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REVISTA ELETRÔNICA DE TRABALHOS ACADÊMICOS – UNIVERSO/GOIÂNIA


ANO 3 / Nº1/ 2018 – ÁREA DA SAÚDE

SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL: PERCEPÇÃO DO


PSICÓLOGO

PARENTAL ALIENATION SYNDROME: PERCEPTION OF THE


PSYCHOLOGIST

Aparecida da Silva Bernardino1


Fernanda Silva de Almeida2
Marcelo Constantino3
Ozileia N. P. Moreira4
Andréa Batista Magalhães5

Resumo O presente trabalho tem por objetivo descrever a percepção do psicólogo


frente à avaliação da Síndrome de Alienação Parental (SAP), sua causa e efeito nas
crianças em relação aos pais separados que estão envolvidos em contextos judiciais
pela guarda de seus filhos. Para a produção deste trabalho foi feita uma entrevista
semiestruturada com um profissional de Psicologia Jurídica, análise de pesquisas
científicas e revisão literária. Desse modo, discute-se por meio da análise
bibliográfica como os profissionais entendem e se relacionam com essa temática.

Palavras-chave: Síndrome de Alienação Parental. Psicólogo Jurídico. Crianças.

Abstract
The present work aims to describe the psychologist's perception regarding the
evaluation of the Parental Alienation Syndrome (SAP), its cause and effect in
children in relation to the separated parents who are involved in judicial contexts for
the custody of their children. For the production of this work a semi structured
interview with a professional of Juridical Psychology, analysis of scientific researches
and literary revision was done. In this way, it is discussed through the bibliographical
analysis how the professionals understand and relate to this theme.

Keywords: Parental Alienation Syndrome. Legal Psychologist. Children.

1
Discente do Curso de Psicologia da Universidade Salgado de Oliveira.
2
Discente do Curso de Psicologia da Universidade Salgado de Oliveira.
3
Discente do Curso de Psicologia da Universidade Salgado de Oliveira.
4
Discente do Curso de Psicologia da Universidade Salgado de Oliveira.
5
Docente do Curso de Psicologia da Universidade Salgado de Oliveira.
2

Introdução

O presente trabalho tem por objetivo descrever a percepção do psicólogo


quanto à sua avaliação da Síndrome de Alienação Parental (SAP), sua causa e
efeito nas crianças em relação aos pais separados que estão envolvidos em
contextos judiciais pela guarda de seus filhos. Parte do pressuposto de que é
importante observar os ideais contemporâneos que envolvem leis e novos costumes
em uma era de constantes transformações.
Nessas evoluções destacam o crescente número de separações conjugais
em que pais utilizam seus filhos como objeto de disputa e, com isso, prejudicam
tanto o desenvolvimento físico quanto psíquico de seus filhos.
Para tanto, o mesmo aborda, na visão de vários autores, o conceito, as
consequências e as possíveis intervenções que podem ser feitas, principalmente
nas crianças. Contribui para futuras análises e possíveis ampliações do conteúdo. O
tema possibilita dar base para a construção de novos referenciais teóricos, na
identificação do alienador, entender como a Alienação Parental pode gerar a SAP
Visa colaborar para possíveis diagnósticos e intervenções sob a ótica da visão do
psicólogo frente a essa demanda. É importante compreender especificidades como:
entender o significado do termo Alienação Parental, suas causas e seus fenômenos;
descrever aspectos relevantes que contribuem para mudanças de comportamento
das crianças; elucidar a contribuição do psicólogo e sua tentativa de identificar as
consequências psicológicas que a Alienação Parental traz para a vida das crianças.
Para a realização deste trabalho foi utilizada pesquisa exploratória para o
levantamento de dados e pesquisa descritiva qualitativa a fim de compreender as
relações e, a partir da análise, identificar pontos comuns e distintos presentes na
amostra escolhida, que envolve famílias em conflitos judiciais em relação à guarda
dos filhos. O instrumento utilizado para coleta de dados foi uma entrevista
semiestruturada baseadas nos estudos científicos e, por fim, realizada uma revisão
bibliográfica para contextualizar e atualizar novas contribuições, o que aumenta a
fidedignidade e clareza do estudo. Deste modo, o estudo pretendeu encontrar
resultados que possam levantar discussões e contribuir para novas pesquisas
acerca do tema.
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1. Revisão Literária
1.1. Síndrome de Alienação Parental

A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é um tema que requer bastante


discussão no contexto acadêmico e social. Antes, porém, para discuti-la, se faz
necessário compreender a origem desse fenômeno. Para Gardner (2002) Ela se dá
por meio da relação alienadora entre cônjuges que envolvem seus filhos
principalmente em brigas judiciais.
A Constituição Federativa do Brasil considera que a Alienação Parental é
uma:
(...) interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente
promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que
tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância
para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à
manutenção de vínculos com este (BRASIL, Constituição Federal. Lei nº
o
12.318, de 26 de agosto de 2010 Art. 2 ).

A este ato, a Lei define como critérios: a depreciação para com o outro
genitor, autoridade abusiva sobre o controle parental, busca constantemente
promover a instabilidade no convívio sadio da relação familiar, encobre situações
que envolvem o currículo estudantil, desleixo com cuidados quanto à saúde da
criança, em casos de separação não informa a troca de domicílio e por fim cria-se
determinadas pseudodenúncias desfavorecendo o outro genitor e seus familiares a
seu favor prejudicando o convívio e a relação da criança com os seus.
Para exemplificar o conceito de SAP, antes o termo era conhecido como
"Síndrome dos Órfãos de Pais Vivos", "Implantação de Falsas Memórias", "Síndrome
de Medeia" e "Síndrome da Mãe Maldosa Associada ao Divórcio" (TOSTA, 2013, p.
18). Dentre estes, um nome chama atenção: “Medeia”, termo mitológico que,
segundo Sarmet (2016) refere-se à uma habilidosa feiticeira que se uniu com Jasão
logo depois de ajudá-lo a conquistar seu reino e durante esse tempo tiveram dois
filhos. Conta o mito que Jasão substituiu sua mulher por outra. Ela, porém, ao ser
desprezada, matou seus filhos em ato de vingança contra Jasão. Essa é a atitude
que dá origem ao tema proposto, um sentimento de vingança pelo outro cônjuge
utilizando-se do poder que detém sobre seus filhos para atacar e ferir os
sentimentos do companheiro.
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Gardner (2002), professor de Psiquiatria Infantil da Universidade de Colômbia,


