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Denise Rollemberg e

Samantha Viz Quadrat [orgs.]


/

A construção social dos


regimes autoritários
Legitimidade, consenso e
consentimento no século XX
Luropa

LP
CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA
a)

io de Janeiro
2010
Copyright da organização 62010 by Denise Rollemberg e Samantha Viz Quadrat

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE A habitual antítese “Estado” versus “sociedade” é talvez


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
inadequada quando se deseja estudar as relações entre
A construção social dos regimes autoritários: Europa, volume I/ Denise Rollemberg ambas as coisas. Caso se aceite a hipótese de os Estados,
C775 e Samantha Viz Quadrat (organizadoras); - Rio de Janeiro: Civilização
vi Brasileira, 2010. 3v. mesmo arbitrários, serem parte de um todo mais amplo e
Inclui bibliografia
que o fato de permanecerem arbitrários produzirá resulta-
dos catastróficos, é preciso elaborar um conceito de Estado
ISBN 978-85-200-08621
que dê margem ao estabelecimento de conexões entre a área
1. Autoritarismo - Europa. 2. Europa — Política e governo. 3. Sociologia
política. 1. Rollemberg, Denise, 1963-. II. Quadrat, Samantha Viz.
política e as demais áreas da vida social.

CDD: 321.94
MOSHE LEWIN, O fenômeno Gorbachev.
10-5054 CDU: 321.64(4) Uma interpretação histórica.

qo, €, Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou trans-


S p= 2 G Roi má 3 : A ps . o
ê
EN q missão de partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia autorização
EA por escrito. Um vibrato do inacabado que anima repentinamente todo
um passado, um presente pouco a pouco aliviado de seu
PomoRsAmmDA Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Direitos desta edição autismo, uma inteligibilidade perseguida fora de alamedas
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA percorridas: é um pouco isto, a história do presente.
Um selo da
EDITORA JOSÉ OLYMPIO LTDA JEAN-PIERRE RIOUX,
Rua Argentina 171 — 20921-380 — Rio de Janeiro, RJ — Tel.: 2585-2000
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Impresso no Brasil
2010
A CINTRUÇÃO SOCIAL DOS REGIMES AUTORITÁRIOS — EUROPA

Bibliograla

Gerhard Fish/Ulrich Lindner: Stiirmer fiir Hitler. Vom Zusammenspiel zwischen


Fufball miNationalsozialismus (Atacantes para Hitler, a cooperação entre o fute-
bol e o namo). Góttingen: Die Werkstatt, 1999.
Stefan GochNwbert Silberbach: Zwischen Blau und Weif liegt Grau. Der FC Schalke
04 im Naimalsozialismus. (Entre o azul e o branco está o cinza: o clube Schalke 04
durante séjoca do nazismo). Essen: Klartext Verlag, 2005.
Nils Havemm: Fufball unterm Hakenkreuz. Der DEB awischen Sport Politik und
Kommer:tlstebol sob a suástica, a DFB entre esporte, política e comércio). Frank- caríruo1o À “cultura da guerra” do
furt/Mais: Campus — Verlag, 2005.
Arthur Heinid: Der Deutsche Fupfballbund. Eine politische Geschichte (A Federação
66
novo Estado” espanhol como
Alemã doktebol, uma história política): Colônia: Papy Rossa Verlag, 1999. princípio de legitimação política
Carl Koppekil:Geschichte des Deutschen Fuftballsports. Hrsg. in Zusammenarbeit mit
dem Deushen Fu£ball-Bund (História do futebol alemão, editado conjuntamente
Francisco Sevillano Calero*
com a Feliação Alemã de Futebol). Frankfurt/Main 0.J., 1954.
Tradução de Silvia de Souza Costa
Bruno Malit: Die Leibesubungen in der nationalsozialistischen Idee (O exercício físico
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peão). Gittngen: Die Werkstatt, 1997.
Arquivo da (ide de Munique (org.): Munchen und der Fuftball. Von den Anfângen
zur Gegauart (Munique e o futebol, das origens aos dias de hoje). Munique:
Buchenditkr, 1997. :

sa Edi
Titular de História Contemporânea da Universidade
de Alicante, Espanha. Autor
e Ecos de papel. La opinión de los esparoles en la época de
Franco, Madri: Biblioteca Nueva
Pro Jos - La representación del enemigo en la Guerra Civil. Madri: Alianza Editorial >

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Os acontecimentos que marcaram o golpe de Estado de 17 e 18 de julho de
1936, desencadeados por uma parte da oficialidade do Exército espanhol,
romperam com o estado de direito sem conseguir ocupar o poder na Repú-
blica. O fracasso da rebelião militar provocou uma situação de guerra, em
que a ocupação da capital, Madri, continuou sendo o objetivo primordial
dos insurgentes. No contexto histórico de ascensão dos movimentos fascis-
tas — como ocorreu na terceira onda de regimes ditatoriais, que estendeu
o totalitarismo na Europa após 1933 — essas circunstâncias determinaram
que a principal característica do “novo Estado” espanhol fosse criada du-
rante uma longa guerra civil, a partir do terceiro trimestre de 1936.
Na imposição de uma “nova ordem” europeia, o regime ditatorial da
“Espanha nacional” configurou-se não apenas a partir da fraqueza originá-
ria de um movimento claramente fascista antes da guerra, mas da experiên-
cia particular de concentração de poder nos chefes militares rebeldes. Em
29 de setembro de 1936, a Junta de Defesa Nacional, constituída em Burgos,
após a rebelião militar, determinou a nomeação do general de divisão Fran-
cisco Franco Bahamonde como chefe de Governo do Estado espanhol, as-
sumindo todos os poderes do “novo Estado”, e como generalíssimo das
forças nacionais de terra, mar e ar, conferindo-lhe o cargo de general em
chefe dos exércitos de operações. Diante das incipientes instituições esta-
tais na “Espanha nacional”, a legitimidade carismática do “caudillo” come-
çou a se formar no espaço político a partir do ato de sua proclamação, em
Burgos, em 1º de outubro daquele ano.
À legitimação do “novo Estado” espanhol fundamentou-se, assim, na
guerra: como bellum instum, subsistindo uma “causa justa” para a rebelião
militar, conduzida pelo dom e pela graça carismáticos de seu caudilho, de-
A WIRÇÃO SOCIAL DOS REGIMES AUTORITÁRIOS — EUROPA A "CULTURA DA GUERRA” DO "NOVO ESTADO” ESPANHOL...

