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O texto vai promover a reflexão sobre as relações entre saber, comunidade e cultura a partir
de uma perspectiva psicossocial. Contexto: entendido como lugar histórico, social, simbólico
e cultural de uma comunidade. Discutir o problema da variabilidade do saber e de como esta
variabilidade se expressa sócio-historicamente. Conceito de polifasia cognitiva de Moscovici.
De acordo com a autora, a Psicologia Social é a ciência do “entre”. Não está no indivíduo ou
na sociedade, “mas precisamente aquela zona nebulosa e híbrida que comporta as relações
entre os dois”. (p.21). É nesse espaço do “entre” que se constitui o objeto específico do
inquérito psicossocial.
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Problema da Representação: Refere-se ao desafio de como os seres humanos representam
o mundo ao seu redor, incluindo a si mesmos e tudo o que existe. A representação envolve
a capacidade de conceitualizar, descrever, comunicar e entender o mundo.
Mundo existente para os humanos: Isso se refere a tudo o que faz parte da experiência
humana, incluindo nossos próprios pensamentos e identidade (o "Eu"), outras pessoas (o
"Outro"), objetos físicos, produtos da cultura, conhecimento acumulado e, basicamente, tudo
o que constitui nossa realidade.
Realidade externa independente do saber humano: Aqui, a autora está destacando que não
está se referindo à ideia de uma realidade externa que existe independentemente da
percepção ou do conhecimento humano. Em vez disso, ele está se concentrando na
maneira como os seres humanos representam e compreendem essa realidade.
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símbolos e significados que governa a comunicação e a compreensão humanas. É a base
da linguagem e da cultura.
Modelo Toblerone: criado por Bauer e Gaskell (1999): dimensão temporal da construção de
significados de senso comum. Os autores representam o triângulo como uma construção
alongada que capta transversalmente o passado, o presente e o futuro de significados de
senso comum. Os autores ressaltam, ainda, que o modelo do Toblerone tem uma
importância particular para o estudo de grupos sociais. Grupos crescem e subdividem-se;
em tais grupos subdivididos há uma variedade de estruturas triangulares dinâmicas
coexistindo, competindo cooperando ou em conflito umas com as outras.
Consequentemente, diferentes tipos de senso comum dominam em diferentes subgrupos,
ao mesmo tempo, e podem seguir diferentes caminhos ao longo do tempo. (Marková, I..
(2017). A fabricação da teoria de representações sociais. Cadernos De Pesquisa, 47(163),
358–375. https://doi.org/10.1590/198053143760)
O conceito foi apresentado por Serge Moscovici como hipótese. Porém, havia evidência
suficiente no material para sugerir que tipos diferentes de racionalidade estavam envolvidos
na construção de representações sobre psicanálise. Racionalidades diversas que aparecem
em um mesmo contexto, no mesmo grupo social e no mesmo sujeito individual. O uso
dessas racionalidades é feito dependendo das circunstâncias e interesses particulares em
um dado espaço e tempo.
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Saber em contexto: re-visitando os pioneiros
Discute a relação entre o conhecimento humano e o contexto social em que ele é formado,
especialmente no campo da psicologia e das teorias das representações sociais. Ele
começa mencionando a ideia de "polifasia cognitiva", que é usada para interpretar os dados
de um estudo sobre psicanálise conduzido por Moscovici. O autor argumenta que Moscovici
estava seguindo uma tradição que se desenvolveu a partir de debates clássicos sobre a
racionalidade do conhecimento no início do século XX, envolvendo psicólogos, sociólogos e
antropólogos europeus.
A autora destaca o livro "Studies in the History of Behaviour: Ape, primitive and child" de
Vygotsky e Luria como um exemplo importante dessas investigações. O livro aborda como
diferentes modos de pensar se desenvolvem em macacos antropoides, culturas
consideradas primitivas e o desenvolvimento da criança, combinando aspectos
evolucionários, históricos e ontogenéticos.
Além disso, o texto enfatiza a importância dos diálogos entre psicólogos russos e ocidentais,
como Köhler, Lévy-Bhrul, Mauss, Durkheim, Rivers, Wertheimer, Kofka e Kurt Lewin, que
contribuíram para os debates sobre a unidade e a evolução da razão. Esses debates foram
influenciados pelas expedições antropológicas que confrontaram os intelectuais ocidentais
com diferentes modos de pensamento de outras culturas, questionando a ideia de uma
racionalidade única.
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O texto conclui destacando o estudo de Vygotsky e Luria no Uzbequistão e no Quirguistão
como um exemplo fascinante de como as mudanças sociais, como as causadas pela
Revolução Russa, podem influenciar o pensamento e o conhecimento das comunidades.
