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Neuropsicologia da Criança e do Adolescente

Profa. Ms. Maryane Cavalcanti

Avaliação Neuropsicológica Infantil: Objetivos

• Mapeamento do perfil cognitivo: obter resultados quantitativos e qualitativos

• Auxílio Diagnóstico: Perfil neuropsicológico é compatível com transtorno neuropsiquiátrico

• Diagnóstico diferencial: transtornos que tenham expressões semelhantes de sintomas

Identificação Precoce

• Estimulação precoce/ Janela do desenvolvimento

• Planejamento da intervenção à direcionar prioridades

Processo de avaliação

1. Primeiro contato com os pais/ Anamnese

2. Sessões de avaliação com a criança (testes e atividades)

3. Contato com equipe multiprofissional

4. Contato com escola/ professores

5. Análise dos resultados/ laudo

6. Devolutiva

• Obter informações de diferentes fontes e verificar consistência

• Avaliações diretas e indiretas


Anamnese Neuropsicológica Infantil

 Primeiro contato com os pais - vínculo e confiança


 Investigar histórico de desenvolvimento e histórico clinico
 Compreender cronologicamente sintomas e queixa
 Caracterizar perfil cognitivo e comportamental
 Investigar queixa e sintomas
 Grau de prejuízo em diferentes ambientes à Funcionalidade
 Planejamento do exame e seleção dos testes neuropsicológicos
 Entrevistas estruturadas e semi estruturadas
 Uso de escalas e instrumentos diagnósticos
 Conhecimento sobre desenvolvimento cerebral e características próprias de cada
faixa etária -> cérebro da criança ainda esta em desenvolvimento
 Conhecer desenvolvimento típico -> o que e esperado para aquela idade
 Quanto maior a experiência profissional -> melhor raciocínio clínico
 A partir de entrevista semi-estruturada -> gerar hipóteses diagnósticas
 Confirmar ou descartar as hipóteses com perguntas direcionadas
 Tentar obter informações precisa e detalhada, pedir exemplos
 Colher dados com dois informantes (ex. pai e mãe, baba)
 Se ater ao foco e objetivo da anamnese à não tem finalidade de
 intervenção
 Não levantar questões polemicas ou desnecessárias para compreensão da
 avaliação neuropsicológica
 Impressões da dinâmica familiar -> devemos pontuar ?
 Saber acolher, empatia ao processo de passar com diversos profissionais ate chegar na
avaliação
 Importância do vínculo para devolutiva

Dicas

 Questionar se os pais sabem o que é uma Avaliação Neuropsicológica – Importância de


explicar o procedimento.
• Tempo de sessão
• Devolutiva
• Datas, frequências, faltas
• Se autorizam contato com escola e equipe
• Processo extenso
• Estímulo lúdico
• Padronização dos teste
• Valores/Forma de pagamento
• Primeiro contato -> Primeira impressão
• Postura -> Comunicação verbal e não verbal
• Se o entrevistado chorar?
• Se os responsáveis divergirem ou discutirem?
• Quando os responsáveis não transmitem informações necessárias
• Complementar entrevista com adolescente sobre percepção das queixas

O que investigar na anamnese

- Motivos/Queixas
 Onde percebem dificuldades e qual o impacto na autonomia/escola/social?
 Intensidade/frequência e em quais ambientes estão presentes queixas/ sintomas
 Quando surgiu a preocupação / primeiros sinais que já chamavam atenção
 Idade do inicio da queixa e histórico pregresso da doença/ sintomas

- Histórico Familiar
 A criança é adotada?
 Familiares consanguíneos ? Qual grau de parentesco?
 Estado civil dos pais
 Com quem a criança mora
 Pessoas envolvidas nos cuidados diários da criança
 Língua materna / Idiomas usados em casa
 Antecedentes familiares

- Gestação/Nascimento/Desenvolvimento

 Tempo de gestação
 Presença de doenças ou complicações durante a gravidez
 Uso de medicamentos durante a gravidez
 Uso de outras substâncias durante a gravidez
 Uso de cigarro, álcool, drogas (quantidade e frequência do uso)
 O pai fazia uso de alguma medicação ou de drogas na época em mãe engravidou
 Número total de gestações (incluindo abortos) tidas pela mãe

- Parto e Histórico Perinatal

• Gravidez (Inseminação, quanto tempo mãe descobriu, desejada)