fendida Cmosague dos mártires e “caídos”; como “guerra total”, uma como se celebrou no calendário de festividades da “Espanha nacional”,
so-
vez que stmlmou, pois devia acabar com a destruição total do inimigo, bretudo a partir de 18 de julho de 1937, data de aniversário do Pronuncia-
considerabpliicamente como “absoluto”, desvalorizado moralmente até mento. Precisamente, o sentido patriótico e religioso da “cruzada nacional”
desumanitbApropagação desses aspectos formou uma “cultura de guer- foi ndvamente encarnado pela figura do general Franco, por motivo do pri-
ra”, legitimado “novo Estado”; com valores, ideias e ritos que carac- meiro aniversário de sua proclamação como chefe de Estado e generalíssimo
terizaramiyjrmentação da identidade coletiva da “Espanha nacional” dos exércitos nacionais, assumindo os poderes máximos “por graça de Deus
como com: política essencial diante da anti-Espanha. e por verdadeiro desejo da Espanha”, conforme iniciava o preâmbulo da
or-
dem da presidência da Junta Técnica do Estado, em 28 de setembro de
1937.
O preâmbulo justificativo continuava, destacando que a “Espanha naciona
l”
ASPECTOS IAHUTURA DE GUERRA": TEOLOGIA POLÍTICA DO CARISMA desejava render, nessa data memorável, homenagem de adesão e gratidão
,
devido a suas excepcionais qualidades militares e políticas, visto que:
Até a mortgltinco — em 20 de novembro de 1975, perto de completar
83 anos, sígido de evidente senilidade — a imagem pública do “caudi- Por sua insuperável direção da campanha como Generalíssimo, consequ
ência
lho” foi esaáilpara o funcionamento do sistema político ditatorial que de seu patriotismo, sua competência, seu valor como soldado e seu espírito
se institucimfo, a partir de sua proclamação como chefe de Estado na de sacrifício, nosso glorioso e invencível Exército, encorajado pelo povo
que
tudo faz pela salvação do país, conquista incessantemente louros que causa-
“Espanha njna, quase 40 anos antes.! Essa imagem teve origem na forma
ram admiração no mundo todo e, em ritmo acelerado, reconquista
de dominajparsmática, forjada no transcurso da guerra civil; na convic- o solo
pátrio, liberando-o do marxismo destruidor. Enquanto isso, a administ
ção de suaspíial capacidade de fascinar, a partir do dom que Deus elmo ra-
ção pública, apesar das imperiosas exigências da guerra, destaca-se
cede a umikn,o “caudilho”, em benefício da comunidade. Se a análise pela
austeridade e acertada orientação, tornando-se modelo de sábia política para
social de Myeber do poder levou a destacar o reconhecimento ea vali- o bem comum, em vista das excepcionais qualidades de governante
do che-
dação da pryalidade carismática por uma comunidade, o carisma pode fe de Estado.
ser entendibimbém culturalmente, quer dizer, cabe concebê-lo como uma
qualidade eressável, que não se pode compreender.? Assim, como for- A ordem criou a “Festa Nacional do Caudilho”, realizada anualmente
ma de legitingd: extraordinária, a autoridade carismática do general Fran- em 1º de outubro. O editorial do diário La Gaceta Regional, de Salaman
ca,
co se baseanfé em sua vitória na guerra. publicado em 29 de setembro, insistia no princípio hierárquico que
repre-
Além diy,al forma de legitimidade carismática foi constituída con- sentava o comando do general Franco. Mas, sobretudo, reiterava as
excep-
comitante wa de caráter tradicional, que se fundamenta na crença na cionais circunstâncias do ato de sua proclamação, atribuindo o domínio
santidade dypidições pátrias seguidas desde tempos longínquos e na legiti- carismático de Franco ao resultado de uma natural superioridade:
midade do ki guerreiro, destacado pela tradição para exercer a autorida-
de. Precisangy, O prolongamento da guerra, após as operações frustradas Foram tão especiais as circunstâncias que contribuíram para o ato pelo
qual
para tomar Mi, e os triunfos militares em outras frentes — no Norte, logo ficou verdadeiramente ungido com a representação e o comando da Espanha
depois em Ten)e na batalha de Ebro, na Catalunha — foram consolidando o general Franco que esse feito constitucional, do ponto de vista jurídico,
o poder de yro e fazendo com que a legitimidade carismático-tradicional teve todas as características de uma realidade biológica. Franco,
caudilho
de sua figur t adquirindo maior relevância mediante o culto à pátria, da Espanha, surgiu naturalmente, pelo próprio impulso da superior
idade,

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AOTRUÇÃO SOCIAL DOS REGIMES AUTORITÁRIOS — EUROPA A “CULTURA DA GUERRA” DO “NOVO ESTADO” ESPANHOL...

Catlirdo pela força de um comando histórico, que não necessitou para acariciar, porque ela nos dará o triunfo magnífico e permanente: o de afas-
Serei de um outro mecanismo previsto que o de uma conjuntura real- tar, como se fosse um animal predador, o homem de alma torcida, cheio de
m icepcional. “egoísmo, ambicioso e falso.
Aim surgiram os grandes líderes do mundo antigo, antes que O mundo A Espanha, nestes últimos anos, padeceu de condutas sujas nos postos
Mk fixasse trâmites que só na vida normal têm sentido. O escudo dos de direção da nação e do Estado. Havia uma instintiva repulsa da massa
Blittins clássicos representava a elevação sobre todas as cabeças da honrada e trabalhadora do país em relação aos políticos profissionais, que
exiliçio do homem extraordinário que mandava porque sabia e devia mudavam de ideias e de diretrizes morais se julgavam conveniente para sua
Mt Omni populo assentiente. Todos, em verdade, reconhecendo por ambição pessoal. A moral de Franco é a antítese da moral da República e de
SEl Tíio discurso ou por intuição, a unidade de seu destino e a necessi- seus homens. É uma linha reta, de aço, que não quebra nunca...
daletima hierarquia, aclamavam o eleito espontânea e ardentemente sobre Nesta Espanha imperial, Franco, como os grandes estadistas dos regi-
O Ap da vitória. mes autoritários da Europa, impõe, com seu exemplo, essa moral inflexível,
Pisbem, sobre o escudo dos triunfos já alcançados ou por alcançar, que já não se afastará dos espanhóis.
Cosliky-se, há um ano, o general Franco. O novo Estado nascia junto
CONike, levando em conta a base da consciência nacional e o apogeu do O aspecto jurídico do “novo Estado” baseou-se, por conseguinte, nestas
Pole fácil reconstruir a grande pirâmide em que se cristalizam os povos formas de legitimidade — carismática e tradicional, profundamente enraizadas
benmsituídos. Hierarquia é a palavra que serve de chave para que todas na religião — que o discurso exacerbado do nacionalismo aliou à formulação
as lota, todas as classes, todos os elementos da sociedade se reduzam à de uma teologia política.? Essa pode ser definida como o uso de conceitos
unilt, obtendo uma fecunda harmonia mediante a devida graduação de político-teológicos no espaço político para legitimar o princípio soberano da
Órgáne funções. E não cabe distinguir entre sociedade civil e militar, além decisão de restabelecer a “unidade política” da Espanha, tarefa do herói pro-
deom razões porque a Espanha, naquele tempo, era um povo em armas videncial. Nessa formulação, influiu a redefinição política da esfera eclesial
€ Sigtenfrentando os ditames de uma exigência vital: ser ou não ser. na Espanha durante a Guerra Civil. Uma politização do sagrado, em Conse-
Ailernativa de uma solução favorável — que já existe — necessitava de
quência da legitimação teológica da ordem política, tanto para a Igreja cató-
Um Adr supremo que, absorvendo todas as autoridades do Estado, reali-
lica justificar o Pronunciamento como por sua interpretação religiosa da
zaStwm unidade de critérios e de conceito, e até de fatura, hierarquizando
“cruzada nacional”; quer dizer, resultou da contribuição de fatores religiosos
Órgãt funções de cima abaixo, mas recebendo, de baixo para cima, o alento
à teoria política. Essa politização não pode ser separada, como elemento subs-
Vitiliudor e para baixo estimulante da consciência nacional.
tancial, da mencionada formulação da teologia política do “novo Estado”,
: »
durante
” que teve um marcante viés cristão e que, como profissão de fé na nação,
Mesmosim, os editoriais da imprensa na “Espanha nacional”
manifestou-se por meio de um conjunto de símbolos e de ritos.
aquelas ditscoincidiram ao destacar a irrepreensível conduta moral do cau-
A fundamentação da legitimidade original do Pronunciamento, que a
dilho, suaYik austera e ascética, que devia servir de lição e de exemplo, como
evidência de uma guerra no verão de 1936 transformou em “Cruzada”, se
publicou àtlição sevilhana do jornal ABC, também em 29 de setembro:
sobrepôs, assim, ao arquétipo do herói, com as etapas de seu ciclo épico: a
convocação para a aventura e a iniciação do herói guerreiro no Marrocos
Há ai outro aspecto de desígnio providencial que nos conduz na Cruza-
— onde o general Franco ganhou todas suas promoções por méritos de guer-
da. Fanco irradia uma luz penetrante e vivíssima, que ilumina os caminhos
da Caluta. Estamos em um momento em que a cont judo. A cond ra, desde que comandou a Primeira Bandeira do Terço Estrangeiro — o
regresso ao cumprir sua missão salvadora — após o 18 de julho, como cau-

