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Apresentação
A psicologia social é um campo de estudos amplo e de fundamental importância para as ciências
humanas. A definição de sua origem e objeto de estudo é variada, podendo ganhar diferentes
contornos conforme o entendimento de “social”, seu contexto sócio-histórico e o local onde foi
pensado. Diante desse cenário complexo, é preciso estudar as principais concepções de “social”
para a psicologia e compreender de que maneira esse entendimento influencia as principais teorias
da área.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender sobre a constituição do social como campo de
estudos e conhecer as principais teorias e autores da psicologia social e algumas de suas
contribuições. Além disso, vai identificar os principais objetos de estudo da área.
Bons estudos.
Neste Infográfico, você vai conhecer um pouco mais sobre a psicologia social no Brasil e alguns dos
principais marcos que contribuíram para essa trajetória.
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Conteúdo do livro
Não existe apenas uma “psicologia social”. Dessa forma, sua definição, seus objetos de estudo e
principais autores dependem diretamente da forma como é abordada a noção de “social”. Para
compreender melhor a respeito da constituição desse campo de estudos, é preciso conhecer um
pouco a história da psicologia social e suas diferentes concepções.
No capítulo Breve história da psicologia social, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você
vai aprender sobre a importância do contexto sócio-histórico e sua influência na concepção do
“social” como campo de estudos. Essas problematizações serão fundamentais para a sua formação
e para o entendimento da constituição dos sujeitos modernos e suas relações. Você vai estudar
sobre o surgimento da psicologia social, suas principais teorias e autores, além de saber sobre a
relação da psicologia social com as concepções de sujeito e objeto de estudo e de que forma isso
contribui para o entendimento de diferentes paradigmas.
Boa leitura.
PSICOLOGIA SOCIAL
Breve história da
psicologia social
Diego Drescher de Castro
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Ao se deparar com a expressão “psicologia social”, você deve ter imaginado
algumas possíveis definições para essa área do conhecimento. Talvez uma
delas tenha considerado a ideia de que a psicologia social se ocupa das rela-
ções sociais entre indivíduos. Tal entendimento estaria parcialmente correto.
Isso porque, se a psicologia social pensa as relações sociais, é possível inferir
que toda a psicologia é social, pois a psicologia está implicada no estudo dos
indivíduos, e todos os indivíduos habitam o mundo a partir de relações sociais.
Sendo assim, você pode estar se perguntando o que a psicologia social teria
de diferente das outras áreas da psicologia, uma vez que as relações sociais
são, de alguma forma, objeto de estudo para toda a psicologia. Para responder
a essa pergunta, é necessário primeiramente entender o que significa “social”
e de que forma essa noção é importante para a psicologia.
Neste capítulo, você poderá compreender o contexto histórico e as pro-
blemáticas que fizeram o social emergir como campo de estudos. Além disso,
você vai conhecer os principais autores e seus respectivos posicionamentos
teóricos que contribuíram para a constituição da psicologia social. Por fim,
vamos refletir sobre a ideia de social como objeto de estudo.
2 Breve história da psicologia social
Eugenia é um termo criado no século XIX para nomear uma teoria que
buscava justificativas científicas para sustentar práticas racistas e
excluir sujeitos indesejados da sociedade. O movimento eugenista foi responsável
pela violência contra diversas populações ao longo da história e, na América
Latina, teve influência direta sobre a forma como as populações indígenas e de
pessoas negras escravizadas foram segregadas e violentadas pela sociedade
civil e pelo Estado.
Para saber mais sobre o movimento eugênico na América Latina, recomen-
damos o livro A hora da eugenia: raça, gênero e nação na América Latina, da
historiadora Nancy Leys Stepan (2005).
Objetos de estudo?
Agora que você já sabe um pouco mais sobre a história da psicologia social
e seus principais marcos teóricos, é inevitável questionar-se quais seriam
seus objetos de estudo. Primeiramente, é necessário dizer que não existe
resposta direta para essa pergunta, uma vez que a noção de objeto de estudo
já estaria, por si só, alinhada a uma perspectiva positivista. Essa leitura é
herdeira do Iluminismo e de uma cisão entre sujeito e objeto de pesquisa,
produzindo uma hierarquização do conhecimento e colocando pesquisadores
em uma posição pretensamente neutra e distante das questões pesquisadas
(BUCK-MORSS, 2000).
Por outro lado, é inegável que a psicologia (assim como todas as outras
ciências humanas) acaba aceitando uma certa subordinação aos critérios e
às regulamentações para acessar o ambiente acadêmico (DREYFUS; RABINOW,
1995). Dito de outra maneira, essa posição acaba sendo paradoxal: para poder
criticar a lógica científica e a hierarquização dos saberes, essas disciplinas
precisam compactuar com alguns aspectos que vão na contramão daquilo
que elas defendem.
Talvez, mais do que definir e delimitar os objetos da psicologia social, seja
importante sustentar uma certa indefinição. Isso, ainda que possa parecer
muito amplo em um primeiro momento, acaba sendo importante como estra-
tégia para a apostar na multiplicidade do social (SILVA, 2004). Caso contrário,
8 Breve história da psicologia social
Referências
ÁLVARO, J. L.; GARRIDO, A. Psicologia social: perspectivas psicológicas e sociológicas.
São Paulo: McGraw-Hill, 2006.
BOCK, A. M. B. A psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em psicologia. In:
BOCK, A. M. B.; GONÇALVES, M. G. M.; FURTADO, O. (org.) Psicologia sócio-histórica: uma
perspectiva crítica em psicologia. São Paulo: Cortez, 2001. p. 15-35.
