens nascem iguais” , Perante a jus- festou-se també m na formação dos clubes “ jaco
ti ç a , perante a lei , todos os cidad ã os s ã o iguais. binos”, que foram pesadamente perseguidos pelas
Também perante a responsabilidade do fisco a autoridades oficiais.
igualdade é consagrada. A Declara ção dos Di-
reitos do Homem se preocupa com a proprie-
-
Ao movimento revolucioná rio seguiu se o mo
vimento contra-revolucioná rio, que atuou na esfera
-
-
---
dade privada como um dos direitos naturais e ideológica doutriná ria de um modo bastante frá
afirma que a propriedade é inviol á vel e sagra
da, base do novo regime pol í tico, A Declara ção
- gil e mais eficientemente no campo da ação prá
tica, reprimindo com viol ê ncia os clubes de agi
tadores. Um dos poucos trabalhos significativos
•V

esmiu çar á em vá rios itens e artigos outros aspectos


ligados à nova organiza çã o pol í tico-social , que a
bem -sucedida revolu çã o do Terceiro Estado che -
no campo teó rico foram as Reflexõ es sobre a Re
volução da França, escrito pelo inglês Burke, que
-
gou a elaborar. Mesmo o direito à rebelião ou de que teve como efeito principal isolar a burguesia
resist ê ncia à opressão entra como princ ípio nesse inglesa das id éias revolucioná rias. Além da obra
documento que separa o antigo regime do novo. importante de Burke, escreveram em apoio às
idéias contra- revolucion á rias o su íço Mallet du
A sociedade do Antigo Regime estava funda- Pan e José de Maistre. Em essê ncia, tais escritos
mentada na hierarquia e no privilégio de classes. servem de cená rio para uma pol ítica radicai con -
Ainda que a Declaração dos Direitos do Homem
proclamasse a igualdade perante a lei, as discus - tra o elemento revolucion á rio, a ponto de mo
narcas ilustrados, que se destacavam por um go
--
sões em torno da concessã o de igualdade aos verno moderno, passarem a abandonar a linha
judeus, bem como a supressão das discrimina ções de tolerâ ncia e a atitude radonalista em face das
entre brancos e negros nas colónias francesas, evi
denciavam qu ã o frá gil era o princ ípio perante a
- id é ias ligadas à forma çã o de rep ú blicas democr á-
ticas e de regimes liberais . A coliga çã o dos pa íses
realidade social . Contudo, a igualdade de direitos V

anti -revolucion á rios levou a Fran ça à guerra e ao


permitiu maior mobilidade social, fazendo com terror interno como rea çã o contra o perigo que
-
que o monopólio tradicional dos cargos p ú blicos,
que se encontrava em m ã os da nobreza , fosse
amea çava a Revolu ção. Por fim , após enfrentar
os exé rcitos coligados, a Fran ça sairia vitoriosa,
deslocado para a burguesia , pois era, de fato, a
ú nica preparada culturalmente para exercê-los. No
mas nos demais pa íses, os que se preparavam pa
ra derrubar o Antigo Regime , n ão alcan çaram o
-
exé rcito, també m ocorreram certas modifica ções mesmo ê xito e, pior ainda , teriam suas pá trias
que permitiram uma limitada ascensã o de ele - dividas entre os aliados, como no caso da
mentos oriundos das camadas mais baixas da po - Pol ónia , que após a batalha de Valmy em fins de
pula çã o. Mas a grande transforma çã o deu se - 1792 foi partilhada entre a Prussia e a R ússia.
mesmo na legisla ção, que conseguiu abolir os
entraves caracter ísticos do regime feudal 7 , IV. O Despertar das idéias Sociais
A filosofia pol ítica do Terceiro Estado n ão
7. . -
GODECHOT, j. Of > cit . pp . 40 48. satisfez a todos os espíritos da é poca em que a

34
:!

Revolu ção Francesa causava o maior impacto
na vida social européia. O pensamento social, a
subsistência. Os observadores da vida social tam
bém perceberam o paradoxo criado pela riqueza ,
-
partir desse tempo, criticou os sistemas sociais do de um lado, e a extrema miséria, do outro, de
passado como fundamentados na violência e no modo que, em meio da abund â ncia, grassava a
egoísmo que impediam o livre desenvolvimento fome provocada muitas vezes por crises decorren-
da natureza privilegiada do ser humano, ápice da tes de um regime de produção desordenado e
criaçã o divina. O socialismo passou a fazer parte an á rquico, conceituado pelo liberalismo econó-
de todas as doutrinas políticas que procuravam mico.
criar condições que permitissem o surgimento de Os pensadores mais extremados, como Blan-
uma sociedade harmoniosa e justa, onde o homem qui , Babeuf ,JBuonarrotti , partiram das posições
poderia dar expressão ao seu ser e à criatividade, jacobinas radicais para formularem uma doutri -
livre de entraves económicos e sociais. na social esteada na ígualdade absoluta. Esses ^

A Revolução Francesa, ainda que abolisse os ; pensadores n ã otratam somente~claTêvo í u ção po-
~
direitos e as instituições feudais, não aboliu a j j l ítica mas tambem dãTl oTu çâõ sõcÍã1 ê™aurecli
desigualdade entre os homens. A liberdade sem j j tã m na Lmnsf órmaçao dò omem~ OTrsidg ^^
^
" ^
-
"

^ | ldO
a igualdade foi considerada insatisfatória , pro -
como um animal soci à l ~ capaz de evoluir cada
-
pondo se, já naquela ocasião, que a propriedade vez..iRaisv-sejxm.e.
^ Na afiTmaçaõTfe
fosse limitada perante a lei e se reduzisse a dis- BÍ anqui , de que a moralidade é ~cTfundamento da
t â ncia abissal entre pobres e ricos, ou entre os
possuidores e “os que nada tinham a perder”. A
sociedade, encontra-se uma cren ça otimista quan
to à natureza humana, bem como f é na ciência e
-
política revolucion á ria formulou a teoria da to
mada do poder e a t á tica de manuten çã o no poder.
-
no valor da educa ção. Mas esse progressismo de
BÍ anqui não o impede, por outro lado, de se
A resistência dos privilegiados e da aristocracia mostrar intolerante, chauvinista e anti-semita ,
provava que toda transformação social era im
possível sem coação ou opressão social através
-
atributos que passarão a ser típicos da burguesia
francesa no fim do século XIX.
do uso da violê ncia. A idéia de que a revolu ção
exigia a formação de um governo revolucioná rio
O jargão revolucioná rio que antecede o sur
gimento do marxismo, posteriormente , aparece
-
ou de uma ditadura revolucion á ria tinha como nos escritos daqueles pensadores cujo “socialis-
fundamento a experiência francesa e os dias do mo” transparece em concepções confusas e
Terror que visava a combater a reação contra re
volucioná ria.
- -
muito vagas, ainda que um BÍanqui escreva ser
A igualdade social e o regime de propriedade a emancipação dos trabalhadores, o fim do regime de ex -
foram alvo de novas teorizações por parte dos ploração . . . o advento de uma nova ordem social destina-
pensadores franceses e ingleses. Esses ú ltimos da a libertar os trabalhadores da tirania do capitalismo
seguiam princípios filosóficos que vinham desde aquilo que a rep ú blica deve realizar
Locke e se estendiam através de Adam Smith,
penetrando no terreno mais sólido da economia. Buchez, em 1833, na Introduction à la Science
O capital, na interpreta ção dos socialistas, era de VHisfoire , considera que é a sociedade dividida
o fruto do trabalho dos oper á rios, após terem " em classes, uma das quais possui os instru-
eles recebido o seu quinhão em forma de sal á
rio; portanto, eram os trabalhadores os criadores
-
mentos de trabalho, terra, f ábricas , casas , capi-
tais, nada possuindo a outra , “ que trabalha para
da riqueza social. Assim sendo, era injusto que a primeira ” 9.
não tivessem o direito ao valor integral do pro
duto de seu trabalho e ficassem limitados apenas
-8 . TOUCH . m > , J , / / istorio dv las Ideas Pol í ticas. Madri ,
\
Ed . Tecnos. 1970, p 442. ,
a uma parte do valor que permite apenas a sua 9 , Idem , ibidetn , p . 445 .

