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UNIDADE

02 Brasil Império

Império - substantivo masculino


1. poder ou autoridade de um imperador ou de uma imperatriz.
2. forma de governo monárquico, cujo soberano tem o título de imperador ou de imperatriz.
Império – domínio sobre grande extensão territorial.

E ste quadro, pintado por Pedro Américo (o mesmo que pintou Tiradentes esquartejado), é muito utilizado
para a discussão sobre o real acontecimento da Independência do Brasil, resultado de uma articulação
política da elite colonial.

HISTÓRIA II

J ohann Moritz Rugendas veio para o Brasil em 1821, integrando a Expedição Langsdorff como desenhista e documen-
tarista. Em 1824, viajou para Minas Gerais e registrou paisagens, cenas de costumes e o trabalho escravo. Na volta,
abandonou a expedição. Passou por Mato Grosso, Bahia e Espírito Santo, retornou ao Rio de Janeiro e seguiu para a Eu-
ropa. Em 1845, retornou ao Rio de Janeiro e pintou retratos de D. Pedro II, da Imperatriz Tereza Cristina e do Príncipe D.
Afonso. No ano seguinte, partiu definitivamente para a Europa. Por motivos financeiros cedeu sua coleção de desenhos e
aquarelas ao Rei Ludwig I, da Baviera, em troca de uma pensão anual.

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B outique de la rue du Val-Longo, obra de Debret, de 1834-1839, mostrando um dos mercados de escravos que se erguiam ao
longo da rua do Valongo, atual rua Camerino.

LEITURA RECOMENDADA: No processo colonizador, a Igreja Católica foi o


“braço direito” das metrópoles no controle da socie-
dade. Ao pregar o Evangelho, garantiam uma relati-
Prezado aluno: va ordem social defendendo a obediência e a resig-
nação da população subordinada aos interesses e ao
É muito importante que você tenha uma visão mandonismo da elite metropolitana que, por sua vez,
ampla da América, no contexto das Independências, assegurava o poder da metrópole.
e a inserção dos novos Estados Nacionais no merca- A insatisfação contra as medidas fiscais arbitrá-
do e na política internacional. rias das metrópoles, o monopólio e a pesada explo-
Portanto, a leitura e compreensão do texto ração sobre as áreas coloniais provocou movimen-
abaixo é indispensável. Qualquer dúvida, estaremos tos de rebeldia que, no entanto, não ultrapassavam
aqui para esclarecer. limites da própria região em que explodiam, seja pe-
lo imenso território, seja pela violência da repressão
ou pela ausência de qualquer ideologia. Com as difi-
1. A CRISE DO ANTIGO SISTEMA culdades de comunicação entre as regiões e sem a
COLONIAL: unidade e força, necessárias para promover o rom-
pimento dos laços com as metrópoles, estes movi-
Na unidade anterior, você estudou os elementos mentos não tiveram sucesso. Em todas as áreas co-
HISTÓRIA II

que configuraram o chamado Antigo Sistema Colo- loniais encontramos estes movimentos, classificados
nial ou Colonialismo. Inserida nas práticas Mercanti- como “nativistas”.
listas, a posse de colônias foi uma das formas que os Tais condições foram muito próprias da Améri-
Estados Nacionais europeus encontraram para pro- ca Latina. No caso da América Anglo-Saxônica, as
mover a acumulação primitiva de capitais. As colô- condições da metrópole e da localização do terri-
nias de exploração, ligadas às suas metrópoles pe- tório colonial contribuíram para uma especificidade:
lo pacto colonial, tornaram-se fornecedores de pro- as chamadas colônias de povoamento: áreas de cli-
dutos agrícolas tropicais e de riquezas minerais, co- ma temperado, pequenas propriedades, produção
mo o ouro e a prata. Desta forma, os países ibéricos, para o mercado interno e mão de obra livre/remune-
garantiam a prática do metalismo, também conheci- rada. Veja no quadro abaixo, uma comparação en-
do como bullionismo. tre a América Colonial Inglesa e a América Colonial
Espanhola:

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No final do século XVII e no século XVIII, o pano- culo XVIII. Com isso, a explosão dos vários
rama interno das colônias começou a se modificar. O movimentos insurrecionais que eram o pre-
certo é que, apesar de todo controle político, econô- núncio de uma Independência.
mico, social e cultural, mantido pelas metrópoles, as No cenário europeu, as contradições também
colônias acabaram por conseguir um crescimento in- caminhavam. O Absolutismo já não agradava mais à
terno e acabou ocorrendo o que conhecemos como burguesia, desejosa de liberdade econômica. A bur-
as contradições do Antigo Sistema Colonial. guesia inglesa, no século XVII, com as suas Revo-
Para entender tais contradições, temos que pen- luções (Puritana e Gloriosa) pioneiramente, promo-
sar o seguinte: via a derrubada do Absolutismo e a implantação do
1) A economia secundária, voltada para o mer- sistema Parlamentarista. Com isso, o caminho ficou
cado interno, utilizando mão de obra livre, aberto para o avanço econômico na conhecida como
acabou por criar condições para relações Primeira Revolução Industrial, no século XVIII.
sociais mais democráticas e o crescimen- O Mercantilismo perdia sua força uma vez que
to de áreas, mais livres das intervenções era a prática econômica dos Estados absolutistas
opressoras das metrópoles; que, por sua vez, também se enfraqueciam. A ques-
2) As economias principais, principalmente tão agora não era mais acumular riquezas, mas, sim,
nas áreas de mineração, geraram um pro- produzir mecanicamente a fim de obter uma produ-
cesso de crescimento urbano e o apareci- ção em larga escala e explorar um mercado consu-
mento de uma classe média, não escravo- midor que parecia promissor.
crata, que foi, aos poucos, ampliando os de- Se o Mercantilismo esteve intimamente ligado
sejos de autonomia; ao Colonialismo, o seu término significaria, eviden-
3) Com a imigração, nas áreas coloniais, de temente, a crise do Sistema Colonial. O capitalismo,
HISTÓRIA II

pessoas egressas da Europa e desejosas iniciado na Inglaterra, tem por fundamento a proprie-
de um enriquecimento fácil e rápido, foi sen- dade privada (livre iniciativa sem a interferência esta-
do formada uma elite colonial, que entrou tal), a livre concorrência, a mão de obra livre e a ex-
em choque com os interesses da elite me- ploração de um mercado consumidor.
tropolitana; Também no século XVIII, além do Pensamento
4) Não se pode falar de um sentimento na- Iluminista e da Revolução Industrial, outros aconteci-
cional nas áreas coloniais, mas é possível mentos marcavam o cenário das contradições, que
entender que os prejuízos que a metrópo- provocavam as revoluções. A Revolução Americana,
le causava à colônia e os impostos extorsi- de 1776 a 1783, também conhecida como Indepen-
vos cobrados, acabaram por pesar no bol- dência das 13 colônias inglesas na América do Norte
so da elite colonial e, assim, o discurso de e a Revolução Francesa, de 1789 a 1799, foram mar-
liberdade econômica e de liberdade política cos decisivos no final do século. Ficava, entre outras
do Pensamento Iluminista acabou por en- coisas, o exemplo de luta contra a metrópole, pela li-
contrar um terreno fértil na colônia do sé- berdade política e econômica e pela igualdade de di-

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reitos (nem que fosse só para a camada dominante). país que apoiou o processo de independência latino-
Os acontecimentos do início do século XIX, na -americana foram os Estados Unidos, que deseja-
Europa, foram decisivos. Trata-se da ascensão de vam estender sua influência política e econômica so-
Napoleão Bonaparte, com o golpe do 18 Brumário, bre toda a América. Prova dessa intenção é a Doutri-
e o seu projeto expansionista, abalando fronteiras na Monroe, lançada pelo presidente americano Ja-
europeias e divulgando os ideais liberais-burgueses. mes Monroe em 1823, cujo lema era "a América pa-
Já, no início de seu governo, a colônia francesa do ra os americanos".
Haiti promovia sua independência de forma revolu- A elite criolla organizou exércitos para lutar pe-
cionária e com liderança negra. Desta forma, abria la Independência. Ao terminar o processo revolucio-
caminho para outras colônias próximas ou distantes. nário, os líderes locais ganharam muito prestígio so-
No Brasil, a camada dominante, escravocrata, che- cial e poder político. Passaram a comandar a popu-
gou a ter “medo do exemplo do Haiti”, uma vez que a lação local/regional e passaram a ser conhecidos co-
existência de quilombos e as frequentes revoltas dos mo caudilhos. O caudilhismo foi um fenômeno típi-
negros eram uma constante ameaça à estabilidade co da América de colonização espanhola. Como os
social e política. coronéis, no Brasil do início do século XX, os caudi-
A deposição do rei espanhol, Fernando VII, pe- lhos controlavam as eleições e gozavam da simpa-
las tropas napoleônicas, e a substituição por José tia e admiração da população devido ao forte contro-
Bonaparte, irmão de Napoleão, foi o estopim para os le da região. Chegavam a disputar o poder entre si e
movimentos da América Espanhola. Liderados pela frequentemente articulavam golpes políticos. O qua-
elite criolla que, em algumas regiões como no Méxi- dro da América Latina independente é marcado por
co, declarou fidelidade ao rei e, consequentemente, uma grande instabilidade política. Os Estados Nacio-
independência em relação ao domínio francês. For- nais, recém formados, adotaram forma republicana
maram juntas governativas (governos locais), pas- de governo (com exceção temporária do México). Di-
sando a se autogovernar em várias colônias da Amé- ferentemente do Brasil, que adotou forma monárqui-
rica espanhola. Essas juntas governativas realizaram ca de governo devido ao conservadorismo de nossa
o antigo sonho dos criollos de comerciar livremente elite, que não queria perder privilégios, queria a ma-
com todos os países. Algumas delas iniciaram o mo- nutenção da ordem escravocrata e a preservação de
vimento pela independência. O foco das discussões nossas fronteiras territoriais.
revolucionárias ocorria nos Cabildos (Câmaras Muni-
cipais). Além do domínio colonial, a elite criolla ques- CAUDILHISMO:
tionava os privilégios dos chapetones.
Foram muitas batalhas sangrentas, e as lutas se
intensificaram depois que os franceses foram expul-
sos da Espanha. O rei espanhol Fernando VII reas-
sumiu o trono e enviou milhares de soldados para
tentar impedir a independência na América. Para is-
so, contou com a ajuda dos exércitos da Santa Alian-
ça, que queriam restabelecer a antiga ordem. Ape-
sar de tantas forças contrárias, os latinos consegui-
ram a vitória.
Na América do Sul, os exércitos de libertação
com um total de 4 mil soldados comandados pelo
argentino José San Martin libertaram inicialmente a
Argentina (1816); depois, libertaram o Chile (1818).
Em seguida, o "exército dos Andes" desembarcou
na costa peruana, protegido por navios ingleses, e li-
bertou o Peru (1821). A Inglaterra tinha interesse em
conquistar mercados na América. A predominância política dessa pequena
Um outro exército de libertação, comandado por parcela da população acabou abrindo portas pa-
Simón Bolivar, venceu as forças espanholas suces- ra a instalação de um fenômeno histórico e polí-
HISTÓRIA II

sivas vezes, libertando a Colômbia (1819), a Vene- tico conhecido como caudilhismo. Essa prática
zuela (1819), o Equador (1822) e a Bolívia (1825). reflete a organização de governos centrados no
beneficio de uma população mínima que passa
1.1. Reações externas à independência a ser atacada sistematicamente por líderes caris-
máticos que buscam subverter a ordem em bus-
Nas lutas para impedir a libertação de suas colô- ca de uma pretensa liberdade.
nias americanas, a Espanha contou com a ajuda dos Apesar do apelo popular de sua retórica, os
exércitos da Santa Aliança. Apesar disso, foi derro- líderes caudilhistas não reconhecem os limites
tada pelos exércitos latino-americanos, ajudados pe- impostos pela lei e se valem da violência e opres-
la Inglaterra, país que apoiou abertamente a eman- são para alcançar o poder. Geralmente, os caudi-
cipação política da América Latina. A Inglaterra colo- lhos desestabilizavam a ordem através de golpes
cou-se ao lado dos países latino-americanos prin- políticos apoiados por grupos armados e outros
cipalmente porque desejava ampliar seu comércio interessados em serem diretamente beneficiados
com esses países, comprando matérias-primas de- pela possível chegada de seu líder ao poder.
les e vendendo-lhes produtos industrializados. Outro Dessa forma, mesmo reivindicando ou defen-
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dendo melhoras, o caudilho estabelece uma for- mas enfrentados pelas instituições políticas da
ma de poder político que substitui o lugar a ser América, muitas vezes desprovidas de uma am-
ocupado pelo Estado. Ao mesmo tempo, centra pla sustentação social ou uma orientação política
a sua escalada ao poder como meio de implantar explícita. Apesar de marcar certa época do pas-
um governo personalista, ou seja, centrado em sado político americano, essa prática ainda per-
suas vontades e interesses individuais. Sem uma dura na fala de muitos analistas contemporâne-
clara ideologia, costuma distinguir os elemen- os, que colocam o caudilhismo como uma espé-
tos políticos de sua época pela manifestação de cie de herança ou ameaça ainda manifestada na
apoio ou oposição. América Latina.
Esse tipo de experiência indica os proble- Rainer Souza – (Mestre em História)

2. INDEPENDÊNCIA DO BRASIL:

O quadro, pintado por Pedro Américo, no final do século XIX, retrata uma cena heroica, com destaque para D.Pedro I. Na sua
construção, percebemos os cavalos agitados e a presença, não só de elementos da elite em torno do Príncipe, como a pre-
sença de elementos da camada popular, traduzindo uma visão romântica, típica da época.

2.1. Antecedentes: O Brasil muda de cenário


estavam sujeitos antes da chegada da corte; as de-
Inserida nos quadros da crise do Antigo Sistema mais mercadorias – gêneros secos – pagariam 24%
Colonial, a Independência do Brasil apresentou as- sobre o valor do bem. Podiam ser levados pelos es-
pectos bastante peculiares. trangeiros os “gêneros e produções coloniais”, com
exceção do pau-brasil e outros produtos monopoli-
1) Em primeiro lugar, pela presença da Corte
zados. Esse item tinha uma enorme importância, já
Portuguesa no Brasil. A invasão napoleôni-
ca em Portugal e os interesses ingleses em
que fazia ruir o exclusivo comercial da metrópole,
furar o Bloqueio Continental provocaram, estabelecido desde o princípio da colonização. Não
em 1808, a fuga da Família Real para o Bra- só navios portugueses – ou de países com os quais
sil com vários elementos administrativos da fossem firmadas parcerias comerciais- poderiam
Corte e pessoas da nobreza. transportar as mercadorias saídas da colônia ou a
HISTÓRIA II

ela remetidas. Agora era possível receber bens e pro-


2) Logo no primeiro momento, ainda em Sal- dutos diretamente de outros locais e navios que zar-
vador, D. João VI, Príncipe-Regente, decla-
pavam do Brasil poderiam atracar em outros portos,
rou a Abertura dos Portos às Nações Ami-
com exceção da França e da Espanha ainda em guer-
gas, colocando um ponto final nas determi-
ra com Portugal.
nações do Pacto Colonial.
A abertura dos portos, mais que um ato de
benevolência, representava uma decorrência inevi-
“A partir de então ficava permitida a importa- tável. Da metrópole, ocupada então pela França, já
ção “de todos e quaisquer gêneros, fazendas e mer- não saíam mercadorias necessárias para a vida no
cadorias transportadas ou em navios estrangeiros Brasil, onde quase tudo era importado: tampouco se
das potências que se conservavam em paz e harmo- teria para onde remeter os bens produzidos na colô-
nia com a minha Real Coroa”, ou em navios da me- nia. Além disso, havia um país especialmente favo-
trópole. Os gêneros molhados – vinho, aguardente, rável à medida – na verdade, seu maior beneficiário:
azeite doce – pagariam o dobro dos direitos a que a Inglaterra, na época a “nação amiga” – de Portu-

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dens religiosas em conventos e seminá-
gal. O contexto não poderia ser mais propício a ela, rios. Por isso, as medidas adotadas por
uma vez que o comércio brasileiro se abria, precisa- D.João VI significaram uma reviravolta
mente quando a maioria dos mercados tradicionais na política local, já que, até então, a ins-
se fechava, para a Grã-Bretanha, após o Bloqueio talação de manufaturas era proibida pelo
Continental, decretado por Napoleão, em novem- Alvará de D.Maria I, desde 1785. A colô-
bro de 1806. nia tornava-se agora a sede da metrópo-
Tal fato levou os comerciantes ingleses a ex- le. Jornais começaram a circular como
portarem quantidades enormes de mercadorias pa- a Gazeta do Rio de Janeiro. Havia uma
ra o Brasil, muito acima da capacidade de absorção euforia na capital do Rio de Janeiro com
do mercado local. E assim chegaram gêneros de boa o “banho de civilização”.
qualidade mas não muito coerentes com os hábitos 4) Entretanto, nem tudo era tranquilidade.
brasileiros de consumo, e outros, ainda, absoluta- Havia vários impasses: a Insurreição
mente impróprios. São famosas as referências à en- Pernambucana, a questão da Cisplatina
trada de patins de gelo, espartilhos de barbatanas de e o tema recorrente do fim do tráfico de
tubarão para senhoras, bacias de cobre para aque- escravos.
cimento de camas, grossos cobertores de lã, instru- Logo que D.João chegou na colônia, foi
mentos de matemática. Chegaram, também, cartei- declarada guerra oficial contra a Guiana
ras e porta-notas, numa terra onde inexistia papel- Francesa, em represália à invasão na-
-moeda e onde os homens que dispunham de bens poleônica em Portugal. Somente com o
nem sequer carregavam dinheiro, deixando-o aos Congresso de Viena, em 1815, é que a
cuidados de escravos. (...) O mercado ficou abarro- questão foi resolvida com a devolução
tado de produtos (...) da região ao poder da França.
SCHUARCZ, Lilia e STARLING, Heloisa. A Cisplatina, território que hoje corres-
Brasil: uma biografia. ponde ao Uruguai foi também anexada
de acordo com os interesses da política
A abertura dos portos completou-se com a externa do período Joanino. Entretanto,
decisão de D.João VI de assinar o Tratado de em 1811 começou o movimento pela in-
1810, conhecido como Tratado de Comércio e dependência e a separação ficou asse-
Navegação, em fevereiro de 1810, que reduziu gurada em 1824 com a região passan-
os tributos sobre produtos ingleses exportados do a ser chamada de Banda Oriental do
para cá, tornando-os mais competitivos que os Uruguai.
dos demais países, inclusive Portugal. As deter- Outra questão era o problema do tráfi-
minações do Tratado de 1810 foram complemen- co de escravos. De acordo com o artigo
tadas pelo Tratado de Paz e Amizade, que previa 10 do Tratado de 1810, o príncipe, “con-
vantagens aos ingleses na hora da compra e do vencido da injustiça e má política do co-
corte de madeira; proibia a introdução da Inquisi- mércio de escravos”, comprometia-se a
ção na colônia e estipulava a abolição gradual do acompanhar os esforços dos ingleses no
tráfico de escravos. Além disso, determinava o sentido de proibir do tráfico dos súditos
porto de Santa Catarina um porto livre, garantin- fora dos seus domínios africanos (come-
do à Inglaterra um ponto intermediário para atin- çava o Imperialismo inglês na África e
gir o estuário do Prata. era preciso reter a mão de obra no con-
tinente). A Inglaterra ameaçava aprisio-
3) A presença da Corte no Rio de Janei- nar os navios negreiros. Entretanto, por
ro contribuiu para mudanças no cenário mais aparelhada que fosse, a Inglater-
político, cultural, social e econômico da ra não conseguiria capturar todos os na-
colônia. Foram feitas muitas melhorias vios, e nada podia perante o corpo mole
no Rio de Janeiro, tais como: criação do da política lusitana: tudo era feito apenas
Jardim Botânico, Arsenal da Marinha, Bi- “para inglês ver”.
blioteca Real, criação do Banco do Bra- Internamente, 1817, o Norte começou a
HISTÓRIA II

sil, fábrica de pólvora, indústrias de vidro questionar a política do governo e a pe-


e moagem de trigo. Foi concedida licen- sada exigência fiscal. A conquista da
ça para a criação de uma Escola de Ci- Cisplatina gerou muitos gastos e a insa-
rurgia, instalada no Hospital São José, tisfação em diferentes áreas da colônia.
em Salvador. No Rio de Janeiro, foi cria- Afinal, a montagem do aparelho de Es-
da a Escola Anatômica, Cirúrgica e Mé- tado custara muito caro. Aumentavam
dica do Hospital Militar e da Marinha do os impostos e a desigualdade regional.
Rio de Janeiro. Deles se originariam, já Além disso, Pernambuco passava por
em tempos do Império, nossas primei- um momento difícil: a queda do preço
ras escolas de Medicina. Lembre-se de do açúcar e do algodão e a alta cons-
que o Brasil não possuía, até então, cur- tante do preço dos escravos. Há quem
sos superiores e a educação era restri- acredite também na influência das ideias
ta às pessoas da camada dominante. O iluministas do abade Raynal, Rousseau
ensino era, em geral, ministrado por or- e Voltaire. Também não se pode negar

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que a independência dos EUA encantou das de cavalos e arrastados até o cemi-
os revoltosos. A Insurreição Pernambu- tério”.
cana contou com a participação de se-
5) Em 1820, estourou em Portugal uma
tores dispersos: comerciantes, grandes
Revolução de caráter liberal em que
proprietários, membros do clero, milita-
as Cortes de Lisboa exigiam a volta de
res, juízes, artesãos, e uma camada de
D.João VI para Portugal a fim de jurar
homens livres que lhe conferiu um perfil
a Constituição. Foi uma revolução bur-
mais radical e popular. Os revolucioná-
guesa bastante contraditória, uma vez
rios tomaram Recife e implantaram um
que para Portugal era antiabolicionis-
governo provisório que proclamou a re-
ta, liberal e para o Brasil era conserva-
pública, estabeleceu a igualdade de di-
dora, exigindo a sua recolonização. Se
reitos e a tolerância religiosa, sem tocar
D.João VI não voltasse, perderia a Co-
no problema da escravidão. A reação
roa. Apesar dos protestos brasileiros, a
portuguesa foi rápida. Mais uma vez, a
Corte portuguesa partiu e D.Pedro per-
repressão virou ao memorável: rebeldes
maneceu como Príncipe regente do Rei-
foram executados, conforme sentença
no Unido. O Brasil teria direito de eleger
exemplar: “Depois de mortos serão cor-
deputados para representá-lo nas Cor-
tadas as mãos, e decepadas as cabeças
tes Portuguesas. Foram as primeiras
e se pregarão em postes... e os restos
eleições gerais aqui realizadas, de
de seus cadáveres serão ligados às cau-
forma indireta.

