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Propriedades psicométricas do Teste dos Cinco Dígitos para o contexto


brasileiro: estudo preliminar com a população adulta.

Conference Paper · May 2014


DOI: 10.13140/RG.2.1.4737.9043

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3 14,897

14 authors, including:

Thaís Dell'Oro de Oliveira Leandro Fernandes Malloy-Diniz


Federal University of Minas Gerais Federal University of Minas Gerais
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Danielle De Souza Costa Emanuel Henrique Gonçalves Querino


Federal University of Minas Gerais Federal University of Minas Gerais
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Propriedades psicométricas do Teste dos Cinco Dígitos para o contexto brasileiro: estudo
preliminar com a população adulta.

Psychometric properties of the Test of Five Digits in Brazil: a preliminary study with the
adult population.

Thaís Dell’Oro de Oliveira1; Leandro Fernandes Malloy-Diniz¹; Sabrina Magalhães1; Danielle de Souza Costa1;
Suelem Renier Lacerda3; Emanuel Henrique Gonçalves Querino1; Hilcéia Stefane Rosa Moreira¹; Nathalia
Cheib¹; Henriqueta Bernardes4; Estefânia Gonçalves4; Maene Cristina Campos2; Natália Costa Florêncio2,
Mariane Lacerda Silva2, Jonas Jardim de Paula1,2

1 – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 2 – Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG), 3 –
Faculdade Santo André (FASA), 4 – Centro Universitário UNA

Título Abreviado: propriedades psicométricas do teste dos cinco dígitos

Categoria: Relato de Pesquisa apresentado no I Congresso da Sociedade Brasileira de

Neuropsicologia Jovem (2014).

Corresponding Author: Jonas Jardim de Paula. Address: INCT de Medicina Molecular, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de

Minas Gerais . Avenue Alfredo Balena, 190, Belo Horizonte-MG, CEP 30130-100, Brazil. Telephone/Fax: 55-31-9990-2760. Email:

jonasjardim@gmail.com
Propriedades psicométricas do Teste dos Cinco Dígitos para o contexto brasileiro: estudo
preliminar com a população adulta.

Resumo

Introdução: O Teste dos Cinco Dígitos (Five Digits Test, FDT) é um instrumento utilizado para avaliar o efeito
Stroop utilizando informações conflitantes sobre números e quantidades. Foi desenvolvido por Manuel Sedó
como um instrumento de menor susceptibilidade ao efeito de variáveis relacionadas à linguagem, sendo portanto
destinado à avaliação neuropsicológica em uma perspectiva transcultural. O instrumento possui quatro etapas:
leitura, contagem, escolha e alternância. As duas primeiras são medidas de atenção automática / velocidade de
processamento e as duas últimas de atenção controlada/atenção executiva. O presente estudo faz parte de um
projeto que visa adaptar e avaliar as propriedades psicométricas do FDT em uma população brasileira. Neste
trabalho apresentamos os resultados sobre validade, confiabilidade e as normas preliminares para o uso do teste
em adultos e idosos brasileiros. Método: Avaliamos 707 adultos e idosos brasileiros com idade entre 19 e 94
anos e escolaridade variando do analfabetismo pleno a pós-graduação (pós-doutorado). Os participantes eram
adultos saudáveis, sem relato de doenças neurológicas ou psiquiátricas e sem limitações sensoriais ou motoras
que pudessem comprometer o desempenho no teste. Avaliamos as seguintes propriedades psicométricas do teste
na amostra como um todo ou em grupos menores: associação com medidas demográficas (idade, escolaridade e
sexo), validade (estrutura fatorial e correlações com outras medidas cognitivas) e confiabilidade (consistência
interna e estabilidade teste-reteste). Resultados: Em um modelo linear multivariado encontramos associação da
idade (pη²=0.11 a 0.25), escolaridade (pη²=0.06 a 0.11) e sexo (pη²=0.02 a 0.04) com o desempenho nos tempos
do FDT, e associações não significativas ou menos intensas para os erros. O teste apresentou uma estrutura
fatorial de dois componentes: Velocidade de Processamento (tempos de leitura e contagem) e Atenção Executiva
(escores de Inibição e Flexibilidade, erros de seleção e erros de alternância), que juntos responderam por 71% da
variância do teste. Encontramos correlações convergentes com medidas de inteligência, atenção/velocidade de
processamento e funções executivas (p<0.001) e correlações divergentes (p>0.05) com testes de nomeação,
visioconstrução e Memória. A confiabilidade do teste foi avaliada pela sua consistência interna (Guttman:>0.85)
e estabilidade teste-reteste com intervalo aproximado de 30 dias (sem diferenças significativas na maior parte das
medidas e diferenças com magnitude de efeito pequenas no temo de seleção). Discussão: A adaptação de novos
testes neuropsicológicos para o contexto brasileiro é fundamental para a progressão do campo de estudo, tanto na
prática acadêmica quanto na prática clínica. O FDT apresenta características que o tornam particularmente útil
em nosso meio, visto que pode ser aplicado em indivíduos de diferentes níveis de escolaridade. Os resultados do
presente estudo sugerem que o FDT apresenta boas evidências de validade e confiabilidade para o uso em
adultos brasileiros. Novos estudos devem investigar outras propriedades psicométricas e sobretudo seu uso na
prática clínica.
Palavras chave: neuropsicologia, funções executivas, atenção, velocidade de processamento, avaliação
psicológica
Introdução