• Intercorrência durante o parto
• Tipo de Parto (vaginal/ normal, cesárea eletiva, cesárea, com uso de fórceps)
• Problemas de saúde após o parto (congênitos)
• Peso e tamanho ao nascer
• Notas de Apgar
• A mãe ou o bebê chegaram a ser internados em Unidade de Tratamento Intensivo ou
• Precisaram de algum tratamento especial?
• Temperamento, padrões de sono e alimentação (durante a primeira infância -até 1
ano)

- Etapas do desenvolvimento

• Motor: sentou, engatinhou, andou sozinho, correu bem (sem dificuldades)


• Motor fino: alimentou-se sozinho com colher, rabiscou
• Linguagem: começou a falar palavras isoladas, começou a formar frases simples (mais
de 2 palavras) ,começou a descrever atividades
• Treino de toalete
• Pais consideram desenvolvimento global: lento, normal ou rápido

- Histórico médico
• Doenças Infantis
• Necessidade de hospitalização
• Quedas. Altura? Necessitou internação?
• Acidentes. Necessitou internação?
• Lesão na cabeça. Perda de consciência. Tempo ? Coma ?
• Intervenções cirúrgicas. Quais? Motivo.
• Padrão de sono (problemas pra pegar no sono, acorda durante a noite, agitação)
• Alimentação (Alteração no habito alimentar, preferências ou restrições)
• Exames realizados previamente
• Medicamentos de uso prévio e em uso atual
• Realizou tratamentos prévios
• Tratamentos realizados atualmente

- Histórico Comportamental
Comportamentos preocupantes da criança, presença de:
• • Tiques, manias ou movimentos estereotipados
• • Auto ou hetero-agressividade
• • Impulsividade
• Intolerância a frustrações

- Histórico Educacional
• A criança/adolescente frequentou a pré-escola?
• Série e escola atuais
• Desempenho da criança referentes a cada série
• Ensino regular ?
• Processo de alfabetização
• Necessita de reforço escolar. Quais disciplinas ?
• Repetências ?
• Mudanças de escola. Motivo ?
• Tem rotina de estudo? (precisa de auxilio)
- Histórico Social e Lazer
• Como se constitui a rede social da família e da criança/adolescente?
• Quais as atividades que a família costuma realizar em conjunto?
• Como a criança/adolescente se relaciona com cada membro da família
• Tem melhores amigos/ Gosta da companhia dos outros
• • Preferência por quais brincadeiras ? (Brinca de faz de conta, entende brincadeiras
em grupo, respeita a vez dos amigos)

Marcos do Neurodesenvolvimento

- Desenvolvimento Pré-Natal
• Nas primeiras semanas do período fetal, neurônios são muito simples e pequenos.
• Nos últimos dois meses antes do nascimento e nos primeiros anos após o nascimento
é que ocorrem os alongamentos dos axônios e o maior crescimento da árvore
dendrítica.
• Nos meses finais de gestação, as sinapses são bem mais lentas. A maioria das
sinapses se estabelecem após o nascimento e gradativamente se aperfeiçoam.
• Por exemplo, na parte do cérebro responsável pela visão, os bebês tem, aos 6 meses,
cerca de 10 vezes mais sinapses do que tinham ao nascerem.
• • Quando a criança nasce, o cérebro contem tantos neurônios quanto terá quando
adulto (cerca de 100 bilhões). Eles apenas não estão maduros ainda.

• No nascimento, cérebro tem apenas 25% de seu futuro peso adulto;


• Atinge 70% do seu peso final até os 3 anos;
• Aos 6 anos, ele já tem quase o tamanho adulto, mas o crescimento e
desenvolvimento funcional de partes específicas do cérebro continuam durante a
idade adulta.
Maturação cerebral
• Conjunto de processos neurais, dinâmicos, progressivos e reversivos, que regulam o
desenvolvimento axonal e dendrítico, bem como os mecanismos de conectividade
neural; maior refinamento de projeções.
• Diferenciados por função – consolidação mais precoce nas áreas primárias (funções
perceptuais); mais tardia nas áreas frontais.
• Influência da estimulação ambiental
2 fases de formação de neurônios e glia
• Até 6 meses de vida fetal: salto no crescimentode neurônios – pausa
• Dos 7 meses e meio até o 2º ano de vida pós- natal – multiplicação de células da glia
(MOORE; PERSAUD, 2012)

0 a 1 ano de idade
• No recém-nascido, as estruturas cerebrais do SNC mais envolvidas nos padrões de
comportamento estão localizadas nas estruturas subcorticais. A atividade motora no
período neonatal está organizada em sequências de ativação neuronal, geneticamente
determinadas, definindo a conduta motora de acordo com as respostas reflexas
filogenéticas (incluindo reflexo de Moro, de sucção, preensões e marcha reflexa).
• O bebê estende os braços com as palmas das mãos voltadas para cima, fechando-os
em seguida, como se tentasse encontrar algo a que se agarrar. A este abrir e fechar
dos braços, segue-se normalmente um choro alto, possivelmente com o objetivo de
alertar os pais.

