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SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E

ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA
DEPARTAMENTO DE EXECUÇÃO PENAL – DEPEN
Penitenciária Estadual de Foz do Iguaçu
Av: Mercúrio, 850. Parque Residencial Três Fronteiras.
Foz do Iguaçu-PR. CEP: 85.859-675 Fone: (45) 3520-1400.

LAUDO PSICOLOGICO

1. Identificação

Nome:
Data de nascimento: 23/12/1980 Idade: 34 anos
Estado civil: união estável
Natural: Recife – P.E.
Escolaridade: Ensino Médio incompleto
Profissão: pedreiro
Filiação: Mãe: Dilza Maria Romão da Silva
Pai: não consta
Interessado: V. Exa. Juíza de Direito da Vara de Execuções Penais

2. Descrição da Demanda

O presente laudo deriva de uma solicitação de estudo psicossocial feita


judicialmente. Não há definições claras e rígidas de sua concepção e alcance, mas
aqui retomamos para nos situar, visto que preferencialmente ele é solicitado à uma
equipe de profissionais de determinada instituição, mas pode ser solicitado para um
profissional específico da Psicologia ou do Serviço Social. Freqüentemente solicitado
nas Varas de Família, bem como na Vara da Infância e Juventude, mas que também
pode ser solicitado em outras instancias jurídicas. Quando o solicitante aponta seu
objetivo, este se torna um princípio norteador na condução do estudo de caso, que é
também um trabalho pericial. Também podem ser encaminhados quesitos para serem
respondidos e/ou esclarecidos.
O estudo psicossocial vem sendo realizado na prática por uma equipe
multidisciplinar ou interdisciplinar composta por alguns profissionais, entre eles espera-
se que estejam o assistente social e o psicólogo, profissionais reconhecidamente
capacitados para realizar tal procedimento. Trata-se de um processo de avaliação
onde são analisados aspectos psicológicos e sociais da pessoa em questão e ainda
outros aspectos relevantes para a compreensão da natureza subjetiva, respeitando os
alcances de cada saber, que posteriormente são transcritos em um documento
estruturado, conhecido como laudo ou relatório. Para a realização do procedimento,
os profissionais realizam entrevistas com a pessoa em foco, bem como podem fazê-
las com familiares e conhecidos. Também existe a possibilidade de realizarem visitas
in loco caso quando consideradas importantes e viáveis naquele momento. Aos
profissionais da Psicologia também estão disponíveis outras ferramentas
complementares na avaliação psicológica, como o uso de testes psicológicos.
O tempo para realização normalmente é acordado e estipulado entre
instituições e/ou profissionais, o que entendemos no Sistema Penitenciário que seja
razoável um período de 30 dias. A validade do documento apresentado (decorrente da
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avaliação psicológica realizada) tem a sugestão de um período médio de 6 meses,


podendo depois ser solicitada nova avaliação para se verificarem mudanças e/ou
alterações nas questões investigadas.
Neste caso específico, a Juíza de Direito determina sua realização, bem como
resposta aos quesitos apresentados pelo Ministério Público.
Na Execução Penal, nos casos de pessoas presas em regime semiaberto,
existe Instrução Normativa Nº 09/2015, que diz:

Nas comarcas onde houver equipe multidisciplinar, a utilização do monitoramento


eletrônico deverá ser precedida de estudo psicossocial do reeducando, que atestará
se o perfil do apenado corresponde às possibilidades e expectativas do projeto, ante
os fins ressocializadores da pena previstos na Lei de Execução Penal.

A pessoa presa em questão está sendo avaliada nas suas questões


psicossociais diante do pedido de apelação criminal que alterou o regime inicial de
cumprimento da pena para semiaberto. Na inexistência de vagas em regime
apropriado, pedem vistas para harmonização do regime progressão de regime e
estudam possibilidade de monitoração eletrônica para o caso.

