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PENGUIN

o COMPANHIA

CLÁSSICOS

Essencial
Organização de ANDRÉ BOTELHO
Copyright da organização© 2013 by André Botelho Sumário
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa de 1990,
que entrou em vigor no Brasil em 2.009.
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PREPARAÇÃO
Baby Siqueira Abrão
REVISÃO O universo dinâmico dos clássicos da sociologia -
Isabel Jorge Cury André Botelho 9
Jane Pessoa
KARL MARX
Prefácio a Contribuição à crítica da economia política 33
Introdução a Contribuição à crítica da economia política 39
Manifesto do Partido Comunista 77
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
A mercadoria [O capital] n8
(Câmara Brasileirado Livro, SI', Brasil)
Essencial sociologia / organização e introdução de ÉMILE DURKHEIM
André Botelho. - r• ed. - São Paulo: Pcnguin Classics
Companhia das Letras, 2013. O que é um fato social? r79
ISBN978-85-63560-78-o Regras relativas à observação dos fatos sociais 191

, . Sociologia I. Título. Algumas formas primitivas de classificação 222

q-09207 coo-301 O dualismo da natureza humana e suas condições sociais 291

lndice para catálogo sistemático:


r. Sociologia 301 GEORG SJMMEL
As grandes cidades e a vida do espírito (1903) 3u
O dinheiro na cultura moderna 330
A escultura de Rodin e a direção espiritual do presente 35I

[2013]
MAX WEBER
Todos os direitos desta edição reservados à Conceitos sociológicos fundamentais
EDITORA SCHWARCZ S.A. Ciência como vocação
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Reflexão intermediária - Teoria dos níveis e direções
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ESSENCIAL SOCIOLOGIA

vimento em que esta parecia entrar com a descoberta do Introduçãoa Contribuição à crítica
ouro californiano e do australiano, fizeram com que me da economia política·
decidisse a recomeçar e a estudar a fundo, com espírito
crítico, os novos materiais. Esses estudos conduziam-me a
disciplinas que pareciam distanciar-me de meu propósito
e nas quais tive de me fixar mais ou menos tempo. Mas o
que limitou o tempo de que dispunha foi principalmente a
imperiosa necessidade de fazer um trabalho remunerado.
Uma colaboração de há oito anos a esta parte no New
York Tribune, o primeiro jornal anglo-americano, pro-
vocou, na medida em que só excepcionalmente me ocupo
do jornalismo propriamente dito, uma extraordinária dis- I. PRODUÇÃO, CONSUMO,
persão em meus estudos. Entretanto, os artigos sobre os DISTRIBUIÇÃO, TROCA (CIRCULAÇÃO)
acontecimentos econômicos de relevo na Inglaterra e no
continente formavam uma parte tão considerável de mi-
nhas colaborações que fui levado a familiarizar-me com 1. Produção
os pormenores práticos que não são do domínio da ciên-
cia pura da economia política. O objeto deste estudo é, em princípio, a produção material.
Com este esboço da evolução de meus estudos no terre- Indivíduos produzindo em sociedade, portanto uma
no da economia política, quis apenas mostrar que minhas produção de indivíduos socialmente determinada - esse
opiniões, seja qual for o julgamento que mereçam e por é, naturalmente, o ponto de partida. O caçador e o pesca-
muito pouco que concordem com os preconceitos interes- dor individuais e isolados, de que partem Smith e Ricardo,
sados das classes dirigentes, são o resultado de longas e pertencem às inocentes ficções do século XVIII. São "robin-
conscienciosas pesquisas. Mas, no limiar da ciência, como sonadas" que não exprimem de forma alguma, como pare-
à entrada do inferno, esta obrigação se impõe: cem crer alguns historiadores da civilização, uma simples
reação contra os excessos de requinte e um regresso a um
Qui se convien lasciare ogni sospetto estado de natureza mal compreendido. Do mesmo modo,
Ogni viltà convien che qui sia morta. 5 o contrato social de Rousseau, que estabelece, entre indi-
víduos independentes por natureza, relações e laços por
Londres, janeiro de I859 meio de um pacto, nem por isso se acha mais assentado
em um tal naturalismo. Não passa de aparência, aparên-
KARL MARX cia de ordem puramente estética nas pequenas e grandes