• Reflexo de preensão – esfrega-se a palma do bebê com o dedo; ele segurará com força
o dedo
• Marcha reflexa – segurar o bebê pelas axilas, pés tocando superfície plana. O bebê fará
movimentos alternados das pernas, como se estivesse caminhando.
• Desaparece ao redor de 8 semanas.
• À medida que a criança vai se desenvolvendo, sobrepõem-se padrões mais
organizados de atividade motora. O padrão de reflexos dá lugar à movimentação mais
dirigida, principalmente das mãos, a partir do 3º mês de vida.
• Habilidades perceptivas: Visão
• Não enxerga muito bem, mas é capaz de focar ambos os olhos em um mesmo ponto,
sendo 20 a 25cm a distância focal ideal
• Reconhecem o peito, o mobile do berço, a mamadeira...
• Com menos de 2 meses conseguem perseguir objetos em movimento lento, mas a
partir da 6ª semana, essa capacidade aumenta rapidamente.

Habilidades perceptivas - Audição:


• A acuidade auditiva é melhor que a visual. • Dentro do intervalo geral de tom e altura
da voz humana, os bebês ouvem quase tão bem quanto os adultos. Têm mais
dificuldade para ouvir os tons agudos.
• Escutar a voz materna e sorrir (a partir de 2 meses). • Também são capazes de
determinar a origem dos sons. Melhora gradativamente com a idade.
Habilidades perceptivas – Paladar e olfato:
• São capazes de sentir os 4 sabores básicos • Identificam odores corporais familiares.
• 2 meses - Começa a sustentar a cabeça momentaneamente.
• 3 meses - Controle cervical • Aumenta a salivação • Sons vocálicos, labiais e guturais –
padrão filogenético (universal) • Emite sons em resposta a estímulos
• Sons são sinais de prazer, com muita variação de tom, subindo e descendo de altura –
brincar com os sons • Rir alto, gargalhar Dos 3 a 10 meses, as áreas de maior
desenvolvimento são as subcorticais e também áreas relacionadas com o cerebelo.
(BUENO, 2004)
• • A integração entre as áreas sensoriais e motoras permite a coordenação dos
movimentos mão-boca, mão-objeto, a partir do 3º mês.
• • Início da preensão voluntária (relaciona-se com maior mielinização das áreas pré-
centrais do lobo frontal).
• • O início da intencionalidade do gesto relaciona-se com movimentos dirigidos a
objetos do meio externo e na reprodução repetitiva destes movimentos, relacionado
ao desenvolvimento funcional de áreas associativas do córtex frontal.
• A partir do 6º mês, há grande desenvolvimento de áreas motoras corticais, com ênfase
nas áreas relacionadas à preensão manual e ao equilíbrio estático, maior integração
associativa entre os estímulos visuais, auditivos e somestésicos (tato, pressão, calor,
frio, dor, angulação das articulações). (BUENO, 2004)
• Procura objeto parcialmente escondido; olha através da grade para ver o objeto que
deixou cair.
• “Reconhece” que o objeto inteiro ainda está ali.
• Brinca com o adulto de jogar um objeto repetidas vezes ao chão.
• Permanência do objeto (Piaget): o objeto continua a existir, mesmo que não consiga
mais vê-lo. Desenvolve-se nos primeiros dois anos de vida.
• Mesmo saindo de cena, a mãe continua existindo (internalização da figura materna).
• 6 a 7 meses - Motor: em decúbito dorsal (deitado de costas), eleva a cabeça do plano.
• Hipotonia fisiológica (baixa resistência ao movimento passivo das articulações)– “põe o
pé na boca” – os pés passam a fazer parte do seu esquema corporal
• • Brinca com as mãos • Bate com o objeto no plano – explora características sensoriais
do objeto • Espelho: contempla sua imagem e procura tocá-la. • Visão: binocularidade
bem desenvolvida. • Discriminação entre face sorrindo e face séria. • Início da erupção
dentária (incisivo central inferior – 6 meses; incisivo central superior – 7 meses) •
Oralidade intensa – tudo leva à boca (risco de acidentes!)
• Linguagem • Até os 6 meses, mesmo crianças surdas vocalizam • Entre 6 e 7 meses
começam a emitir sons consonantais combinados com vocais. • Monossílabos: má, pá,
cá.
• 8 a 12 meses • Procura o objeto coberto ou escondido atrás de um anteparo – aos 12
meses, já “entende” que o objeto continua existindo • 8 meses • Dentição: incisivo
lateral superior • Motor: diminui substancialmente a hipotonia • Senta sem apoio •
Rola e consegue passar de decúbito dorsal para ventral 8 a 9 meses • Sílabas repetidas
(papá, mamã, dadá).
• 9 a 10 meses • Motor: tônus semelhante ao do adulto. • Senta-se sozinho (10 meses);
fica de joelhos; engatinha • Permanece em pé sem apoio; apoiado pelas axilas; tenta
dar passos; pode dar os primeiros passos sem apoio. • Come biscoito sozinho, segura a
mamadeira, pega a sineta pelo cabo. • Explora ambientes – risco de acidentes
• • Linguagem: repertório de sons mais próximo ao conjunto de sons da linguagem
ouvida. Responde ao nome ou apelido, início da capacidade de compreender o
significado de cada palavra (linguagem receptiva – antecede linguagem expressiva). •
Linguagem gestual: jogos imitativos, bate palmas, dá tchau.