O Teste dos Cinco Dígitos (FDT) é uma variação do teste de Stroop que utiliza
números e quantidades. Estudo objetiva avaliar de forma preliminar sua validade e
confiabilidade em 540 adultos brasileiros. A correção do teste apresentou boa concordância
entre examinadores e um pequeno efeito de aprendizagem entre duas aplicações. As variáveis
do teste apresentam boa consistência interna e intercorrelações. A idade, escolaridade e sexo
dos participantes influenciaram o desempenho no teste. As análises de validade sugerem uma
estrutura fatorial de três componentes ligados à velocidade de processamento, atenção e
funções executivas, com correlações divergentes com testes dessas funções e divergente com
outros aspectos cognitivos. Nossos resultados fornecem evidências de confiabilidade e
validade para o uso em adultos brasileiros.

O processo de avaliação neuropsicológica envolve o teste de hipóteses clínicas sobre


como os sintomas do paciente se relacionam com sua estrutura cognitiva, e por consequência
com os correlatos neurobiológicos associados a ela (Salmon & Bondi, 2009). Um dos
métodos mais comumente empregados para tal fim é o uso de testes objetivos, padronizados e
construídos para a avaliação de um conjunto específico de aspectos cognitivos (Strauss,
Sherman & Spreen, 2006). Este método apresenta vantagens e desvantagens, mas em geral
permite uma boa aproximação ao aspecto cognitivo avaliado e permite a comparação do
sujeito com uma população de referência. Os testes neuropsicológicos devem ser
desenvolvidos sob duas perspectivas. A primeira envolve os aspectos psicométricos,
desenvolvidos em grande medida no campo da psicologia das diferenças individuais, com
foco nas análises de confiabilidade (consistência interna, convergência entre examinadores,
estabilidade teste-reteste) e validade (relacionada ao constructo em si, sua associação com
outras medidas previamente validadas, estrutura fatorial e outros critérios adotados) (Pasquali,
2011). A segunda decorre da neuropsicologia clássica, calcada na correlação entre estrutura
(neuropsicológica) e função (cognitiva). Nessa perspectiva os testes são desenvolvidos e
validados com base em suas correlações com o funcionamento do sistema nervoso central e
em sua arquitetura cognitiva (Strauss, Sherman & Spreen, 2006).
Um dos processos cognitivos mais comumente avaliados na prática em
neuropsicologia são os processos de atenção seletiva. Embora não tenha sido o primeiro a
estudar o tema, John Stroop (1935) sintetizou a literatura de sua época envolvendo esse
processo em um dos estudos mais conhecidos e citados em psicologia. O autor avaliou de
forma sistemática como ocorre o efeito de interferência no sistema atencional, onde uma
rotina automática ou semiautomática deve ser interrompida em favor de uma rotina
controlada, processo que requer maior controle top-down e maiores recursos de
processamento de informação. Stroop (1935) realizou uma série de experimentos com um
procedimento dividido em três etapas: na primeira o sujeito deveria nomear a cor de alguns
quadros, na segunda deveria nomear a cor com a qual palavras neutras foram grafadas e uma
terceira onde o sujeito deveria nomear a cor com a qual nomes de cores foram grafados
(nunca de forma congruente). O aumento do tempo de resposta na terceira condição, assim
como na frequência de erros, representa o efeito de interferência. Nesse tipo de teste avalia-se,
portanto, a atenção seletiva, onde o sujeito deve manipular seu sistema atencional de forma a
se concentrar em um determinado aspecto do estímulo, inibindo os processos atencionais mais
automatizados.
Em um teste típico de efeito Stroop, como o cor-palavra utilizado originalmente, os
processos atencionais necessários à sua realização podem ser divididos em automáticos
(primeira e segunda condições) e controlados (terceira condição), como exposto por Cohen
(1993). Os processos mais automáticos envolveriam as redes atencionais de vígila e
orientação, relacionadas predominantemente a estruturas do tronco encefálico, tálamo, regiões
posteriores do giro do cíngulo e córtices occipital e parietal, sendo muitas vezes denominadas
de redes atencionais posteriores (Posner & Rothbart, 2007). Os processos mais controlados
envolveriam as redes de atenção-executiva, mais relacionadas ao córtex pré-frontal e regiões
anteriores do giro do cíngulo, sendo comumente denominadas redes atencionais anteriores
(Poster & Rothbart, 2007). Em um teste de efeito-Stroop esses processos atencionais são
representados pela velocidade de processamento e pelas funções executivas (Salthouse, 2012).
A velocidade de processamento pode ser definida como a velocidade utilizada para
completar uma determinada tarefa de maneira precisa (Jacobson, 2011) e pode ser mensurada
por qualquer teste cognitivo cronometrado, independente de sua natureza. Em modelos
cognitivos globais quase sempre esses testes avaliam um componente isolado, mas fortemente
relacionado com os demais aspectos da cognição (Salthouse, 2003). Seu correlato
neurobiológico mais expressivo seriam os feixes de substância branca, que conectam
diferentes regiões corticais e subcorticais (Penke et al., 2010). Seu desenvolvimento obedece
um padrão em forma de “U-invertido”, com ápice do funcionamento entre a segunda e a
terceira décadas de vida (Schaie, 2005). Déficits em velocidade de processamento estão