nos EUA, foi o primeiro a apresentar ao público a denominação “Síndrome de
Alienação Parental”. Ele publicou na década de 80 um artigo que tinha a intenção de
expor ao público essa ideia, conceito e percepção sobre a SAP, além de tentar
incluí-la ao DSM.
O autor entende que síndrome é um conjunto de sintomas e sinais que se
manifestam juntos na criança. Considera que a Alienação Parental não é uma
síndrome, pois, nela diversos transtornos mentais podem surgir. Contudo, associa-
se a SAP pelo fato de conter os mesmos envolvidos. Nesse ponto o autor é enfático
em dizer que a SAP se especifica “na programação por um genitor alienante”
(GARDNER, 2002, p. 3) e defende que ela passa pelos níveis leve, moderado e
severo. Esses itens incluem:

1). Racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para a depreciação. 2)


Falta de ambivalência. 3) O fenômeno do “pensador independente”. 4)
Apoio automático ao genitor alienador no conflito parental. 5) Ausência de
culpa sobre a crueldade a e/ou a 6) exploração contra o genitor alienado. 7)
A presença de encenações ‘encomendadas’. 8) Propagação da
animosidade aos amigos e/ou à família extensa do genitor alienado
(GARDNER, 2002, p. 3).

Leite e Haber (2016) consideram que SAP é decorrente da Alienação


Parental, pois ela envolve efeitos emocionais e comportamentais que faz a criança
sofrer. Esses comportamentos levam a criança à negação ao contato do outro
genitor/cuidador, que também padece com essa briga conjugal.
A essa discussão Sousa e Brito (2011) referenciam que naquela época havia
uma corrente de profissionais aliados a Gardner com grandes expectativas de que a
SAP pudesse ser enquadrada ao DSM. No entanto, Costa e Lima (2013)
contrapõem essa ideia de condicionar a SAP reduzindo-a a uma doença específica,
como “síndromes de Down, de Estocolmo de Peter Pan ou de Imunodeficiência
Adquirida” (p. 151-152). Para as autoras, esse olhar direciona o foco de intervenção
somente para o transtorno e não para o que é a causa. Tal abordagem visa um
modelo centrado no tratamento médico, psicoterapêutico ou psiquiátrico sujeito a
medicamentalização, sendo que, em alguns países como Portugal, “referem esta
síndrome, fazem-no como mera definição, e não como diagnóstico” (COSTA; LIMA,
2013, p. 152).
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Para tanto existem parâmetros no DSM-V (2014) que cabe análise e


investigação. De acordo com o manual, uma análise a ser feita é referente ao
Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Nele encontram-se critérios que coincidem
com os atos alienantes dos cônjuges, onde os pais consentem que seus filhos
participem de seus conflitos e presenciem se tornando vítimas de agressões tanto
psíquicas quanto físicas. Incluem-se lesões corporais, ameaças de morte, violência
sexual dentre outros.
Em nota, os critérios norteadores para esse transtorno em relação a crianças
menores de seis anos são:

A exposição a episódio concreto ou ameaça de morte, lesão grave ou


violência sexual em uma (ou mais) das seguintes formas: 1. Vivenciar
diretamente o evento traumático. 2. Testemunhar pessoalmente o evento
traumático ocorrido com outras pessoas. 3. Saber que o evento traumático
ocorreu com familiar ou amigo próximo. Nos casos de episódio concreto ou
ameaça de morte envolvendo um familiar ou amigo, é preciso que o evento
tenha sido violento ou acidental. 4. Ser exposto de forma repetida ou
extrema a detalhes aversivos do evento traumático (p. ex. socorristas que
recolhem restos de corpos humanos; policiais repetidamente expostos a
detalhes de abuso infantil) (DSM-V, 2014, p. 271).

De acordo com Bernet (2017) do Departamento de Psiquiatria dos Estados


Unidos, muitas discussões calorosas foram debatidas em conferências
internacionais, fóruns, academias, seminários entre outros, a respeito da alienação
parental. Ele considera, embora sob várias críticas, que a SAP existe e deve ser
mais estudada. Essa prática é causada pelos pais por não compreenderem a
situação ou por mera intencionalidade. A isso tem que se levar em consideração os
critérios para entender tais atos.
Um critério a ser observado, segundo o autor, é que não tenha justificativa a
rejeição da criança pelo pai ou pela mãe alvo. Caso o indivíduo seja descuidado,
omisso ou autoritário não significa que seja algo relacionado à alienação parental.
Bernet (2017) considera ainda que, para expandir o tema para que se tenha uma
aceitação mais plausível no meio científico, é necessário inclui-lo no sistema
superior educacional, principalmente na área de saúde mental e também integrar na
educação da dinâmica familiar, considerando o ambiente vivencial, tríade esta que,
conflituosa, causa um cenário doente e disfuncional.
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É preciso analisar também o direito de expressão da criança vitimada. Na


legislação do país de origem isso é pertinente, contudo, a dificuldade fica em
estabelecer tais critérios, pois as ideias comentadas por elas podem ser provindas
das falsas memórias a exemplos de falsos abusos, violências sexuais ou violência
doméstica que são induzidas a acreditar que realmente aconteceram. Em virtude
deste fato, o autor relata que “em casos de alienação parental as crianças não
devem ser tomadas literalmente, suas opiniões e memórias podem não refletir a
verdadeira realidade” (BERNET, 2017, p. 2).