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A "CULTURA DA GUERRA” DO
A Cnyção SOCIAL DOS REGIMES AUTORITÁRIOS — EUROPA
“NOVO ESTADO” ESPANHOL...

dilho militiycomando das tropas regulares em direção a Madri, a partir dição e na fé católica — foi o vetor que fez com que, no mútuo transpasse de
conceitos teológicos e políticos, o espaço do “novo Estado” e a esfera eclesial
do sul pen, o triunfo e o reconhecimento de sua glória. O desfile
se sobrepusessem, no sentido sacro do patriótico, encarnado pela figura do
castrense df da Vitória, celebrado em Madri, em 19 de maio de 1939,
foi a pringjp menagem ao generalíssimo Franco, um rito civil de seu caudilho. Essa sobreposição levou a que a natureza guerreira do carisma de
triunfo condilho de Espanha. Um relato épico que não teve um sen- Franco adquirisse semelhante aparência mística: a devoção e a vida ascética
tido escatOy» mas que abrangeu outras formas arquetípicas, sobretado do herói em estado de graça conduz ao transcendente, pois sua fé é o cami-
que nho da salvação, materializando em sua pessoa a união da alma do povo com
a imagem tj do herói, como o eterno retorno: uma comunidade
ser na a essência da pátria.
encarna S&hg; providencial não encontra sua identidade, a pão
medida en, participa de uma realidade transcendente, primitiva, que
volta a se hr. Por meio do culto do herói, produziu-se a união mística
ASPECTOS DA "CULTURA DA GUERRA”: O CULTO DA MORTE
da alma dao com a essência pátria. .
O destayiessa mística, essencial na teologia política do “novo id
O A guerra provocou uma inflação retórica do léxico da violência e da morte.
do”, enfatyy aspecto central na concepção do carisma. Em especial,
medievalia, emprego do arquétipo do reino de Deus, de sua es Desse modo, o “culto da morte” foi se articulando, mediante a institucio-
nalização do luto no calendário oficial de festas do “novo Estado”, começan-
na terra, %j nara resumir o corpus mysticum resultante da vinculação
da figura &adilho com a concepção da Espanha. O Emprego de seme- do com o aniversário do assassinato de José Calvo Sotelo. Por decreto de 10
de julho de 1937, o dia 13 desse mês foi declarado dia de luto nacional pelo
lhante ado político permitiu transferir ao “novo Estado” = ami
aconteceU ro de unção do general Franco no templo madrilenho de seu aniversário, estabelecendo-se que, nesse dia, a bandeira nacional devia
ser hasteada a meio pau em todos os edifícios oficiais, ostentando faixas de
Santa Bárhy a manhã de 20 de maio de 1939 — componentes do e
do ideológud Deus, mediante os símbolos e rituais da instauração de tecido preto penduradas nas janelas e nos estabelecimentos. No preâmbulo
uma ordena] em harmonia com a tradição e os valores cristãos. dessa disposição, argumentava-se que:
A Peculjarmação do carisma do general Franco — ita original:
na fé na vitória mi: O assassinato de dom José Calvo Sotelo marca uma data de luto em nossa
mo Rnçe Pela gprias metamorfoses da guerra e fundado história, pois o trágico desaparecimento de uma figura tão excepcional, por
litar — pehp confrontar os modos do caudilhismo na Europa no, período
sua inteligência, sua honradez e seu patriotismo, ficou vinculado à sinistra
entre BU€Mopecialmente as relações entre mito €ritual, concebidas No política de um regime que, incapaz de cumprir sua função natural, conver-
malmente ixo uma redundância. O olhar antropológico, contudo, aca ou
tia os recursos de comando em instrumentos criminosos.
matizando,, tal homologia não existe sempre, ou na mesma PROPORSAN
Um feito tão monstruoso quanto revelador constituiu, por si só, um de-
entre as Nas e práticas de sociedades próximas. Dessa maneira, A re lito de Estado, diante do qual devia se erguer nosso glorioso movimento
presentaçã, querra deu forma à dominação do general Fransos neieio nacional, como único remédio para salvar a Espanha. No aniversário de tão
que a encer; do caudilhismo mediante a mobilização e a estética das massas nefasto dia, a magnitude da dor impede relegá-lo à ordem individual e o
nos regimS,irários do fascismo na Itália e no nacional-socialismo na Ale novo Estado, intérprete fiel do sentimento nacional, promove uma home-
manha, Pôk espetáculo público foi o veículo de expressão favorito da pro nagem popular, rendendo tributo ao primeiro mártir da gloriosa Cruzada.
da Guei
jeto de COlção da identidade fascista. Só com as circunstâncias
q

enraizado na tra
na Ega o nacionalismo exacerbado — espi itual, enraizad
ivi : “spiritual,
Civil
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AUSTRUÇÃO SOCIAL DOS REGIMES AUTORITÁRIOS — EUROPA A "CULTURA DA GUERRA” DO “NOVO ESTADO” ESPANHOL...

Calvo Sotiyo primeiro” dos mártires da "Cruzada Espanhola": Com a declaração do festivo Dia do Estudante Caído — 9 de fevereiro de
cada ano — por Ordem de $ de fevereiro de 1938, em todos os centros
Des; Espanha gostaram daquela vítima; aceitaram o oferecimento e Calvo docentes foi utilizada a memória do primeiro falangista caído para insti-
Sothain. Mas, ao cair, seu sangue foi como o daqueles mártires de que tucionalizar um culto que enraizava ainda mais as origens do Pronuncia-
faliertuliano, como a semente dos cristãos. mento na desordem pública e na violência durante o período republicano.?
drdade que o sangue de Calvo Sotelo foi a semente dessa coroa de A exaltação do sacrifício da juventude contribuiu, assim, para a invenção
Mátr, cujo sangue redimiu a Espanha? do “culto da morte”, já que:
lno cemitério, com a cova já aberta, sobre aquele cadáver, como sé
foseyangelho da Pátria, foram feitos sagrados juramentos de vinganças O heroico sacrifício da juventude pela redenção da Espanha, em nossa cru-
Sat Três dias depois, esses juramentos começaram a ser postos em prá- zada nacional, constitui o mais alto e generoso exemplo a ser exaltado e
ticiomeçaram os mártires. E começou a se formar este deslumbrante perpetuado para estímulo das gerações futuras. Em 9 de fevereiro de 1934,
COkiqne é hoje, acima das estrelas, a Espanha Eterna... caía gloriosamente sob as baladas da anti-Espanha o estudante Matias
lente de todos, o primeiro de todos, José Calvo Sotelo.” Montero, ao propagar, distribuindo o semanário FE, germes das ideias
salvadoras de nosso movimento nacional. As ideias escritas com sangue
À EUemyrgia como uma forjadora de heróis e uma purificadora de heroico e juvenil são eternamente fecundas.