comumente associados com diversos transtornos associados ao desenvolvimento ou a
doenças, tais como TDAH (Jacobson, 2011), Dislexia (Wolf, 1999), Esquizofrenia (Knowles,
2010), demências subcorticais e corticais (Salmon & Bondi, 2009), transtornos do humor
(Butters et al., 2008) e quadros vasculares (Román et al., 2004).
As Funções executivas envolvem uma série de processos cognitivos que agem de
forma integrada, permitindo o comportamento controlado e direcionado a metas. Apesar de
não existir um modelo consensual de organização estrutural, modelos de natureza hierárquica
comumente sugerem a existência de funções executivas básicas (controle inibitório, memória
operacional e flexibilidade cognitiva) e funções executivas complexas (planejamento, solução
de problemas e tomada de decisões) (Miyake et al., 2000; Diamond, 2013). Em um dos
modelos mais recentes, Diamond (2013) sugere que o construto “controle inibitório” envolve
os processos de atenção-executiva expostos anteriormente. Junto à capacidade de inibição
cognitiva ele forma o sistema de “controle de interferência”. Este último, junto ao sistema de
inibição de respostas, formariam o “controle inibitório”. Por fim, a associação do controle
inibitório, memória operacional, a flexibilidade cognitiva somadas as funções executivas
complexas formariam o sistema de controle executivo. As funções executivas apresentam
desenvolvimento semelhante ao da velocidade de processamento, com ápice entre a segunda e
a terceira década de vida (Zelazo, Craik & Booth, 2004). Alterações nas funções executivas
são comuns a transtornos do desenvolvimento como TDAH (Barkley, 1997), Transtornos do
Espectro Autista (Hill, 2004); transtornos psiquiátricos como Transtorno Afetivo Bipolar
(Martínez-Arán et al., 2004), Transtorno Obsessivo Compulsivo, Esquizofrenia e Depressão
(Moritz, 2002) e síndromes demenciais, como Doença de Alzheimer (Lafleche, 1995) e
doença de Parkinson (Muslimović, 2005).
Um teste de efeito-stroop, portanto, envolve uma série de componentes cognitivos
associados a diferentes regiões do sistema nervoso central, representados pelos processos
atencionais e pelos construtos velocidade de processamento e funções executivas. Contudo,
uma limitação do paradigma mais comumente adotado para sua avaliação (cor-palavra) é que
o mesmo requer que as rotinas de leitura do sujeito sejam automatizadas: caso o indivíduo
demande maiores recursos cognitivos para a leitura, o efeito de interferência é reduzido ou
anulado. Sendo assim, a validade desse tipo de instrumento depende em grande medida da
capacidade de leitura (Cox et al., 1997) e da escolarização formal (Ardila et al., 2001). A
tarefa é influenciada também pela capacidade de percepção e discriminação de cores,
geralmente menos eficaz após a quinta década de vida (Wijk, Berg & Steen, 1999).
Visando contornar algumas limitações do teste de Stroop, Sedó (2004) propôs o Teste
dos Cinco Dígitos - Five Digits Test na nomenclatura original (FDT). Ele seria uma tarefa
numérica que dependeria menos da capacidade individual de leitura, escolarização formal e
capacidade de descriminação de cores. Na primeira etapa (Leitura), o examinando deve ler o
algarismo contido dentro de cada um dos cinquenta quadrados estímulo em uma condição
congruente (ex.: 3-3-3 lê-se três). Na segunda etapa (Contagem), é necessária a contagem de
asteriscos (ex.: “***” lê-se três). A terceira etapa (Escolha) envolve componentes executivos
controlados, como controle inibitório, pois requer que o indivíduo conte a quantidade de
números no quadrado alvo enquanto inibe a resposta de ler os mesmos (ex.: “5-5-5” responde-
se três, ao invés de cinco). A quarta etapa (Alternância) se assemelha a etapa de escolha, com
a adição de que dentre os cinquenta quadrados estímulos, dez se diferenciam por apresentar
uma borda escura e adicionar uma nova condição ao teste: nestes estímulos o indivíduo
deverá reverter a regra, ao invés de contar a quantidade de número, deverá nomear o
algarismo. Registra-se o tempo necessário à execução da tarefa e os erros cometidos pelo
indivíduo. Como comumente adotado nos testes de Stroop cor-palavra, calcula-se também
escores de interferência ao subtrair o tempo de Leitura do tempo de Escolha e do tempo de
Alternância, criando os escores de Inibição e Flexibilidade.
Em resumo, as duas primeiras etapas do Teste dos Cinco Dígitos são consideradas
tarefas que envolvem processamento atencional mais automático (redes atencionais de vigília
e orientação), demandando apenas a leitura dos algarismos de 1 a 5 e a percepção das
quantidades entre um e cinco, dependendo primariamente da velocidade de processamento. A
terceira e quarta parte do teste envolveriam os processos atencionais controlados (rede de
atenção-executiva), dependendo mais fortemente das funções executivas.
O FDT foi desenvolvido primeiramente na Espanha, então foi rapidamente adotado em
outros países com características culturais distintas, como os Estados Unidos (Lang, 2002) e
China (Hsieh & Tori, 2007), e em estudos preliminares com a população brasileira (de Paula
et al., 2011;2012; Costa et al., 2014). Contudo, suas propriedades psicométricas ainda não
foram investigadas de forma sistemática nesta população. O presente estudo visa investigar de
forma preliminar as características psicométricas do FDT relacionadas à confiabilidade e à
validade.
Métodos