2.2. A Independência:
Análise: na verdade, nada se modificou em
As forças contrárias ao Governo e à recoloni- profundidade. A desigualdade social permaneceu e
zação aumentavam. A imprensa, livre de censura, ampliou-se, a escravidão foi mantida. Ou seja, per-
teve papel relevante. Setores sociais representan- manecia a mesma estrutura dos três séculos de vi-
do em geral as camadas urbanas, de inspiração da colonial: a grande propriedade, concentrada em
liberal e democrática, agitavam a ideia de eman- poucas mãos; a monocultura, mantendo a depen-
cipação. Outros defendiam a convocação imedia- dência externa; e a escravidão, que oprimia e degra-
ta de uma Assembleia Constituinte para o Brasil dava a vida de tantos seres humanos, construtores
e, ainda, outros setores mais conservadores rea- da riqueza nacional.
giam contra as tentativas recolonizadoras. Todos
os grupos pressionavam D.Pedro no sentido da se-
paração. Para a aristocracia rural, que conduzia
o movimento da independência (Partido Brasilei-
ro), a liderança de D. Pedro cumpria um papel fun-
damental: significava a manutenção da monarquia,
de preferência unitarista, que impediria ou freiaria
as possibilidades mais revolucionárias, ou seja, a
HISTÓRIA II

abolição da escravidão.
A tensão entre as Cortes e o governo de D.Pedro
cresceu diante das sucessivas intervenções legais e
a insistência para que o Príncipe-Regente voltasse
para a metrópole. Diante da crise, nada restava, se-
não o rompimento.
No dia 07 de setembro de 1822 nascia o Estado
Nacional Brasileiro. Um príncipe português separava
o Brasil de sua antiga metrópole. Para os setores da
classe dominante como os fazendeiros do Sudeste,
era uma vitória. A população de São Paulo e do Rio
de Janeiro ficou empolgada.
(PAIVA, Miguel e SCHWARCZ, Lilia Moritz.
"Da Colônia ao Império". São Paulo: Brasiliense, s/d. p. 84)

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Na página 12 do livro HISTÓRIAS DA GENTE da como um movimento bastante elitista, cujos mem-
BRASILEIRA, vol.2, a historiadora Mary del Priore re- bros tinham de se opor – desde a Inconfidência Mi-
lata que: neira ou da Revolução Pernambucana (1817) – aos
“As duas cortes disputavam o poder até que em projetos fortemente voltados para a autonomia regio-
setembro de 1822, D.Pedro rompeu com a pátria nal. Autonomia sinalizada pela Revolução do Porto
mãe, sagrando-se Imperador em 12 de outubro do que agradava às elites regionais brasileiras por im-
mesmo ano. Controvérsias sobre a data e o famoso plicarem controle sobre o sistema político e sobre
“grito” não faltam. Nenhum jornal da época faz qual- as rendas das capitanias. Ironicamente, a partir de
quer menção ao 7 de setembro. Em carta aos paulis- 1821, as classes dominantes do Norte e Nordeste
tas, data do dia 8, o príncipe apenas fala da neces- mais se identificavam com Portugal do que com as
sidade de voltar ao Rio de Janeiro em função de no- ordens emitidas do Rio de Janeiro.
tícias recebidas de Portugal, sem qualquer menção O movimento constitucionalista brasilei-
à Proclamação da Independência. Em carta dirigida ro acentuou os turbilhões. D.Pedro apoiava o movi-
ao pai, em 22 de setembro, não menciona o evento. mento com ressalvas do tipo “A Constituição deve
O “grito” só começa a ganhar força a partir de 1826, ser digna do meu poder”. Ora, não causou estranha-
com a publicação do testemunho do padre Belchior mento que as elites se dividissem. Apoiar as cortes
Pinheiro Ferreira incluindo a data de 7 de setembro portuguesas significava se submeter a um governo li-
no calendário das festividades da independência. (...) beral, ao passo que o imperador tinha princípios ab-
Para muitos, a independência pode ser defini- solutistas.

1. (Enem 2021) 2. (Ueg 2020) Leia o texto a seguir.

TEXTO I A construção dos Estados Nacionais significou


um longo processo de lutas sociais e políticas, em
que se confrontaram adversários poderosos, muitas
vezes acompanhados de longas guerras civis, envol-
vendo grande parte da sociedade, de abastados fa-
zendeiros a pobres peões.
PRADO, M.L.C. América Latina no século XIX:
tramas, telas e textos. São Paulo: Edusp, 2004. p. 75.

O texto citado refere-se ao contexto de eman-


EIGENHEER, E. M. Lixo: a limpeza urbana através dos cipação política dos países latino-america-
tempos. Porto Alegre: Gráfica Palioti, 2009.
nos. Um caso singular de libertação na qual
o país emancipou-se lutando contra outra na-
TEXTO II
ção americana foi o
a) do Uruguai, que consolidou a sua formação
A repugnante tarefa de carregar lixo e os de- nacional em 1828, após vencer o Brasil na
jetos da casa para as praças e praias era geralmente chamada Guerra da Cisplatina.
destinada ao único escravo da família ou ao de me- b) do México, que se emancipou politicamente
nor status ou valor. Todas as noites, depois das dez em 1821, lutando contra os Estados Unidos
horas, os escravos conhecidos popularmente como para preservar parte de seu território.
“tigres” levavam tubos ou barris de excremento e li- c) de Cuba, que se tornou independente em
xo sobre a cabeça pelas ruas do Rio. 1898, após derrotar facções que represen-
tavam os interesses econômicos norte-
HISTÓRIA II

KARASCH. M. C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro,


1808-1950. Rio de Janeiro: Cia. das Letras, 2000. -americanos.
d) da Venezuela, que teve a sua liberdade as-
segurada em 1831, após uma guerra de li-
A ação representada na imagem e descrita no bertação contra a Grã-Colômbia, criada por
texto evidencia uma prática do cotidiano nas Simon Bolívar.
cidades no Brasil nos séculos XVIII e XIX ca- e) do Haiti, que promoveu uma revolução dos
racterizada pela escravos em 1804 e teve que enfrentar as
a) valorização do trabalho braçal. forças militares das Províncias Unidas da
b) reiteração das hierarquias sociais. América Central.
c) sacralização das atividades laborais.
d) superação das exclusões econômicas. 3. (Unesp 2022) Real alicerce da sociedade, os
e) ressignificação das heranças religiosas. escravos chegaram a constituir, em regiões
como o Recôncavo, na Bahia, mais de 75%
da população. Desde o século XVI e até a ex-

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tinção do tráfico, em 1850, o regime demo- b) explodiu, em Salvador, a Conjuração baia-
gráfico adverso verificado entre os cativos na, ou revolta dos Alfaiates, que pretendia a
– em razão das mortes prematuras e da bai- separação da província da Bahia do restan-
xa taxa de nascimento – levou a uma taxa de te do Brasil.
crescimento negativo [...]. c) em julho de 1824, os estancieiros gaúchos
(SCHWARCZ, Lilia e STARLING, Heloisa. rebelaram-se contra o império, proclaman-
Brasil: uma biografia, 2018.)
do a autonomia política da província e a
criação da República Juliana.
A variação demográfica indicada no excerto
d) eclodiu a Revolução Pernambucana, ou Re-
provocou
volução dos Padres, motivada pelos ideais
a) a proibição das punições físicas e a me-
iluministas, com apoio internacional dos Es-
lhoria no tratamento destinado aos escra-
vizados. tados Unidos.
b) o surgimento de leis destinadas à redução
do uso de escravizados nas lavouras de 6. (Unesp 2022) O luxo e a corrupção nasceram
cana. entre nós antes da civilização e da indústria.
c) o apoio da Coroa portuguesa ao apresa- E qual será a causa principal de um fenôme-
mento e à escravização de indígenas. no tão espantoso? A escravidão, senhores, a
d) a necessidade constante de importação de escravidão. Porque o homem que conta com
mão de obra de africanos escravizados. os trabalhos diários de seus escravos vive na
e) o estímulo à imigração e a transição pa- indolência, e a indolência traz todos os vícios
ra o trabalho assalariado nas cidades e no após si.
(SILVA, José Bonifácio de Andrada, 1825.
campo.
Apud: SANTOS, Ynaê dos. História da África e do
Brasil afrodescendente, 2017. Adaptado.)
4. (Fuvest-Ete 2022) Assinale a alternativa que
estabelece a relação correta entre a emanci- A manifestação de uma das principais lide-
pação política do Brasil, em 1822, e a ordem ranças do país, logo após a independência
escravocrata: política, revela a
a) As políticas agrárias de transformação dos a) justificativa para a adoção, no Primeiro Rei-
libertos em pequenos produtores rurais ini- nado, de políticas agressivas de estímulo à
ciaram a gradual extinção da escravidão. imigração.
b) As relações escravocratas foram preserva- b) disposição, majoritária nos setores que par-
das, privando de liberdade as pessoas es- ticiparam do processo emancipacionista, de
cravizadas nascidas ou não no Brasil e seus eliminar gradualmente a escravidão.
descendentes. c) campanha abolicionista sistemática, inicia-
c) A nova ordem política reduziu o fluxo de afri- da ainda no período colonial, dos cafeiculto-
canos traficados para mercados brasileiros, res paulistas.
em favor de rotas voltadas a outras regiões d) rejeição, de clara influência liberal-iluminis-
da América. ta, da ideia de que os homens são desiguais
d) A Constituição de 1824 estabeleceu que se- por natureza.
riam considerados cidadãos os escravos li- e) crítica, voltada aos setores social e politica-
bertos, independentemente do seu local de mente hegemônicos do Brasil, à dependên-
nascimento. cia do trabalho obrigatório.
e) O peso demográfico das pessoas escravi-
zadas superou o das pessoas livres na com- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
posição da sociedade brasileira ao longo do
Primeiro Reinado.

5. (Uece 2022) A noite de 12 de novembro de


1823 ficou conhecida como a Noite da Ago-
A s exportações de algodão aumentaram de ma-
neira vertiginosa: de 3.000 fardos em 1790 a
178.000 em 1810 e a 4,5 milhões em 1860. Em tor-
HISTÓRIA II

nia, marcada pela invasão, ordenada por D. no de 1820, os Estados Unidos haviam se converti-
Pedro I, do plenário da Assembleia Consti- do no maior produtor mundial de algodão, e dez es-
tuinte, provocando sua dissolução. No dia tados e territórios dependiam em grande medida do
seguinte, o Imperador impôs medidas de vi- sistema de plantações.
gilância sobre reuniões políticas e até prisão (JENKINS, Phillip. Breve história
para quem se envolvesse em polêmicas pú- de Estados Unidos, 2017.)
blicas. Pouco mais de 4 meses depois, no dia
25 de março do ano seguinte, era outorgada
a Constituição Política do Império do Brasil. 7. (Fmj 2022) No período histórico que se esten-
Como consequência dessas atitudes de D. de do final do século XVIII à abolição da es-
Pedro I, cravidão nos Estados Unidos (1865), a eco-
a) ocorreu um movimento revolucionário, re- nomia brasileira do algodão
publicano e separatista em algumas pro- a) ampliava a produção nas conjunturas das
víncias do Nordeste brasileiro, denominado crises político-militares dos Estados Unidos
Confederação do Equador. da América.

39
b) comercializava diretamente com os merca- b) Em 1822, deu-se um novo e decisivo pas-
dos compradores independentemente do so para consolidar a independência do Bra-
exclusivo metropolitano. sil, que, a rigor, começou a se desenhar em
c) oferecia uma matéria-prima de melhor quali- 1808, com as medidas que fortaleceram a
dade devido ao emprego de mão de obra li- política do pacto colonial. Entre os Anos de
vre especializada. 1820 e 1822, as lutas dos brasileiros resul-
d) substituía os metais preciosos no comércio taram, em grande parte, das tentativas por-
regular com os centros das economias capi- tuguesas de recolonização.
talistas mundiais. c) Durante a Guerra da Independência, algu-
e) transitava da economia de coleta de produto mas partes do país tentaram resistir à eman-
nativo para a organização racional das eta- cipação, mas foram vencidas. Os maiores
pas produtivas. focos de resistência estavam instalados na
Bahia, Pará, Província Cisplatina, São Pau-
8. (Fcmscsp 2021) Observe a litografia de Je- lo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Foram lu-
an-Baptiste Debret, intitulada Empregado do tas longas, terminando somente com o fim
governo saindo a passeio, de 1835. do Primeiro Reinado.
d) Em relação aos tratados firmados entre Por-
tugal e Inglaterra, destaca-se o que estabe-
leceu as taxas vantajosas para mercado-
rias importadas da Inglaterra em relação
aos produtos oriundos de outros países. Es-
se ato de D. João, dentre outros, represen-
tou um dos fatores que favoreceria, num fu-
turo próximo, o processo de independência
do Brasil.
e) A Constituição promulgada de 1824 e a
derrota na Guerra Cisplatina, mesmo com
apoio inglês às tropas brasileiras, foram fa-
tores que impulsionaram a abdicação de D.
Pedro I ao Trono Brasileiro. Internamente,
a pacificação da Confederação do Equador
mitigou a oposição ao Rei por um longo pe-
ríodo.
(Apud: SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Murgel.
Brasil: uma biografia, 2018.)
10. (Uece 2021) Institutos Legais presentes em
A imagem, produzida durante o Brasil Impé- uma legislação nacional, as práticas do Be-
rio, mostra duas características da sociedade neplácito e do Padroado eram importantes
colonial que persistiram após a independên- representações da relação entre
cia política: a) o Estado brasileiro e o Vaticano durante a
a) a cordialidade e o servilismo. reaproximação no governo Vargas.
b) a desigualdade social e a harmonia das raças. b) o Estado brasileiro e a Igreja Católica duran-
c) a informalidade e a religiosidade. te o período do império brasileiro.
d) o privilégio do setor público e o autoritarismo. c) o Estado português e o governo colonial
e) o patriarcalismo e o escravismo. brasileiro no período do primeiro reinado.
d) o Estado brasileiro e as igrejas cristãs não
9. (G1 - col. naval 2021) O Brasil, hoje, consti- católicas durante o período regencial.
tuiu-se numa República Presidencialista, po-
rém, foi um longo processo até chegarmos 11. (Unesp 2021 - Adaptada) No que dizia res-
à atual configuração política e administrati- peito ao Estado a ser construído, generica-
va. Em relação à vinda da Família Real Portu- mente o modelo disponível era aquele que
HISTÓRIA II

guesa e o consequente período Joanino de- prevalecia no mundo ocidental. Tratava-se


senrolaram-se ações políticas, econômicas e de organizar um aparato político-administra-
sociais que resultaram na independência do tivo com jurisdição sobre um território de-
país e o curto período denominado Primeiro finido, que exercia as competências de di-
Reinado. Assim, marque a opção que apre- tar as normas que deveriam regrar todos os
senta, corretamente, os eventos decorridos aspectos da vida na sociedade, cobrar com-
entre a vinda da família real e o fim do Primei- pulsoriamente tributos para financiá-lo e às
ro Reinado. suas políticas, exercer o poder punitivo pa-
a) Um dos fatores que motivou a vinda da fa- ra aqueles que não respeitassem as normas
mília real para o Brasil recai sobre a amea- por ele ditadas.
(DOLHNIKPFF, Miriam. História do Brasil império, 2019.)
ça inglesa de se aliar a Napoleão Bonaparte
a fim de, após invadir e dominar o país lusi-
tano, dividir esse pequeno, mas estratégico O texto refere-se à organização política do
país, como também dividir a América Portu- Brasil após a independência, em 1822. O no-
guesa entre Ingleses e Franceses. vo Estado brasileiro, antes da outorga da
40
Constituição de 1824, foi baseado em pa- c) absolutistas e fundava-se no exercício dos
drões três poderes pelo imperador.
a) federalistas e garantia completa autonomia d) elitistas e era controlado apenas pelos por-
às províncias. tugueses residentes no país.
b) liberais e contava com sistema político re- e) democráticos e permitia a ampla participa-
presentativo. ção da população brasileira.

