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Daltro Campanher
Santa Maria, RS
2019
Introdução
Destarte, logo ao início de sua obra, o jamaicano Stuart Hall fala de uma
“crise de identidade”, a questionando. Diversos são os questionamentos feitos, e esses
- é possível estabelecer - constituem uma espécie de raison d’être de diversas
discussões centrais da obra: “Que pretendemos dizer com "crise de identidade"? Que
acontecimentos recentes nas sociedades modernas precipitaram essa crise? Que
formas ela toma? Quais são suas consequências potenciais?” (HALL, 2006, p. 7).
Posteriormente, Hall salienta o caráter muito mais analítico que descritivo de sua
teorização, e não hesita em tomar como posição pessoal a possibilidade do sujeito
pós-moderno que, conforme posta, está entrelaçado à uma concepção de
multiplicidade das identidades em um único sujeito, visando uma superação total do
dualismo cartesiano, das concepções iluministas de sujeito, que não teriam sido de tal
modo superadas mesmo com o advento da sociologia (Ibid., p. 33). Esse é um
posicionamento que se alinha com a cunhada “pós-modernidade”, que não por acaso
se faz presente no título da obra referenciada. Não apenas o essencialismo da
identidade, do sujeito, são questionados, mas também a própria singularidade, a
unidade desses entes (Ibid., p. 7-23).
Ao que se segue, após essa breve introdução a qual fora acá referenciada,
segue-se à enumeração de três diferentes concepções de identidade ou sujeito as quais
foram sendo construídas de acordo com o contexto histórico próprio de cada qual
dessas: a do sujeito do Iluminismo, a do sujeito sociológico e a do sujeito pós-
moderno.
O próprio autor reforça que tal asserção de que o sujeito fora, certa vez,
“unificado” para posteriormente ser “descentrado”, de acordo com as passagens entre
as diversas conceituações de sujeito, não passa de mera simplificação que possibilita a
explicação e maior facilidade em prol da compreensão de que as concepções de
sujeito e identidade podem variar conforme o tempo; o que faz com que não seja
impossível o vislumbre de um total desmembramento ou “morte” da identidade (Ibid.,
p. 23-25).
2. O “inconsciente” de Freud
A descoberta do “inconsciente” por Freud e, sobretudo, as leituras
psicanalíticas de sua obra feitas especialmente por Lacan, teriam abalado
fortemente a concepção cartesiana de sujeito, dado que as pulsões e processos
formadores do ego não mais estão dadas, aqui, como processos conscientes.
Lacan interpreta que a criança apenas gradual e parcialmente apreende a
própria auto-imagem de forma unificada e nuclear, com muita dificuldade. A
identidade, assim, seria algo formado apenas ao longo do tempo e por meio de
um processo produzido, sobretudo, por processos inconscientes, sendo a
“pessoa” unificada apenas uma fantasia, uma ilusão (Ibid., p. 36-40).