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1.

1 Conceito e Características da superdotação e/ ou altas habilidades

Os Superdotados ou pessoas com Altas Habilidades são as pessoas que apresentam um grau de habilidade
significativamente maior do que a maioria da população. Em geral, pessoas com Altas Habilidades ou Superdotação
(AHSD) apresentam muita facilidade e rapidez para aprender, possuem um elevado grau de criatividade, são muito
curiosos, possuem grande capacidade para analisar e resolver problemas, além de possuírem um senso crítico
bastante elevado.
Muitos especialistas têm preferido a utilização de outros termos, sem o termo “superdotados”, evitando
assim toda a carga que o prefixo “super” pode impor, definindo-os como pessoas com:
 Altas habilidades;
 Aptidões superiores;
 Alto potencial;
 Talentos especiais.

O aluno com AHSD pode apresentar alto potencial em algumas disciplinas e dificuldade em outras.
Atualmente, o Ministério da Educação afirma que os “educandos com Altas Habilidades ou Superdotação são
aqueles que apresentam grande facilidade de aprendizagem, que os auxilia ao domínio rápido de conceitos,
procedimentos e atitudes” (BRASIL, 2001, S/p.).

Segundo Virgolim (1997), a superdotação pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento humano em
pessoas com diferentes graus de talento, motivação e conhecimento. Algumas pessoas demonstram potencial muito
superior em relação à média da população geral em algum campo do conhecimento. Outras demonstram um talento
menor, mas o suficiente para destacá-las ao serem comparadas com a população geral.

Dentre as características gerais mais comumente encontradas em pessoas superdotadas (ALENCAR e


FLEITH, 2001, apud BRASIL, 2006, p. 14- 15), destacam-se:
 Grande curiosidade a respeito de objetos, situações ou eventos, com envolvimento em muitos tipos
de atividades exploratórias;
 Autoiniciativa (tendência a começar sozinho as atividades, a perseguir interesses individuais e a
procurar direção própria);
 Originalidade de expressão oral e escrita, com produção constante de respostas diferentes e ideias
não estereotipadas;
 Talento incomum para expressão em artes, como música, dança, teatro, desenho e outras;
 Habilidade para apresentar alternativas de soluções, com flexibilidade de pensamento;
 Abertura para realidade, busca se manter a par do que o cerca, sagacidade e capacidade de
observação;
 Capacidade de enriquecimento com situações-problema, de seleção de respostas, de busca de
soluções para problemas difíceis ou complexos; capacidade para usar o conhecimento e as
informações na busca de novas associações, combinando elementos, ideias e experiências de forma
peculiar;
 Capacidade de julgamento e avaliação superiores, ponderação e busca de respostas lógicas,
percepção de implicações e consequências, facilidade de decisão;
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 Produção de ideias e respostas variadas, gosto pelo aperfeiçoamento das soluções encontradas;
 Riqueza de expressão verbal (elaboração e fluência de ideias);
 Habilidade em ver relações entre fatos, informações ou conceitos aparentemente não relacionados;
 Aprendizado rápido, fácil e eficiente, especialmente no campo de sua habilidade e interesse.
Entre as características comportamentais dos alunos com altas habilidades ou superdotação, pode-se ainda
ser notado, em alguns casos (ALENCAR e FLEITH, 2001, apud BRASIL, 2006, p. 14-15):

 Necessidade de definição própria;