OS FUNDAMENTOS HISTÓ RICOS DO ROMANTISMO 35


-x*-*
jt * /' V. •
r * '

Ú
vezêTcorn
J
^mantismo pol í tico manifesta-se muitas
tendências sócrã is cóht íâditórias, sendo,
participação popular, Chegou a vez do verbo, do
convencimento, do entusiasmo, todos eles confi-
portanto, impossí vel determinar- se qual a ligação
"
gurados peia literatura pol í tica t í pica do Roman-
direta do socialismo da epoca com todas as dire
ções que . o . Romantismo tomou em termos po-
- tismo. A literatura histórica é parte da literatura
pol í tica . As grandes obras , como a Histoire de
liticos JPodemos _ale diferenciar entre o roman- la R êvolution Française de Thiers, escrita entre
tismo^pol ítico alemão , nitidamente coriservãdor, e 1823 e 1827 , a Histoire des Girondins de Lamar -
ò italiano, em sua maioria liberal , o ingles apre- tine . escrita durante os anos de 1848 - 1849 , ou
sentando as duas tendê ncias em vá rios de seus ainda a Histoire de la R ê volution de Michelet, em
representantes, como poder í amos exemplificar em 1847 , foram elaboradas com conceitos impregna-
Byron e Coleridgé i ^ dos de romantismo pol ítico, procurando, ao mes-
- - Na França, várias foram as fases do roman
tismo pol í tico, não se encontrando nenhuma linha
- mo tempo, extrair do passado uma orientação para
o futuro da sociedade humana . A História oferece
os ~ã7gu
uniforme que permita fazer uma caracterização
ecisa . Se , de um lado , o saudosismo sentimen - ^ í t ica , comprovando
as concepções pessoais dos historiadores e tal in-

^ ^^
, -j taLpara com a antiga Fran ça impera nos primei- tenção é expressa por .Thierry no pref á cio ao Dix

^
\ " ros românticos , já em Chateaubriand e Lamarti -
ne se visualiza uma concepção inteiramente mo-
n á rquica . Na Revolução de 1830 contra a monar-
quia dos Bourbons, os revolucionários parecem
Ans D' Ê ttides Historicities , quando escreve que
em È S 17 . preocupado pelo vivo desejo de contribuir
para 0 tnunfo^
da$ idéias constitucionais mt ®
n procurar nos livros de Historia provas e argumentos
ao mesmo tempo querer derrubar o romantismo
t
em apoio minhas crenÇas pol í ticas * « .
difundido nos meios intelectuais franceses. Mais
tarde, com Victor Hugo, que se identifica com A imaginação do historiador e sua participa-
as idé ias de progresso, fraternidade e democracia ção pol í tica pessoal nos acontecimentos da época,
do povo , deparamos com uma nova tendência do bem como suas convicções intelectuais s ão ele-
romantismo pol í tico. mentos que interferem na ciência histórica desses
Çertos yajores sobress -se nesse romantis- homens. Ê inegável , poré m , que a ciência histó-
^^
mo pol ítico , valores esses que o definem melhor e rica da época se vincule ao romantismo pol ítico
õ quá l íficâ m histõncã mentr como perté ncénte ao
'
e aos sentimentos mais profundos sobre um pe-
secuIo XiA r pois ele se alimenta das evocações da
(
. ríodo considerado de transição, paralelamente do-
Revolução Francesa e do Impérío qUe a SUcedé
"

O Heroísmo, o sacrif
^^
^

ício, ò sahpe dérraiBãdó


vinculam-se a essa evocação do passado próxi-
^

^ minando o entusiasmo para com o futuro e a


nostalgia para com o passado,
A “questão social” encontra lugar na histo-
mo . sNo âmago ocorre a eterna idealização do riografia romântica e, novamente de um modo
^

passado representado pelos grandes acontecimen- próprio , se manifesta como piedade pa15W os
~

tos histó ricos . O Romantismo , em sua expressão


historicista , através de Walter Scott , Lamartine,
Thierry , Guizot, Michelet , será sob esse, aspecto,
para com á grande massa do povo . As obras de^
humildes; as classes n ão privilegiadas o júnda,

-
^
imensamente rico e criador. A idealização ocorre
^

^ ^
Indifference en Ma
/ /ère e Religion e Livre du Peuple , foram escritos
também em relação à pol^ítica que, desde Ma
quiavel , estava ligada às manifestações mais
- com este espírito, tendente a um socialismo senti-
mental de uma personalidade româ ntica . Nele se
feias da alma humana, assentando-se na habili- mesclam e acabam se identificando ética religio-
dade da manipulação pessoal , secreta e enganado- sa ética social , onde uo que o povo quer,
ra. Agora , a pol í tica é arejada pela participação
pú blica do acontecimento e peio apelo verbal à 10 - idem , ibidem , p , í 00.
>

36
Deus mesmo o quer”, sendo a causa do po -
de Blanc, muitas vezes mal interpretado, teve
vo uma causa santa, a causa de Deus Mui -
aceita ção bãst á nté à mplà n õ níéíó opêrã r ío^cia
*

tos o verã o como o precursor da democra -


epoca e calou fundo no romantismo popular,
cia crist ã. Buchez ( 1796-1865 ) , que escreveu próprio ; do
uma significativa Hisí oire Parlementaire de la décadas.
Revolution Française , entre 1834-1838, influen- ' Uma boa parte das idé ias socialistas que fer
-
-
ciado pelas doutrinas de Saint Simon, procura -
mentavam WsêratÓ1>ãs
-
r á demonstrar que os princípios do Revolu e) propagadas pelo anstocrata Conde de Saint Simon ^^
^

-
ção Francesa não se acham em contradi ção com
os princípios cristãos, mas que decorrem deles. de Independence americana , a qual assistiu e deu
Para Buchez, a civilização cristã culmina na Re -
um 'significado histórico político cêndentai; - «
volu ção Francesa e a civilização moderna se
'
crend ò, mesmo, que levaria á tfanstofmação à
inspira no Evangelho. Entre as idéias socializan -
sociedade europeia então vigente. O saint-simo-
tes que Buchez desenvolve, já nos deparamos com nismo chegou a formar uma verdadeira escola
a afirma ção teórica da associação operá ria e do com T multiplicação de adeptos que o seguiram
cooperativismo de produ ção. Sua influ ê ncia foi e adaptaram as doutrinas originais do fundador.
importante nos meios operá rios e constata se -
Um centro de irradiação de suas doutrinas foi a
certa relação entre suas idéias, que formulam um Escola Politécnica de Paris, onde se destacaram
socialismo crist ão, e as de Pierre Leroux ( 1797- nomes, como Enfantin , Michel Chevalier e ou -
-1871 ) , que tenta uma síntese entre o Evange- tros engenheiros, que seguiram o espírito positivis -
lho e a Revolução em um vasto conjunto de obras ta das f érteis id éias de Saint-Simon. O positivis-
dedicadas às questões sociais. No mesmo per íodo mo filosófico sairá do arsenal de idéias de Saint -
temos o nome de JLoui§.,Blanc ( 1811-1882 ) jmjas Ç- -Simon através de seu famoso secretá rio Augusto
id éias deixaram a burguesia francesa preocupada, ^
Comte. Touchard dirá com razão que o saint-si-
devidoa ê nf ãsFd âid áà ^organTzãçaõ dolr ãbãlíio” .
^
momsmo é um positivismo apaixonado, impregna7
Em um lblheto publicádif em ' T82P0C sòb "Ôl®u!o cio de romantismo 12.
'

'

UOrganisation du Travail , propõe um plano de


reforma com o objetivo de eliminar a concorrê n
cia e melhorar o destino de todos, mediante a
^-
S t Simon ressalta, antes de tudo, o papel
-
vit ál da produ ção na existê ncia da sociedade hu-
mana, exemplificando o seu ponto de vista com
,

participação livre dos indivíduos e a sua frater -


a famosa parabola segundo a qua! a perda de
nal associação 11. Blanc propaga a idéia de “ofici
nas sociais”, que dariam"aõnrãMlKadorêsli pMgi2
-
três mil dos prihcipáis sá bios, artistas e àrièSãõs
d á Fran ça, envolveria praticamente todas as clas -
bilidade de comprar os instrumentos de produção, ses produtoras, causando uma catástrofe bem
preconizando que estes deveriam pertencèf-lliês, à maior do que poderia causar a perda de trinta . mil
medida que fossem educados e preparados para representantes mats eminentes : da. Estãdp, desde
. tanto. O Estado seria o veiculo natural e capaz de
, a fam ília real,' ministros, altos funcion á rios, alto
criar tais oficinas sócíaisTpõdèhdõ-se ainda Cóntaf
" ^
clero, ju ízes e os proprietá rios mais ricos do país.

com á gèhè ròsidadè dos Portanto, os produtores ou o que ele chama de


*
interessados no empreendimento como sociós de • classe industrial, passam a ser a classe mais impor-
ntòdb pe todios acabariam sTbenefid àndrigual
mente, e, dadas as vantagens reais que o fato
-
tante na sociedade. No pensamento saint simonia
no encontramos a afirmação de que organiza ção
- -
traria, ao fim substituiria todo e qualquer outro económica é primordial e mais relevante do que a
tipo de organização económica. O pensamento de preocupação político institucional, pondo mesmo -
II. Idem, ibidem , p . 4 4 0 . 12. Idem , ibidem, p. 428 .

OS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DO ROMANTISMO 37


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em dúvida o liberalismo político e a democracia.


