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Sexualidades:
Alexandre Júnior
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Índice
Introdução___________________________________________04
Capítulo I
A existência de Deus__________________________________ 08
A imortalidade da alma_________________________________13
A reencarnação_______________________________________15
O progresso_________________________________________ 21
Capítulo II
Capítulo III
Cultura _____________________________________________ 60
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Políticas de Identidade_________________________________ 66
O Corpo Educado_____________________________________ 70
Capítulo IV
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Espiritismo, Educação, Gênero e Sexualidades:
Um diálogo com as questões sociais
Introdução
Uns podem amar e serem amados, outros precisam pedir permissão para
existir, uns podem dialogar com os Espíritos desencarnados, outros possuem a
sua espiritualidade negada, uns podem ser quem são, outros precisam
simplesmente abster-se daquilo que é.
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Construímos diálogos a partir da nossa experiência no referido movimento
e com o objetivo de poder discutir e trazer a reflexão acerca de: Como a
comunidade LGBTQIAP+ é tratada dentro dos espaços espíritas brasileiros?
Quantos sofreram e sofrem violência das mais diversas ordens? E uma pergunta
não menos importante: Como uma doutrina que tem suas bases fincadas na
espiritualidade e na espiritualização institui conceitos que julgam, estabelecem e
ditam como as pessoas devem se comportar a partir dos corpos e das
consequentes genitálias que estes corpos possuam?
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transformação social e toda a sua base é instituída em ações que facultem a
mudança interior e o bem comum.
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de que elas são passageiras, uma vez que perene é o amor. Também são
eternos, todos os sentimentos que nos aproximam dele, nos fortalecendo para
que a cada dia sejamos mais fraternos e solidários.
Essa compreensão da doutrina espírita põe por terra a existência apenas de
obsessões intermináveis, umbrais sombrios e dolorosos, como lugares
circunscritos, que se assemelham ao tão famigerado e divulgado inferno.
Reestabelece a ordem das coisas e propõe que temos sim a oportunidade de
sermos felizes, postulando que o Espiritismo, sob nenhuma circunstância,
defende o sofrimento sem fim, bem como não usa nenhum de seus princípios
como balizadores ou justificadores para o sofrimento, a desigualdade e a
injustiça social.
Tendo como referencial teórico as obras de Kardec, defenderemos a tese
que temas como gênero e sexualidades podem ser tratados a partir de uma
perspectiva Kardeciana, sem desabonar a doutrina ou retirar do seu construto a
ciência e a filosofia, muito menos as questões morais.
Basear-nos-emos na educação como um processo legítimo a qual recorre a
doutrina espírita para a sua elaboração teórica e o seu desdobramento na
prática. Apresentaremos, a perspectiva de educação utilizada para uma
compreensão ampla do que somos.
Discutiremos aqui os conceitos que formam a doutrina Espírita.
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Capítulo I
A existência de Deus
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Kardec indaga aos Espíritos, na pergunta 621 de O Livro dos Espíritos, (Kardec,
2007) “Onde está escrita a lei de Deus?”, e eles respondem: “Na consciência”.
A resposta enfatiza que essa consciência amplia no ser humano a
concepção de justiça e de igualdade, ao mesmo tempo em que apresenta a
possibilidade da conquista de si mesmo, revelando a tendência inata e o
compromisso da ascensão moral. Dessa maneira, o fato de sermos imperfeitos,
mas sermos perfectíveis, faz emergir a certeza de que não fomos criados para
sofrer, mas para progredir. Essa afirmação muda completamente o destino dos
moradores da Terra, tornando-os espíritos em evolução, transformando o
planeta em escola espiritual e os grupos sociais em salas de aulas específicas.
Essa compreensão fala mais de nós do que de Deus, pois, nos afastar de
um entendimento adequado, denuncia o grau de religião que nos invade no
exercício reflexivo sobre a deidade. Para completar a análise do quadro de
equívocos, vale ressaltar que o conceito de paternidade divina não emana da
própria doutrina, visto o que discutimos com relação a já citada pergunta. O que
nos resta é aprofundar a discussão buscando fonte original do Espiritismo e
abandonando as influências que o movimento espírita, em algum momento e de
alguma forma, tenha por ventura recebido de religiões que são mais antigas que
preponderavam e/ou preponderam.
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se de que, mais do que qualquer outra ciência, não se pode
aprendê-lo brincando. (Kardec, 2017)
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desordem para as sociedades humanas. A Religião, apelando
para o sentimento e excluindo a razão, caía muitas vezes no
fanatismo e no erro. A Ciência, procedendo em sentido contrário,
permanecia inerte e seca, impotente para regular a conduta
moral. Qual não será a superioridade de uma doutrina que vem
restabelecer o equilíbrio e a harmonia entre essas duas forças,
uni-las e imprimir-lhes um impulso uniforme para o bem?!
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A compreensão deste processo de vivência comportamental que faz com
que a nossa relação com Deus seja interligada a nossa intimidade, forjando a
consciência divina em nós e ampliando o nosso senso de responsabilidade com
o coletivo. Isso nos faz entender e viver a proposta de que o bem precisa e deve
ser comum a todos, não só a alguns ou a uma certa casta.
Nos utilizaremos de Léon Denis, no livro O Progresso, para darmos
continuidade as nossas reflexões:
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A Imortalidade da Alma
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Essa percepção muda completamente a forma de encararmos a morte, e
estabelece a certeza de não sermos apenas corpo e matéria, pois existe a
continuidade da vivência dos afetos, dos saberes, e das experiências
construídas através dos tempos, aliviando a alma cansada ao preenchê-la com
esperançar, além de facultar a maioridade espiritual, na qual assumimos a
responsabilidade por aquilo que somos, e, principalmente, pelo que queremos e
venhamos a ser.
Tal proposta abre caminho para a conclusão de que não há determinismos,
visto que criamos o nosso futuro à medida que vivemos e interagimos com o
nosso presente, a partir de uma ação social, sem esquecer que sofremos as
ações e consequências que nos são impetradas a partir de ações do estado e
dos atores que possuem o poder financeiro, político e religioso em suas mãos.
Essa compreensão da vida, estimula o discernimento humano, nos
fazendo perceber que somos seres espirituais vivendo uma transitoriedade
material e não seres materiais vivendo uma transitoriedade espiritual, estabelece
uma ideia de vida, em uma perspectiva espiritualista, como tudo aquilo que
transcende o que respira, sem perder de vista as nossas relações com o mundo
social. As ações do bem e do amor, como sendo a nossa matéria prima para a
felicidade e para a construção do bem comum. Por fim, a paz como um
sentimento interior a ser conquistado por cada um de nós.
A consciência da vida futura e da imortalidade da alma, nos provoca
motivação para a vivência da doutrina espírita como uma doutrina
comportamental, assim como justifica e valida a ação do amor como sendo a
ferramenta da qual devemos nos utilizar para alcançarmos o progresso. Vale a
pena amar! É urgente que amemos.
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A Reencarnação
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sofrimentos os Espíritos equivocados, que selaram seu futuro e viverão no
umbral.
A reencarnação tem uma ação educativa ao invés de punitivista, divina e
diametralmente oposta a demoníaca, libertadora e antagônica a qualquer tipo de
postura aprisionante. Sua ação sobre nós é de possibilidades de aprendizado,
através de sucessivas oportunidades, nas quais, vamos, por intermédio dos
embates sociais, concordando e discordando, formatando-nos como cidadãos
cósmicos, seres universais, criaturas divinas, constituindo-nos naquilo que
somos.
É dessa forma que vamos compondo as diferenças que nos formam, isto
é, a reencarnação pode ser tida como a responsável pela suscitação em nós
daquilo que nos torna diferentes uns dos outros.
Reiteramos a compreensão de que as diferenças são constituídas pela
sociedade. Os preconceitos e as violências de qualquer ordem, não são
justificadas pela reencarnação, mas sim, fomentadas a partir dela. De forma a
explicar as distinções a partir das vidas sucessivas, num processo que tem como
objetivo validar a vivência destas variedades comportamentais como
possibilidades de crescimento íntimo, e não como posturas dignas de
preconceito, bem como, a aceitação do compromisso de que os novos
aprendizados e a construção de novos saberes são fontes de motivação e
conquistas, na concepção de um ser humano crítico, e ciente das lutas contra
toda expressão de desigualdade e injustiça social.
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A Comunicabilidade dos Espíritos
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exceções, não obedece aos imperativos da ciência, com método,
experimentação e observação, invariavelmente é mística.
Discutiremos esse fato a partir da busca pela construção de uma realidade
diferente, onde o objetivo seja revisto e a forma de se estudar e praticar a
mediunidade sejam questionadas, suscitando a razão em detrimento da crença.
O reflexo desse processo e consequente prevalência do misticismo se reflete no
próprio Movimento Espírita Brasileiro Hegemônico Federativo Institucionalizado,
ao insistir na adoção de “ídolos”, que, não por coincidência, são médiuns, os
quais não podem ser questionados, visto que, supostamente, carregam a pluma
da infalibilidade e do saber pleno e total, mesmo que Kardec tenha nos advertido
em vários momentos de que esse tipo de médium inexiste.
O Espiritismo defende a imortalidade da alma e tem calçada na
comunicabilidade dos espíritos toda a sua base. Através dessa relação vai se
estabelecendo a gênese metodológica dos alicerces que originam a doutrina
espírita. Pensando nisso, Kardec nos lembra que o primeiro ponto no Espiritismo
não é a comunicabilidade dos espíritos e sim a existência da alma. Essa
concepção abre espaço para a discussão acerca da filosofia espírita, da sua
relação com o mundo dos Espíritos, instituindo a organização funcional da
mediunidade na esfera espírita.