3. Procedimento

Para realização do estudo psicossocial do caso em questão, foi realizada uma


entrevista clínica com duração 2 horas aproximadamente na data de 09/11/2015.
Foi realizada consulta no Sistema de Informações Penitenciárias (SPR).
Também foram analisados documentos requisitados através do Dipron como
seu processo criminal e sentença da Comarca de Foz do Iguaçu – PR.
Também entramos em contato via telefone com sua companheira Lessandra
pelo telefone 45 – 5578 1939, repassado pelo Serviço Social da unidade onde se
encontra preso.

4. Análise

G. W. da S. é de nacionalidade brasileira e encontra-se preso na Penitenciária


Estadual de Foz do Iguaçu II desde abril de 2015. Cumpre pena pelo crime tipificado
pelo artigo 217 da Lei 2848/40 (estupro de vulnerável, do qual foi condenado à uma
pena de 2 anos e 20 meses em regime semi-aberto.
Em relação ao delito, o mesmo nega culpa. Conta sua versão sobre o fato e diz
que foi à casa de um vizinho conhecido e que a filha dele de doze anos estava só com
outra criança e ele acompanhado de sua filha e que enquanto brincavam em frente a
casa ele foi urinar no poste e ela saiu gritando. Nega qualquer insinuação de caráter
sexual, com discurso evasivo. De qualquer modo, ao que nos interessa saber neste
momento, o mesmo reconhece as normas morais vigentes e a necessidade de
proteção integral das crianças. Não possui antecedentes criminais. Nega histórico de
delinqüência juvenil, bem como uso abusivo de substâncias psicoativas. Refere fazer
uso de bebida alcoólica socialmente e também ser tabaquista.
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Aos 34 anos, refere união estável há cerca de 10 anos e tem uma filha de
aproximadamente 2 anos e meio. Segundo ele mantém vínculos afetivos preservados
e recebe visitas de sua companheira. Também fala sobre o apoio de sua mãe, que
atualmente está em Recife mas quer trazê-la pra morar perto deles. Família da
companheira reside em Foz do Iguaçu e atualmente está morando com eles. Depois
que foi preso ela alugou a casa deles e está com a família dela. Cogitam possibilidade
de mudança de bairro assim que ele estiver em liberdade.
Em contato telefônico realizado com sua companheira Lessandra na data de
hoje a mesma falou bastante sobre a união deles e de toda família, que ficaram
chocados sobre o fato e que acreditam na inocência dele, disposta à retomar a vida
distante daquele lugar, em função de conflitos que acreditam que desencadearam o
ocorrido.
Sobre sua história de vida conta que conviveu com pai até seus 5 anos e que
ele foi assassinado. Trabalhava como vigilante, mas não sabe o motivo de não tê-lo
registrado. Posteriormente sua mãe se casou e teve um padrasto presente, que era
garçom e também já faleceu. Sua mãe tem 59 anos e trabalha como cuidadora de
idosos e empregada doméstica. São em 9 irmãos e diz se dar bem com todos. Ele é o
mais velho dos irmãos. Estudou até o 2º ano do Ensino Médio e diz não ter terminado
em função do trabalho. Tem a profissão de pedreiro e trabalhou a maior parte do
tempo como autônomo.
Na prisão, encontra-se na galeria conhecida como “seguro” e diz não ter sofrido
qualquer violência. Diz ter aprendido crochê com outros presos e fala muito de sua fé.
Emocionou-se bastante durante toda entrevista realizada, demonstrando sofrimento
por sua condição.
Nos aspectos psíquicos avaliados, observamos que se encontra orientado no
tempo e espaço, sem alteração nas funções mentais superiores neste momento. Tem
boa auto-estima e capacidade de resiliência. Falou também sobre característica de
ambição e encontra-se sensível na valorização dos vínculos familiares.
“No processo de avaliação psicológica consideramos que os objetos deste
procedimento (as questões de ordem psicológica) tem determinações históricas, sociais,
econômicas e políticas, sendo as mesmas elementos constitutivos no processo de
subjetivação. Este documento, portanto, considera a natureza dinâmica, não definitivas e
não cristalizada do seu objeto de estudo.” (resolução CFP n º 007/2003 )