Participantes

Participaram desse estudo 540 adultos brasileiros com idades entre 19 e 92 anos, que
formaram uma amostra de conveniência. Os participantes eram predominantemente da região
sudeste (n=330) e sul (n=202), com poucos participantes das demais regiões (n=8). Os
participantes não relataram, em um questionário de cadastro sociodemográfico, transtornos
psiquiátricos ou doenças neurológicas, tampouco dificuldades sensoriais ou motoras que
poderiam limitar a realização do FDT, e não estavam em uso de medicações diretamente
associadas a alterações cognitivas. A escolaridade dos participantes variou entre o
analfabetismo e a educação superior. O perfil demográfico dos participantes pode ser
observado na Tabela 1. Todos os participantes realizaram o FDT, aplicado por psicólogos ou
graduandos em psicologia treinados em sua aplicação. Registramos os tempos e os erros de
cada etapa da tarefa, além de calcular os escores de interferência descritos anteriormente. Os
resultados do FDT são expostos na Tabela 2.

Tabela 1. Descrição dos participantes do estudo


n %

Sexo Homens 234 43.30%

Mulheres 306 56.70%

Grupo idade 19 a 34 195 36.10%

35 a 59 167 30.90%

60 a 75 127 23.50%

>76 51 9.40%

Educação Formal <8 75 13.90%

>=8 465 86.10%


Tabela 2. Desempenho da amostra no FDT
FDT - Componentes Média DP Min Max
FDT - Leitura (Tempo) 23.68 6.02 10 39
FDT - Contagem (Tempo) 26.71 6.51 14 45
FDT - Escolha (Tempo) 40.95 11.37 18 70
FDT - Alternância (Tempo) 53.44 16.77 22 96
FDT - Inibição (Tempo) 17.27 8.14 -2 44
FDT - Flexibilidade (Tempo) 29.76 13.17 2 70
FDT - Leitura (Erros) 0.05 0.28 0 4
FDT - Contagem (Erros) 0.05 0.19 0 4
FDT - Escolha (Erros) 0.59 0.92 0 13
FDT - Alternância (Erros) 1.29 1.63 0 16
FDT: Teste dos Cinco Dígitos, DP: Desvio-Padrão, Min: valor mínimo observado na amostra, Max: valor máximo observado
na amostra

Análise Estatística

Visando avaliar as caraterísticas psicométricas relacionadas à confiabilidade e validade


realizamos uma série de análises para cada um desses aspectos. Foram avaliadas a
concordância entre juízes para a correção, intercorrelações das medidas do teste, consistência
interna e estabilidade teste-reteste como estimativas de confiabilidade. Para analisar a
validade, verificamos a associação do teste com a idade, escolaridade e sexo, sua estrutura
fatorial e correlações com outras variáveis cognitivas. De forma a facilitar a exposição dos
resultados, as características específicas de cada procedimento serão expostas junto a seus
resultados na próxima seção.

Resultados

Confiabilidade: Concordância entre examinadores na correção da tarefa


Para explorar esta propriedade psicométrica, em dois examinadores experientes na
aplicação do teste, envolvidos no processo de concepção, coleta e análises de dados do
manual brasileiro desta tarefa que aplicaram simultaneamente dez protocolos de testagem em
indivíduos diferentes, cursando os cursos de graduação em psicologia ou medicina. O
examinador 1 instruía o participante sobre o Teste dos Cinco Dígitos, seguindo as
recomendações do manual, e então tanto o examinador 1 quanto o 2 registravam de forma
independente o tempo de aplicação e os erros cometidos pelos participantes. Devido ao
pequeno tamanho amostral, comparamos os tempos e erros dos participantes através do teste
não-paramétrico de Wilcoxon. Encontramos boa convergência na cotação dos tempos e
nenhuma divergência na cotação dos erros. Os resultados estão apresentados na Tabela 3.