BOCK, A. M. B. et al. Sílvia Lane e o projeto do “Compromisso Social da Psicologia”.
Psicologia & Sociedade, v. 19, ed. especial 2, p. 46-56, 2007.
BUCK-MORSS, S. Hegel and Haiti. Critical Inquiry, v. 26, n. 4, p. 821-865, 2000.
DREYFUS, H.; RABINOW, P. Michel Foucault: uma trajetória filosófica: para além do
estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.
FERREIRA, M. C. A psicologia social contemporânea: principais tendências e perspectivas
nacionais e internacionais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26, n. especial, p. 51-64, 2010.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. 3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. 8. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2000.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2015.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento das prisões. 42. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
GUATTARI, F.; ROLNIK, S. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
LIMA, R. S. História da psicologia social no Rio de Janeiro: dois importantes personagens.
Fractal: Revista de Psicologia, v. 21, n. 2, p. 409-423, maio/ago. 2009.
ROSE, N. Psicologia como uma ciência social. Psicologia & Sociedade, v. 20, n. 2, p.
155-164, 2008.
SÊGA, R. A. O conceito de representação social nas obras de Denise Jodelet e Serge
Moscovici. Anos 90, v. 8, n. 13, p. 128-133, jul. 2000.
SILVA, R. N. Notas para uma genealogia da psicologia social. Psicologia & Sociedade,
v. 16, n. 2, p. 12-19, 2004.
10 Breve história da psicologia social
Leituras recomendadas
ALMEIDA, S. Racismo estrutural: feminismos plurais. [S. l.]: Jandaíra, 2019.
DAVIS, A. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2013.
STEPAN, N. L. A hora da eugenia: raça, gênero e nação na América Latina. Rio de janeiro:
Fiocruz, 2005.
Dica do professor
A psicologia social é composta por variados paradigmas, podendo cada um deles ser entendido
como um conjunto de procedimentos, conceitos e modos de perceber fenômenos que diferem
entre si. Um deles é nomeado como “paradigma ético-estético-político” e tem forte influência dos
pensadores pós-estruturalistas franceses, como Deleuze, Guattari e Foucault. No Brasil, esse
paradigma foi teorizado e difundido por diversos pesquisadores, destacando-se o nome de Suely
Rolnik.
Nesta Dica do Professor, você vai conhecer mais sobre o paradigma ético-estético-político. Essa
perspectiva da psicologia social é de extrema relevância para a produção do conhecimento e tem
uma história e influência significativas na psicologia social brasileira e nas produções
contemporâneas.
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Exercícios
1) A psicologia social no Brasil surgiu na primeira metade do século XX. Em quase um século de
história, muitos pesquisadores contribuíram para a ampliação dessa área do conhecimento
com diversos posicionamentos teóricos.
A) A publicação que marcou o surgimento da psicologia social no Brasil foi o livro Psicologia
social, escrito por Silvia Lane.
E) As produções brasileiras em psicologia social até a metade do século XX tinham forte ligação
com a realidade socioeconômica da América Latina.
2) Sílvia Lane foi uma das principais pesquisadoras em psicologia social no Brasil. Suas
contribuições teóricas foram fundamentais para a criação da Abrapso, da qual foi a primeira
presidente.
A) seu entendimento de psicologia social não leva em conta a situação política, social e
econômica da América Latina.
B) defendia que o social era constituído por leis e princípios gerais que poderiam ser aplicados a
qualquer realidade.
3) A psicologia social tem uma história relativamente recente, considerando a sua importância
e as contribuições para o entendimento do mundo em que vivemos. Apesar de sua
relevância, não tem uma única definição ou alinhamento teórico, sendo marcada por
diversos paradigmas e entendimentos a respeito do social.
A) surge a partir das efervescências políticas, culturais e econômicas que acontecem na Europa
entre os séculos XIX e XX, principalmente graças à intensificação do processo de
industrialização.
B) é um fenômeno que surge nos Estados Unidos a partir do final da Segunda Guerra Mundial e
de uma perspectiva experimental.
E) seu precursor é Sigmund Freud a partir da publicação do texto “Psicologia das massas e
análise do Eu” em 1921.
II. Uma das vertentes da psicologia social crítica é a psicologia social sócio-histórica, cujo
principal nome é Sílvia Lane.
III. No Brasil, a atuação de intelectuais na organização social e política foi potencializada no
início da década de 1970, período em que, a partir de uma resistência ao regime militar, os
psicólogos envolvidos com a psicologia social passaram a atuar mais próximos aos setores
populares.
A) I.
B) I e III.
C) II e III.
D) III.
E) I e II.
5) O social como campo de estudos e, por conseguinte, as bases da psicologia social surgem na
Europa no final do século XIX a partir dos movimentos de trabalhadores e do contexto
político-social-econômico produzido pela intensificação do processo de industrialização.
I. Os estudos sobre o social surgem a partir de uma preocupação com a qualidade de vida
dos trabalhadores.
Está(ão) correta(s):
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) I e III.
Na prática
Sílvia Lane foi uma pesquisadora fundamental para a história da psicologia social brasileira.
Fundadora e primeira presidente da Abrapso, foi responsável pela consolidação da psicologia social
sócio-histórica no país e grande referência na área.
Neste Na Prática, você vai conhecer um pouco mais sobre as suas contribuições para a área.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
Psicologia e Sociedade
Neste link, você pode acessar todas as publicações da revista Psicologia e Sociedade, da Abrapso,
principal veículo de publicações em psicologia social no Brasil.
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