 Capacidade de desenvolver interesses ou habilidades específicas;
 Interesse no convívio com pessoas de nível intelectual similar;
 Resolução rápida de dificuldades pessoais;
 Aborrecimento fácil com a rotina;
 Busca de originalidade e autenticidade;
 Capacidade de redefinição e de extrapolação;
 Espírito crítico, capacidade de análise e síntese;
 Desejo pelo aperfeiçoamento pessoal, não aceitação de imperfeição no trabalho;
 Interesse constante por temáticas específicas, com obstinação pela pesquisa;
 Baixa necessidade de motivação externa para realizar trabalhos que considere estimulantes;
 Responsabilidade;
 Fraco interesse por regulamentos e normas;
 Senso de humor altamente desenvolvido;
 Alto grau de exigência consigo mesmo;
 Persistência em satisfazer seus interesses e questões;
 Sensibilidade às injustiças, tanto em nível pessoal como social;
 Gosto pela investigação e pela proposição de muitas perguntas;
 Descuido na escrita, deficiência na ortografia;
 Impaciência com detalhes e com aprendizagem que requer treinamento;
 Descuido no completar ou entregar tarefas quando desinteressado.

A análise das características das pessoas com AHSD permite afirmar que se trata de um grupo heterogêneo,
sendo importante levar em consideração que nem todos os alunos vão apresentar as características listadas
anteriormente, sendo algumas mais típicas de uma área do que de outras.

1.2 Definições Legais


A Lei nº 9394/96 evidencia o dever do Estado de ofertar educação escolar pública para o atendimento aos
educandos com Altas Habilidades ou Superdotação, preferencialmente na rede regular de ensino. Refere-se também
à possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado, ou seja, após a verificação
da aprendizagem do conteúdo proposto e avaliação por uma banca especial, o aluno que apresente extraordinário
aproveitamento nos estudos pode avançar etapas e séries de ensino.
Para ser considerada superdotada, a criança deve passar por uma avaliação multidisciplinar, que identifica
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se ela tem habilidade acima do considerado “normal” em uma ou em mais áreas de conhecimento (acadêmica,
corporal ou criativa/artística). A superdotação deveria ser identificada primeiramente na escola, no entanto, muitas
vezes isso não acontece. Não é tão fácil quanto parece identificar uma criança com altas habilidades, pois ela
normalmente tem problemas na escola, como falta de interesse, agressividade, arrogância, impaciência,
hiperatividade e excesso de autocrítica, explica. Justamente por isso, a capacitação de professores é tão essencial,
pois permite quebrar o mito de que o aluno superdotado é aquele que presta atenção em todas as aulas e que só tem
notas altas (RIBEIRO, 2006, S/p.).
Embora essas pessoas possuam grandes vantagens nos processos que abrangem o lado intelectual, como no
desempenho em provas escolares, vestibulares e na capacidade criativa, os superdotados podem encontrar algumas
dificuldades sociais e de convivência. Muitas crianças superdotadas procuram a companhia de pessoas mais velhas,
na tentativa de encontrar parceiros com o mesmo nível intelectual. Além disso, pode ocorrer, nestas pessoas, o
desencadeamento do medo da não aceitação social, sintomas de ansiedade, solidão e até mesmo de depressão
(DANTAS, 2016, S/p.).

1.3 Identificação e Avaliação

Existem vários tipos de habilidades que classificam as pessoas com Altas Habilidades ou Superdotação. As
habilidades podem estar relacionadas com:

 a área acadêmica (o aluno tira notas altas e possui enorme facilidade em assimilar o conteúdo);
 a área artística (apresenta grande talento em expressar suas emoções através da música,
pintura ou teatro, por exemplo);
 a área psicomotora (revela alto desempenho em esportes e
atividades que requeiram coordenação corporal).

O ideal é que a avaliação seja mais abrangente e envolva não apenas os testes formais, mas também
avaliações informais que proporcionem a observação individualizada e específica das diferentes formas de
inteligências, em uma avaliação multidisciplinar, que abranja:
Para realizar a avaliação, é necessário inicialmente a identificação, na maioria das vezes realizada na
escola, que consiste em perceber nos alunos características específicas condizentes com as AHSD. É fundamental
que o professor esteja atento e sensível para que possa reconhecer boas ideias, boa produção, comentários
aprofundados e interessantes e complementações ao tema tratado com coerência e conhecimento, elementos que
podem revelar um aluno com Altas Habilidades ou Superdotação.