Tabela 3. Concordância entre examinadores na cotação de 10 protocolos do FDT


Mediana Teste de Wilcoxon
FDT Examinador 1 Examinador 2 Δ Z p
Leitura (t) 20 20 0 -0.38 0.705
Contagem (t) 20 21 1 -1.63 0.102
Escolha (t) 33 34 1 -0.38 0.705
Alternância (t) 40 40 0 -0.69 0.492
Leitura (e) 0 0 0 0 1.000
Contagem (e) 0 0 0 0 1.000
Escolha (e) 0 0 0 0 1.000
Alternância (e) 0 0 0 0 1.000
FDT: Teste dos Cinco Dígitos, t: Contagem, e: erros.

Confiabilidade - Consistência interna:


Para a análise da consistência interna do teste, aplicamos o método das metades (split
half), visto que o Alpha de Cronbach, medida mais comumente adotada, pode ser enviesada
em testes cronometrados. Dividimos as metades da seguinte forma: Tempo e Erros de Leitura,
Tempo e Erros de Escolha, Escore de Interferência Inibição como a primeira metade e Tempo
e Erros de Contagem, Tempo e Erros de Alternância, Escore de Interferência Flexibilidade na
segunda metade. As análises apresentaram boa consistência interna, com coeficiente final
0.883.
Confiabilidade - Estabilidade teste-reteste
Para analise de estabilidade Teste-Reteste, avaliamos uma amostra de 15 universitários
com o FDT em um intervalo que variou de 28 a 35 dias. Comparamos então os resultados
através do teste de Wilcoxon. Os resultados são expostos na Tabela 4. As análises sugerem
diferenças significativas para os tempos de execução entre o teste e reteste, mas não para
erros. Como descrito pela diferença entre as medianas, houve melhora de aproximadamente
um segundo entre as etapas de Leitura e Contagem, e de cinco e seis segundos entre Escolha e
Alternância. Os escores de Interferência sugerem um padrão similar, com melhora de
aproximadamente três segundos em Inibição e cinco segundos em Flexibilidade.

Tabela 4. Valores de teste-reteste do FDT com intervalo de 28 a 35 dias


Variáveis do FDT Mediana Wilcoxon
Teste Reteste Δ Z p
Leitura (t) 23 22 1 -1.44 0.151
Contagem (t) 26 25 1 -1.96 0.050
Seleção (t) 36 31 5 -2.48 0.013
Alternância (t) 44 38 6 -1.78 0.074
Inibição (t) 13 10 3 -2.14 0.033
Flexibilidade (t) 22 17 5 -1.36 0.173
Leitura (e.) 0 0 0 -1.00 0.317
Contagem (e.) 0 0 0 0.00 1.000
Escolha (e.) 0 0 0 -0.58 0.565
Alternância (e.) 0 0 0 -1.04 0.301
FDT: Teste dos Cinco Dígitos, t: Contagem, e: erros.

Confiabilidade - Correlações entre as medidas do teste


Calculamos correlações de Pearson entre as seis medidas de tempo o teste (Leitura,
Contagem, Escolha, Alternância, Inibição e Flexibilidade) e correlações de Spearman entre as
quatro medidas de erros encontradas (Leitura, Contagem, Escolha e Alternância). Como
muitas correlações foram computadas simultaneamente, adotamos um valor de significância
mais conservador (p=0.01). Além das correlações, computamos também o coeficiente de
determinação (r²) das medidas, como uma medida da variância explicada entre os
componentes do teste.
Tabela 5. Intercorrelações entre os tempos do FDT
Variáveis do FDT 1 2 3 4 5 6

Leitura (1) 1.00 (100%)


Contagem (2) 0.837 (70%) 1.00 (100%)

Escolha (3) 0.725 (53%) 0.828 (69%) 1.00 (100%)


Alternância (4) 0.713 (51%) 0.801 (64%) 0.861 (74%) 1.00 (100%)
Inibição (5) 0.274 (8%) 0.537 (29%) 0.861 (74%) 0.675 (46%) 1.00 (100%)
Flexibilidade (6) 0.451 (20%) 0.637 (41%) 0.764 (58%) 0.947 (90%) 0.734 (54%) 1.00 (100%)
FDT: Teste dos Cinco Dígitos
Validade - Associação do teste com variáveis sociodemográfico