Sono: número aproximado de horas de sono


• Recém-nascido: 16 a 20 horas / dia
• 3 semanas: 16 a 18 horas / dia
• 6 semanas: 15 a 16 horas / dia
• 6 meses: 11 horas + 2 sonecas (duas a quatro horas cada)
• 9 meses: 11 a 12 horas + 2 sonecas (uma a duas horas cada)
• 1 ano: 10 a 11 horas + 2 sonecas (uma a duas horas cada)
• 2 anos: 11 a 12 horas + uma soneca (duas horas)
• 3 anos: 10 a 11 horas + uma soneca (duas horas)
• Adolescentes: 9 a 10 horas por noite
• Adulto jovem: em média 6,5 horas a 8,5 horas.

Durante o sono:
• o organismo libera 90% do hormônio do crescimento;
• Ocorrem vários processos metabólicos que, se alterados, podem afetar o equilíbrio
de todo o organismo a curto, médio e mesmo longo prazo.
• Pessoas que dormem menos que o necessário, tem menos vigor físico, envelhece
mais precocemente, está mais propenso a infecções, a obesidade, hipertensão e
diabetes.
12 meses
• Motor grosso: anda sozinho
• Motor fino / desenvolvimento visual: utiliza a pinça de forma madura, consegue
fazer rabisco com lápis de cêra, larga objetos voluntariamente.
• Linguagem: fim da fase pré-linguística. Primeiras palavras: pode ser qualquer som,
desde que usado consistentemente para se referir a alguma coisa, ação ou qualidade.
• Responde ao seu nome.
• Brincar simbólico (p. ex., beber xícara vazia) + imitação de gestos
• Surdos: sinais referenciais(gesto representa objeto ou evento) - P. ex.: sinaliza que
quer beber fazendo o gesto de levar uma xícara aos lábios. (MELLO, 2014)

18 meses
• Caminha só, raramente cai.
• Senta-se sozinho em cadeira baixa.
• Sobe escadas seguro por uma das mãos.
• Rabisca espontaneamente. • Brinca sozinho, mas gosta de ter alguém ao seu lado.
• Linguagem: utiliza a 3ª pessoa para designar a si próprio.
• Designa animais com sons onomatopéicos.
• Início das frases com duas palavras. 18 a 24 meses
• Novo entendimento cognitivo: capacidade de “categorizar” objetos.
• Descobre categorias – aprende rapidamente os nomes para as categorias existentes.

2 a 6 anos (primeira infância)


• Habilidades percepto-motoras em pleno desenvolvimento, mas ainda confundem
direção, esquema corporal, temporal e espacial
• Variabilidade das atividades fundamentais está se desenvolvendo, de forma que
movimentos bilaterais, como pular, atividades unilaterais não apresentam tanta
consistência;
• Controle motor refinado ainda não está totalmente estabelecido, embora esteja
desenvolvendo-se rapidamente
• Olhos ainda não estão aptos a períodos extensos de trabalhos minuciosos;

18 a 27 meses
• Início das frases: 2 palavras (aproximadamente 18 meses em todas as culturas). •
Brincadeiras: combinam vários gestos numa sequência única no brinquedo de faz de
conta (p. ex., bebe o líquido, derrama e limpa a boca);
2 anos
• A partir do 2º ano, começa a organizar as sequências motoras, mas só a partir dos 4
anos, com a maturação da região pré-frontal, a criança é capaz de programar as
atividades com maior precisão.