mártires,q: eram a honra da Espanha, a glória da Igreja espanhola e a


exaltação destirpe, pois: O culto aos “caídos” alcançou sua maior expressão na construção do
mito político José Antonio Primo de Rivera, fundador da Falange.'º A pri-
À Bin fez com que resplandeçam de novo, “com majestade não habitual”, são e a execução de Primo de Rivera, que morreu na madrugada de 20 de
AS &rosas condições da raça. A guerra voltou a fecundar o seio maternal novembro de 1936, em Alicante, elevou sua figura a mito, mediante um
da pia, “processo de “transfiguração pela ausência””.!! Esse processo começou com
Ee suas entranhas, fecundadas pela guerra, brotaram os heróis e os a transformação da palavra “ausente” em um lema oficial, de modo que:
Mátiy da cruzada espanhola. [...] “O adjetivo logo se tornou substantivo e “o ausente”, por definição, José
Aluerra Espanhola é como um gigantesco roseiral que, ao abraçar a Antônio.”2 O mito da ausência — alentado por notícias confusas, nunca
Esruh, fez saltar o sangue, e cada gota de sangue foi a tosa inflamada de confirmadas e até desmentidas sobre a morte de Primo de Rivera — contri-
ums; de um mártir buiu para a mitificação pessoal do fundador da Falange e a sacralização de
seus textos, seus ditos e até seus gestos." A morte de Primo de Rivera foi
À exalyo dos mártires e dos “caídos” pela Espanha teve especial des- comunicada pelo general Franco em uma Junta Política da FET e das JONS,
taque no ido único, a Falange Espanhola Tradicionalista (FET), e nas realizada em Burgos, para onde havia se transferido o quartel general, em
Juntas de (ensiva Nacional-Sindicalista (JONS), constituindo a principal meados de 1938.!* A comemoração do aniversário de sua morte, conforme
expressão isua “estética”. Assim foi na celebração do Dia dos Caídos, em decreto da Chefia do Estado de 16 de novembro de 1938, transformou o
29 de outky de 1937, no “Segundo Ano Triunfal” da guerra. No mesmo legado de Primo de Rivera na origem do novo Estado, que “surge da guerra
dia se celty também a Festa de Fundação da Falange Espanhola — nessa e da Revolução Nacional por ele anunciada”, se convertendo em “herói na-
data, em 19 — gue coincidia ainda com a Festa das Juventudes Falangistas. cional e símbolo do sacrifício da juventude de nossos tempos”. As disposi-

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A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS REGIMES AUTORITÁRIOS — EUROPA A "CULTURA DA GUERRA” DO “NOVO ESTADO” ESPANHOL...

ções decretadas construíram o mito de Primo de Rivera, institucionalizando Sua vida e sua obra foram o caminho dessa
superioridade, conseguindo
a lembrança de sua figura por meio do calendário oficial de celebrações e dos o acordo espiritual e humano mais perfeito:
o da criação que se estabelece
lugares de memória. Dessa maneira, o 20 de novembro de cada ano foi de- na alma de seu povo.
clarado dia de luto nacional. Foi estabelecido ainda, de acordo com as au- Sua palavra e sua ação promoveram em nossa
pátria um modo de pensar
e de ser, ponto de partida de consideráveis núcle
toridades eclesiásticas, que nos muros de cada paróquia figuraria uma os nacionais, que se ergue-
ram em momentos difíceis pela sagrada causa
inscrição que contivesse “os nomes dos que caíram, seja na presente Cruza- da Espanha,
da, seja como vítimas da revolução marxista”, ao mesmo terapo que, no
Os funerais de Primo de Rivera foram celebrados
seu dia, seria erguido um monumento para festejar Primo de Rivera, O IE na Catedral de Burgos,
em 20 de novembro de 1938. Previamente,
gado de suas ideias políticas seria explicado e desemvolsido mediante ágeis seu nome fora gravado nas pe-
dras externas do templo, junto à Porta de Sarme
ação de uma cátedra de doutrina política nas universidades de Madri e ntal. O mesmo ocorreu em
todas as igrejas da Espanha, como decidiu à Junta
Barcelona, que teria o nome de “Cátedra José Antonio”, e não haveria um Política da FET e das JONS.
Isso foi sancionado legalmente, incluindo,
titular fixo, mas sucessivos professores indicados pelo chefe nacional do Mo- além de seu nome, os dos vizi-
nhos de cada localidade mortos na guerra
vimento. As cátedras eram subvencionadas por fundos do Movimento. A com o bando “nacional”. 15
O mito político de Primo de Rivera se coloc
exaltação desse legado corresponderia aos serviços de imprensa e propa- ou no interior da presença
do simbólico na política, constituindo sua expre
ganda, com a abertura de um concurso nacional que premiaria os melhores ssão mais intensa e organi-
zada. E, assim, o mito político se converteu
trabalhos artísticos, literários e doutrinários sobre a figura e a obra de Pri- de relato em “presença”, median-
te sua vinculação com ações políticas de carát
mo de Rivera. Para perdurar sua memória entre os jovens, levariam seu nome er ritual, como ocorreu por
ocasião do traslado dos restos mortais de Prim
as primeiras instituições que foram organizadas em caráter RRnoaa para a o de Rivera, nos ombros de
falangistas, desde Alicante até a igreja do
formação e a disciplina políticas da juventude e para a educação artesanal Monastério de San Lorenzo del
Escorial, com honras de capitão-geral nas cerim
dos operários. O Exército, como “encarnação genuína do povo para O ser- ônias, para que pudesse ser
enterrado no local, como dispôs a lei de
viço à pátria com as armas”, se unia também às homenagens a 15 de novembro de 1939. Uma
e de vez acabada a Guerra Civil, Miguel Primo
de Rivera dirigiu-se a Alicante,
Rivera e, assim, daria seu nome a novas unidades da Marinha, do Exército em 2 de abril desse ano, para recuperar o
e da Aeronáutica. Uma ordem do Ministério da Educação Nacional, do cadáver do irmão, com quem
estivera detido, que se encontrava em
uma cova no cemitério municipal,
mesmo 16 de novembro, determinava que se dedicasse o dia 22 desse mês Os supostos restos mortais foram colocados
em uma grande arca e deposi-
a uma aula em memória de Primo de Rivera, destinada a explicar sua vida tados em um nicho do cemitério, à espera de
uma sepultura definitiva, Em
e sua obra, em todas as escolas e centros de ensino, pois: “O significado 9 de novembro de 1939, a Junta Política da FET
e das JONS, presidida por
dessa figura emblemática de nosso movimento deve ser a primeira lição da Serrano Sufer, concordou com o traslado
dos restos mortais, sendo Dionísio
juventude espanhola.” Uma transcendência que era resumida no preâmbu Ridruejo quem sugeriu que o lugar mais adeq
uado para seu repouso seria
lo dessa ordem ministerial: El Escorial, embora alguns fossem contrários
a levá-lo para o panteão real!
O ritual do féretro de Primo de Rivera nos
ombros dos falangistas até El
A elevadíssima personalidade de José Antonio Primo de Rivera, figura his Escorial foi o último de grandes atos e cerim
tórica nacional, culminou com sua morte heroica: seu último ato de serviço
ônias daquele Ano da Vitória.
Mas o fim da Guerra Civil produziu uma infla
à Espanha. ção de comemorações da morte
por meio do luto e da memória social.!?