Cabe ressaltar que o aluno com AHSD apresenta características funcionais particulares. Não se trata de
saber tudo ou aprender sem qualquer mediação, mas sim de uma aprendizagem diferenciada e muitas vezes em
menor tempo. Segundo Sabatella (2012), a superdotação não implica em ser melhor ou pior que as demais pessoas;
significa apenas ser diferente.
Ao perceber características específicas nos alunos, o professor deve observar com atenção e, em caso de
suspeita de AHSD, é essencial que seja realizado o encaminhamento para uma avaliação de potencial com equipe
multidisciplinar para que possa receber primeiro um diagnóstico adequado e,posteriormente, possa ter
atendimento específico dentro de suas potencialidades e área(s) de habilidade.
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Após o encaminhamento e o diagnóstico, os profissionais que atuam junto às AHSD devem compreender
que esses alunos são reconhecidos pela legislação brasileira (LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional - 9394/96 revisada pela Lei nº12.796, de 2013) como pessoas com necessidades educacionais especiais
e, apesar de muitos apresentarem um excelente desempenho escolar, transmitindo a ideia errônea de que “já têm
tudo de que precisam”, eles precisam e têm o direito de serem assistidos em suas necessidades específicas.

2. Conceito de Inteligência Conforme as Teorias de Sternberg, Gardner e Renzulli

2.1 Conceito de Inteligência Conforme a Teoria de Robert Sternberg

Para Sternberg, as teorias sobre a inteligência não eram capazes de explicar satisfatoriamente a
interação entre o indivíduo e o mundo real. Assim como Gardner, ele condena a classificação da inteligência
através unicamente de testes de QI, desvinculados da realidade vivenciada pelo sujeito examinado.
Sternberg desenvolveu a Teoria Triárquica da Inteligência, que é composta por três processos: criativo,
analítico e prático.

A Teoria Triárquica da Inteligência demonstra como os três tipos de pensamento (ou três inteligências
diferenciadas) devem ser integrados através das experiências (internas e externas) vivenciadas pelo indivíduo. O
equilíbrio na utilização das três modalidades de pensamento permite que a pessoa se adapte a seu meio.

2.2 Conceito de Inteligência Conforme a Teoria de Howard Gardner

Gardner questionou a tradicional visão de inteligência medida pelos testes de QI, demonstrando que a
inteligência humana não pode ser adequadamente medida apenas por respostas curtas contidas em testes
convencionais.
Depois de muitos anos de pesquisas com a inteligência humana, o psicólogo concluiu que o cérebro
humano possui 8 tipos de inteligência, desenvolvendo assim, a Teoria das Inteligências Múltiplas, apresentadas a
seguir (GARDNER, 2000):
 Inteligência Linguística: Envolve sensibilidade para a língua falada e escrita, a habilidade de aprender
línguas e a capacidade de usar a língua para atingir certos objetivos.
 Inteligência Lógico-Matemática: Envolve a capacidade de analisar problemas com lógica, de realizar
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operações matemáticas e investigar questões cientificamente.
 Inteligência Espacial: Tem o potencial de reconhecer e manipular os padrões do espaço, bem como os
padrões de áreas mais confinadas (como os que são importantes para escultores, cirurgiões, jogadores
de xadrez, artistas gráficos e arquitetos).
 Inteligência Corporal Cinestésica: Acarreta o potencial de se usar o corpo para resolver problemas
ou fabricar produtos.
 Inteligência Musical: Acarreta habilidade na atuação, na composição e na apreciação de padrões
musicais.
 Inteligência Naturalista: Envolve a capacidade de observar padrões na natureza, identificando e
classificando objetos e compreendendo os sistemas naturais e aqueles criados pelo homem.
 Inteligência Interpessoal: Denota a capacidade de entender as intenções, as motivações e os desejos
do próximo e, consequentemente, de trabalhar de modo eficiente com terceiros.
 Inteligência Intrapessoal: Facilidade em compreender e identificar e lidar com as próprias emoções
para atingir seus objetivos pessoais.