1.2. Regulamento da Lei e Proteção a Criança

Estudos indicam que muitas mudanças ocorreram com o passar dos anos,
inclusive as leis. Entre elas a Lei nº 12.318/10 que define a Alienação Parental como
uma mudança da construção psicológica da criança, causada por um dos genitores,
sejam eles de primeiro grau ou não, ou mesmo representantes legais que tenham
sob sua posse a autoridade da guarda. Qualquer um desses autores que usa de seu
poder de coerção para com as crianças sobre o outro responsável, configura-se
como Alienação Parental (BRASIL, Constituição Lei nº 12.318/10).
A partir da Lei nº 8.069/90 criou-se o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), documento para garantir os direitos fundamentais de vida e proteção das
crianças e adolescentes (BRASIL, Constituição Lei nº 8.069/90). Nessa perspectiva,
Campos (2012) considera o estatuto como uma importante ferramenta na defesa e
proteção das crianças e adolescentes e visa protegê-las de tais abusos a partir do
rigor de suas deliberações. Nele estão resguardadas as garantias de que o
desenvolvimento físico e mental e outros estejam garantidos e preservados por meio
da Lei e da colaboração dos pais e/ou responsáveis.
Para D’Ávila e Kortmann (2014) esses direitos perpassam a cultura familiar,
pois, a família é um núcleo de afinidades, uma das instituições mais primitivas
existentes que cria e inventa relações reais e imaginárias, que ganham vida no seio
familiar e, por isso, o equilíbrio é indispensável, mesmo que ocorram situações que
possam deixar as relações estremecidas. É preciso lembrar que, tais relações ou
fatos conflituosos, podem passar despercebidos, se fixando no seio familiar sem
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serem notados e, assim, deixam as relações mais frágeis, mas que ao longo do
tempo, podem causar grande proporção.

1.3. Causas e Efeitos da Síndrome de Alienação Parental

Tosta (2013) afirma que abusos emocionais e psíquicos podem causar


diversos distúrbios, e assim, desenvolver determinada patologia em um indivíduo,
principalmente nas crianças. Dessa forma, fica evidente que a origem da SAP está
instalada ao contexto familiar que envolve seus relacionamentos, atitudes, conflitos,
disputas, onde os pais ou responsáveis se utilizam abusivamente da fragilidade e
inocência das crianças. Para a autora, o motivo desses abusos é porque a criança
não compreende tal controle afetivo, acredita cegamente nos relatos de um dos pais
e isso faz com que a criança se afaste do outro genitor.
Turdera e Cândido (2014) consideram que todos esses aspectos fortalecem
a rejeição para com um dos cônjuges e, por consequência, faz com que a criança
tenha fortes sentimentos negativos e, de quebra, alimenta nelas uma grande
confusão mental. Pode vir a mudar totalmente, gerar comportamentos aversivos
como a desobediência, atitudes de agressividade, problemas com relacionamentos
sociais e familiares; são também propensos a se envolverem mais cedo ao uso de
álcool, cigarro e a atividades sexuais.
Para os autores, essas mudanças de comportamentos é o que determina e
gera a SAP. Em resumo, eles acreditam que as crianças são induzidas à uma
programação e essa é uma forma de induzir a uma mudança radical do pensamento.
Desse modo, o carinho, o afeto e o vínculo são modificados, levando a criança a
odiar e até maltratar o pai ou a mãe alvo, fruto do reflexo dessa programação.
Segundo Tosta (2013), futuramente essas atitudes provocarão grandes
desordens de pensamentos nesses indivíduos, ao descobrirem que foram
comparsas de tal ilegalidade. A partir daí, segundo Freitas e Hajj (2017), descobre-
se futuramente o sentimento de rejeição distorcido a partir das situações rotineiras
da vida levada pela criança devido às tentativas de o genitor alienador tentar
justificar os motivos que o levaram a afastar a criança do outro genitor, de forma que
essas tentativas sempre favorecessem a quebra de vínculos e, consequentemente,
dando origem provavelmente a patologias psíquicas.
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Para Sarmet (2016) o ponto crucial dessa discussão se dá pelo abuso de


poder que os pais detêm sobre os filhos e que impedem a convivência familiar com o
outro cônjuge, dessa forma, uma das partes tenta de todas as formas quebrar o
vínculo familiar. Segundo o autor, isso pode acarretar diversos comportamentos,
sentimentos e pensamentos que, unidos, podem formar nas crianças a SAP. Para
tanto, entende-se que a Alienação Parental é fruto do conflito entre os cônjuges. Tal
situação para a autora, cega o casal que não compreende as consequências e os
efeitos que o conflito e as atitudes dos pais podem causar nos filhos.
Luz, Gelain e Benincá (2014) vão mais além. Segundo eles, a Alienação
Parental por si só é geradora de síndromes tanto para os adultos quanto para as
crianças. Contudo, as marcas deixadas pelos conflitos podem influenciar mais
efusivamente as crianças devido à sua inocência e pelo seu processo de
desenvolvimento que está em formação. Tudo isso pode levá-las facilmente a uma
contradição de pensamentos, destruir e alterar os sentimentos que a criança tem
para com o outro. Segundo D’Ávila e Kortmann (2014) esses sentimentos podem
causar nas crianças o distúrbio infantil.
Em acréscimo, Catenace e Scapin (2016) observaram outras marcas que
poderão interferir diretamente na personalidade das crianças. São exemplos
comportamentos distorcidos como: medo, inibições, bloqueios na aprendizagem,
depressão crônica, transtorno de identidade e de imagem, dupla personalidade,
entre outros fatores, podendo levar até mesmo ao suicídio.
A partir dos estudos de Luz, Gelain e Benincá (2014) tais atitudes dos pais
além de trazer prejuízos na estrutura familiar, trazem também nos pequenos
sentimentos de desamparo, de comportamentos antissociais, dificuldades no
aprendizado, medo, abandono, insônias e ansiedades, desorganização, tristezas,
culpas e isolamentos. Em síntese, “todo este processo provoca uma perturbação do
equilíbrio emocional da criança e afeta o seu desenvolvimento psicossomático”
(SILVEIRO, 2012, p. 8).
Para Goulart e Wagner (2013), conflitos entre casais são peculiares na vida
conjugal e, de certa forma, são essenciais para solucionar determinadas situações.
Qualquer diferenciação de opiniões se caracteriza como um conflito que depende da
forma e da intensidade que pode comprometer o fator psicológico do indivíduo.
Ideias como frequência, intensidade, conteúdo e resolução configuram aspectos a
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serem observados em relação a esses itens, dependendo da forma como se