Se cabe exigir do Estado uma ação em favor da
O falanstério serviria de modelo para refor
mar a sociedade, tomando como base um n ú me
-
-
3

mudan ça social, ele deve empreendê la organi - - ro limitado de 1 600 pessoas que assumiriam to-
zando a economia e em particular o crédito. O go - das as fun ções do pequeno núcleo social reve-
verno ideal seria um governo tecnocrá tico que ti
vesse a capacidade de planejar os assuntos econó-
- zando-se uns aos outros. A arquitetura do falans-
tério obedece a critérios que devem favorecer a
micos. Mas seria simplificar em demasia se vísse - cria ção de um ambiente agradá vel e atraente aos
-
mos em Saint Simon apenas o formulador de uma seus habitantes. O trabalho deverá ser organiza-
reforma econ ómica, incapaz de extrair conclusões
mais amplas sobre a vida social. Desde já deve-
do de modo a evitar o cansaço e a rotina desgas
tante, alternando-se o labor artesanal com a fama
-
mos declarar que o aristocrata francês antecede, agr ícola. Também Fourier, que n ão preconiza exa-
em suas conclusões, boa parte das premissas teó - tamente um sistema comunista, quer associar os
ricas de Marx e seus seguidores mais próximos.
-
Porém em Saint Simon e sua escola o progresso é
capitalistas à criação dos falanstérios, sob a pro
messa de que as inversões de capital resultarão em
-
representado como uma linha cont ínua que deverá bons lucros. Na composição da sociedade ideal ,
levar a uma nova sociedade da fartura onde reina- isto é, do falanst é rio, haveria que levar em conta
rá a harmonia universal. A realizaçã o desses so- a diversidade da natureza humana e as paixões
nhos ficará a cargo de engenheiros, como Fer
dinand de Lesseps, que abrirá o Canal de Suez;
- que movem o homem em sua a ção a fim de
combinar os caracteres em grupos harmónicos
dos irm ãos Pé reire, que organizarão o crédito e integrados. Orientadas com inteligê ncia , as
mobiliá rio, de financistas, administradores, como paixões favoreceriam a fraternidade e a colabo-
Michel Chevalier, expoentes da economia capita
lista em franca expansão. A utopia social saint
-
-
ra ção entre os membros do falanstério , que
seria o modelo de uma sociedade racional,
-simoniana vai ao encontro do próprio desenvol- todirigida e capaz de satisfazer os anseios huma -
-
vimento do capitalismo e do bem estar que ele po
derá promover em toda a sociedade.
- manos.
-
Menos influente do que Saint Simon , porém
Com a morte de Fourier, suas doutrinas con
.

tinuaram sendo divulgadas principalmente por


-
y^mais imaginativa, é a obra de Charles Fourier
( 1772-1837 ) , homem de origemTSQíníf âe e qiie
Victor Considerant, que teve de enfrentar as diver
sas interpreta ções dadas às concepções fourieristas.
-
passou a vida de pequeno comerci á rio sonhando
com a reforma da sociedade humana. Critica Alguns experimentos falansterianos foram reali
zados na Fran ça, Inglaterra, Estados Unidos e
-
radicalmente, em sua obra, a sociedade capitalista,
outros lugares, mas, na prá tica , fracassaram co-
propondo, porém, soluções que fogem inteiramen-
te às possibilidades de concretização. Nas suas mo tentativas de criar uma nova sociedade, resul -
concepções, o elemento utó pico se mescla a um tando, em alguns casos, em bem sucedidas associa
ções cooperativas 13. Assim , a contribuiçã o de i
-
rómantismo et é reo; ohde não h á lugar para a in-
^
duTtriã Tiérh para ó comé rcio. Fouriér ê inais
'

incisivo em relação ao comércio, que descreve


^ ^ Fourier també m terá uma ligação indireta com & j
movimento cooperativista , que se estenderá pel ó I
cõrhó lima atividade pá msífan á e ém contraste mundo como uma tentativa adicional de encon ! -
com a misé ria do prolét áriádó ^ urBan õT que
eíe viu de perto em Lyon
— considera a agricultu
ra como a mais salutar das atividades humanas.
— ;

-
trar o remédio certo para os males sociais.
Na Inglaterra, o socialismo ut ó pico tem seu
representante num empresá rio de talento, bem
Stiaj> aumçntp jde pxõdu çao sucedido economicamente , que pouco especulou
más o bem-estar dos consumidores e a organiza-
^

U . Poi LAT, E. Les cahiers


' UíínVjr de Fourier . Paris.
çao da sociedade ideal que denomina falanst é rio . Ed. dc Minuit , 1957.

38
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sobre a natureza humana, mas que se empenhou
com energia e aplica ção met ódica em realizar a
reforma social , Robert 0>ven ( 1771-1858 ) co-
meça seu programa de reforma assumindo uma
reinará uma nova morai e imperará a felicidade
entre os homens, concepções que expressa no
Catecismo do Novo Mundo Moral em O Novo
Mundo Morah O pragmatismo de Owen, que con -
~
atitude filantrópica perante o trabalhador de sua fiava na reforma da sociedade sém à necessidade
" '

própria empresa, melhorando sua habitação, re - dõ emprego de meios políticos, contrasta çppLi>
duzindo a jornada de trabalho, construindo esco- cartismo, que no inicio foi impulsionado por
las , desenvolvendo as condi ções - de higiene, au- owemstas dissidentes e_mti£os.disciDulos.dajadus
. -
mentando os salá rios e dando-lhe boas condições trial ingles O movimento cartista adotou essen -
de trabalho. Nesse sentido, o experimento em New cialmente uma linha política e a Working Men’s
Lanark foi uma inovação para os padrões da Association, fundada em 1836, era composta
-
época, apresentando se Owen como um empre - somente de trabalhadores, apresentando se como
uma organização popular. Animado por uma ideo-
-
sá rio pioneiro e ilustrado, assim como um capi-
talista inovador em relaçã o à classe produtora. -
logia de classe, transforma se em um movimento
revolucioná rio que penetrará nas regiões mais
Por outro lado, o pensamento de Owen recorre à
ajuda do Estado para que se imponha uma le- industrializadas da Inglaterra, mas que começará
gislação social capaz de proteger o trabalho de a esmorecer a partir de 1848.
menores e, em 1819, tal legislação foi adotada, Notá vel será a influência de Proudhon 11809- ,

ainda que com um espírito diverso ao de seu au


tor, Ã semelhan ça de Fourier, adota uma posição
- -1865Tria formaçaojdoj^
século XIX. Após estar ligado ao grupo e à pessoa
cr ítica perante a ind ústria e favorece a agricultura , dó f úhdadõr do chamado socialismo científico,
sonhando com a criação de pequenas comunida
des coletivas, onde seria abolida a propriedade
- que foi Karl Marx, Proudhon a partir de 1846,
ano em que publicou o Système des Contradictions
privada e a produ ção seria fundamentaimente Economiques ou Philosophise de la Misè re, rom-
agrícola. O modelo de tal comunidade se realizou perá com os radicais alem ães, para cultivar con
cepções sociais pró prias mas nem sempre expostas
-
em New Harmony nos Estados Unidos, mas,
após certo per íodo de existê ncia, a experiê ncia sistematicamente. Da í associar-se, muitas vezes,
redundou em fracasso. Owen toma a iniciativa de
fundar um banco onde se intercambiam bónus de
trabalho, pois considera o trabalho como a me
dida de valor. Tal projeto també m malogrará logo
-
seu nome a um socialismo francês independente
do marxismo. Proudhon , assim como Qwen, tam
bé m considera que a quest ão social | _n o j)p
geyser resolvida pela política mas que deve jaer
"
_ -
-
após sua funda ção em 1832. Esse socialismo objeto da ciência da sociedade_representada pela
mutualista est á muito pró ximo das idéias preconi
zadas pelos francês Proudhon, mas tal socialismo,
- economia porítícaTjampP.uçp acredita na demo
cracia pari amentar, poré m aceita como Trhpõrtanf è
-
que se mantém no â mbito do intercâ mbio, não Teduca ção do povo para a modificação íã sócie-
ser á levado à produção económica. Por esse moti- d áde^ Anti-religioso convicto, justifica sua ruptura
vo, os seguidores de Owen são participantes no
desenvolvimento de cooperativismo, que recebeu
com Marx por se colocar o marxismo na posi
ção de uma nova religi ão, “ainda que essa religião
-
-
ajuda imensa do empresá rio filantropo. Owen
acredita profundamente na possibilidade de mol-
fosse a religi ão da lógica, a religi ão da razão”
'

Assim como n ão crê na demoçraçia, mttitp menos


dar a natureza humana , produto de condições confia no Estado ou em outro tipo qualquer de
exteriores, e na educação do homem para uma
vida melhor. Talvez seja essa a razão pela qual
autoridade,.Sua vjsã p sp
. ,„

^
é de urna sociedade aná rquica, onde o poder pol í-
nos ú ltimos anos de sua vida se fixa na idéia e tico seria substh u íírõ p Ialívré ãssôciãçao dõslxã
" "

