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Relações
interpessoais,
intergrupais e
intragrupais
Marcela Montalvão Teti
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Existe uma tradição de contar a história da psicologia e de tratar da constituição
do indivíduo moderno como se fosse um processo linear. A psicologia teria
seu nascimento na filosofia antiga e, após alguns percalços nos mosteiros da
Idade Média e nas desventuras da Idade Moderna, encontraria seu apogeu e
sua superioridade no final do século XIX. A história contada dessa maneira faz
parecer que a psicologia científica é resultado do amadurecimento mental dos
povos. A partir dessa mesma perspectiva linear, lança-se luz sobre a formação
do indivíduo moderno. Aparentemente, o que somos hoje é a etapa final de
um processo que se iniciou, talvez, com o homo neandertal. A mente humana,
com seus sabores e dissabores, seria resultado claro do processo evolutivo de
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Interacionismo simbólico
As ideias de Georg Simmel chegaram aos Estados Unidos a partir de Robert
Park e se tornaram referência para psicólogos sociais da Escola de Chicago.
Simmel era alemão, considerado por alguns teóricos como um dos pais da
sociologia moderna, dividindo esse lugar com Durkheim, Marx e Weber. Apesar
de ser sociólogo, suas pesquisas giravam em torno das relações entre indivíduo
e sociedade e, por isso, de acordo com Álvaro e Garrido (2017, p. 70), “deva
ser considerada uma referência da psicologia social”. Para Simmel (1973), a
sociedade é resultado de ações e interações entre seus membros e por isso
mesmo é dinâmica. A perspectiva processual de sua concepção aponta para
a ideia de que nem indivíduo, nem sociedade devem ser concebidas de forma
isolada. A partir dessa ideia de sociedade, seu objeto de investigação eram
os estados mentais das pessoas e o que acontecia diariamente na vida delas.
“Seu objetivo principal era realizar uma descrição das distintas manifestações
da vida social por intermédio do estudo das inter-relações sociais básicas”
(ÁLVARO; GARRIDO, p. 70).
Cotidianamente, as pessoas dão sentido às suas interações a partir de eti-
quetas e modelos a que tiveram acesso em outros lugares. Em resumo, Simmel
se dedicou ao estudo dos seguintes modelos a partir dos quais as relações
humanas se organizam: conflito, intercâmbio, estranheza, supreordenação
e subordinação. A partir desse jogo, ele esteve interessado em investigar
uma série de tipos sociais, especialmente duas figuras, a do estranho e a
do pobre. Simmel ficava intrigado pela vida na cidade nascente, sobretudo
pela condição de estranheza que permeava os modos de vida sem qualquer
relação vicinal. A cidade era a representação da perda dos laços afetivos
do campo por meio da aproximação e da constituição de relações sociais
mediadas pela moeda, pelo dinheiro.
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[...] o grupo [...] é condição necessária para conhecer as determinações sociais que
agem sobre o indivíduo, bem como sua ação como sujeito histórico, partindo do
pressuposto que toda ação transformadora da sociedade só pode ocorrer quando
os indivíduos se agrupam (LANE, 1989, p. 78).
Referências
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Leituras recomendadas
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