GABARI TO

1. B cias, encabeçadas por Pernambuco, deram início


[Resposta do ponto de vista da disciplina de à Confederação do Equador.
História]
A imagem e o texto retratam duas situações distin- 6. E
tas de hierarquização social: entre brancos e ne- O texto do patriarca da independência do Brasil
gros (na imagem) e entre os escravos (no texto). e tutor de D. Pedro II, José Bonifácio, tece uma
[Resposta do ponto de vista da disciplina de grande crítica à escravidão associando ao luxo e
Sociologia] corrupção porque “quem depende do trabalho es-
Na sociedade brasileira, a posição social dos in- cravo, vive na indolência e esta traz todos os ví-
divíduos é perceptível pela função que eles as- cios após si”. Trata-se de uma discussão impor-
sumem no cotidiano. No caso, levar o lixo e o ex- tante que estava começando no Brasil na primei-
cremento das pessoas assume um aspecto de ra metade do século XIX.
subordinação, tanto no período da escravidão,
quanto posteriormente. 7. A
Em especial durante da Guerra de Secessão, nos
2. A EUA, o mercado brasileiro ampliou sua produção
[Resposta do ponto de vista da disciplina de de algodão para suprir a queda da presença de al-
Geografia] godão norte-americano no mercado externo e in-
O território da Província de Cisplatina, atual Uru- terno.
guai, foi disputado pela Argentina e pelo Brasil. O
território foi anexado ao Brasil em 1821. A Guer- 8. E
ra da Cisplatina (1828) levou à independência do A imagem evidencia duas das principais caracte-
Uruguai, proclamada por Juan Antonio Lavalleja. rísticas da sociedade no Período Colonial brasi-
[Resposta do ponto de vista da disciplina de leiro que permaneceram no pós-Independência: o
História] patriarcalismo (corroborado pela figura masculina
Durante o Primeiro Reinado Brasileiro ocorreu a a frente da fila) e o escravismo (confirmado pela
Guerra da Cisplatina, na qual Brasil e Argentina quantidade de escravos acompanhado o seu Se-
disputaram a posse de alguns territórios da Bacia nhor no passeio, todos atrás dos brancos).
do Rio da Prata, dentre os quais a Província Cis-
platina, até então um território brasileiro. Ao longo 9. D
do confronto, a Província Cisplatina emancipou- No início do século XIX, havia uma grande rivali-
-se, dando origem ao Uruguai. dade entre França de Napoleão e Inglaterra, por-
tanto não havia possibilidade de uma aliança en-
3. D tre ambas. Em 1808, ocorreu a Abertura dos Por-
Devido aos maus tratos, às péssimas condições tos acabando com o pacto colonial. As guerras
de habitação e alimentação e à falta de incentivo de independência ocorreram no início do Primei-
à reprodução interna, os plantéis escravistas no ro Reinado. A constituição de 1824 foi outorgada
Brasil dependiam da importação para se manter. e não promulgada.

4. B 10.B
HISTÓRIA II

A independência do Brasil ocorrida no ano de Beneplácito e Padroado eram direitos do Impera-


1822 não foi acompanhada de mudanças econô- dor junto à Igreja Católica no Brasil. Padroado era
micas e sociais, permaneceu o sistema de plan- o direito de nomear pessoas para os cargos ecle-
tation, isto é, latifúndio, escravidão e monocultura siásticos no país e Beneplácito era o direito de
além da dependência em relação ao capitalismo aceitar ou rejeitar Bulas Papas no território nacio-
liberal-industrial internacional sob a liderança da nal.
Inglaterra.
11.B
5. A A princípio, o modelo político adotado pelo Impé-
As atitudes autoritárias e repressoras de D. Pedro rio Brasileiro no pós-Independência baseou-se no
I levaram, dentre outros fatores, ao surgimento de já existente modelo liberal e representativo euro-
um movimento revolucionário, com tendências re- peu. Todavia, com o passar do tempo, o uso do
publicanas e separatistas, no nordeste brasilei- Poder Moderador por D. Pedro II acabou por cen-
ro. Lideradas por Frei Caneca, algumas provín- tralizar as decisões políticas em suas mãos.

41
TEORIA (continuação)

3. OS PERÍODOS POLÍTICOS DO IMPÉRIO:

– 1822 a 1831 – Primeiro Reinado


– 1831 a 1840 – Período Regencial
– 1840 a 1889 – Segundo Reinado

Jean-Baptiste Debret viveu durante 15 anos no tos que elucidam cada retrato apresentado.
Brasil e desenvolveu uma intensa relação pessoal e
emocional com o território brasileiro. Seu trabalho 3.1. PRIMEIRO REINADO – 1822 – 1831:
é considerado de grande importância para o Brasil
na medida em que se dedicou a retratar o cotidia- O início da construção do Estado Nacional foi
no e a sociedade do século XIX, especialmente no bastante tumultuado. Se, no primeiro momento, a
Rio de Janeiro. aristocracia rural acreditou no controle político do pa-
Mesmo sendo considerado um pintor neoclássi- ís e esperou sobrepor seus interesses, o tempo mos-
co, está numa posição de transição entre o neoclas- trou que não seria tão fácil assim.
sicismo e o romantismo. Suas representações dos 1) Revoltas nas províncias do Norte e Nordes-
indígenas apresentam condições idealizadas, há um te em relação à condução do processo po-
HISTÓRIA II

privilégio da emoção valorizando o individualismo, o lítico nas mãos de um representante da Co-


sofrimento amoroso, a religiosidade cristã, a nature- roa Portuguesa. Algumas delas chegaram a
za e os temas do passado. pretender o separatismo e um governo re-
No ano de 1831, retornou à França alegando publicano.
problemas de saúde. Publicou o livro intitulado Via-
2) Os gastos do governo na guerra contra a
gem Pitoresca ao Brasil. Neste, o autor tenta apre-
Cisplatina tentando evitar o separatismo
sentar um panorama além do que era popularmente
da região. Além disso, outros gastos e a fa-
conhecido como exótico e interessante por causa da
lência do Banco do Brasil com a volta de
história natural. A iniciativa procurava criar uma obra
D.João VI para Portugal. Ou seja, os cofres
histórica que desse conta da formação do povo e da
públicos estavam vazios.
nação brasileira, registrando suas peculiaridades e
representando o passado do povo que aqui vivia. A 3) O autoritarismo do governante que se in-
obra completa foi publicada em Paris entre 1834 e dispôs com a Assembleia Constituinte e a
1839 e é composta de 153 pranchas dotadas de tex- dissolveu, outorgando, logo em seguida a
42
Constituição de 1824. constitucionalmente legítimo. Tem este nome de gol-
4) A repressão violenta à Confederação do pe, porque se caracteriza por uma ruptura institucio-
Equador com a morte por enforcamento do nal repentina, contrariando a normalidade da lei e da
líder, Frei Caneca, deixou a população ex- ordem e submetendo o controle do Estado a pesso-
tremamente chocada e insatisfeita, além de as que não haviam sido legalmente designadas, se-
causar um mal estar nas relações com a ja através de eleição, hereditariedade ou outro pro-
Igreja Católica. cesso de transição. No modelo mais comum de gol-
pes, as forças rebeladas cercam ou tomam de as-
5) A preocupação excessiva de D.Pedro I com
salto a sede do governo, muitas vezes expulsando,
a sucessão do trono português, uma vez
prendendo ou até mesmo executando os membros
que seu irmão, D.Miguel articulava um gol-
do governo deposto. Temos também os chamados
pe para assumir o governo que era, por di-
golpes brancos, que não usam da violência e sim de
reito, de sua filha Maria da Glória. Não bas-
uma articulação por “debaixo dos panos”.
tasse esta situação, havia a insatisfação
quanto à nomeação somente de portugue-
3.2. PERÍODO REGENCIAL:1831 – 1840
ses (do Partido Português) para os cargos (descentralizar ou centralizar?)
políticos mais altos, constituindo o chama-
do Ministério dos Marqueses. Uma multidão O que os historiadores dizem desta época de
concentrou-se no Campo da Aclamação nossa História política?
(atual Campo de Sant’Ana) para protestar e
exigir a volta do “Ministério dos Brasileiros”, A abdicação de D.Pedro I foi a vitória do libera-
ao que o imperador respondeu: “Tudo farei lismo sobre as forças absolutistas representadas na
para o povo, mas nada pelo povo” . Atitudes figura do imperador. Foi assegurada a Independên-
como essa, reforçava o medo, por parte da cia do Brasil porque os brasileiros assumiram o po-
camada dominante, de que D.Pedro I desse der e afastaram o perigo da recolonização, represen-
uma reviravolta nas decisões e retrocedes- tado pelo governo de D.Pedro I. É considerado um
se com o processo da Independência. período de “experiência republicana”, dada a tempo-
6) A instabilidade política se refletia nos jornais rariedade do governo e o seu caráter eletivo. Tam-
e os que se diziam liberais criticavam o go- bém foi marcado por uma grande instabilidade polí-
vernante e seu autoritarismo. A irritação era tica representada pelas rebeliões no Norte, Nordes-
crescente. O assassinato do jornalista libe- te e Sul do país.
ral, Libero Badaró, foi o estopim. D.Pedro I A grande discussão da época girava entre o cen-
foi responsabilizado. tralismo político-administrativo e a descentralização.
O unitarismo, definido pela Constituição, garantia o
Em resumo, o clima estava insustentável. Portu- centralismo e esta situação trazia descontentamen-
gueses e brasileiros não se entendiam. Havia, de um to para as províncias mais distantes do governo cen-
lado, um sentimento de lusofobia e, de outro, a arro- tral, que era o Rio de Janeiro. A questão não era ape-
gância em contraste o medo dos portugueses de per- nas o poder político, mas, também, os recursos que
derem o velho poder social e político. não eram distribuídos de forma equilibrada, trazen-
No dia 7 de abril de 1831, D.Pedro I apresentava do muita carência e acentuando a desigualdade so-
sua renúncia. Era inevitável. cial. A falta de protecionismo alfandegário era a quei-
As características centralizadoras da Constitui- xa dos comerciantes e dos pecuaristas que enfrenta-
ção de 1824, que determinou o unitarismo, o con- vam a concorrência com a produção de carne e do
servadorismo definido pela permanência da Monar- couro argentinos.
quia e da escravidão e o centralismo, obtido através Em 1834, veio o Ato Adicional à Constituição de
do Poder Moderador e do voto censitário, não davam 1824 que suprimia o Conselho de Estado e garan-
o equilíbrio e o controle necessário ao país. Diante tia a autonomia às Assembleias Legislativas Provin-
HISTÓRIA II

destas condições, os liberais articularam a deposi- ciais. Foi uma medida descentralizadora. Entretanto,
ção do governante, convencendo-o a abdicar. Foi um havia contradições: conservava o poder Moderador e
golpe político. O Brasil começava bem: golpe da In- a vitaliciedade do Senado, descentralizava legalmen-
dependência e golpe da abdicação. Se, por um lado, te e centralizava administrativamente com a criação
a abdicação tornou definitiva a Independência em re- da Regência Una. Por isso, não poderia dar certo e
lação à Portugal, por outro lado, efetivou e consoli- a relativa autonomia tornou-se um fator desencade-
dou o poder dos proprietários rurais, sobretudo do ador das rebeliões regenciais, muitas delas de cará-
Sudeste, que poderiam agora reconstruir o Império ter separatista.
à sua maneira. Através de seus representantes, fa- As muitas dificuldades, as constantes ameaças
riam perpetuar-se a forma de governo centralizada e às nossas fronteiras e a falta de um Exército organi-
a escravidão. zado e profissional, levaram o Regente Feijó a criar
Você deve entender o que é um golpe político a Guarda Nacional, distribuindo patentes de coronel
porque por várias vezes o país passou por golpes. aos proprietários de terras para que estabelecessem
Golpe de Estado é derrubar ilegalmente um governo a ordem interna do país e garantissem nossos limi-

43
tes. Mais tarde, na Primeira República, a denomina- medidas tomadas pelo governo como: a
ção de coronel para os fazendeiros e o forte poder lo- Lei Interpretativa de 1840 e a prisão do lí-
cal por eles estabelecido, geraram a denominação e der farroupilha Bento Gonçalves. Diferen-
o fenômeno do coronelismo. temente das demais rebeliões ocorridas no
As rebeliões eram uma ameaça à integridade do país, foi um movimento realizado por re-
país e à ordem político-institucional. Por isso, a ca- presentantes da camada média da popu-
mada dominante novamente se articulou para derru- lação em favor da república, que não mo-
bar a Regência, antecipando a maioridade de Pedro bilizou os setores menos favorecidos nem
II. Mais uma vez, um golpe e, desta vez, dos conser- contou com o apoio de proprietários de ter-
vadores, com um certo apoio dos liberais. Era preci- ras. O movimento ganhou adesão de par-
te das tropas do governo e o presidente da
so voltar à ordem e ao controle da sociedade e do pa-
Província foi obrigado a fugir. Os rebeldes
ís. Em 1840, lançaram a Lei Interpretativa do Ato Adi-
proclamaram a República baiana, que de-
cional de 1834 – o fim da descentralização e o fim do
veria durar até o imperador assumir o tro-
período regencial.
no. O governo regencial, por sua vez, teve
o apoio dos proprietários rurais e ocorreu
REBELIÕES REGENCIAIS:
um verdadeiro massacre dos participantes
revoltosos.
Cabanagem
(1833-1836) 3) BALAIADA – no Maranhão. Neste movi-
mento, houve a participação dos negros
Balaiada aquilombados, que protestavam contra a
(1838-1841)
escravidão a que eram submetidos. O mo-
vimento caracterizou-se por sucessivas e
Sabinada ininterruptas rebeliões da população serta-
(1837-1838) neja e escrava do maranhão e se alastrou
por toda a província, atingindo o Piauí. A
região passava por sérias dificuldades eco-
nômicas decorrentes da queda do preço do
Farroupilha algodão no mercado externo, após as guer-
(1835-1845) ras de Independência dos EUA. O nome do
movimento deve-se a um dos líderes do mo-
vimento, Manuel dos Anjos Ferreira, conhe-
1) CABANAGEM – foi o movimento mais ra- cido como o “Balaio”. Os legalistas derrota-
dical de todos. O único em que a clas- ram os balaios e, em 1841, a província foi
se dominada conseguiu ocupar o poder pacificada.
de toda uma província, ainda que de ma-
neira desorganizada e descontínua. O 4) FARROUPILHA – ocorrida no Rio Gran-
movimento eclodiu na Província do Pa- de do Sul, a Farroupilha foi a mais longa
rá. Os cabanos eram pessoas da cama- rebelião do período. Apresentou caracte-
da baixa da população, que viviam em rísticas próprias. Foi uma luta da classe
palafitas (favela à beira do rio). A eco- dominante local contra os efeitos do cen-
nomia da região consistia na exploração tralismo político e administrativo, mas na
das drogas do sertão e na pesca. A força qual essa classe se apresentava organi-
de trabalho era composta por negros es- zada e coesa, impedindo que o povo ti-
cravos, mestiços e índios, em sua maio- vesse maior participação, como acontece-
ra nas outras revoltas. A riqueza da região
ria sofrendo um processo de destribali-
era gerada na venda de charque, couros
zação, submetidos a um regime de se-
e gado muar para o mercado interno, is-
miescravidão. Os comerciantes de Be-
to é, para as províncias agroexportadoras.
HISTÓRIA II

lém detinham o poder na região e apoia-


O governo nem mantinha baixos impos-
vam uma política centralizadora interes-
tos sobre os produtos similares, que eram
sante para os interesses lusitanos. Os importados da região platina e nem ofere-
senhores de terras, que se opunham a cia garantias para venda da produção su-
eles, formavam um grupo numericamen- lina para o exterior, o que deixava os fa-
te pequeno e desorganizado. zendeiros em condições difíceis. O movi-
Da heterogeneidade dos grupos sociais e mento foi de caráter separatista e repu-
de suas diferenças de interesses e desejos blicano. O Rio Grande do Sul proclamou
de organização política, resultou o fracasso a República Riograndense e os rebeldes
do movimento que, é claro, foi duramente chegaram a ter o apoio de Santa Catari-
reprimido. na, que pretendia formar a República Ju-
liana. Bento Gonçalves, Bento Ribeiro e
2) SABINADA – ocorreu na Bahia. Foi uma Davi Canabarro, além do italiano, Garibal-
conspiração de protesto contra algumas di, foram os grandes líderes na defesa da

44
autonomia política e administrativa, ou se-
ja, o federalismo. O movimento foi dura-
mente reprimido pelas tropas do governo
imperial e foi pacificado em 1845, quando
D.Pedro II já governava o país.

5) REVOLTA DOS MALÊS – Durante o Perí-


odo Regencial, a rebelião mais assustado-
ra foi a Revolta dos Malês, na Bahia, em
1835. Foi organizada por negros islamiza-
dos, principalmente de origem iorubá, en-
tão chamados de nagôs. O termo “malê”
deriva de imale, que significa muçulmano 3.3.1. POLÍTICA NO SEGUNDO REINADO:
em iorubá. “Conservador é o mesmo que Liberal”
Cerca de 600 revoltosos tomaram Salvador,
deixando a população em pânico. Tiveram Logo no início do Segundo Reinado, o gover-
a adesão de elementos da classe baixa da no enfrentou duas revoluções: a Liberal, em 1842,
redondeza e, caso tivessem vitória, preten- em Minas Gerais e a Praieira, em 1848, em Per-
diam formar um *califado ortodoxo ou um nambuco.
Estado no qual o paganismo, predominan- Os problemas enfrentados com os farrapos no
te entre os negros, fosse tolerado. Sul e as pressões inglesas para a extinção do tráfi-
Uma vez sendo derrotados, muitos foram co negreiro, fizeram com que D.Pedro II substituísse
condenados ao açoite, prisão, degredo e o Ministério, que era formado por Liberais por con-
morte. servadores. O pretexto foi a vitória dos conservado-
*califado = divisão política do mundo árabe. res nas eleições realizadas em 1840, para assumi-
rem a legislatura de 1842. Foram as famosas “elei-
Diante do “vulcão de anarquia”, os progressistas ções de cacete”. Contra os conservadores, os libe-
articularam a maioridade de D.Pedro. Tanto regres- rais se insurgiram, tendo como um dos líderes, Te-
sistas (conservadores) como progressistas (liberais) ófilo Otoni.
interessavam-se pela maioridade do príncipe. Anto-
nio Carlos de Andrada, um dos líderes dos progres- “Grupos de valentões, com a conivência da
sistas preside o Clube Da Maioridade. A Ideia era de polícia, quando não dirigidos por ela, assaltavam
que só um imperador, com amplos poderes, seria ca- as mesas eleitorais. Identificavam-se pelo uso de
paz de acalmar o país. Era preciso, mais do que um laço amarelo no pescoço, ficando, por isso,
nunca, garantir a integridade territorial. conhecidos como papos amarelos. Assassínios e
espancamentos foram assinalados em todo o pa-
8 Mais um golpe para a política brasileira: com ís. A fraude completa o quadro dessas eleições.
apenas 15 anos, D.Pedro assume o gover- Na qualificação de eleitores aceitavam-se escra-
no do país! vos, pessoas imaginárias e trocas de identidade.
No recolhimento dos votos dos eleitores de paró-
quia, muitos foram impedidos de votar e as urnas
3.3. SEGUNDO REINADO: 1840 - 1889 cheias com votos preparados. Noutros casos, o
conteúdo das urnas foi substituído. Fraudou-se a
apuração com a alteração na contagem de votos,
com a falsificação das atas e, por fim, na qualifi-
cação do eleitor da província”.
(In:CASTRO,P.P., História Geral
da Civilização Brasileira, volume 2)