20H
269
A CTRUÇÃO SOCIAL DOS REGIMES AUTORITÁRIOS — EUROPA
A “CULTURA DA GUERRA” DO “NOVO ESTADO” ESPANHOL...

pressões particulares e psicológicas.” A inversão conceitual do sentido da


ASPECTOS lA'cULTURA DA GUERRA": REPRESENTAÇÃO DO INIMIGO
guerra, no político, converteu o verdadeiro inimigo em inimigo absoluto.
Um deslocamento que implica a destruição moral do inimigo, sua absoluta
A extremaeldade das ações violentas na guerra estava ligada à desir
desvalorização humana: é preciso declarar a parte contrária, em sua totalida-
manizaçãoda vítimas.!8 Isso, mediante a representação imaginária do iiimia
de, criminosa e desumana, como uma inexistência de valores absoluta, até
go na form estereótipos culturais: ideias pré-concebidas que determinam a
destruição de toda vida que não merece viver.”
O processo percepção, classificando os objetos em familinhes ou esitanhios;
À situação de guerra civil na Espanha produziu uma inversão do signifi-
e que, ao feilo, enfatizam suas diferenças por meio de uma série de sinais. cado do termo inimigo pela propaganda. Isso porque, concebido como um
A distinção popriamente política entre “amigo” e “inimigo oie, E
tipo de “jogo”, que usa intencionalmente a linguagem como violência,
sim, O pOnode partida e estabeleceu os limites da “cultura da guerra s di e-
inverte o sentido de uma palavra, altera o seu significado para constituir,
renciação qse afirma como um critério autônomo — poder-se-ia dizer como como fundamental, um dos que até então eram secundários.” Desse modo,
“categoria” ísica — que não deriva de qualquer outro.?? Cabe especificar, entender uma palavra não é compreender essencialmente o que ela signifi-
como fez Cal Schmitt, que “o inimigo é, de maneira particularmente inten- ca, mas saber como funciona ou como é usada no jogo da linguagem propa-
sa, existenciamente, um outro diferente, um estrangeiro, com O qual podem gandística, que faz parte de uma atividade ou uma forma de vida.º Mais
u
ocorrer, Ch rasos extremos, conflitos existenciais?! Desse modo, destaco precisamente, a propaganda promoveu, no transcurso de uma guerra civil
que não éinmigo o concorrente ou o adversário, tampouco O ansgonina que se prolongava na Espanha, uma inversão do sentido do termo “inimi-
ou um adyerário específico, com quem se antipatiza, uma vez que um ini- go”, por meio sobretudo de normas, mais do que de regras explicitamente
migo é umagtalidade de homens situada diante de seus semelhantes, que enunciadas, como de rejeição e estigmatização dos “vermelhos”, quer di-
lutam pelagistência, pelo menos eventualmente, ou seja, segundo uma pos- zer, diferenciando-os e classificando-os como “inimigos absolutos”.
sibilidade tj Inimigo é, pois, apenas o inimigo público* o Essas normas codificam os esquemas de percepção, transformando-os
Mas a Ipagação do conceito de inimigo implica a real psp a em estereótipos. Semelhante operação de codificação permite um controle
uma guerri, me nasce da hostilidade, da negação essencial de outro E ê da coerência desses esquemas, quer dizer, produz a sua formalização.3! As-
na guerra 0 grupamento político, por causa do amigo e do inimigo, a SA sim, codificar é terminar com o impreciso e as divisões por aproximação,
a sua última onsequência, com a vida do homem adquirindo sua polaria e estabelecendo categorias claras, cortes límpidos e tornando as coisas sim-
especificamente política.”* De tal modo que o sentido da chamada guerra ples, evidentes e comunicáveis, ao dar o mesmo sentido às palavras.? Um
total” resideem uma hostilidade pressuposta, conceitualmente prevista, que efeito que, imagino, ocorre primeiramente no plano simbólico, mediante a
construção da representação coletiva do “inimigo”. Esse era, antes de tudo,
anula a ditinção entre combatentes e não combatentes, produzindo, com a
por sua condição de estrangeiro, por seu caráter externo, como a maçona-
guerra milk uma outra não militar, como emanação dessa hosnilidade, A
não ape- tia, O marxismo e o judaísmo. A desvalorização moral do “outro”, também
guerra se dáagora em um novo plano, mais intenso, como ativação
espanhol, em uma situação de guerra civil, ocorreu precisamente mediante
nas militar hostilidade. O caráter total consiste em que âmbitos da realida-
a rejeição do que é propriamente pátrio, por sua conveniência e seu servi-
de que nãos militares — economia, propaganda, energias psíquicas e morais
lismo diante de semelhante ingerência estrangeira. Assim, os “vermelhos”
dos que não combatem — se veem envolvidos no confronto hostil. A mera
eram estigmatizados, em primeiro lugar, pela própria personalidade e vil
possibilidad desse aumento de intensidade faz com que os conceitos de amiga
conduta: frívolos, canalhas assassinos, traiçoeiros, além de colaboradores
e inimigo também se transformem em políticos e que, até onde seu caráter
esfera das ex
de estrangeiros hostis à Espanha.
í
político h :
desaparecido dis :
completamente, + « se distanciem daa esfer

2/0 27
A CONRUÇÃO SOCIAL DOS REGIMES AUTORITÁRIOS — EUROPA A "CULTURA DA GUERRA” DO “NOVO ESTADO” ESPANHOL...

A categorik “inimigo absoluto” resumiu-se na ideia da ane Espa nais Um dos personagens que participavam da reunião
não tirou o chapéu. Sua
que precisava resgatada. Uma ideia representada pela capital, “Madri alegação era de que não sentia necessidade de saudar
seus semelhantes com
vermelha”, tenda por milicianos dos partidos e sindicatos de esquerda. A cordial ostentação. Mas como era ameaçado com
todo tipo de alfinetadas e
desvalorizaçã(esse inimigo — que, derrotado nas frentes de Eonbaie, ia ofensas, caso não mudasse sua conduta, o home
m chegou um dia ao café
com a cabeça descoberta, como previa o regul
preso — resuky também da objetivação científica de sua patologia social, amento; e passou a cumpri-
mentar tirando a dentadura postiça com uma mão,
moralmente aagiosa. Em particular, a psiquiatrização dos pomporames fazendo com ela um gesto
reverente e colocando-a novamente na boca, eleva
tos antissociacontribuiu, desse modo, para a estimatização psicossocial ndo-a à condição de “cha-
péu” substituto.
do inimigo: conduta criminosa era efeito de uma personalidade psico-
pata desequilinda, degenerada, movida por complexos de tiieriondado Isso porque o importante do chapéu era tirá-l
Essa imagatornava-se mais pronunciada em relação à mulher “mili- o: “É um serviço. O cha-
péu protege o homem e o que o rodeia, como
ciana”: a fragilade e a impulsividade psicológicas transformavam-na em a luz de um farol protege o
próprio farol e um pedaço de mar.” Miquelar
ena acabava recomendando:
lamentáveis aicaturas de homens — a figura da miliciana era despojada “Enfim, compatriota, homem de Deus, compre
de feminilida vestindo um eterno “macacão” azul, e seu eomportamen- um chapéu e saúde como
um cavalheiro. É uma boa maneira de sê-lo
ou de aprender.”
to, libertino. Ina imagem que também se evidenciou por meio de uma Se um homem com chapéu era ícone do caval
heiro, o que não deixava
apresentação hmorística da realidade, difundida pelos meios de comuni- dúvida de que não era um “vermelho”, outro sinal
era o cheiro de marxista,
cação, a imprma e o rádio. como comentou o jornalista e escritor corun
hês Wenceslao Fernández Flórez,
nas páginas de opinião do ABC, de 28 de maio
do mesmo ano. Sabedor dos
avanços em Madri, devido aos cuidados de espec
ialistas em ambientes favo-
A ESTIGMATIZAÃO DOS “VENCIDOS” ráveis ao novo regime, recordou que havia “chei
ro de vermelhos” quando lá
esteve, O que também foi percebido por muitas
outras pessoas. Com toda a
O fim da guenna Espanha, em 1º de abril de 1939, prolongou E distinção ironia, dizia ser o primeiro a propor semelhante
tema como objeto de estudo
e a exclusão ds “vencidos”, mediante sua classificação estereotipada, por da ciência: “As ideias político-sociais têm cheir
o quando se apresentam em
meio de umagje de estigmas, marcas com as quais se distinguem os dife- grandes massas? Está nelas mesmo ou é produzido
por seu estímulo sobre as
rentes. Era o «o do uso do chapéu, de seu cuidadoso uso para manifestar coisas ou sobre algumas glândulas do corpo huma
no?” Só queria trazer, nes-
cortesia, comifirmou o escritor e jornalista Jacinto Miquelarena, em sem se artigo, os dados que tinha; em primeiro lugar,
seus aromas:
artigo “Saúdenmo cavalheiro”, publicado em 2 de maio de 1939 no de
rio madrilenhABC. O autor escreveu: “A ausência de chapéu foi, muitas O cheiro dos vermelhos não pode ser enquadrado
em nenhum dos cheiros
vezes inconscitemente, uma consequência imediata da brutalidade mar- conhecidos. É algo especial. Decomposto, se encon
traria nele o cheiro fe-
xista. Não erapático ter sobre a cabeça algo incômodo, complicado e carós roz das bestas selvagens, dos porões dos barcos,
onde viajavam os emigra-
assim, não erisado.” Miquelarena contava a seguinte historieta esa dos, que é enjoativo e fica Preso na garganta, o cheiro
de farmácia, das moscas
durante uma krúlia em Madri, que mostra o que faziam os que não usa- gordas, o cheiro triste e úmido das gretas onde
as baratas fazem ninho, e
vam chapéu pm ser gentis: outro elemento, um elemento especial, característi
co, que, por não ter com-
4 paração, acaba sendo, naturalmente, indescritíve
l.