'· Texto publicado originalmente em Karl Marx, Contribuição


à crítica da economia política. Trad. de Maria Helena Barrei-
ro Alves. São Paulo: Martins Fontes, 2003. (N.E.)
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"robinsonadas". Na realidade, trata-se de uma antecipação de vista de um caráter geral) atingiram o seu máximo
da "sociedade burguesa" que vem se preparando desde o desenvolvimento. O homem é, no sentido mais literal,
século XVI e que, no século XVIII, caminhava a passos de um dzôon politikhón, 1 não só um anima I sociável, mas
gigante para sua maturidade. Nessa sociedade onde reina um animal que só em sociedade pode isolar-se. A pro-
a livre concorrência, o indivíduo aparece isolado dos laços dução realizada à margem da sociedade pelo indivíduo
naturais que fazem dele, em épocas históricas anteriores, isolado - fato excepcional que pode muito bem aconte-
um elemento de um conglomerado humano determinado cer a um homem civilizado transportado por acaso para
e delimitado. Para os profetas do século XVIII - Smith e um lugar deserto, mas já levando consigo em potência as
Ricardo fundamentam-se ainda completamente em suas forças próprias da sociedade - é uma coisa tão absur-
teses -, esse indivíduo do século xvm - produto, por da como o seria o desenvolvimento da linguagem sem
um lado, da decomposição das formas feudais de socieda- a presença de indivíduos vivendo e falando em conjun-
de e, por outro, das novas forças de produção que se de- to. Ê inútil insistirmos nisso. Nem mesmo haveria razão
senvolvem a partir do século XVI - surge como um ideal para abordarmos esse assunto se tal banalidade, que ti-
que teria existido no passado. Veem nele não um resulta- nha um sentido e uma razão de ser para as pessoas do
do histórico, mas o ponto de partida da história, porque século xvm, não tivesse sido reintroduzida muito a sério
consideram esse indivíduo algo natural, de acordo com sua por Bastiat, Carey, Proudhon e outros em plena econo-
concepção de natureza humana, não como um produto da mia política moderna. Para Proudhon torna-se por certo
história, mas como um dado da natureza. Essa ilusão tem muito cômodo fazer mitologia para dar uma explicação
sido partilhada, até o presente, por todas as novas épocas. histórico-filosófica de uma relação econômica de que
Steuart, que em mais de um aspecto se opõe ao século xvm ele ignora a origem histórica: a ideia dessa relação teria
e que, em sua condição de aristocrata, se situa mais sobre surgido já acabada, um belo dia, na cabeça de Adão ou
o terreno histórico, conseguiu fugir a essa ilusão ingênua. Prometeu, que depois a deixaram ao mundo como he-
Quanto mais se recua na história, mais o indivíduo rança (... ).Nada é mais fastidioso e árido do que o locus
- e, por conseguinte, também o indivíduo produtor - communis [lugar-comum] possesso de delírio.
se apresenta num estado de dependência, membro de um
conjunto mais vasto; esse estado começa por se manifes- Eternização das relações históricas de produção. Pro-
tar de forma totalmente natural na família, e na família dução e distribuição em geral. Propriedade
ampliada até as dimensões da tribo; depois, nas diferen-
tes formas de comunidades provenientes da oposição e Assim, sempre que falamos de produção, é à produção
da fusão das tribos. Só no século xvm, na "sociedade num estágio determinado do desenvolvimento social que
burguesa", as diferentes formas do conjunto social pas- nos referimos - à produção de indivíduos vivendo em
saram a apresentar-se ao indivíduo como um simples sociedade. Pode parecer que, para falar da produção em
meio de realizar seus objetivos particulares, como uma geral, será conveniente ou seguir o processo histórico de
necessidade exterior. Mas a época que dá origem a esse seu desenvolvimento em suas diversas fases, ou declarar
ponto de vista, o do indivíduo isolado, é precisamente antes de mais nada que iremos ocupar-nos de uma épo-
aquela em que as relações sociais (revestindo esse ponto ca histórica determinada - por exemplo, da produção
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burguesa moderna, que é, de fato, o nosso verdadeiro o "instrumento de produção", o "trabalho acumulado".
tema. Mas todas as épocas da produção têm certas ca- A história das relações de produção apresenta-se assim,
racterísticas comuns, certas determinações comuns. A e a obra de Carey é um exemplo disso, como uma falsifi-
produção em geral é uma abstração, mas uma abstração cação provocada pela malevolência dos governos. Se não
racional, na medida em que, sublinhando e precisando há produção em geral, não há também produção geral.
os traços comuns, nos evita a repetição. No entanto, esse A produção é sempre um ramo particular da produção
caráter geral ou esses traços comuns, que a comparação - por exemplo, a agricultura, a criação de gado, a ma-
permite estabelecer, formam por seu lado um conjunto nufatura etc. - ou constitui um todo. Mas economia
muito complexo cujos elementos divergem para revestir política não é tecnologia. Em outro lugar (mais tarde)
diferentes determinações. Algumas dessas caracterís- será necessário explicar a relação entre as determinações
ticas pertencem a todas as épocas, outras são comuns gerais da produção num dado estágio social e as formas
apenas a umas poucas. [Algumas] dessas determinações particulares da produção. Finalmente a produção tam-
revelar-se-ão comuns tanto à época mais recente como à bém não é apenas uma produção particular; surge sem-
mais antiga. Sem elas, não é possível conceber nenhuma pre sob a forma de um determinado corpo social de um
espécie de produção. Mas, se é verdade que as línguas indivíduo social, que exerce sua atividade num conjunto
mais evoluídas têm de comum com as menos evoluídas mais ou menos vasto e rico de ramificações da produção.
certas leis e determinações, é precisamente aquilo que as Não é ainda oportuno estudar a relação entre a exposi-
diferencia desses traços gerais e comuns que constitui a ção científica e o movimento real. A produção em geral.
sua evolução; do mesmo modo é importante distinguir Os ramos particulares da produção. A produção consi-
as determinações que valem para a produção em geral, derada na sua totalidade.
a fim de que a unidade - que se infere já do fato de Está na moda em economia política fazer preceder
o sujeito, a humanidade, e o objeto, a natureza, serem qualquer estudo de uma parte geral - aquela que figura
idênticos - não nos faça esquecer a diferença essencial. precisamente com o título de Produção (Cf., por exem-
Esse esquecimento é o responsável por toda a sapiên- plo, J. St. Mill) - em que se trata das condições gerais
cia dos economistas modernos que pretendem provar a de qualquer produção. Essa parte geral compreende ou
eternidade e a harmonia das relações sociais atualmente supõe-se que compreende:
existentes. Por exemplo, não há produção possível sem a) o estudo das condições sem as quais a produção não
um instrumento de produção; esse instrumento será a é possível, e que de fato se limita à menção dos fatores es-
mão. Não há produção possível sem trabalho passado senciais comuns a qualquer produção. Na realidade, cos-
acumulado; esse trabalho será a habilidade que o exer- tuma reduzir-se a algumas determinações muito simples,
cício repetido desenvolveu e fixou na mão do selvagem. repisadas em insípidas tautologias, como se verá;
Entre outras coisas, o capital é, também, um instrumen- b) o estudo das condições que favorecem mais ou me-
to de produção, é também trabaÍho ~passado,objetivado. nos o desenvolvimento da produção, como, por exemplo,
Logo, o capital é uma relação natural universal e eterna· , o estado social progressivo ou estagnado de Adam Smith.
.
sim, mas com a condição de negligenciar precisamente o Para dar um caráter científico àquilo que, na obra de Smith,
elemento específico, o único que transforma em capital vale como rascunho, seria necessário estudar os períodos
( ( ( 1 1 r (,
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dos diversos graus de produtividade no decurso do desen- ainda diluir ou suprimir todas as diferenças históricas
volvimento dos diferentes povos - estudo que ultrapassa para enunciar leis que se apliquem ao homem em geral.
os limites propriamente ditos de nosso assunto, mas que, Por exemplo, o escravo, o servo, o trabalhador assalaria-
na medida em que nele se enquadra, será exposto na parte do, todos eles recebem uma determinada quantidade de
referente à concorrência, à acumulação etc. Na sua forma alimento que lhes permite subsistir na sua condição de
geral, a conclusão leva à seguinte generalidade: um povo escravo, servo, assalariado. Quer vivam do tributo, do
industrial encontra-se no apogeu de sua produção no pró- imposto, da renda imobiliária, da esmola ou do dízimo,
prio momento em que, de certo modo, atinge o apogeu o conquistador, o funcionário, o proprietário de bens de
histórico. E, de fato, um povo está em seu apogeu indus- raiz, o monge ou o sacerdote recebem todos eles uma
trial quando não é ainda o lucro, mas a procura do ga- cota da produção social, parte que lhes é fixada segundo
nho, que é tida como essencial. Superioridade, nesse caso, outras leis que não as do escravo e seus semelhantes. Os
dos ianques sobre os ingleses. Ou conclui-se também o dois pontos principais que todos os economistas colo-
seguinte: certas raças, certas inclinações, certos climas, cam nessa rubrica são: a) propriedade; b) garantia desta
certas condições naturais, como a situação geográfica à por intermédio do direito, da polícia etc. A isso podemos
beira-mar, a fertilidade do solo etc., são mais favoráveis responder em muito breves palavras.
que outros à produção. O que nos leva de novo a esta tau- Sobre o primeiro ponto: toda e qualquer produção
tologia: a riqueza cria-se tanto mais facilmente quanto os é apropriação da natureza pelo indivíduo, no quadro e
seus elementos subjetivos e objetivos existem em um grau por intermédio de uma forma de sociedade determinada.
mais elevado. Nesse sentido, é uma tautologia dizer que a propriedade
Mas nessa parte geral não são estes, de modo algum, (apropriação) é uma condição da produção. Mas é ridí-
os problemas que na realidade são postos aos economis- culo partir daqui para, de um salto, passar a uma for-
tas. Trata-se de preferência, como o prova o exemplo de ma determinada da propriedade, à propriedade privada,
Mill, de apresentar a produção, em oposição à distri- por exemplo. (Que, além disso, supõe igualmente como
buição etc., como que fechada em leis naturais, eternas, condição uma forma oposta, a não propriedade.) A his-
independentes da história, aproveitando a ocasião para tória nos apresenta na propriedade comum (por exemplo
insinuar sub-repticiamente que as relações burguesas nos índios, nos eslavos, nos antigos celtas e outros) o
são leis naturais imutáveis da sociedade concebida in exemplo da forma primitiva, forma que, sob o aspecto
abstracto. Tal é o fim para que, mais ou menos conscien- de propriedade comunal, desempenhará ainda durante
temente, tende todo esse processo. Na distribuição, pelo muito tempo um papel importante. Quanto a saber se
contrário, os homens permitir-se-iam agir com muita ar- a riqueza se desenvolve melhor sob uma ou outra forma
bitrariedade. Abstraindo dessa separação brutal da pro- de propriedade, tal preocupação não está ainda em cau-
dução e da distribuição, e da ruptura da sua relação real, sa. Mas afirmar que não pode haver produção nem, por
podemos ver claramente pelo menos que, por muito di- conseguinte, sociedade onde não existe nenhuma das
versificada que possa ser a distribuição nos diferentes es- formas de propriedade é pura tautologia. Uma apropria-
tágios da sociedade, deve ser possível, tal como no caso ção que não se apropria de nada é uma contradictio in
da produção, isolar as características comuns; poss.ível subjecto [contradição nos termos].
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Sobre o segundo ponto: garantir a segurança dos bens porção em que o indivíduo participa da repartição des-
adquiridos etc. Se reduzirmos essas banalidades ao seu ses produtos; a troca obtém-lhe os produtos particulares
conteúdo real, elas significam muito mais do que imagi- em que o indivíduo quer converter a cota-parte que lhe
nam aqueles que as apregoam. A saber, que qualquer for- é reservada pela distribuição; no consumo, finalmente,
ma de produção engendra as suas próprias relações jurídi- os produtos tornam-se objetos de prazer, de apropriação
cas, a sua própria forma de governo etc. É falta de sutileza individual. A produção cria os objetos que correspon-
e de perspicácia estabelecer relações contingentes entre as dem às necessidades; a distribuição reparte-os segundo
coisas que formam um todo orgânico, estabelecer entre leis sociais; a troca reparte de novo o que já tinha sido
elas um simples laço de reflexão. Assim, os economistas repartido, mas segundo as necessidades individuais; no
burgueses têm o vago sentimento de que a produção é consumo, enfim, o produto evade-se desse movimento
mais fácil com a moderna polícia do que, por exemplo, na social, torna-se diretamente objeto e servidor da neces-
época do "direito do mais forte". Simplesmente esquecem sidade individual, que satisfaz pela fruição. A produção
que o "direito do mais forte" é igualmente um direito, e surge assim como o ponto de partida, o consumo como o
que, sob outra forma, sobrevive em seu "Estado jurídico". ponto de chegada, a distribuição e a troca como o meio-
Quando as condições sociais correspondentes a um -termo que, por seu lado, tem um duplo caráter, sendo a
estágio determinado da produção estão ainda em via de distribuição o momento que tem por origem a sociedade
formação ou quando, pelo contrário, estão já em via de e a troca, o momento que tem por origem o indivíduo.
desaparecer, produzem-se naturalmente perturbações na Na produção o indivíduo objetiva-se, e no indivíduo 2
produção, ainda que de grau e de efeito variáveis. subjetiva-se o objeto; na distribuição é a sociedade, sob
Resumindo: todos os estágios da produção possuem de- a forma de determinações gerais dominantes, que faz o
terminações comuns, às quais o pensamento dá um caráter papel de intermediária entre a produção e o consumo; na
geral, mas as pretensas condições gerais de qualquer produ- troca, a passagem de uma a outra é assegurada pela de-
ção não são mais que esses fatores abstratos, sem nenhuma terminação contingente do indivíduo.
correspondência num estágio histórico real da produção. A distribuição determina a proporção (a quantidade)
de produtos que cabem ao indivíduo; a troca determina os
produtos que cada indivíduo reclama como parte que lhe
2. Relação geral entre a produção foi designada pela distribuição.
e a distribuição, a troca, o consumo Produção, distribuição, troca, consumo, formam as-
sim [segundo a doutrina dos economistas]3 um silogismo-
Antes de nos embrenharmos mais na análise da produ- -modelo; a produção constitui o geral; a distribuição e a
ção, é necessário examinar os diversos tópicos de que os troca, o particular; o consumo, o singular para o qual ten-
economistas a acompanham. de o conjunto. Trata-se, sem dúvida, de um encadeamento,
Eis o problema, tal como ele se apresenta: na produ- mas muito superficial. A produção é determinada por leis
ção, os membros da sociedade adaptam (produzem, dão naturais gerais; a distribuição pela contingência social, e
forma) os produtos da natureza em conformidade com esta pode, por consequência, exercer sobre a produção uma
as necessidades humanas; a distribuição determina a pro- ação mais ou menos estimulante; a troca situa-se entre am-
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bas como um movimento social de caráter formal, e o ato mesmo por consumo produtivo a produção considerada:
final do consumo, concebido não só como resultado, mas como imediatamente idêntica ao consumo e o consumo
também como última finalidade, é, a bem dizer, exterior a como coincidente de forma imediata com a produção. Essa
toda a economia, salvo na medida em que reage por sua vez identidade da produção e do consumo recorda a afirmação
sobre o ponto de partida, abrindo de novo todo o processo. de Espinosa: Determinatio est negatio [qualquer determi-
Os adversários dos economistas - adversários da pro- nação é negação].
fissão ou amadores -, que os censuram por dissociarem Mas essa determinação do consumo produtivo só é
de forma bárbara coisas que formam um todo, colocam- exatamente estabelecida para distinguir o consumo que
-se no mesmo nível ou até abaixo deles. Não há nada se identifica com a produção do consumo propriamente
mais banal que a acusação feita aos economistas de con- dito, que costuma ser concebido como a antítese destruti-
siderarem a produção exclusivamente como um fim em va da produção. Consideremos portanto o consumo pro-
si, alegando que a distribuição tem igual importância. priamente dito.
Essa censura baseia-se precisamente na concepção eco- Imediatamente, o consumo é também produção, à se-
nômica segundo a qual a distribuição existe como esfera melhança da natureza, em que o consumo dos elementos
autônoma, independente, lado a lado com a produção. e das substâncias químicas é a produção da planta. É
Censuram-nos ainda por não considerarem na sua uni- evidente que através da alimentação, por exemplo, for-
dade essas diferentes fases. Como se essa dissociação não ma particular do consumo, o homem produz o seu pró-
tivesse passado da realidade para os livros, mas, pelo con- prio corpo. Ora, isso é igualmente válido para qualquer
trário, dos livros para a realidade, como se estivesse em outra espécie de consumo que, de uma maneira ou de
causa um equilíbrio dialético de conceitos, e não da con- outra, contribui com qualquer aspecto para a produção
cepção 4 das relações reais! humana. Produção consumidora. Mas, objeta a econo-
mia, essa produção que se identifica com o consumo é
a) A produção é também imediatamente consumo uma segunda produção, resultante da destruição do pri-
meiro produto. Na primeira, o produtor objetiva-se; na
Duplo caráter do consumo, subjetivo e objetivo: por um segunda, pelo contrário, é o objeto que ele criou que se
lado, o indivíduo que desenvolve suas faculdades, ao pro- personifica. Assim, essa produção consumidora - ape-
duzir, igualmente as despende, as consome no ato da pro- sar de constituir uma unidade imediata da produção e
dução, tal como a procriação natural é um consumo de do consumo - é essencialmente diferente da produção
forças vitais. Em segundo lugar há o consumo dos meios propriamente dita. A unidade imediata, em que a pro-
de produção que empregamos, porque se desgastam e se dução coincide com o consumo e o consumo com a pro-
dissolvem (como na combustão, por exemplo) nos elemen- dução, deixa subsistir a dualidade intrínseca de ambos.
tos do universo. O mesmo acontece com a matéria-prima, Portanto, a produção é imediatamente consumo, o con-
que não conserva sua forma e sua constituição naturais, sumo imediatamente produção. Cada um é imediatamente
mas que se vê desgastada. Portanto, o ato de produção é, o seu contrário. Mas opera-se simultaneamente um movi-
em todos os seus momentos e ao mesmo tempo, um ato mento intermediário entre os dois termos. A produção é a
de consumo. Aliás, os economistas admitem-no. Designam intermediária do consumo, ao qual fornece os elementos
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materiais e que, sem ela, não teria nenhum objetivo. Por ção dá ao consumo. Dá-lhe ainda o seu aspecto determi-
seu lado, o consumo é também o intermediário da produ- nado, o seu caráter, o seu acabamento (finish). Tal como o
ção, dando aos produtos o motivo que os justifica como consumo dava o retoque final ao produto como produto,
produtos. Só no consumo o produto conhece sua realiza- a produção o dá ao consumo. Em primeiro lugar o ob-
ção última. Uma estrada de ferro em que não passam com- jeto não é um objeto geral, mas um objeto determinado,
boios, que não se usa, não é consumida, só no domínio da que deve ser consumido de forma determinada, à qual a
possibilidade dünámei (abstrata] e não no da realidade é própria produção deve servir 6 de intermediária. A fome é
estrada de ferro._Sem produção não há consumo; mas sem a fome, mas a fome que se satisfaz com carne cozida, co-
consumo também não haveria produção, porque nesse caso mida com faca e garfo, não é a mesma fome que come a
a produção não teria nenhum objetivo. O consumo produz carne crua servindo-se das mãos, das unhas, dos dentes.
duplamente a produção. r. Somente pelo consumo o produ- Por conseguinte, a produção determina não só o objeto do
to se torna realmente produto. Por exemplo, um terno só se consumo, mas também o modo de consumo, e não só de
torna verdadeiramente um terno quando vestido; uma casa forma objetiva, mas também subjetiva. Logo, a produção
que não seja habitada não é, de fato, uma verdadeira casa; cria o consumidor; c) a produção não se limita a fornecer
logo, o produto, ao contrário do simples objeto natural, não um objeto material à necessidade; fornece ainda uma ne-
se afirma como produto, não se torna produto, senão pelo cessidade ao objeto material. Quando o consumo se liberta
consumo. Apenas o consumo, ao absorver o produto, lhe de sua grosseria primitiva e perde seu caráter imediato - e
dá o retoque final (finish stroke); porque a produção não não o fazer seria ainda o resultado de uma produção que se