5. Conclusão

G. W. da S. apresenta capacidade cognitiva preservada e entende os valores


morais vigentes necessários à convivência social.
Possui vínculos familiares preservados e capacidade laborativa para reconduzir
sua vida.
No sistema prisional não existem atividades que favoreçam seu
desenvolvimento enquanto pessoa. A prisão tem servido como controle dos impulsos
para algumas pessoas e a monitoração eletrônica também funciona como um
mecanismo de controle externo.
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É aconselhável que o mesmo seja encaminhado para um acompanhamento


psicológico em liberdade para tratar possíveis conflitos internos não detectados nesta
avaliação, auxiliando na elaboração do fato ocorrido e também no seu
desenvolvimento enquanto pessoa.

Foz do Iguaçu, 10 de novembro de 2015.

_______________________
Karine Belmont Chaves
Psicóloga
CRP 08/09262

Quesitos apresentados pela VEP sobre G. W. da S. :

I – O examinado é portador de algum distúrbio ou doença mental? Em caso


afirmativo, qual a doença ou distúrbio, qual o tratamento que tem sido adotado e a sua
possível duração?
R: O mesmo não possui psicopatologia instalada neste momento.

II – A sua personalidade, bem como os motivos e circunstâncias do crime,


autorizam a suposição de que o examinado voltará a praticar crimes/delinqüir? (sim ou
não, devidamente fundamentado com argumentos técnicos pertinentes a área de
atuação de cada um dos peritos).
R: Prejudicado. Não é possível afirmar.

III – O examinado está apto a retomar ao convívio em sociedade através da


progressão de regime para o semiaberto (intermediário) ou ser beneficiado com o
livramento condicional?
Sim. Entendemos que na monitoração eletrônica o mesmo continuará com mecanismo
de controle externo que pode distanciá-lo de situações com risco de reincidência.

IV – Diante das respostas aos quesitos acima, os senhores peritos são


favoráveis ou desfavoráveis à concessão do benefício proposto ao examinado? (parecer
conclusivo e individual de cada um dos peritos que realizarem o exame criminológico).
Considerando os apontamentos levantados na conclusão do referido exame,
entendemos que o mesmo pode desfrutar do benefício proposto.
Este exame pode contribuir com informações e reflexões acerca do sujeito, entretanto
não existem indicativos determinantes ou garantias no campo da subjetividade.

* Conforme art. 6, alínea “b” do Código de ética do Psicólogo, ao compartilhar informações relevantes, resguarda-se o
caráter confidencial das comunicações, transferindo portanto, para o solicitante a responsabilidade de preservar o sigilo
deste documento.

Referências Bibliográficas:
- Código de Ética Profissional do Psicólogo. Resolução CFP Nº 010/05
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- Resolução CFP N.º 007/2003 - Institui o Manual de elaboração de documentos escritos produzidos pelo psicólogo,
decorrentes de avaliação psicológica.
- Resolução CFP nº 017/2012- Dispõe sobre a atuação do psicólogo como Perito nos diversos contextos.
- Cartilha sobre Avaliação Psicológica CFP 2013.

Quesitos apresentados pela Defensoria Pública sobre O. R. de A.

1 – É possível ter certeza se o examinado voltará a delinqüir?


R: Não. Não existem garantias no campo da subjetividade.

2 – O examinando é acompanhado com qual periodicidade pelo profissional


examinador?
R: O examinador realiza o procedimento de avaliação, que pode contar com
entrevistas e testes psicológicos com duração de procedimentos adotados variados. O
examinador/perito/avaliador realiza o exame criminológico diante apenas da demanda
judicial.

3 – O examinador é profissional adequado a dizer se o examinado possui


doenças mentais ou distúrbios?
R: A Psicologia é ciência que estuda e trabalha com doença/saúde mental, sendo
ainda profissão reconhecida e regulamentada.
Conforme resoluções do Conselho Federal de Psicologia, o psicólogo está apto para
realizar avaliações psicológicas, diagnósticos e tratamento psicológico.
Conforme o Manual de elaboração de documentos escritos produzidos pelo
psicólogo, decorrentes de avaliação psicológica.