O que temos visto é o médium ganhar status de ator principal, e a filosofia
e a ciência, enquanto experimentação e observação, assumem o papel de
coadjuvante. Esta opção é imprudente e incoerente, visto que, sem o
balizamento oferecido pela ciência e o conhecimento ofertado pela filosofia, fica
difícil avaliar a forma com que utilizamos a mediunidade. Além disso,
empobrecemos a qualidade, já que relaxamos na avaliação do fenômeno em si,
e do produto que nos é oferecido através dele. Em verdade, não são essas as
orientações dadas por Kardec quando o assunto é a relação entre nós e os
Espíritos desencarnados que nos trazem informações merecedoras de análise
crítica.
Continuamos consultando o Livro dos Médiuns, para robustecer as
nossas discussões:
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em revista, são explicados e se pode conhecê-los e
compreender a sua possibilidade, as condições em que podem
ser produzidos e os obstáculos que podem encontrar. Dessa
maneira, qualquer que seja a ordem em que as circunstâncias
nos fizeram vê-los, nada terão que possa nos surpreender. E há
ainda outra vantagem: a de evitar muitas decepções ao
experimentador. Prevenido quanto às dificuldades, pode manter-
se vigilante e poupar-se das experiências à própria custa.”
(Kardec, 2017)
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O Progresso
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A assimilação do progresso segundo o Espiritismo é perceber a justiça divina
em sua essência e em sua ação. É possível compreender que diante dessa lei,
somos todos iguais, angariando em nossa trajetória exatamente aquilo que
produzimos com a prática do amor e do bem comum. Essa verdade se
estabelece independentemente de religião, etnia, orientação sexual, gênero,
condição financeira, nível social, grau de instrução. Isto é, você não evolui
apenas se for espírita, dado que todos estão imersos nos princípios e nas leis
que juntas conspiram para que sejamos, sem exceção, seres humanizados,
irmanados e autênticos trabalhadores de uma causa comum.
Porém, uma parte significativa dos espíritas não teve acesso a este
conhecimento e estabelece condições para que os humanos se tornem melhores
do que aquilo que são em suas atuais conjunturas. O que de fato é um espanto,
já que somos todos espíritos e obedecemos aos mesmos imperativos e as
mesmas leis.
Convém lembrar que este processo não se dá de forma isolada, surge então,
que a sociedade precisa ser pensada para que os seres que aqui vivem
encontrem viabilidade no seu processo de progresso. Haja visto, as
desigualdades sociais não são ação das leis naturais, e não podemos justificá-
las através dos conceitos espíritas, cabendo ao ser humano edificar uma
sociedade mais igual e desta maneira oferecer as mesmas condições para todas,
todos e todes os moradores da Terra de conseguirem dar continuidade a sua
trajetória de ascensão espiritual.
Recorremos a Léon Denis no livro O Progresso para continuarmos os
nossos pensamentos:
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Na referida citação, fica evidente que o melhoramento, dar-se-á assim que
os seres humanos captarem as suas áreas de atuação e interação com o social.
Precisamos admitir que não haverá mundo de regeneração no futuro enquanto
o de hoje for feito de fome, violência, desigualdade, injustiça social e preconceito.
A regeneração se dará em forma de progresso dos seres com relação a Terra e
não da Terra com relação aos seres. Não acontecerá a partir de uma hecatombe.
Esse processo despenderá esforços no que tange à transformação pessoal, com
envolvimento obrigatório com as questões sociais.
Dessa forma aprenderemos através da prática do amor, como nos é ensinado
pela doutrina espírita.
O progresso dar-se-á para nós provocado pelo nosso trabalho na construção
da equidade social e não pelos desencarnados atuando como santos, trazendo
auxílios para aqueles que só pedem e não trabalham, ou que conhecem de
doação de donativos, mas não se dispõem à doação de amor e sentimentos.
Estabelecemos, assim, de que Espiritismo estamos falando, e,
principalmente, de que Espiritismo estamos partindo. Com tal pressuposto serão
viáveis as construções teóricas que se darão daqui em diante.
Uma vez que a doutrina espírita é robustecida em leis naturais, portanto não
é dada às interpretações, porém o mesmo não acontece com o movimento
espírita, que é produto da ação humana e incide em equívocos que são da sua
própria natureza.
Tendo como referencial teórico as obras de Kardec, defenderemos a tese
que temas como gênero e sexualidades podem ser tratados a partir de uma
perspectiva Kardeciana, sem desabonar a doutrina ou retirar do seu construto a
ciência e a filosofia, muito menos as questões morais.
À época, Kardec abordou de maneira muito evidente e objetiva: a igualdade
de direitos entre a mulher e o homem, reconhecendo a importância da discussão
de gênero.
O Espiritismo propõe que os amores se dão a partir daquilo que nos constitui
como espíritos, e não daquilo que nos forma enquanto matéria, corpo físico,
expressando um conceito que hoje conhecemos como orientação sexual.
Embasaremos a nossa discussão em Kardec e usaremos a educação como
um processo legítimo a qual recorre a doutrina espírita para a sua elaboração
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teórica e o seu desdobramento na prática. Apresentaremos, assim como fizemos
com os fundamentos do Espiritismo, a perspectiva de educação utilizada para
uma compreensão ampla do que somos.
Partimos da orientação, aqui já citada, de que começaremos daquilo que
somos, Espíritos imortais, preexistentes ao nosso atual momento, para
estabelecermos as discussões de forma a contemplar a nossa essência mais
espiritual, visto que não somos materialistas abordando questões de ordem
espiritual, mas espíritas discutindo questões que ultrapassam os limites da
matéria densa.
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está sendo alimentado de conhecimentos, produzidos praticamente por dois
médiuns? Praticamente um século, onde bebe-se de apenas duas fontes,
produzindo falta de criticidade sobre as suas obras. Ou seja, passamos a aceitar,
as obras em nome de quem escreve, bem como rejeitamos as obras de acordo
com quem escreve.
Pensemos no Brasil como um centro espírita, e, vejamos qual o efeito de
lermos basicamente dois médiuns. Este fenômeno foi e é reforçado pelo
Movimento Espírita Brasileiro Hegemônico Federativo Institucionalizado, quando
estabelece como princípio pedagógico/metodológico, o apostilamento do ensino
espírita. Neste formato cria-se a possibilidade de se escolher a literatura, e
montar o material pedagógico segundo a própria compreensão, ou seja, neste
caso específico, com forte influência de Jean Batista Roustaing, e das obras de
Chico Xavier e Divaldo Pereira Franco, em detrimento de obras de José
Herculano Pires e Deolindo Amorim por exemplo. Além do distanciamento do
estudo das obras consideradas básicas do espiritismo, como de toda a Revista
Espírita, o que nos faz crer, e poder dizer, que existe um espiritismo à brasileira,
como diz Sandra Jacqueline Stoll em Espiritismo à Brasileira – Edusp (Editora
da Universidade de São Paulo) 1ªedição 2003.
Estes são argumentos que nos mostram de forma construtiva, que o
Espiritismo no Brasil, possui as suas características próprias, e que se montam
a partir de uma elite intelectual, e segundo os próprios dados do IBGE – Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, uma doutrina formada, em sua esmagadora
maioria, por pessoas de classe média alta, brancas e com alto nível de
escolaridade.
As consequências foram a construção de um movimento espírita no Brasil,
que acaba por perder a sua principal característica; a criticidade, fazendo com
que a prática espírita se distancie da sua razão de existir inicial; a sociedade.
Este afastamento fica evidente quando encontramos dificuldades ainda no
século XXI de abordamos as temáticas sociais sob a ótica espírita, visto que,
algumas federativas ainda se manifestam neste sentido. Ganha contornos de
religião tradicional, quando se entende que a “evolução” se dará a partir de
práticas de “caridade” que farão com que a “reforma intima” aconteça. Porém,
não há consenso que este processo contempla o entendimento do Ser em três
perspectivas, são elas: Espiritual, material e social.
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A partir daqui sempre que falarmos de Identidade Espiritual, referiremos ao
seguinte conceito:
Robustecemos a nossa discussão no O Livro dos Médiuns, (KARDEC,2019)
“Não basta para fazer um espírita esclarecido, como a crença em Deus não basta
para fazer um teólogo”, Do ponto de vista filosófico, não é garantia de que este
Ser, compreenda-se Espírito, ver-se espírita não é ver-se Espírito.
A proximidade com o Espiritismo em sua composição filosófica não é
condição para a sua vivência, ou seja, conhecer a doutrina em sua essência não
significa, vivê-la em sua essência.
Defendemos a teoria de que seja necessário bem mais do que apenas
conhecimento, precisa-se da criação de uma identidade particular e não a
criação de uma identidade como espírita, mas, como espírito.
Entender-se espírito, relacionar-se socialmente como espírito, faz com que
todas as relações oferecidas pela epistemologia espírita, tenham significância
prática, vivencial e comportamental. Assim, viveríamos na sociedade nos
tornando um agente de transformação da mesma, tornando-nos parceiros da lei
divina, ressignificando as nossas relações com a deidade e nos fazendo viver as
leis divinas e naturais como parceiras no processo do progresso da humanidade.