se desencadeou como atividade objetivada, mas como mero mantivesse num estágio de primitiva rudeza -, o próprio
objeto para o sujeito ativo [o consumo produz a produção]. 5 consumo, como instinto, tem como intermediário o objeto.
2. O consumo cria a necessidade de uma nova produção, A necessidade que sente desse objeto é criada pela percep-
e por conseguinte a razão ideal, o móbil interno da produ- ção deste. _ü objeto de arte - tal como qualquer outro
ção, que é sua condição prévia. O consumo cria o móbil da produto - cria um público capaz de compreender a arte e
produção; cria também o objeto que, atuando sobre a pro- de apreciar a beleza. Portanto, a produção não cria somen-
dução, lhe determina a finalidade. Se é evidente que a pro- te um objeto para o sujeito, mas também um sujeito para
dução oferece, na sua forma material, o objeto do consumo, o objeto. Logo, a produção gera o consumo: 1)fornecendo-
não é menos evidente que o consumo supõe idealmente o -lhe sua matéria; 11)determinando o modo de consumo·,
objeto da produção, na forma de imagem interior, de ne- m) criando no consumidor a necessidade de produtos que
cessidade, de móbil e fim. Cria os objetos da produção sob começaram como simples objetos. Produz, por conseguin-
uma forma ainda subjetiva. Sem necessidade não há produ- te, o objeto do consumo, o modo de consumo, o instinto
ção. Ora, o consumo reproduz a necessidade. do consumo. De igual modo o consumo engendra a voca-
A esse duplo caráter corresponde, do ponto de vista da ção do produtor, solicitando-lhe a finalidade da produção
produção: a) a produção fornece ao consumo a sua ma- sob a forma de uma necessidade determinante.
téria, o seu objeto. Um consumo sem objeto não é con- A identidade entre o consumo e a produção surges;;i;- --
sumo; nesse sentido, portanto, a produção cria, produz o um triplo aspecto:
consumo; b) mas não é unicamente o objeto que a produ- r) identidade imediata. Produção é consumo; con-
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sumo é produção. Produção consumidora. Consumo consumo, e originando em seguida o apetite do consumo, a
produtivo. Ambos são chamados consumo produtivo faculdade de consumo sob a forma de necessidade. Esta úl-
pelos economistas, que fazem no entanto uma distinção: tima identidade, que particularizamos adiante no item 3),
a primeira toma a forma de reprodução; o segundo, de é comentada em economia política de múltiplas formas a
consumo produtivo. Todas as pesquisas sobre a primei- propósito das relações entre a oferta e a procura, os objetos
ra são o estudo do trabalho produtivo ou improdutivo; e as necessidades, as necessidades criadas pela sociedade e
as pesquisas sobre o segundo são o estudo do consumo as necessidades naturais.
produtivo ou improdutivo; Nada mais simples nesse caso, para um hegeliano, que
2) ambos surgem como intermediários um do outro; admitir a identidade da produção e do consumo, proeza
uma é intermediada pelo outro, o que se exprime por sua realizada não só por homens de letras socialistas, mas até
interdependência, movimento que os relaciona entre si e por prosaicos economistas, como por exemplo Say, do
os torna reciprocamente indispensáveis, embora se con- seguinte modo: quando se considera um povo, ou a hu-
servem exteriores uma ao outro. A produção cria a ma- manidade in abstracto, conclui-se que sua produção é seu
téria do consumo como objeto exterior; o consumo cria consumo. Storch apontou o erro de Say: um povo, por
para a produção a necessidade como objeto interno, como exemplo, não consome pura e simplesmente a sua produ-
finalidade. Sem produção não há consumo; sem consumo ção, mas cria também meios de produção etc., capital fixo
não há produção. Isso é repetido na economia política de etc. Considerar a sociedade um indivíduo único é, de Testo,
numerosas formas; considerá-la de um ponto de vista falso - especulativo.
3) a produção não é apenas imediatamente consumo, Para um indivíduo, produção e consumo manifestam-se
nem o consumo imediatamente produção; igualmente a como momentos de um mesmo ato. Importa apenas subli-
produção não é apenas um meio para o consumo, nem nhar que, quer se considere a produção e o consumo como
o consumo um fim para a produção, no sentido em que atividades de um sujeito, quer de numerosos indivíduos,7
cada um dá ao outro o seu objeto, a produção o objeto ambos os atos surgem de qualquer modo como momentos
exterior do consumo, o consumo o objeto figurado da pro- de um processo em que a produção é o verdadeiro ponto de
dução. De fato, cada um não é apenas imediatamente o partida e, por conseguinte, também o fator que prevalece.
outro, nem apenas intermediário do outro: cada um, ,ao O consumo como necessidade é um fator interno da ativi-
realizar-se, cria o outro; cria-se sob a forma do outro. E o dade produtiva; mas esta é o ponto de partida da realiza-
consumo que realiza plenamente o ato da produção ao dar ção e, por conseguinte, o seu fator predominante, o ato em
ao produto o seu caráter acabado de produto, ao dissolvê- que todo o processo novamente se desenvolve. O indivíduo
-lo consumindo a forma objetiva independente que ele re- produz um objeto, e pelo consumo deste regressa a si mes-
veste, ao elevar à destreza, pela necessidade de repetição, mo, mas o faz como indivíduo produtivo e que se reproduz.
a aptidão desenvolvida no primeiro ato da produção; ele O consumo surge assim como momento da produção.
não é somente o ato último pelo qual o produto se torna Mas na sociedade a relação entre o produtor e o pro-
realmente produto, mas o ato pelo qual o produtor se torna duto, quando este último se considera acabado, é uma re-
também verdadeiramente produtor. Por outro lado, a pro- lação exterior, e o retorno do produto ao sujeito depende
dução motiva o consumo ao criar o modo determinado do das relações deste com os outros indivíduos. Não se torna
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imediatamente proprietário. Tanto mais que a imediata rar agora a forma mais desenvolvida da distribuição, pela
apropriação do produto não é o objetivo do produtor ao qual a propriedade fundiária participa da repartição dos
produzir em sociedade. _Entre o produtor e os prod~t~s produtos, supõe a grande propriedade fundiária (a bem
interpõe-se a distribuição, que obedecendo a leis sociais dizer, a grande agricultura) como agente de produção, e
determina a parte que lhe pertence na totalidade dos pro- não pura e simplesmente a terra, tal como o salário não
dutos, colocando-se assim entre a produção e o consumo. supõe o trabalho puro e simples. As relações e os modos de
Mas constituirá a distribuição uma esfera autônoma, distribuição apresentam-se simplesmente como o inverso
marginal e exterior à produção? dos agentes de produção. Um indivíduo que participe da
produção por meio do trabalho assalariado participa da
b) Distribuição e produção repartição dos produtos, resultado da produção, através do
salário. A estrutura da distribuição é inteiramente deter-
À primeira vista causa necessariamente espanto, quando minada pela estrutura da produção. A própria distribuição
se examinam os tratados correntes de economia política, é um produto da produção, não só no que diz respeito ao
ver que todas as categorias neles são consideradas de duplo objeto - apenas podendo ser distribuído o resultado da
modo. Por exemplo, na distribuição incluem: renda imobi- produção -, mas também no que diz respeito à forma, de-
liária, salário, juro e lucro, enquanto na produção figuram terminando o modo preciso de participação, na produção,
como agentes terra, trabalho e capital. No que diz respeito das formas particulares da distribuição, isto é, determinan-
ao capital, é evidente que ele é admitido de duas formas: a) do de que forma o produtor participará da distribuição. É
como agente de produção; b) como fonte de receitas: como absolutamente ilusório incluir a terra na produção, a renda
formas de distribuição determinadas e determinantes. Por imobiliária na distribuição etc.
conseguinte, juro e lucro figuram também na produção, na Economistas como Ricardo, a quem muitas vezes se
medida em que são formas que determinam o aumento do censurou ter em vista somente a produção, definiram, no
capital, seu crescimento, na medida em que são fatores de entanto, a distribuição como o objeto exclusivo da eco-
sua própria produção. Juro e lucro, como formas de distri- nomia política, porque instintivamente viam nas formas
buição, supõem o capital considerado como agente da pro- de distribuição a expressão mais clara das relações fixas
dução. São modos de distribuição que têm por postulado dos agentes de produção numa dada sociedade.
o capital como agente da produção. São igualmente modos Em relação ao indivíduo isolado, a distribuição surge
de reprodução do capital. naturalmente como uma lei social, que condiciona a sua
De igual modo o salário é o trabalho assalariado, que os posição no interior da produção - no quadro da qual
economistas consideram num outro tópico: o caráter deter- ele produz, e que precede, portanto, a produção. Origi-
minado de agente de produção que o trabalho possui nesse nariamente, o indivíduo não tem capital nem proprieda-
caso apresenta-se como determinação da distribuição. Se o de fundiária. Logo ao nascer é reduzido ao trabalho as-
trabalho não fosse definido como trabalho assalariado, o salariado pela distribuição social. Mas o próprio fato de
modo segundo o qual participa da repartição dos produtos ser reduzido ao trabalho assalariado é um resultado da
não assumiria a forma de salário; é o que acontece com a existência do capital e da propriedade fundiária como
escravatura. Finalmente, a renda imobiliária, para conside- agentes de produção independentes.
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Considerando as sociedades na sua totalidade, a dis- o verdadeiro assunto da economia política moderna. Daí o
tribuição, de outro ponto de vista, parece preceder a pro- absurdo quando os economistas tratam a produção como
dução e determiná-la - a bem dizer, como um fato pró- se fosse uma verdade eterna, pondo de parte a história no
-econômico. Um povo conquistador partilha a terra entre domínio da distribuição.
os conquistadores, impondo assim certa repartição e cer- A questão de saber que relação se estabelece entre a
ta forma de propriedade fundiária; determina, portanto, distribuição e a produção que ela determina depende da
a produção. Ou então escraviza os povos conquistados, própria produção. Se, partindo do princípio de que a pro-
fazendo assim do trabalho servil a base da produção. Ou dução tem necessariamente o seu ponto de partida numa
ainda, pela revolução, um povo destrói a grande proprie- determinada distribuição dos instrumentos de produção,
dade e divide-a; dá assim, com essa nova distribuição, um concluíssemos que a distribuição, pelo menos nesse sen-
novo caráter à produção. Ou, finalmente, a legislação per- tido, precede a produção, constituindo a sua condição
petua a propriedade fundiária em certas famílias, e faz do prévia, poderíamos responder à questão posta afirman-
trabalho um privilégio hereditário, imprimindo-lhe, desse do que a produção tem efetivamente suas próprias con-
modo, um caráter de casta. Em todos esses casos, e todos dições e premissas, que constituem os seus fatores. Estes
são históricos, a distribuição não parece ser organizada e podem surgir a princípio como dados naturais. O próprio
determinada pela produção; ao contrário, é a produção processo da produção transforma esses dados naturais
que parece determinada pela distribuição. em dados históricos e, se é certo que surgem em deter-
Na sua concepção mais banal, a distribuição apresenta- minado período como premissas naturais da produção,
-se como distribuição dos produtos, e assim como que em outro período foram o seu resultado histórico. São
afastada da produção e a bem dizer independente dela. constantemente modificados no próprio quadro da pro-
Contudo, antes de ser distribuição de produtos, ela é: a) dução. A máquina, por exemplo, modificou a distribuição
distribuição dos instrumentos de produção; b) distribuição tanto dos instrumentos de produção como dos produtos.
dos membros da socíedade pelos diferentes gêneros de pro- A grande propriedade latifundiária moderna é o resulta-
dução, o que é outra determinação da relação anterior. (Su- do não só do comércio e da indústria modernos como da
bordinação dos indivíduos a relações de produção deter- aplicação desta última à agricultura.
minadas.) A distribuição dos produtos é manifestamente o As questões acima formuladas resumem-se, em últi-
resultado dessa distribuição, que, incluída no próprio pro- ma análise, a saber de que modo as condições históricas
cesso de produção, determina-lhe a estrutura. Considerar a gerais intervêm na produção e qual a relação desta com
produção sem ter em conta essa distribuição, nela incluída, o movimento histórico em geral. O problema levanta a
é sem dúvida uma abstração vazia de sentido, visto que a discussão e a análise da própria produção.
distribuição dos produtos é implicada por essa distribui- No entanto, na forma trivial em que foram aqui ci-
ção, que constitui na origem um fator da produção. Ricar- tadas, podemos arrumá-las em uma palavra. Em todas
do, a quem interessava conceber a produção moderna na as conquistas há três possibilidades: o povo conquistador
sua estrutura social determinada, e que é o economista da impõe ao povo conquistado o seu próprio modo de pro-
produção por excelência, 8 afirma, por essa mesma razão, dução (por exemplo, os ingleses na Irlanda, neste século,
que não é a produção, mas sim a distribuição que constitui e em parte na Índia); ou deixa subsistir o antigo modo
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de produção, contentando-se em cobrar um tributo (os mento de produção, por exemplo a terra. Mas essas leis só
turcos e os romanos, por exemplo); ou verifica-se uma têm importância econômica quando a grande propriedade
ação recíproca que dá origem a alguma coisa nova, a uma fundiária está em harmonia com a produção social, como
síntese (foi o que aconteceu, em parte, nas conquistas ger- acontece na Inglaterra. Na França praticou-se a pequena
mânicas). Em qualquer dos casos, o modo de produção cultura apesar da existência da grande propriedade, aliás
- quer o do povo conquistador, quer o do povo conquis- destruída pela Revolução. Mas o que acontecerá se pre-
tado, quer ainda o que resulta da fusão de ambos - é tendermos perpetuar através da lei a divisão da proprie-
determinante para a nova distribuição que se faz. Embora dade, por exemplo? A propriedade volta a concentrar-se,
esta se apresente como condição prévia do novo período não obstante a lei. A influência que as leis exercem sobre a
de produção, ela própria, por sua vez, é produto da pro- manutenção das relações de distribuição e, por conseguin-
dução, não só da produção histórica em geral, mas desta te, sobre a produção, deve ser determinada separadamente.
ou daquela produção histórica determinada. D
Os mongóis, quando devastaram a Rússia, por exem- c) Troca e produção
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plo, agiram de acordo com o seu modo de produção, que
se baseava no pastoreio, exigindo como condição essencial A própria circulação é apenas um momento determina-
grandes espaços desabitados. Os bárbaros germânicos, do da troca, ou a troca considerada na sua totalidade.
cujo modo de produção tradicional se baseava na cultura Na medida em que a troca não é mais que um fator
da terra pelos servos e na vida isolada no campo, puderam que serve de intermediário entre a produção e a distri-
submeter facilmente as províncias romanas a essas condi- buição que ela determina, tal como o consumo; na me-
ções, tanto mais que a concentração da propriedade rural dida, por outro lado, em que este último surge como um
que se tinha já operado alterara completamente o anterior dos fatores da produção, a troca constitui manifesta-
regime da agricultura. mente um momento da produção.
É já tradicional a afirmação de que em certos períodos Em primeiro lugar, é evidente que a troca de atividades
o homem viveu apenas da pilhagem. Contudo, para po- e de capacidade que tem lugar na própria produção faz di-
der fazê-lo, é necessário que exista algo para pilhar, logo, retamente parte desta, constituindo um dos seus elementos
uma produção. E o modo de pilhagem é, por seu lado, essenciais. Em segundo lugar, isso é verdade para a troca
determinado pelo modo de produção. Uma stock-jobbing de produtos, na medida em que essa troca é o instrumen-
nation [nação de especuladores da Bolsa], por exemplo, to que fornece o produto acabado, destinado ao consumo
não pode ser pilhada como uma nação de vaqueiros. imediato. Nesse sentido, a própria troca é um ato incluído
O instrumento de produção é diretamente roubado na na produção. Em terceiro lugar, a troca (exchange) entre
pessoa do escravo. Mas nesse caso a produção do país, negociantes (dealers) é, por sua organização, inteiramente
em proveito do qual ele é roubado, deve ser organizada determinada pela produção, ao mesmo tempo que ativida-
de modo que permita o trabalho do escravo, ou (como na de produtiva. A troca só aparece como independente ao
América do Sul etc.) é necessário criar um modo de produ- lado da produção, como indiferente em presença desta, no
ção de acordo com a escravatura. último estágio em que o produto é trocado para ser ime-
As leis podem perpetuar em certas famílias um instru- diatamente consumido. Mas: a) não há troca sem divisão
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do trabalho, quer esta seja natural, quer um resultado his- 3. O método da economia política
tórico; b) a troca privada supõe a produção privada; c) a
intensidade da troca, tal como sua extensão e seu modo, Quando consideramos um determinado país do ponto de
é determinada pelo desenvolvimento e pela estrutura da vista da economia política, começamos por estudar sua
produção. Por exemplo, a troca entre a cidade e o cam- população, a divisão desta em classes, sua repartição pe-
po; a troca entre o campo e a cidade etc. Em todos esses las cidades, pelo campo e à beira-mar, os diversos ramos
momentos, a troca aparece, portanto, como diretamente da produção, a exportação e a importação, a produção e
compreendida na produção ou por ela determinada. o consumo anuais, os preços das mercadorias etc.
Não chegamos à conclusão de que a produção, a dis- Parece que o melhor método será começar pelo real e
tribuição, a troca e o consumo são idênticos, mas que são, pelo concreto, que são a condição prévia e efetiva; assim,
antes, elementos de uma totalidade, diferenciações no in- em economia política, por exemplo, começar-se-ia pela po-
terior de uma unidade. A produção ultrapassa também o pulação, que é a base e o sujeito do ato social de produ-
seu próprio quadro na determinação antitética de si mes- ção como um todo. No entanto, numa observação atenta,
ma, tal como os outros momentos. É a partir dela que apercebemo-nos de que há aqui um erro. A população é
o processo recomeça sem cessar. É evidente que a troca uma abstração se desprezarmos, por exemplo, as classes
e o consumo não podem prevalecer sobre ela. O mesmo de que se compõe. Por seu lado, essas classes são uma pa-
acontece com a distribuição, como distribuição dos pro- lavra oca se ignorarmos os elementos em que repousam,
dutos. Mas, como distribuição dos agentes de produção, a por exemplo o trabalho assalariado, o capital etc. Estes
distribuição é um momento da produção. Uma produção supõem a troca, a divisão do trabalho, os preços etc. O
determinada determina portanto um consumo, uma dis- capital, por exemplo, sem o trabalho assalariado, sem o
tribuição, uma troca determinados, regulando igualmen- valor, sem o dinheiro, sem o preço etc., não é nada. As-
te as relações recíprocas determinadas desses diferentes sim, se começássemos pela população teríamos uma vi-
momentos. A bem dizer a produção, na sua forma exclu- são caótica do todo, e através de uma determinação mais
siva, é também, por seu lado, determinada pelos outros precisa, através de uma análise, chegaríamos a conceitos
fatores. Quando o mercado, ou seja, a esfera da troca, cada vez mais simples; do concreto figurado passaríamos
por exemplo, se desenvolve, cresce o volume da produ- a abstrações cada vez mais delicadas até atingirmos as de-
ção, operando-se nela uma divisão mais profunda. Uma terminações mais simples. Partindo daqui, seria necessário
transformação da distribuição provoca uma transforma- caminhar em sentido contrário até chegar finalmente de
ção da produção; é o caso da concentração do capital, da novo à população, que não seria, desta vez, a representa-
repartição diferente da população entre a cidade e o cam- ção caótica de um todo, mas uma rica totalidade de de-
po etc. Finalmente, as necessidades inerentes ao consumo terminações e de relações numerosas. A primeira via foi
determinam a produção. Há reciprocidade de ação entre a que, historicamente, a economia política adotou no seu
os diferentes momentos, o que acontece com qualquer to- nascimento. Os economistas do século xv11, por exemplo,
talidade orgânica. começam sempre por uma totalidade viva: população, na-
ção, Estado, diversos Estados; mas acabam sempre por
formular, através da análise, algumas relações gerais abs-
KARL MARX 63
ESSENCIAL SOCIOLOGIA