Em 1848, estourou em Pernambuco, a Revolu-


HISTÓRIA II

ção Praieira. Nesta mesma época, na Europa, estou-


ravam várias revoluções de caráter liberal, principal-
mente na França, que muito nos influenciava cultu-
ralmente e politicamente. 1848 foi o momento histó-
rico conhecido como “Primavera dos Povos”. A bur-
guesia lutava para derrubar o absolutismo e, ao mes-
mo tempo, o proletariado ganhava força contra a ex-
ploração do trabalho através das greves. As ideias
do socialismo utópico se difundiam. Em 1848, foi lan-
çado o Manifesto Comunista, de Marx e Engels. Co-
mo você pode perceber, a efervescência política era
intensa e os praieiros sofriam a influência das ideias.
Observe o verso que manifestava o sentimento da
população:
45
“Por subir Pedrinho ao trono da classe dominante desde a Independência até o
Não fique o povo contente fim do período regencial e que fizera emergir as re-
voltas populares. Com o fim da Praieira iniciava-se
Não pode ser boa coisa
o período da “tranquilidade política” que caracteri-
Servindo com a mesma gente”.
zou o Segundo Reinado.
Esta estabilidade política se explica em gran-
Agora, leia a quadrinha publicada num jornal da
de parte pela introdução do sistema parlamentaris-
província de Pernambuco antes que a revolução es-
ta, na década de 1870. A centralização política foi
tourasse:
a grande marca do Império. Esta é uma contradi-
ção: o parlamentarismo é descentralizado e, no en-
“Quem for para Pernambuco tanto, no Brasil foi centralizado. Isto porque, atra-
Leve contas para rezar; vés do poder Moderador, D.Pedro II concentrava
Pernambuco é purgatório poderes em suas mãos e nomeava livremente seus
Onde a gente vai penar.” ministros. Por isto, se afirma que foi um “parlamen-
tarismo às avessas”, diferente do sistema implan-
A economia da província estava desorganiza- tado na Inglaterra. O gabinete de Ministros oscila-
da, os latifúndios eram imensos e, é claro, a de- va entre liberais e conservadores. Foram dois par-
sigualdade social era profunda. Cerca de um ter- tidos que predominaram na maior parte do perío-
ço dos engenhos de açúcar estava nas mãos de do do Império e, por terem poucas diferenças, fo-
uma só família: os Cavalcanti. Legiões de escra- ram popularmente chamados de “farinha do mes-
vos e de agregados viviam na mais absoluta sub- mo saco”. De 1853 a 1867 vigorou a “Conciliação”
missão. entre os partidos.
Nas cidades, o comércio era monopolizado por Por trás dessa conciliação, havia a preocupa-
estrangeiros. Os ingleses controlavam a maior par- ção de resolver alguns problemas econômicos, prin-
te do comércio por atacado; os portugueses mono- cipalmente, a extinção definitiva do tráfico de escra-
polizavam o comércio varejista de tal maneira que vos, em 1850. Entretanto, no final da década de
até os caixeiros das lojas eram portugueses. As ca- 1860, a crescente oposição dos liberais e as dis-
madas médias intermediárias estavam, desse mo- cussões em torno de liberdades econômicas e polí-
do, marginalizadas. O pequeno comerciante brasi- ticas, trouxeram problemas para a manutenção des-
leiro não podia aguentar a concorrência estrangei- ta política. Em 1870, surgia o Partido Republicano,
ra assim como o trabalhador rural não tinha direito a que reivindicava a descentralização política, o fim
um pedaço de terra. da Guarda Nacional, o fim do poder Moderador, fim
O nome Praieira deve-se ao jornal Diário No- do trabalho escravo e reformas eleitorais. Defen-
vo, editado na rua da Praia. Também o Partido Li- diam a modificação da estrutura econômica e políti-
beral era conhecido como Partido da Praia. A par- ca do país. O Império começava a balançar em su-
ticipação no movimento não é homogênea. Liberais as bases políticas.
radicais e elementos da classe média incentivavam
a revolta. POLÍTICA EXTERNA DO SEGUNDO REINADO:
A Praieira, apesar de ter brotado em meio aos
conflitos políticos entre liberais e conservadores, As primeiras tensões foram com a Inglaterra:
foi uma revolta com perspectiva de mudança so- a Tarifa Alves Branco, a Questão Christie, e o Bill
cial influenciada por ideias socialistas. A grande Aberdeen.
limitação desses “socialistas pernambucanos” era A dependência em relação à Inglaterra já não
lutar, quase exclusivamente pelos interesses das era total, uma vez que 50% das nossas exporta-
camadas médias urbanas. Suas principais reivin- ções de café iam para os Estados Unidos. Isso
dicações eram: comércio varejista nas mãos dos permitia a D.Pedro II afirmar que “é uma política
HISTÓRIA II

brasileiros, trabalho como garantia de vida para o consolidada do Brasil evitar aceitar estipulações
cidadão brasileiro, completa reforma judicial em de tratados com países estrangeiros mais fortes e
ordem a assegurar as garantias individuais dos que não sejam limítrofes”. Na prática, essa polí-
cidadãos e voto livre e universal do povo brasi- tica significou o fim dos privilégios concedidos à
leiro. Embora influenciados pelo socialismo, não Inglaterra com o estabelecimento da Tarifa Alves
compreendiam que o escravo era o equivalente Branco, que estabeleceu tarifas protecionistas di-
da classe operária europeia no Brasil e não intro- ficultando importações. Parcialmente contrariada
duziram em seu manifesto nenhuma reivindicação em seus interesses, a grande potência passou a
em defesa dele. exigir do Brasil compensações financeiras por em-
O fracasso do movimento resultou na prisão e préstimos concedidos ao Brasil durante o proces-
condenação à prisão perpétua do líder Pedro Ivo. A so de independência e no período regencial. A ten-
derrota dos praieiros é a derrota do liberalismo radi- são entre os dois países não acabou de todo com
cal que, embora limitado, agitara os meios políticos o fim do tráfico negreiro, em 1845, com o Bill Aber-

46
deen. O contrabando de escravos permaneceu até O fortalecimento do Exército também traria
1850. A pilhagem da carga de um navio inglês que sérias questões políticas para a monarquia, uma
naufragou no Rio Grande do Sul e a prisão de dois vez que os militares voltaram da guerra com
oficiais britânicos que haviam feito confusões, no ideias positivistas, republicanas e abolicionistas.
Rio de Janeiro, por estarem embriagados, geraram Os escravos, que lutaram na guerra, foram al-
uma crise diplomática, que levou ao rompimento forriados, mas este direito não se estendeu aos
diplomático entre as duas nações. Mas, precisan- seus familiares. A queda do Império não demo-
do obter empréstimos, o governo brasileiro re- raria.
cuou e determinou a indenização da carga rou-
bada do navio. CONSIDERAÇÕES SOBRE A GUERRA DO
Não bastassem as questões com a Inglater- PARAGUAI
ra, o Brasil também se envolveu em problemas
com seus vizinhos platinos, interferindo nas con- “Essa visão de Pax Brasileira foi praticamente
dições políticas, com o apoio aos que derruba- o oposto do que ocorreu após 1870. Curiosamente,
ram o governo de Rosas na Argentina e apoian- ao invés de se comportar como grande potência vi-
do o partido Colorado contra os Blancos no Uru- toriosa e se colocar a tarefa de estruturar sua esfe-
guai. Havia interesses dos estancieiros brasilei- ra de influência regional, o Império adotou uma es-
ros em defender as fronteiras e garantir os inte- tratégia definitiva. Longe de buscar a anexação do
resses na região. Os produtos que saíam de Ma- Paraguai ou a quebra do poder argentino, o Rio de
to Grosso precisavam do estuário do Prata para Janeiro centrou seus esforços em impedir a anexa-
o escoamento. ção pela Argentina do Chaco paraguaio, pois teria
Em 1865, foi a vez do Paraguai. Governado medo de partilhar mais uma fronteira terrestre com
pelo ditador Francisco Solano Lopez, o país pos- Buenos Aires. A postura defensiva do poderoso Im-
suía linhas de telégrafo, estradas de ferro, fábri- pério do Brasil é especialmente intrigante quando
cas de material de construção, tecido, papel, tin- se tem em mente que, por mais que a Argentina ti-
ta, louça e pólvora, fazendas coletivas e equilí- vesse se fortalecido durante a guerra, estava ainda
brio da balança comercial com as exportações longe de ser um Estado consolidado, tendo que en-
superando as importações. A moeda era está- frentar várias rebeliões regionais ao longo dos anos
vel, no país não entravam empréstimos estran- 1870. (...)”
geiros e quase não havia crianças analfabetas. (VIEIRA, Ricardo Zortéa, in: FIORI, José Luís. Sobre a Paz.
Página 269. Editora Vozes 2021)
Um quadro bastante original no cenário da Amé-
rica Latina. O Paraguai exigia a livre navegação
nos rios platinos e, principalmente, no estuário (...) A Bacia do Prata foi o maior palco do
do Prata, que era controlado pelo Uruguai e pe- confronto entre o monarquismo centralizador lu-
la Argentina. O isolamento territorial, sem saí- so-brasileiro e o republicanismo independentis-
da para o mar, era um grande obstáculo à eco- ta hispânico. Já quando da sua chegada ao Bra-
nomia. sil em 1808, o Príncipe Regente português, Dom
Brasil, Uruguai e Paraguai formaram a Trí- João de Bragança, tinha a ambição de anexar
plice Aliança e atacaram o Paraguai, com os se- Buenos Aires e assim dominar a embocadura do
guintes objetivos: tirar do Paraguai a soberania Rio da Prata. O governo lusitano pensava contar
sobre seus rios, repartir entre Brasil e Argentina com o apoio da Inglaterra, dado que Buenos Ai-
uma grande extensão do território em litígio, res- res estava então sob controle da Espanha, alia-
ponsabilizar o Paraguai por toda a dívida exter- da da França. Entretanto, Londres se preocupava
na e não negociar qualquer trégua, conjunta ou com a continuidade da balança de poder regional,
em separado, até tirar Solano Lopez do poder. e não só não apoiou a conquista de Buenos Ai-
Foi um verdadeiro arraso para o Paraguai. As ci- res, como pressionou pela desocupação do Uru-
HISTÓRIA II

dades, as vilas e as aldeias do Paraguai estavam guai, que forças luso-brasileiras conquistaram em
despovoadas. Sobrevivera um quarto da popula- 1811. (...) Idem, pág. 271
ção – cerca de 200 mil pessoas – 90% do sexo fe-
minino. Dos 20.000 homens ainda com vida, 75%
eram velhos acima de 60 anos ou garotos meno- (...) o real interesse de Londres não era propria-
res de 10. mente a destruição do Paraguai, como afirma a ver-
Depois da mais sangrenta guerra travada na tente revisionista da historiografia, mas a mudança
América Latina, o Paraguai estava arruinado. A na balança de poder entre os aliados. Não por aca-
Argentina passou a deter a hegemonia na ba- so, os conservadores brasileiros, arquitetos tanto da
cia platina. Para o Império brasileiro, que perdera política de contenção da Argentina quanto da auto-
100.000 homens, os gastos com o conflito agra- nomia frente à Inglaterra, não tinham o menor entu-
varam a situação financeira pois foram necessá- siasmo com a Guerra do Paraguai.
(DORATIOTO, f. o Brasil no Rio da Prata.
rios novos empréstimos com a Inglaterra. Brasília,FUNAG,2014)
47
Região da Bacia do Rio da Prata 3.3.2. ECONOMIA E SOCIEDADE NO SEGUNDO
REINADO:

O CAFÉ SALVA A BALANÇA COMERCIAL:

https://www.google.com.br/search?q=regi%C3%A3o+
do+prata+localiza%C3%A7%C3%A3o&tbm=isch&ved=
2ahUKEwihnZTd6ob9AhWeNrkGHbeQDqEQ2-cCegQIA
BAA&oq=regi%C3%A3o+do+Prata&gs_lcp=CgNpbWcQ
ARgBMgUIABCABDIHCAAQgAQQGDoECCMQJzoIC
AAQgAQQsQM6B

Candido Portinari – O lavrador de café

Pelos caminhos de ferro que ligavam Vassouras


ao Rio de Janeiro, corriam vagões carregados de ca-
fé, que eram dirigidos ao porto para serem vendidos
à Europa ou aos Estados Unidos.
Nas fazendas de café, os trabalhos eram árduos
para o escravo, principalmente quando se iniciava o
período da colheita. As várias etapas: secagem, des-
polpamento, classificação e beneficiamento reque-
riam mão de obra manual.
O café foi, a partir de 1840, o principal produ-
to de exportação brasileiro e recuperou a economia
do país, que estava em crise desde a Independência
em virtude da decadência das principais lavouras de
exportação e da dívida contraída para pagar Portu-
https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F gal pelo reconhecimento da Independência. Através
%2Fed8a.blogspot.com%2F2012%2F04%2Fa-guerra- da exportação do café, a economia brasileira reinte-
do-chaco.html&psig=AOvVaw0gZxupTcdg1FngatI6c0TM&ust grou-se ao mercado mundial. Naquela época, as ca-
=1675976928686000&source=images&cd=vfe&ved=
0CBAQjRxqFwoTCJDp7t3qhv0CFQAAAAAdAAAAABAE
sas de café, na Europa e nos EUA eram refinadas e
havia muita propaganda sobre os benefícios da be-
bida para a saúde: “seca todo humor frio, expulsa os
HISTÓRIA II

ventos, fortifica o fígado, alivia os hidrópicos pela sua


qualidade purificante, igualmente soberana contra a
sarna e a corrupção do sangue, refresca o coração e
o bater vital dele, alivia aqueles que têm dores de es-
tômago e que têm falta de apetite, é igualmente bom
para as indisposições frias, úmidas ou pesadas do
cérebro”...
A introdução do produto no país veio através do
Pará, introduzido por Francisco Palheta. Mudas fo-
ram trazidas para o vale do Rio Paraíba do Sul, atin-
gindo regiões predominantemente fluminenses. O
município de Vassouras foi a capital do café e o por-
to do Rio de Janeiro, o mais importante ponto de es-
coamento do produto.
48
A partir de 1870, a região entrou em declínio de- 8 companhia de Gás para iluminação das ru-
vido a técnicas ainda bastante atrasadas, às monta- as do Rio de Janeiro;
nhas e a erosão do solo. Continuando a sua “mar-
cha”, o produto avançou para o sul de Minas Gerais 8 empresa de bondes puxados por burros;
e chegou ao oeste de São Paulo, onde ganhou um 8 navegação a vapor no Rio Grande do Sul e
grande impulso graças à existência do solo de ter- no Amazonas;
ra roxa.
As fazendas de café lembravam muito os enge- 8 telégrafo submarino;
nhos de açúcar. Perto da casa grande, onde residiam
8 primeira locomotiva brasileira “a baronesa”,
os “barões do café” quando não estavam na corte, fi-
construída com capitais ingleses e de fazen-
cavam as senzalas e uma área reservada para o be-
neficiamento. Com o tempo, em torno das fazendas deiros de café;
surgiram pequenas unidades agrícolas, produtoras 8 Recife & San Francisco Railway;
de gêneros de primeira necessidade. Além disso, o
café também contribuiu para o surgimento de centros 8 São Paulo Railway Company;
urbanos, muitos deles próximos de estações de trem, 8 Estrada de ferro Dom Pedro II;
onde o café era embarcado para tomar a direção do
porto de Santos. Nas principais cidades, começa- 8 Banco Mauá.
ram a surgir os comerciantes exportadores de café –
eram chamados de “Comissários do café”. Atenden-
Tudo isso teria dado bons frutos, não fosse a
do ao movimento financeiro, também surgiram os pri-
pressão dos proprietários de terras sobre o Governo,
meiros estabelecimentos bancários, muitos deles li-
levando a substituir a Tarifa Alves Branco por medi-
gados aos Bancos ingleses.
das que beneficiavam os comerciantes ingleses e a
Como você pode observar, o café contribuiu pa-
reformulação da política financeira deflacionária que
ra a formação de uma incipiente burguesia, ainda no
retraiu os créditos e acabou se transformando num
século XIX, além de fazer crescer a classe média ur-
golpe fatal para os novos empreendimentos. Mauá
bana. Nas cidades, são também utilizados escravos
não conseguiu concorrer com o capital externo e so-
como mão de obra. Os chamados “escravos de alu-
freu várias sabotagens, como o incêndio no estaleiro
guel” e os “escravos de ganho”.
de Ponta de Areia. Apesar de tantos e tão variados
A situação dos demais produtos de exportação
investimentos, Mauá faliu.
era variada. O fumo, utilizado no escambo por ne-
gros africanos, perdeu seu mercado ao se iniciarem
as restrições ao tráfico. Só no final do século XIX, as 1850: um novo cenário
exportações do produto aumentaram destinando-se
a um novo tipo de mercado. A exportação de couros Na segunda metade do século XIX, o cenário
sofreu um declínio progressivo em função da concor- econômico e social começou a sofrer modificações.
rência platina. O cacau e a erva-mate, produtos de O fim do tráfico de escravos, por pressões do capi-
pouca relevância na pauta das exportações, manti- tal externo inglês, e a economia cafeeira foram bem
veram-se estáveis. responsáveis por estas transformações. Começava
Em 1850, ocorreram várias iniciativas com expe- a transição do escravismo ao capitalismo. Novas ini-
riências industriais decorrentes de uma acumulação ciativas no campo industrial, a necessidade de mão
de capitais provenientes da produção e exportação de obra mais qualificada, o crescimento dos centros
cafeeira. Foi a chamada ERA MAUÁ. Vários fatores urbanos, a ampliação da classe média, são visivel-
são considerados favoráveis: mente percebidas neste cenário.
As primeiras levas de imigrantes chegaram logo
a) a Tarifa protecionista Alves Branco; após a transferência da corte joanina para o Brasil.
Com o intuito de promover o povoamento em certas
b) o saldo positivo da balança comercial; regiões, D. João criou um sistema de colonização,
c) o fim do tráfico de escravos e a disponibi- que consistia na instalação de imigrantes europeus
lidade de capitais para serem empregados em pequenas propriedades, agrupadas em núcleos
HISTÓRIA II

em atividades lucrativas internas. autônomos. Isoladas, as colônias produziam apenas