Muitos poderão questionar, como criar uma identidade espiritual, se somos
“espíritos encarnados?” A Resposta é simples:
Durante a trajetória do Movimento Espírita Brasileiro Hegemônico Federativo
Institucionalizado, até os dias de hoje, as perspectivas discursivas filosóficas
espíritas, perpassam os conceitos de vida e de morte como sendo fenômenos
físicos e espirituais, criando um distanciamento das humanidades que nos
compõem, separando as perspectivas a partir de que situação estejamos
vivendo a cada momento, ou seja, ou falamos como encarnados ou como
desencarnados, (como se fôssemos dois), o que acaba validando o apego de
uma parte muito significativa do movimento espírita apenas a literatura
“mediúnica”, e uma tentativa de silenciamento e invisibilização a autores e
autoras “vivos e vivas”, “encarnados e encarnadas ”, “pesquisadores e
pesquisadoras”, como José Herculano Pires, Deolindo Amorim, Dora Incontri,
Wilson Garcia, Célia Arribas, Ana Cláudia Laurindo e Sergio Aleixo por exemplo.
Não somos dois espíritos, um em cada situação, somos espíritos, e enquanto
tal, vivenciamos várias experiências, inclusive a da vida na matéria.
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O que aqui defendemos é a necessidade de vivermos em nossas práticas
cotidianas aquilo que o Espiritismo estabelece em suas premissas básicas,
construirmos uma forma de interação social, onde os conceitos de
espiritualidade sejam levados em consideração na construção das nossas
relações e não apenas quando estivermos sendo “espíritas”, dentro de nossos
centros espíritas e ou nos espaços destinados às “pregações” do cotidiano da
vivência desta aparente “ doutrina religiosa”, ou quando “ascendermos ao mundo
espiritual.”
Perceberíamos assim a relação de igualdade, por exemplo, instituída pela
vivência de uma Identidade espiritual, que estabelecesse na forma de interação
social as percepções que só o espírito que acredita na imortalidade da alma vive,
levando em consideração a atual encarnação, ligada ao princípio de
reencarnação e principalmente, com plena convicção de que esta forma de viver
lhe faz criar uma identidade, faculta que este ser espiritual se Identifique espírito,
independente em que momento experiencial ele esteja e valide as suas ações a
partir destas vivencias comportamentais.
Precisamos levar em consideração, que a Identidade espiritual, não invalida
as lutas identitárias, une-se a elas, pois compreende que é na matéria que se dá
a necessidade de viver-se as realidades sociais que formam cada povo. O
Espiritismo nos amplia esta possibilidade, fazendo com que as realidades sejam
compreendidas de acordo com a vivência material, e conceitos como identidade,
cultura, e corpo, por exemplo, enriquecem a discussão, por entendermos que
enquanto seres espirituais, obedecemos a imperativos físicos e sociais na
formatação das nossas diferenças enquanto seres humanos.
O Espiritismo, nos oferece recursos, para a compreensão dos fenômenos
que sem a sua visão espiritualista, reencarnacionista e imortalista, seriam
restritos ao imperativo da matéria. A reencarnação, a vida após a morte, tornam
factual a luta, e, amplificam a possiblidade real da construção de um mundo feito
de igualdade e justiça social, onde não haja o domínio do forte sobre o fraco, do
rico sobro o pobre, do homem sobre a mulher, do branco sobre o negro e povos
originários, do hetero sobre o LGBTQIAP+, ou do espírita sobre o Umbandista
ou o candomblecista.
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Kardec, sabia disso, fala nisso, mas por ser um homem de ciência e a
discussão de identidade não ser um debate para o século XIX, não pôde ele,
tratar nominalmente do assunto.
Fica evidente por exemplo, no primeiro capítulo do Livro dos Médiuns, Há
Espíritos Ou Existem Espíritos? Ele indaga, e esclarece que a doutrina é para
quem acredita nos espíritos, criou-se uma percepção, e defendo aqui a ideia do
Movimento Espírita Brasileiro Hegemônico Federativo Institucionalizado como
uma das causas, e a inserção cada vez maior da literatura mediúnica em
detrimento da discussão da filosofia social espírita como causa, do fato da
compreensão deste: Existem espíritos? Ou do Há espíritos? Apenas como uma
prova de que estes espíritos se comunicam, e não que somos espíritos, e que
como tal, devemos viver mesmo que encarnados, como encarnados e fazendo
parte da sociedade, isso acarretaria como nos diz Deolindo Amorim, na produção
de um movimento espírita, formador de espíritas, que interagem, propõem e
interferem nas questões sociais.
Apresentamos desta maneira, entre outras, três características marcantes
deste movimento espírita brasileiro, que são elas: o materialismo, o
conservadorismo e a contemplação.
O materialismo é ratificado, pela não vivência da identidade espiritual, a visão
do Espiritismo como religião tradicional favoreceu a uma ideia de que os
ambientes espíritas estivessem imunes das realidades sociais, o que não é, sob
nenhuma circunstância verdade. Os espaços sociais, sejam eles quais forem,
serão sempre reflexo daquilo que é a sociedade, e não o contrário, ou seja, se o
racismo é estrutural, se há a LGBTQIAP+fóbia, esta realidade é vivenciada por
toda a sociedade, os espaços espíritas, não estariam e não estão, imunes a esta
realidade social, precisamos entender por exemplo, que o Brasil nos dias atuais
é o quinto país em números de feminicídio do mundo e o país que mais mata a
comunidade LGBTQIAP+ do mundo.
O movimento espírita brasileiro é materialista, quando valida os
preconceitos, não luta contra eles de forma orgânica, e não tem, por exemplo,
uma campanha “oficial” contra os preconceitos. É materialista quando institui em
suas relações sociais internas e externas o processo de hierarquização dos
corpos, no seu “modus operandis”, falamos de um país onde estão
estabelecidas, uma das maiores desigualdades sociais do nosso planeta; este
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comportamento materialista, faz com que perguntemos, dentro do Movimento
Espírita Brasileiro Hegemônico Federativo Institucionalizado onde estão: Os
corpos Negros? Onde estão os corpos indígenas? Qual a importância dos corpos
femininos? Onde estão os corpos homossexuais? Onde estão os corpos
transexuais? Etc...
Estas indagações nos levam às perspectivas que nos encaminham a
nossa próxima reflexão, este referido movimento é “contemplativo”. Esta
afirmativa se dá com base na maneira equivocada de como a ideia da
reencarnação, da vida futura, da causa e efeito e de como interagimos enquanto
espíritos desencarnados com o mundo social espírita.
A prática da invisibilização das temáticas sociais é validada pela ação do
conservadorismo extremo que forma o Movimento Espírita Brasileiro
Hegemônico Federativo Institucionalizado, desta maneira, as pautas por eles
defendidas afastam qualquer possibilidade de diálogo com as minorias sociais,
ficando relegado ao seu papel prático apenas a assistência seja ela material ou
espiritual, instituindo inclusive quais corpos possuem direitos e quais corpos não
possuem direito de praticar este espiritismo dentro dos ambientes espíritas.
Respaldados e dando mais atenção à interpretações de literaturas
mediúnicas, sem a compreensão de que as realidades ali estabelecidas
contemplam o ponto de vista de um espírito desencarnado, a sua vivência, as
experiências adquiridas por ele em sua trajetória no mundo espiritual, passamos
a acreditar em um mundo espiritual, feito de “colônias espirituais” que nos
lembram o céu, e os umbrais que nos lembram o inferno, e para isso fazemos
vistas grossas ao que diz o Espiritismo, sobre céu e inferno serem estado de
consciência.
Vive-se então a cultura que se cria, a partir, destas literaturas, que estes
mundos das “colônias espirituais”, serão vividos a partir de comportamentos
individualistas de uma caridade sem envolvimento social, alheia de empatia e
que basta eu dar minha cota de caridade, efusivamente confundida com
assistencialismo, e completa de ações que têm como objetivo, manter a nossa
consciência tranquila de que fizemos a nossa parte, e desta maneira iremos
desfrutar deste mundo espiritual de belos jardins e ainda mais encantamento.
A contemplação é vivenciada pela simples ideia de que basta a caridade
e a oração sem prática de envolvimento com as questões sociais, esta ação,
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individual que beira o egoísmo, faz com que seus seguidores acreditem, na tão
necessária ainda para o nosso país, ação assistencialista, mas critiquem,
discordem e apoiem governos que são contra políticas públicas de assistência e
promoção social.
Assim sendo, criou-se uma cultura que basta fazer a caridade, mesmo
que sem empatia e envolvimento social, que produziremos a ‘reforma íntima”,
este íntima é confundida com “sozinho”, e tudo será resolvido e um lugarzinho
será me ofertado em meu desencarne, mesmo que este comportamento seja
diametralmente diferente do que nos estabelece toda a terceira parte de O Livro
dos Espíritos. Neste caso, pelo medo de discutir a política, estamos enquanto
movimento, produzindo políticas de isolamento e distanciamento social, que
validam as práticas de injustiça e desigualdade social, num país em que todas
as ações de inclusão e vivência da diversidade faz toda a diferença.
Lembremos o que nos diz o saudoso Paulo Freire: “Não existe
neutralidade, existem ideologias, inclusivas, ou excludentes, qual é a sua?”
A Educação nos apresenta o Espiritismo como uma filosofia
comportamental e não apenas como uma doutrina contemplativa, conservadora
e materialista. Entendemos também que o Espiritismo tal qual nos ofertou a
parceria entre Kardec e os espíritos que com ele interagiram, está totalmente
munido de competências para que possamos como nos diz Herculano Pires,
através da educação Espírita, instituirmos o reino de Deus na terra.
A discussão sobre a educação se dará sob a perspectiva Espírita, levando
em consideração e como ponto de partida, a nossa existência espiritual.
Mostraremos também que não há embasamento teórico espírita que
respalde o machismo, sexismo, LGBTQIAP+fóbia, misoginia, racismo, racismo
religioso, fome, desemprego, violência, desigualdades e injustiças sociais de
qualquer ordem.
Continuaremos, a partir daqui, falando sobre educação.