tratas determinantes, tais como a divisão do trabalho, o produção real - que recebe um sim_plesimpulso do ex-
dinheiro, o valor etc. A partir do momento em que esses fa- terior, o que é lamentado - cujo resultado ~ o mundo;
tores isolados foram mais ou menos fixados e teoricamente e isso (mas trata-se ainda de uma tautologia) é exato na
formulados, surgiram sistemas econômicos que, partindo medida em que a totalidade concreta como totalidade-de-
de noções simples tais como o trabalho, a divisão do tra- -pensamento, como concreto-de-pensamento, é de fato um
balho, a necessidade, o valor de troca, se elevaram até o produto do pensamento, da atividade de conceber; ele não
Estado, as trocas internacionais e o mercado mundial. Esse é, pois, de forma alguma o produto do conceito que en-
segundo método é evidentemente o método científico cor- gendra a si próprio, que pensa exterior e superiormente à
reto. O concreto é concreto por ser a síntese de múltiplas observação imediata e à representação, mas um produto da
determinações, logo, unidade da diversidade. É por isso elaboração de conceitos a partir da observação imediata e
que ele é para o pensamento um processo de síntese, um da representação. O todo, na forma em que aparece no es-
resultado, e não um ponto de partida, apesar de ser o ver- pírito como todo-de-pensamento, é um produto do cérebro
dadeiro ponto de partida e portanto igualmente o ponto pensante, que se apropria do mundo do único modo que
de partida da observação imediata e da representação. O lhe é possível, de um modo que difere da apropriação desse
primeiro passo reduziu a plenitude da representação a uma mundo pela arte, pela religião, pelo espírito prático. Antes
determinação abstrata; pelo segundo, as determinações como depois, o objeto real conserva a sua independência
abstratas conduzem à reprodução do concreto pela via do fora do espírito; e isso durante o tempo em que o espírito
pensamento. Por isso Hegel caiu na ilusão de conceber o tiver uma atividade meramente especulativa, meramente
real como resultado do pensamento, que se concentra em teórica. Por consequência, também no emprego do método
si mesmo, se aprofunda em si mesmo e se movimenta por teórico é necessário que o objeto, a-so-ciedade,esteja cons-
si mesmo, enquanto o método que consiste em elevar-se tantemente presente no espírito como dado primeiro.
do abstrato ao concreto é para o pensamento precisamen- Mas as categorias simples não terão também uma
te a maneira de se apropriar do concreto, de o reproduzir existência independente, de caráter histórico ou natural,
como concreto espiritual. Mas esse não é de modo nenhum anterior à das categorias mais concretas? Depende. 9 He-
o processo da gênese do próprio concreto. Por exemplo, a gel, por exemplo, tem razão em começar a filosofia do
categoria econômica mais simples, o valor de troca, por direito pelo estudo da posse, constituindo esta a relação
hipótese, supõe a população, uma população produzindo jurídica mais simples do problema. Mas não existe posse
em condições determinadas; supõe ainda um certo gênero antes de existir a família ou as relações entre senhores
de família, ou de comuna, ou de Estado etc. Só pode pois e escravos, que são relações muito mais concretas. Pelo
existir sob a forma de relação unilateral e abstrata de um contrário, seria correto dizer que existem famílias, co-
todo concreto, vivo, já dado. Como categoria, pelo con- munidades de tribos, que estão ainda apenas no estágio
trário, o valor de troca leva uma existência antediluviana. da posse e não no da propriedade. Em relação à pro-
Para a consciência - e a consciência filosófica considera priedade, a categoria mais simples surge, pois, como a
que o pensamento que concebe constitui o homem real e, relação de comunidades simples de famílias ou de tribos.
por conseguinte, o mundo só é real quando concebido-, Na sociedade num estágio superior, ela aparece como a
portanto, o movimento das categorias surge como ato de relação mais simples de uma organização mais desenvol-
,
________

