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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

COMUNICAÇÃO, PSICOLOGIA E COGNIÇÃO

Pedro Cherulli

AVALIAÇÃO INDIVIDUAL

Rio de Janeiro

2022
Os conceitos de subjetividade e identidade experimentaram mudanças ao longo da Modernidade
e da vida contemporânea: o sujeito moderno emergiu e foi descentrado. Discorra sobre essa
afirmação a partir dos autores estudados e dê exemplos levando em conta o papel da mídia.

Existem diversas maneiras possíveis de abordar as características do período da Modernidade e


da vida contemporânea, vide os diferentes campos influenciados por esse período: econômico,
político, cultural e social. Esclarecendo em termos cronológicos, é convencionado que a Idade
Moderna se inicia após o fim do período medieval, que ocorre na segunda metade do século XV,
enquanto a Idade Contemporânea, período histórico que o Ocidente vive atualmente, tem seu
início datado no final do século XVIII, mais especificamente em 1789, após a queda da Bastilha.

Desde então, os períodos citados oferecem ao mundo ocidental uma grande leva de processos de
racionalização, esses que, por sua vez, aumentaram a eficácia de diversas estruturas econômicas,
políticas e sociais. Apesar da evidente contribuição ocasionada pelos avanços em tais áreas, que
por sua vez ocorreram em épocas marcadas por eventos pontuais como as Revoluções Científica,
Industrial e Francesa, é inquestionável também que alguns desdobramentos gerados ao longo
desse período de mudanças dividem opiniões entre os intelectuais no que tange apontá-los como
positivos ou negativos para a humanidade.

A partir disso, cabe pontuar os conceitos de subjetividade e de identidade, que, dentro desse
contexto de renovação, sofreram alterações na forma como são refletidos em nosso corpo social.
Tal transformação, abordada por diversos estudiosos, está diretamente relacionada a emergência
do sujeito moderno e um dos importantes motivos que contribuíram fundamentalmente para o
aparecimento em questão, isto é, a forma como a mídia se fortaleceu no que diz respeito a sua
influência sobre a sociedade e seu funcionamento.

Sendo assim, é de suma importância abordar a questão da globalização, um fenômeno originário


do século XV, mais especificamente durante o período mercantilista. Algumas das maiores
potências europeias se aventuraram lançando-se ao mar buscando novos territórios e riquezas.
Diante disso, a humanidade vem evidenciando uma progressiva diminuição de barreiras
econômicas, imigratórias e como acompanhamento, um grande avanço na forma como as
diferentes partes do mundo estabelecem redes de comunicação. Portanto, é nesse contexto de
forte aprofundamento nas relações comunicacionais, que, a grande mídia, com o papel de
transmitir informações e conteúdos variados, consegue se consolidar como formadora de
opiniões, personalidades e costumes, surgindo assim, o sujeito moderno.

Antes de mergulhar a fundo na tese do sujeito moderno ou mais especificamente ‘’pós-


moderno’’, é conveniente mencionar que além do tipo de identidade já citada, Stuart Hall,
sociólogo britânico-jamaicano, determinava duas outras facetas identitárias/tipos de sujeito,
sendo elas o ‘’Sujeito do Iluminismo’’ e o Sujeito sociológico’’. A primeira se baseia em uma
concepção de indivíduo totalmente centrado, unificado e dotado de capacidades de razão, de
consciência e de ação. Já a segunda, coincidiu com a ascensão da sociedade moderna, associada
ao capitalismo, no século XIX. O sujeito sociológico era um indivíduo que já não apresentava
mais a autonomia do sujeito iluminista, mas sim se relacionava plenamente com a sociedade em
que vivia, configurando, acima de tudo, uma identidade cultural.

Falando agora sobre essa nova concepção atribuída ao sujeito a partir do período contemporâneo,
pode-se dizer que a grande novidade apresentada pelo indivíduo pós-moderno é o seu caráter
provisório, variável e problemático, alguém que já não apresenta mais uma identidade
fixa/permanente. Como disse Hall em sua obra ‘’Identidade cultural na pós-modernidade’’,
fazendo referência ao caráter do sujeito moderno, ‘’a identidade plenamente unificada, completa,
segura e coerente é uma fantasia.’’. Complementando, o autor faz também a seguinte afirmação:

‘’Ao invés disso, à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se


multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de
identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar.’’

Nesse segundo trecho, é possível notar que, citando os ‘’sistemas de significação e representação
cultural’’, o autor se refere ao que é popularmente conhecido como a mídia e os diversos outros
meios de comunicação, deixando claro que tais dispositivos exercem papel fundamental no que
concerne o descentramento sofrido pelo sujeito contemporâneo e sua perda de
identidade/subjetividade.