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Capítulo II
Educação Espírita Como Prática Para a Liberdade
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Vendo o Espiritismo numa perspectiva educativa e pedagógica,
chegamos à conclusão de que não estamos na dimensão material apenas
passando férias.
Kardec em seu livro, O Livro dos Espíritos, nos elucida e convida a pensar:
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Dando prosseguimento as nossas elucubrações, convidamos a autora
Dora Incontri, com seu livro, A Educação Segundo o Espiritismo, para podermos
consubstanciar a nossa escrita:
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Assim, este modelo suscitado pela educação espírita tem por fim viabilizar
as conquistas, equipar os sujeitos para que possam dar conta de suas próprias
vidas e demandas, estimulando a busca pela perfeição num processo de
despertar de consciência.
Desta maneira, buscando fortalecer nosso pensamento nos valemos de
(Lionço e Diniz, 2009), no livro, Homofobia e Educação: Um Desafio ao Silêncio,
quando fazem o seguinte comentário: “A educação é uma ferramenta política
emancipatória, que deve superar processos discriminatórios socialmente
instaurados, a fim de transformar a realidade pela reafirmação da ética
democrática”. Descriminalizar a política também é um dever da educação
espírita. Tratar a vida democrática e o acesso às políticas públicas de Educação,
Saúde, Moradia, Segurança, Alimentação, Cultura e Lazer também são
responsabilidade do Estado e devem ser contempladas pela ação da educação,
principalmente quando esses direitos são negados a uma parte maciça da
sociedade.
Pensando nesta necessidade de desmistificar a discussão política, e
ratificarmos a ideia de que sem a produção e consequente aplicação destas
mesmas políticas públicas, não haverá mundo de regeneração, recorremos a
autora Alagoana Ana Cláudia Laurindo em seu livro, Deus e Política: O Enredo
da Morte no Brasil, (Laurindo, 2021), “Para refazer o caminho precisamos
retomar o aprendizado negado. Ou teremos um país politizado ou seremos um
povo inteiro enterrado. Nunca foi pecado sempre foi política! Eis a única
revelação não lida”.
Quando trazemos está pertinente colocação trazida pela referida autora,
explicitamos a ideia de que uma educação descentrada da ação política social,
não ajuda a formar os sujeitos críticos e livres pensadores. Faz-nos crer, que a
ação no mundo social que foi impetrada para o povo como “pecado”, “obsessão”
na realidade sempre foram formas de opressão e políticas de manutenção de
status quo.
Esconder, não discutir e ou ignorar os conflitos sociais não faz com que
eles deixem de existir. Criar uma bolha de alienação não nos torna melhores,
nos ancoramos no que diz o celebre escritor brasileiro, (Amorim, 1991), em seu
livro, O Espiritismo e os Problemas Humanos, “Somos ainda deste mundo,
pertencemos à sociedade, temos compromissos na Terra e, por isso mesmo,
35
não podemos fugir às contingências do meio cósmico e do meio social.”
Precisamos, então, de uma Pedagogia Espírita que nos veja espíritos, que nos
entenda espíritos, mas que em sua diagnose para a atuação no meio social
perceba e opere com a nossa valência de espíritos encarnados, equipando-nos
de recursos para bem vivermos todas as contingências que fazem parte da
constituição coletiva. Dessa maneira nos valemos da identidade espiritual
enquanto essência, mas sabemos do nosso compromisso de estarmos atentos
às condicionalidades do mundo físico.
E continua (Amorim, 1991), “O Espiritismo tem como fim precípuo a
espiritualização do homem na sociedade.” Ou seja, o objetivo do Espiritismo é
criar uma sociedade que se ame, é tornar as pessoas autônomas, é lutar contra
as heteronomias que validam poderes.
Isso significa que a construção do reino de Deus na Terra não será
possível, sem igualdade e justiça social, sem a implantação de políticas públicas
que produzam as condições justas, que contemplem as minorias sociais, para
que cada ator envolvido na construção deste reinado, tenha chance de ter êxito
em sua “missão”, bem como, para que não se utilizem das leis de reencarnação
e de causa e efeito para validar as diferenças e tornar dóceis, os corpos que têm
direito a lutar por uma vida melhor.
Sobre isso, nos propõe Kardec, na Revista Espírita de 1868:
36
recursos pedagógicos que combatam os inimigos que deveriam ser comuns a
todos os espíritas e a suas representatividades: os preconceitos sociais, a rotina,
o fanatismo, a intolerância e a ignorância. Este raciocínio é corroborado pela fala
de (Amorim,1991): “O Espiritismo é progressista, afirma a liberdade espiritual e
não crê na subordinação do homem a qualquer determinismo absoluto”.
Perguntamos então: Se o Espiritismo é progressista, o movimento espírita
tem o mesmo perfil? Ampliando o tema para o campo da educação surge outra
pergunta que norteará a nossa discussão a partir daqui: Como pode um currículo
progressista ser trabalhado por uma metodologia liberal?
A importância dessa reflexão é pensarmos o movimento espírita a partir
do próprio Espiritismo, e não a partir das pessoas que o fazem. Ao invés de
reproduzirmos pensamentos conservadores, que são dos seres humanos e não
do Espiritismo, evitemos fazer “malabarismos filosóficos” para introduzir enxertos
na doutrina espírita.
Fica evidente a necessidade da compreensão da doutrina dos espíritos
enquanto pedagogia e filosofia moral, para que assim possamos nos manter fiéis
aos seus fundamentos e tenhamos condições de discutir as nossas práticas. Isso
deve acontecer a partir de um pressuposto filosófico espírita distanciado de
qualquer conduta personalista.
Trazemos a discussão o Professor Carlos Cipriano Luckesi, com seu livro,
Filosofa da Educação, para que possamos construir uma relação entre a
Educação e a práxis do movimento espírita:
37
reprodução dos conhecimentos e manutenção do status quo, conforme acontece
com a demonização de temas político-sociais. A “política da não política” é uma
forma disfarçada de agir politicamente.
Partindo deste pressuposto, indagamos: por que seria inadequado discutir
temáticas progressistas como as demandas LGBTQIAP+, a invisibilização das
pautas da luta antirracista, as ações de enfrentamento à violência contra a
mulher, a descriminalização do aborto? Até que ponto a metodologia utilizada
não foi e não é pensada para inviabilizar tais pautas e silenciar as vozes da
alteridade?
Esse tipo de debate deveria fundamentar uma revisão epistemológica,
tendo em vista as contradições no método de produção de conhecimento
adotado pelo mesmo movimento espírita. Historicamente ele tem servido para
validar a posição social hegemônica: heterossexual, branca, classe média.
Questionamos aqui o formato pedagógico utilizado pelo movimento
espírita para a transmissão dos seus ensinamentos. Neste conjunto de práticas
temos: as palestras públicas sem interação; os longos seminários sem
participação do público; a repetição de temas e de oradores; a ausência de
comunicadoras negras e comunicadores negros, homossexuais e ou
transexuais; a idolatria a médiuns; os livros aceitos como verdade absoluta sem
crítica, o que nos leva a crer em uma política moralizante com relação às
oportunidades de se ocupar um lugar de fala.
Todas estas constatações, que para nós são vistas como práticas
heterônomas, são fatos que nos fizeram questionar a metodologia utilizada pelo
movimento e propiciar uma discussão sobre tendências pedagógicas que
revelem a doutrina espírita como ela é em sua constituição, ou seja, que
resgatem a sua metodologia e prática originais, destacando a autonomia do ser
espiritual como consequência da sua compreensão e vivência, proporcionando
uma discussão com as demandas de nosso tempo.
Nunca é demais enfatizar que partimos do pressuposto da Pedagogia
Espírita como um processo de construção da autonomia, segundo Paulo Freire,
em seu livro, Pedagogia da Autonomia, (Freire, 2011): “a promoção da
ingenuidade para a criticidade não se dá automaticamente, uma das tarefas
precípuas da prática educativa-progressista é exatamente o desenvolvimento da
curiosidade crítica, insatisfeita, indócil.” Em consequência, a função do
38
Espiritismo é instigar, promover, despertar, acolher o sujeito crítico, no sentido
de torná-lo autônomo em suas próprias demandas. Para isso, o processo
pedagógico que envolve as práticas espíritas precisa de uma base progressista,
algo muito diferente de um arsenal de reprodução de conteúdos que visem
apenas à manutenção de uma religião institucionalizada, preocupada em manter
a hegemonia de suas ações catequéticas, antipedagógicas e anti-doutrinárias.
Não seremos autônomos se não formos motivados a esta realidade, o
Espiritismo nos ensina e nos convida a este processo de vir a ser, a partir das
experiências que nos são disponibilizadas através do dispositivo das
encarnações sucessivas, que nada possuem de punitivas, mas são verdadeiras
oportunidades de construção de saberes, e de transformação do Ser.
Mais uma vez recorremos ao livro Pedagogia Espírita, (Pires,2008),
“Educação é um ato de amor, pelo qual uma consciência formada procura elevar
uma consciência em formação.” Amorosidade e afetividade são os meios da
construção deste Ser espiritual autônomo, senhor de suas próprias emoções,
ações, pensamentos e sentimentos. A dor e o sofrimento, não são meios para a
obtenção da “evolução espiritual”, embasadas em uma “reforma íntima” egoísta
e sem envolvimento com o que acontece ao nosso redor, sem imbricamento com
as questões sociais, sem a preocupação e a prática de políticas que pensem no
bem comum. As dores e os sofrimentos são mecanismos terapêuticos e
pedagógicos com o objetivo de despertar o espírito para o verdadeiro caminho
da ascendência do Ser espiritual, que é o amor.