Analisamos a influência da idade, do sexo e da escolaridade no desempenho do FDT


por meio de um modelo linear geral multivariado, adotando estas medidas como fatores
(categóricos ou ordinais) fixos. Com base no manual original do FDT (Sedó, 2007) e em
estudos com a população adulta em diferentes culturas (Sedó & DeCristoforo, 2001; Hsieh &
Tori, 2007; Magalhães, 2013) dividimos os participantes em quatro grupos etários: 19 a 34
anos (n=195), 35 a 59 anos (n=167), 60 a 75 anos (n=127) e 76 anos ou mais (n=51). Quanto
a escolaridade, dividimos os participantes entre aqueles com ensino fundamental incompleto
(<8 anos, n=75) e escolaridade fundamental, média ou superior (n=465). Por fim,
participaram da pesquisa 234 homens e 306 mulheres. O design da análise conta, portanto,
com 10 variáveis dependentes (todos os tempos e erros) e três fatores. Os resultados são
expostos na tabela 6. Configuramos o modelo para apresentar apenas os efeitos principais.
Todos os efeitos do modelo foram significativos a p<0.01. Encontramos uma pequena
contribuição do sexo para o desempenho na tarefa (com homens apresentando tempos mais
rápidos e cometendo menos erros). O efeito dos grupos etários apresentou magnitude de efeito
maior nos tempos, sobretudo na escolha, inibição e flexibilidade. O padrão encontrado sugere
menor velocidade de resposta e maior frequência de erros nos participantes mais velhos frente
aos participantes mais jovens. O efeito da escolaridade foi próximo ao da idade nos processos
automáticos, mas inferior nos processos controlados. A comparação entre os dois grupos de
escolaridade sugere tempos mais lentos e maior número de erros nos participantes com menor
escolaridade.
Tabela 6. Efeitos principais do sexo, da idade e da escolaridade sob o desempenho do FDT
Variável do FDT Sexo Idade Escolaridade Modelo Final
F ηp² F ηp² F ηp² F ηp²
FDT - Leitura (Tempo) 4.19 1% 18.72 10% 43.61 8% 35.13 25%
FDT - Contagem (Tempo) 15.07 3% 16.59 9% 82.73 13% 48.43 31%
FDT - Escolha (Tempo) 24.89 5% 27.79 14% 53.22 9% 52.39 33%
FDT - Alternância (Tempo) 25.79 5% 49.29 22% 83.97 14% 85.15 44%
FDT - Inibição (Tempo) 24.13 4% 14.14 7% 21.10 4% 26.54 20%
FDT - Flexibilidade (Tempo) 26.30 5% 40.29 19% 60.47 10% 67.69 39%
FDT - Leitura (Erros) 0.02 0% 2.49 1% 13.86 3% 3.82 3%
FDT - Contagem (Erros) 1.28 0% 6.58 4% 21.90 4% 6.73 6%
FDT - Escolha (Erros) 8.57 2% 5.45 3% 7.89 2% 10.30 9%
FDT - Alternância (Erros) 8.13 2% 9.75 5% 13.17 2% 16.29 13%
Validade - Estrutura Fatorial

Para esse procedimento adotamos os tempos e erros de Leitura, Contagem, Escolha e


Alternância. Com base nos construtos associados ao FDT esperamos encontrar ao menos dois
fatores, um mais relacionado à velocidade de processamento e um mais relacionado às
funções executivas. Foi realizada uma análise fatorial exploratória com as medidas
selecionadas, por meio de uma fatoração por eixos principais com rotação oblíqua (direct
oblimin). Como critério para extração dos fatores consideramos autovalores superiores a 1. Os
resultados sugerem uma divisão envolvendo três fatores. O primeiro com todas às medidas de
tempo da tarefa, possivelmente representando a velocidade de processamento, e respondendo
pela maior parte da variabilidade dos resultados (R²=47%). O segundo envolveu os erros de
natureza atencional mais automática, respondendo por 18% da variabilidade dos dados. Por
fim, os erros de Escolha e Alternância formaram um fator a parte, respondendo por mais 13%
da variância encontrada. Em síntese os achados sugerem uma estrutura relacionada à
velocidade de processamento e erros em processos atencionais automáticos e controlados. Os
resultados são expostos na tabela 7:
Tabela 7
Matrizes de padrões do FDT na amostra estudada