“A avaliação psicológica é entendida como o processo técnico-


científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações
a respeito dos fenômenos psicológicos, que são resultantes da
relação do indivíduo com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de
estratégias psicológicas – métodos, técnicas e instrumentos. Os
resultados das avaliações devem considerar e analisar os
condicionantes históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com
a finalidade de servirem como instrumentos para atuar não somente
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sobre o indivíduo,mas na modificação desses condicionantes que


operam desde a formulação da demanda até a conclusão do
processo de avaliação psicológica.” (Resolução CFP nº 007/03).

4 - O examinador sabe qual o escopo da progressão de regime e do regime de


cumprimento semi-aberto? Se sim, indicar qual é.
R: Mirabete (2000), em seus comentários a respeito da LEP, discorre sobre a
progressão de regime, idéia aplicada inicialmente, em uma prisão na Suíça. O autor
entende que em razão da personalidade e do tipo de delito cometido existem pontos
que devem ser levados em consideração na aplicação de cada tipo de pena e na sua
progressão. Longas penas sugerem estímulos para fuga; por exemplo, a não
aceitação da sentença condenatória e da pena aplicada também exigem aparato físico
da arquitetura e da vigilância diferenciados. Pontua ainda, “há condenados que,
embora convencidos de que devem observar a disciplinar e não empreender a fuga,
com certo senso de responsabilidade, não tem o suficiente autodomínio para se
submeter ao regime aberto”.
Conforme Almeida (2012), a progressão de regime prisional é um instituto que
visa permitir ao condenado a possibilidade de diminuir o rigor do regime de
cumprimento de sua pena enquanto a mesma é efetivamente cumprida. Em outras
palavras, trata-se de uma forma de execução de pena privativa de liberdade que
permite ao condenado sair de um regime prisional mais severo para integrar um
regime menos severo e deve ser concedido pelo Estado punidor quando o condenado
cumpre os requisitos previstos em lei, demonstrando que está buscando dentro do
cárcere a condição de voltar ao convívio social sem que isso represente um perigo
para a coletividade.
O instituto da progressão de regime para os condenados às penas privativas
de liberdade foi instituído no Direito Brasileiro com a Lei Federal 7.209 de 1984, que
reformou a parte geral do Código Penal e foi devidamente regulamentada pela Lei de
Execução Penal (Lei Federal 7.210 de 1984).
De acordo com a LEP, em seu art. 112, a pena privativa de liberdade será
executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a
ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena
no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor
do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão.
Podemos encontrar em diversos autores que abordam a temática da
progressão de regime, as análises que levam em conta aspectos subjetivos, ou seja,
decorrentes da personalidade e história do indivíduo e que se mostram, pois
importantes para a análise da concessão de benefícios, o que por si já justifica o
exame criminológico atendendo a tais requisitos.

5 – O trabalho e/ou estudo ajudará na ressocialização do examinado?


R: A Lei de Execução Penal de 11 de julho de 1984, sem seu artigo 11 descreve que o
preso terá assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa.
Também na resolução número 14 de 11 de novembro de 1994 fixa as regras mínimas
para tratamento dos presos no Brasil, em seu artigo 38 diz:
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“A assistência educacional compreenderá a instrução escolar a e


formação profissional do preso”

Segundo Mirabete (2000), o Estado Democrático não pode impor ao


condenado os valores predominantes na sociedade, mas apenas propô-los ao recluso,
e este terá o direito de refutá-los. Se entender o caso de não conformar-se ou de
recusar adaptar-se as regras fundamentais coletivas.
Entendemos que o trabalho e o estudo são boas ferramentas no processo de
reintegração social, possibilitando novos horizontes ao apenado. No entanto, nem
todos tem o desejo de participar destas atividades, visto que estas não faziam parte do
seu dia a dia anterior à prisão ou mesmo devido ao comprometimento criminal do
sujeito, vislumbrando ganhos financeiros rapidamente.