utilizam, prejudicam a manutenção da estabilidade da saúde mental e o bem-estar
dos filhos no contexto familiar. Essa exposição, para os autores, pode causar nas
crianças problemas de comportamento.
Nessa condição de Síndrome de Alienação Parental, Leite e Haber (2016)
destacam que as crianças podem passar a ter visão distorcida, gerando nelas o
medo frequente do abandono causando ansiedades e angústias que podem ser
geradoras de fobias em sua fase adulta. No mesmo raciocínio, as autoras mostram
que a síndrome afeta não somente o desenvolvimento dos envolvidos, mas “a noção
do autoconceito e autoestima”, bem como os transtornos psicológicos já
mencionados como a depressão etc. (LEITE; HABER, 2016, p. 13).

1.4. Atuação do Psicólogo frente a SAP

É evidente que num processo de divórcio muitos casais podem sair com
sentimento de vingança e raiva, e é nesse ponto que Campos (2012), em seu artigo,
atribui ao psicólogo jurídico a responsabilidade de dar apoio assistencial e
psicológico a esses casos conflituosos entre os pais. O profissional atua junto às
famílias no centro destes conflitos que envolvem a guarda dos filhos, abusos,
divórcios, adoções, tutela etc. A Alienação Parental por lei é considerada uma
agressão psicológica na criança e o profissional em Psicologia é quem pode ajudar,
concedendo informações importantes durante a intervenção a partir de “(...)
relatórios, laudos ou pareceres técnicos, que serão fundamentais para a decisão
judicial, tendo as partes o direito de contraditar” (CAMPOS, 2012, p. 24).
É importante salientar que o psicólogo frente às famílias envolvidas, também
exerce uma grande contribuição no campo escolar, pois, segundo Jesus e Cotta
(2016, p. 288) “umas das importantes funções do psicólogo que se dedica ao
trabalho no contexto escolar é a utilização de seus conhecimentos técnicos e
teóricos acerca das relações”. Para os autores, essa prática facilita e favorece para
que haja um ambiente saudável e respeitoso nas relações, que traga à tona temas
como a Alienação Parental e suas causas, Bullying e outros, com uma perspectiva
de promoção de diálogo entre escola, família, alunos e professores/educadores.
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Nesse sentido, Luz, Gelain e Benincá (2014) enfatizam pontos positivos na


atuação do profissional de Psicologia, visto que os transtornos são de ordens
emocionais. Sua atuação promove a possibilidade de detectar esses conflitos e, com
isso, trazer motivações para a mudança de comportamento a partir do estudo da
personalidade dos envolvidos. Assim, Goulart e Wagner (2013) comentam que o
profissional trabalha como contra regra nesses casos, pois tenta buscar conteúdos
do inconsciente do indivíduo para revelar os motivos do ódio e do rancor,
principalmente trazendo para a sua realidade que os conflitos são recebidos
negativamente pelos filhos, dando origem à violência familiar e, consequentemente,
aos distúrbios emocionais.
Segundo Luz, Gelain e Benincá (2014) o profissional de Psicologia,
especialmente o psicólogo jurídico, observa a subjetividade e os conflitos familiares
auxiliando o juiz no entendimento psicológico, principalmente relacionados às
crianças nos processos judiciais. Fica a cargo do poder judiciário o encaminhamento
de tais casos aos psicólogos e faz os envolvidos comparecerem às audiências para
a formulação de laudos. Contudo, os profissionais de Psicologia se encontram em
uma grande tensão institucional, pois sua atuação fica limitada por causa da rigidez
da lei, leva muitas vezes à precisão de clareza total da avaliação psicológica, ou
seja, por respostas fechadas e definitivas que perpassa o campo da Psicologia,
entende que a função do profissional é no auxílio psicológico das partes envolvidas
e não na tomada de decisão da problemática.

1.5. Tipos de Intervenções psicológicas frente a SAP

Catenace e Scapin (2016) afirmam que um método de intervenção em relação


às crianças alienadas, caso seja necessário, são acompanhamentos psicoterápicos
e\ou psiquiátricos, pois tal medida pode ajudar as crianças a superarem traumas
devido às más influências causadas pela alienação por um dos cônjuges. Outro
método, segundo os autores, é a guarda compartilhada configurando-se como uma
ferramenta de promoção de vínculos e relações saudáveis entre pais separados e
filhos.
Tosta (2013) em seu trabalho de monografia, adverte que os estudos
produzidos por ele mesmo identificaram que a família passou por várias
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transformações ao longo dos tempos. É considerada a primeira forma de


organização social e, com o passar dos anos, foi muito influenciada pelas mudanças
culturais, revoluções, criações de leis, o ingresso da mulher no mercado de trabalho,
a independência financeira da mulher e a união de casais homoafetivos e outros.
Essas mudanças deram significado e se constituíram como marcos que, de certa
forma, alteraram a estrutura familiar e a visão de mundo que elas produziam.
A tais elementos, o autor destaca que é necessário observar para buscar
compreender os conflitos em sua origem. Tal conclusão dá ênfase em perceber o
significado da palavra Alienação Parental e o que ela pode provocar nas crianças,
bem como seus efeitos e consequências.
Para trabalhar com famílias desestruturadas, Fermann e Pelisoli (2016)
sugerem a Terapia Comportamental Cognitiva (TCC) que trouxe respostas
satisfatórias em suas intervenções. Eles perceberam também que trabalhar os
vínculos familiares era realmente significativo na relação das crianças com seus
responsáveis, dando assim, auxílio sobre a importância das condutas familiares no
respeito mútuo, ajudando nas relações consideradas negativas a partir da percepção
e respeito, conscientizando que determinadas atitudes podem desenvolver diversos
transtornos tanto para os conjugues quanto para as crianças.
Na prática, o que mais preocupa nesse cenário é a indiferença, as
resistências por parte dos adultos entenderem que suas atitudes projetam os
estímulos negativos nos filhos. Deve-se vencer o ódio com o amor ao priorizar a
saúde mental. Assim, pode-se dizer com Campos (2012) que a principal ideia é que
os genitores vivam bem, “por isso, o fato de se acabar com a síndrome, não significa
que se deva afastar a criança do genitor alienador e, sim, criar vínculos mais
saudáveis”.
Costa e Lima (2013) afirmam que isso só se deve à forma como são
empregadas variáveis dentro do contexto familiar. Uma delas é a capacidade de
conduzir os filhos a uma educação expressiva; a outra pode ser expressa pela
relação dos conflitos, o que mexe com a estrutura familiar, principalmente nas
crianças, pois essa fase da vida é a que elas necessitam de mais segurança,
carinho e autonomia. Pontes (2015), em seu trabalho monográfico, identifica que a
SAP não é algo genuíno da separação, mesmo ao saber que o rompimento da
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relação familiar pode, em termos afetar o estado emocional, psicológico ou afetivo