Segundo Gardner (2000), as oito inteligências são independentes, têm sua origem e processos cognitivos
próprios, mas é raro que funcionem

isoladamente, apresentando-se geralmente através de uma combinação de diversas inteligências. Para ele a maior
parte das pessoas apresenta destaque somente em uma ou duas inteligências, o que justifica o fato de que mesmo
pessoas que se destaquem em uma área apresentem dificuldades em outras áreas.
É importante ressaltar que essa teoria permanece em construção, e atualmente estão sendo aventadas outras
inteligências, como a Espiritual (conjunto de inteligências relacionadas ao espírito) e a Existencial (significado da
vida e da morte).
Gardner (2000) ainda afirma que estas inteligências se apresentam de duas formas. Algumas pessoas já
nascem com determinadas inteligências, ou seja, a genética contribui. Porém, as experiências vividas também
contribuem para o desenvolvimento de determinadas inteligências. Para Gardner as crianças com AHSD
“prometem”, ou seja, apresentam uma promessa de desenvolvimento superior (por isso seu potencial deve ser
trabalhado e desenvolvido).

Dessa forma, pode-se concluir que a grande contribuição de Gardner foi a compreensão de que a
inteligência não é uma estrutura única, estanque, e sim modular. Assim, diferentes inteligências podem ser
estimuladas e trabalhadas através de atividades específicas.
A identificação das Altas Habilidades ou Superdotação, sob a perspectiva das Inteligências Múltiplas,
considera todas as áreas do conhecimento e capacidades, diferenciando-se dessa forma da maioria das
identificações propostas que se baseiam em testes de inteligência e listas de comportamentos indicativos.
As informações provenientes da identificação das diversas inteligências apresentadas pelo aluno com
AHSD auxiliam na escolha de estratégias pedagógicas mais efetivas para o aluno, podendo atuar como um guia
para os tipos de atividades que podem favorecer e fomentar o desenvolvimento de seu
potencial.
2.3 Conceito de Inteligência Conforme a Teoria dos Três Anéis de Renzulli
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A teoria de Renzulli, denominada Teoria dos Três Anéis, descreve que o superdotado funciona na
intersecção de três variáveis, representadas por três anéis que se entrelaçam, dispostos em uma base, que representa
a interação entre fatores ambientais e de personalidade que favorecem o aparecimento da superdotação. A área
exterior aos três anéis são os aspectos ambientais (família, escola, amigos, colegas) e de personalidade que
servem de suporte à manifestação da superdotação.

Na representação gráfica, as AHSD revelam-se na intersecção dos três anéis, que apresentam o tripé da
superdotação: capacidade acima da média, criatividade e comprometimento com a tarefa. Dessa forma, ressalta-se a
importância da presença dos três aspectos, de forma combinada, para que haja as AHSD.

Fonte: Renzulli & Reis (1986).

Renzulli afirma que nem sempre a criança apresenta esse conjunto de traços igualmente desenvolvido, mas
poderá desenvolver todo seu potencial se lhe forem dadas oportunidades. Para o autor nenhum traço é mais
importante que o outro, todos merecem a mesma atenção, e as características das Altas

Habilidades ou Superdotação podem aparecer de forma isolada ou combinada (duas ou mais características
simultaneamente).

2.4 Tipos de Superdotação: Renzulli

Renzulli propôs duas categorias que permitiriam a identificação das Altas Habilidades ou Superdotação: o
tipo acadêmico e o tipo produtivo-criativo.

O Tipo Acadêmico relaciona-se aos conteúdos de currículo escolares. É identificado quantitativamente


através de testes, notas escolares e da classificação dos professores.

O Tipo Produtivo-Criativo refere-se ao desenvolvimento de ideias, produtos, expressões artísticas


originais e áreas do conhecimento. É identificado subjetivamente, sendo necessária uma contextualização espaço-
temporal.