ESSENCIAL SOCIOLOGIA KARL MARX

vicia. Mas pressupõe-se sempre o substrato concreto que fazer dela o elemento que está na sua origem. A troca
se exprime por uma relação de posse. Podemos imaginar surge nas relações das diversas comunidades entre si, (
\
um selvagem isolado que tenha uma posse, mas esta não muito antes de aparecer nas relações dos membros no in-
constitui, no caso, uma relação jurídica. Não é exato que terior de uma só e mesma comunidade. Além disso, em-
historicamente a posse evolua até a forma familiar. Pelo bora o dinheiro apareça muito cedo e desempenhe um
contrário, ela supõe sempre a existência dessa "categoria papel múltiplo, é na Antiguidade que ele aparece, como
jurídica mais concreta". Entretanto, não deixaria de ser elemento dominante, apanágio de nações determinadas
menos verdadeiro que as categorias simples são a expres- unilateralmente, de nações comerciais. E mesmo na An-
são de relações em que o concreto ainda não desenvolvi- tiguidade de menor duração, entre os gregos e os roma-
do pôde realizar-se sem ter ainda dado origem à relação nos, o dinheiro só atinge seu completo desenvolvimento,
ou conexão mais complexa que encontra sua expressão postulado da sociedade burguesa moderna, no período
mental na categoria mais concreta, enquanto o concreto da sua dissolução. Essa categoria, apesar de tão simples,
mais desenvolvido deixa subsistir essa mesma categoria só aparece portanto historicamente, com todo o seu vi-
como uma relação subordinada. O dinheiro pode exis- gor, nos estados mais desenvolvidos da sociedade. Não
tir, e de fato existiu historicamente, antes de existirem abre caminho através de todas as relações econômicas.
o capital, os bancos, o trabalho assalariado etc. Nesse No Império Romano, por exemplo, no apogeu do seu
sentido, podemos dizer que a categoria mais simples desenvolvimento, o tributo e as prestações em gêneros
pode exprimir relações dominantes de um todo menos continuavam a ser fundamentais. O sistema monetário
desenvolvido ou, pelo contrário, relações subordinadas propriamente dito só estava completamente desenvolvi-
de um todo mais desenvolvido, relações que existiam já do no Exército. E nunca se introduziu na totalidade do
historicamente antes que o todo se desenvolvesse no sen- trabalho. Assim, apesar de historicamente a categoria
tido que encontra a sua expressão numa categoria mais mais simples poder ter existido antes da mais concreta,
concreta. Nessa medida, a evolução do pensamento abs- ela pode pertencer, no seu completo desenvolvimento -
trato, que se eleva do mais simples ao mais complexo, em compreensão e em extensão-, precisamente a uma
corresponderia ao processo histórico real. 10
forma de sociedade complexa, enquanto a categoria
Por outro lado, podemos dizer que há formas de so- mais concreta se achava já completamente desenvolvida
ciedade muito desenvolvidas, mas a que falta historica- numa forma de sociedade mais atrasada.
mente maturidade, e nas quais descobrimos as formas O trabalho parece ser uma categoria muito simples.
mais elevadas da economia, como, por exemplo, a coo- A ideia de trabalho nessa universalidade - como traba-
peração, uma divisão do trabalho desenvolvida etc., lho em geral - é, também, das mais antigas. No entanto,
sem que exista nenhuma forma de moeda: o Peru, por concebido do ponto de vista econômico nessa forma sim-
exemplo. Também entre os eslavos, o dinheiro e a tro- ples, o "trabalho" é uma categoria tão moderna como as
ca que o condiciona não aparecem, ou aparecem pouco, relações que essa abstração simples engendra. O sistema
no interior de cada comunidade, mas aparecem nas suas monetário, por exemplo, situa ainda de forma perfeita-
fronteiras, no comércio com outras comunidades. Aliás, mente objetiva, como coisa exterior a si, a riqueza no di-
é um erro colocar a troca no centro das comunidades, nheiro. Em relação a esse ponto de vista, fez-se um gran-
66 ESSENCIAL SOCIOLOGIA KARL MARX