Apesar de tratar e teorizar sobre a questão da identidade no período pós-moderno com


originalidade, é natural também o fato de que Hall se apoiou em estudos de outros diversos
autores, sendo Sigmund Freud, o ‘’pai da psicanálise’’ um deles. Para o autor, um importante
pilar para o descentramento do sujeito moderno é a descoberta do inconsciente por Freud:

‘’A teoria de Freud de que nossas identidades, nossa sexualidade e a estrutura de nossos desejos
são formadas com base em processos psíquicos e simbólicos do inconsciente, que funciona de
acordo com uma “lógica” muito diferente daquela da Razão, arrasa com o conceito do sujeito
cognoscente e racional provido de uma identidade fixa e unificada – o “penso, logo existo”, do
sujeito de Descartes”.

Portanto, de acordo com a teoria de Freud recuperada por Hall, nossa identidade, assim como a
sexualidade e o desejo, é formada com base em processos psíquicos e simbólicos do
inconsciente. Logo, ela não seria algo inato, presente de forma inteira no indivíduo desde o
nascimento – como acreditava a concepção de sujeito do Iluminismo anteriormente citada – e,
sim, formada, ao longo do tempo, por processos muitas vezes não conscientes.

Além de ilustrar alguns dos apontamentos feitos por Hall e Freud, é importante denotar também,
como já esclarecido anteriormente, a forma oportuna como a mídia se aproveitou do processo de
globalização, conseguindo se estruturar de maneira tão influente na sociedade que acabou por se
colocar, também, como um dos principais motivos para a eclosão do sujeito descentrado. Para
apoiar tal afirmação, cabe apontar um trecho do artigo ‘’Mídia e Globalização’’, publicado pelo
escritor João Batista Libânio:

‘’Ao mesmo tempo, os fiéis do mundo inteiro acompanham a missa de Natal no Vaticano numa
globalização da fé e, ao mesmo tempo, presenciamos ao vivo a terrível cena do segundo avião
terrorista chocar-se em violenta bola de fogo contra a Torre do World Trade Center de Nova York
e o ruir fragoroso daquela montanha de ferro e concreto’’.

Deixando clara a forma como essa profusão de informações simultâneas é fundamental para
gerar a crise de identidade/subjetividade experimentada pelo sujeito, o autor acrescenta:

‘’Cenas de paz e de guerra, cenas de fé e de perversidade, cenas de grandiosidade espiritual e de


mesquinhez humana. Tudo é oferecido a todos. Não há limite de objeto nem de sujeito. É a
globalização sem mais.’’

Não distante do que foi enunciado por Libânio, o autor londrino Anthony Giddens, em sua obra
‘’Modernidade e Identidade’’, também discorre acerca do papel da mídia no que se refere a
abundância de informações recebidas pelo sujeito moderno e a pluralidade de escolhas a se fazer
a partir dessa fonte massiva de dados:

‘’a prevalência da experiência transmitida através da mídia, sem dúvida, também influencia a
pluralidade da escolha, de maneiras óbvias e também de maneiras mais sutis. Com a crescente
globalização da mídia, grande número de ambientes se tornam em princípio visíveis para quem
quer que queira juntar a informação relevante. O efeito colagem da televisão e dos jornais dá
forma específica à justaposição dos ambientes e escolhas potenciais de estilo de vida.’’

Pode-se concluir, portanto, que apesar da concordância ou não sobre a presença de uma essência
única pertencente a cada sujeito, as identidades dos indivíduos, nos dias de hoje, apresentam
estruturas menos rígidas, identificando-se, desta forma, em disposições mais flexíveis e
mutáveis. A configuração do que chamamos hoje de mundo pós-moderno nos impede de alegar a
existência de somente um ponto referencial, no qual o sujeito supostamente orbitaria e escolheria
como modelo a ser seguido. Pelo contrário, é evidente que, hoje, temos ao nosso dispor, uma
ampla gama de referências para nos espelharmos, gerando, assim, um profundo sentimento de
incerteza no sujeito, pelo menos comparando-o com as considerações passadas do mesmo, onde
o indivíduo era fortemente marcado por sua identidade estática/firme. Definir hoje, uma única
referência como inspiração ou padrão a ser contemplado se tornou impraticável, pois a sociedade
atual está, como dito antes, sobrecarregada com múltiplas opções que, por muitas vezes, até se
confrontam com aquilo que o indivíduo gostaria de ser ou acha que é.

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