2 anos
• Visão: completa a mielinização do nervo óptico.
• Motor: deambula corretamente como os adultos, pega coisas do chão sem cair, sobe
e desce escadas sozinhos, degraus baixos, coloca os dois pés no mesmo degrau, anda
para trás, se equilibra na ponta dos pés, chuta bola grande, segura lápis de cêra ou
caneta grossos e faz alguns desenhos, constrói torre com 6 ou 7 cubos, gosta de
brincar com objetos pequenos (risco de acidentes!)
• Brinca com brinquedos de puxar e empurrar.
• Controle vesical diurno completo: até os 2 anos e meio.
• Abandono da mamadeira.
• Deixa o hábito de usar chupetas.
• Linguagem / cognição: frases curtas (3 palavras).
• Refere-se a si mesmo pelo nome.
• Compreende o significado de uma imagem (ação).
• Mostra partes do corpo quando interrogado.
• Dislalias tanto por supressão (“amário”) quanto por trocar (rato > “lato”)
• Aprende a dizer “não” antes de pronunciar o “sim”
• Negativismo: estágio da individuação – criança sabe o que não quer antes de ser
capaz de formular o que deseja. Influência ontogenética e cultural
• Reforça sua ação narrando o que está fazendo, enquanto brinca sozinha. Dá
instruções para si mesma. Param a si próprias com palavras. Essa linguagem auto-
reguladora é inicialmente audível. Por volta dos 9 anos, não se observa mais.

27 a 36 meses
• Linguagem: “explosão de gramática”
• Rapidamente aprende plurais, tempos passados, verbos auxiliares, preposições.
• Preposições: descrevendo localizações, acrescentadas na mesma ordem (em
diferentesidiomas).
• Primeiro: em, sobre, embaixo, ao lado.
• Segundo: na frente e atrás.

3 anos
 Diz seu gênero sexual – menino / menina
 • Diz seu nome completo
 • Constrói frases mais longas e complexas
 • Descreve o que acontece numa figura
 Compreende histórias
 • Memória sequencial para sons verbais – capaz de repetir mantendo a
sequencia de 3 sílabas dadas
 • Cantigas infantis: crianças que sabem mais cantigas ao redor dos 3 a 3,5
anos, têm posteriormente maior consciência fonêmica e aprendem a ler mais
prontamente.

Motor:
• sobe escadas sem apoio, alternando os pés.
• Anda para trás, sem olhar onde vai.
• Leva o indicador ao nariz.
• Pedala triciclo.
• Copia formas (bola, cruz).
• Pára sobre um pé só por alguns segundos.
• Mastigação semelhante a do adulto (boca fechada).
• AVDs: • Come só, derramando pouca comida
• usa garfo e faca
• veste-se com auxílio (calça sapatos e desabotoa roupas)
• Derrama líquido de uma jarra em xícara
3,5 a 4 anos
• Início de controle esfincteriano vesical noturno.
• A partir dos 4 anos, já pode diferenciar formas geométricas abstratas, mas os erros
com ângulos podem persistir até o 7º ano. (BUENO, 2004).
4 anos
Linguagem / cognição:
• Sentença de 4 palavras; repete 4 números; conta 3 objetos, apontando-os
corretamente.
Motor:
• Equilíbrio estático com os olhos fechados, pula sobre um pé. • Copia cruz mantendo
os ângulos retos; desenha o ser humano com 3 partes (não é clara a distinção cabeça,
tronco e membros).
AVDs
• Lava e seca o rosto, escova os dentes, controle esfincteriano anal completo
Social:
• Brinca cooperativamente com outras crianças; inicia a capacidade de compartilhar,
mas renuncia com dificuldade.
• Floresce a imaginação – controle da fantasia e do brinquedo. Jogo dramático –
papéis experimentais = ensaio da idade adulta
• Identidade sexual se estabelece firmemente – curiosidade ativa sobre o sexo
anatômico
• Pergunta sobre questões profundas: morte, Deus, sobre si próprio

5 anos
Motor:
• Deambula com um pé na frente do outro.
• Copia quadrado e triângulo.
• Desenha figura humana com cabeça, tronco e membros.
• Desenha algumas letras.
Social
• Toma parte em jogos de competição
• AVDs • Veste-se e despe-se sem auxílio
• Pede ajuda quando necessário • Controle esfincteriano vesical noturno completo
(enurese – criança com incontinência, maior que 5 anos).
5 a 6 anos
• A maioria das crianças já aprendeu a falar bem.
• Conta com exatidão 10 objetos.
• Identifica as cores primárias.
• Começa a entender o significado de direita e esquerda.
• Pergunta o significado das palavras.