de progresso quando o sistema industrial ou comercial as abstrações mais gerais só nascem, em resumo, com o
transportou a fonte de riqueza do objeto para a atividade desenvolvimento concreto mais rico, em que um caráter
subjetiva - o trabalho comercial e fabril -, concebendo aparece como comum a muitos, como comum a todos.
ainda essa atividade apenas sob a forma limitada de pro- Deixa de ser possível, desse modo, pensá-lo apenas sob
dutora de dinheiro. Em face desse sistema, o sistema dos uma forma particular. Por outro lado, essa abstração do
fisiocratas admite uma forma determinada do trabalho trabalho em geral não é somente o resultado mental de
- a agricultura - como a forma de trabalho criadora de uma totalidade concreta de trabalhos. A indiferença em
riqueza, e admite o próprio objeto não sob a forma dis- relação a esse trabalho determinado corresponde a uma
simulada do dinheiro, mas como produto enquanto pro- forma de sociedade na qual os indivíduos mudam com
duto, como resultado geral do trabalho. Esse produto, em facilidade de um trabalho para outro, e na qual o gênero
virtude do caráter limitado da atividade, continua a ser preciso de trabalho é para eles fortuito, logo indiferente.
ainda um produto determinado pela natureza - produto Aí o trabalho tornou-se, não só no plano das categorias,
• · 11
da agricultura, produto da terra por exce l encta. mas na própria realidade, um meio de criar a riqueza
Um enorme progresso é devido a Adam_Smith, que em geral e deixou, como determinação, de constituir um
rejeitou toda a determinação particular da atividade todo com os indivíduos, em qualquer aspecto particular.
criadora de riqueza, considerando apenas o trabalho Esse estado de coisas atingiu o seu mais alto grau de de-
puro e simples, isto é, nem o trabalho industrial~m o senvolvimento na forma de existência mais moderna das
tr;balho comercial, nem o trabalho agrícola, mas todas sociedades burguesas, nos Estados Unidos. Só aí, por-
essas formas de trabalho no seu caráter comum-'-Com a tanto, a abstração da categoria "trabalho", "trabalho
generalidade abstrata da atividade criadora de rigueza., em geral", trabalho "sans phrase", 12 ponto de partida da
igualmente se manifesta então a generosidade doybjeto economia moderna, torna-se verdade prática.
na-determinação de riqueza, o produto considerado em Assim, a abstração mais simples, que a economia po-
absoluto, ou ainda o trabalho em geral, mas enquanto lítica moderna coloca em primeiro lugar e que exprime
trabalho passado, objetivado num objeto. uma relação muito antiga e válida para todas as formas
O exemplo de Adam Smith, que pende por vezes de sociedade, só aparece no entanto sob essa forma abs-
para o sistema dos fisiocratas, prova quanto era difícil trata como verdade prática, enquanto categona da so-
e importante a transição para essa nova concepção. Po- ciedade mais moderna. Poder-se-ia dizer que essa indife-
deria assim parecer que desse modo se encontrara sim- rença em relação a uma forma determmada de trabalho,
plesmente a expressão abstrata da relação mais simples que se apresenta nos Estados Unidos como produto his-
e mais antiga que se estabeleceu - seja qual for a forma tórico, manifesta-se na Rússia, por exemplo, como uma
de sociedade - entre os homens considerados produto- disposição natural. Mas, por um lado, que extraordiná-
res, o que é verdadeiro num sentido, mas falso em ou- ria diferença entre os bárbaros, que têm uma tendência
tro. A indiferença em relação a um gênero determinado natural para se deixarem empregar em todos os traba-
de trabalho pressupõe a existência de uma totalidade lhos, e os civilizados, que empregam a si próprios. E, por
muito desenvolvida de gêneros de trabalhos reais, dos outro lado, a essa indiferença em relação a um trabalho
quais nenhum é absolutamente predominante. Assim, determinado corresponde na prática, entre os russos, a
68 ESSENCIAL SOCIOLOGIA KARL MARX

sua sujeição tradicional a um trabalho bem determina- válida para todas as outras formas de sociedade, isso só
do, do qual só influências exteriores podem arrancá-los. pode ser admitido cum grano salis [com um grão de sal].
Esse exemplo do trabalho mostra com toda a evidência Elas podem encerrar essas formas desenvolvidas, debili-
que até as categorias mais abstratas, ainda que válidas - tadas, caricaturadas etc., mas sempre com uma diferen-
precisamente por causa da sua natureza abstrata - para ça essencial. O que se chama desenvolvimento histórico
todas as épocas, não são menos, sob a forma determinada baseia-se, ao fim e ao cabo, no fato de a última forma
dessa mesma abstração, o produto de condições históricas, considerar as formas passadas como jornadas que levam
e só se conservam plenamente válidas nessas condições e ao seu próprio grau de desenvolvimento, e dado que ela
no quadro delas. raramente é capaz de fazer a sua própria crítica, e isso em
A sociedade burguesa é a organização histórica da condições bem determinadas - não estão naturalmen-
produção mais desenvolvida e mais variada que existe. te em questão os períodos históricos que consideram a si
Por esse fato, as categorias que exprimem as relações des- próprios como épocas de decadência -, concebe-as sem-
sa sociedade e que permitem compreender a sua estru- pre sob um aspecto unilateral. A religião cristã só pôde
tura permitem, ao mesmo tempo, perceber a estrutura e ajudar a compreender objetivamente as mitologias ante-
as relações de produção de todas as formas de socieda- riores depois de ter feito, até certo grau, por assim dizer
de desaparecidas, sobre cujas ruínas e elementos ela se dünámei (virtualmente], a sua própria crítica. Igualmente
edificou, que certos vestígios, parcialmente ainda não a economia política burguesa só conseguiu compreender
apagados, continuam a subsistir nela, e que certos signos as sociedades feudais, antigas e orientais no dia em que
simples, desenvolvendo-se nela, se enriqueceram de toda empreendeu a autocrítica da sociedade burguesa. Na me-
» a sua significação. A anatomia do homem é a chave da dida em que a economia política burguesa, criando uma
anatomia do macaco. Nas espécies animais inferiores só nova mitologia, não se identificou pura e simplesmente
se podem compreender os signos denunciadores de uma com o passado, a crítica que fez às sociedades anteriores,
forma superior quando essa forma superior já é conheci- em particular à sociedade feudal - contra a qual tinha
da. Da mesma forma a economia burguesa nos dá a chave ainda que lutar diretamente-, assemelha-se à crítica do
da economia antiga etc. Mas nunca à maneira dos eco- paganismo feita pelo cristianismo, ou à do catolicismo
nomistas que suprimem todas as diferenças históricas e feita pela religião protestante.
veem em todas as formas de sociedade as da sociedade Do mesmo modo que em toda a ciência histórica ou
burguesa. Podemos compreender o tributo, o dízimo etc. social em geral, é preciso nunca esquecer, a propósito da
quando conhecemos a renda imobiliária. Mas não se de- evolução das categorias econômicas, que o objeto - nesse
vem identificar essas formas. Como, além disso, a socie- caso a sociedade burguesa moderna - é dado tanto na
dade burguesa é apenas urna forma antitética do desen- realidade como no cérebro; não esquecer que as catego-
volvimento histórico, há relações que pertencem a formas rias exprimem portanto formas de existência, condições
de sociedade anteriores que só poderemos encontrar nela de existência determinadas, muitas vezes simples aspec-
completamente debilitadas ou até disfarçadas. Por exem- tos particulares dessa sociedade determinada, desse ob-
plo, a propriedade comunal. Se, portanto, é certo que as jeto, e que, por conseguinte, essa sociedade de maneira
categorias da economia burguesa possuem certa verdade nenhuma começa a existir, inclusive do ponto de vista
ESSENCIAL SOCIOLOGIA KARL MARX 71