^

-
na crença de que se aproxima o tempo em que balhadores. A sua concepção de Estado e federa
's s (P
tf í\
"
-
OS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DO ROMANTISMO 39
lista, pois no seu entender, essa , instituição é con- prometêico de Proudhon e, mesmo que se possa
sequência da reuni ão de vá rios grupos diferentes, criticar as f órmulas pouco aplicá veis que propôs
por natureza e por objetivo, “formados cada um para aliviar as enfermidades sociais, não deixa
para o exercício de uma fun ção especial e a cria - de ser admirável até os dias de hoje a riqueza
que manifesta sua obra .
ção de um objeto particular, unidos sob uma .
lei comum e com um interesse id êntico” 14. O O anarquismo que frutificou, ao lado do socia-
princípio federalista também se estende ao campo lismo como uma forma do romantismo pol ítico da
-
internacional, apresentando se como solução para época, também teve em Proudhon um de seus
doutrinadores. Os historiadores do anarquismo,
as rela ções entre países ; nesse sentido, escreveu
uma obra em 1863 sob o t ítulo Du Prí ncipe Fédê- como George Woodcock, apontam o papel rele -
.
ratif A diferença de Proudhon com respeito a vante que as idéias proudhonianas exerceram no
muitos dos socialistas contempor â neos é o iguali- movimento:
tarismo extremado, e a famosa frase segundo a Em 1840, Pierre-Joseph Proudhon, aquele tempes -
qual “a propriedade é um roubo” advé m de uma tuoso, argumentative individualista que se orgulhava
convicção profunda na igualdade de condições,
que Proudhon considera o prmcípio umversal da

de ser um homem de paradoxo e provocador de con
tradições, publicou a obra que o firmou como um pen
--
* sociedade. A liberdade e a igualdade devem en - sador libertá rio pioneiro. Foi O que é a propriedade? ,
onde deu à sua pr ó pria pergunta a célebre resposta:
contrar o seu equilíbrio, sem o sacrif ício de uma
- “ A propriedade é um roubo”. No mesmo livro tornou-se
à outra , mas se realizando pela solidariedade fra o primeiro homem a reivindicar voluntariamente o t ítulo
.
ternal Em Confessions d f V n Révolutionnaire for - de anarquista
mula seu ponto de vista, dizendo:
--
O socialismo do século passado, que se le
Do â ngulo social , liberdade e solidariedade são termos vantara contra o liberalismo, defensor das posi
idênticos: a liberdade de cada um encontra na liberda
de dos demais, não um limite, mas um apoio: o ho-
- ções da classe média, proclamando os direitos das
mem mais livre é o que tem mais relações com os seus classes trabalhadoras 17, reuniu em sua forma ção
semelhantes 15. três contribuições, segundo a feliz interpretação
Na aplicação prá tica dessas idéias, e como uma de Moisés Hess: a francesa , no campo da teoria
possibilidade de resolver o problema social sem revolucion ária ; a inglesa, no campo da economia ; e
violência e sem luta de classes, propõe como a alem ã , na esfera da filosofia. A inten ção univer-
. modelo a associação mutualista , que garante a salista dos pensadores socialistas n ão era suficien -
seguran ça econ ómica e social aos seus afilia - temente forte para impedir a manifestaçã o de ca -
dos. Proudhon imaginou o Banco do Povo co- rá ter nacional, onde poderíamos encontrar as
mo uma das formas mutualistas sem que tal raízes mais profundas de sua inspiração Ê im . -
projeto fosse jamais concretizado na prática. possível entendermos o romantismo político da
Apesar de tudo, encontra-se no proudhonismo época sem levarmos em conta a poderosa força
uma exaltação radical de valores morais, fun- do nascente nacionalismo.
damentalmente o da justiça, que justifica as
revoluções na história da humanidade. A essência V. A questão nacional e o surgimento do
da justi ça é o respeito à dignidade humana no nacionalismo
tempo e no espaço, sem compromissos com os
obst áculos que se possam apresentar em sua de - O golpe de Estado de 18 de brum á rio do
ano VIII (9 de novembro de 1799 ) passou a ser
fesa. Aqui surge o fundamento do humanismo
14 , De la ustice, quarto estudo, apud TOUCHARD, Op, cit ., 16 . WOODCOCK , G. Anarchism. Penguin Books, 1970 , p. 9.
p. 437 . . .
. .
17 LASKI, H . J. Bl liberalismo europeo Mexico, Ed Foado
.
IS . TOUCHARD, Op citp. 437, dc Cultura Econ ómica, 1953, p 206,

40
um marco histó rico n ã o somente para a França esses utilizados na literatura patriótica do século
mas també m para o continente europeu. Al ém de passado. Foi Rousseau quem deu ê nfase ao patrio-
estabelecer um regime autorit á rio apoiado na força tismo republicano que identificaria a Revolução
militar, desencadeará um novo processo de conso
lidaçã o da Revolu çã o Francesa perante os Esta-
- com a nação. Em seu Discurs Sur UOrigine et
Les Fondements de Vlnégalit é Parmi Les
dos europeus. As guerras empreendidas por Na
poleão Bonaparte faziam parte desse desenvolvi
-- Hommes, transparece esse patriotismo sob a for
ma de amor à liberdade e às leis e costumes tra
-
-
mento político-militar que levaria os exércitos da dicionais. Na Encyclopédie escreve que o amor à
França a enfrentarem as forças coligadas da In -
glaterra , Á ustria , Ná poles e os Estados satélites
pá tria é o meio mais seguro para algu ém ser um
bom cidad ão: “O amor à pá tria é o meio mais efi -
que dependiam dos aliados. Com habilidade de caz; pois, como já disse, todo homem é virtuoso
estadista e gê nio militar, Napoleão havia impos- quando sua vontade particular é conforme em tudo
to em 1801 uma verdadeira pacificação geral com a vontade geral, e nós queremos de bom
entre os beligerantes europeus, mas os trata - grado aquilo que querem as pessoas que ama -
dos assinados nesse ano foram de pouca dura ção. mos” 18. Mas é necessário ressaltar que, em Rous -
Outros planos se escondiam atrás da política do seau, o cidad ão individual continua sendo a base
ditador corso, pois logo ficou evidente que cons
tru íra uma estratégia ligada a uma forte ambição
- da pátria , e o fim do Estado é a felicidade e a li-
berdade individuais. Com razão um autor ressal-
pessoal, que deveria assumir a forma de uma ta que, em Rousseau, a natureza mais íntima
monarquia expansionista tendo por objetivo a do homem é constituída pelos simples sentimen -
conquista de todo o Continente. Durante o seu ; ;
poder, as vitórias e as derrotas, a guerra e a paz, \
tos morais e gostos estéticos que são desfigura
dos e embotados pelas exigências da civilização.
-
contribu íram para transformar o panorama políti l \
co europeu e, mais ainda, ajudaram à emergência \ \
- O Estado ideal seria aquele que pudesse restabe-
lecer uma primeira idade de ouro, onde uma co-
de novos Estados nacionais inspirados, de um lado, j j munidade natural est á unida por sentimentos mo-
-
nas id éias revolucion á rias e, de outro, nas tradi j \ rais e uma vontade comum 19. A sua contribuição <
çoes culturais e populares despertadas em na j
cionalidades que haviam recém-descoberto a sua
-^ maior para o nacionalismo moderno foi a de ape
larraos"Fundamentos sentimentais e morais da co -^
consciência nacional e ambicionavam um lugar ao mumdade e do Estado para levar o cidadao a
sol entre as na ções. A figura rom â ntica do im - participar ativamente como responsavél por seu
perador francês aparece, ao mesmo tempo, co- destino. O amor a patria e a virtude eram~~
possí -
mo o “libertador” das na ções, a ponto de um veis em um Estado no qual oscídãd ãõs f õssêm 11-
"
"

Beethoven dedicar-lhe uma de suas composições vrès e igiiã isT


'

musicais, para retirar a dedicatória pouco depois, Róusseau já compreendia o papel que as
com forte sentimento de decepção para com o condições históricas e ambientais assumiam ao
“ opressor” das nacionalidades. Cedo ou tarde, diferenciar os agrupamentos humanos e criar as
essas nacionalidades reivindicariam o direito à
autodeterminaçã o, convictas de que eram do - individualidades nacionais. Em um de seus úl -
timos escritos políticos, Considérations Sur Le
nas de seu pró prio destino, n ão devendo obe - Gouvernement de Pologne , esclarece qual de -
diência a nenhum poder, vendo na liberdade ve ser o m é todo acertado para educar os ci -
coletiva e na igualdade da cidadania a realiza
ção dos ideais supremos da humanidade.
- dad ãos desde a inf â ncia para que adquiram o
Nesse sentido, certos conceitos são emprega - -
Fondo de Cultura Econ ómica , 1949 , pp. 208 209.
.
IS . KOHN , Mans. Historia del nacionalismo M é xico, Ed .
dos como se possu íssem o mesmo significado, tais . -
19 . CROSSMAN , R . H .S. Biografia del Estado Moderno M é xi
como república, pá tria, nação, Estado, termos -
co, Ed. Fondo de Cultura Econ ó mica , 1970 , pp. 133 4.