273
A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS REGIMES AUTORITÁRIOS — EUROPA A “CULTURA DA GUERRA DO “NOVO ESTADOS ESPANHOL.

. À - a
Toda Madti cheirava a isso, que era inconfundível: “Não se dizia: “Que ridade que intoxica as emanações vermelhas e que estará
; O E esRê cá quê sempre ligada à
cheiro é este aqui?”, pois, depois da primeira inspiração, se dizia: “Aqui há
lembrança da miséria, da infelicidade e do crime”, Concl
cheiro de vermelhos.” uía que:

Sem dúvida, o cheiro de alma putrefata, de corrupção


Um fedor com causas de índole material, física: espiritual, de senti-
mentos de carniça; mas não se conhece ainda sua química
.
Assim cheiravam as casas do povo, as reuniões da Frente
Popular, as
Em Madi, chegou-se a usar como combustível sapatos velhos e alpargatas portarias e até uma infinidade de “honradas blusas”, por
muito bem lavadas
fora de wo. À alpargata de um miliciano tem, aproximadamente, um raio que fossem, mas nunca até agora houve uma capital
populosa inteira
de fedorde 15 metros, mas, submetida a altas temperaturas, nunca se soube encharcada por essa peste.
aonde poderia chegar, porque, até que as necessidades e privações da guer- O cheiro de vermelhos é tão forte e típico que creio ser possíve
ra tenham imposto isso, ninguém jamais se atreveu a queimar esse objeto, l distin-
guir um marxista e seguir seu rastro, mesmo com um olfato
pouco apurado.
intuindoque seria algo insuportável. Também é preciso admitir que muitos O marxismo — religião de presidiários, fracassados, invejos
os, contraria-
milharesde seres que comem ervas e conservas russas influem com seu há- dos, aproveitadores, preguiçosos, de gente de covil —
tinha de cheirar as-
lito nas ondições atmosféricas. sim, precisamente: a consciência podre, que tem um cheiro pior do que o
de uma baleia morta.
Mas era priciso acrescentar alguns outros motivos para explicar seme-
Porque o marxismo, materialista, é uma doutrina intestinal é suas eclosões
Ihante cheiro :“vermelho”: a solidariedade das moscas e das baratas com o se parecem a metano.

EO Segundo Fernández Flórez, o segredo residia no fato mais conhecido e


Das primiras, especialmente, é possível afirmar que encontraram seu para- evidente: “Aqueles pobres porcos não se lavavam nunca.”
so neste três anos, a ponto de serem muito poucas — se existe alguma, Os “vermelhos”, como sua sujeira evidenciava, não passavam de ladrões é
porque a estatísticas não eram escrupulosamente rigorosas — as casas que assassinos, lembram as notícias publicadas diariamente na imprensa de Madri:
ficaram lvres dessa praga asquerosa em Madri. Se o marxismo serve para
garantir isorte de alguma comunidade, essa é a das moscas. A mosca deve Na relação de capturas da polícia apareceu frequentemente, cinicamente
ser seu aimal símbolo.
confesso, o sanguinário “amador”, que, por sua conta, sua iniciati
O qué o marxismo? Um miserável que sobe — para roubar, va e sem
para ma- ajuda, recriou em suas operações como que por deleite e multipl
tar, paraicupar um cargo que não entende — por uma escada e uma mosca icou-as 80,
q
100, 200 vezes. Aparecem também as milicianas incansáveis no extermínio,
que desc:por uma parede. Simpatizam com uma análoga tendência sangui- na promoção e na preparação dos crimes que muitas
cometiam com as
nária? Hium nexo misterioso entre os diferentes fedores? Só uma resposta próprias mãos. Os restos mortais revelam a imolação
conseguibter em minhas elucubrações: o marxismo respeit de anciãos, senhoras é
a as moscas por adolescentes, de famílias inteiras e de muitas pessoas totalm
ente alheias aos
um confso totemismo. A mosca é tabu para eles como o tigre para algumas motivos da luta social e política, aos rancores, aos ódios
e a vinganças que
tribos inigenas ou a serpente para outras, na África. possam explicar seu martírio; pessoas inofensivas por sua
idade, sua condi-
ção, por seu modo e meio de vida. Não se sabe por que foram
mortas, senão
A explicaçã era mais obscura se a intenção fosse precisar — acrescen- pelo cego capricho de matar, para que não perdessem
uma jornada sem
tou Fernándeztlórez, em seu artigo à imprensa — a origem “dessa pec aumentar o número de mortos.

nda 2/8
A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS REGIMES AUTORITÁRIOS — EUROPA A "CULTURA DA GUERRA" DO “NOVO ESTADO” ESPANHOL...

