Resenha
CAMINO, Leôncio et al (Org). Psicologia Social: Temas e Teorias. 2 ed. revista e ampliada. Brasília. DF:
Technopolitik, 2013. PARTE I: O CAMPO DA PSICOLOGIA SOCIAL. CAPÍTULO I Origens de
Desenvolvimento da Psicologia Social 31-107p.
Sobre a autora:
Renata Farias de Souza
Psicóloga, especialista em Neuropsicologia com formação em Terapia cognitivo-comportamental, área de
concentração em Psicologia clínica com casais e família. É professora universitária na área de gestão e
consultora de empresas na área de Gestão de Pessoas.
Ao dar início à leitura do livro Psicologia
Social: Temas e Teorias, já no capítulo inicial que
trata das origens da psicologia social é possível
perceber a importância de conhecer a história para
compreender o presente e os reflexos no transcorrer
dos estudos e descobertas no transcorrer do tempo.
A pesquisa deixa claro que o fluxo não é
linear nem baseada em uma única premissa e que
diversas teorias foram surgindo, trazendo com elas
controvérsias quanto ao que já estava estabelecido.
Vale dizer que as controvérsias já se iniciam
quando os autores tentam estabelecer um marco
lógico para o início dos debates sobre psicologia
social e suas origens. Mas há um consenso de que
os manuais propostos por William McDougall e
Edward Ross servem de referência histórica.
É interessante a apresentação de ótica sobre
o ato de pensar, apontando ser impossível não
tomar consciência do ato de pensar, mesmo que
esse ato seja o de duvidar, bem como a polêmica
quanto ao conhecimento humano.
O contexto filosófico e suas contribuições
para a Psicologia no sentido amplo e por
consequência para a Psicologia social se mostra
pertinente à medida que aborda fundamentos da
razão, fluxo de pensamentos, ou seja, do
conhecimento humano supracitado.
Trazer um contraponto entre empirismo e
idealismo e como as suas correntes de pensamento
contribuíram em certa maneira com a construção de
conceitos fundamentais do estudo da psicologia é
interessante, pois permite compreender a visão
empirista da associação de ideias para a formação
do raciocínio, bem como o conceito Kantiano do
sujeito mental, do sujeito transcendental. De um
lado Hume, com os três princípios de Associação
enquanto Kant defende o princípio da causalidade.
Em seguida, os autores fazem uma reflexão
sobre as mudanças políticas da época, deixando
claro o quanto esses aspectos influenciam no
pensamento que embasa as teorias e fundamentos
da Psicologia. A visão de Estado laico de
Maquiavel, determinando o Estado como resultado
da vida coletiva e não fruto de conceitos e dogmas
religiosos, bem como a contribuição de Hobbes
quanto à constituição do Estado através de o
Leviatã e da condição do homem como lobo do
próprio homem.
Ainda no contexto filosófico é interessante
como os autores continuam trazendo antítese de
pensamentos, contrapondo a percepção do homem
hobbesiano pelo liberalismo de Locke e Kant e até
mesmo o viés economicista de Adam Smith.
Toda discussão política e econômica é
interessante para em seguida gerar compreensão
mais profunda sobre os impactos desse debate
sobre o contexto social. Para isso, os autores trazem
Hegel e Marx e em seguida McDougall, Le Bom e
Freud, para assim iniciar a trajetória da Psicologia
Social.
Os autores ajudam os leitores a
compreenderem que os fenômenos sociais só
poderão ser compreendidos e explicados através da proeminente na década de 1970, a Cognição Social.
“vida humana em coletividade”, sem contudo Esta, baseada na teoria sobre linguagem de
preterir o papel do indivíduo neste processo. Chomsky, cibernética, processamento de
Chegando ao século XX, influenciados informações e retroalimentação.
fortemente pelo pensamento crítico de Sighele, O próximo tópico do texto retoma a
Tarde e Le Bom sobre o comportamento coletivo e perspectiva histórica para agora traçar uma
as relações sociais, a análise do comportamento é transversal enfatizando a produção Europeia sobre
apresentada pelos autores como fundamental para a Psicologia Social e assim introduzir as teorias de
o futuro da Psicologia Social no mundo ocidental. Serge Moscovici, que será tratado com grande
O próximo tópico do capítulo se destina profundidade em seguida. É claro que pela sua
finalmente a apresentar as ideias que marcam o relevância no estudo das Representações Sociais e
desenvolvimento da Psicologia social, como os processos de influência social.
Allport, os determinismos sociais e a Psicologia Ainda se propõem a analisar as críticas de
Social Psicológica, se baseando no indivíduo Moscovici ao determinismo social norte-
utilizando o método experimental. Mead e Braklett americano, quando aponta que grupos de minoria
e a Psicologia Social Sociológica como alternativa podem ter papel ativo nas mudanças sociais através
à teoria de Allport, mas esta que no século XX se da consistência comportamental e em seguida
torna hegemônica mundialmente. apresentam a teoria das minorias ativas, que
Em seguida, a proposta é analisar a caminha em direção de uma perspectiva
influência de diversas abordagens da Psicologia na Psicossocial.
Psicologia Social, a efeito do Behaviorismo e as O fechamento do capítulo se dá oferecendo
teorias de aprendizagem, social e instrumental. ao leitor perspectivas e caminhos que estão sendo
A Gestalt também presta contribuições à percorridos pela Psicologia Social, que permitem
Psicologia Social à medida que propõe a análise considerar toda a heterogeneidade que
dos fenômenos a partir de uma totalidade e a de que encontraremos nas relações sociais a serem
a percepção procura sempre a melhor forma. Ela estudadas, ou seja, os diferentes paradigmas
incorpora os estímulos sociais ao estudo, bem vivenciados. São as tendências apontadas pelos
como as impressões que formamos sobre as autores sobre o tema.
pessoas. Vale ressaltar a ênfase que os autores dão
a Kurt Lewin ao seu conceito de grupo e às relações
intergrupais na concepção de sociedade.
O texto ainda traz nesse item as
contribuições da Psicanálise, mesmo que Freud já
diferencie a Psicanálise a própria Psicologia ainda
há influência indireta quando ele aponta que a
Psicologia Social se fundamenta na Psicologia
Individual, enquanto que a Psicologia Social
também se apropria de alguns conceitos
psicanalíticos.
No último item deste capítulo são
apresentadas as tendências da Psicologia Social
para o século XXI, onde os autores continuam
traçando uma perspectiva histórica desde o pós-
guerra até a primeira década deste século.
Neste contexto é evidenciada uma crise
vivida pela Psicologia Social no pós-guerra
pautado na busca por respostas aos problemas da
época, com características muito específicas dadas
aos acontecimentos que precederam o período, bem
como os que se seguiram. Outro tema se torna