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Arquitetura, Sociedade

e Meio Ambiente
Débora Bulek Grobe

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EXPEDIENTE

PRESIDENTE DA MANTENEDORA
Professor Wilson Ramos Filho

SUPERINTENDENTE DAS COLIGADAS UB


Professor Edson Aires da Silva

CENTRO UNIVERSITÁRIO CAMPO REAL


REITORIA
Professor Edson Aires da Silva

UGV CENTRO UNIVERSITÁRIO


REITORIA
Professor Edson Aires da Silva

FACULDADES DO CENTRO DO PARANÁ (UCP)


DIREÇÃO
Professora Jane Silva Bührer Taques

FACULDADES INTEGRADAS DO VALE DO IVAÍ


DIREÇÃO
Professora Jane Silva Bührer Taques

COORDENAÇÃO DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR


E NÚCLEO DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS
Prof. Atilio A. Matozzo

COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor Angelo A. Del Ponte
Professor Atilio Augustinho Matozzo
Professor Gregori Henrique Vottori Trombetta
Professor Jefferson Silvestre Alberti dos Santos
Professor Mateus Cassol Tagliani
Professora Patricia Melhem Rosas

COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO


Atilio Augustinho Matozzo

COORDENAÇÃO TÉCNICA
Ayres Siqueira Silva
Élita Fernanda Teixeira da Cruz Matozzo
Germano Henrique Becker
Igor Kschevy
Jefferson César dos Santos
Marcelo Kloczko

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4

2 INDIVÍDUO E IDENTIDADE ..................................................................................... 5

3 CULTURA, SOCIEDADE E SUA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL ................................ 8

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 12

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 13

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1 INTRODUÇÃO
Neste módulo, será permeada a discussão da primeira parte da ementa para a
disciplina “Arquitetura, Sociedade e Meio Ambiente”. Nela, serão abordados
conceitos, relações e intersecções atreladas ao indivíduo, à cultura e à sociedade. A
intenção é lançar luz sobre questões necessárias aos indivíduos, mas que em maior
escala impactam grupos sociais e, posteriormente, à comunidade em geral, no que
tange à organização e à construção dos espaços (interno e externo).
Portanto, a abordagem partirá da escala humana, tanto no quesito abstrato,
quanto no palpável. Ou seja, serão mencionados conceitos envolvendo elementos
figurativos, sendo eles indivíduo relacionado à cultura e à sociedade. Isso tudo se
torna abstrato, a partir do momento em que se entende que para dar origem à cultura,
por exemplo, é preciso a compreensão do funcionamento e da relação de outros
fatores, como economia, espaço e tempo. Seguindo este raciocínio, também serão
mencionados conceitos envolvendo elementos literais, partindo sempre da escala
humana (uma pessoa, um indivíduo, que somada a outras, dará origem aos grupos
sociais e consequentemente à comunidade.
Assim, é importante analisar que o trajeto desta reflexão não é linear e permeia
relações de escala, humana e espacial, bem como de tempo, já que o comportamento
do indivíduo e, consequentemente, da sociedade, também está atrelado à época que
lhes dá origem. Portanto, apesar da complexidade da discussão, é notória a sua
importância, a fim de mostrar alguns possíveis caminhos entre uma pessoa e a
formação do espaço urbano, como o conjunto arquitetônico e de outros elementos que
o compõe, possibilitando ao estudante, discussões embasadas e mais profundas, que
o guiarão ao longo da faculdade, até a sua profissão. Os autores David Harvey e Stuart
Hall serão os porta-vozes desta discussão.
Figura1 . Formas de compreensão do indivíduo.

Fonte: Débora B. Grobe, 2024.