Com relação ao ensino, Allan Kardec é cirúrgico em seu comentário, no
O Livro Dos Médiuns:
39
terão aqui o meio e chegar mais segura e prontamente ao alvo.
(Kardec,2017)
40
É preciso que haja comunicação com a sociedade brasileira respeitando
as diversidades que a compõem dando margem a um processo de construção
de responsabilidades sociais que levem a população a se declarar e a lutar,
assumindo o papel de ser um agente de combate a toda e qualquer injustiça
social. A militância espírita não deve ser apenas assistencialista, passando a
compor capacidades de propor discussões e políticas que celebrem as
diferenças, materializando um projeto pedagógico inclusivo e progressista que
seja fiel às realidades do seu tempo.
Sendo assim, utilizaremos alguns conceitos sobre educação compilados
por Carlos Cipriano Luckesi em seu livro Filosofia da Educação, para pensarmos
e repensarmos as ações do movimento espírita a partir de uma perspectiva
educacional e pedagógica.
Apresentaremos, a princípio, três possibilidades de enquadre conceitual
procurando estabelecer uma identificação com o que é oferecido aos espíritas
em suas instituições:
1. Educação como redenção da sociedade.
2. Educação como reprodução da sociedade.
3. Educação como transformação da sociedade.
41
Educação como redenção da sociedade.
42
Redenção, supressora do debate a respeito de questões sociais, por entender
que as populações à margem da sociedade precisam se adequar ao padrão
“espírita de ser”.
Nesse universo conceitual não há proposta de acolhimento. Morre-se o
amor! Barganha-se o amor com o assistencialismo, ainda necessário, mas
ofertado sem equilíbrio e discernimento. O assistencialismo pelo
assistencialismo acaba sendo promotor desta tendência pedagógica de ação
excludente, elitista e egoísta, carente de organização ou sistematização para
intervir nesta sociedade plural.
Para que seja implantada uma proposta pedagógica adequada ao
mosaico da realidade social brasileira, o movimento federativo, deveria ajudar as
localidades na identificação do seu perfil próprio, da sua identidade regional,
territorial, social e cultural. Na sua práxis, qualquer movimento espírita, seja ele
conservador ou progressista que não respeite estas peculiaridades não sabe
acolher as diferenças, muito menos utilizar uma comunicação efetiva. Falaremos
mais sobre isso no capítulo intitulado: “O Corpo Educado as Vidas que Importam
e as Lágrimas Permitidas”, onde apresentaremos os conceitos de cultura,
identidade e corpo.
43
sua maioria criados antes do vosso, venham habitar aqui para
vos dar exemplo. (Kardec, 2007)
44
uma formulação teórica da educação nesse sentido.
Formulação, aliás, que pode levar-nos a maiores possibilidades
metodológicas na colocação filosófica do processo educacional”.
45
Educação como reprodução da sociedade.
46
“modus operandi” único, elaborado há mais de um século. Nesse esquema
existem ferramentas pedagógicas usadas para “formar e modelar” espíritos
enquadrados em um determinado sistema, o fim deste processo pode ser o
surgimento de seres acríticos, incapazes de expressarem um padrão de conduta
alheio a toda e qualquer realidade social não hegemônica.
O filósofo francês Michel Foucault, em seu livro, A Ordem do Discurso,
adverte:
47
é a escola que institui a sociedade, mas, é o contrário, a sociedade que institui a
escola para o seu serviço.”
O processo de reprodução não leva em conta as demandas de ordem
íntima, não usa a educação para transformar as pessoas de acordo com as
expectativas e subjetividades do sujeito. Em sentido oposto, tem como fim trazer
os sujeitos até uma perspectiva defendida em suas bases, o que é antagônico à
proposta autônoma, libertária e libertadora do Espiritismo.
Ações como o apostilamento do conhecimento espírita, a invisibilização
de autores como José Herculano Pires, Deolindo Amorim, Humberto Mariotti, o
investimento maciço em obras psicografadas – onde algumas explanam uma
vida de contemplação e “caridade” na terra para viver a verdadeira vida nas
colônias espirituais. Eventos caros - com temas e expositores repetidos, com
foco apenas no aspecto religioso da doutrina. Ocultação e exclusão das
temáticas sociais e das minorias sociais. São ações seletivas que reproduzem
conceitos e buscam a adesão dos que estão no mesmo plano ideológico. Estas
ações reforçam um caráter heterônomo, ignorando o Espiritismo como uma
filosofia que tem como fim educar os espíritos para a construção do reino de
Deus na Terra, já que se trata de uma filosofia comportamental, performática e
não contemplativa.
Desta maneira, percebemos, que do ponto de vista educacional e
metodológico, o movimento espírita precisa romper a bolha dos velhos
paradigmas para atuar na construção de um Ser espiritual que cumpra sua
função de agente transformador da sociedade, em um processo de metamorfose
coletiva comprometido com o bem comum. Somente assim, poderíamos viver a
ideia da formação de uma sociedade que se ame, tendo a doutrina dos espíritos
como fonte inspiradora deste processo pedagógico.
48
Educação como transformação da sociedade.
49
Nos embasamos no que diz Allan Kardec, no O Livro Dos Médiuns:
50
outros, sem contemplação e com ações práticas, o Reino de Deus se
estabelecerá a partir de nós.
51
Porém, não podemos deixar de observar, que a tendência pedagógica
escolhida contempla o sistema opressor capitalista e a ideologia que a classe
dominante identifica como sua. Usando uma pedagogia da reprodução dos
conteúdos, que tem como objetivo ratificar o poder da classe que chamamos de
hegemônica, de forma, que a luta de classe é vivenciada dentro dos espaços
espíritas.
Este movimento em sua hegemonia, detêm o poder, este poder que
envolve o conhecimento, determina a quantidade de seguidores, luta pela
perpetuação do formato e consequente manutenção do status quo. A educação
se torna escrava dos que escravizam, escravizam mentes, monopolizam e
distorcem conhecimentos, e fazem com que o Espiritismo seja heterônomo e não
produza mentes livres, e autônomas.
Percebemos este fenômeno social e o quanto está distante da proposta
Kardeciana, sobre isso, recorremos a Allan Kardec, na Revista Espírita de 1867:
53
comprometidos com esta verdade, compreendem e defendem o Espiritismo em
uma perspectiva progressista, destacaremos aqui alguns destes pensadores,
Kardec, Léon Dennis, José Herculano Pires, Mariotti, Deolindo Morim, Sérgio
Aleixo, Wilson Garcia, Dora Incontri, Ana Cláudia Laurindo, Célia Arribas, Sinuê
Miguel..
Percebemos uma peculiaridade entre estas escritoras e estes escritores,
eles prezam por suas autonomias criativas e por serem livres pensadores. O
simples fato de serem invisibilizados, pelo Movimento Espírita Brasileiro
Hegemônico Federativo Institucionalizado, mostra que o Sistema Capitalista
também atua na intimidade deste “Movimento Espírita”.
Assim como meritocracia em um país sem igualdade e justiça social é
uma falácia, um sistema educacional progressista em um regime político
capitalista também é. Desta maneira, percebemos que as suas produções são
estabelecidas a partir do capitalismo e distanciamento das questões sociais.
Chamamos de capitalista, pois, há uma visível máquina financeira por trás
da institucionalização do Espiritismo no Brasil, a venda de livros, seminários
caríssimos, e vale salientar que quando cobramos e operacionalizamos os
preços dos eventos espíritas, estamos sim, fazendo política, e política de classe,
política capitalista e dizendo quem pode e quem não pode participar, fazemos
uma seleção prévia a partir do capital. Se assim não fosse, e a perspectiva fosse
de facilitar e viabilizar o conhecimento espírita, não daríamos apenas pão, sopa
e cestas básicas, tornaríamos a literatura espiritista, mais acessível às camadas
menos favorecidas da sociedade.
Este fenômeno é de fácil compreensão, embora sob o risco de nos
tornarmos ainda mais repetitivos, achamos pertinente a suscitação desta
discussão. As elaborações discursivas possuem a sua gênese a partir do poder,
do conhecimento dentro das especificidades permitidas e da hierarquização dos
corpos. O poder que se institui de forma verticalizada e que se cumpre sem
questionamentos. O conhecimento que é estabelecido a partir de literaturas
mediúnicas que também não são questionadas, construídas por médiuns
inquestionáveis. E as relações destes poderes se tocam quando se institui a
validação dos corpos que podem ou não podem fazer parte deste sistema.
Nota-se que estas concepções de corpos válidos são instituídas
exatamente pelo sistema capitalista vigente, daí não vermos ou vermos poucos
54
corpos negros, corpos femininos e corpos LGBTQIAP+ com protagonismos.
Voltaremos a falar sobre os corpos em nosso próximo capítulo; O Corpo
Educado: as Vidas que Importam e as Lágrimas Permitidas.
Falaremos um pouco das consequências desta forma de se fazer
Espiritismo.
Quando questionamos o formato pedagógico que utilizamos para a
prática diária de nossas instituições espíritas, é por entendermos que toda
prática pedagógica implica uma ação e toda ação, implica uma reação.
Com a utilização de uma pedagogia liberal, e consequente reprodução
dos conteúdos, percebemos quanto o movimento espírita brasileiro se distanciou
de Kardec. A ideia da reencarnação e da causa e efeito como ações validadoras
dos preconceitos é um exemplo, mas acreditamos que o que marca ainda mais,
é a utilização dos conceitos umbral, obsessor e obsessões, que juntas criam a
pedagogia do medo, da culpa, e incide sobre os seus adeptos um processo de
educação pelo medo, pelo temor, desvirtuando muitas vezes a própria
epistemologia espírita.