6 a 10 anos (segunda infância)


• Apresentam preferência manual e mecanismos perceptivos visuais firmemente
estabelecidos
• No início, o tempo de reação é lento, o que causa dificuldades com a coordenação
viso-manual – não aptas para extensos períodos de trabalho minucioso.
6 anos
Motor:
• Fica em pé com um pé na frente do outro e de olhos fechados
• Anda com um pé na frente do outro para trás • Boa coordenação de braços e
ombros
• Maneja bicicleta de duas rodas, ou inicia o aprendizado
• Identificação preferencial com crianças do mesmo sexo, após identificação com o
genitor do mesmo sexo
• A partir dos 6, 7 anos, a criança tem maior desenvolvimento das noções de
orientação direita e esquerda, sendo capaz de reproduzir movimentos alternados e
simultâneos. Há um grande desenvolvimento das áreas associativas específicas e das
conexões inter-hemisféricas do córtex motor e sensorial. (BUENO, 2004)

Adolescência (10 a 20anos)


• Puberdade: alterações hormonais que culmina com maturidade sexual completa.
• Mudança nos sistemas reprodutivos
• Caracteres primários (aumentam testículos e pênis; aumento nos ovários, útero e
vagina).
• Características sexuais secundários (alteração no tom de voz, crescimentodebarba;
desenvolvimento das mamas; crescimento de pelos corporais em ambos os sexos).
• Desenvolvimento sexual dos meninos: em geral, começam a produzir espermatozoides
viáveis entre 12 e 14anos, ainda antes de atingir o pico do “estirão do crescimento”.
• Por volta do 4º e 5º ano – meninas mais altas que meninos

Funções Cognitivas

Qualitativo
- Comportamental
- Nos testes
Quantitativo
- Nos testes
Escalas

Atenção
• Os mecanismos de atenção são a “porta de entrada” dos estímulos no nosso cérebro.
Assim, eles são responsáveis pela capacidade de:
• Mantermos a concentração durante a execução de tarefas → estar focado!
• Filtrar as informações importantes e não se distrair com coisas “menos importantes”
• Reter mentalmente informações para usar naquele momento,
• Gerenciar o esforço mental ao longo do tempo
• É a base para que diferentes processos cognitivos possam acontecer satisfatoriamente
• Até 6 meses, há processos atencionais involuntários, em sua maioria.
• A partir de 6 anos de idade, mais marcadamente em idade escolar, a criança passa a
ser capaz de realizar orientação voluntária para estímulos visuais.

Funções Executivas

• Entre 6 e 8 anos até o fim da adolescência / início da vida adulta.


• • Áreas frontais – últimas a amadurecer (idade adulta jovem)
• • Consequências: fortalecimento das estruturas de conexão dos domínios do
conhecimento para fatos, números, palavras e imagens (os aspectos de “o que” e
“onde” do conhecimento), para o propósito de como, porque e quando utilizar tal
conhecimentos em comportamentos dirigidos a metas.

Linguagem
Compreensão antecede a expressão
•Percepção da fala –ocorre desde muito cedo
•Bebês podem imitar vogais desde 12 semanas de vida
•12 meses – 50palavras
• 24 meses – pelo menos 100 palavras reconhecíveis
•4 anos – 2.500 a 4.000palavras
•7anos–7.000 a 10.000 palavras
•11anos–40.000palavras

Memória
• Sistemas relacionados a processos de maturação precoce – memória implícita ou não
declarativa
- Funções mais automáticas, evidenciadas desde o nascimento
• Sistemas relacionados a processos de maturação tardia – memória explícita ou
declarativa
- Funções intencionais, associadas a “consciência”, emergem a partir do final do 1º
ano de vida (explica amnésia infantil)
• Surgimento da memória declarativa ao final do primeiro ano vem sendo relacionado
à maturação do hipocampo (giro denteado).