OS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DO ROMANTISMO 41


? -

Napoleão, medalh ão em bronze de David D ‘ Angers. A Revolta , por Daumier .


amor à pá tria e cresçam imbu ídos de sentimentos da da alma . AJingu é i.repositóxio cultural~de
umac^
^ ^

para com a na ção, com há bitos viris e respeito às um povo,


instituições. O currículo escolar defendido por
-
frutod ç
^
Rousseau, em boa parte , ilustra suas ideias fun
damentais e constituiu uma revolu ção na pedago-
gia de seu tempo, mas o objetivo de seu progra
ma educativo é tanto mais claro quanto aos dez
- .
é atiravés da língua que o conhecimento se toma
possível , assim como as diferen ças lingu ísticas re-
fletem cl ferentes expenepçias dos. povos.. A teo
-
nà estetica de Herder hga se à ideia de que a
-
anos, após o aprendizado da leitura e exercício
sobre textos que retratam a pá tria , o aluno po -
poesia constitui um produto de condições natu
rais e histó ricas captadas por intermédio de uma
-
lonês deveria conhecer os seus produtos, aos doze,
suas proví ncias e cidades, aos quinze, toda sua
experiência do “sentir11 ( Gefuhl ). Ainda que au
t ónoma, a obra poética está relacionada com o
-
história, aos dezesseis, suas leis, de modo que a seu ambiente gerador, que nela se incorpora e se
Pol ónia e seu passado pertencessem a cada crian- transforma num “sentir” em si e que, no decorrer
ça polonesa .
Na França, se o nacionalismo era essencial -
do tempo, al é m de o refletir, também o influen
cia. A linguagem poética, que pertence a todos
-
mente pol í tico-social, tal como é conceituado por e n ão a alguns predestinados, é a “ l íngua mãe da
humanidade11 e aparece, em sua pureza original e
-
Rousseau , na Alemanha sofre alterações radicais
quando o conceito legal e racional de cidad ãos sua força, nos períodos primitivos de cada na
ção, como comprova a riqueza lingu ística do Ve-
-
é substituído pelo Volk ( “ Povo*’) » que permi -
tia , após a sua desõulrerra irlos^htimanistas ale- lho Testamento, dos Edas, de Homero. Na antiga
^
m ães, uma utilização menos definida e mats per
meá vel à imagina ção româ ntica e ao devspertar
- poesia se revela a imensa riqueza linguística de
cada nação, que servirá aos poetas posteriores
das emoções. Nele se poderia descobrir as ra ízes como fonte de cujas águas cristalinas irão beber
primitivas da nacionalidade, vista quase como um permanentemente. Herder desenvolveu suas con-
feito natural rodeado de misté rio a ser desven - cepções em diversos estudos como o Vber die
-
dado no passado longínquo, nas origens ou gé
nese da comunidade primeva . O nacionalismo
- Wirkung der Dichtkunst auj die Sitten der V ôl
ker in alien und neuen Zeiten ( 1778 ) , o Vom
alemão adotaria o conceito de Volk, a comu
nidade popular, para expressar um ideal político
- Geist der Hebraeischen Poesie ( l 782- 1783 ) e ou -
tros. Talvez a maior importância de suas ideias
por uma m ística do irracional. O movimento do resida ria descoberta da l íngua como meio de in
diVidua íízáçãò das hãçoès, idèià qu é
-
Sturm und Drang será o precursor desse nacio-
nalismo que busca as ra í zes originais do Volk e
que posteriormente as encontrará não somente
mir grande estímulo ào nascente nacionalismo eu
ropeu e em particular entre os põ vôs eslavos, Na
-
na pr é- histó ria mas fundamentaimente na bio
logia. Esse nacionalismo terá em Herder o seu
- verdade, este pode crescer na esteira das invar
soes napoleôniciisjme^ contribu íram para abalar as
precursor, devido em grande parte~lTÍ rilTuê ncia duí ast íastradicionais do Continente- ,. .bem como o
da concepção rousseauniana sobre a import â ncia proprio principio .
din ástico
»». r ,V
i U

das etapas primitivas e pré-civilizadas da evolu ção A reaçao contra as invasões dos exercitos
humana 20. Em Herder, o conceito de Volk ainda napoleônicos também se apresentou sob a forma
- ---
assume um significado cultural mais do que pol í de luta entre dois princípios: o nivelador ou uni
tico e, de fato, os estudos que encetou no campo versal, que visava eliminar as peculiaridades na
da lingu ística e da literatura revelam a paixã o cionais de cada povo, e o princípio da identida
peto trabalho erudito e pela investigação profun - de nacional, que cada territó rio invadido sentia
ameaçado. A resist ê ncia jnilitar contra as tropas
20 , KOHN . Op. citji. 2<>7 . francesas de Napoíeão provocaram o advento
:r:
=
v.vw:*: ' •

OS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DO ROMANTISMO 43


dos exércitos nacionais que foram substituindo as Revolução Francesa recomeç a , pois se trata sem-
fropas- mercen árias. A párticipáçãõ de voluntários pre da mesma . . . ” 22 *
"
hasguerras de libertação da Alemanha, em 1813,
serviu para aumentar o entusiasmo patriótico da
população obrigada a enfrentar as tropas napo-
.
VI As grandes modificações no panorama
político: da queda do Império à Primavera
leônicas, as quais acabaram assim por dar início do Povos
à unificação dos principados alemães. A Espanha
de 1808 também pode servir de exemplo desse Com a catástrofe ocorrida na R ússia com os
nacionalismo despertado pela invasão napoleôni
ca, que é retratado em sua crueldade nas pin-
- exércitos napoleônicos, ficava aberta a porta pa-
ra os patriotas de todos os países se lançarem às
turas de Goya 21 . A cadeia de rebeliões naciona- suas guerras de libertação que , como movimento,
listas foi se estendendo por toda a Europa, atin
gindo outrossim a Itália e a Rússia * As monar
-
-
já haviam dado mostras de rebeldia no ano de
1809 . Mas, enquanto nesse ano pouco alcance ti-
quias, sentindo-se ameaçadas, elaboraram um veram os esforços isolados dos grupos rebeldes,
plano político que fizesse frente a tal situação; agora , com a derrota do exército imperial , o movi-
í da í o surgimento da Santa Aliança, que Metter
nich manipularia com habilidade para combater
- mento de libertação assumia proporções amplas ,
repercutindo mesmo profundamente no continente
as revoluções dos povos que despertavam para americano. Na Espanha , na It á lia e na Alema -
a sua autodeterminação. Com exceção da Inglater
ra, as monarquias se alinharam numa atitude con -
- nha , a derrota era evidente e o bloqueio económi-
co já não encontrava mais nenhum suporte pol í-
tra-revolucioná ria, que deveria atingir os grupos tico para ter qualquer êxito . Por outro lado,
mais atuantes do movimento nacionalista europeu . na Fran ça , o impé rio via -se diretamente sob a
Intelectuais, estudantes , burguesia liberal esta- ameaça de elementos que se organizavam para
vam à testa desses movimentos nacionais e en
contravam neles uma oportunidade de auto-ex-
- impor, no futuro, um novo regime. Na verdade,
começava a partir de 1815 uma _ era de insurrei -
pressão literária e política O conflito entre os ve-
* ções . Elementos dispostos à agitação se agrupam
lhos e os novos ideais literários se manifesta tam- em sociedades secretas, animados por um ideal
bém na justificação da legitimidade do poder mo
ná rquico e na aceitação dos ideais democrático-
- revolucionário. São grupos rélativamente peque-
nos como os carbonari italianos, a Charbonerie
-republicanos. De um lado , encontra-se Kant que francesa , as sociedades republicanas do tipo So -
aceita plenamente os ideais republicanos e, de ciét ê des families> Sociét ê des saisons , a Liga
outro, Hegel que formula o absolutismo do Esta- dos Justos na Alemanha , a Sociedade do Norte na
do coerentemente fundamentado no idealismo R ússia e muitas outras espalhadas pela Europa. A
absoluto. Por seu turno, a legitimidade monárqui
ca acha-se vinculada a uma pol ítica ampla de
- Restauração da Europa , após os eventos de 1789-
1815 , era realmente dif ícil . O Tratado de Paris, de
pacificação europeia encetada pela Santa Alian- novembro de 1815 , levou a França a retomar às
ça, enquanto que os ideais republicanos e demo
cráticos estão ligados ao movimento nacionalista
- suas fronteiras de 1790 e lhe impôs uma pesada
soma de indenizações como passo importante pa-
e ao despertar dos povos. Os per íodos agitados ra resolver os problemas do Continente. O Tratado
de 1820-1821 , 1830 e 1848 atingem os grandes de Viena , de junho de 1815 , que reunia o impe-
impérios e ameaçam a sua integridade ; como diz rador Alexandre I da R ússia ; Metternich , o chan-
de Toqueville, em relação à última : “E eis que a celer da Á ustria ; Karl August von Hardenberg,
21 . CODECHOT, J . Europa y Am é rica en lo é poca napole énica.
Barcelona, Nueva Clio, 1969 , p. 112 «s.
peia do Livro, 1969, p. 88.
. -
22 . SeHNERB. R . O S éculo X / X São Paulo, Difusão Euro