científico, somente a partir do momento em que ela está de capital monetário - tem, sob a forma de aparelhagem
em questão como tal. É uma regra a fixar, porque dá in- de um ofício tradicional etc., esse caráter de propriedade
dicações decisivas para a escolha do plano a adotar. Nada fundiária. Na sociedade burguesa é o contrário. A agri-
parece mais natural, por exemplo, do que começar pela cultura torna-se cada vez mais um simples ramo da indús-
renda imobiliária, pela propriedade fundiária - dado tria e acha-se totalmente dominada pelo capital. O mesmo
que está ligada à terra, fonte de toda a produção e de toda acontece com a renda imobiliária. Em todas as formas de
a existência -, e por ela à primeira forma de produção de sociedade em que predomina a propriedade fundiária, a
qualquer sociedade que atingiu certo grau de estabilida- relação com a natureza é predominante. Naquelas em que
de: a agricultura. Ora, nada seria mais errado. Em todas o capital domina é o elemento social formado ao longo da
as formas de sociedade são uma produção determinada e história que prevalece. :t-!ãose pode compreender a renda
as relações por ela produzidas que estabelecem, a todas imobiliária sem o capital. Mas podemos compreender o
as outras produções e às relações a que elas dão origem, capital sem a renda imobiliária. O capital é a força econô-
sua categoria e sua importância. É como uma iluminação mica da sociedade burguesa que tudo domina. Constitui
geral em que se banham todas as cores e que modifica as necessariamente o ponto de partida e o ponto de chegada
tonalidades particulares destas. É como um éter particu- e deve ser explicado antes da propriedade fundiária. De-
lar que determina o peso específico de todas as formas de pois de os ter estudado a cada um em particular, é neces-
existência que aí se salientam. Tomemos como exemplo sário examinar a sua relação recíproca.
os povos de pastores. (Os simples povos de caçadores e Seria portanto impossível e errado classificar as ca-
pescadores estão aquém do ponto em que começa o verda- tegorias econômicas pela ordem em que foram histori-
deiro desenvolvimento.) Entre eles aparece certa forma de camente determinantes. A sua ordem é, pelo contrário,
agricultura, uma forma esporádica. É o que determina en- determinada pelas relações que existem entre elas na so-
tre eles a forma de propriedade fundiária. Trata-se de uma ciedade burguesa moderna e é precisamente contrária ao
propriedade coletiva que conserva mais ou menos essa for- que parece ser sua ordem natural ou ao que corresponde
ma enquanto esses povos continuam mais ou menos liga- a sua ordem de sucessão no decurso da evolução histó-
dos à sua tradição: por exemplo, a propriedade comunal rica. Não está em questão a relação que se estabeleceu
dos eslavos. Entre os povos em que a agricultura está soli- historicamente entre as relações econômicas na sucessão
damente implantada - implantação que constitui já uma das diferentes formas de sociedade. Muito menos sua
etapa importante -, em que predomina essa forma de ordem de sucessão "na ideia" (Proudhon) (concepção
cultura, como acontece nas sociedades antigas e feudais, nebulosa do movimento histórico). Trata-se da sua hie-
a própria indústria, assim como sua organização e as for- rarquia no quadro da moderna sociedade burguesa.
mas de propriedade que lhe correspondem, têm mais ou O estado de pureza (determinação abstrata) em que
menos o caráter da propriedade fundiária. Ou a indústria apareceram no mundo antigo os povos comerciantes -
depende completamente da agricultura, como entre os an- fenícios, cartagineses - é determinado pela própria pre-
tigos romanos, ou, como na Idade Média, imita na cidade dominância dos povos agricultores. O capital, como ca-
e nas suas relações a organização rural. Na Idade Média, pital comercial ou monetário, aparece precisamente sob
o próprio capital - na medida em que não se trata apenas essa forma abstrata sempre que não é ainda o elemento
ESSENCIAL SOCIOLOGIA KARL MARX 73

dominante das sociedades. Os lombardos e os judeus 4. Produção. Meios de produção e relações


têm a mesma posição em relação às sociedades da Idade de produção. Relações de produção e relações
Média que praticam a agricultura. de circulação formas de estado e de consciência
Outro exemplo do lugar diferente que essas mesmas em relação às condições de produção e de
categorias ocupam em diferentes estágios da sociedade: circulação. Relações jurídicas. Relações familiares
uma das mais recentes formas da sociedade burguesa são
as joint stock-companies [sociedades por ações]. Mas N. B.: em relação aos pontos a mencionar aqui e a não esquecer:
aparecem também no princípio das grandes companhias
privilegiadas de comércio que gozavam de um monopólio. r. A guerra desenvolvida anteriormente à paz: mostrar
O próprio conceito de riqueza nacional se insinua na como certas relações econômicas, tais como o trabalho as-
obra dos economistas do século XVII - a ideia subsiste, salariado, a máquina etc. se desenvolveram mais cedo com
em parte, nos do século xvm - desta forma: a riqueza a guerra e os exércitos que no seio da sociedade burguesa.
é criada unicamente pelo Estado, e o poder deste mede- Igualmente a relação entre a força produtiva e as relações
-se por essa riqueza. Essa era a forma ainda inconscien- de circulação particularmente manifesta no Exército.
temente hipócrita que anuncia a ideia que faz da própria 2. Relação entre a história idealista tal como tem sido
riqueza e de sua produção o objetivo final dos Estados escrita e a história real. Em particular as que se intitulam
modernos, considerados assim exclusivamente como histórias da civilização, e que são todas histórias da religião
meios de produzir a riqueza. e dos Estados. 13 (A propósito, podemos referir também os
O plano a adotar deve evidentemente ser o seguinte: a) diferentes gêneros de história escrita até o presente. A his-
as determinações abstratas gerais, convindo portanto mais tória dita objetiva. A subjetiva [moral etc.]. A filosófica.)14
ou menos a todas as formas de sociedade, mas conside- 3. Fenômenos secundários e terciários. De maneira
radas no sentido anteriormente referido; b) as c~orias geral, relações de produção derivadas, transferidas, não
que constituem a estrutura interna da sociedade burguesa originais. Aqui entram em jogo relações internacionais.
e sobre as quais se assentam as classes fundamentais. Ca- 4. Críticas a propósito do materialismo dessa con-
pital, trabalho assalariado, propriedade fundiária. Suas re- cepção. Relação com o materialismo naturalista.
lações recíprocas. Cidade e campo. As três grandes classes 5. Dialética dos conceitos: força produtiva (meios de
sociais. A troca entre estas. A circulação. O crédito (priva- produção) e relações de produção, dialética cujos limites
do); c) concentração da sociedade burguesa na forma do estão por determinar e que não suprime a diferença real.
Estado. Considerado na sua relação consigo próprio. As 6. Relação desigual entre o desenvolvimento da produ-
classes "improdutivas". Os impostos. A dívida pública. O ção material e o da produção artística, por exemplo. De
crédito público. A população. As colônias. A emigração; d) maneira geral, não tomar a ideia do progresso na forma
relações internacionais de produção. A divisão internacio- abstrata habitual. Arte moderna etc. 15 Essa desproporção
nal do trabalho. A troca internacional. A exportação e a está longe de ser tão importante e tão difícil de aprender
importação. Os câmbios; e) o mercado mundial e as crises. como a que se produz no interior das relações sociais prá-
ticas. Por exemplo, a cultura. Relação dos Estados Unidos
com a Europa. 16 A verdadeira dificuldade, nesse caso, é
74 ESSENCIAL SOCIOLOGIA
KARL MARX 75

discutir o seguinte: de que modo as relações de produção, maneira de ver a natureza e as relações sociais que a
tomando a forma de relações jurídicas, seguem um desen- imaginação grega inspira, e que constitui por isso mes-
volvimento desigual. Assim, por exemplo, a relação entre mo o fundamento da [mitologia] 19 grega, será compatí-
o direito privado romano (que não é bem o caso do direito vel com as selfactors [máquinas automáticas de fiar], as
criminal e do direito público) e a produção moderna. estradas de ferro, as locomotivas e o telégrafo? Quem é
7. Esta concepção surge como um desenvolvimento Vulcano aos pés de Roberts & Cia., Júpiter em compa-
necessário. Mas justificação do acaso. De que modo.J7 ração com o para-raios e Hermes em comparação com
(Particularmente também a liberdade.) (Influência dos o crédito mobiliário? Toda a mitologia subjuga, gover-
meios de comunicação. A história universal não existiu na as forças da natureza no domínio da imaginação e
sempre; a história considerada como história universal é pela imaginação, dando-lhes forma; portanto, desapa-
um resultado.) 18 rece quando essas forças são dominadas realmente. O
8. Naturalmente o ponto de partida das determinações que seria da Fama em confronto com a Printing-House
naturais; subjetivamente e objetivamente. Tribos, raças etc. Square? 2 º A arte grega supõe a mitologia grega, isto é, a
Em relação à arte, sabe-se que certas épocas do floresci- elaboração artística mas inconsciente da natureza e das
mento artístico não estão de modo algum em conformidade próprias formas sociais pela imaginação popular. São
com o desenvolvimento geral da sociedade, nem, por con- esses os seus materiais. O que não significa nenhuma
seguinte, com o de sua base material, que é, a bem dizer, a mitologia, ou seja, nenhuma elaboração artística incons-
ossatura de sua organização. Por exemplo: os gregos com- ciente da natureza (subentendendo essa palavra tudo o
parados com os modernos ou ainda Shakespeare. Em rela- que é objetivo, incluindo portanto a sociedade). Jamais
ção a certas formas de arte - a epopeia, por exemplo -, a mitologia egípcia teria podido proporcionar um terre-
admite-se mesmo que não poderiam ter sido produzidas na no favorável à eclosão da arte grega. Mas de qualquer
forma clássica em que fizeram escola no momento em que a modo é necessária uma mitologia, isto é, uma sociedade
produção artística se manifesta como tal; que, portanto, no num estágio de desenvolvimento que exclua qualquer re-
domínio da própria arte, algumas de suas criações impor- lação mitológica com a natureza, qualquer relação ge-
tantes só são possíveis num estágio inferior do desenvolvi- radora de mitos exige assim do artista uma imaginação
mento artístico. Se isso é verdade em relação aos diferentes independente da mitologia.
~êneros artísticos no interior do domínio da própria arte, já Por outro lado, Aquiles será compatível com a pólvo-
e menos surpreendente que seja igualmente verdade em re- ra e o chumbo? Ou, em resumo, a Ilíada com a impren-
lação a todo o domínio artístico no desenvolvimento geral sa, ou melhor, com a máquina de imprimir? O canto, o
da sociedade. A dificuldade reside apenas na maneira geral poema épico, a musa, não desaparecerão necessariamen-
de apreender essas contradições. Uma vez especificadas, es- te perante a barra do tipógrafo? Não terão deixado de
tão automaticamente explicadas. existir as condições necessárias à poesia épica?
Tomemos, por exemplo, a relação com o nosso tempo, Mas a dificuldade não está em compreender que a arte
primeiro, da arte grega, depois da arte de Shakespeare. grega e a epopeia estão ligadas a certas formas do desen-
Sabe-se que a mitologia grega não foi somente o arsenal volvimento social. A dificuldade reside no fato de conti-
da arre grega, mas também a terra que a alimentou. A nuarem a nos proporcionar um prazer estético e de terem
ESSENCIAL SOCIOLOGIA