Soma-se a isso, uma proposta de “reforma íntima” que de tão íntima
chega a ser egoísta, cria a ideia de conquista do seu espaço nas esferas
celestes, pensamento egoísta porque, uma vez conquistado este status celestial
vivido nas colônias espirituais, os outros, os retardatários da evolução, “os
mendigos de estimação”, os que não conseguiram “crescer” que deem conta
de suas demandas, é a verdadeira ideia do cada um por si, como se fosse
possível existir mundo de regeneração sem igualdade e justiça social.
Não é possível a formação deste Mundo de regeneração e nestas
condições, enquanto houver desigualdade e injustiça social, simplesmente por
não desfrutarmos das mesmas condições sociais para as nossas realizações
pessoais. Enquanto uns nascem com todas as condições favoráveis como
educação, saúde, moradia, lazer, segurança, direitos que deveriam ser de todas
de todos e de todes, outros nascem em condição de miséria. Não há justiça, em
uma justiça que determinasse o bem-estar espiritual de ambos a partir das
mesmas conquistas ou dos mesmos insucessos. Daí a necessidade de um
Espiritismo e uma espiritualidade engajada com as lutas sociais, progressista em
sua gênese, para darmos ampla condição de sucesso em nossas oportunidades
encarnatórias, lembrando que não nascemos para dar errado, ou não estamos
55
encarnados apenas para sofrermos, mas precisamos de uma realidade social
que nos ajude a vencer as nossas más inclinações e não as potencialize.
A Educação Espírita, tem como objetivo a espiritualização do ser humano
na Terra, a formação de um espírito autônomo, senhor de suas próprias
emoções e ações, este processo é de vir a ser, e para que se venha a ser, é
necessário a liberdade da prática, nem todas as tentativas na busca de ser e
viver aquilo que se é, alcançarão êxito. A confiança de que esse processo é
educativo e não punitivo, que o objetivo é o aprendizado e não a culpabilização,
desta forma, o Espiritismo colabora na estruturação do Ser espiritual interligando
a sua relação com o mundo social no qual ele está inserido.
Ratifica-se assim a necessidade do Espiritismo como um processo
educativo progressista, revisar e ressignificar conceitos que nos aproximem da
dor como a fonte da transformação do ser humano, e subalternizam a pedagogia
do amor, é urgente e capital para a formação de uma sociedade mais justa e
mais igual.
Concluímos que não será um cataclisma que mudará a ação das pessoas
no mundo que fazem parte, não será uma hecatombe geológica que
transformará a sociedade, ou desencadeará a transição da Terra em um Mundo
de regeneração. A educação amorosa é capaz de promover a transformação
social, assim como nos diz (Pires, 2008): “Só o amor educa, só a ternura faz as
almas crescerem no bem.” Eis a Pedagogia que liberta e constrói e está
diretamente ligada à essência do Espiritismo e em Jesus de Nazaré.
A pedagogia do amor, não estabelece relação com o materialismo e com
o capitalismo, não se guia pelo capital, e não se fortalece fragilizando e
extinguindo corpos, em detrimentos de outros. É espiritualista, entende a fundo
o conceito de reencarnação, como a ação do próprio amor em forma de
oportunidade de aprendizados, que são constantes, e ininterruptos, e que
contemplam a todos os espíritos indistintamente de condição de progresso, ou,
em que plano da espiritualidade se encontre. A Pedagogia do Amor, não
estabelece a dor, o sofrimento, o medo e a culpa como fontes redentoras do
espírito, mas abraça aos espíritos que sofrem, não há ideologia na pedagogia do
amor, na pedagogia do amor, que é uma ação progressista em seu próprio devir,
que suscita o vir a ser a partir da prática e da oportunidade.
A ideologia da pedagogia do amor é amar!
56
A importância da educação na construção dos nossos diálogos com
gênero e sexualidades a partir de uma perspectiva espírita, espiritualista,
imortalista, reencarnacionista, conhecer alguns conceitos é importante para a
construção desta narrativa, portanto a partir daqui trabalharemos a temática: O
Corpo Educado: As Vidas que Importam e as Lágrimas Permitidas.
Capítulo III
O Corpo Educado: As Vidas que Importam e as Lágrimas Permitidas.
57
de discutirmos conceitos sociais que nos permitam conhecer o nosso povo, e
criar proposições e medidas que colaborem para o bem comum.
O Espiritismo não está alheio a esta realidade, e como diz (Kardec ,2017),
em O Livro dos Médiuns, “O Espiritismo, se relaciona com todos os problemas
da humanidade.”
58
falaremos um pouco sobre eles, que são minorias sociais, cultura, identidade e
corpo.
59
A identidade Cultural
60
Como oferecer uma proposta pedagógica, sem identificar a realidade
sociocultural de quem estamos dialogando? Conhecer a realidade estabelece a
prática. A forma de fazermos espiritismo no Brasil ainda é colonial, ou seja,
determina os seus hábitos, costumes, princípios, técnicas, filosofia, sendo assim,
cria e estipula uma cultura própria, que não se institui no sentido educativo do
termo.
61
políticas públicas e a direitos estabelecidos. Embora a categoria mulher seja
maioria com relação a quantidade de homens na sociedade brasileira, elas
pertencem às minorias sociais, embora a categoria pessoas pretas, sejam
maioria no quantitativo da realidade brasileira, fazem parte das minorias sociais
e possuem menos acesso a direitos e políticas públicas, assim como a categoria
LGBTQIAP+ possuem menos direitos e menos acessos a políticas públicas.
62
espíritas, se coloca a favor do “assistencialismo caridoso espírita”, mas são
terminantemente contra qualquer política pública de distribuição de renda,
erradicação da fome, da miséria, e que promova a dignidade humana.
Esta fala de Edgar Morin nos faz resgatar a discussão sobre cultura, e
alerta para a ideia de não existir apenas uma cultura, mas a pergunta que nos
invade é: Como surgem as culturas Hegemônicas? Aproveitemos esta
discussão para falarmos das várias culturas que formam a cultura brasileira, em
sua pluralidade, e também para compreendermos que seria muita ingenuidade
imaginarmos que as composições da cultura da supremacia, não se refletisse
nos ambientes espíritas.
63
mais são do que lugares de reprodução das culturas, escolas, centros espíritas,
igrejas e templos, sofrem a ação do Ser espiritual nas suas práticas!
O que torna a cultura plural, e faz surgir a partir das minorias sociais, uma
cultura de resistência ao processo colonizador que impõe a Necropolítica e dita
as vidas que importam e as lágrimas que precisam ser amparadas pelo Estado
e as que não são permitidas.
64
do século XIX para cá, fazendo com que possamos compreender o fenômeno
ultraconservador que demarca as literaturas e a estrutura do Espiritismo em
terras brasileiras.
65
Políticas de Identidades
66
Daí surgem os estereótipos, e muitos que não fazem parte das definições
que o sistema institui como sendo ação reguladora da cultura hegemônica,
encontram na busca dos seus pares, o único caminho para a existência de suas
intimidades e a manutenção de suas subjetividades. É quando existir passa a
ser uma questão de resistência!
67
As identidades, plurais, Interculturais e multiculturais, são a forma de
romper com as hierarquias sociais, e enquanto espírito, ter a oportunidade de
ser talhado pela diversidade que nos contempla enquanto essência, e mesmo
assim poder fazer parte do mundo social a nossa volta, não sermos vistos como
páreas, não sermos excluídos, invisibilizados, violentados e mortos. Como
Kardec apresenta, é pelo contato social!
68
a reencarnação fomenta as diferenças que nos constituem enquanto seres
espirituais.
Negar está diversidade é negar o próprio Inter existir. Tolher as
expressões identitárias, é tolher as subjetividades, é limitar o espírito em suas
práticas vivenciais, comportamentais. É aniquilar a liberdade que o Espiritismo
defende.
Esta autonomia como processo de vir a ser, é contemplada pela certeza,
que a reencarnação é um processo educativo, e que as possibilidades de
aprendizados são ofertadas de maneira que tenhamos o direito de sermos quem
verdadeiramente somos, isto significa não temer a ação prática do viver,
entendendo o processo da existência como pedagógico e não punitivo.
O Ser espiritual que não concebe a sua ação no mundo, as constantes
relações entre as culturas, que não consegue perceber a sua imersão neste
universo de pluralidades, que não enxerga as lutas de classe que se dão nestas
relações, é fruto das impressões que a cultura predominante exprime sobre ele.
Não há como desassociar a política, o capitalismo, a globalização das
relações entre os Seres, precisamos lembrar, que quando fazemos parte da
parcela que não sofre as opressões, fica mais fácil entender que elas não
existem.
Bauman, em seu livro Identidade, colabora com as interações que
estamos desenvolvendo:
69
Refletimos sobre o processo de progresso da humanidade, e de sujeição
do espírito encarnado a imperativos que são estabelecidos como regras, onde
este Ser precisa ser obediente, mesmo que as bases que componham estas
regras sejam diametralmente opostas ao que verdadeiramente é este Ser.
É assim que funciona o Brasil dos brancos, dos héteros, dos machos, dos
conservadores, e dos “homens de bem”.
Não pensemos que os ambientes religiosos estão livres desta realidade
materialista que não leva em consideração a essência do que se é, para impetrar
opressões e assim se tenha do outro o que se deseja que ele seja.
Oxalá o Movimento Espírita Brasileiro Hegemônico Federativo
Institucionalizado estivesse livre destas opressões, mas bem sabemos que os
espaços sociais são reflexos destes povos que formam as culturas, que validam,
e condenam as identidades, reproduzem a Necropolítica, matam e adoecem os
corpos que “ousam” transgredir a “norma”.