44
como representante do rei da Prussia; Lorde Cas - ja Romana recupera seu prest ígio e assume nova -
-
tlereagh atuando pela Grã Bretanha e Talleyrand mente uma elevada posição, recebendo apoio
pela Fran ça, tinha pOT objetivo apaziguar as ques
t ões européias, atacando de frente as velhas pen-
- do Estado e participando ativamente na socieda
de. Mesmo na Fran ça onde fora perseguida, ela
-
-
dências. Antes de tudo, devia se evitar uma nova
agressão da Fran ça e restaurar os legítimos go-
ganha terreno com a reação ao racionalismo do
século anterior e ao livre pensamento dos grupos
vernantes em seus respectivos territórios a fim de mais radicais.
estabelecer o equilíbrio do poder entre os gran- -
Os anos de 1815 1816 não foram favorá veis
às colheitas e os resultados se fizeram sentir em
des Estados. Tal princípio condutor da política do
Tratado de Viena acabou por designar territó rios todos os setores da vida económica, provocando
a poderes contra a vontade de seus habitantes. A uma depressão geral. Desemprego, altos impos
tos, falência de bancos e de muitas companhias
-
Bélgica e a Holanda formaram os Pa íses Baixos
como um Estado-tampão contra a Fran ça. A No
ruega passou da Dinamarca para a Su écia . O
- comerciais caracterizaram esses anos dif íceis, que
já faziam parte do grande processo de revolu ção
Palatinado se agregou à Bavá ria. As províncias .
industrial descrito anteriormente Tal situação
alem ãs da Saxônia , Vestf á lia e da Ren â nia, bem -
n ã o trazia simpatias políticas ao regime mon á r
como as polonesas de Posen e Pomorze passaram quico restaurado. O crescimento demográfico ex -
-
à Prussia, incluindo se també m a Pomerânia sue
ca. A Alemanha foi constituída em confedera ção
- plosivo, acompanhando o desenvolvimento econó-
mico que forçou a mudança na técnica de pro-
de Estados dominados pela Á ustria, englobando
a Lombardia e Veneza. A Polónia perdeu a sua tensã o, exigiu e formou novas classes, remodelou
-
du ção e na formulaçã o das ci ências em toda a ex

independência como Estado, caindo boa parte a organização estatal, criou novas forças políti -
de seu territó rio nas m ã os da R ússia. Esta obteve cas que disputaram o poder político com a aristo -
ainda a Finl â ndia e a Bessará bia. A Gr ã-Bretanha, -
cracia. Banqueiros influentes, financistas e indus
além de conservar boa parte de suas conquistas, triais exigiam a participação na conduta dos as
suntos de governo e Estado e começaram a
-
acabou ganhando Malta e Heligol â ndia, al ém das
col ónias holandesas do Cabo, Ceil ã o e as Ilhas substituir nobres, clé rigos e militares com a in-
Maur ício. A Grã-Bretanha , Prussia, Á ustria e .
tenção de defenderem seus interesses A aristo -
Russia se propuseram a manter o estabelecido
seguiKh : princí pio do equil í brio do poder durante
• >
cracia estava pouco habilitada a enfrentar e di
rigir uma sociedade política inteiramente trans-
-
muito tempo, mas pouco duraria a união entre os formada e avançando para novos rumos históri-
grandes Estados europeus. A Inglaterra se mos - cos. A revolução económica se refletiu nas rela -
trava pouco propensa a intervir em outros Esta
dos para manter o combinado; no Congresso de
- ções entre os povos europeus e os de outros con
tinentes, levando à emancipação das colónias
-
-
Aix-la Chapelle de 1818 e novamente no de americanas, bem como à abolição da escravatura.
,

Troppau em 1820, ela se negou a fiscalizar a po - A fermentação política caracteriza o per íodo a
lítica européia. Tal papel caberia à Áustria, que
o aceitou de boa vontade e Metternich tornou-se
partir de 1815. Espanha, Portugal, Piemonte e Ná-
poles, inspirados na tentativa fracassada da Espa-
o cão de guarda do Continente, estabelecendo um nha, dè conseguir uma Constituição em 1812, se
sistema de espionagem e repress ã o contra todo e vêem envoltos por agitações e revoltas que es -
qualquer lugar que apresentasse sinais de agita
çã o revolucion á ria.
- -
touram nos anos de 1820 1821, Os revoltosos
exigem constituições democrá ticas para os seus
A Restaura ção trouxe de volta a monarquia .
pa íses e reinos E enquanto as tropas austr
íacas se
e o princípio din ástico, que atraíram as forças de dispuseram a sufocar os levantes do Piemonte e
maiores oposição contra si. Alé m do mais, a Igre- de Ná poles, as rebeliões em Portugal e Espanha

OS FUNDAMENTOS HIST Ó RICOS DO ROMANTISMO 45


,
conseguiram um sucesso momentâneo ante a
recusa da Inglaterra e da Fran ça de intervirem
sultando em matanças de popula ção civil e ino -
cente, o que retrata o grau de selvageria dos mili-
! com medidas repressivas. Na verdade, a Santa tares . No Vice-Reinado do Prata, os adeptos da
Alian ça , que nascera com o objetivo de levantar independ ê ncia se dividiram , sendo que os habitan-
'
|
j j o prestígio do princípio dinástico e de assegurar a tes do Paraguai não quiseram depender de Buenos
i 1 estabilidade política dos monarcas, ,...agora atuava Aires, separando-se para inaugurar uma ditadura
j j diretamente cõnió uma organização internacional que, sob a chefia de Gaspar Rodriguez de França,
para sufocar as revoltas onde quer que elas se se manteve até o ano de 1840. Montevidéu tam-
manifestassem. bém n ã o quis aceitar a hegemonia pol ítica de
Na América Latina , nota-se també m a mes- Buenos Aires e permaneceu fiel a Fernando VII
ma â nsia de independência estimulada com o até 1814, quando se rendeu às tropas argentinas ,
exemplo dado pela Amé rica, do Norte. Houve Em 1816, após um período intenso de lutas, foi
tentativas nas colónias da Espanha a partir de
1809 e, em 1810, o cabildo de Caracas depôs
proclamada a independ ê ncia da Repú blica Ar
gentina. No Chile, ao ser deflagrado o movimen-
-
-
o governador espanhol, apoderando se do poder. to separatista, peta pressão que exercia Napoleão
O mesmo sucede em Buenos Aires, em Carta - sobre Fernando VII da Espanha, a lideran ça foi
gena das í ndias, em Santa Fé de Bogotá e era
Santiago do Chile. Alguns se mantiveram fiéis a
disputada por Carrera e Bernardo O’Higgins, sen
do que este, com a ajuda do General San Martin,
-
Fernando VII, mas outros não, como é o caso conseguiu atravessar os Andes, vencer as tropas
de Caracas e Buenos Aires. Países, como a Ve- espanholas e declarar a independ ê ncia chilena
nezuela sob a lideran ça de Miranda e Bolí var, e a em 1818. Pouco a pouco, nas primeiras décadas
regi ã o do Prata, sob a direção de Belgrano, pro- do século passado, os pa íses da América Central
clamaram a sua independ ê ncia. Ao serem anun- e do Sul foram conquistando a soberania política
ciados tais acontecimentos as Cortes de Cádis, e os impérios coloniais de Portugal e Espanha
se apressaram a declarar que os Estados espa
nh óis dos dois hemisf é rios formavam uma ú ni-
- foram se desfazendo. A doutrina Monroe ameri
cana , de 1823, ajudou a consolidar a consciê ncia
-
ca monarquia e uma ú nica nação, tendo os ame - ^
-
nacionalista latino americana contra as ameaças
ricanos os mesmos direitos que os europeus. NaV( V dá pol ítica da Santa Aliança e serviu de defesa
prá tica, a representa çã o pol ítica das colô niasj v /ideológica contra o colonialismo europeu , ainda
-
americanas nas Cortes de Espanha era despro / que a esquadra brit â nica houvesse contribu ído
-
porcional à sua populaçã o e nem mesmo a liberda / r
ponderavelmente para a conquista da indepen-
de de comércio ou a abolição do pacto colonial j d ê ncia do Novo Continente ,
foram alcançados. O movimento de independê n- t j O mundo europeu na época da Restauração
-
cia continuou se ampliando até chegar ao Méxi | fermentava sob a influência do liberalismo e do
co, onde a rebelião assumiu um caráter social | nacionalismo. Os gregos, que se rebelaram em
muito acentuado . | 1821 contra o dom ínio turco, provocaram ade-
Desde 1811 se desencadeou uma guerra civil * sões em muitos pa íses e a Turquia se sentiu
entre partid á rios e adversá rios da independência amea çada ppr um eventual ataque por parte da
na América espanhola , incluindo Peru , Vene- R ú ssia , que poderia ser justificado como defesa
zuela, Nova Granada e pa íses do Prata. Os exér
eitos em luta, comandados de um lado por
- de um movimento nacionalista crist ão, em luta
contra o poder arbitrá rio dos infiéis . O Congresso
criolos e de outro pelos “ peninsulares”, eram de Verona de 1822, além de tratar da insurrei-
formados por mestiços ou índios recrutados à for
ça e sem saber exatamente os objetivos das guer-
- ção espanhola , também se preocupou com a re-
belião grega , tendo a Inglaterra, a França e a
ras. Os embates foram prolongados e cru éis, re - R ússia ajudado esse nacionalismo a vencer a
46
ência grega em 1830. Em cípios liberais. Logo em seguida ao levante fran-
luta e obter a independ cês, uma revolu çã o de car á ter nacionalista estou-
1826-1827, a preservar
Inglaterra tamb é m interferiu em
Portugal , para um governo constitucio- rou na Bélgica, que se encontrava unida à Holan -
Boa narte dos levantes de 1820 1821, como- da, em virtude das resolu ções do Congresso de
Viena . A aspira çao dos insurretos belgas era a
; > jjçcemõs n ão foram vitoriosos, mas serviram
oara pã vimènfar o caminho que Ievana as gran - de realizar a separaçao e criar um remo mdepen-
dente. Com a ajuda da esquadra inglesa, que