da criança.
O objetivo deste trabalho foi descrever a percepção do psicólogo frente à
SAP, sua causa e efeito nas crianças em relação aos pais separados que estão
envolvidos em brigas judiciais pela guarda de seus filhos. Visou também a
especificidade de compreender, na percepção do psicólogo, quais os transtornos
psicológicos e comportamentais que a SAP pode causar nas crianças.

2. Metodologia

O presente referencial foi desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica


exploratória e descritiva qualitativa. Exploratória para maior familiaridade com o
problema e explicitá-lo por meio de revisão bibliográfica. A pesquisa descritiva
qualitativa tem por objetivo descrever as características de uma população, um
fenômeno ou experiência para o estudo realizado. Para a construção do referencial
teórico foram feitas revisões literárias e pesquisas em artigos científicos,
monografias, endereços eletrônicos (Scielo, USP, BVS, IME e Pepsic), os quais
enfatizam o conceito, causas, consequência, a jurisdição, atuação do psicólogo bem
como a mudança de comportamento nas crianças envolvidas.
O público alvo deste estudo foi uma profissional de Psicologia que trabalha no
âmbito das relações de pessoas com a Justiça que tenha contato com a realidade
da alienação parental envolvendo crianças; ou profissional que atua ou atuou dentro
do Direito de Família e do Direito da Criança e do Adolescente que saiba e vivenciou
tal fato. Os critérios de exclusão foram profissionais de Psicologia que não tenham
experiências com casos que envolvem Alienação Parental. O instrumento de coleta
de dados foi um roteiro de entrevista semiestruturada inspirada a partir da
bibliografia apresentada.
Para construção dos resultados e discussão foi feita a análise temática dos
dados. Segundo Silva e Fossá (2015), a Análise Temática de Dados é uma técnica
de investigação para a verificação da comunicação do que foi dito pelo profissional
nas entrevistas ou analisado pelo observador. A partir da pesquisa bibliográfica
exploratória foi feito um levantamento de dados, com vista no aprimoramento das
ideias e, posteriormente, a construção de hipóteses. A pesquisa de campo observou
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os fatos e fenômenos a partir da coleta de dados. E finalmente, a análise e


interpretação dos dados com base em uma fundamentação teórica consistente, com
o objetivo de compreender e explicar o tema em questão. Na pesquisa descritiva
qualitativa foram analisadas características que se relacionam com o fenômeno. E
com o estudo de campo foi utilizado um questionário para incrementar os dados.
Passada essa fase, a partir da exploração do material, construiu-se o estudo
creditando-se os recortes dos textos em elementos comprovativos ou contraditórios
dos temas levantados. Dessa forma, cria-se “a definição de regras de contagem e a
classificação e agregação das informações em categorias simbólicas” (SILVA,
FOSSÁ, 2015, p. 04).
A pesquisa foi realizada no 2º semestre de 2017 e apresentada em forma de
artigo em TCC II no primeiro semestre de 2018. Foi feita a entrevista com um
profissional da área de Psicologia Jurídica para compreender na percepção do
psicólogo quais são os transtornos psicológicos e comportamentais que a Síndrome
de Alienação Parental pode causar nas crianças e levado à uma interpretação dos
dados.
Na entrevista, manteve-se a orientação dos eixos norteadores: a) A
percepção do psicólogo frente à Síndrome de Alienação Parental; b) As atribuições
dos psicólogos neste contexto; c) Quais as possíveis ferramentas de trabalho que o
profissional utiliza neste cenário; d) Qual a contribuição do Psicólogo no
enfrentamento da SAP. No rapport, foram abordados os objetivos e procedimentos
do estudo e após, foi assinado o TCLE. Para o inicio da entrevista foi utilizado o
gravador de voz. Essa forma de registro foi utilizada pelos pesquisadores tendo em
visa a liberdade que proporciona, evitando, contudo, afetar a espontaneidade do
entrevistado. Posteriormente, a entrevista foi transcrita para análise de dados.

3. Resultados e discussão

Da presente pesquisa, fez parte uma profissional que trabalha no âmbito das
relações das pessoas com a Justiça. A participante concluiu seu mestrado em
Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás; possui graduação em
Psicologia pela PUC Goiás (2004); especialização em Gestalt-terapia e em
Psicoterapia de Criança, Casal e Família pelo Instituto de Treinamento e Pesquisa
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em Gestalt-terapia de Goiânia (ITGT) chancelada pela PUC Goiás (2006 e 2007).