6 – Um maior convívio social ajudará na ressocialização do examinado?


R: Sim. Mirabete (2000) discutindo as questões relativas a ressocialização, postula
sobre a progressiva humanização e liberação da execução penitenciária, de tal
maneira que asseguradas medidas como as permissões de saída o trabalho externo e
os regimes abertos, tenha ela maior eficácia. Os vínculos familiares, afetivos e sociais
são sólidas bases para afastar os condenados da delinqüência. Mesmo os que não
acreditam no efeito ressocializador da pena de prisão, não negam a necessidade de
sua humanização por meio de uma política de humanização e de assistência ao preso
que lhe facilite, se assim o desejar o acesso aos meios capazes de permitir-lhe o
retorno à sociedade em condições de convivência normal.
A progressão de regime, de forma gradual, pode beneficiar o sujeito
proporcionando ao mesmo o retorno gradual ao convívio social e familiar, através do
trabalho externo por exemplo. Vale lembrar que este caso necessita de suporte social
e psicológico externo para que diminuam os riscos de alteração de comportamento.

7 – O examinador é profissional adequado a dizer se o examinado deve progredir


de regime ou não?
R: De acordo com a LEP, em seu art. 112, a pena privativa de liberdade será
executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a
ser determinada pelo JUIZ, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da
pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo
diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão.
O Exame criminológico, enquadrado como quesito subjetivo, é realizado
através de pedido judicial e serve para convencimento e análise do Poder Judiciário.
Conforme transcrito por Marcão (2009), “O juiz não está adstrito ao exame
criminológico, podendo avaliá-lo livremente e decidir contrariamente a sua conclusão,
desde que fundamentada a sua decisão” (RT736/695).
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8 – Impedir o retorno do examinado ao convívio social pode trazer benefícios ao


próprio examinado? Se sim, tais benefícios são maiores que os malefícios
provocados pela segregação?
R: A prisão para alguns tipos de personalidade funciona como um controle externo,
tendo em vista a fragilidade de suas estruturas internas de controle dos impulsos,
como é o caso de O. R. de A. Assim sendo, a prisão pode ser entendida também
como uma estrutura protetiva, não só para a sociedade, evitando novas reincidências
e nova vitimização, bem como protege este individuo diante de suas ações
impensadas e antissociais, embora o mesmo possa não compreender como tal. A
permanência em determinados tipos de regime pode ainda proporcionar que o mesmo
desfrute de algumas atividades que possam lhe agregar ferramentas para posterior
convívio social, embora neste momento o sistema penitenciário esteja num momento
critico.