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2 INDIVÍDUO E IDENTIDADE
Como dito anteriormente, fica clara a complexidade que abrange os termos
indivíduo e identidade, a partir do momento em que são correlacionados. O indivíduo
é visto como um único ser, parte integrante de uma sociedade, que confronta as
diversas formas de ver sua identidade, esta, amplamente discutida ao longo de anos.
Stuart Hall (2006), traz no livro “Identidade cultural na pós-modernidade”, abordagens
sobre a transição desta percepção, ao longo da história, a partir do sujeito iluminista,
do sujeito sociológico e do sujeito pós-moderno. Ou seja, atrelando a formação
identitária do indivíduo, ao período no qual ele existe.
Aqui, serão abordadas estas visões, com a intenção de desconstruir uma
possível visão limitada acerca do assunto, para então compreender entre este e os
próximos módulos, a influência do tempo no indivíduo e sua formação identitária, bem
como a sua influência sobre a formação dos espaços internos e externos, que
abrangem a arquitetura, o urbanismo e o paisagismo.
O sujeito iluminista, também descrito como individualista, por Hall (2006),
estava presente no século XVIII e pode ser considerado centrado e atrelado a uma
visão de homem racional e científico. Entretanto, faz parte do período da primeira
revolução industrial, logo, ele não é mais tido como centro do Universo, apesar de sua
importância. Uma frase que destaca bem o indivíduo deste período, vem de René
Descartes, considerado como “pai da Filosofia moderna”: “Penso, logo existo”.
Figura 2 Representação do sujeito Iluminista

Fonte: Débora B. Grobe, 2024.

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O sujeito sociológico, também descrito como interacionista, por Hall (2006),
surge no início do século XX, e leva em consideração a interação que a sua identidade
é formada pela interação entre si e a sociedade da qual faz parte. Ainda é um período
em que se discute sobre a essência do indivíduo, como o “eu real”, mas que pode ser
modificada ao longo do tempo, a partir da intensificação do contato cultural com o
meio externo.
Ainda é neste período que há um início de discussão sobre o urbanismo como
produto da sociedade no espaço (HALL, 2006).

Figura 3 Representação do sujeito sociológico

Fonte: Débora B. Grobe, 2024

A partir da metade do século XX, vários acontecimentos a nível mundial, dão


origem ao indivíduo pós-moderno. Na contínua apresentação dos sujeitos, por Stuart
Hall (2006), entende-se que este último não possui uma identidade fixa, o que é
chamado por vários autores de “fragmentação do indivíduo”.
Para a compreensão real do indivíduo pós-moderno, é necessário explorar a
concepção de espaço e tempo, a partir da visão de David Harvey, em sua obra “A
condição pós-moderna”, de 1989. O autor mostra que, apesar de serem duas
categorias básicas da existência humana, os conceitos e relações entre espaço e
tempo raramente são discutidos. Portanto, o ponto principal do debate parte de
parâmetros objetivos que definem o tempo para a sociedade, enquanto escala.
Entretando, no sentido abstrato de tempo, o seu significado difere muito, de acordo
com a percepção de cada indivíduo e grupo social.
Neste sentido, na era global, onde tudo acontece simultaneamente e em uma
velocidade acima da compreensão humana, fatos cíclicos representam âncoras
positivas para criar parâmetro. A exemplo, aniversários, datas comemorativas e
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feriados, os quais acontecem em um intervalo de tempo maior, mas remetem à
segurança daquilo que o indivíduo já conhece ou já experenciou (HARVEY, 1989).
O tempo na pós-modernidade também é mensurado como parâmetro, a partir
de interesses sociais e suas consequências se refletem no espaço. A exemplo,
decisões em grande escala, que impactam positiva ou negativamente sobre os
sistemas naturais e, consequentemente, sobre o futuro da humanidade (HARVEY,
1989). Comumente, estas discussões chegam na visão capitalista da sociedade pós-
moderna e nos sistemas de produção que a compõe.
Portanto, a identidade do indivíduo, relacionada anteriormente com os
acontecimentos do seu tempo, passaram a uma percepção fragmentada, já que a
globalização proporcionou o encurtamento das distâncias reais e a transposição da
materialidade, unindo locais, homogeneizando culturas e unificando tendências.
Harvey (1989) mostra que a partir desta união de interesses, temos um outro
tipo de fragmentação, que se refere a valores e ideais do indivíduo, independente do
local no qual habita. Ideais políticos, de gênero e raciais são exemplos de polarizações
de discussões, de indivíduos que conseguiram se unir pelos seus ideais, rompendo
as barreiras físicas de distância, através da tecnologia.
Portanto, por mais complexos que sejam os conceitos apresentados, eles se
fazem necessários para a análise da identidade do sujeito atual e o quão são
influenciados pela tecnologia, na era global. Além disso, é mais simples compreender
os motivos de Hall (2006) afirmar que o sujeito pós-moderno não possui uma
identidade fixa.
Figura 4 - Representação do sujeito pós-moderno