Tem experiência em Psicologia Clínica e em perícias psicológicas na área jurídica,
além de docência universitária; experiência na área organizacional como psicóloga
do Grupo de Humanização na rede municipal de saúde de Goiânia, e também na
área de adolescência em conflito com a lei, pela Secretaria de Cidadania e Trabalho
do Estado de Goiás. Atualmente, trabalha no CAPS Beija-flor, onde são atendidos
adultos com transtorno mental grave, na Clínica Excelência em Saúde, com
psicoterapia de crianças, adolescentes e adultos, e leciona no curso de Psicologia
na Universidade Salgado de Oliveira.
A entrevista foi aplicada no espaço acadêmico da Universidade Salgado de
Oliveira, em Goiânia-GO. Sabe-se que o objetivo central do trabalho é avaliar,
descrever a percepção do psicólogo frente à SAP, sua causa e efeito nas crianças
em relação aos pais separados que estão envolvidos em brigas judiciais pela guarda
de seus filhos. Tendo em vista este objetivo, foi elaborado um questionário de oito
questões ligadas à experiência de atuação e percepção do profissional sobre o tema
proposto. Das oito, uma questão foi desclassificada e não irá compor essa análise
de dados.
Com a demonstração dos resultados obtidos avalia-se os recortes dos textos
em elementos que se assemelham ou se diferenciam dos dados levantados.
Em um primeiro momento, de acordo com a afirmativa, em que o abuso de
poder praticado por um dos cônjuges, por meio de atitudes alienadoras visa o
rompimento dos laços afetivos da criança em relação ao outro cônjuge, de modo que
essa premissa possa causar a SAP. Nessa perspectiva conforme salientado pela
entrevistada alguns profissionais concordam e outros não. A esse respeito, o que é
mais importante no conflito familiar, no que se refere às crianças, é que nesses
casos:
Surgem vários sintomas, e a síndrome é um conjunto de sintomas, por isso
é entendido enquanto síndrome. Agora, como que o profissional vai lidar
com uma situação dessas, vai depender qual o contexto que ele esta, se ele
está enquanto perito e se está enquanto terapeuta. Então, a forma que ele
vai lidar vai depender de qual é o papel dele em meio a essas situações, em
meio à essa família (Participante).

Bernet (2017) considera que a SAP existe, porém deve ser mais estudada,
pois existem dúvidas nessas práticas. Contudo, Costa e Lima (2013) refutam essa
ideia de que conflito entre os pais não tem base metodológica suficiente para
15

explicar que tais atitudes possam causar a SAP. Para os autores, síndrome, significa
um conjunto de sinais e sintomas, uma doença ou condição de saúde, a exemplo da
Síndrome de Down, Estocolmo de Peter Pan dentre outros.
Contudo, conforme pode ser visto, a discussão busca um viés mais
acentuado de estudos voltados para bases metodológicas mais consistentes.
Porém, há quatros aspectos a serem analisados nessa questão: o primeiro é a
aceitação desse conceito SAP por alguns autores, o segundo alguns autores
aceitam, mas dizem que carece de mais estudos; o terceiro não opina e volta o olhar
para o profissional; o quarto não aceita essa posição, porém não discorda que a
Alienação Parental possa alterar os aspectos psicológicos nas crianças.
Outro argumento levantado considera-se que é possível que realmente haja
mudanças de comportamento nas crianças que possam gerar problemas graves,
sejam eles físicos e psíquicos a partir da Alienação Parental.
No que concerne esta questão de investigação, a participante diz que essa
relação conflituosa vai gerar sofrimentos, escolha por um e negação ao outro
cônjuge tomando partido. Em relação a isso, a criança “passa a ter crises de raiva e
ódio pelo outro genitor”, de forma que “estende também a raiva aos outros
familiares, (...) isso ao longo do tempo vai surgindo um adoecimento mental na
criança” (Entrevistada).
De acordo com Turdera e Cândido (2014) a criança cria sentimentos
negativos e gera uma grande confusão mental. Nessa perspectiva, ela desenvolve
comportamentos desobedientes, atitudes agressivas, problemas de relacionamentos
sociais e familiares; se envolvem também mais cedo com o uso de álcool, cigarro e
atividades sexuais. Para Tosta (2013) essas disputas calorosas pela preferência do
filho são direcionadas de forma abusiva atingindo a fragilidade e inocência das
crianças. Esses abusos, sejam eles emocionais ou físicos, podem causar diversos
distúrbios.
Verifica-se que a criança fica a mercê dos abusos dos adultos e é instruída
inconscientemente a criar raiva, desdenho e depreciação do outro cuidador,
tornando-se vítima de um sistema aversivo e conflituoso, produzindo fortes
sentimentos e atitudes que modificarão o seu comportamento levando-a
possivelmente a um adoecimento psíquico, físico e, consequentemente, problemas
na vida adulta.
16

Em relação à alegação da desconstrução do vínculo afetivo, tal fato pode


causar consequências graves na vida da criança. Nessa perspectiva, pode-se
garantir que esses sintomas apresentados são de fato provindos da Alienação
Parental.
Comenta a profissional que essa é uma situação que merece mais estudos,
estes sintomas podem ser instaurados a partir da alienação ou não:

Tem que analisar a situação específica da criança, por que, pode sim, vir de
uma alienação parental, ou pode vir de outros fatores, de outra constituição
de vida. Então, uma pessoa que sofreu uma alienação parental pode
desenvolver sim quadros de ansiedade, depressão, mas nem toda
depressão e todo quadro de ansiedade é uma ocorrência de alienação
parental, neste caso tem que analisar a situação especificamente
(Entrevistada).

Bernet (2017) faz uma asserção e argumenta que um critério a ser observado
que desqualifica a alienação parental, caracteriza-se pela rejeição da criança pelo
pai ou pela mãe alvo sem justificativa prévia. Ou seja, as atitudes alienadoras são
causadas pelos pais por não compreenderem a situação ou por mera
intencionalidade.
Entende-se que a ruptura do vínculo afetivo é prejudicial de ambos os lados.
Observa-se também que não é garantido que esse rompimento possa causar
transtornos graves na vida da criança. Por isso, é notório dizer que se deve analisar
o círculo vivencial e criar, a partir dos dados levantados, critérios de avaliação sem
desconsiderar que pode acontecer de que todos sejam vítimas, ou que os adultos
têm consciência dos atos, ou que apenas um toma partido de tal manipulação.
Existem modos de identificar a SAP como; instrumentos, técnicas, estratégias
e procedimentos adequados que conseguem distinguir sintomas como depressão,
ansiedade, síndrome do pânico, dentre outros podem ser provenientes adquiridos
por meio da Alienação Parental.
A essa questão a entrevistada diz que vai depender de como o profissional
aborda o tema, ou seja, há diversas formas de se trabalhar. No caso da profissional
entrevistada seu instrumento de trabalho é a “percepção” e é a partir dela são
delimitadas as ferramentas que serão utilizadas. “Nunca temos uma técnica pronta,
algo específico que diretamente vai nos trazer um resultado, uma conclusão”
(Participante).
17

Em relação a quais testes psicológicos podem auxiliar na investigação, é feita


uma análise clínica de uma totalidade e recursos próprios do profissional e de
instrumento:
(...) o Rorschach, que é um teste que é muito bom pra se perceber a
estrutura de personalidade, para ver se essa pessoa está sendo acusada de
algo e se de fato ela tem a estrutura de personalidade que poderia predispor
a esse tipo de comportamento (Participante).