ainda para nós, em cercos aspectos, o valor de normas e Manifesto do Partido Comunista·
de modelos inacessíveis.
Um homem não pode voltar a ser criança, sob pena
de cair na puerilidade. Mas não é verdade que acha pra-
zer na inocência da criança e, tendo alcançado um ní-
vel superior, não deve aspirar ele próprio a imitar aquela
verdade? Em todas as épocas não se julga ver repetido o
seu próprio caráter na verdade natural do temperamento
infantil? Por que então a infância histórica da humanida-
de, naquilo precisamente em que atingiu o seu mais belo
florescimento, por que esse estágio de desenvolvimento
para sempre perdido não há de exercer um eterno encan- Um fantasma circula pela Europa - o fantasma do co-
to? Há crianças mal-educadas e crianças que agem como munismo. Todas as potências da velha Europa se aliaram
adultos. A maior parte dos povos da Antiguidade perten- numa caçada santa a esse fantasma: o papa e o czar, Met-
cia a esta categoria. Os gregos eram crianças normais. O ternich e Guizot, radicais franceses e policiais alemães.
encanto que sua arte exerce sobre nós não está em con- Que partido oposicionista não é acusado de comu-
tradição com o caráter primitivo da sociedade em que ela nista por seus adversários no governo? Que partido de
se desenvolveu. Pelo contrário, é uma consequência desse oposição não atira de volta a pecha estigmatizante do
caráter primitivo e está indissoluvelmente ligado ao fato comunismo tanto contra os colegas mais progressistas
de as condições sociais insuficientemente maduras em que como contra seus adversários reacionários?
esta arte nasceu - nem poderia ter nascido em condições Duas coisas decorrem desse fato.
diferentes - nunca mais poderem repetir-se. O comunismo já é reconhecido como um poder por
todas as potências europeias.
Está mais do que na hora de os comunistas exporem
abertamente ao mundo inteiro seus pontos de vista, seus
objetivos, suas tendências, e de contrapor à lenda do fan-
tasma do comunismo um manifesto de seu próprio partido.
Com esse propósito, comunistas das mais diversas
nacionalidades se reuniram em Londres e redigiram o
manifesto que se segue, a ser publicado em inglês, fran-
cês, alemão, flamengo e dinamarquês.

,. Karl Marx e Friedrich Engels, Manifesto do Partido Comu-


nista. São Paulo: Companhia das Letras; Penguin, 2012. (N. E.)
554 ESSENCIAL SOCIOLOGIA NOTAS 555

8 Alexander, op. cit., 1999; Anthony Giddens, Política, so- 23 Marshall Berman, Tudo que é sólido desmancha no ar:
ciologia e teoria social. São Paulo: Unesp, 1998. A aventura da modernidade. São Paulo: Companhia
9 Ver André Botelho, "Passagens para o Estado-nação: a das Letras, 1994.
tese de Costa Pinto", Lua Nova, v. 77, 2009, pp. 147-77. 24 Peter Berger. Perspectivas sociológicas: Uma visão hu-
10 Id., "Political Sociology". In: Sociopedia. ISA. Londres: manística, 18. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
Sage, 2011. Giddens, op. cit., 2003.
II Alexander, op. cit., 1999, p. 77. Octavio Ianni, "A crise de paradigma na sociologia".
I2 Giddens, op. cit., 1998, p. 18. RBCS - Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Pau-
13 Quentin Skinner, As fundações do pensamento políti- lo: Anpocs, n. 13, p. 92.
co moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, Italo Calvino, Por que ler os clássicos, 2. ed. São Pau-
pp. IO-I. lo: Companhia das Letras, 2004, p. II.
14 Charles Wright Mills, A imaginação sociológica. Rio de Para um desenvolvimento dessa proposta circunstanciada
Janeiro: Zahar, 1975. nos clássicos do pensamento social brasileiro, ver André
15 Ver Danilo Martuccelli, Sociologies de la Modernité. Botelho, "Passado e futuro das interpretações do país",
Paris: Gallimard, 1999; Piotr Sztompka, A sociologia da Tempo Social, v. 22, n. 1, jun. 2010. pp.47-66.
mudança social. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, Theodor Adorno, Introdução à sociologia. São Paulo:
1998. Ed. da Unesp, 2008, pp. 239-40.
16 Ver Theda Skocpol. Vision and Method in Historical So- 30 Antonio Brasil Jr., op. cit., 2011.
ciology. Cambridge: Cambridge University Press, 1984; 31 Marcel Mauss, Sociologia e antropologia. São Paulo:
Elisa Pereira Reis, "Generalização e singularidades nas Cosac Naify, 2003, p. 187.
ciências humanas". ln: Processos e escolhas: Estudos de
sociologia política. Rio de Janeiro: ContraCapa, 1998,
PP· 13-26. PREFÁCIO A CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA
17 Ver José Maurício Domingues, Teorias sociológicas no sé- DA ECONOMIA POLÍTICA [PP. 33-8]
culo xx. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
18 Ver Sztompka, op. cit., 1998. Gazeta Renana.
l
19 Ver Reinhard Bendix, Max Weber, um perfil intelectual. Gazeta Geral de Augsburgo.
2
Brasília: UnB, 1986; Raymond Boudon e François Bour- Anais Franco-Alemães.
ricaud, Dicionário crítico de sociologia. São Paulo: Áti- 3
4 Nova Gazeta Renana.
ca, 1993. Que aqui se afaste toda a suspeita/ Que neste lugar se
20 Ver Leopoldo Waizbort, As aventuras de Georg Simmel. 5
despreze todo o medo. (Dante, A divina comédia) (N. E.
São Paulo: Curso de pós-graduação em sociologia/usP/Edi- francês)
tora 34, 2000; Federic Vandenberghe, As sociologias de
Georg Simmel. Bauru: Edusc, 2005.
21 Pierre Bourdieu, The Distinction: A Social Critique of the
INTRODUÇÃO A CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA
Judgment of Taste. Cambridge: Harvard University Press,
1984. Sobre classe e cultura, ver Brasílio Sallum Jr., "Clas- DA ECONOMIA POLÍTICA [PP. 39-76]
ses, cultura e ação coletiva", Lua Nova, 65, maio/ago. 2005.
2.2 Marcel Fournier, Marcel Mauss. Paris: Fayard, 1994. 1 Animal político. (N. R. T.)
ESSENCIAL SOCIOLOGIA NOTAS H7

2 Na versão Kautski: no consumo. (N. R. T.} [Esta e todas as notas deste capítulo são de autorin dl'
3 Adição de Kautski ao original. (N. R. T.) Friedrich Engels.] /
4 Kautski leu Aufl,osung (análise} em vez de Auffassung 2 A rigor, a história e/crita. Em 1847, desconhecia-se. 111'l'
(concepção}. (N. R. T.) -história da sociedade, a organização social an1erio1· il
5 Essa frase não aparece no original. (N. R. T.} toda história escrita. Desde então, Haxthausen descoh1·l11
6 No texto de Kautski: serve. (N. R. T.) a propriedade conjunta da terra na Rússia, e Maurer dl'
7 No texto de Kautski: indivíduos isolados. (N. R. T.} monstrou ser ela o fundamento social do qual derivo rn 111
8 Em francês no texto: par excellence. (N. R. T.} historicamente todas as tribos alemãs. Pouco a pouco,
9 Em francês no texto: Ça dépend. (N. R. T.} descobriu-se que a forma primordial da sociedade e,·.1111
IO Corrigido segundo o original. No texto de Kautski: grade pequenas comunidades que compartilhavam a posse dn
nur kombinierten Gesellschaftsformen (precisamente as terra, desde a Índia até a Irlanda. Por fim, a organiznçdo
formas de sociedade complexas somente} em vez de: gra- interna dessa primeira sociedade comunista, em sua for
de einer kombinierten Gesellschaftsform. (N. R.T.} ma típica, foi desvendada pela descoberta culmin::intc dt•
II Em francês no texto: par excellence. (N. R. T.) Morgan acerca da verdadeira natureza da gens e de seu
12 Em francês no texto: "pura e simples". papel na tribo. Com a dissolução dessa coletividade origi
13 Em Kautski: a antiga história da religião e dos Estados. na! principia a cisão da sociedade em classes específicos t',
(N.R.T.} enfim, opostas umas às outras. [Nota às edições ingk-1;0
Parênteses no original. (N. R. T.} de 1888 e alemã de 1890.]
Corrigido segundo o original. (N. R. T.} Procurei seguir esse processo de dissolução em A ori
Toda a pontuação desse passo, à primeira vista cheio gem da família, da propriedade privada e do Estado,
de erros, foi corrigida segundo o original. (N. R. T.} Stuttgart, 1886, 2. ed. [Nota à edição inglesa de I lH!8.I
Corrigido segundo o original. (N. R. T.) 3 "Comunas" era como se chamavam as cidades surgidos
Parênteses no original. (N. R. T.} na França antes mesmo de, como "terceiro estamento",
A palavra foi omitida no original. Retomamos o termo elas lograrem obter de seus senhores feudais e mcsrn:s
"mitologia", empregado na edição de Moscou (1939) e autonomia administrativa e direitos políticos. De 111odo
que nos parece mais satisfatório que o termo "arte" da geral, citam-se aqui como típicos o desenvolvirncnro do
edição de Kautski. (N.R.T.) economia na Inglaterra e o da política na França. 1No111
20 Tipografia do Times. (N. R. T.} à edição inglesa de 1888.]
Assim denominavam os cidadãos italianos e fr::inccNt'N
sua comunidade municipal, depois de obter de scus 111•
MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA [PP. 77-117] nhores feudais, pela compra ou pela força, os pr·inH•Il'ON
direitos de autonomia administrativa. [Nota. edi,1111
I Por "burguesia" entende-se aqui a classe dos capita- alemã de 1890.]
listas modernos, proprietários dos meios de produção 4 Não se fala aqui da Restauração inglesa de , óoo 1l11,i'
da sociedade e exploradores do trabalho assalariado. sim da francesa de 1814-30. [Nota à ediçi'io inglt•H1Id11
"Proletariado" designa a classe dos trabalhadores assa- 1888.]
lariados modernos, os quais, despossuídos de meios de 5 Faz-se referência aqui sobretudo à Alem:111h11, 011d1•11
produção próprios, precisam vender sua força de traba- nobreza do campo e os fidalgos propriet. rioN d1•11•1 t ,,_
lho para poder viver. [Nota à edição inglesa de 1888.J pagam a administradores para que façam tl (' plt1111~t111

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