^
Çxfoí 7 so o HÕme nJê CarXos
^^ ^ ' " X , provocou a bloqueou a costa da Holanda , os revolucion á rios
^ ^

^^
<
ira dos revolucion á rios com a sua pol í-
tica osten belgas foram bem sucedidos, impondo como so -
sivamente reacion á ria que chegou a indenizar os berano -
do novo reino, Leopoldo de Saxe Cobur
go. Em 1839, a Bélgica foi reconhecida como
-
antigos nobres pelos bens a eles expropriados,
durante a Revolu ção de 1789. Os melhores repre
da vida intelectual francesa
--
e dos cír
reino independente. Em outros lugares da Eu
ropa, tais como nos Estados confederados da Ale
-
-
sentantes
cú los liberais lideraram a oposi çã o à monarquia manha , em Hanover, Saxônia e Brunswick irrom -
pouco habilidosa de Carlos X, figurando, entre peram revoltas locais que lograram certas conces -
eles , Lamartine, Victor Hugo, Thiers e Royer
, que n ã o pouparam esfor ç os
- em apon -
soes de seus governantes. Em alguns Estados, co
mo Baden e Bavá ria, que já haviam instaurado
-
-Collard
tar a política retrógrada do governo. O maior sistemas parlamentares, os liberais chegaram a
embate entre o rei e a opinião pública se deu ter vit ó rias pol íticas que favoreceram a liberda-

s
no momento
ã o da
em
liberdade
que
de
Carlos
imprensa
X prop
contra
ô s-a
a supres
vontade
de
te
de imprensa e permitiram atitudes abertamen-
cr .
íticas em face da política governamental Mas
da Câ mara , o que levou à dissolução desta . A em 1832, a Á ustria e a Prussia forçaram a Con -
seguir, o rei assinou as “Ordenações de Julho” federa ção, em Frankfurt , a aprovar resoluções
que decretavam : a ) a supress ão da liberdade que possibilitaram controlar a imprensa e oprimir
de imprensa ; b ) a modificação da lei eleitoral, a oposição em todos os Estados germ â nicos. Na
alterando o censo exigido aos eleitores; c ) a dis
solu çã o da C â mara ; d ) a convoca çã o
- de novas
It ália e nos Ducados de Parma, de Modena e na
Romagna , que pertenciam ao Papa, o movimen -
elei ções. Era o que faltava para que se deflagrasse to revolucion á rio, a partir de fevereiro de 1831,
a insurreiçã o dos grupos republicanos e bonapar
tistas que , com armas , invadem as casas
-e arrastam
procurar á estabelecer regimes constitucionais em
lugar dos déspotas do poder e também criar as
atrás de si o povo revoltado. Os amotinados con
seguem enfrentar as tropas legalistas e provo-
- “ províncias unidas da It á lia”, como in ício de uma
grande unifica ção nacional. Os austr íacos, n ão
cam a abdica çã o de Carlos X que se refugiou na \ i consentindo que se chegue a concretizar tal inten -
Inglaterra. Tudo indicava que a república como \ cão pol ítica , esmagar ã o a revolta com os seus
o ideal pol ítico almejado pelos insurretos triunfa - \5 exé rcitos. Por fim , as lutas e insurreições de 1830
ria em 1830 mas, na verdadépornovo govèffid I entre forças conservadoras, dinásticas e clericais,
^

^
TTòTiJríêntáção de Thiers, coube à pessoa de Lu ís j de um lado, e as liberais nacionalistas e republi-
Filipe de Orleans, que deu in ício a uma nova , j \ canas, de outro, tornaram-se generalizadas na
realeza , embora mascarada por um soberano bur - maior parte dos territórios do continente euro -
gu ês. As “ Ordenações de Julho” e a censura são . peu A maioria dos liberais, que desejava criar
abolidas e o monarca passa a usar o título de regimes parlamentares e representativos, também
“ Rei dos Franceses”, que substitui o de “ Rei da era nacionalista, e visava à unificação e à inde -
Fran ça ”. No fundo, a revolução dos republicanos pendência das nacionalidades que tinham cons -
--
e bonapartistas levou à cria ção de uma monar ciê ncia de suas diferenças em relação às demais,
quia constitucional, inspirada , é verdade, em prin Era um período favorável às sociedades secretas

OS FUNDAMENTOS HIST Ó RICOS DO ROMANTISMO 47


\
í \
í• v
que conspiravam na ilegalidade e mantinham con - parte, apoio da Guarda Nacional . Graves inci-
tato umas com as outras em nome dos ideais dentes e choques com o Exército incendiaram a
democrá ticos e da autodetermina ção nacional. Por revolução fomentada pela burguesia e operariado.
outro lado, Matternich e a Santa Alian ça n ão dei
xavam de acompanhar os passos dos conspirado-
- Mesmo a demissão de Guizot e a nomeação de
Thiers n ão foi o suficiente para animar os â ni-
res através de um aparelho de espionagem mobi- mos exaltados dos revolucioná rios, que invadiram
lizado nas mais diversas camadas da populaçã o. a Câ mara provocando a abdicação de Lu ís Filipe
Nessa atmosfera política, e propulsionada por e a formação de um novo governo. A Segunda
ela, é que o Romantismo encontra sua expressão Rep ú blica estava formada por elementos que
na literatura e nas artes. Liberais e nacionalistas
també m são româ nticos, sejam eles poloneses,
representavam as mais diversas tendê ncias políti
cas de esquerda e de direita , que não podiam
-
gregos ou franceses. A segunda onda revolucion á -
ria, que irromperia com maior intêhsid ádé jffí què
harmonizar permanentemente numa linha políti
ca comum. O conflito de classe se manifestava
-
ntrpé nodo de insurrei ção de 18.3.CL dar-se-ia em na própria revolução. No sufrágio universal e
1848 .tendo.. como .fundo as aspirações liberais e
.
,

nacionalistas, alem das diticuldades económicas


direto, realizado em 23 de abril do ano tur -
bulento, o resultado foi favor á vel aos moderados,
que caracterizaram o período^. Asujcehelioes.,.jcte e o governo, para atender as classes trabalhadoras
IWglíóráni urHanaíremboá parte, e refletiam
^ ^
o desenvolvimento industrial galopante e as di -
'
e o problema do desemprego, inspirado nas idéias
de Louis Blanc, criou as “Oficinas de Trabalho”.

--
ficuldades pelas quais passavam as camadas mats Mas tal orientação se mostrou inoperante e anti
baixas econômica, n ão solucionando a questão do de
^
proletariado J á em 1834, havia explodido uma
insurreição de operá rios em Lyon, ao mesmo
semprego, o que levou o governo a fechar as
“ Oficinas”. O proletariado, desgostoso com a si -
tempo que uma grande agita ção republicana, diri
gida contra o regime de Lu ís Filipe , tomava con-
- tuaçãOj levantou-se e foi novamente para as barri
cadas, provocando uma rea çã o violenta por parte
-
ta de Paris, promovida pela importante sociedade do governo, o qual nomeou o cé lebre General Ca-
secreta, intitulada Sociedade dos Direitos do
Homem .
vaignac, que reprimiu com violê ncia e muito san
gue a rebelião. As tristes “Jornadas de Junho”
-
S O clima de agitação política na França era
: \ motivado, além
do mais pelos grupos que pro -
resultaram num balanço trágico para o operaria
do francês. Uma nova Constituiçã o rezava que o
-
: ; curavam criar condições para a volta de Carlos
? Poder Executivo deveria ser exercido por um
f i X ao poder ; eram eles os legitimistas, ao passo presidente eleito por quatro anos, mas as classes
.
j l qu èsoutros grupos bonapà rtistas, queriam grovo - conservadoras conseguiram elevar à presidência
\ I carja^volta jdas guarnições militares èm favor
^
^ Lu ís Napoleão, que acabou estabelecendo uma
\ d è Lu ís Napoleão, sobrinho dò imperãcf
"
ôrT^ A ditadura e por fim assumiu o t ítulo de Napoleão
oposição dos socialistas de Louis Blanc e dos mo
narquistas moderados como Thiers, juntamente
- III.
com Odilon Barrot , começou no verão de 1847 O movimento nacionalista italiano teve em
com uma campanha em todo o pa ís em favor de 1848 uma atuação política intensa sob a chefia
uma reforma eleitoral inspirada no modelo inglês. de Mazzini , que era animado por um idealismo
O mé todo adotado para a difusã o da campanha liberal voltado para a restauração do velho espírito
era o da realização de banquetes que, em dado nacional e contra o domínio austríaco. Mas o mo-
momento, foram proibidos pelo ministro Guizot. vimento n ão era uniforme, pois os conservadores
O povo revoltado por esse fato levantou barrica-
das e a insurreição se alastrou , recebendo, em
liberais dirigiam os olhos para Carlos Alber
to de Piemonte e Sardenha, os católicos fede
-
-
48
ralisías depositavam suas esperanças pol íticas no -
vam se governosJoxtes -como^ de Schwarzenberg
--