para sua subsistência e para um comércio regional.
Irineu Evangelista de Souza foi um dos grandes Com o fim do tráfico de escravos, um grave pro-
empreendedores da época. O sucesso inicial de su- blema: o da mão de obra. Inicialmente, como possí-
vel solução o tráfico interprovincial não foi suficiente
as empresas serviu de incentivo a muitos empreen-
para abastecer a lavoura do vale do Paraíba.
dimentos e foi uma atração para o capital privado in-
A expansão dos cafezais vinha aumentando a
glês, que participou ativamente deste primeiro surto procura de terras férteis e, em 1850, com a Lei de
industrial brasileiro. Terras, as disputas por terras devolutas se intensifi-
Foram iniciativas de Mauá: caram. A lei regularizou o regime da propriedade ter-
8 estaleiro de Ponta de Areia, no Rio de Ja- ritorial no Brasil, dividindo as áreas em duas catego-
rias: particulares e públicas. Seu principal significado
neiro;
foi proibir a aquisição de terra públicas a não ser por
8 fundição de ferro e bronze, calderaria e ser- compra, pondo fim à aquisição por posse ou doação
ralheria; da Coroa. Seu efeito prático foi dificultar a formação
49
de pequenas propriedades, mantendo os trabalhado- ta, mais abastados, a comprovação de que era mais
res livres sob a sujeição dos grandes proprietários. vantajoso, economicamente, do que o trabalho es-
Essa sujeição era conveniente aos proprietários da- cravo.
da a escassez de mão de obra decorrente do fim do A sociedade, durante a metade do século XIX,
tráfico de escravos. passou por mudanças fundamentais, não só pela
As dificuldades com a mão de obra permane- substituição do trabalho escravo para o trabalho as-
ciam e, então, o governo tentou o sistema de par- salariado, como pelo crescimento do mercado inter-
ceria. Introduzido pelo senador Nicolau de Campos no, através do crescimento das cidades.
Vergueiro, em suas fazendas em Ibicaba, eram es- As iniciativas industriais – fábricas de chapéus,
tabelecidos contratos com os imigrantes da seguin- sabão, tecidos de algodão e cerveja – utilizavam a
te forma: os colonos tinham pagas todas as despe- energia a vapor ou motor hidráulico e o trabalho era
sas de viagem e transporte até a fazenda. Os gas- organizado por mestres e contramestres que vinham
tos de manutenção e de instalação da família, efetu- da Europa. Além disso, foram fundados 14 Bancos,
ados logo após a chegada, corriam também por con- três caixas econômicas, 20 companhias de navega-
ta do fazendeiro. Essa gratuidade era, na verdade, ção a vapor, 23 companhias de seguro e oito estra-
apenas um adiantamento; logo que o colono inicias- das de ferro. Criaram-se, ainda, empresas de mine-
se a produção, deveria começar a pagá-lo com juros ração, transporte urbano, gás, etc.
de 6% ao ano. O Rio de Janeiro era o espelho de toda essa
A cada família era atribuído um certo número de modernização. A cidade ganhou iluminação a gás
pés de café para cultivar, colher e secar, além de um e água encanada. Aos poucos, as carruagens eram
pedação de terra para plantar gêneros de subsistên- esquecidas, dando lugar, primeiro, aos bondes elé-
cia. A renda líquida obtida com a venda do café dos tricos, recebidos com grande entusiasmo pelos mo-
produtos de sua roça. Ainda com pouco tempo de radores de Santa Teresa. Os “barões do café” cons-
funcionamento, o sistema acarretou vários proble- truíam suas chácaras nos bairros mais elegantes pa-
mas, que não raro acabaram em lutas sérias entre as ra estar mais perto dos teatros, dos bailes e, prin-
duas partes. Os colonos reclamavam da exploração cipalmente, das decisões políticas que se tomavam
dos proprietários, criticavam a falta de liberdade reli- na Corte. A cidade ia se aparelhando, construíam-se
giosa e as moradias em que eram instalados: casas hotéis e jardins públicos, multiplicavam-se as casas
de pau-a-pique, sem forro, de chão batido e, algumas de café. Os que chegavam em busca de emprego
vezes, até em senzalas antigas. Consideravam injus- nas fábricas iam morar nos bairros pobres, onde pro-
ta a entrega da metade da produção de sua roça ao liferavam os cortiços. Assim também aconteceu com
fazendeiro e desonesta a contagem dos juros. Foram São Paulo e outras áreas urbanas próximas à econo-
famosas as revoltas nas fazendas de Ibicaba, onde a mia cafeeira e às iniciativas industriais.
experiência começou. Para ampliar seu conhecimento: Juiz de Fora
Com o insucesso do sistema de parceria, o go- inserida nesse contexto.
verno passou, a partir de 1860, a subvencionar a imi-
gração e criou o sistema de colonato. a) ESTRADA UNIÃO-INDÚSTRIA
Além de assumir as despesas dos imigrantes e
de suas famílias e de fazer propaganda para atrair Mariano Procópio Ferreira Lage nascido em
esses trabalhadores europeus, o Estado assumiu a 1821, na Chácara do Matinho, em Barbacena, Minas
tarefa de recrutá-los e de encaminhá-los às fazendas Gerais, foi estudar na Europa no ano de 1840. Ao
interessadas. Os fazendeiros arcavam com os gas- voltar ao Brasil, recheado de conhecimento de lín-
tos do imigrante no primeiro ano após sua chegada guas, arte fotográfica, física e ciências exatas, ainda
e estabelecia com ele contratos que caracterizavam estava insatisfeito. É que, enquanto isso, os Estados
um regime de colonato, com diferentes formas de re- Unidos se desenvolviam tecnologicamente, e tinham
muneração. Nos contratos para o cultivo e a colhei- muitas coisas para mostrar e ensinar. E foi na Amé-
ta do café, a remuneração variava de acordo com o rica do Norte que ele acabou conhecendo uma nova
HISTÓRIA II

número de pés de café cultivados ou com o volume descoberta a técnica de Mc Adam - o macadame, um
de grãos colhidos. processo inédito de pavimentação de estrada, à ba-
A vinda maciça de imigrantes europeus para o se de saibro e areia grossa comprimidos a rolo sobre
Brasil e a introdução de salários nos contratos com brita, o que garantiria que permanecesse trafegável
os colonos não significaram, necessariamente, a dis- mesmo na época de chuvas.
seminação do trabalho assalariado, nem de relações O projeto da estrada começou em 1854 quando
capitalistas no campo. Contudo, a generalização do o Comendador Mariano Procópio Ferreira Lage rece-
trabalho livre e a produtividade do imigrante nos beu a concessão por 50 anos para a construção de
cafezais, que trabalhavam arduamente na espe- custeio de uma rota que, partindo de Petrópolis, se
rança de se tornarem proprietários, certamente dirigisse à margem do Rio Paraíba. Mariano Procó-
contribuíram para o desgaste da escravidão. O pio criou então a Companhia União e Indústria, que
trabalho do imigrante, de melhor nível técnico, trou- deu nome à estrada e cujo lucro provinha do pedágio
xe para os proprietários de terras do oeste paulis- por mercadoria cobrado dos usuários da rota.
50
Os trabalhos tiveram início em 12 de abril de Alemanha, em cinco viagens, chegaram outras 1163
1856 com a presença do Imperador Dom Pedro II e pessoas que, em Juiz de Fora, foram morar na Colô-
a Família Imperial, e a placa que registrou o evento nia de São Pedro II, hoje Bairro de São Pedro.
ainda pode ser vista no início da Avenida Barão do Ricardo Arcuri
Rio Branco, em Juiz de Fora. O primeiro trecho a ser
finalizado, inaugurado em 18 de abril de 1858, ligava b) PRIMEIRA USINA HIDRELÉTRICA DA
Vila Teresa a Pedro do Rio, num total de 30,865 me- AMÉRICA DO SUL:
tros. De Pedro do Rio a obra seguiu até Posse, dois
anos e 14 quilômetros depois. Finalmente, em 23 de Usina Hidrelétrica de Marmelos foi a primeira
junho de 1861, Dom Pedro II e representantes ilus- grande usina hidrelétrica da América do Sul, inaugu-
tres da Corte e da Companhia União Indústria per- rada em Juiz de Fora, Minas Gerais, no ano de 1889.
correram em diligência os 144 quilômetros da primei- O empreendimento foi idealizado por Bernar-
ra rodovia macadamizada brasileira, inaugurando a do Mascarenhas, importante industrial de Juiz de
união entre Petrópolis e Juiz de Fora. Fora, fundador da Companhia Mineira de Eletrici-
Foi assim que começou a nascer a estrada de dade em 1888. A Usina de Marmelos foi projetada
Rodagem União e indústria, ligando Juiz de Fora para atender não apenas as indústrias de tecidos
a Petrópolis, com seus 144 quilômetros ( ou 24 lé- do empresário, mas também para fornecer eletrici-
guas, como se media na época), por onde transita- dade à iluminação pública da cidade, antes alimen-
vam charretes, carroças e carruagens, que gastavam tada a gás.
em média 12 horas para completar o percurso, com A usina está localizada no Rio Paraibuna, às
13 estações de troca de parelhas que permitiam tam- margens da Estrada União e Indústria, outro impor-
bém o descanso dos passageiros, sendo servidas tante marco da engenharia no Brasil no século XIX.
refeições. As estações ficavam a 2 léguas entre si O pioneirismo valeu a Juiz de Fora o título de "Man-
(13,2 km), sendo elas: Juiz de Fora (Cidade de Parai- chester Mineira".
buna), Ponte Americana, Matias Barbosa, Simão Pe- A crescente demanda por energia levou suces-
reira, Paraibuna (divisa da Província), Serraria, En- sivas expansões da usina, que atualmente conta
tre Rios, Luiz Gomes, Julioca, Posse, Pedro do Rio, com uma potência instalada de 4 MW, sendo portan-
Correas e Petrópolis. As estações tinham também a to uma PCH (Pequena Central Hidrelétrica), confor-
função de receber e despachar as mercadorias, atra- me a classificação adotada pela ANEEL atualmente.
vés das carroças da Companhia, em sua maioria ca- A Companhia Energética de Minas Gerais adqui-
fé, toucinho, suínos e aves. riu a hidrelétrica em 1980. Em 1983, a Usina de Mar-
Por essa estrada começava a escoar, também, melos foi tombada pelo patrimônio municipal de Juiz
a produção agrária da Zona da mata mineira, princi- de Fora e transformada em espaço cultural. Foi ins-
palmente o café, e os primeiros transportes coletivos, talado na edificação da usina o Museu de Marmelos
as diligências, que levavam até 14 pessoas, além do Zero, que desde 2000 é administrado pela Universi-
cocheiro, do condutor e de um ajudante, que tocava dade Federal de Juiz de Fora.
um trompete, “como aviso aos que viajavam em sen-
tido contrário”. HISTÓRICO:
A União Indústria aproveitou vários trechos
da estrada do Paraibuna, mas o comendador a des- A cafeicultura trouxe prosperidade a Juiz de Fo-
viou da cidade de Halfeld. Ao atingir o largo do Ria- ra, e as grandes fazendas de café tornaram-se a ba-
chuelo (na época Milheiros), mudou o rumo, traçan- se da economia local. Isso atraiu novos investimen-
do a reta de um quilômetro que hoje é a av. Getu- tos para a cidade, como a Estrada União e Indús-
lio Vargas. tria, construída por Mariano Procópio Ferreira Lage
O surgimento da estrada foi definitivo para es- e pela Companhia União Indústria e inaugurada em
ta última, transformando Juiz de Fora, ainda em de- 1861. As obras da rodovia trouxeram consigo a mão
HISTÓRIA II

senvolvimento, numa importante rota comercial en- de obra qualificada dos imigrantes que, após a con-
tre os dois estados. Deu origem também ao primeiro clusão da União e Indústria, passaram a participar do
guia de viagens do Brasil, escrito pelo alemão Re- progresso industrial do município, que começara a
vert Henrique Klumb, fotógrafo do imperador, e inti- desenvolver suas primeiras fábricas.
tulado "Doze Horas em Diligência - Guia do Viajan- O empreendedor Bernardo Mascarenhas ad-
te de Petrópolis a Juiz de Fora". Editado em 1872, quire então um terreno às margens do Rio Paraibu-
o livro descrevia com textos e imagens a fantásti- na e da estrada, onde pretendia estabelecer uma in-
ca viagem. dústria de tecidos. Ele acabaria construindo a Com-
A construção da estrada teve início em 1856 e panhia Têxtil Bernardo Mascarenhas próximo à Es-
sua mão de obra foi quase toda formada por imigran- tação Ferroviária, local mais propício para o escoa-
tes alemães e alguns franceses. O primeiro grupo de mento da produção, destinando o terreno perto do rio
imigrantes chegou em 1856. Era formado por 150 a outro projeto: conseguir uma fonte de energia elé-
pessoas, entre engenheiros, técnicos e operários es- trica para seus empreendimentos, então movidos à
pecializados. Dois anos depois, sempre partindo da base de querosene.
51
Em 1886, Mascarenhas e o banqueiro Francisco cas, este era um código para “escravos”. Embora o
Batista de Oliveira recebem aprovação do município tráfico negreiro ainda não tivesse sido abolido, a opi-
para explorar a Cachoeira dos Marmelos para produ- nião pública era cada vez mais resistente ao trabalho
ção elétrica. O projeto foi então integrado à Compa- forçado dos negros.
nhia Mineira de Eletricidade, fundada por Mascare- – Mais de 600 escravos eram donos de escra-
nhas em 1888 e responsável pela construção da no- vos no Nordeste – revela João José Reis, professor
va usina. da Universidade Federal da Bahia. – esta proprie-
dade estava ligada ao tráfico negreiro. Quando ha-
c) ORGULHO DE SER “BRASILEIRO” via grandes desembarques nos portos brasileiros,
o preço deles diminuía e permitia a inclusão de pe-
PORTUGUESES VOLTAVAM RICOS DA quenos investidores no mercado. Manoel e outros li-
ANTIGA COLÔNIA E ATUAVAM bertos compravam preferencialmente mulheres, que
COMO FILANTROPOS NA TERRA NATAL lhes davam cria.
Professor de História da Unifesp, André Roberto
Jornal O Globo,30 de maio de 2015 de Arruda Machado destaca que a relação entre ne-
gros era desigual.
Conforme o tráfico negreiro perdia força, o Bra- – Os escravos não formavam apenas um cor-
sil ganhava cada vez mais crédito entre seus antigos po. Havia uma hierarquia evidente entre os escra-
conquistadores, arrasado por uma guerra civil, com vos nascidos aqui e aqueles que vinham da África.
governo cambaleante e economia decadente, Portu- O primeiro grupo se recusava a fazer algumas tare-
gal foi reduzido a uma saída para o Atlântico. Pes- fas, que deveriam ser deixadas aos estrangeiros –
quisadores apontam que havia dois tipos de perso- lembra.
nagens que procuravam futuro nos trópicos. Aqueles Mesmo acumulando riquezas e escravos, Ma-
que voltavam endinheirados, os “brasileiros”, colecio- noel nunca obteve o reconhecimento da sociedade
navam títulos de nobreza, bancaram obras do gover- baiana.
no e atuaram como mecenas e educadores. Já quem – Com a hostilidade e a negação do africano li-
desembarcava em terras lusitanas de bolsos vazios berto, perdemos a chance de ter uma elite negra – la-
era o “abrasileirado” – em sua jornada pela antiga co- menta Reis.- Os africanos eram trazidos para cá em
lônia, estes conseguiam apenas o necessário para o fétidos tumbeiros e não poderiam ver o Brasil como
próprio sustento. uma terra de oportunidades. Apenas procuravam se
O sonho dos portugueses era voltar “irreconhe- dar bem dentro do possível, e esse possível às ve-
cíveis”, cultos e de vestuário elegante, ganhando zes surpreende.
respeito e reputação que nunca teriam se não tives-
sem deixado a terra natal. Assim se ampliava a imi- A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO:
gração, os candidatos a “brasileiros”. O Brasil era o
país ideal: quem trabalha ganha uma recompensa A lenta decadência do Império deve ser discu-
justa. Os novos ricos, quando voltavam para a ter- tida levando-se em consideração os seguintes as-
ra natal, compravam ou mandavam construir mag- pectos:
níficos palacetes e, em suas terras de origem, ofe- a) O gradual processo abolicionista;
receram estradas, igrejas e capelas, casas de es- b) O surgimento do Partido Republicano;
petáculos, escolas, asilos e hospitais. Com estes c) Os reflexos da Guerra do Paraguai;
atos filantrópicos, eles ganhavam reconhecimento d) O regime do Padroado, instituído pela Cons-
da igreja, comendas civis, e às vezes títulos de vis- tituição de 1824 e a crise entre o Estado e a
condes. Igreja, com a prisão dos bispos, envolvendo
a questão da maçonaria;
d) ESCRAVOS PROSPERAVAM COMPRANDO e) O crescimento da camada média da popu-
lação e a formação embrionária da burgue-
HISTÓRIA II

NEGROS, MAS ERAM ESNOBADOS PELA


ELITE: sia, trazendo modificações no cenário social
e político do Brasil.
Quando Manoel Joaquim Ricardo morreu, em
1865, tinha 27 escravos, três casas e uma senza- O PROCESSO ABOLICIONISTA:
la. Era um dos dez homens mais ricos de Salva-
dor – um grande feito, ainda mais considerando que “(...) a palavra Escravidão (...)não significa so-
Manoel era negro e vivia em um país ainda escra- mente a relação do escravo para com o senhor; sig-
vocrata. nifica muito mais; a soma do poderio, influência, capi-
Em 1841, antes mesmo de ser alforriado, Mano- tal e clientela dos senhores todos; (...) a dependência
el já era dono de seis escravos. Estendeu sua rede em que o comércio, a religião, a pobreza, a indústria,
de negócios até a África. Lá, ele e seus sócios troca- o Parlamento, a Coroa, o Estado enfim se acham pe-
ram correspondência sobre seu sucesso na importa- rante o poder agregado da minoria aristocrática, em
ção de “noz de cola” –segundo autoridades britâni- cujas senzalas centenas de milhares de entes huma-
52
nos vivem embrutecidos e moralmente mutilados pe- Império seriam considerados livres. Os proprietários
lo próprio regime a que estão submetidos.” deveriam criar os menores até os oito anos, quando
(In: NABUCO, Joaquim. O Abolicionismo). poderiam entregá-los ao Governo e receber uma in-
denização ou mantê-los consigo até os 21 anos, uti-
A escravidão, como denunciavam Joaquim Na- lizando seus serviços como retribuição pelos gastos
buco e tantos outros abolicionistas, não degradava que tiveram com o sustento. A Lei determinava ainda
apenas os negros escravos, mas toda a sociedade a criação de um Fundo de Emancipação, destinado
imperial. A partir de 1860, passou a ser alvo de uma a libertar anualmente certo número de escravos em
crescente e viva campanha abolicionista. cada província. Ao escravo, nunca se falou em inde-
Os escravos nunca deixaram de se rebelar con- nizar. Houve muitos protestos e continuava a crescer
tra aquele regime opressivo: refugiando-se nos qui- o tráfico interprovincial. Assim, a situação do escra-
lombos para organizar uma vida comunitária e sem vo permaneceu a mesma. Por isso, se afirma que foi
injustiças, oferecendo forte resistência às tropas go- uma lei paliativa.
vernamentais e dos senhores que os atacavam e de A partir de 1880, o movimento abolicionista to-
muitas outras formas. Trabalhos mal executados ou mou força. A sociedade também se modificava. A in-
não cumpridos, a prática do aborto, o incêndio das trodução do trabalho assalariado do imigrante, como
plantações, o assassinato de seus donos, a manu- já vimos, as atividades industriais e o crescimento
tenção de seus rituais religiosos por detrás de cultos da população livre, ligado ao processo de urbaniza-
cristãos, o hábito de dançar e cantar as músicas da ção, davam novos ares ao universo social e amplia-
saudosa África, foram outras formas de resistência. vam as discussões. Conferências, comícios, jornais,
Na segunda metade do século XIX, o protesto revistas, clubes abolicionistas começaram a surgir.
de alguns setores da classe dominante se juntou ao Alguns abolicionistas incentivavam a fuga de escra-
dos negros e começou o processo de emancipação, vos e as rebeliões contra senhores, desorganizando
mesmo que de forma gradual e, por vezes, paliativa. o trabalho na lavoura. Eram ajudados por imigrantes
O fim do tráfico negreiro não foi decorrente ape- que doutrinavam os negros, mostrando-lhes a injus-
nas da pressão inglesa. Com o Bill Aberdeen, o pre- tiça da escravidão. Em todo o país organizavam-se,
ço do escravo tornou-se bastante elevado porque o então, movimentos contra a escravidão.
contrabando era arriscado. Muitos proprietários, que Neste clima, em 1885, foi promulgada a Lei Sa-
tinham dívidas com os traficantes (comerciantes), es- raiva-Cotegipe, também conhecida como Lei dos Se-
tavam em situação econômica difícil. xagenários. Concedia liberdade aos escravos com
A Guerra do Paraguai serviria também para tor- 60 anos ou mais e previa um aumento do Fundo de
nar ainda mais flagrantes essas limitações. Como po- Emancipação, destinado a promover a imigração. A
deria um país organizar um exército eficiente e bem partir de então, ocorreu uma cisão no grupo da aris-
treinado quando a maioria da população era escrava? tocracia rural cafeeira. Alguns representantes do
Além disso, o imperador D.Pedro II, pessoal- oeste paulista interessados em abolir a escravidão,
mente, se identificava com a campanha pela Aboli- apoiaram a lei. Os representantes da lavoura tradi-
ção, embora de forma cautelosa. O Brasil era o últi- cional, que utilizava ainda a mão de obra escrava ne-
mo país independente a manter a escravidão. gra, foram contra a concessão de liberdade sem in-
Grande parte dos intelectuais, poetas, e políticos denização.
liberais defendiam a causa abolicionista, como: Joa- A escravidão foi perdendo o apoio de todos os
quim Nabuco, Castro Alves, André Rebouças, Luís setores da sociedade. A intensificação das revoltas
Gama, José do Patrocínio. Também se engajavam de escravos amedrontava até os mais resistentes. Fi-
no discurso abolicionista elementos da classe média nalmente, em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel,
e estudantes universitários. Defendiam a necessida- que substituía seu pai no governo, assinou a Lei Áu-
de de serem criadas fórmulas de integração do negro rea, libertando incondicionalmente, cerca de 750.000
na sociedade e no mundo do trabalho. negros cativos, um décimo da população negra que
HISTÓRIA II

O grande obstáculo era os fazendeiros escravo- havia no país.


cratas, base de sustentação política da monarquia. A abolição não acarretou, como previam alguns,
Foram eles que fizeram com que o processo fosse uma crise para a economia brasileira. Na verdade
progressivo. Alegavam que não tinham condições de ela significou o fim de entraves à expansão do traba-
emancipar todos os negros e que estes não estavam lho assalariado e à imigração. Na verdade, os fazen-
preparados para uma vida em liberdade. Além disso, deiros do Vale do Paraíba passaram por dificuldades
queriam ser indenizados pelo governo. muito mais pelas técnicas conservadoras e tradicio-
Em 1850, a Lei Eusébio de Queirós (fim do tráfi- nais do que pelo fim de sua mão de obra.
co de escravos) abriu o caminho para o lento proces- Em termos políticos, o fim da escravidão abalou
so abolicionista. Mais cedo ou mais tarde, a escravi- a influência dos senhores de terras e de escravos e
dão acabaria uma vez que não haveria como renovar contribuiu decisivamente para o desgaste da monar-
a fonte que alimentava a escravidão. Em 1871, veio quia. O “tiro saiu pela culatra”: se o governo queria
a Lei do Ventre-Livre. Estabelecia que, a partir da- obter o apoio dos paulistas, acabou por perder a sim-
quela data, os filhos de escravos que nascessem no patia dos fluminenses. A queda da Monarquia seria o
53
próximo passo. A introdução da forma republicana de Tomando como exemplo a relação violenta entre
governo era apresentada pelo Partido Republicano, brancos e negros nos Estados Unidos e a miscigena-
pelos jornais e clubes republicanos como a introdu- ção que existe no Brasil, difundiu-se a ideia de que
ção da modernidade. Para os paulistas, a república a sociedade brasileira vive uma democracia racial. É
viria com o federalismo e este daria à região a chan- um mito. A realidade nos dá provas de que em vez
ce de avançar economicamente com a maior des- de democracia racial, o que temos é uma tolerância
centralização e o maior controle de recursos fiscais. racial. A existência do preconceito no Brasil pode ser
Os negros foram atirados no mundo dos brancos constatada até em nossas formas simples de expres-
sem nenhuma indenização, garantia ou assistência. são – os provérbios populares.
A grande maioria deslocou-se para as cidades, onde Sem apoio de seu Exército, criticado pela Igre-
os aguardavam o desemprego e uma vida margi- ja Católica, por ricos fazendeiros e por boa parte das
nal. O que deveria ser um desajustamento provisó- populações das cidades, onde vive a elite intelectual
rio transformou-se num desajustamento estrutural, e política do país, o Imperador estava sozinho e iso-
reforçando assim o preconceito racial. Não houve lado. O Império não tem mais forças para se susten-
a preocupação com a integração social do ex-es- tar. A República é inevitável. No dizer de Aristides
cravo e, mesmo que não houvesse uma intencio- Lobo, no Diário Popular, “o povo assistiu bestializa-
nalidade, a marginalização da população negra foi do, atônito, surpreso, sem conhecer o que significa-
acentuada. va”, a Proclamação da República.