9 - É possível no exame criminológico aferir com certeza a periculosidade do


sentenciado? Há violação da ética profissional nesse caso?
R: O exame criminológico é uma ferramenta que foi criada para auxiliar a Justiça,
trazendo à luz dos autos inicialmente informações a respeito da saúde mental do
indivíduo, bem como de seu comportamento. Os profissionais da Psiquiatria e da
Psicologia foram reconhecidos por seu conhecimento e habilidade para fazer
diagnóstico sobre a saúde mental do indivíduo, o que inclui estudar, investigar e
analisar características e comportamentos, levantando hipóteses diagnósticas sobre a
presença ou não de psicopatologias. Saber que o indivíduo é portador de alguma
psicopatologia pode auxiliar os profissionais na reflexão para uma conduta e
tratamentos adequados, encaminhando-os para o que for necessário e puder
contribuir com seu desenvolvimento e bem-estar.
Ao longo do tempo, também incorporou questões visando a reintegração social,
considerando seu desenvolvimento pessoal e social. Embora tenha sido bastante
criticado por muitos, o exame criminológico ainda continua a ser uma possibilidade.
Foucault é referência clássica que aponta os profissionais das áreas humanistas como
“bode-espiatórios” da Justiça, denunciando-os como marionetes de um sistema que
visava à classificação e segregação social, expondo as pessoas de modo negativo,
sem auxiliar o seu desenvolvimento. No século XXI, voltou-se a discussão sobre sua
aplicabilidade e contribuição. Muitos entendem que esta prática traga prejuízos à
pessoa presa, contribuindo para a marginalização e estigmatização e desejam que o
mesmo seja extinto. Outros defendem sua permanência, pois entendem que essa
atuação interdisciplinar pode iluminar as decisões, trazendo informações importantes
que vão além do requisito objetivo da progressão de regime e auxiliam ainda nos
encaminhamentos necessários para auxiliar a pessoa na sua retomada da vida em
liberdade. Ainda não existe consenso sobre a sua utilidade. Legalmente, portanto,
ainda é tido como uma possibilidade para compor o conhecimento do Juízo, no que
tange aos aspectos subjetivos, que são muito importantes para encaminhamentos
mais eficazes.
O Conselho Federal de Psicologia também estendeu suas discussões com a
categoria e embora não expresse o pensamento totalitário dos profissionais, entende
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que o exame criminológico não deve ser usado para práticas que visem a penalizar
ainda mais o indivíduo, decorrente do uso distorcido do conhecimento de suas
características pessoais e condições sociais. Foi então editada a Resolução CFP
012/2011 visando regulamentar a atuação do psicólogo no âmbito prisional.
Os profissionais que atuam e fazem parte do sistema prisional foram colocados
numa posição delicada. Não podem mais dizer algumas coisas. E a Justiça os
pressiona a dizer. Colocou-se em dúvida a competência e o modo de fazê-lo.
Encontramos na literatura, muitas referências importantes sobre as perícias e a
questão da saúde mental. Documentos antigos e recentes. Rovinski (2004), por
exemplo, atenta para o papel da perícia na predição de comportamento. E poderíamos
buscar outras referências. A prática nos é ensinada por uns e criticada por outros que
ignoram e duvidam de alguma capacidade técnico-profissional de conhecimento
acerca de psicopatologia e funcionamento psíquico. Talvez tenhamos mesmo feito
parte de uma engrenagem que não teve sucesso, embora tenha continuado a
funcionar. O CFP entende, como outros operadores do Direito, que o exame
criminológico, instituído no modelo positivista, acabou por servir como instrumento
para perpetuar e segregar os indivíduos dentro de um sistema de dominação, o que
não condiz com os princípios da Psicologia.
Os profissionais psicólogos, segundo a referida resolução, são vedados de
“elaboração de prognóstico criminológico de reincidência e aferição de periculosidade”.
Situação delicada: se colocar em desobediência ao Judiciário, que determina sua
realização ou fazê-lo e correr o risco de incorrer em falta ética perante o seu conselho
de classe conforme proposto pelo CFP. Entendemos a necessidade dessas duas
esferas voltarem a dialogar.
O Conselho Federal de Psicologia emitiu nota com aspectos éticos, técnicos e
jurídicos que envolvem a Resolução CFP n° 009/2010 :
“Não estamos dizendo que o psicólogo não poderá colaborar com
a Justiça ou está se negando a executar uma ordem judicial, até
porque a resolução, em seu artigo 4º, prevê a possibilidade de
elaboração de documento a ser entregue ao juiz. Na verdade,
estamos explicando que a realização do exame criminológico como
está sendo feito e outras atividades solicitadas ao psicólogo que
envolvem práticas punitivas dos apenados são antiéticas,
descontextualizadas, realizadas atualmente sem fundamentação e
sem devida qualidade técnico-científica.”

Enquanto profissionais, buscamos constantemente o conhecimento, através do


estudo e atualização, pesquisa e reflexão. Temos refletido sobre o papel, a função do
exame criminológico. Entendemos que ele pode ser uma ferramenta positiva, quando
possibilita uma visão mais aprofundada sobre uma pessoa envolvida num processo
judicial e da mesma forma proporcionando uma visão mais ampla diante da
complexidade humana e também dos problemas sociais.
Estamos diante, talvez, da construção de um novo modelo, em substituição ao
exame criminológico nos moldes antigos, onde existe a expectativa simplista e
reducionista de que se possa prever que o indivíduo volte ou não a reincidir. Nós, da
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Psicologia, na construção de um documento, seja ele parecer ou laudo, decorrente ou