^

papado e os republicanos de Mazzini aspiravam a hãTÃ ustria o de Brandenburg na Prussia, o Car


uma repú blica democrá tica. A demissão de Metter - deal Antonelli em Roma. As esperan ças das pe
-
qTOnas ^~ nacionafida3es ”se desvaneceram em boa
nich favoreceu em geral os levantes de cará ter
nacionalistas e també m o da Itá lia , mas ainda parte e muitas seriam obrigadas a esperar muito
levaria algum tempo até que Camilo de Cavour
conseguisse chegar à unidade nacional.
tempo at é que lhes fosse dada uma nova oportu
nidade histórica para realizarem os anseios . de
-
autodetermina çã o. Mas n ã o só as nacionalidades
O impé rio dos Habsburgo estava agora sen - sa í ram frustradas desse período de agita ções,
tado sobre um barril de pólvora , pois o movi- també m as classes operá rias veriam seus sonhos
mento revolucion á rio adquirira car á ter interna-
cional, chegando mesmo ao coração do seu do -- ca írem por terra frente à violenta reação con
servadora , que separou e alertou , atemorizada ,
-
mí nio, como evidenciava a rebelião de Lajos Kos os antigos aliados burgueses contra a ameaça
suth, na Hungria. Se n ão fossem as profundas di
visões internas desses movimentos, eles teriam co-
- do “ perigo vermelho” que despontava nos céus
da Europa 23.
lhido maiores ê xitos pol íticos. AA
Na Alemanha e na Á ustria , a agitação po~ 7 VII. Uma palavra final i
lítica entre os intelectuais que pregavam a unidade / J
nacional e uma Constituição que favorecesse a li-
berdade política , fizeram com que, em maio de Apesar de tudo, devemos distingjjr no século
1848, um corpo representativo se reunisse em \ XIX, em rela çã o a luta entre ^o nacionalismo e .
.

Frankfurt para servir de Assembl é ia Constituin-


te e atender as aspira ções nacionalistas do po- J
rié giixmdt âT
^^ r
õâQ& ò dè 1815 a 1851,
onde a reaçao conservadora procura conter a
grande õhdã rêvõíuciõháfia é mãhtér coítf lêferto
^
^

vo. Os motins populares de Berlim haviam alcan-


çado seu primeiro sucesso efetivo com o Parla
mento eleito por sufrágio universa!. Porém, a ten
-- equil íbrio o mapa politico europeu , e a etapa
qtie vai de 1851 a 1871, quando se da o triunfo
tiva de oferecer a coroa imperial a Frederico Gui- do principio das nacionalidades em suas bases
lherme da Prussia foi recebida com solene re
cusa. Mesmo assim, o Parlamento dirigiu-se aos
- essenciais 24 Os dois grandes impénos, o Aus
tHaco T trOtomano receberão os golpes mais for-
' '
-
príncipes alemães para realizar a tarefa de uni - tes de parte do movimento nacionalista , sendo
ficação nacional em 1850 com a “Uni ão Restri
ta”, mas um ultimato austríaco terminou com o
- que o primeiro durará at é o té rmino da Primeira
Guerra Mundial, enquanto o segundo desmoro -
projeto. Com o “recuo de Olmutz”, a Alemanha nará às vésperas do grande conflito de 1914.
voltava aos anos anteriores aos da grande onda No Impé rio Austr íaco encontramos tchecos, es-
revolucioná ria. Na Á ustria, o Imperador Fernan- lovacos, poloneses, eslavos do sul ( eslovenos,
do I, pressionado pelas circunstâ ncias, teve que croatas, sé rvios ) , h ú ngaros, romenos, alé m dos
outorgar uma Constituição liberal e favorecer a italianos e dos austr íacos de l íngua alem ã, A Sér-
criaçã o de um regime parlamentar, porém esse via será uma das primeiras pequenas nacionalida
des a conquistar a autonomia, seguindo-se, em
-
mesmo imperador sufocou com sangue a subleva
ção dos tchecos. Seu sucessor, Francisco José,
-
impÔS de nOVO O absolutismo, SUprimindo a ConS
, j . *
tí tuiçao OUtOrgada antenormente i
-
. &Y * m fins” de
* J
23
_ _
para uma visâo dc conjunto da disputa politic entre as
*
nações europé ias no per íodo que vai da segunda metade do século
XIX ao in í cio do século XX , consultar a obra importante de

^-
1850, a grande onda revolucionária, iniciã3a cf
'
óir T 0R The Stru ie f r MUSURY in Europe : 1848 ms
^ ° - .
anos -htès ém quase toda
' ^^ "
1

poucos resultados e, a testa do poder, encontra - 24 . DVROSELLE,


Nouvdle Clio, 1967, p 107
J. B. VEurope
. .
.
dr / tf / 5 à nos jõ urs Paris,

OS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DO ROMANTISMO 49



!
<
1
:

1821 , a revolta da Grécia contra os turcos, que ços de unifica ção da Alemanha e da It á lia foram 1 ! •

serviu de exemplo e modelo para a literatura ro - motivados, indiretamente, por uma mudança que
-
m â ntica e patriótica do período, suscitando o en - se processava nos meios de produ ção, nas co
tusiasmo das elites intelectuais do Ocidente O
movimento de liberta çã o grego era composto de
Klephtas , que viviam nas montantas da Moréia
.
,
municações, acompanhando a formid á vel expan
sao
ras
económica e financeira, derrubando frontei
regionais e caminhando em direção a unidade
--
- . nianha, o johticomipor -
—^
nacional j jAl
resistentes à aceita çã o de todo elemento
geiro, e de uma burguesia culta e enriquecida pelo
estran
comé rcio marí timo, bastante desenvolvido. Além }Xo d ê
^

ntro de um
1~
espirito
^
conservador , ^ s e mantin a
enquanto que, ”
do mais , o nacionalismo grego encontra apoio n a I t á l i a, 0 nacionalismo de Mazzim apresentava
Hetairia , sociedade patri ótica no estrangeiro, que crater revolucion á rio e radical . Assim , como
procura angariar o apoio da opini ão pú blica em
ciona í ismo ,
? strar
tal como
a9
^os moviment j iais que _
favor de seus objetivos. M ú ltiplas razões favore-
ciam o apoio de vá rias pot ê ncias pol íticas euro
pé ias, pois a imagem da Hé lade antiga se identi -
-se encetam a partir da
corporou e gerou , ao mesmo . . - _. ... . . , o esp í rito
tempo
^^
rom â ntico.
••••• v •« * •:

ficava , na mente das pessoas cultas, com a Grécia


atual , e Fpara os crist, ã os , seus irm ã os de, f é , os T caracteriza *. ~ feliz do espirito desse mo-
,

-
r
, A çao
! JL como a simpatia
assirn simnatia dos liberais alinhava-se
V!mento que parece ter atingido em espa ço e tem-
diferentes os povos do Velho Continente, esten-
com aqueles que combatiam pela independeu-
cia de sua patria . Apesar da interven ção de Mo-
vras de j L
aos d £ encontrada nas Ppala -
hamed Ah , que infligiu aos gregos as graves
derrotas dos anos de 1824 - 1827, a rebeli ã o re-
0;s entusiasmos e paixões, os v ôos do pensamento e do
cebeu o apoio da R ússia, da França e da Ingla- idealismo, as teorias, as aspirações e as ilusões , por con -
terra , acabando por destruir as forç as otomanas traditórias que pareçam , e , .sem d ú vida os empreendi -
e criando um Estado autónomo grego em 1830 . mentos art ísticos da é poca podem ser encarados conto
No mesmo ano explode a mal sucedida revolta reflexos de uma grande luz. a do Romantismo. Foi esu-
impulso, a penetrar mdo , que elevou as energias do
polonesa cultivada pelo patriotismo recalcado
,
de uma na çã o espoliada . Ao movimento naciona -homem e deu a forma a um estilo distinto, que dife
rencia nitidamente esta é poca de todas as que a pre -
-
lista grego, sucederam -se outros em vá rios recan
.
-cederam ou se lhe seguiram 25,
tos dos impé rios dominantes na Europa Os esfor -

25 . TALMON , J . JL . .,
Op cif p „ 138.

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