Charges de Ângelo Agostini revelam o isolamento do imperador e sua queda.

EXERCÍCIOS SOBRE AMÉRICA INDEPENDENTE b) foram radicalmente distintas do ponto de


vista do desenvolvimento comercial.
1. (Fcmscsp 2023) Na medida em que a história c) reproduziram os mesmos ritmos de indus-
de cada país da América Latina corre parale- trialização ao longo da história.
lamente às demais, atravessando situações d) inseriram-se igualmente em relações inter-
bastante semelhantes — a colonização ibéri- nacionais de forças hegemônicas.
ca, a independência política, a formação dos e) constituíram blocos econômicos coesos de
HISTÓRIA II

Estados Nacionais, a preeminência inglesa resistência ao domínio estrangeiro.


e depois a norte-americana, para citar ape-
nas alguns marcos tradicionais — não há, do 2. (Upf 2023) A charge abaixo faz uma sátira a
meu ponto de vista, como fugir às compara- Napoleão Bonaparte. O título principal, Um
ções. homem pequeno com um grande apetite pa-
(PRADO, Maria Ligia Coelho. América Latina ra o jantar, é uma referência à baixa estatura
no século XIX: tramas, telas e textos, 2014.) do imperador e seu "apetite" por conquistas
territoriais demonstrado pelo expansionismo
As histórias dos países da América Latina in- praticado por ele. Os processos de Indepen-
dependente dência dos países da América Latina, incluin-
a) organizaram os mesmos regimes políticos do o Brasil, estão atrelados a essa expansão
no período posterior às independências. napoleônica pela Europa.

54
lamentarismo sob direção dos criollos.
b) O Brasil deu continuidade ao projeto de co-
lonização das terras indígenas, ao passo
que as ex-colônias da Espanha promove-
ram a reforma agrária para integrar esses
povos às novas repúblicas.
c) O Brasil teve um processo de independên-
cia sem guerras, pois ela foi fruto do acordo
entre um príncipe que queria ser rei e um rei
que estava cansado de governar sobre ter-
ritório tão extenso.
d) O Brasil manteve boa parte de sua popula-
ção sob o regime da escravidão e estabele-
ceu um regime monárquico.
Fonte da imagem: https://www.fafich.ufmg.br/
~luarnaut/c1806anonymus.jpg 4. (Fuvest 2023) “Eu quase fui um índio sacana,
como meu tio. (...) Desses índioque são ín-
De que forma esse “apetite” de Napoleão Bo- dio pela metade. Ou seja, qui nem índio, nem
naparte ajudou a deflagrar o processo de In- branco, nem cholo, nem negro, nem serrano,
dependência das colônias portuguesa e es- nem costeiro, nem camponês, nem equato-
panhola na América? riano, nem estrangeiro, nem nada. Índio sa-
a) Ao executar a expansão territorial, Napo- cana, claro. Índio qu’está à vista de toda gen-
leão Bonaparte impedia as regiões con- te e ninguém vê, qu’está mesminho nas ru-
quistadas de comercializar com os ingle- as todos os dias, caminhando pra lá pra cá,
ses. Assim, sem ter para quem vender buscando trabalho nas porta de gente rica,
seus produtos, a Inglaterra vai patrocinar de jardineiro, de mensageiro, cuidador de ca-
as independências latino-americanas pa- chorros, saloneiro, caseiro, criador de crian-
ra abrir novos mercados. Para isso, manda ças, de toda classe de trabalho. Chofer. O
sua marinha de guerra ajudar os “libertado- Equador está cheinho de índio sacana assim.
res” da América. Desse tipo d’índio que não é nada”.
b) Ao invadir a Rússia, Napoleão obriga a par- CARVALHO-NETO, Paulo de. Meu tio Atahualpa.
Rio de Janeiro: Salamandra, 1978.
ticipação de Portugal e Espanha naquela
aventura; com isso, as metrópoles ibéricas
A expressão “índio sacana”, presente no tex-
não têm condições de manter o controle so-
to, faz referência a:
bre suas colônias e estas deflagram o pro-
a) Uma parcela da população indígena carac-
cesso de independência.
terizada por sua autonomia e resistência às
c) Napoleão invade Portugal e Espanha; a cor-
formas pós-coloniais de dominação.
te portuguesa foge para o Brasil. As colô-
b) Um grupo social cuja inserção na sociedade
nias hispânicas aproveitam que o rei espa-
equatoriana foi complexa e limitada.
nhol Fernando VII foi aprisionado pelo impe-
c) Uma etnia que historicamente alcançou a
rador francês e deflagram o processo de in-
emancipação política e social por meio da
dependência.
assimilação da cultura europeia.
d) Não satisfeito com a expansão territorial na
d) Um conjunto de indivíduos de nacionalidade
Europa, Napoleão Bonaparte vai patrocinar
estrangeira cujos hábitos e costumes con-
o processo de independência na América,
trastavam com os da população local.
para poder exercer o domínio político e eco-
e) Um segmento que ganhou visibilidade por
nômico sobre os novos países que estavam
ocupar posições sociais de prestígio.
surgindo.
e) Napoleão incentiva as independências das
5. (Acafe 2022) Os processos de independên-
colônias luso-hispânicas na América porque
HISTÓRIA II

cias dos países da América foram marca-


contava com o auxílio desses novos países
dos por lutas sociais e projetos diversos. A
na luta contra os velhos países imperialistas
ideia de liberdade estava atrelada aos obje-
europeus.
tivos dos distintos atores envolvidos na luta
para desvencilhar-se dos colonizadores eu-
3. (Pucgo Medicina 2023) A independência polí-
ropeus. Considerando os processos de inde-
tica do Brasil, simbolizada pelo Grito do Ipi-
pendências do Brasil e dos países da Améri-
ranga, completou 200 anos em 2022.
ca Espanhola, ocorridos no século XIX, e os
grupos envolvidos é CORRETO afirmar.
Assinale a alternativa que aponta correta-
a) No contexto das lutas de independência na
mente diferenças entre a nação brasileira e
América do Sul, o nome de Simón Bolivar
as demais da América do Sul, que ficaram in-
se destaca por ter liderado os exércitos que
dependentes em épocas semelhantes:
combateram os espanhóis no Chile, Equa-
a) O Brasil seguiu o regime liberal das cortes
dor, Paraguai e Bolívia, defendendo a cria-
lusitanas, enquanto os países que lutaram
ção de países independentes entre si.
contra a coroa espanhola preferiram o par-
55
b) No caso do Brasil, o processo de indepen- nitiva. O novo Estado recebeu, no batismo, a
dência foi resultado de uma série de trans- denominação indígena de Haiti.
formações enfrentadas a partir do Período
Joanino e agravadas pela Revolução Libe- Dessalines se tornou o primeiro chefe de
ral do Porto que, entre outras exigências, Estado haitiano [...]. Começou a governar
desejava reestabelecer o monopólio comer- com as bençãos dos capitalistas ingleses e
cial entre Portugal e o Brasil. Neste contex- americanos [...].
to, a elite do Sudeste impulsionava a agita-
ção revolucionária no Brasil. Os ex-escravos, por sua vez, viram-se defi-
c) A partir do século XVIII, com a invasão nitivamente livres do trabalho compulsório
napoleônica na Espanha, os chapetones nas plantações de cana e nos engenhos de
se fortaleceram e passaram a controlar açúcar. [...] O Haiti saiu do mercado mundial
as juntas governativas dos vice-reinos da do açúcar e eliminou a possibilidade de pro-
América Espanhola, mesmo com as diver- gredir em direção a um nível econômico su-
gências existentes entre os membros des- perior. De colônia mais produtiva das Améri-
sa elite. cas passou a país independente pauperizado
d) Após seu processo de independência, o e fora de um intercâmbio favorável na econo-
Brasil torna-se a única monarquia da Amé- mia internacional.
rica Latina, tendo em vista que os demais (GORENDER, Jacob. “O épico e o trágico na
países independentes da América Espa- história do Haiti”. In: Estudos Avançados, nº 50, 2004.)
nhola adotaram a república como forma de
governo. O excerto apresenta um aspecto central da
independência do Haiti, em 1803-1804:
6. (Fuvest-Ete 2022) Há cerca de dois séculos, a) a construção, no pós-independência, do pri-
o Brasil e os países da América Espanho- meiro Estado indígena latino-americano.
la continental foram fundados como Esta- b) o apoio do governo francês de Napoleão
dos Nacionais. Seus processos de indepen- Bonaparte à luta autonomista dos escravi-
dência apresentam o seguinte ponto em co- zados do Haiti.
mum: c) a articulação entre o processo revolucioná-
a) Os exércitos revolucionários nasceram nas rio na França e a revolução negra do Haiti.
capitais coloniais ibero-americanas - o Rio d) o crescimento econômico acelerado do pa-
de Janeiro, por um lado, e as capitais de ís, alcançado após a obtenção da autono-
cada um dos Vice-Reinos espanhóis, por mia política.
outro. e) a manutenção, no pós-independência, da
b) As invasões napoleônicas a Espanha e Por- estrutura socioeconômica do período co-
tugal desencadearam transformações deci- lonial.
sivas para o surgimento dos projetos de in-
dependência. 8. (Puccamp Direito 2022) Os movimentos de in-
c) As Reformas Pombalinas, em Portugal, e as dependência nas Américas foram processos
Reformas Bourbônicas, na Espanha, leva- a) tumultuados, causados unicamente por fa-
ram as populações ameríndias a iniciar as tores externos às Américas, como o fim do
revoluções de independência. Antigo Regime, as guerras europeias e a di-
d) Os movimentos que alcançaram a eman- ficuldade enfrentada pela Espanha em man-
cipação política das colônias ibéricas na ter seu império colonial.
América foram liderados por defensores b) complexos, nos quais é comum notarmos
do princípio iluminista da soberania po- uma divisão no seio das elites criollas e
pular. na própria população das colônias, entre
e) Os processos de emancipação política se emancipacionistas e realistas.
desenrolaram com base em alianças políti- c) violentos, permeados por guerras que opu-
cas e militares entre as colônias luso e his- seram colonos e metropolitanos, a partir da
união das elites hispano-americanas a Na-
HISTÓRIA II

pano-americanas.
poleão Bonaparte, contra a Coroa Espa-
7. (Albert Einstein - Medicina 2022) Enquanto, nhola.
em Paris, a guilhotina decepava as cabeças d) protagonizados por enfrentamentos entre
dos jacobinos, em São Domingos [Jean-Jac- criollos e peninsulares, sem a participação
ques] Dessalines e seus companheiros con- popular, a não ser em algumas circunstân-
tinuavam a defender, de armas na mão, o ide- cias em que soldados eram recrutados com-
al jacobino da liberdade e igualdade de todos pulsoriamente em troca de liberdade.
os homens. [...] e) prolongados, uma vez que as forças espa-
nholas, com apoio militar da França, no con-
A 29 de novembro de 1803, os revolucioná- texto das Reformas Bourbônicas, reprimi-
rios negros divulgaram uma declaração pre- ram com eficácia os movimentos indepen-
liminar de Independência. A 31 de dezembro, dentistas e decretaram o livre comércio pa-
foi lida a Declaração de Independência defi- ra aplacar as insatisfações nas colônias.

56
9. (Upe-ssa 2 2022) Observe a imagem a seguir: b) criação de dois Estados com base no princí-
pio da soberania compartilhada.
c) fragmentação da unidade colonial repartin-
do o território com outras potências.
d) formação de um Estado nacional como con-
sequência da insurreição de escravos.
e) unificação de dois Estados criando a primei-
ra experiência de dois governos no mesmo
território.

10. (Unesp 2021) O processo de independência


na América espanhola, ocorrido nas primei-
ras décadas do século XIX,
a) contou com participação ativa e direta dos
Estados Unidos, que buscavam ampliar sua
zona de influência política na América.
b) envolveu projetos políticos e setores sociais
variados, que se confrontaram no momento
de constituição dos novos Estados.
c) manteve a unidade territorial das áreas an-
Fonte: Gravura anônima, por volta de 1797. Coll.
tes controladas pela Espanha, e os novos
Archives départementales de Ia Gironde.
Acesso em: 15 jul. 2021. Estados organizaram-se numa federação.
d) resultou no afastamento definitivo dos no-
O evento nela retratado é de uma ex-colônia vos Estados em relação ao antigo coloniza-
francesa na América. Seu processo de eman- dor e na divisão das grandes propriedades
cipação política teve como principal caracte- rurais entre os camponeses sem terra.
rística a e) derivou da iniciativa das burguesias locais,
a) dissolução dos governos autônomos reto- que defendiam a igualdade social como base
mando a dependência colonial. da organização social dos novos Estados.

GABARITO
1. D fraquecida fortaleceu a elite criolla liderar o
O texto da historiadora Maria Ligia Coelho processo de independência na América Es-
Prado remete a comparações no processo panhola.
de independência da América, sobretudo a
América Latina colonizada pelos ibéricos. A 3. D
independência ocorreu no contexto da tran- No contexto de independência da América
sição do capitalismo comercial-mercantil pa- Latina, final do século XVIII e início do XIX,
ra o capitalismo liberal-industrial, ou seja, ocorreram semelhanças e diferenças entre
forças hegemônicas internacionais influen- a América Portuguesa e a América Espa-
ciaram na independência da América Lati- nhola. Entre as semelhanças podemos ci-
na. Enquanto a América espanhola se frag- tar o impacto da expansão Napoleônica na
mentou em repúblicas, a América portugue- Europa gerando um enfraquecimento da Pe-
sa manteve a unidade territorial e adotou nínsula Ibérica, influência das ideias Ilumi-
uma monarquia. nistas, da Revolução Industrial, etc. As dife-
renças mais marcantes são: a América Por-
2. C tuguesa manteve a unidade territorial, ado-
HISTÓRIA II

A expansão Napoleônica enfraqueceu a Pe- tou uma monarquia e manteve a escravidão


nínsula Ibérica contribuindo para o proces- enquanto a América Espanhola se fragmen-
so de independência da América Latina. Em tou em diversas Repúblicas.
1806, o imperador da França, Napoleão, de-
cretou o Bloqueio Continental, um boicote 4. B
econômico contra a Inglaterra. O documen- O termo faz referência à perda de identidade
to proibia a Europa de comercializar com e, consequentemente, de direitos por parte
a Inglaterra, a proposta era enfraquecer a dos indígenas na América Espanhola após
Grã-Bretanha e fortalecer a França. Portu- os processos de Independência. Como a eli-
gal não aderiu ao Bloqueio Continental, daí te branca – criollos – comandou as Indepen-
a fuga da corte portuguesa para o Brasil em dências, grupos sociais foram sistematica-
1808. O Brasil deu o primeiro passo rumo à mente excluídos, tendo seus direitos cerce-
independência. Napoleão tirou o rei da Es- ados e suas identidades apagadas. Negros
panha, Fernando VII, colocando José Bo- e, principalmente, indígenas passaram por
naparte, irmão de Napoleão. A Espanha en- esse processo.
57
5. B a país independente muito pobre e fora do
A questão faz referência ao processo de in- comércio mundial.
dependência da América Latina. Correção a
partir das incorretas. Alternativa [A] está in- 8. B
correta. Símon Bolívar defendeu o Paname- A questão aponta para o processo de in-
ricanismo, a integração da América espa- dependência na América. Correção a partir
nhola em uma única nação adotando uma das incorretas. Alternativa [A] está incorre-
república. Alternativa [C] está incorreta. O ta. Não foram apenas fatores externos, tam-
Império Napoleônico enfraqueceu a Penín- bém teve fatores internos considerando que
sula Ibérica contribuindo para o processo de a elite criolla, apoiada nas ideias iluminis-
independência da América Latina. No caso tas, liderou o processo de independência na
da América Espanhola, ocorreu o enfraque- América Espanhola. Alternativa [C] está in-
cimento dos chapetones, os criollos lidera- correta. Não ocorreu uma união entre Na-
ram o processo de independência. A alter- poleão e as elites hispano-americanas. Al-
nativa [D] está incorreta. Ainda que tenha ternativa [D] está incorreta. Foi muito impor-
durado pouco, o México também adotou tante a participação dos povos nativos, mes-
uma monarquia. tiços e negros no processo de independên-
cia da América Espanhola, lutaram ao la-
6. B do da elite criolla contra chapetones e a co-
O processo de independência da América roa espanhola. Alternativa [E] está incorreta.
Latina (América portuguesa e América Es- As forças espanholas não receberam apoio
panhola) está inserido no contexto da Era militar da França e também não reprimiram
Napoleônica, 1799-1815. A expansão de com eficácia os movimentos pela indepen-
Napoleão pela Europa enfraqueceu muito a dência.
Península Ibérica contribuindo para a ruptu-
ra entre colonizados e colonizadores. O Blo- 9. D
queio Continental de Napoleão contra a In- O Haiti foi colonizado pela França. Duran-
glaterra contribuiu para a vinda da corte por- te a Revolução Francesa, 1789-1799, ocor-
tuguesa para o Brasil em 1808 enquanto as reu o processo de libertação política do Hai-
tropas de Napoleão invadiram a Espanha e ti sob a liderança de pessoas negras como
tiraram o rei Fernando VII colocando José Toissaint Loverture e Jacques Dessalines.
Bonaparte, irmão de Napoleão. No contexto da independência, muitos ho-
mens brancos foram vítimas de violência. A
7. C insurreição dos escravos no Haiti influenciou
O excerto do historiador brasileiro Jacob Go- a resistência negra na América provocando
render aponta para a relação entre a Revo- o haitianismo, isto é, o medo da elite branca
lução Francesa, 1789-1799 com o proces- diante da participação dos negros.
so de independência do Haiti. Os ideais ilu-
ministas da Revolução Francesa (liberdade, 10. B
igualdade) ecoavam também no Haiti, então O processo de Independência da América
colonizado pela França. A diferença é que Espanhola foi marcado por expressiva par-
na França os líderes da revolução utiliza- ticipação popular, marcadamente de indí-
vam ideias iluministas para destruir o Antigo genas e negros. Mas os criollos, uma es-
Regime (Absolutismo, mercantilismo e aca- pécie de elite nascida na América, também
bar com os privilégios), os líderes do Haiti, participaram do processo, dando a ele um
também munidos do ideário da Ilustração), caráter heterogêneo. Além disso, o tama-
a proposta era destruir o Sistema Colonial. nho do território, a divisão do mesmo em
O processo de independência do Haiti foi li- Vice-Reinos e Capitanias e a existência,
derado pelos negros que radicalizaram, utili- entre as lideranças, de ideais políticos di-
zaram a violência contra homens brancos o versos (como a oposição entre unidade e
HISTÓRIA II

que assustou a elite branca da América. Tal separação territorial) acabaram por gerar
fato provocou um isolamento econômico do uma fragmentação do movimento a partir
Haiti, que de colônia mais produtiva, passou da Independência.