Variáveis do FDT Comunalidades Matriz de Padrões

Inicial Extração 1 2 3

Contagem (t) 1 0.90 0.95 0.05 0.04


Escolha (t) 1 0.86 0.94 0.00 0.12
Alternância (t) 1 0.85 0.88 -0.02 -0.12

Leitura (t) 1 0.82 0.86 -0.03 -0.16


Leitura (e) 1 0.73 0.08 0.85 0.10

Contagem (e) 1 0.69 -0.09 0.81 -0.12


Escolha (e) 1 0.76 -0.03 -0.03 -0.89

Alternância (e) 1 0.67 0.10 0.07 -0.77

Autovalor - - 3.78 1.45 1.05


Variância Explicada - - 47% 18% 13%
FDT: Teste dos Cinco Dígitos

Validade - Correlações com outros testes cognitivos


Esse procedimento foi realizado em uma amostra menor, composta por idosos (idade
superior a 60 anos). Em 91 participantes (58 mulheres) com idade média de 72(±6) anos e
escolaridade média de 8(±5) anos correlacionamos os escores de tempo do FDT com testes de
Inteligência, um de Funções Executivas, um de Velocidade de Processamento, de forma a
testar sua validade convergente. Selecionamos para esse fim o Teste de Matrizes Progressivas
de Raven Escala Especial (Raven, 1984), com o teste de Fluência Verbal (Brucki, Malheiros,
Olamoto & Bertolucci, 1997) e Nine Hole-Peg Test (Grice et al., 2003), respectivamente.
Nessa última medida usamos a soma do tempo de execução com cada mão. Como estimativas
de validade divergente adotamos as subescalas de construção, memória e conceituação da
Escala Mattis para Avaliação de Demências (Porto et al., 2005), tarefas relacionadas
respectivamente às habilidades visioespaciais, memória episódica e linguagem. As
correlações e o coeficiente de determinação são expostos abaixo. O padrão de associações
indica correlações mais fortes com as medidas de inteligência, funções executivas e
velocidade de processamento, e mais modestas com os demais testes. As correlações são
sintetizadas na Tabela 8.
Tabela 8. Matriz de Correlações entre o FDT (tempos) e outras Medidas Cognitivas em uma
Subamostra (N=91) de Participantes com Idade Superior a 60 anos

Variáveis do FDT Raven FV Animais 9HPT Construção Memória Conceituação


r r² r r² r r² r r² r r² r r²
FDT - Leitura -0.35 12% -0.32 10% 0.36 13% 0.00 0% -0.10 1% -0.15 2%
FDT - Contagem -0.39 15% -0.24 6% 0.33 11% -0.15 2% -0.13 2% -0.13 2%
FDT - Escolha -0.61 38% -0.30 9% 0.28 8% -0.05 0% -0.06 0% -0.27 7%
FDT - Alternância -0.41 16% -0.37 13% 0.33 11% 0.02 0% -0.11 1% -0.07 1%
FDT - Inibição -0.43 18% -0.14 2% 0.03 0% -0.15 2% -0.05 0% -0.31 9%
FDT - Flexibilidade -0.32 10% -0.28 8% 0.24 6% 0.01 0% -0.06 0% -0.04 0%
FTD: Teste dos Cinco Dígitos, FV: Fluência Verbal, 9HPT: Nine Hole-Peg Test, t: tempos, e: erros.

Discussão

Verificamos através deste estudo preliminar que o Teste dos Cinco Dígitos apresenta
boas propriedades psicométricas para a avaliação de adultos brasileiros. Testamos, por
diferentes métodos, aspectos relacionados à validade e à confiabilidade, com resultados
satisfatórios nas análises. Isso sugere que o teste é adequado para o uso em contextos clínicos
e de pesquisa na realidade brasileira, assim como já vem sendo utilizado em outros países.

Encontramos pequenas diferenças entre os tempos registrados ao analisar a


convergência entre examinadores. Essas pequena diferença pode ser explicada pela maneira
em que foi conduzida a aplicação: o examinador 1 dava o comando verbal para inicio da
tarefa, gerando uma discreta diferença no início da cronometragem do tempo. Além disso,
fatores como tempo de reação individual de cada aplicador podem também explicar esta
diferença. Encontramos também algumas diferenças entre os tempos de realização na análise
do teste-reteste. Ao comparar processos automáticos (etapas de leitura e contagem), pudemos
observar uma melhora de cerca de 1 segundo entre a primeira e segunda aplicação. Porém, ao
fazer esta mesma comparação com os processos controlados (escolha e alternância), a redução
no tempo foi maior: de 5 a 6 segundos. Nossos resultados são similares aos encontrados por
Lemay e Colaboradores (2004) ao analisar o teste-reteste da tarefa de Stroop cor-palavra,
sendo o tempo mais sensível do que a quantidade de erros ao se considerar a prática na tarefa.
Neste estudo, somente uma retestagem foi realizada, uma vez que evidências indicam que o
efeito de aprendizagem neste tipo de tarefa são significativos somente na segunda aplicação,
reduzindo-se com sucessivas aplicações Sacks et. Al (1991). Este efeito não é dependente da
idade (Davidson, 2003) ou sexo Connor (1988).

A consistência interna apresentada pelo teste nos participantes desse estudo é próxima
á reportada por McLachlan (2004) em um estudo com adultos normais e casos clínicos. O
autor reporta valores de consistência interna individuais a cada uma das quatro partes do teste
(dividindo o tempo de execução e os erros entre os 25 primeiros e últimos estímulos de cada
parte), mensurados por correlações, variando de 0.86 a 0.95. Diferenças na metodologia
adotada podem explicar as diferenças entre nossos resultados e os desse autor. Quanto às
correlações entre as diferentes etapas do teste McLachlan (2004) encontrou correlações
variando de 0.66 a 0.93 em uma amostra de pacientes adultos vítimas de derrame e 0.63 a
0.96 em crianças e adolescente. As correlações se assemelham em grande medida às do nosso
estudo, embora o autor não tenha adotado os escores de interferência nas análises. Com o uso
destes escores em uma amostra mista de adultos saudáveis e casos clínicos, o autor encontrou
correlações ente os índices de interferência e o restante do FDT variando entre 0.07 (Leitura x
Inibição) e 0.88 (Alternância x Flexibilidade). Em síntese, o FDT apresenta um padrão muito
consistente de correlações entre suas variáveis, indicando boa consistência interna, provendo
assim uma forte evidência de confiabilidade.