Falaremos sobre os corpos que formam as culturas e estas identidades e
de como eles se relacionam nestas tensões sociais, e do quanto as normas os
cobram para que sejam simplesmente aquilo que as convenções sociais os
permitem ser, lembramos que em nossas pesquisas não encontramos respaldo
Kardeciano para a validação das já referidas opressões.
70
O Corpo Educado
71
Assim o corpo que este espírito ocupa, tem papel preponderante nas
relações que se estabelece na construção de quem ele é!
Para fomentar as nossas relações com a temática, trazemos a
participação da Professora Guacira Lopes Louro e seu livro, O Corpo Educado:
72
Assim como nos revela e Filósofa Estadunidense, (Butler, 2019), em seu
livro, Quadros de Guerra, Quando a Vida é Passível de Luto, “Assim há “sujeitos”
que não são exatamente reconhecíveis como sujeitos e há “vidas” que
dificilmente – ou, melhor dizendo, nunca – são reconhecidas como vidas.”
Percebemos o quanto é importante estabelecermos este diálogo e as reflexões
que dele emanam.
As relações identitárias são ignoradas pelo Movimento Espírita Brasileiro
Hegemônico Federativo Institucionalizado, porque, em nenhum momento este
mesmo movimento, fez ou faz alguma reflexão sobre as minorias sociais, sobre
os corpos sem casas, sem segurança, sem saúde, sem educação, sem
esperança de esperançar, sem vida. Se especializou no assistencialismo,
desvirtuou a compreensão sobre a “caridade”, e faz qualquer “malabarismo
filosófico”, para não discutir sobre estes corpos, e todos os esforços oriundos
destes mesmos malabarismos para mantê-los, dóceis, subalternizados,
necessitados, sem direitos, de preferência fora de seus ambientes, ou
subjugados, na condição de atendidos dos trabalhos assistencialistas.
Destacamos aqui os corpos pobres, sem acesso a direitos constitucionais,
e sob a orientação de que: “Centro espírita não é lugar para se falar de política”,
não entendendo que não falar de política é fazer política, não vendemos o céu,
vendemos a ilusão das casas com enormes jardins, nas “colônias espirituais”,
nos disseram e dizem até hoje, que basta que façamos a nossa parte,
produziram uma “reforma íntima” que de tão ‘íntima”, é egoísta, não se preocupa
com o bem comum, e com bem-estar social.
Precisamos conversar agora sobre outros corpos, bom que se diga, que
o mesmo corpo pode em nome da cultura hegemônica, ocupar vários espaços
de subalternização, violência e silenciamento.
Falamos dos corpos negros, dos povos originários, LGBTQIAP+, os
corpos mulheres, os corpos periféricos, os corpos crianças e os corpos idosos,
quando se nasce em um país extremamente violento para estes corpos, nascer
mulher, mulher negra, negro, LGBTQIAP+, ou indígena, é simplesmente nascer
sob risco de morte.
Expressamos que o Movimento Espírita Brasileiro Hegemônico
Federativo Institucionalizado é materialista na sua essência funcional, na sua
práxis, julgam a partir dos corpos, estabelecem o espaço que os corpos possuem
73
na prática institucional, sem levar em consideração, quem são estes espíritos.
Pode ser competente, inteligente, bondoso, mas se este corpo for LGBTQIAP+
não pode ministrar passes, palestras, cursos, participar de mediúnica,
“Evangelização Infantil”, (Entendemos Educação Infanto-Juvenil), se for mulher
os espaços do centro espírita são hostis, se for negro precisa ter uma condição
financeira privilegiada, caso contrário este corpo só tem valor para recebimento
das ações assistencialistas da casa, ou seja, este corpo é um corpo assistido e
não um corpo atuante da instituição.
Sabemos que há espaços onde esta não é a realidade, se não é,
maravilhoso, nos preocupemos, onde existe estes espaços, lembro que falamos
anteriormente, quando não fazemos parte de determinadas realidades sociais
que marcam corpos, e ferem intimidades, é fácil dizer que: “Não existe.” “Não
vejo isso”. “Estamos todos no mesmo barco”. “Somos todos irmãos”. “O Espírito
não tem sexo”. Estas frases na realidade, possuem o objetivo de escamotear as
realidades sociais, e de validar o status quo.
São estas mesmas frases que levam muitas pessoas a banalizarem e
minimizarem dores íntimas. São estas frases que justificam o aumento
exponencial do conservadorismo no Brasil, é este conservadorismo capitalista e
globalizado, que determina valor do corpo e produz o que (Bauman, 2004), em
seu livro, Identidade, chama de: “Lixo Humano”, ou para ser mais preciso,
“pessoas rejeitadas” – pessoas não mais necessárias ao perfeito funcionamento
do ciclo econômico, e, portanto, de acomodação impossível numa estrutura
social compatível com a economia capitalista”.
As “minorias” não se “acomodam” na estrutura social, a estrutura social
não foi feita e não pensa nas “minorias”, cada corpo tem seu lugar determinado
neste processo, criar tensão para sair destes espaços de marginalidade e
assumir as identidades que se fazem próprias, nada mais é, que não aceitar a
norma como padrão, é questionar quem instaurou o meu lugar no mundo tendo
como base o meu corpo? Como uma doutrina essencialmente espiritualista
consegue compactuar com isso? Não seria negligenciar a vivência da identidade
que nada mais é, do que a própria expressão do espírito?
Partindo das perguntas acima, dizemos que em nossas pesquisas não
encontramos em toda doutrina espírita Kardeciana, princípios que sejam
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embasados na reencarnação, ou na causa e efeito, ou em qualquer conceito
base do Espiritismo, que validem, as desigualdades e as injustiças sociais.
Entendemos então, que os preconceitos de qualquer ordem, pertencem
ao entendimento humano, não é natural ou divino, é um “malabarismo filosófico”
tentar tornar a condição “cármica” um conceito espírita. A maldade humana, o
egoísmo e o orgulho, o capitalismo, a globalização e a política liberal, estes sim
são os responsáveis diretos por todas as mazelas humanas.
Dessa feita, quando usamos de qualquer um dos conceitos espíritas para
a validação de seja qual for a ordem de desamparo social, dizendo frases do
tipo: “Para estar passando fome, alguma coisa de ruim fez no passado! Para
nascer “veado”, boa coisa não foi! Para nascer negro e pobre, deve ter
negligenciado a riqueza no passado”! Estas frases perpetuam a ideia do “olho
por olho e dente por dente”, negam a responsabilidade social e desvirtuam os
conceitos espíritas, para que a consciência de alguns se mantenha adormecida
e não seja cobrada.
Com o conceito de corpo, encerramos a discussão que antecede a nossa
relação com gênero e sexualidades, faremos discussões de uma ideia plural da
existência humana, buscaremos a naturalização das diversas formas de
expressão de gênero, descontruiremos a ideia do binário, e espiritualizaremos a
discussão.
O Espiritismo não é, e não será, responsável em motivar as sanhas dos
preconceituosos de qualquer ordem; que busquem as suas motivações em suas
intimidades; e não cometam desonestidade intelectual, dando ao Espiritismo
este peso e esta responsabilidade que não lhes pertence.
Quando trouxemos a educação para dentro das nossas discussões é por
entendermos que sem uma compreensão educativa, pedagógica, libertadora e
libertária, não romperemos com todos os imperativos da sociedade opressora,
que impetra sobre os corpos educados, pela repetição dos açoites, que insistem
em taxar as vidas que importam, e que muitas vezes para se manterem vivos,
estes corpos, não possuem a permissão para derramarem suas lágrimas,
precisam sofrer sem chorar.
São todas, todos e todes aqueles que em nome de seus subempregos
suportam calados as dores de serem desrespeitados em suas intimidades; são
todas, todos e todes aqueles que em nome de não sofrerem violências em suas
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existências negligenciam e escamoteiam o seu próprio “Eu” e vivem papéis,
performances daquilo que não são, para agradar a sociedade que precisam fazer
parte. São todas, todos, e todes aqueles que tombam com seus corpos mortos,
mas a única performance que conseguem fazer, é de viver e de serem quem
são, são interrompidos de seus papéis de vida, porque a sociedade não aceita
os seus corpos como protagonistas das suas próprias Histórias.
O Espiritismo pode e deve interferir nestas relações, estabelecendo
condições para que em seus espaços, as pessoas entendam as suas
identidades espirituais, mas tenham convicção da naturalidade da vida, e da
necessidade de se viver, experienciar, oportunizar cada parte da trajetória deste
espírito como oportunidades naturais de aprendizado.
Começamos este livro falando sobre o Espiritismo, na realidade porque
gostaríamos de mostrar de que Espiritismo partimos para a produção de nossas
reflexões.
Se você chegou até aqui, lhe convido a continuar, a pensar de forma livre
sob uma doutrina espírita amorosa, afetuosa, acolhedora, espiritualista,
imortalista, reencarnacionista, progressista, pedagógica, libertadora, libertária
que estabelece no amor a fonte do progresso humano, estabelece a dor e o
sofrimento como terapêuticas e pedagógicas, o amor, é a verdadeira ferramenta
de progresso da humanidade, como nos diz, (Freire, 2011), “Amar é um ato de
Coragem”.
Que tenhamos a coragem de em nome do amor, entender que a função
do Espiritismo é: Ajudar na transformação consciente e participativa da
sociedade, em uma sociedade que se ame.
A partir daqui discorreremos sobre Gênero e Sexualidades.