Sinais de Alerta
• Se no final de 3 meses:
- Não responde aos sons;
- Não presta atenção à face humana;
- Não agarra ou segura objetos;
Resiste a ser alimentado.

• Se no final de 6 meses:
- Sem qualquer controle motor aos 7 meses;
- Dificuldades em levar objetos à boca;
- Não balbucia

• Se no final de 12 meses:
- Não consegue sentar-se sozinha
- Não se mantém em pé mesmo com apoio
- Não diz palavras simples
- Não usa gestos/simbólicos (dar tchau)
- Não aponta para os objetos

Se no final dos 2 anos:


- Não consegue andar aos 18 meses
- Não fala pelo menos 15 palavras
- Não imita ações ou palavras
- Não compreende a função dos objetos de casa (telefone, escova, ...)
• Se no final de 3 anos:
- Dificuldade em manipular pequenos objetos
- Não entende instruções simples
- Contato visual muito pobre
- Dificuldade excessiva em se afastar da mãe

Se no final de 4 anos:
- Não consegue saltar ou pular um objeto pequeno
- Dificuldade em desenhar de modo rudimentar (garatujas)
- Ignorar outras crianças
- Não utiliza corretamente o “meu” ou “teu”

• Se no final de 5 anos:
- Não sabe dizer o seu primeiro e ultimo nome
- Raramente usa fantasia ou imitação nas brincadeiras
- Revela muito pouco interesse em brincar com outras crianças
- Muito pouca autonomia
Não expressa as suas emoções

Transtornos do Neurodesenvolvimento: DSM-V

“Transtornos do Neurodesenvolvimento”
• Tipicamente se manifestam cedo no desenvolvimento, em geral antes de a criança
ingressar na escola.
• Déficits no desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal,
social, acadêmico ou profissional.
Desde limitações específicas na aprendizagem ou no controle de funções executivas
até prejuízos globais em habilidades sociais ou inteligência (sintomas tanto de excesso
quanto de déficits e atrasos em atingir os marcos esperados)
• É frequente a ocorrência de mais de um transtorno do neurodesenvolvimento
Indivíduos com transtorno do espectro autista frequentemente apresentam deficiência
intelectual, crianças com TDAH apresentam também um transtorno específico da
aprendizagem.

• “Transtornos do Neurodesenvolvimento”
Deficiências intelectuais
• •Deficiência Intelectual (Transtorno do Desenvolvimento Intelectual)
• •Atraso Global do Desenvolvimento
Transtornos da Comunicação
• •Transtorno da Linguagem
• •Transtorno da Fala
• •Transtorno da Fluência com Início da Infância (Gagueira)
• •Transtorno da Comunicação Social (Pragmática)
• •Transtorno do Espectro Autista
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. Apresentação:
•combinada
•predominantemente desatenta
•predominantemente hiperativa/impulsiva
Transtorno Específico da Aprendizagem
•Com prejuízo na leitura
•Com prejuízo na expressão escrita
•Com prejuízo na matemática
Transtornos Motores
•Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação
•Transtorno do Movimento Estereotipado
•Transtornos de Tique
•Transtorno de Tourette
Outros

Deficiência Intelectual
• Déficits em capacidades mentais genéricas (raciocínio, solução de problemas,
planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem
pela experiência).
• Prejuízos no funcionamento adaptativo - o indivíduo não consegue atingir padrões
de independência pessoal e responsabilidade social em um ou mais aspectos da vida
(comunicação, participação social, funcionamento acadêmico ou profissional e
independência pessoal em casa ou na comunidade).

Atraso Global do Desenvolvimento


• Diagnosticado quando um indivíduo não atinge os marcos do desenvolvimento
esperados em várias áreas do funcionamento intelectual.
• Diagnóstico é utilizado para indivíduos que estão incapacitados de participar de
avaliações sistemáticas do funcionamento intelectual.

Transtornos da Comunicação
• Transtorno da linguagem, transtorno da fala e transtorno da comunicação social
(pragmática): déficits no desenvolvimento e no uso da linguagem, da fala e da
comunicação social, respectivamente.
• Transtorno da fluência com início na infância (gagueira): perturbações da fluência
normal e da produção motora da fala, incluindo sons ou sílabas repetidas,
prolongamento de sons de consoantes ou vogais, interrupção de palavras, bloqueio ou
palavras pronunciadas com tensão física excessiva.
Os transtornos da comunicação iniciam-se precocemente e podem acarretar prejuízos
funcionais durante toda a vida.