O primeiro método adotado para tal fim foram as associações do FDT com variáveis
sociodemográficas. Estudos com outras populações sugerem que a idade é o principal preditor
de desempenho na tarefa (Sedó, 2007; Hsieh & Tori, 2007; Magalhães, 2013). As magnitudes
de efeito encontradas nas análises foram fracas nas variáveis de erro, moderadas nos tempos
relativos aos processos atencionais automáticos e, em geral, elevadas nos processos
atencionais controlados. Os achados sugerem que com, a idade mais avançada, o desempenho
no FDT tende a apresentar uma queda significativa, sobretudo nas medidas de tempo e de
forma mais acentuada nas medidas relacionadas às funções executivas. O padrão observado é
típico do desenvolvimento dessas funções, onde após um ápice por volta da segunda e terceira
década de vida (representado pelos participantes mais jovens desse estudo) há um declínio
gradativo desses processos, seguindo o padrão esperado para habilidades cognitivas de
natureza fluida (Schaie, 2005; Satlhouse, 2012). Os efeitos da escolaridade sobre o
desempenho na tarefa apresentaram padrão semelhante. Esse aspecto é pouco discutido no
manual original do teste (Sedó, 2007) e poucos estudos investigaram o papel da escolarização
formal sobre o desempenho do FDT. Um estudo com a população chinesa (Hsieh & Tori,
2007) sugere um papel importante dessa variável em medidas compostas de tempos e erros na
tarefa, embora não reportem os tamanhos de efeito das análises. Em testes que demandam
velocidade de processamento e funções executivas, maior escolaridade é geralmente associada
a menores tempos de resposta e menor número de erros (Schaie, 2005). O efeito parece mais
expressivo em populações com maior variabilidade dessa característica. Quanto às diferenças
de gênero, as mesmas não ocorrem, ou ocorrem de forma discreta, em testes do tipo Stroop
(Connor, 1998; Troyer et al., 2006; Lucas et al., 2005, ). Em nossa amostra, os efeitos de
gênero foram menores que os da idade e da escolaridade, e podem ser um artefato da maior
proporção de participantes do sexo feminino nos grupos de idade mais avançada. Outros
estudos devem avaliar a influência desse fator em amostras pareadas por idade e escolaridade.

Não encontramos na literatura estudos que tenham reportado a estrutura fatorial do


FDT. Verdejo-García e Pérez-García (2007) analisaram a associação dos escores de
interferência do FDT junto a outros testes de funções executivas e investigaram sua estrutura
fatorial, seus resultados sugerem que escores de inibição e flexibilidade compuseram, juntos
ao teste de Stroop, o fator inibição. Magalhães (2013) usou os mesmos escores junto a outros
testes de controle inibitório em uma análise fatorial exploratória, onde essas variáveis
formaram junto a outros testes o fator “controle de interferência”. Nosso estudo encontrou três
componentes, um aparentemente relacionado à velocidade de processamento (envolvendo
todos os tempos da tarefa) e dois outros relacionados aos erros de Leitura-Contagem e
Escolha-Alternância, respectivamente. Os achados sugerem a validade da distinção entre
processos automáticos e controlados.

A análise das correlações entre o FDT e outras medidas cognitivas indicou associações
significativas com testes de inteligência fluida, funções executivas e velocidade de
processamento, com magnitudes de efeito moderadas, e associações fracas ou não
significativas (em sua maioria) com testes de memória, visioconstrução e conceituação. Os
achados sustentam a validade da tarefa, visto que os processos que a compõem (velocidade de
processamento e funções executivas) são componentes fluidos da cognição, e relativamente
independentes dos processos de memória, linguagem e cognição espacial (Sedó, 2004; 2007).

Nossos resultados apresentam limitações importantes. Primeiramente, embora o


tamanho amostral seja adequado para as análises propostas, o mesmo não é representativo da
população brasileira como um todo. Os participantes também não foram divididos de forma
proporcional às expectativas etárias, de escolaridade ou de proporção entre o homens e
mulheres da população brasileira, o que pode enviesar as análises realizadas, sobretudo as
relativas à interferência dos fatores demográficos no desempenho do teste. Por fim, os
participantes não realizaram nenhum procedimento de diagnóstico formal. Sendo assim
sujeitos com transtornos psiquiátricos ou doenças neurológicas (não relatados no questionário
de cadastro) podem ter sido incluídos na análise.
A adaptação de novos testes neuropsicológicos para o contexto brasileiro é
fundamental para a progressão do campo de estudo, tanto na prática acadêmica quanto na
prática clínica. Os resultados do presente estudo sugerem que o FDT apresenta boas
evidências de validade e confiabilidade para o uso em adultos brasileiros. Novos estudos
devem investigar outras propriedades psicométricas e, sobretudo, testar sua adequação na
perspectiva neuropsicológica, trabalhando com amostras clínicas e testando seus correlatos
anátomo-clínicos.

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