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58
EXERCÍCIOS SOBRE BRASIL NO SÉCULO XIX nuidade do comércio lícito, com os Estados
Unidos e a Europa, assim como a importa-
1. (Fcmscsp 2023) Observe as imagens do qua- ção de escravos africanos. O governo bra-
dro Mata reduzida a carvão, pintado em 1830 sileiro permaneceu, porém, intimamente li-
por Félix-Émile Taunay. gado ao “comércio infame” que, apesar da
pressão britânica, só se resolveu em 1850.
Frutos de muitos acordos, a originalidade e
a garantia de uma emancipação monárqui-
ca, em pleno contexto americano e republi-
cano, não eram tarefas fáceis, nem interna,
nem externamente.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador.
Companhia das Letras, 1999, p. 38.

Considerando o contexto histórico de inde-


pendências no continente americano, é cor-
reto afirmar que o Brasil foi
a) o único país da América a deslegitimar o
comércio infame de escravos, o que garan-
tiu a permanência de um regime monárqui-
co, ao passo que, nesse mesmo contexto,
nações da América hispânica adotaram re-
gimes republicanos com ampla participa-
ção popular.
b) um dos países independentes a estabele-
cer um regime republicano de condenação
ao sistema escravagista, ao passo que,
nesse mesmo contexto, nações da Amé-
rica hispânica mesclaram sistemas repu-
blicanos com monarquias parlamentares,
amplamente sustentados na escravidão in-
dígena.
c) o único país independente a permanecer
sobre um regime monárquico e diretamente
(https://encicIopedia.itaucultural.org.br) vinculado ao sistema escravagista, ao pas-
so que, nesse mesmo contexto, nações da
Félix-Émile Taunay chegou ao Brasil em América hispânica adotaram regimes repu-
1816 com a Missão Artística Francesa. No blicanos.
quadro e no seu detalhe seguinte, o pintor d) um dos países independentes a estabele-
representa cer um regime republicano e parlamenta-
a) a extração de matérias-primas para o abas- rista de negação ao sistema escravagis-
tecimento de indústrias brasileiras. ta, ao passo que, nesse mesmo contex-
b) a força de um meio ambiente indomável ao to, nações da América hispânica mescla-
esforço humano. ram sistemas republicanos e monarquias
c) a baixa produtividade proporcionada pelo absolutistas.
emprego do trabalho compulsório. e) o único país independente a permanecer
HISTÓRIA II

d) a exploração do trabalho escravo em uma uma monarquia absolutista, que aboliu a


floresta tropical. escravidão indígena e parte da africana,
e) a expansão da urbanização sobre o espaço ao passo que, nesse mesmo contexto, na-
natural preservado. ções da América hispânica mesclaram re-
gimes republicanos e monarquias parla-
2. (Unisc 2023) No dia 7 de setembro de 2022, mentares.
rememorou-se no país o bicentenário da in-
dependência brasileira. Sobre esse episó- 3. (Unicamp 2023) Observe abaixo duas pintu-
dio, Lilia Moritz Schwarcz considerou que ras históricas oitocentistas que se tornaram
a independência do Brasil foi obtida valen- cânones visuais da História do Brasil, e que
do-se de compromissos intercontinentais, são acionadas, por exemplo, nas comemora-
uma vez que era preciso garantir a conti- ções do Bicentenário da Independência.

59
baixa taxa de nascimento – levou a uma ta-
xa de crescimento negativo [...].
(SCHWARCZ, Lilia M. e STARLING, Heloisa M.
Brasil: uma biografia, 2018.)

A variação demográfica indicada no excerto


provocou
a) a proibição das punições físicas e a melhoria
no tratamento destinado aos escravizados.
b) o surgimento de leis destinadas à redução do
uso de escravizados nas lavouras de cana.
c) o apoio da Coroa portuguesa ao apresa-
mento e à escravização de indígenas.
d) a necessidade constante de importação de
mão de obra de africanos escravizados.
(Primeira Missa do Brasil, Victor Meirelles, 1861.)
e) o estímulo à imigração e a transição pa-
ra o trabalho assalariado nas cidades e no
campo.

5. (Unisc 2022) “A escravidão mercantil africana


do período moderno é um sistema que se en-
raizou cruelmente na história brasileira, e que
guarda marcas profundas no nosso cotidiano.
O país não só foi o último a abolir essa forma
perversa de mão de obra nas Américas, como
aquele que mais recebeu africanos saídos de
seu continente de maneira compulsória, além
de ter contado com escravos em todo o ter-
(Independência ou Morte, Pedro Américo, 1888.) ritório. Com as primeiras levas chegando em
1550 e as últimas décadas de 1860, já que
A partir de seus conhecimentos, assinale a existem registros de envio ilegal de africanos
alternativa correta a respeito da produção do entre 1858 e 1862, estima-se que milhões de
passado histórico. africanos tenham desembarcado no Brasil.”
a) As duas telas encenam dois fatos históricos SCHWARCZ, L. M.; GOMES, F. S. (Orgs). Dicionário
fundamentais da memória nacional: o des- da escravidão da liberdade: 50 textos críticos. 1. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p.21.
cobrimento do Brasil e a fundação da nação
independente. Inseridas no panteão históri-
co nacional, elas valorizam a história global Sobre a escravidão africana no Brasil, todas
e a Europa. as alternativas estão corretas, exceto:
b) Prática do ideário nacionalista oitocentista, a) Os castigos físicos exemplares, entre os
a celebração, na pintura histórica, dos fa- quais a imobilização em troncos ou os açoi-
tos nacionais estava associada à produção tes em pelourinhos, faziam parte do cotidia-
– do ponto de vista dos trabalhadores re- no da escravidão no Brasil.
tratados na tela – de uma visão de passa- b) As mulheres africanas ou afro-brasileiras
do da nação. atuaram no interior das casas-grandes e
c) Celebrar eventos do passado foi estraté- nos sobrados urbanos desde a implantação
gico para as identidades coloniais criadas da escravidão no Brasil.
no século XIX. Assim, pertencer a uma na- c) A maior parte dos escravizados afro-brasi-
ção significava herdar um passado de va- leiros no período imperial residia nos cen-
lorização da diversidade étnica e igualda- tros urbanos e trabalhava como emprega-
de social. dos domésticos nas moradias da burguesia
HISTÓRIA II

d) Estas pinturas inseriam-se em políticas de industrial.


memória que construíam e traduziam va- d) Os afro-brasileiros escravizados desenvol-
lores fundamentais das identidades nacio- veram diversas formas de resistência à es-
nais. Elas ensinavam sobre as origens da cravidão no Brasil, entre as quais a fuga e a
nação e estabeleciam referências identitá- formação de quilombos.
rias para os cidadãos. e) Os saberes, as cosmovisões e práticas cul-
turais trazidos pelos africanos ao Brasil fo-
4. (Unesp 2022) Real alicerce da sociedade, os ram muito diversos e experimentaram con-
escravos chegaram a constituir, em regiões tínuas transformações até se organizarem
como o Recôncavo, na Bahia, mais de 75% nas religiões “afro-brasileiras”. Como carac-
da população. Desde o século XVI e até a terísticas regionais, destacam-se o candom-
extinção do tráfico, em 1850, o regime de- blé, na Bahia, a macumba, no Rio de Janei-
mográfico adverso verificado entre os cati- ro, o xângo, em Pernambuco, e o batuque,
vos – em razão das mortes prematuras e da no Rio Grande do Sul.
60
6. (Uece 2022) A independência do Brasil, ocor- uma tábua de salvação, e o Estado monárqui-
rida há quase 200 anos, trouxe poucas mu- co central que eles construíram os trouxe à
danças sociais para o povo brasileiro naque- terra firme. Os vínculos que se seguiram en-
le momento. Atente para o que se diz a esse tre as várias regiões levaram a um sentimen-
respeito e assinale a afirmação verdadeira. to de solidariedade. O Estado, portanto, fo-
a) Apesar de garantir acesso ao voto univer- mentou a emergência de uma nação única: o
sal, a constituição do império exigia com- Brasil.
provação de uma renda alta para que o GRAHAM, R. Construindo uma nação no Brasil do
cidadão, sobretudo o negro, pudesse ser século XIX: visões novas e antigas sobre classe, cultura
e Estado. Diálogos (UEM), n. 1, 2001 (adaptado).
candidato.
b) A independência do Brasil proporcionou
uma maior autonomia, pois somente em A aliança entre as elites regionais e o Estado
1820 o príncipe regente D. Pedro assumiu o monárquico resultou na
governo do país, dias após D. João VI retor- a) predominância do Partido Conservador.
nar a Portugal. b) consolidação dos ideais republicanos.
c) Com a independência, apesar do estabele- c) promoção da identidade brasileira.
cimento de uma legislação nacional, a es- d) elaboração das leis abolicionistas.
cravidão foi mantida, o que prolongou a du- e) eclosão de revoltas regenciais.
ração dessa causa da desigualdade social
brasileira. 9. (Fgv 2022) Beneficiados pela aquisição de
d) Mesmo com o fim do tráfico negreiro, dois capacidade tributária, legislativa e coercitiva,
anos após a independência, e com a assi- os grupos regionais acabaram por aceitar,
natura da Lei Áurea no ano seguinte, os ex- em certo grau, os novos padrões de compor-
-escravos não foram plenamente integrados tamento político impostos pelo Estado. Fos-
à sociedade brasileira. se para atender a demandas específicas da
região como, por exemplo, a necessidade de
7. (Unesp 2022) O luxo e a corrupção nasceram estradas, fosse para satisfazer anseios gene-
entre nós antes da civilização e da indústria. ralizados, [...] os grupos regionais acabaram
E qual será a causa principal de um fenôme- envolvendo-se de fato na construção do Es-
no tão espantoso? A escravidão, senhores, a tado nacional.
escravidão. Porque o homem que conta com (DOLHNIKOFF, Miriam. “Elites regionais e a construção do
Estado nacional”. In: JANCSÓ, István (org.). Brasil:
os trabalhos diários de seus escravos vive na formação do Estado e da Nação, 2003.)
indolência, e a indolência traz todos os vícios
após si. O texto menciona as relações entre os gru-
(SILVA, José Bonifácio de Andrada e, 1825. pos sociais das províncias com o poder mo-
Apud: SANTOS, Ynaê Lopes dos. História da África
e do Brasil afrodescendente, 2017. Adaptado.)
nárquico brasileiro ao longo do século XIX,
acentuando
A manifestação de uma das principais lide- a) a distribuição conveniente de poderes entre
ranças do país, logo após a independência membros de uma elite escravista.
política, revela a b) a natureza opressiva do poder central sobre
a) justificativa para a adoção, no Primeiro Rei- os políticos provinciais.
nado, de políticas agressivas de estímulo à c) a manutenção do equilíbrio político devido
imigração. ao uso comedido do poder moderador.
b) disposição, majoritária nos setores que par- d) a predominância do direito costumeiro nos
ticiparam do processo emancipacionista, de vínculos políticos interprovinciais.
eliminar gradualmente a escravidão. e) a extensão às províncias do direito de consti-
c) campanha abolicionista sistemática, inicia- tuição de governos autônomos.
da ainda no período colonial, dos cafeiculto-
res paulistas. 10. (Unesp 2022) A Guerra do Paraguai ou da Trí-
d) rejeição, de clara influência liberal-iluminis- plice Aliança expôs
HISTÓRIA II

ta, da ideia de que os homens são desiguais a) as diferenças estruturais e institucionais en-
por natureza. tre as colonizações portuguesa e espanhola
e) crítica, voltada aos setores social e politica- na América.
mente hegemônicos do Brasil, à dependên- b) a hegemonia da presença imperialista bri-
cia do trabalho obrigatório. tânica e norte-americana na América do
Sul.
8. (Enem PPL 2022) Quando as elites de cada c) as tensões regionais e disputas comerciais
região do país procuraram estabelecer sua e políticas entre os Estados da região.
autonomia em relação ao governo central, d) as ideologias opostas e as distintas postu-
elas se confrontaram com o espectro de uma ras diplomáticas adotadas pelos novos Es-
anarquia social. Em uma sociedade escravo- tados americanos.
crata, a possibilidade de tal desordem amea- e) a insistência política e militar espanhola pa-
çava tudo. Líderes locais apoderaram-se da ra preservar suas últimas colônias america-
legitimidade que a Monarquia oferecia como nas.

61
11. (Ufjf-pism 2 2022) Leia os textos. 12. (Unioeste 2022) Com a Lei Eusébio de Quei-
rós, datada de 1850, que estabeleceu medi-
das para repressão do tráfico escravo no Im-
I. “As leis emancipacionistas que surgiram
pério, muitas mudanças aconteceram no ce-
a partir da década de 1850 colocavam em ques- nário político e econômico brasileiro. Dentre
tão o fim definitivo do trabalho escravo e, con- elas, está o desenvolvimento e avanço da
sequentemente, a necessidade de condicionar es- política de imigração e colonização estran-
te fim à permanência do poder senhorial por par- geira, especialmente de europeus. Neste es-
te dos patrões ou proprietários. Desta maneira, copo, também se apresenta a promulgação
alterações das relações de trabalho que rompes- da Lei de Terras de 1850 e seu Regulamento
sem com o que se condicionava como uma rela- de 1854. Todos estes acontecimentos estão
ção paternalista gerava desconforto e insatisfação articulados com processos que ocorriam no
por parte daqueles que viam na escravidão a for- Brasil e no mundo, e os debates sobre al-
ma ideal de relações de trabalho”. gumas destas questões remontam a épo-
PEÇANHA, Natalia Batista. O Serviço doméstico cas históricas anteriores à própria indepen-
e o mundo do trabalho carioca: uma análise das dência do Brasil. No entanto, a constituição
relações de trabalho de criadas nacionais e
outorgada em 1824 silenciou alguns des-
estrangeiras na passagem do século XIX para o XX.
Revista Maracanan, n. 21, p. 11-28, maio/ago. 2019. ses problemas, uma vez que, entre a data de
sua promulgação e 1850, não existiu uma le-
gislação específica a regular o processo de
II. “A experiência com famílias cativas [de apropriação territorial no Brasil. Dessa for-
escravizados] provavelmente serviu de referên- ma e diante dessas considerações é INCOR-
cia aos senhores para pautar suas relações com RETO afirmar.
a) A política de colonização desenvolvida pe-
os novos trabalhadores [imigrantes]. Deve ter ha-
lo Império, a partir de 1850, tinha como foco
vido muitos patrões de colonos [imigrantes] que
a ocupação de territórios considerados des-
pensavam como aquele fazendeiro, empenhado
povoados, mas, também, tinha por objetivo
em ‘casar esse negro [...] para [ele] assentar a vi- garantir mão de obra para atuar em subs-
da e tomar juízo [...] [O senhor considera] os co- tituição ao trabalho escravizado, uma vez
lonos dependentes e servos, ao invés de trabalha- que a Lei Eusébio de Queirós proibiu o tráfi-
dores livres”. co de escravos para o Brasil.
Adaptado de SLENES, Robert. Senhores e b) A Lei de Terras de 1850 beneficiou direta-
subalternos no Oeste Paulista. In: História da vida
privada no Brasil, vol. 2. São Paulo: Companhia
mente os pequenos posseiros e a agricul-
das Letras, p. 287. tura de subsistência, especialmente aque-
la voltada à alimentação, reconhecendo,
na prática, os direitos de posse e proprie-
Sobre as condições de trabalho dos imigran- dade das populações camponesas brasi-
tes chegados ao Brasil na virada do século leiras.
XIX para o XX, é CORRETO afirmar que: c) O processo de estabelecimento dos imi-
a) A maior parte dos imigrantes recém-chega- grantes nas regiões coloniais foi marcado
dos ao Brasil não atuaram de forma direta por diferentes conflitos, os quais envolviam
na produção cafeeira junto aos africanos es- motivos diversos, desde o encontro conflitu-
cravizados e produziram bens de consumo oso com as populações nativas que já habi-
duráveis na industrialização. tavam as regiões onde os núcleos coloniais
b) Os imigrantes europeus no Brasil recebiam foram formados, até a incapacidade de o
tratamento igual aos escravizados, o que fa- Estado cumprir com as promessas feitas na
voreceu um acúmulo de riquezas que per- Europa para garantir a atração de imigran-
mitiu o retorno rápido dos imigrantes ao pa- tes ao Brasil.
ís de origem. d) A Lei de Terras de 1850, ao estabelecer no
c) A principal motivação para imigrar foi o au- seu segundo parágrafo a compra como a
HISTÓRIA II

mento da oferta de empregos quando da única forma de acesso à terra, buscava defi-
Segunda Revolução Industrial na Europa, o nir novos contornos, mais precisos, ao mer-
que favoreceu a saída do continente rumo à cado de terras no Brasil.
América. e) Mesmo que a Lei de Terras, em seu âma-
d) A imigração europeia contribuiu para a difu- go, tenha beneficiado os grandes senho-
são da ideia de democracia racial no Brasil res de terras, isso não significou que as
e foi um movimento que ocorreu indepen- populações camponesas e de pequenos
dente das boas condições de vida e de tra- posseiros tenham ficado imóveis em re-
balho na Europa da Segunda Revolução In- lação aos preceitos dessa legislação. As-
dustrial. sim, no ir e vir dos processos, os homens
e) Apesar da chegada dos imigrantes euro- livres pobres, como demonstra a historio-
peus, isso não significou um rompimento grafia mais recente, a partir de suas resis-
com formas de trabalho compulsório e a cor tências, também souberam se apropriar
da pele figurou como baliza para a explora- de alguns dispositivos desta Lei em bene-
ção do trabalho. fício próprio.
62
13. (Integrado - Medicina 2022) A Lei Áurea abo- criminalização da prática do racismo e pela
lia a escravidão, mas não seu legado. Trezen- realização de ações afirmativas.
tos anos de opressão não se eliminam com c) O fim da escravidão no Brasil deve ser
uma penada. A abolição foi apenas o primei- compreendido como fruto de um proces-
ro passo na direção da emancipação do ne- so lento e complexo, envolvendo lideran-
gro. Nem por isso deixou de ser uma con- ças políticas, civis, além dos próprios es-
quista, se bem que de efeito bem limitado. cravizados, não estando limitado a promul-
COSTA, Emília Viotti da. A abolição. São Paulo: gação da Lei Áurea pela princesa Isabel,
Editora UNESP, 2010. p. 12 em 1888.
d) A expansão da lavoura canavieira no nor-
Com base no fragmento e sobre o fim da deste brasileiro e a participação do Brasil
escravidão no Brasil, assinale a alternativa na Guerra do Paraguai, podem ser aponta-
correta. dos como dois importantes motivos que jus-
a) A extinção do trabalho escravo no Brasil tificam a resistência da elite agrícola e do
acentuou o descontentamento dos ingleses Exército brasileiro, em aderir ao movimento
com o governo de D. Pedro II, pois a Ingla- abolicionista.
terra era a principal fornecedora de africa- e) Uma das grandes vitórias dos proprietários
nos escravizados para os cafeicultores pau- de escravizados foi a obtenção do direito à
listas. indenização após a promulgação de lei que
b) Apesar de estar associada, exclusivamen- aboliu a escravidão no país, o que demons-
te, ao fim da escravidão no território brasilei- tra o alinhamento total do governo brasileiro
ro, a Lei Áurea também foi responsável pela com os interesses dos escravocratas.