Fonte: Débora B. Grobe, 2024

Indicação de filme: A Chegada (2016).

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3 CULTURA, SOCIEDADE E SUA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL

A partir da noção de identidade, referindo-se a um único indivíduo, será


abordado o “próximo nível” de compreensão, no sentido de escala ou conjunto de
indivíduos. Por isso, os termos cultura e sociedade requerem maior profundidade de
análise, para aumentar a percepção sobre a identidade do sujeito atual e o que
externamente os influencia.
Para tal, Hall (2006) discute sobre as culturas nacionais, como
“comunidades imaginadas” e como a noção de identificação entre as pessoas
reproduz um pensamento coletivo e cria, o que chama, de identidade nacional. O autor
levanta o questionamento sobre o processo cultural, como uma imposição velada.
Assim, entende-se que a detenção da força dos meios de comunicação cria
uma narrativa de nação, o que enfatiza a tradição. Esta linha segue a premissa de que
o antigo é algo bom e verdadeiro, a fim de disseminar valores e normas de
comportamento social. Hall (2006) nomeia este efeito como “comunidades
imaginadas”, expressão esta que revela uma tentativa de unificar todos os habitantes
em uma única identidade nacional, formada por memórias; convivência em conjunto
e perpetuação da herança cultural.
Assim, a justificativa para que as nações modernas não sejam vistas como
culturalmente heterogêneas, é de que há uma homogeneização velada da diversidade
social local, em prol da perpetuação da cultura nacional, muitas vezes já extinta
(HALL, 2006).
Apesar disso, vale salientar que nem todas as nações seguem os mesmos
moldes, principalmente no que tange às com grandes extensões territoriais, como é o
caso do Brasil. Apesar de uma imagem homogênea para a comunidade estrangeira,
e muitas vezes, repleta de distorções preconceituosas, ainda há uma facilidade maior
de distinção cultural e social, entre as diversas regiões, dando a impressão de padrões
regionais.
Entretanto, a era da globalização trouxe outras abordagens sobre a formação
identitária da sociedade. A extrema conexão, gerada pelo mundo digital, transcende
fronteiras físicas e conecta pessoas e tendências, em tempo real. Tanto Harvey

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(1989), quanto Hall (2006) abordam o assunto, a partir da desintegração das
identidades nacionais, que dão lugar a identidades híbridas.
Figura 1. Identidades nacionais na era global

Fonte: Débora B. Grobe, 2024

Neste sentido, há uma alteração da relação entre espaço e tempo, do ponto de


vista da identidade do sujeito, já que a base do indivíduo e de suas raízes continua
fixa, mas o espaço é cruzado, por meio da diversidade de meios de transporte e de
comunicação. Harvey (1989) nomeia este processo de “destruição do espaço através
do tempo”, tendenciando ao colapso de identidades culturais fortes, já que há uma
gama possível de combinações entre identidades fragmentadas, por um único
indivíduo.
Figura 6 - Elementos formadores da identidade na era global

Fonte: Débora B. Grobe, 2024, adaptado de Pinterest


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Entende-se, portanto, sobre o papel fundamental das mídias neste processo,
iniciado pela TV, mas drasticamente acentuado a partir da disseminação das redes
sociais. A padronização do estilo, moda, lugares e arquitetura, são exemplos de como
os meios de comunicação atuais atuam para gerar desejo e fomentar processos de
compra, que fomentam o capitalismo.