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Capítulo IV
Gênero, Sexualidades e Espiritualidade
77
A partir do momento que os corpos que possuem pênis assumirem os
seus devidos papéis de homens/macho, e os corpos possuidores de vaginas
atenderem a regra normativa compatível, segundo esta compreensão daquilo
que cabe a mulher/fêmea, estes corpos terão suas credenciais de pertencimento
e de “merecimento” a espiritualidade permitida.
Esta reflexão nos faz trazer à baila outros questionamentos que a serem
feitos, ilustrarão como o Movimento Espírita Brasileiro Hegemônico Federativo
Institucionalizado, naturaliza a norma e segue padrões de heteronormatividade
em toda a sua práxis, constatando o que até aqui defendemos.
78
Brasileira. Este fato nos diz muito sobre as observações que estamos propondo
a partir das ações promovidas por este ente federativo e os seus afiliados.
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A pergunta que não quer calar, são estas ações e práticas apenas um
senso de urbanidade, e não a busca pela igualdade natural apresentada por
Kardec no livro citado?
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Tratamos destes exemplos com a seriedade que merece, e dizemos que
muitos mais podem facilmente serem achados de forma abundante nas redes
sociais, o que invalida a necessidade de citarmos nominalmente.
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parte conservadora da Igreja Católica e no movimento provida e
pró-família que, no Brasil, parece estar centralizado num site
chamado Observatório Interamericano de Biopolítica.(...) Uma
retórica que afirma haver uma conspiração mundial entre ONU,
União Europeia, governos de esquerda, movimentos feminista e
LGBT para “destruir a família”, mas que, em última análise,
objetiva, sim, propagar um pânico social e voltar as pessoas
contra aos estudos de gênero e contra todas as políticas
públicas voltadas para as mulheres e a população LGBT,
sobretudo nas questões relacionadas aos chamados novos
direitos humanos, por exemplo, no uso do nome social, no direito
à identidade de gênero, na livre orientação sexual. (Furlani,
2016),
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Não há argumento embasados no rigor da ciência para esta ideia, as
pessoas não se tornam gays ou héteros por discutirem as questões que
envolvem gênero e sexualidades, trata-se de uma alegação estapafúrdia, sem
nenhum compromisso científico e que diminui o Espiritismo, já que se trata de
uma defesa enviezadamente religiosa e descompromissada com as bases
filosóficas e científicas da doutrina espírita.
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conteúdos que levem informações às pessoas espíritas, afastando-as da
ignorância, do apego a fé irracional, da falta de conhecimento e do senso
comum. Em contrapartida, ações pedagógicas sobre gênero e sexualidades
impossibilitariam a disseminação de pensamentos como a “Ideologia de
Gênero”.
Podemos dizer que esta forma de fazer Espiritismo exige que estes
Corpos sejam educados, determina as vidas que importam, bem como elegem
as lágrimas que são permitidas.
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assunto gênero, além da necessidade de discutirmos como tornar possível a
vivência destes corpos dentro de espaços sociais religiosos sem sofrerem
violências e ou preconceitos.
Pois bem, “vir a ser” requer liberdade, confiança nos grupos sociais que
fazemos parte. Como sermos, se somos tolhidos da liberdade de nos colocarmos
para fora? Como sermos, se os espaços sociais dos quais fazemos parte não
nos permite a possibilidade de vivermos quem verdadeiramente somos?
“Vir a ser” requer que confiemos que mesmo que a experiência não sendo
exitosa, seremos acolhidos, recebidos, compreendidos, que nos deixarão
“aparecer” até que as nossas ações de “vir a ser” sejam bem-sucedidas, e o
processo de aparecimento não seja traumático ou através de imposição.
85
ambientes hostis para as pessoas LGBTQIAP+, então, onde estas pessoas
serão elas mesmas?
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tese de que, por mais que o sexo pareça intratável em termos
biológicos, o gênero é culturalmente construído:
consequentemente, não é nem o resultado causal do sexo nem
tampouco tão aparentemente fixo quanto o sexo. Assim a
unidade do sujeito já é potencialmente contestada pela distinção
que abre espaço ao gênero como interpretação múltipla do sexo.
(Butler, 2019)
Esta fala da Grada Kilomba, contempla muito estas tensões que são
fomentadas a partir das questões das culturas que vão formando as identidades
e estabelecendo em algum ponto os comportamentos que são excluídos pela
norma e que se buscam como uma estratégia de sobrevivência.
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as sociedades, mesmo que as suas demandas sejam encontradas dentro de
uma mesma realidade comportamental, não são as mesmas.
O que uma mulher Brasileira, branca, classe média, precisa para que a
sua identidade de gênero seja respeitada, não é a mesma que uma mulher negra
periférica. Quando falamos na categoria mulher, ser preta e periférica também
são recortes para sabermos que tipo de atenção e acesso a políticas públicas
estas mulheres terão.
Podemos dizer que uma mulher Transexual que não teve acesso a
transição, sofre opressões do Estado, da Família ou da Religião, para manter
sua expressão de gênero masculina, ela não perdeu a sua identidade de gênero
como mulher, embora seja forçada por vários motivos a expressar-se como
homem.
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Nunca é demais lembrar que estas posturas de invisibilização,
naturalizam e fomentam as violências, pois entendemos, que apenas a
educação poderá oferecer a condição de uma vivência amorosa, acolhedora e
respeitosa.
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Há alguma maneira de vincular a questão da materialidade do
corpo performatividade de gênero? Como a categoria “sexo”
figura no interior da relação? Consideramos primeiramente que
a diferença sexual é muitas vezes invocada como uma questão
de diferenças materiais. Entretanto, a diferença sexual é sempre
uma função de diferenças materiais que são, de alguma forma,
marcadas e formadas por práticas discursivas. (Butler, 2020):
91
4.2. Gênero e Sexualidades Como Questão de Performance
Espiritual
92
as inferências e julgamentos a partir de que corpo estamos falando.
Reproduzindo assim, aquilo que a cultura machista e patriarcal estabelece como
norma. Exibe a ação do “profano e do santo”, também a partir de que maneira
estes corpos se relacionam entre si na esfera social à qual fazem parte.
A sexualidade das pessoas não deve ser encarada como uma coisa feia,
pecaminosa e que se não obedecer a determinados padrões em detrimento de
outros deve ser escondida, escamoteada ou sublimada.
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A sexualidade precisa e deve ser conversada e precisamos colaborar
para a desconstrução do sexo como ferramenta pecaminosa e satanizada e dar-
lhe a importância que lhe é devida na formação de uma sociedade justa, igual e
respeitosa.
Como pode uma doutrina que tem em suas bases o amor, ser contra a
este mesmo amor?
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Parte muito significativa dos estudos partem do pressuposto que estas
identidades de gênero não são normais, consequentemente vivem em busca de
teorias que justifiquem a antinaturalidade das mesmas, daí surgirem
pensamentos e bizarrices das mais diversas e sem nenhum tipo de
comprometimento com as ciências humanas.
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quem tem acesso aos “Espíritos Superiores”, e às velhas e tradicionais “colônias
espirituais”, que invariavelmente pertencem aos não menos tradicionais
“senhores de engenho”, brancos, héteros, classe média e defensores da “moral
e dos bons costumes”.
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Precisamos democratizar e oferecer acesso gratuito e irrestrito à
espiritualidade, não devemos impor condições ou sanções embasadas na
sexualidade das pessoas para obterem a permissão de contatarem com o mundo
espiritual. Não se precisa de chancela de ninguém ou de nenhum ente federativo
para podermos ler o mundo a partir do Espiritismo, quebram-se os grilhões,
afeiçoam-se os espíritos terráqueos a partir da vivência da empatia e da
possibilidade da autonomia de ser quem se é, e de forma alguma temer
represálias dos humanos ou da divindade por viver-se em intimidade.
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Precisamente porque a promoção da ingenuidade para a
criticidade não se dá automaticamente, uma das tarefas
precípuas da prática educativo-progressista é exatamente o
desenvolvimento da curiosidade crítica, insatisfeita, indócil.”
(Freire, 201
Já que o mundo ideal não nos será oferecido gratuitamente, que mais
espaços de fala, de discussão e de luta sejam instituídos. Que toda esta
realidade que macula, machuca, fere, adoece e mata a comunidade LGBTQIAP+
e que faz com que o Brasil seja durante 13 anos consecutivos o país que mais
mata esta comunidade no mundo, seja mais um motivo para que sejamos
resistência e que está resistência mude a realidade deste país.
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Que vivamos, sem a necessidade de perguntar, ou lutar pela validação do
amor. Por não mais precisarmos indagar, para poder viver sem medo de morrer:
É amor, pode?
Referências Bibliográficas
99
Corpos que Importam - Os Limites Discursivos do “Sexo”, Butler (2020), p.
15
BUTLER, Judith. Corpos Que Importam: os limites discursivos do" sexo". Editora n-1
edições, 2020.
100
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Editora Cobogó,
2020.
O Livro dos Espíritos. (Kardec, 2007) p. p. 55, 223, 239, 262,265, 271, 305
312, 313
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos: princípios da doutrina espírita. Livraria Allan Kardec
Editora, 2007.
O Livro dos Médiuns (Kardec, 2017) pp. 12, 26, 31, 32.
KARDEC, Allan. O livro dos médiuns, EDICEL, 2017.
101
O Problema do Ser do Destino e da Dor. (Denis, 2010), p. 18
DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor. FEB Editora, 2010.
102
KARDEC, A. Revista Espírita. Tradução de Julio Abreu Filho. Livraria Allan Kardec Editora, (LAKE).
2018.
https://www.febnet.org.br/blog/geral/conheca-a-feb/presidentes/
Consulta ao Site da Federação Espírita Brasileira em 13 de julho das 2021 às 11:10
103