Isso demonstra que tanto o conhecimento quanto a mentalidade das pessoas estão
organicamente ligados ao contexto social em que são produzidos.
No entanto, o texto aponta que mesmo autores como Lévy-Bhrul e Vygotsky, que
questionaram essa visão de progresso, ainda mantiveram elementos dela em seus
trabalhos. Eles reconheceram que diferentes formas de conhecimento coexistem e não
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necessariamente se sucedem linearmente, mas não escaparam completamente da ideia de
progresso.
A autora sugere que os insights de Lévy-Bhrul e Vygotsky são importantes porque desafiam
a visão hierárquica de que há apenas uma forma de racionalidade válida. Eles mostraram
que diferentes lógicas não são menos lógicas, e a tentativa de enquadrá-las em categorias
lógicas próprias revela as limitações de nossa própria lógica.
Moscovici, por sua vez, foi influenciado por esses insights e propôs a ideia de "polifasia
cognitiva", que sugere que diferentes modalidades de conhecimento coexistem e se
relacionam em contextos específicos. Isso abre novas perspectivas para a Psicologia Social,
permitindo o estudo das transformações e intercâmbios entre diferentes modalidades de
conhecimento em relação à cultura e ao contexto social.
Não existe uma única forma de conhecimento, mas muitas formas, refletindo a diversidade
das relações sociais que constituem tanto o conhecimento quanto a comunidade.
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O saber deve ser avaliado em relação ao contexto psicossocial e cultural de uma
comunidade. Isso significa que a racionalidade e a lógica do conhecimento devem ser
avaliadas em relação a esses contextos específicos.
É importante reconhecer não apenas a diversidade dos saberes, mas também a legitimidade
e o status de suas diferentes formas. A autora afirma que o diálogo entre formas diferentes
de conhecimento não apenas é possível, mas também desejável, pois permite encontrar a
estranheza do outro desconhecido e mediar as diferenças que existem entre eles.
Citações
“(...) não há saber que não deseje representar” (p. 20): o processo representacional é ocupa
um lugar central no processo de constituição dos saberes
“Toda base do pensamento moderno está definida em termos de uma razão progressiva e
da capacidade do sujeito do conhecimento colocar a si próprio como objeto e aprender suas
próprias condições de possibilidade.” (p.20) - Consciência da modernidade.
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De acordo com a autora, a Psicologia Social é a ciência do “entre”. Não está no indivíduo ou
na sociedade, “mas precisamente aquela zona nebulosa e híbrida que comporta as relações
entre os dois”. (p.21)
Objeto-mundo: “(...) não há uma relação direta, uma correspondência perfeita entre o ser
humano e o mundo. O objeto-mundo somente se torna nosso conhecido se nós nos dermos
o trabalho de representá-lo.” (p.22)
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“A representação pertence ao entre da comunicação humana e da ação social; não é
produto de uma ação humana fechada em si mesma. Esta visão também descarta aquelas
concepções que negam o papel dos objetos no processo de formação da representação.”
(p.23)
“(...) a representação humana é uma forma de mediação que nunca consegue capturar
plenamente a totalidade de um objeto.” (p.24)
“A ideia de uma escala progressiva que leva a uma forma de saber, mais desenvolvida e
melhor, que serve de norma a todos os outros saberes é invasiva.” (p.26)
“Fica claro aqui que o saber é sempre obra de uma comunidade humana e, portanto, deve
ser entendido no plural. Não há uma forma de saber apenas, mas muitas. Essa variação
corresponde à variação nas formas de relação social que constituem tanto o saber como a
comunidade.” (p.28)
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vida. A preocupação central é entender como o saber local é produzido, sustentado e
defendido por comunidades bem como de que maneira estes processos estão enredados
com categorias psicossociais centrais como a identidade, a memória social e a participação
na esfera pública.” (p.28)
“É importante então reter, acreditar e lutar pela possibilidade de reconhecer não apenas a
diversidade dos saberes, mas também a legitimidade e o status de suas diferentes formas.
Esta diversidade precisa ser entendida para mais além das práticas que localizam o saber
em termos de exclusão, segregação e, nos casos mais extremos, destruição. O diálogo
entre formas diferentes do saber não apenas é possível como é desejável; se o que todo
saber deseja é, de algum modo, dar sentido ao estranho, isso significa dizer que todo saber
é capaz de encontrar a estranheza do outro desconhecido e mediar as diferenças que
encontra.” (p.29)
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