Para Renzulli, ambos os tipos são importantes e em geral se correlacionam.

2.5 Tipos de Superdotação: MEC

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A classificação atual utilizada para descrever os tipos de superdotados no Brasil considera os seguintes
tipos de superdotação (BRASIL, 2006, p. 14-15):

- Tipo Intelectual: apresentam flexibilidade, fluência, agilidade de raciocínio e associações, compreensão e


memória elevadas, produção ideativa, capacidade de encontrar soluções com criatividade e facilidade para os
problemas.
- Tipo Acadêmico: aquele que geralmente é identificado com muita facilidade nos ambientes escolares, por
apresentarem atenção e concentração e rapidez na aprendizagem de conceitos desenvolvidos na escola. Com
boa memória, gosto e empenho na execução e desenvolvimento das tarefas escolares, apresenta habilidade
para avaliar, sintetizar, organizar e produzir o conhecimento acadêmico.
- Tipo Criativo: desempenha as atividades com muita criatividade, originalidade, imaginação e encontra
soluções inusitadas para resolver situações e problemas de seu cotidiano. Sensível e muito flexível, podendo
reagir de maneira extravagante.
- Tipo Social: demonstra capacidade de interagir e liderar com muita facilidade por possuir atitude
cooperativa e interpessoal. Apresenta habilidade no trato com pessoas e coordenação de grupos e trabalhos.
- Tipo Talento Especial: destaca-se na área das artes plásticas, dramática, musical, literária ou cênica,
deixando muito evidente seu talento.
- Tipo Psicomotor: seu desempenho e extrema habilidade em utilizar a força, velocidade, agilidade e
destreza no controle de sua coordenação corporal evidenciam sua capacidade diferenciada.

É importante ressaltar que os diferentes tipos de Superdotação podem aparecer de forma combinada no
mesmo indivíduo. Mesmo que um dos tipos prevaleça, outros podem ser revelados em situações emocionais e
sociais distintas.

Segundo Renzulli (1986), o propósito da educação dos indivíduos superdotados é “fornecer aos jovens,
oportunidades máximas de autorrealização por meio do desenvolvimento e expressão de uma ou mais áreas de
desempenho onde o potencial superior esteja presente” (p. 5). Várias são as razões para justificar a necessidade de
uma atenção diferenciada ao superdotado. Uma delas é por ser o potencial superior um dos recursos naturais mais
preciosos, responsável pelas contribuições mais significativas ao desenvolvimento de uma civilização.

3. AHSD: Atendimento e Intervenção Pedagógica

3.1 Metodologia e Estratégias de Atendimento Pedagógico

Os alunos com AHSD (Altas Habilidades ou Superdotação) necessitam de serviços educacionais


diferenciados, através dos quais possam desenvolver seu potencial acadêmico, artístico, psicomotor e social. Para
isso, seu potencial precisa ser identificado, acompanhado e enriquecido através de adequações curriculares no
contexto escolar, bem como métodos e estratégias de ensino diferenciadas. Os alunos devem ser preparados para se
tornarem produtores de conhecimento, e não somente consumidores, contribuindo assim com seus potenciais e
habilidades para o progresso e desenvolvimento da sociedade (RENZULLI e REIS, 1997).
Nesse sentido, a atuação do professor é fundamental, através de um olhar sensível e diferenciado, que
permita identificar e também integrar os alunos com AHSD ao ambiente escolar. Por isso é importante, dentre
outros fatores, que o profissional da educação não somente tenha conhecimento, mas também se mantenha sempre
atualizado através de formação continuada.
Dessa forma, traçando um paralelo com a teoria das múltiplas inteligências de Gardner, o currículo escolar
deve prever atividades que estimulem todas as inteligências, através da diversificação metodológica e da
observação do professor nos resultados obtidos a cada conteúdo trabalhado.

