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psicologia social
Diego Drescher de Castro
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Ao se deparar com a expressão “psicologia social”, você deve ter imaginado
algumas possíveis definições para essa área do conhecimento. Talvez uma
delas tenha considerado a ideia de que a psicologia social se ocupa das rela-
ções sociais entre indivíduos. Tal entendimento estaria parcialmente correto.
Isso porque, se a psicologia social pensa as relações sociais, é possível inferir
que toda a psicologia é social, pois a psicologia está implicada no estudo dos
indivíduos, e todos os indivíduos habitam o mundo a partir de relações sociais.
Sendo assim, você pode estar se perguntando o que a psicologia social teria
de diferente das outras áreas da psicologia, uma vez que as relações sociais
são, de alguma forma, objeto de estudo para toda a psicologia. Para responder
a essa pergunta, é necessário primeiramente entender o que significa “social”
e de que forma essa noção é importante para a psicologia.
Neste capítulo, você poderá compreender o contexto histórico e as pro-
blemáticas que fizeram o social emergir como campo de estudos. Além disso,
você vai conhecer os principais autores e seus respectivos posicionamentos
teóricos que contribuíram para a constituição da psicologia social. Por fim,
vamos refletir sobre a ideia de social como objeto de estudo.
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Eugenia é um termo criado no século XIX para nomear uma teoria que
buscava justificativas científicas para sustentar práticas racistas e
excluir sujeitos indesejados da sociedade. O movimento eugenista foi responsável
pela violência contra diversas populações ao longo da história e, na América
Latina, teve influência direta sobre a forma como as populações indígenas e de
pessoas negras escravizadas foram segregadas e violentadas pela sociedade
civil e pelo Estado.
Para saber mais sobre o movimento eugênico na América Latina, recomen-
damos o livro A hora da eugenia: raça, gênero e nação na América Latina, da
historiadora Nancy Leys Stepan (2005).
Objetos de estudo?
Agora que você já sabe um pouco mais sobre a história da psicologia social
e seus principais marcos teóricos, é inevitável questionar-se quais seriam
seus objetos de estudo. Primeiramente, é necessário dizer que não existe
resposta direta para essa pergunta, uma vez que a noção de objeto de estudo
já estaria, por si só, alinhada a uma perspectiva positivista. Essa leitura é
herdeira do Iluminismo e de uma cisão entre sujeito e objeto de pesquisa,
produzindo uma hierarquização do conhecimento e colocando pesquisadores
em uma posição pretensamente neutra e distante das questões pesquisadas
(BUCK-MORSS, 2000).
Por outro lado, é inegável que a psicologia (assim como todas as outras
ciências humanas) acaba aceitando uma certa subordinação aos critérios e
às regulamentações para acessar o ambiente acadêmico (DREYFUS; RABINOW,
1995). Dito de outra maneira, essa posição acaba sendo paradoxal: para poder
criticar a lógica científica e a hierarquização dos saberes, essas disciplinas
precisam compactuar com alguns aspectos que vão na contramão daquilo
que elas defendem.
Talvez, mais do que definir e delimitar os objetos da psicologia social, seja
importante sustentar uma certa indefinição. Isso, ainda que possa parecer
muito amplo em um primeiro momento, acaba sendo importante como estra-
tégia para a apostar na multiplicidade do social (SILVA, 2004). Caso contrário,
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Referências
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Leituras recomendadas
ALMEIDA, S. Racismo estrutural: feminismos plurais. [S. l.]: Jandaíra, 2019.
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