não de avaliação ou análise psicológica, com ou sem o uso de uma ferramenta
profissional como um teste psicológico, temos trabalhado, no esforço de proporcionar
sim, um conhecimento mais amplo a respeito da pessoa que se encontra presa,
entendendo que seu “comportamento é fruto de um conjunto amplo e diversificado de
determinantes” (nota CFP). Pelo menos é o que estamos tentando fazer nesta
penitenciária em Foz do Iguaçu. Refletimos constantemente sobre a prática,
estudamos e nos aprimoramos no sentido de poder contribuir para o desenvolvimento
humano e social, o que vai além de simplesmente servir às engrenagens do Judiciário,
acreditando que numa relação de inter ou mesmo outra que transcenda a inter ou
disciplinaridade. Ao elaborar um documento como este, ao resgatarmos a história da
pessoa presa em questão, buscamos verificar dados de sua complexa subjetividade
(sua história de vida, formação, vínculos familiares/afetivos, suas perdas e conquistas
ao longo da sua vida, e investigar como sua estrutura psíquica, objetivando pensar
sobre suas possibilidades de reintegração social neste momento de sua vida, seus
valores e desejos, o que implica inevitavelmente em investigar sua saúde mental e
possibilidades de intervenção. Muito além de diagnosticar, pretendemos estar junto ao
Judiciário neste espaço, pensando sobre as limitações e necessidades daquele que se
encontra preso, neste momento de sua vida.
Portanto, nós, psicólogas da PEF I, compreendemos que o “exame
criminológico” (podemos pensar em substituição também da terminologia) na
atualidade, pode ser uma ferramenta positiva, quando possibilita uma visão mais
aprofundada sobre determinada uma pessoa envolvida num processo judicial, o que
implica em compreender a complexidade humana. O exame criminológico deve
contribuir não só para a Justiça, representando a sociedade, mas para cada um dos
seus, buscando melhores condições de vida para o indivíduo e para a sociedade como
um todo. Essa atuação interdisciplinar deve primar pela construção da cidadania da
pessoa que se encontra presa, buscando meios de fortalecer seus vínculos externos
para retomada da vida em liberdade. Mais do que fazer predição de conduta, o
trabalho do psicólogo entendemos que deve favorecer o bem-estar do indivíduo e da
sociedade. O conhecimento alcançado pela Psicologia visa contribuir para o
desenvolvimento como um todo e não pactuar-se com praticas reducionistas e que
visam apenas punir e estigmatizar.
Deste modo, ao responder o ofício, não pretendemos qualquer ofensa ou
desrespeito a qualquer instancia legal. Ao longo desses anos de trabalho nesta
penitenciária temos buscado aprimorar esse espaço de comunicação e diálogo.
Temos construído com alguns presos, quando possível, uma avaliação participativa,
em que a pessoa possa revelar-se e também consiga olhar-se, repensando sua
história e construindo seu plano de vida, responsabilizando-se por suas escolhas
futuras. Um caminho alternativo a ser estudado. Entretanto, nem sempre conseguimos
com todas as limitações e pressões que ocorrem no dia-a-dia das prisões.
Além disso, ainda temos sofrido com o desgaste do que nos parece um jogo de
interesses. Os defensores públicos ou particulares solicitando resposta a quesitos que
sugerem o objetivo de contestar a realização do exame criminológico. Entendemos
que o exame criminológico é uma ferramenta polêmica, e que não nos cabe decidir
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Foz do Iguaçu-PR. CEP: 85.859-675 Fone: (45) 3520-1400.