3.2 A Atuação do Professor junto aos Alunos com AHSD


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É fundamental que o professor desenvolva um planejamento modular, que privilegie o desenvolvimento de
todas as inteligências do aluno.

É preciso também intercalar atividades físicas com as acadêmicas e artísticas, considerando o


desenvolvimento global da criança.
Logo que o indivíduo com AHSD inicia o Ensino Fundamental, evidenciam-se as diferenças quanto ao
ritmo de produção. Pode-se então perceber dois extremos: alunos que rapidamente finalizam as tarefas e ficam
ociosos, e alunos minuciosos que demandam tempo adicional nas atividades.
Nessa etapa, além das adaptações de conteúdo e estratégias pedagógicas, é importante que o professor
valorize o aluno com AHSD e o auxilie na integração ao ambiente escolar (pois muitas vezes é discriminado ou
rejeitado). Podem ser desenvolvidas estratégias que o permitam auxiliar os demais colegas, por exemplo, ou ainda
momentos individuais com o professor, nos quais ele perceba que seu potencial é reconhecido e valorizado.
É preciso ficar alerta para o subdesempenho que pode ser apresentado por alunos AHSD. O rendimento
abaixo do esperado, nesse caso, deve-se a questões emocionais e baixa autoestima, e pode ser revelado, dentre
outras características, através da falta de planejamento e projetos para o futuro, excesso de autocrítica, ansiedade e
fraco desempenho em testagens (embora apresente respostas criativas).

Nesses casos, o professor deve auxiliar o aluno no processo de autovalorização, ajudando-o a estabelecer
metas de aprendizagem e a avaliar o

próprio trabalho. Porém, acima de tudo, deve aceitar e respeitar a criança, sem impor condições emocionais.

No Ensino Médio, a fase da adolescência tem grande influência sobre diversos fatores que integram o
vínculo do aluno com AHSD com a escola. Alterações hormonais e até cerebrais podem afetar seu rendimento.
Pesquisas já relataram que o quociente de inteligência (QI) sofre alterações durante a adolescência, o que confirma
que esse é um período que requer atenção especial.

Nesse período, o acolhimento por parte do professor e da escola são fundamentais. Muitas vezes o aluno
pode não gostar da obrigação de frequentar a escola, porém deve entender que esse passo é necessário em seu
desenvolvimento intelectual e acadêmico para que, posteriormente, possa optar por um curso que se direcione de
forma específica a seus interesses.

Durante o Ensino Superior, as altas expectativas e nível de exigência que o estudante com AHSD cria para
si podem acompanhá-lo na escolha profissional, levando-o à desilusão na universidade. É preciso que professores e
familiares entrem como apoio, nesse momento, estimulando-o a escolher um curso criteriosamente e também o
conscientizando de que, mesmo dentro do Ensino Superior, haverá assuntos que não considerará relevantes, mas
que devem ser igualmente cumpridos, levando-o ao entendimento de que o importante é que o aluno faça o seu
melhor, mesmo que não seja o melhor de toda a faculdade.

3.3 Avaliação da Aprendizagem de Alunos com AHSD

A avaliação da aprendizagem de alunos com Altas Habilidades ou Superdotação deve considerar diversos
aspectos, como a diversidade de estilos de aprendizagem, estilos de expressão e habilidades dos alunos.

Além das alternativas tradicionais de avaliação, outras poderão ser utilizadas como autoavaliação, relatório
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de atividades e avaliação de produtos elaborados pelos alunos.
É importante que o professor incentive múltiplas formas de produto final, ou seja, o aluno pode demonstrar
sua proficiência através de um produto escrito (história, poesia, carta etc.), oral (dramatização, música, contar
histórias, etc.), visual (desenho, colagem, mural, etc.) e/ou concreto (móbile, máscara, brinquedos, jogos, etc.),
contemplando assim os diferentes estilos de expressão (e as múltiplas inteligências) dos alunos.