Figura 7 - Padronização na era global

Fonte: Débora B. Grobe, 2024, adaptado de Pinterest


Há a necessidade de se compreender sobre termos que envolvem a arquitetura
e o urbanismo, para então tecer um parâmetro sobre o que acontece hoje, com a
identidade global e a materialização das atividades da sociedade no espaço.
De início, Lefèbvre (2002) mostra a distinção entre “cidade” e “urbano”. O autor
afirma que o primeiro é um objeto definido e definitivo, mais relacionado a território.
Enquanto isso, o segundo apresenta uma síntese das marcas da sociedade. Portanto,
apesar de estarem intrinsecamente relacionados, os dois termos não representam a
mesma coisa. Pode-se complementar este raciocínio, com a afirmação de Benévolo
(1984), de que a cidade serve como um mecanismo para refletir as transformações
da sociedade no espaço, de forma retardada, portanto atua como um mecanismo de
amortecimento, fazendo com que os interesses consolidados durem mais tempo
refletidos no espaço.
Portanto, ao estudar a história da arquitetura e a história do urbanismo, é fácil
perceber as marcas deixadas no espaço, mesmo por civilizações antigas. Esta
percepção não se dá apenas pelos rastros de cidades em ruínas ou em certo grau de
conservação, mas também a partir de uma herança da visão desses povos, sobre
soluções arquitetônicas e traçados urbanos, que são reproduzidos até hoje.
Agora, em referência a todo material descrito anteriormente neste documento,
é fácil perceber que a identidade do sujeito e, consequentemente, a criação de
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identidade cultural atrelada ao espaço (local) e ao tempo (época em questão), ficavam
explícitas na materialização das relações do espaço urbano e nos elementos
arquitetônicos, pois tinham tempo suficiente para se consolidar. A discussão em
questão, iniciada aqui e aprofundada a partir do próximo módulo da disciplina, traz
uma importante reflexão: o acontecimento das identidades híbridas e
fragmentadas trará uma uniformização entre arquitetura e urbanismo, a nível
global ou acarretará em espaços sem identidade e futuramente sem memória,
devido às rápidas mudanças a nível mental, que ditam tendências a nível digital
e global, que não acompanharão na concretização dessas tendências, no
espaço?

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A unidade 1 da disciplina “Arquitetura, Sociedade e Meio Ambiente” foi pautada


pela abordagem de termos e reflexões acerca do indivíduo, sua formação de
identidade e reflexos culturais e sociais criados a partir de um ser humano, que
somado a outros, gera tendências, nos mais diversos sentidos, capazes de se
perpetuarem no espaço urbano e na reprodução arquitetônica.
Para a discussão, foram trazidos dois autores principais, David Harvey e Stuart
Hal, que complementam suas falas em diversos quesitos, mas principalmente na
discussão sobre a transição de identidade do sujeito, de acordo com o espaço e o
tempo em que vive.
Foi preciso estudar tudo isso em seus aspectos filosóficos, antropológicos e
sociológicos, a fim de embasar a visão sobre o significado do ser humano, para que a
consciência dos futuros arquitetos e planejadores urbanos, esteja atrelada à realidade
que os compete, enquanto críticos sobre as necessidades de melhoria na qualidade
de vida do indivíduo da atualidade e das futuras gerações.
Com uma reflexão profunda, a qual finalizou esta unidade de estudo, será
embasado o início da próxima, a qual estabelecerá parâmetros entre a formação
socioespacial brasileira e o futuro da arquitetura e do urbanismo a nível nacional e
global.

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1. REFERÊNCIAS

BENEVOLO, L. A cidade e o arquiteto: método e história na arquitetura. Tradução


de Attilio Cancian. São Paulo: Perspectiva, 1984.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu


da Silva. Guaracira Lopes Louro - 11. ed. - Rio de Janeiro: DP&A, 2006. 104p.

HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1992. 349 p.

LEFÈBVRE, H. A revolução urbana. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2002.

VILLENEUVE, D. A Chegada. CanadáFilmNation Entertainment, 21 Laps


Entertainment, Lava Bear Films. 2016.

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