14. (Fuvest-Ete 2022) A tabela a seguir, produzida a partir do Primeiro Censo Geral do Brasil, de 1872,
apresenta dados referentes às principais atividades profissionais da época.

Tabela 1: Quadro de Ocupações (Brasil, 1872)

Profissões Homens % Mulheres % Total %

Sem Profissão 1.984.053 20,44 2.188.061 22,55 4.172.114 42,99


Lavradores 2.131.830 21,97 905.636 9,33 3.037.466 31,30
Serviço Doméstico 196.784 2,03 848.831 8,75 1.045.615 10,77
Costureiras - - 506.450 5,22 506.450 5,22
Criados/Jornaieiros 274.217 2,83 135.455 1,40 409.672 4,22
Criadores 147.443 1,52 58.689 0,60 206.132 2,12
Operários em Tecidos 6.313 0,07 133.029 1,37 139.342 1,44
Comerc./Guarda-Livro/
93.577 0,96 8.556 0,09 102.133 1,05
Caixeiros
Artistas 36.906 0,38 4.297 0,04 41.203 0,42
Capitalistas/Proprietários 23.140 0,24 8.723 0,09 31.863 0,33
Operários em Couros/
5.612 0,06 15 0,00 5.627 0,06
Peles
HISTÓRIA II

Prof./Homens de Letras 1.307 0,01 2.218 0,02 3.525 0,04


Operários em Chapéus 1.711 0,02 219 0,00 1.930 0,02
Parteiros 50 0,00 1.147 0,01 1.197 0,01
Operários em Tinturaria 422 0,00 127 0,00 549 0,01
Religiosos (regulares) 107 0,00 286 0,00 393 0,00
Total 4.903.472 50,52 4.801.739 49,48 9.705.211 100,00
Recenseamento da população do Império do Brazil, 1872, Apud: SAMARA, Eni de Mesquita. O Que Mudou
na Família Brasileira? Da Colônia à Atualidade. Psicologia USP [online], 2002,
vol. 13, no. 2 [citado 2008-08-14], p. 27-48.

63
Com base nesses dados e no contexto eco- rente da que existia em meados da década de
nômico brasileiro da segunda metade do sé- 1990. A nova compreensão sobre esse con-
culo XIX, é correto afirmar: flito decorreu de estudos recentes realiza-
a) A participação feminina no mercado de tra- dos por historiadores paraguaios e brasilei-
balho era inexpressiva, já que havia um nú- ros que tiveram acesso a uma ampla docu-
mero maior de mulheres sem profissão do mentação, até então não analisada.
que a soma do número de mulheres em to- Disponível em: https://educador.brasilescola.uol.com.br.
das as demais ocupações. Acesso em: 27 jun. 2021 (adaptado).
b) A indústria têxtil, diferente do que acontecia
nos setores de couro, chapéus e tinturaria, No contexto descrito, uma nova compreen-
empregava de modo bastante significativo a são sobre o conflito se encontra no(a)
mão de obra feminina. a) resultado do choque dos interesses eco-
c) A quantidade de mão de obra masculina nômicos e políticos das nações da bacia
empregada na indústria superava de forma Platina.
expressiva a mobilizada pela agricultura. b) imperialismo brasileiro, que tomou metade
d) O predomínio de mulheres em diversas ca- do território paraguaio no início do século
tegorias é um reflexo da proporção da popu- XIX.
lação feminina representada na tabela, bem c) busca megalomaníaca de Solano López em
maior que a masculina. criar o “Grande Paraguai”.
e) O maior número de homens que de mulhe- d) fato de o Paraguai ter adotado um modelo
res na produção de tecidos, couros/peles e de desenvolvimento autóctone.
chapéus é indício da falta de aptidão da po- e) confirmação de que a Guerra do Paraguai
pulação feminina da época para o trabalho foi causada pelo imperialismo britânico.
nas manufaturas.
17. (Enem 2022) Os caixeiros do comércio a reta-
15. (Fgv 2022) O único inocente é aquele que não lho do Rio de Janeiro estiveram entre as pri-
tem imputação, e que fez apenas uma traves- meiras categorias de trabalhadores a se or-
sura de criança, levado pelo instinto da ami- ganizar em associações e a exigir a interven-
zade. Eu o corrijo, fazendo do autômato um ção dos poderes públicos na mediação de
homem; restituo-o à sociedade, porém expul- suas lutas por direitos. Na década de 1880,
so-o do seio de minha família e fecho-lhe pa- os caixeiros participaram da arena política e
ra sempre a porta de minha casa. (a Pedro) ganharam as ruas com vários outros, como
Toma: é a tua carta de liberdade, ela será a os republicanos e os abolicionistas.
tua punição de hoje em diante, porque as tu- POPINIGIS, F. “Todas as liberdades são irmãs”:
as faltas recairão unicamente sobre ti. [...] Li- os caixeiros e as lutas dos trabalhadores por direitos
entre o Império e a República. Estudos Históricos, n. 59,
vre, sentirás a necessidade do trabalho ho- set-dez. 2018 (adaptado)
nesto e apreciará os nobres sentimentos que
hoje não compreendes. A atuação dos trabalhadores mencionados
(ALENCAR, José de. O demônio familiar, 2003.) no texto representou, na capital do Império,
um momento de
O Demônio familiar é uma comédia de costu- a) manutenção das regras patronais.
mes escrita em 1857. No enredo, as relações b) desprendimento das ideias liberais.
entre famílias brancas senhoriais do Rio de c) fortalecimento dos contratos laborais.
Janeiro são conturbadas pelas astúcias e in- d) consolidação das estruturas sindicais.
trigas de Pedro, “moleque escravo” do per- e) contestação dos princípios monárquicos.
sonagem Eduardo. A comédia encerra-se
com as palavras de Eduardo sobre os malefí- 18. (Ufjf-pism 2 2022) Leia os fragmentos de dois
cios sociais da escravidão e sobre a forma de sambas-enredo vencedores dos respectivos
solucioná-los, com carnavais no final dos anos 1980 no Rio de
a) a adoção de leis abolicionistas sem indeni- Janeiro.
HISTÓRIA II

zações dos proprietários de escravos.


b) a aculturação da população negra por meio
de políticas estatais de alfabetização. I. “Valeu Zumbi
c) a manutenção exclusiva do trabalho escra- O grito forte dos Palmares
vo nas empresas de produção agrícola. Que correu terras, céus e mares Influenciando
d) a miscigenação de escravos alforriados a abolição”.
com a população de origem europeia. (Vila Isabel, 1988)
e) a moralização da mão de obra por meio da
disciplina do trabalho assalariado. II. “Pra Isabel, a heroína
Que assinou a lei divina
16. (Unichristus - Medicina 2022) A Guerra do Pa- Negro dançou, comemorou
raguai é um dos assuntos de maior complexi- O fim da sina”.
dade e gerou grande polêmica dentro da his-
(Imperatriz Leopoldinense, 1989)
toriografia. Atualmente, a compreensão que
se tem dessa guerra é completamente dife-
64
Sobre o tema é CORRETO afirmar que: 20. (Pucpr Medicina 2022) Leia o texto da cha-
a) Os sambas apresentados são exemplos de mada Lei de Terras e assinale a alternativa
que há́ uma disputa de memórias pelo pro- que a relaciona CORRETAMENTE à estrutura
tagonismo do processo abolicionista no Bra- social do Brasil do Segundo Reinado (1840-
sil, com foco orientado para ações de resis- 1889).
tência dos escravizados ou para as ações
governamentais oficiais. Dispõe sobre as terras devolutas no Impé-
b) O protagonismo atribuído a Zumbi dos Pal- rio, [e] e determina que, medidas e demarca-
mares é reflexo de uma tradição de repara- das as primeiras, sejam elas cedidas a título
ção de memória na política brasileira e que oneroso, assim para empresas particulares,
se encontra plenamente sedimentada na como para o estabelecimento de colonias de
sociedade, não havendo, portanto, questio- nacionaes e de extrangeiros, autorizado o
namentos a ela. Governo a promover a colonisação extran-
c) A resistência negra no processo de abolição geira na forma que se declara.
da escravidão brasileira restringiu-se ape-
nas à formação de quilombos, sobretudo no D. Pedro II, por Graça de Deus e Unanime Ac-
século XVII, não tendo, portanto, efeito so- clamação dos Povos, Imperador Constitucio-
bre a assinatura da Lei Áurea pela princesa nal e Defensor Perpetuo do Brasil: Fazemos
Isabel. saber a todos os Nossos Subditos, que a As-
d) Ambos os sambas, ao politicamente esco- sembléa Geral Decretou, e Nós queremos a
lherem seus heróis nacionais, pecam em Lei seguinte:
não reconhecer o verdadeiro protagonista
do fim da escravidão no Brasil: a Inglaterra Art. 1º Ficam prohibidas as acquisições de
e sua cruzada ética contra a escravização terras devolutas por outro título que não seja
de africanos. o de compra.
e) Ao assinar a lei que pôs fim à escravidão no BRASIL, Lei nº. 601, de 18 de setembro de 1850.
Brasil, a princesa Isabel estava enfrentando Presidência da República, Brasília-DF.
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
a nascente elite industrial e a Inglaterra, to-
leis/l0601-1850.htm. Acesso em: 11/09/2021.
dos desejosos da manutenção da escravi-
dão e, portanto, contrários à assinatura des-
a) Ao tornar a aquisição um ato de compra, a
ta lei.
Lei de Terras forneceu o impulso para a mo-
netarização da economia brasileira e o sur-
19. (Unesp 2022) Os periódicos que circulavam
gimento dos primeiros bancos comerciais.
no Brasil durante o Segundo Reinado (1840-
b) A Lei de Terras abriu a oportunidade para
1889) eram
que os imigrantes europeus passassem a
a) voltados à cobertura de questões e deba-
usar o Brasil como destino de investimento,
tes religiosos, uma vez que a maior parte
visto o custo relativo da terra aqui ser bem
da imprensa mantinha vínculo direto com a
menor que na Europa.
Igreja.
c) A Lei de Terras, juntamente com a Lei Eu-
b) editados no Rio de Janeiro e distribuídos,
sébio de Queiroz, promulgada no mesmo
por meio fluvial ou marítimo, apenas para
ano, foram medidas visando a integração
as capitais provinciais do país.
dos trabalhadores escravos à produção e
c) provenientes de Portugal e se valiam da
ao consumo.
identidade linguística e de um público que já
d) Ao bloquear a aquisição de terras por ou-
se habituara a eles desde os tempos da co-
tro meio que não a compra, a Lei de Ter-
lônia.
ras perpetuou a exclusão dos trabalhado-
d) controlados estritamente pela Coroa, que
res, em sua imensa maioria escravizados,
censurava as publicações e impedia a divul-
da principal e abundante riqueza de que dis-
gação de notícias contrárias ao regime ou
punha o Brasil à época.
ao imperador.
e) Ao suprimir a aquisição da terra pelo traba-
HISTÓRIA II

e) publicados sobretudo pelos setores brancos


lho ou por doação, a Lei de Terras estimulou
hegemônicos, com a presença de alguns
a colonização do interior do território e con-
jornais escritos por negros e dedicados aos
solidou as fronteiras do Brasil com seus vi-
negros.
zinhos

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GABARITO
1. D Brasil e tutor de D. Pedro II, José Bonifácio,
A obra Mata reduzida a carvão, pintado em tece uma grande crítica à escravidão asso-
1830 por Félix-Émile Taunay, aponta para ciando ao luxo e corrupção porque “quem
duas explorações: uma da natureza através depende do trabalho escravo, vive na indo-
do desmatamento e a outra do ser humano lência e esta traz todos os vícios após si”.
com o trabalho escravo no Brasil na primei- Trata-se de uma discussão importante que
ra metade do século XIX. estava começando no Brasil na primeira me-
tade do século XIX.
2. C
A questão aponta para a singularidade do 8. C
processo de independência da América Por- O texto aponta para a importância do Es-
tuguesa comparando com a América Espa- tado para a construção da nação brasilei-
nhola. O primeiro aspecto relevante diz res- ra, na elaboração de uma identidade nacio-
peito à vinda da corte portuguesa para o nal. As elites regionais buscaram sua au-
Brasil em 1808, algo inédito considerando tonomia diante do poder central, isso pro-
que o Estado português foi transferido para vocou diversos conflitos que ameaçavam a
a colônia. Outro dado relevante foi o arranjo própria ordem escravista brasileira. Desta
político entre D. Pedro I e a elite agrária bra- forma, a Monarquia surgia como a possibi-
sileira em 1822. A América Portuguesa, di- lidade de manter a unidade territorial, atra-
ferente da América Espanhola, no contexto vés de uma aliança entre as elites regionais
da independência, manteve a unidade terri- e o Estado, evitando a fragmentação do pa-
torial, manteve a escravidão e adotou uma ís e o caos social e construindo uma identi-
monarquia. dade nacional.

3. D 9. A
Passados históricos constroem-se, em es- A partir da independência do Brasil, 1822,
pecial, a partir das narrativas daqueles que começou a formação do Estado Brasilei-
estão no poder. Sendo assim, a constru- ro, que foi se consolidando durante o Perí-
ção das memórias ao longo da História do odo Regencial e o Segundo Reinado. As eli-
Brasil foi influenciada pela ideia de nação tes agrárias regionais foram se adaptando
e identidade que interessava aos projetos à centralização do poder estabelecido pela
dos governos nos quais ela estava sendo constituição brasileira outorgada em 1824.
feita. De certa forma, apesar dos conflitos entre
centralização do poder e as ideias federalis-
4. D tas, ocorreu uma acomodação conveniente
Devido aos maus tratos, às péssimas condi- das elites agrárias regionais dentro do Esta-
ções de habitação e alimentação e à falta de do Nacional Brasileiro.
incentivo à reprodução interna, os plantéis
escravistas no Brasil dependiam da importa- 10. C
ção para se manter. O início da Guerra do Paraguai está direta-
mente relacionado às disputas políticas in-
5. C ternas de Argentina e Uruguai, nas quais se
Não existia uma burguesia industrial no Bra- envolveram os governos paraguaio e brasi-
sil no Período Imperial. Além disso, a maior leiro. E o pano de fundo do conflito foram as
parte dos escravizados nesse período con- disputas pelo controle do comércio na Bacia
centrava-se nas lavouras de café e não nos do rio da Prata e a necessidade do Paraguai
centros urbanos. de alcançar uma saída para o mar.
HISTÓRIA II

6. C 11. E
A constituição brasileira outorgada em 1824 A Lei Áurea aprovada em 13/05/1888 abo-
estabeleceu o caráter censitário, era preciso liu a escravidão no Brasil, porém permane-
ser homem com renda, impedindo a gran- ceu a mentalidade escravista na cabeça da
de maioria de exercer a cidadania. A inde- elite brasileira, isso significa que a cultura
pendência do Brasil, 1822, não gerou trans- da escravidão continuou. Os textos apon-
formações sociais e econômicas no país. O tam que não foi nada fácil a vida dos imi-
tráfico de escravos foi proibido em 1850 pe- grantes europeus no Brasil, a elite brasilei-
la Lei Eusébio de Queirós. A escravidão só ra concebia esses europeus como servos
foi abolida no Brasil em 13/05/1888, com a ou dependentes. Os imigrantes que vieram
Lei Áurea. para o interior da província de São Paulo
em meados do século XIX, sob o sistema
7. E de parceria, foram muito explorados e che-
O texto do patriarca da independência do garam a se rebelar.
66
12. B e disputas territoriais envolvendo a Bacia do
A Lei de Terras (1850) prejudicou sobre- Rio da Prata e o Cone Sul.
maneira os médios e pequenos proprietá-
rios rurais brasileiros, uma vez que passou 17. E
a exigir a regulamentação das terras ocu- A atuação dos trabalhadores menciona-
padas (mediante registro pago) para a ga- dos no texto insere-se no contexto de cri-
rantia de posse das propriedades. Como o se do Segundo Reinado, entre as décadas
registro não era barato, muitas pessoas ti- de 1870 e 1880. Tal crise contou com vários
veram que entregar suas terras ao Estado elementos, dentre os quais a oposição de
brasileiro. republicanos, abolicionistas e militares, em
um cenário que vai levar a queda do Impe-
13. C rador.
A questão remete a Lei Áurea, aprovada
em 13 de maio de 1888, abolindo a escra- 18. A
vidão no país. Embora a lei tenha abolido a A questão remete a narrativas sobre o prota-
escravidão, a cultura da escravidão perma- gonismo na campanha abolicionista que cul-
neceu ao longo da república. A lei foi ape- minou na aprovação da Lei Áurea em 1888:
nas o primeiro passo de um processo lon- uma enfatiza a atuação do homem branco,
go, lento e complexo envolvendo diversas no caso a Princesa Isabel, como uma ver-
lideranças. são oficial. A outra destaca o protagonismo
das pessoas negras que atuaram na luta pe-
14. B la abolição da escravatura de maneira inten-
O quadro de ocupações do Brasil reflete a se, tais como Luiz Gama, José do Patrocí-
realidade do país no ano de 1872 no que nio, entre outros.
diz respeito a ocupação de homens e mu-
lheres. Chama a atenção alguns aspectos: 19. E
maior presença feminina na área têxtil, edu- A questão aponta para a presença de jor-
cação, parteiras e serviços domésticos. nais que circulavam no Brasil do século XIX,
principalmente durante o Segundo Reinado,
15. E 1840-1889. Predominavam periódicos asso-
O texto foi elaborado em 1857, dentro do ciados ao homem branco letrado, porém ha-
contexto do Segundo Reinado, quando via jornais liderados por pessoas negras de-
ocorreu a transição do trabalho escravo pa- fendendo suas demandas, em especial, a
ra o trabalho livre através da imigração. A abolição da escravidão. José do Patrocínio,
ideia de liberdade no excerto vem acom- Ferreira de Meneses e Machado de Assis
panhada de responsabilidade porque, con- são exemplos de pessoas negras que atua-
forme o texto, as tuas faltas recairão unica- vam no campo das letras.
mente sobre ti. Ao ser livre, sentirás a ne-
cessidade do trabalho honesto e apreciará 20. D
os nobres sentimentos que hoje não com- Diferente da Lei de Terras aprovada nos Es-
preendes. tados Unidos em 1862 que facilitava a aqui-
sição de terras pelos imigrantes, a Lei de
16. A Terras aprovada no Brasil em 1850 dificul-
Sabemos hoje que a Guerra do Paraguai te- tou a aquisição de terras, pois estabeleceu
ve como fatores desencadeadores disputas que a ocupação se daria apenas através da
políticas internas na Argentina e no Uruguai, compra, isso implicava na manutenção da
nas quais Paraguai e Brasil se envolveram, concentração fundiária.
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