Toda informação sobre o aluno e suas produções deve ser documentada e arquivada em um portfólio. Esse
registro permite que as habilidades, interesses e estilos de aprendizagem do aluno sejam evidenciados, facilitando
seu atendimento por parte do professor e da equipe escolar.

A autoavaliação, uma importante estratégia avaliativa, é fundamental no contexto das AHSD, para que o
aluno se sinta seguro e confiante, (re)conhecendo e valorizando seu próprio potencial.

Dessa forma, a avaliação do aluno com AHSD deve permitir identificar:

 O progresso do aluno em relação às suas aptidões e interesses;

 O desenvolvimento de suas habilidades no decorrer do programa;

 O alcance (parcial ou total) das metas propostas para o período ou etapa.


É perceptível que a área das Altas Habilidades ou Superdotação requer um olhar cuidadoso e atento por
parte dos profissionais, para que as estratégias e adaptações curriculares atinjam seu objetivo, atendendo às
necessidades do aluno com AHSD no contexto escolar.

4. O AEE e Altas Habilidades ou Superdotação

4.1 O Atendimento Educacional Especializado (AEE)

Muitas pessoas se perguntam o porquê de um aluno com Altas Habilidades ou Superdotação precisa de
Atendimento Educacional Especializado, uma vez que aparentemente está em um nível intelectual superior aos
demais alunos. Cabe lembrar que, apesar do elevado potencial acadêmico, alunos com AHSD podem apresentar
dificuldades específicas nas demais áreas, além de possíveis dificuldades emocionais e relacionais.

É importante destacar que o Atendimento Educacional Especializado (AEE) não dispensa e tampouco
substitui o desenvolvimento de atividades escolares direcionadas às particularidades do aluno com AHSD,
conforme visto na aula anterior.

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O que é o AEE (Atendimento Educacional Especializado)
Um serviço da educação especial desenvolvido na rede regular de ensino
que organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem
barreiras para a plena participação dos alunos,
considerando as suas necessidades específicas.
O AEE complementa e/ou suplementa a formação do aluno com vistas
à autonomia e independência na escola e fora dela.

O que faz o AEE


• apoia o desenvolvimento do aluno com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação;
• disponibiliza o ensino de linguagens e códigos específicos de
comunicação e sinalização;
• oferece Tecnologia Assistiva (TA);
• adequa e produz materiais didáticos e pedagógicos, tendo em vista as
necessidades especificas dos alunos;
• oportuniza ampliação e suplementação curricular (para alunos com
altas habilidades ou superdotação).
O AEE deve se articular com a proposta da escola comum, embora suas
atividades se diferenciem das realizadas em salas de aula de ensino
comum.
[...]

Para alunos com Altas Habilidades ou Superdotação, o AEE oferece


programa de ampliação e suplementação curricular,
desenvolvimento de processos mentais superiores e outros. Disponível na
integra no acesso:
http://www.educacao.saobernardo.sp.gov.br/index.php/secretaria/e
ducacao-especial/1668-atendimento-educacional-especializado

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No contexto paranaense, o Departamento de Educação Especial da Secretaria de Estado da
Educação do Paraná disponibiliza, aos alunos do ensino regular, os seguintes atendimentos:

 Classe Comum: além do currículo previsto para série de frequência do aluno, poderá ser
realizado enriquecimento e ou aprofundamento curricular e, quando necessário, a aceleração para
conclusão de escolaridade em menor tempo;

 Sala de Recursos: dirigida aos alunos do Ensino Fundamental e Médio e mantidas pela própria
escola, ofertam apoio pedagógico, complementando no contraturno o atendimento educacional
realizado nas classes comuns;
 Sala de Recursos Multifuncional para Altas Habilidades ou Superdotação do Tipo I: A Sala
de Recursos Multifuncional - Tipo I para Altas Habilidades ou Superdotação é mantida pelo
governo federal e é um espaço organizado com materiais didático-pedagógicos, equipamentos e
profissionais especializados;
 NAAH/S – Núcleo de Atividades de Altas Habilidades ou Superdotação: é um serviço de
apoio especializado, realizado em parceria entre a Secretaria de Educação Especial do MEC e a
Secretaria de Estado da Educação/Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional,
destinado a oferecer suporte aos sistemas de ensino no atendimento às necessidades educacionais
especiais, visando implementar as políticas públicas de inclusão.