Contra os verdugos não cabia — concluiu aquele editorial do ABC; de formas de ritualização política, mais do que a identidade formal
ou social
1º de junho de 1939 — nada além de um duro castigo de incapacitação e entre esses regimes e, sobretudo, com relação ao fascismo.
morte civil, a que não escaparam sequer os culpados asilados no exterior,
além da afronta aos que tivessem colaborado fora da Espanha com aquele
“bando de criminosos”. Notas
Só em último caso a codificação adquire forma jurídica, atua vis formae,
pela força da forma, sob a aparência de norma racionalizada.*? Em relação a 1. A atenção dos historiados concentrou-se principalmente na biografi
a política de
esse outro aspecto normativo, o peso da derrota da República prolongou o Francisco Franco, especialmente nos livros de FUS LJ. P Franco,
autoritarismo y
terror por meio da sanção de um marco jurídico penal, empregando o direi» poder personal. Madri: El País, 1985 (reed. em Madri: Taurus,
1995); PAYNE,
to com fins vingitivos, para reprimir os “vencidos”, principalmente pela Lei S. G. Franco. El perfil de la Historia. Madri: Espasa; Calpe,
1992; TUSELL, J.
Franco en la Guerra Civil. Una biografia política. Barcelona:
de Responsabilidades Políticas, proclamada em 9 de fevereiro de 1939, e pela Tusquets, 1992;
PRESTON, RB Franco. “Caudillo de Esparia”. Barcelona: Grijalbo, 1994
Lei de Repressão da Maçonaria e do Comunismo, de 1º de março de 1940. (reed.
em 2002); e HODGES, G. A. Franco. Retrato psicológico de un
dictador. Madri:
Taurus, 2001. Não obstante, alguns títulos anteriores esboçaram a
imagem do
“caudilho”, como nas obras de MIGUEL, A. de. Franco, Franco,
Franco. Madri:
Ediciones 99, 1976, e GONZÁLEZ, F. Liturgias para un caudillo
(Manual de
A evidência de uma guerra civil, após os acontecimentos do golpe de Eau dictadores). Madri: Editorial Cambio 16, 1977, que trouxe um enfoque
tivo
do de 17 e 18 de julho de 1936, e sobretudo a sua continuidade, após o ao desenvolvido pelo sociólogo Amando de Miguel.
fracasso da ocupação militar de Madri pelas tropas rebeldes, nos meses se- 2. Ver essa descrição do conceito de carisma em WORSLEY, P. The
trumpet shall
guintes, fizeram com que a dimensão simbólica da violência fosse adquirin- sound. Londres: Granada Publishing, 1957.
do característicasde “cultura de guerra”.** Como havia ocorrido nos grandes 3. Sobre a noção de “teologia política”, ver o texto homônimo de ( arl
Selumitr,
publicado originalmente em alemão em
conflitos europeus, a guerra espanhola estava imbuída de uma missão dia 1922, cuja segunda edição [oi
em 1934, sendo traduzido para o espanhol na obra ii
na, reelaborando arquétipos e exaltando o próprio “espírito” como antíte- USCHMPTT, Carl,
Estudios políticos. Madri: Cultura Es 1941, pp. 33-108,
se do inimigo. Mas, ao contrário do que ocorreu com o prolongamento e o 4. À dimensão simbólica e irracio
dramatismo da Grande Guerra de 1914, foi reproduzida uma visão tradicio- Mação do

a para um fim
nal, redentora da Espanha, que considerava a política um objeto de regene- transcendente, > por meio da “nacionalização das massas”. foi destacada
pelo
ração — sobretudo, contra o liberalismo e o marxismo — mais do que corda
ç ,
historiador MOSSE, G. L. The Nationalization of the Masses. Nova
York: Fertig,
o necessário artífice revolucionário da regeneração do homem e da nação 1975. Esse pensamento foi aplicado ao caso do fascismo italiano por
GENTILE,
espanhola.* Assim, a legitimação do “novo Estado” franquista emanoi de E. Il culto del littorio. La sacralizzazione della política nelP'talia fascista.
Roma;
semelhante sentido do conflito, de sua conseguinte concepção como guertg Bari: Laterza, 1993, sem esquecer seu artigo GENTILE, E. “Fascism
as Political
total”. Em um mesmo período, de 1918 a 1945, essa experiência foi Religion”. Journal of Contemporary History, Londres, vol. 25 (1990),
pp. 229-
251. O historiador ampliou sua tese em GENTILE, E. Le religione della política.
concomitante aos movimentos e regimes fascistas na Europa, sobretudo Itália
Fra democrazie e totalitarismi. Roma; Bari: Laterza, 2001. Do mesmo modo,
e Alemanha, desde a Grande Guerra até sua derrota na Segunda Guerra
outros trabalhos insistiram em que o espetáculo público foi o veículo de expressão
Mundial. Dessa maneira, a “cultura da guerra” imbuiu essencialmente os favorito do projeto de construção da identidade fascista, como foi exposto em
valores e as ideias da cultura política de regimes dicintoniado da mesma épo- BEREZIN, M. Making the Fascist Self The Political Culture of Interwar Hal».
ca, estabelecendo suas concomitâncias e suas diferenças, assim como de suas Ithaca: Cornell University Press, 1997, A ideia de estudar o fascismo italiano

276 2214
A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS REGIMES AUTORITÁRIOS — EUROPA A "CULTURA DA GUERRA” DO “NOVO ESTADO” ESPANHOL...

como uma “sciedade do espetáculo”, entendida mais como forma “estética” da colaborações foram publicadas com o título AA.V.V.
Corona de sonetos en bonor
política do que como “sacralização”, pode ser encontrada em FsLHDe a de José Antonio Primo de Rivera, s./l., Edicio
nes Jerarquia, 1939, 28 páginas.
ZAMPONI, 5. Fascist Spectacle. The Aesthetics of Power in Mussolinis Italy. 15. RIDRUEJO, D., op. cit., P. 175. Esse observ
ou que se trata da imitação do que