De acordo com Campos (2012), o psicólogo pode usar como ferramenta e/ou
estratégia de ação, apoio assistencial e psicológico a esses casos conflituosos
trabalhando junto às famílias no centro destes conflitos. Para Jesus e Cotta (2016, p.
288) “umas das importantes funções do psicólogo que se dedica ao trabalho no
contexto escolar é a utilização de seus conhecimentos técnicos e teóricos acerca
das relações”. Para Luz, Gelain e Benincá (2014) a atuação do profissional de
Psicologia pode ser voltada para os transtornos que são de ordens emocionais. Por
fim, Goulart e Wagner (2013) sugere que o profissional trabalhe como contra regra
nesses casos, para buscar conteúdos do inconsciente do indivíduo e revelar os
motivos do ódio e do rancor.
Nota-se que há uma variedade de abordagens para se trabalhar com os
casos de Alienação Parental. Isso indica que cada profissional, de acordo com seus
conhecimentos práticos e teóricos, vai desenvolver suas próprias ferramentas de
trabalho e, se necessário, a utilização de testes psicológicos.
Ao analisar o DSM V (2014), o Transtorno de Estresse Pós-Traumático
evidência uma hipótese que pode estar relacionado à SAP, por isso dentre outras
similaridades, não haveria a necessidade de que o termo SPA fosse introduzido ao
DSM.
Segundo a entrevistada, essas ideias são coisas distintas, tendo em vista que
os envolvidos são os mesmos, mesmo assim, não se configura que há essa relação.
O que é possível perceber é que esses conflitos causam transtornos nas crianças, e
com a união de outros transtornos advindos da Alienação Parental pode sim gerar
uma síndrome. Contudo, o fato de entrar ou não no DSM não pode esclarecer isso.
Portanto, a esse respeito:

Eu entendo que sempre tem que analisar o contexto geral. Eu acho um


grande risco, que talvez venha daí muitas críticas que tenha a síndrome de
alienação. O psicólogo ou psiquiatra só quer analisar os sintomas, como se
18

fosse um check list dos sintomas para colocá-lo como síndrome. Não
podemos fazer isso porque temos que identificar o contexto de uma forma
geral, para ver se está acontecendo uma alienação parental. O estresse
pós-traumático, ele pode estar ou não associado à síndrome, pode ser em
decorrência de outras coisas que não é alienação parental (Participante).

Conforme aponta Sousa e Brito (2011) Gardner desejou que a SAP fizesse
parte do quadro dos transtornos mentais do DSM, contudo fora criticado e rebatido
por alguns autores. De acordo com o DSM-V, vale resaltar novamente os critérios
apresentados no presente referencial que são delineados a partir das crianças de
seis anos:
A. Exposição a episódio concreto ou ameaça de morte, lesão grave ou
violência sexual em uma (ou mais) das seguintes formas: 1. Vivenciar
diretamente o evento traumático. 2. Testemunhar pessoalmente o evento
traumático ocorrido com outras pessoas. 3. Saber que o evento traumático
ocorreu com familiar ou amigo próximo. Nos casos de episódio concreto ou
ameaça de morte envolvendo um familiar ou amigo, é preciso que o evento
tenha sido violento ou acidental. 4. Ser exposto de forma repetida ou
extrema a detalhes aversivos do evento traumático (p. ex.,socorristas que
recolhem restos de corpos humanos; policiais repetidamente expostos
adetalhes de abuso infantil) ( DSM-V, p. 271, 2014).

Observa-se que o Transtorno de Estresse Pós-Traumático tem muitas


similaridades com as formas abusivas que ocorrem no seio familiar doente. Casos
de repetições de eventos traumáticos, como brigas violentas, xingamentos
constantes, violência verbal, física e sexual, bem como ameaças de morte entre os
membros, inclusive os filhos, são fatores que contribuem para modificar o estado
psicológico da criança. Contudo, essa análise é apenas uma hipótese para discutir a
necessidade do termo SAP entrar no DSM.
Outra premissa importante é avaliar as atribuições do profissional de
Psicologia nos casos de relações familiares conflitantes que envolvem a guarda dos
filhos.
Em relação a esse tema, a entrevistada descreve alguns campos de atuação
e como o profissional trabalha nessa área; exemplifica a entrevistada: 1) “Na jurídica
tem o papel de ser perito, investigar e descrever para o judiciário faz avaliações
psicológicas e auxilia o Juiz na tomada de decisão”; 2) Na clínica, a postura é
mediação, promoção de diálogo.
Para a entrevistada é evidente que em todos os campos se utilizam os
mesmos recursos e não se simplifica nessas atuações. A diferença nos
atendimentos é que na jurídica o atendimento é no casal, buscando a reconciliação
19

e entendimento do caso; na clínica o atendimento pode ser individual trabalhando os