Transtorno do Espectro Autista


• Déficits persistentes em: comunicação e na interação social em múltiplos contextos,
(déficits na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de comunicação
usados para interação social e em habilidades para desenvolver, manter e
compreender relacionamentos), padrões restritos e repetitivos de comportamento,
interesses ou atividades.
• É diagnosticado quando os déficits característicos de comunicação social são
acompanhados por comportamentos excessivamente repetitivos, interesses restritos e
insistência nas mesmas coisas.

TDAH
• Níveis prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade impulsividade.
• Desatenção e desorganização envolvem:
incapacidade de permanecer em uma tarefa, aparência de não ouvir e perda de
materiais em níveis inconsistentes com idade ou nível de desenvolvimento.
• Hiperatividade-impulsividade implicam:
atividade excessiva, inquietação, incapacidade de permanecer sentado, intromissão
em atividades de outros e incapacidade de aguardar – sintomas excessivos para a
idade ou o nível de desenvolvimento.
Costuma persistir na vida adulta, resultando em prejuízos no funcionamento social,
acadêmico e profissional.

Transtornos Específicos da Aprendizagem


• Déficits específicos na capacidade individual para perceber ou processar informações
com eficiência e precisão.
• Manifesta-se, inicialmente, durante os anos de escolaridade formal: dificuldades
persistentes e prejudiciais nas habilidades básicas acadêmicas de leitura, escrita e/ou
matemática.
• O desempenho individual nas habilidades acadêmicas afetadas está bastante abaixo
da média para a idade, ou níveis de desempenho aceitáveis são atingidos somente
com esforço extraordinário.
• Pode acarretar prejuízos duradouros em atividades que dependam das habilidades,
inclusive no desempenho profissional.

“O conjunto dos instrumentos utilizados nos possibilita uma avaliação global das
capacidades da criança, bem como das dificuldades encontradas por ela em seu
desempenho dia a dia. Não se trata de rotular ou enquadrar a criança como integrante
de grupos problemáticos, e sim de evitar que tais dificuldades possam impedir o
desenvolvimento.” (COSTA, 2004, p. 112)

Referências:

• CAIXETA, L; FERREIRA, S. B. Manual de Neuropsicologia. Atheneu, 2012.


• LEZAK MD. Neuropsychological Assessment. 4th ed. New York: Oxford University
Press; 2004.
• D. Fuentes; L. Malloy-Diniz; C. P. Camargo & R. M. Cosenza. Neuropsicologia: teoria e
prática. Porto Alegre: Artmed, 2008.
• ANDRADE, V. M., SANTOS, F. H.. Neuropsicologia Hoje. São Paulo: Artes Médicas,
2004.
• DALGALARRONDO P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª edição.
Porto Alegre: Artemd, 2008.
• Le Moal M, Koob GF. Drug addiction: pathways to the disease and pathophysiological
perspectives. Eur Neuropsychopharmacol,2007.
• COSTA, D. I. er al. AvaliaçãoNeuropsicológica da criança.Jornal de Pediatria, Rio de
Janeiro, v. 80, n. 2, p. 111-116. 2004.
• FERREIRA, F. de O. (et al.) O exame neuropsicológico na idade pré-escolar.
Em:MALLOY-DINIZ, L. F. (& cols.) AvaliaçãoNeuropsicológica. PortoAlegre:Artmed,
2010.
• Haase, V. G. (2009). Neuropsicologia do desenvolvimento: um enfoque clinico. In V.
G. Haase, F. O. Ferreira & F. J. Penna (Orgs.) Aspectos biopsicossociais da saúde na
infância eadolescência (pp. 289-318). Belo Horizonte:COOPMED (ISBN: 978-85-7825-
003-4).
• MIRANDA, M. C.; BORGES, M. & ROCCA, C. C. de A. Avaliação Neuropsicológica
Infantil. Em: MALLOY-DINIZ, L. F. (& cols.) Avaliação Neuropsicológica. Porto Alegre:
Artmed, 2010.
• RIECHI, T. I. J. de S. Avaliação Neuropsicológica Infantil: o Ideal e o Real. Em:
MACEDO, E. C. de. (org.) Avanços em Neuropsicologia: das pesquisas à aplicação
clínica. São Paulo: Livraria Santos Editora, 2007.
• TISSER, Luciana. Avaliação neuropsicológica infantil.Novo Hamburgo : Sinopsys,
2017.

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