Nas Salas de Recursos são desenvolvidas atividades específicas para o desenvolvimento dos
alunos com Altas Habilidades ou Superdotação.

Ressalta-se que o professor tem papel fundamental para o sucesso das salas de recursos. No
atendimento pedagógico, é imprescindível que o professor considere as diferentes áreas do conhecimento,
os aspectos relacionados ao estágio de desenvolvimento cognitivo dos alunos, o nível de escolaridade, os
recursos específicos para sua aprendizagem e as atividades de complementação e suplementação
curricular (ARAÚJO e LOPES, 2013, p. 850).

O Atendimento Educacional Especializado se efetiva através de adaptações pedagógicas que


ofereçam programas de enriquecimento escolar e de aprofundamento de estudos, capazes de adequar o
ensino ao nível do desenvolvimento real do aluno.
Nas Salas de Recursos Multifuncionais (SRMs), os alunos desenvolvem projetos
extracurriculares para enriquecimento curricular, conforme a área de interesse dos estudantes.

Para o aluno com AHSD, frequentar as atividades propostas é estimulante, pois permite a troca de
experiências com outros alunos com características e interesses em comum.

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Referências

ALENCAR, E.M.L.S.; FLEITH, D. S. Superdotados: determinantes educação e ajustamento (2ª


edição). São Paulo: EPU, 2001.

BRASIL. Lei Nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da


educação nacional. Brasília, DF, 1996. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil.
Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em 20 de agosto de 2015.

. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de


Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008.
In: Inclusão: Revista de Educação Especial/Secretaria de Educação Especial, v. 4, n. 1,
jan./jun. 2008.

. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Saberes e práticas da


inclusão: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais
especiais de alunos com altas habilidades/Superdotação. 2.ed. Brasília: MEC, 2006.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/altashabilidades.pdf. Acesso em
março/2016.

. Política Nacional de Educação Especial. Brasília: Ministério da


Educação/Secretaria de Educação Especial. 1994.

DANTAS, T. Superdotado. Brasil Escola. Disponível em:


<http://brasilescola.uol.com.br/psicologia/superdotado.htm>. Acesso em marco de 2016.

RENZULLI, J. S.; REIS, S. M. The tree-ring conception of giftedness: A Developmental


Model for Creative Productivity. The Triad Reader. Connecticut: Cretative Learning Press,
1986.

; REIS, S.M. The schoolwide enrichment model. 2. ed. Mansfield Center, CT:
Creative Learning Press, 1997.
RIBEIRO, C. G. Superdotados têm problemas na escola. São Paulo: APAHSD in Aprendiz,
2006. Disponível em: http://apahsd.org.br/apahsd-na- midia/ Acessado em: Abr/2016.

SABATELLA, M.L. P. Talento e superdotação: problema ou solução. Curitiba: IBPEX, 2012.

VIRGOLIM, A.M.R. A contribuição dos instrumentos de investigação de Joseph Renzulli


para a identificação de estudantes com Altas Habilidades/Superdotação. In: IV Encontro
Nacional do Conbrasd, I Congresso Internacional sobre Altas Habilidades/Superdotação, IV
Seminário sobre Altas Habilidades/Superdotação da UFPR. Curitiba, Paraná, 2010.
Disponível no acesso: http://conbrasd.org/wp/wp-
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. Altas Habilidades/superdotação: encorajando potenciais. Brasília: MEC, 1997.

WINNER, E. Crianças superdotadas: mitos e realidades. Porto Alegre: Artes Médicas,


1998.

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