mesmos temas principalmente na orientação das consequências geradas pelos
conflitos.
Em casos de consumação de fato do transtorno, Catenace e Scapin (2016)
sugerem que as crianças alienadas, caso seja necessário, são acompanhadas por
tratamentos psicoterápicos e\ou psiquiátricos. Fermann e Pelisoli (2016) indicam a
Terapia Comportamental Cognitiva (TCC) trabalhando no auxílio da Lei através da
medida aplicada aos pais que tem a guarda compartilhada a partir de
acompanhamentos psicológicos e psicoterápicos e\ou psiquiátricos, constituindo
uma ferramenta de promoção de vínculos e relações saudáveis entre pais
separados e filhos.
Neste estudo, verifica-se que o olhar do profissional de Psicologia é voltado
para o conflito familiar e pelas mudanças ocorridas diante dessa má comunicação. A
mediação se torna um instrumento crucial para auxiliar essas famílias. Outro aspecto
importante e fundamental é, a partir da orientação, esclarecer os pais\representantes
legais de que os maiores prejudicados são as crianças, devido ao seu estágio de
desenvolvimento físico e psíquico.
A partir das premissas levantadas, a contribuição dos aspectos referentes à
SAP enfatiza que é relevante discuti-la, pois, além dos conflitos familiares grandes
mudanças nesse meio ocorreram devido ao novo conceito de família, e se faz
necessário o conhecimento do tema para trabalhar com as gerações futuras.
De acordo com a participante a percepção que fica é que o tema tem muito o
que se discutir e para contribuir. Existem diversas configurações de família que se
tornam aspectos relevantes a serem abordados. Um exemplo é compreender a
postura o alienador e suas especificidades, bem como da criança. Em relação aos
cuidadores, configurações de famílias como avós que cuidam dos netos, filhos
adotivos, famílias homoparentais, ou seja, casais do sexo masculino e casais do
sexo feminino, padrasto e madrasta enfim, “o básico da síndrome de alienação
parental se mantém independente da estrutura da família” (Participante). Estes são
fatos que se podem trabalhar nas gerações futuras.
Tosta (2013) estabelece relações e semelhanças em suas observações. Ela
também compartilha que a primeira forma de organização social, modificada através
das influentes mudanças culturais, revoluções, criações de leis no conceito de
20

família deve ser avaliada. Outras análises pontuam o ingresso da mulher no


mercado de trabalho e suas implicações, independência financeira da mulher, união
de casais homoafetivos, dentre outros que deram significado e se constituíram como
marcos, que de certa forma alterou a estrutura familiar e a visão de mundo que elas
produziam.
Bernet (2017) agrega a essas ideias e acrescenta que o tema deve ser
expandido ao público em geral para que se tenha consciência e uma aceitação mais
plausível no meio científico. É necessário inclui-la no sistema superior educacional
principalmente na área de saúde mental e também integrar na educação da
dinâmica familiar considerando o ambiente vivencial.
Quanto a essa dimensão, compreende-se que deve-se atentar ao modelo de
família vigente, sua forma de organização familiar, cultura e como ela se movimenta
diante da sociedade. O ingresso da mulher no mercado de trabalho favoreceu a
terceirização da educação dos seus filhos, um confronto direto com o parceiro pela
sua autonomia, bem como seus desejos de escolha. Tudo isso pode influenciar na
educação primária e no desenvolvimento físico e psíquico das crianças. Tais
argumentos, associados às crises familiares, podem contribuir para o aumento do
estresse coletivo de nossas crianças, visíveis nas escolas, dentre outros.

Considerações Finais

Estamos diante de uma discussão que merece uma ressignificação das


práticas psicológicas. Dar um novo significado a essa discussão que desfavorece
não só as crianças, mas também, os pais envolvidos e suas respectivas famílias.
O primeiro ponto a ser destacado neste estudo foi a presença deste novo
olhar da atuação do psicólogo neste campo de atuação. Nessa discussão, muitos
autores foram categóricos em relatar os sintomas da SAP, embora alguns
discordem, mas entendem que os conflitos entre os responsáveis legais das
crianças possam sim causar transtornos psicológicos.
A SAP, para alguns autores, é considerada como uma doença e tem que ser
tratada de fato. Portanto, uma análise a ser feita acerca do tema proposto foi que
durante o estudo realizado o foco do presente referencial foi-se alterando para o que
21

de fato causa a SAP, que é a Alienação Parental. Esta dinâmica também foi
percebida nas falas da profissional entrevistada.
Para o agente causador da Alienação Parental, segundo a lei, cabem sansões
jurídicas e intervenções psicológicas dos envolvidos. A partir deste ponto de vista,
sugere-se um novo estudo sistemático referente às influências da separação da
criança com o alienador, pois a criança, por mais que seja alienada, devido à sua
inocência, possui fortes vínculos com o alienador e essa dissociação do elo
construído pode afetar ainda mais o quadro da criança e aumentar a má
comunicação entre os seus responsáveis legais.
Diante do estudo realizado, percebeu-se o desejo de anexar a SAP no escopo
do DSM. Essa discussão, porém, perpassa o campo da Psicologia, abrangendo as
práticas psiquiátricas, rótulos e a medicamentalização. Em análise, percebe-se que,
atentar mais à Alienação Parental que é o foco multiplicador dos transtornos nas
crianças, favoreceriam muito mais os pequenos do que se esforçar para anexar a
síndrome ao DSM.
Para reduzir a Alienação Parental, deve-se trabalhar com ações preventivas
levando a discussão para debates nas universidades, nos programas televisivos,
publicação de artigos científicos e revistas informativas e também, nas redes de
atendimentos primários de saúde pública. É preciso considerar que esses conflitos
se tornam uma doença social, por isso trabalhar com a rede e não somente a saúde,
mas com Departamento de Segurança Pública, Assistência Social e Educação
dentre outros, para articular, mobilizar e promover políticas públicas, de forma que a
sociedade tenha ciência de tais abusos que afetam todos esses campos de
atuações e contribuem para o aumento das enfermidades nas crianças. Assim, será
possível trabalhar a SAP.
Nessa perspectiva, os casais orientados que aceitam caminhar nesse
processo que é doloroso, são chamados a observar com mais cuidado o lado dos
pequenos, analisando suas atitudes e compreendendo como as crianças enxergam
as figuras parentais e como elas criam sentimentos de pertença, segurança, carinho
e respeito. Fatores estes que contribuem para o fortalecimento de vínculos e um
desenvolvimento físico e psíquico mais sadio na vida das crianças.
22

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