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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
CURSO: PSICOLOGIA

Psicologia Social
Professor Dr. Marcio Costa
14 de julho de 2021

RESENHA SOBRE O ARTIGO NOTAS PARA UMA GENEALOGIA DA


PSICOLOGIA SOCIAL

Gabriel Elyfran Oliveira Bonfim

SILVA, Rosane Neves. Notas para uma genealogia da Psicologia Social. Psicologia &
Sociedade. São Paulo, SP. Vol 16, n. 2. 2004, p. 12-19.
Rosane Neves da Silva é psicóloga, mestre em Psicologia Social (PUCRS) e doutora
em educação (UFRGS). Atualmente, é professora do Instituto de Psicologia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul e trabalha no programa de Pós-Graduação em Psicologia Social
e Institucional.
O artigo Notas para uma Genealogia da Psicologia social tem por objetivo
problematizar e desnaturalizar o conceito social e, para que isso ocorra, a autora descreve
fenômenos históricos, sociais, políticos e econômicos que influenciaram na identidade da
Psicologia Social. Com uma linguagem concisa, investigativa e, acima de tudo,
problematizadora, a autora mescla relatos de autores, como, Deleuze, Le Bon e Michel
Foucault, que realçam o texto e corroboram para a sustentação de novos conhecimentos em
relação ao tema. É constituído por vários parágrafos, de forma coerente, que abrange aspectos
vinculados ao surgimento do social e questões sociais vinculados ao sistema político,
econômico, industrial, dentre outros.
Nos primeiros parágrafos, a autora aborda o surgimento do social, levantando
questionamentos sobre o tema e pondo em questão que o social frequentemente está vinculado
a um fato natural que, geralmente, encontra-se associado ao senso comum. Segundo a autora,

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Enquanto o social for tomado como um fato natural fundado sobre o senso comum,
as respostas a esse tipo de questão apenas produzirão paralogismos. Parece-nos que,
para sair desse impasse, é preciso em primeiro lugar deixar de tomar o social como
uma evidência e passar a constituí-lo como um problema, isto é, deixar de tomá-lo
como um fato natural intrínseco ao próprio modo de existência da vida humana e
passar a constituí-lo como uma multiplicidade necessariamente construída a partir de
uma relação de forças num campo historicamente dado. (SILVA, 2004, p.13)

Nesse aspecto, o aparecimento do social permanece reduzido à uma simples evidência


do senso comum e aplicado à noção de sociabilidade. Nesse trecho da evidência à
problematização, a autora usa como ferramenta de sua sistematização, textos vinculados à
obra de Michel Foucault, criando algumas definições às quais denominou de configurações do
social. À vista disso, este capítulo foca a Psicologia Social como campo específico de saberes
e práticas por uma multiplicidade de acontecimentos, sejam históricos ou sociais e de práticas
que atravessam uma formação histórica num instante momento.
Nos demais parágrafos teremos o problema das massas no fim do século XIX e, com o
auxílio da obra de Le Bon, mostra-nos que tal situação, ao contrário do que muitos pensam, é
um fenômeno de caráter com viés mais psicológico do que político-econômico. No segundo
momento mostra-se as várias transformações ocorridas no campo da família que, na época,
deixa de ser modo de produção econômica para adquirir características da sociedade industrial
do século XIX. Além disso, com a ajuda da obra de Donzelot percebe-se que o indivíduo se
torna a principal forma para se pensar o social. Ademais, as questões sociais que estavam
surgindo a partir do final do século XIX demandava novas formas de regular a economia de
mercado de modo a assegurar o pleno emprego, responder pela provisão de um elenco de
serviços sociais universais; e manter uma rede de serviços de assistência social ou de meios
para atender a casos de extrema necessidade e aliviar a pobreza. Nesse aspecto, visualizamos
o efeito das multidões e como suas reivindicações durante o final do século XIX é
imprescindível por melhores condições de vida que atenda a população desfavorecida.
Desse modo, com estilo claro e objetivo, a autora questiona, problematiza e esclarece
sobre o surgimento de questões sociais e da própria Psicologia Social, exemplificando e
impulsionando reflexões críticas e discussões teóricas sobre fundamentos históricos, sociais e
políticos que estimularam o surgimento da Psicologia Social. A autora se preocupou
adequadamente em delimitar esse ramo primeiramente para depois construir seus principais
conceitos. A linguagem de fácil acesso ao público em geral, não apenas aos psicólogos
interessados no assunto, possibilitou transmitir esses conhecimentos aos estudantes e também
como uma forma de esclarecer a sociedade sobre o surgimento da Psicologia Social. Os
exemplos citados amplamente nos auxiliam na compreensão de dado momento histórico nos
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possibilitando analisar e confrontar várias posições. O artigo Notas para uma Genealogia da
Psicologia Social, apesar de não focar nos problemas de questões sociais atuais, é bastante
rico quando se trata de alguns conteúdos. A autora tem muito conhecimento na área e
consegue exprimir as informações com maestria e consistência, fundamentando seus
argumentos em alguns filósofos, como, por exemplo, Michel Foucault, Deleuze, Castel e
Danzelot. Também explica a partir de seu ponto de vista sócio-psicológico o que é Psicologia
Social, sua função e quais as suas dificuldades. Uma leitura que deve ser entendida sem muito
esforço devido a sua clareza. Um ponto interessante ao longo da leitura são as ideias que são
difundidas e que, geralmente, confrontam-se, sendo uma dessas a diferença entre o social e
sociabilidade, conceitos parecidos, porém com significados diferentes. Em vista disso, a
abordagem realizada pela autora exige conhecimentos prévios para ser acompanhada, como,
por exemplo, saber diferenciar “social” de “sociabilidade” e ter clareza sobre os diversos
“tipos de conhecimento”, reconhecendo o valor de cada um deles, além de diversas releituras
e pesquisas quanto a conceitos, autores e contextos apresentados, uma vez que as conclusões
emergem a partir de esclarecimentos e posições a respeito da não neutralidade. Rosane nos
mostra que se preocupa em pesquisar e compreender como é a relação do indivíduo com a
sociedade, de que forma ele se comporta e como pode agir socialmente. Além da crítica, o que
ela proporciona no decorrer da leitura, são seus traços marcantes. Suas ideias permitem novas
perspectivas para a Psicologia Social. Ao discorrer sobre o processo histórico da Psicologia
Social vemos a importância disso ao futuro psicólogo, não apenas da área social, que irá lidar
com o cenário do país e criar novos pontos de discussão e problemáticas que uniformizem e
delimitem melhor o papel desse profissional. Apesar dos pontos positivos, podemos encontrar
alguns problemas. Há uma certa carência em relação a descrição da formação dessa área em
outros locais, como, por exemplo, a América do Norte. Finalmente, com o estudo dessa obra,
podemos amadurecer mais com conteúdos vinculados ao social e, consequentemente,
compreender, a partir de dados históricos, como as questões sociais comportam-se nos dias
atuais. Notas para uma Genealogia da Psicologia Social é sem dúvidas uma leitura essencial
para discussões acerca da Psicologia Social.

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