Cr
Berkeley; Los Angeles: University of California Press, 1997. o havia ocorrido na França, após 1918.
S. Para uma anílise mais precisa, ver PÉREZ BOWIE, ]. A. EI léxico de la sd 16. PRIMO DE RIVERA, P, Op. cit. p. 148.
Entre 1573 e 1574, enquanto era
durante la grerra civil esparola (ensayo de descripción). Salamanca: Ediciones construído o Monastério de San Lorenzo del Escoria
l, o monarca Felipe II levou
de la Universidad de Salamanca, 1983. para lá os restos mortais de seu pai, Carlos
I, e de sua família, que foram
6. Ostermos dese decreto foram reiterados pela Ordem de 11 de julho da Secretária depositados na igreja até a conclusão das obras, em
1585, quando foram enterrados
de Guerra, pira que abrangesse todos os prédios militares, como foi publicado sob o altar principal.
no mesmo nimero do Boletín Oficial del Estado. 17. Ver o instigante livro de MOSSE, G.L. Fallen
Soldiers: Reshaping the Memory of
7. CASTRO ALARRÁN, A. de. Este es el cortejo... Héroes y mártires de la Cruzadu the World Wars. Nova York: Oxford University Press,
1990, e mais propriamente
espariola. Sahmanca: Talleres Gráficos “Cervantes”, 1938, pp. 42-43. sobre o luto e a construção da memória social,
o estudo pioneiro de WINTER, J.
SA Sites of Memory, Sites of Mouwrning. The Great
War in European Cultural History.
y ie E e, em particular, a exaltação da figura de Horst Wessel, jovem Cambridge: Cambridge University Press, 1995,
além das contribuições reunidas
militante da SA que foi assassinado, ver BAIRD, J.W. To Die for Germany. Heroes em SIVAN, E.; WINTER, J. (eds.). War and
Remembrance in the Twentieth
in the Nazi Pinteón. Bloomington; Indianápolis: Indiana University Press, 1990. Century. Cambridge: Cambridge University Press,
1999,
10. Sobre a figur de Primo de Rivera ao longo da ditadura franquista, ver GIBSON, 18. Sobre esse aspecto, relativo à guerra no Pacífic
o durante a Segunda Guerra Mundi: s
I. En busca d José Antonio. Barcelona: Planeta, 1980. . ; ver DOWER, J.W. War Without Mercy. Race and
Power in the Pacific War. Nova
11. Essa express foi usada por Dionísio Ridruejo, ex-chefe da De csação Nacional York: Pantheon Books, 1986, e sobre O longo período
da guerra fria nos Estados
de Propagant, em suas notas publicadas postumamente com o título RIDRUEJO, Unidos, ENGELHARDT, T. E/ fin de la cultura
de la Victoria. Estados Unidos, la
Dionísio. Cai unas memórias. Barcelona: Planeta, 1976, p. 174, o guerra fria y el desencanto de una generación. Barcel
ona: Paidós, 1997 (ed, «
12. Idem, p. 172. Segundo Ridruejo, esse lema possivelmente surgiu por oposição o inglês, de 1995). A moderna construção da
identidade na |
termo “presete”, usado reiteradamente para honrar os Mortos ou caídos é antissemitismo e do extermínio judeu, é analisada em
BAR! OVO.“D
próprio Prim de Rivera escreveu: “A morte é um ais de serviço. Nem mais, sm Making Victims: Germans, Jews, and the Holocaust”.
American Historical Journal,
menos. Nãot preciso, pois, adotar atitudes especiais diante dos que caem. Não Indiana, vol. 103 (agosto de 1998), pp. 771-816; BARTO
V, O. Mirrors of Destruction.
há o que fazr, exceto seguir cada qual em seu lugar, como estava o Era War, Genocide, and Modern Identity. Nova
York: Oxford University Press, 2000.
caído quandoo elevaram à condição de mártir [...] O caído, que, quando chama ii 19. LIPPMANN, W. La opinion publica. Madri: Cuadernos de Langre, 2003 (ed.
responde pormeio da voz de seus camaradas: Presente!” (“La muerte es un acto orig. em inglês de 1922), pp. 87-88.
de servicio”,FE, número 5, 1º de fevereiro de 1934). . 20. A distinção entre o “amigo” e o “inimigo”,
como uma diferenciação propriamente
13. RIDRUEJO, D., op. cit. p. 174. O mesmo Ridruejo comentava: “Em muitos política, a partir da qual foi definida a noção de “cultu
ra da guerra”, foi estabelecida
aspectos, ess: mitificação foi paralisante e converteu em meros comentaristas c pelo teórico alemão Carl Schmitt em “O concei
to do político” [1927, 1933], em
críticos os nãímuito numerosos intelectuais — e não me excluo — que o falangismo SCHMITT, Carl, op. cit., p. 111.
teve, naquele longos anos. Desencadeou uma beataria inibidóra e converteu o 21. Idem, p. 112.
personagem m alguém que talvez não tivesse sido reconhecido por ie inventores 22. Idem, p. 116.
por retornar— como se esperava — a sua estatura de digna real. e 23. Idem, pp. 122-123.
14. PRIMO DE VERA, P. Recuerdos de una vida. Madri: Ediciones Dyrsa, 1 283, p. 24. Idem, p. 126.
136. Nessas nemórias, também se recorda que a certeza da morte de seu i 25. SCHMITT, C. “Sobre la relación entre los conceptos
de guerra y enemigo” [1932].
motivou Dioísio Ridruejo, que pessoalmente se manteve próximo a | In: —.. El concepto de lo político. Texto de 1932 com
un prólogo y tres corolários.
de Rivera, aimpulsionar a ideia de fazer uma Coroa de sonetos, Às « Madri: Alianza Editorial, 1991, pp. 138-139.

27H
219
A GITRUÇÃO SOCIAL DOS REGIMES AUTORITÁRIOS — EUROPA A "CULTURA DA GUERRA" DO "NOVO ESTADO” ESPANHOL...

26. SCHMIL€, Teoria del partisano. Acotación al concepto de lo político. Madri: AUDOIN-ROUZEAU, S.; BECKER, A. “Violence et consentement: la “culture de guerre”
Institubd Estúdios Políticos, 1966 (ed. orig. em alemão de 1963), p. 127. du premier conflit mondial”, in RIOUX, J.-B; SIRINELLI, J.-F. (dirs.). Pour une
27. Idem, p 8.129. histoire culturelle. Paris: Seuil, 1997.
28. A exprsio “jogo de linguagem”, definida como o conjunto formado pela BAIRD, J.W. To Die for Germany: Heroes in the Nazi Panteón. Bloomington; Indianapolis:
linguaga e pelas ações às quais está ligada, foi adotada para a propaganda, a Indiana University Press, 1990.
partiré ieflexões feitas por WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigaciones BARTOY, O. “Defining Enemies, Making Victims: Germans, Jews, and the Holocaust”.
filosófis. Barcelona: Instituto de Investigaciones Filosóficas; Unam; Crítica, American Historical Journal, Indiana, vol. 103 (agosto de 1998), pp. 771-816.
2002 fitrig. bilingue, em alemão e inglês, de 1954), especialmente $ 7. —. Mirrors of Destruction. War, Genocide, and Modern Identity. Nova York: Oxford
29. A ideiaé que as lutas em torno das palavras, nos conflitos políticos e religiosos, University Press, 2000.
inverteu sentido fundamental é mencionada por BOURDIEU, E “Lectura, BEREZIN, M. Making the Fascist Self. The Political Culture of Interwar Italy. Ithaca:
lectoreititados, literatura” [1981]. In: ——. Cosas dichas. Barcelona: Paidós, Cornell University Press, 1997.
1996 (il trig. em francês, de 1987), p. 118. BOURDIEU, P. Cosas dichas. Barcelona: Paidós, 1996 (ed. orig. em francês, de 1987).
30. WITTENTEIN, Ludwig, op. cit. $ 23, 29 e 43. CASTRO ALBARRÁN. A. de. Este es el cortejo... Héroes y mártires de la Cruzada
31. BOURIE,P «La codificación” [1986]. In: —. Cosas dichas. Barcelona: Paidós, espafola. Salamanca: Talleres Gráficos Cervantes, 1938.
1996 (ttorig em francês, de 1987), p. 86. DOWER, J.W. War Without Mercy. Race and Power in the Pacific War. Nova York:
32 Idem, n.88.89. Pantheon Books, 1986.
33 Ibidem, 9, ENGELHARDT, T. E/ fin de la cultura de la Victoria. Estados Unidos, la guerra fria y el
34. Ver Ostitentários sobre a noção de “cultura da guerra”, em relação à Primeira desencanto de una generación. Barcelona: Paidós, 1997 (ed. orig. em inglês, de 1995).
Guerralindial na França, feitos por AUDOIN-ROUZEAU, S.; BECKER, A. FALASCA-ZAMPONI S. Fascist Spectacle. The Aesthetics of Power in Mussolini's Italy.
“Violem et consentement: la “culture de guerra” du premier copflit mondial”, Berkeley: Los Angeles, University of California Press, 1997.
in: RIQK Jp; SIRINELLI, J.-F. (dirs.). Pour une histoire culturelle. Paris: Seuil,
FUSL J.P Franco, autoritarismo y poder personal. Madri: El País, 1985 (reed. em Ma-
1997, np 252.253. dri: Taurus, 1995).
35. Ver, paro caso italiano, ISNENGUI, M. 1] mito dell Grande Guerra. Bolonha: Il GENTILE, E. “Fascism as Political Religion”. Journal of Contemporary History, Lon-
dres, vol. 25 (1990), pp. 229-251,
Mulina89 (ed, orig. de 1970); GENTILE, E. “Un'apocalisse nella modernitã. La
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*Professor de História Ibérica da Universidade de São


Paulo (USP); pesquisador do CNPq.
Autor de A bem da nação. O sindicalismo bortuguês entre
a tradição e a modernidade (1933-
1947). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, e
coorganizador com Flávio Limoncic
deA grande depressão. Rio de Janeiro: Civilização Brasileir
a, 2009, e de Os intelectuais do
antiliberalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasilei
ra, 2010.

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