sua validade. Contamos com um conflituoso cenário onde se diferenciam diversos


posicionamentos científicos e ideológicos sobre o crime, criminalidade e o homem.
Entendemos que vivemos com influências do tempo social e da história, e as
concepções ainda do modelo penal aplicado no Brasil possibilitam polêmicas e
reflexões.
Os quatro quesitos utilizados pelo Ministério Publico, bem como os nove
quesitos apresentados por Marcão (2009) nos sugerem um interesse voltado para
análise da pessoa presa em questão, mas outros questionamentos enviados por vezes
sugerem a contestação e desqualificação do procedimento do exame criminológico em
si, bem como das possibilidades do profissional que o realiza e dos fundamentos de
sua ciência.
Pensamos que o exame na atualidade pode ser um espaço de reflexão sobre
estratégias de intervenção possíveis e eficazes que contribuam para a história da
pessoa que se encontra presa. Gostaríamos muito de ver as pessoas durante o tempo
em que ficam presas podendo desfrutar de atividades como estudos e cursos
profissionalizantes, por exemplo, que podem contribuir muito para a história de alguns,
embora não possam resolver por absoluto o problema da criminalidade.
Já que temos esse modelo penal, já que ainda não temos muitas alternativas
de substituição à prisão, já que para alguns casos ela ainda é importante para a
sociedade, que busquemos meios para que ela seja um espaço digno. Liberar as
pessoas presas sem pensar sobre a história delas e sobre suas necessidades parece
mais simples. Isso tem sido desgastante. Preferimos e nos propomos a dialogar, não
confrontar ou ser confrontado.
Os exames criminológicos, ao nosso ver, devem ultrapassar a esfera pessoal e
compreender ainda que toda uma reestruturação do sistema penitenciário e
sensibilização da comunidade é necessária para dar conta da reintegração social
pretendida e desejada (idealizada?) e não esperar que sem investimentos e práticas
humanitárias poderemos contribuir para mudanças significativas no indivíduo, caso ele
se disponha. A prisão muitas vezes continua a servir para penalizar e distanciar a
pessoa da sociedade, afastando-os temporariamente de nova reincidência criminal.
Disso muitos concordam.

“Parece urgente, sobretudo, o reconhecimento de que as soluções


para o problema da crescente criminalidade passam, antes pela
revolução do estudo e da pesquisa (empírica) criminológica no Brasil
(e não no estudo dogmático, normativo e abstrato do Direito Penal!);
incorporação dos diversos saberes (inter)disciplinares numa ciência
plural, capazes de fomentar o desenvolvimento de alternativas à
sistemática de execução da sanção penal; ou medidas capazes de
estruturar um sistema que, além de mais humano, seja aplicado de
verdade – de preferência com eficácia resolutiva.” (IENNACO, 2005)

10 - Diante das respostas aos quesitos, o profissional pode dizer com certeza se
a progressão ao regime semiaberto é inadequada?
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ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA
DEPARTAMENTO DE EXECUÇÃO PENAL – DEPEN
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R: Toda a análise compreensiva realizada através da avaliação psicológica que o


profissional psicólogo faz decorrente da solicitação do exame criminológico visa a
fornecer elementos que podem ampliar a visão situacional da pessoa presa.
Entretanto, ao que sugere o grifo em negrito da palavra posta pelo Senhor Defensor
Público COM CERTEZA, implicaria numa revisão do conceito de ciência e verdade.
Compreendemos que a ciência através das suas sistematizações de pesquisa e busca
do conhecimento fornecem elementos para uma maior segurança nas soluções e
encaminhamentos dos “problemas” sociais e da natureza, também humana. Assim
sendo, a Psicologia enquanto ciência apresenta conhecimentos que podem ou não
serem considerados como relevantes por quem o solicita, embora já tenha sido
validado como científico para ser utilizado.
Raramente as ciências tem cem por cento de certezas decorrentes do seu
conhecimento, tendo em vista a dinâmica não só das matérias como do ser humano.
Entretanto, as ciências visam contribuir com uma margem de segurança satisfatória
empregando seus conhecimentos.

A Psicologia, enquanto profissão, baseia sua atuação em princípios e respeito


a história do sujeito, e, por determinação judicial, compartilha informações relevantes,
mas preza pela preservação das informações apresentadas, evitando distorções e
desentendimentos.

Atenciosamente,

_______________________
Karine Belmont Chaves
Psicóloga CRP 08/09262
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