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1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 3
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 CONCEITOS E HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA
O termo sociologia, criado por Augusto Comte (1798-1857), tem sua etimologia
baseada em duas partes: em latim socius, que significa associação em grupo, e em
grego logos, que significa estudo. Da origem etimológica da palavra, pode-se deduzir
que o papel da sociologia é compreender o funcionamento dos grupos sociais, seja
no nível macro - ao redor do mundo, seja no nível micro - por exemplo, as sociedades
quilombolas. Para Schaefer (2016), as pessoas sempre se mostram curiosas sobre
temas sociológicos – interessando-se em entender como nos relacionamos com os
outros, o que fazemos para viver, quem selecionamos para ser nossos líderes. Essa
curiosidade está disseminada nos vários períodos históricos e nas várias formas de
organização, mas não se constitui imediatamente algo que podemos considerar como
uma sociologia ou ciência da sociedade.
Por exemplo, filósofos e autoridades religiosas das sociedades antigas e
medievais fizeram inúmeras observações sobre o comportamento humano, mas não
testavam ou verificavam ‘cientificamente’ essas observações; e, mesmo assim, suas
observações com frequência se tornavam o fundamento dos códigos morais,
tornando-se parte de como a sociedade se compreendia e como se organizava.
Muitos filósofos antigos previam que o estudo sistemático do comportamento humano
e da vida em sociedade seria uma realidade no futuro, mas suas previsões e brilhantes
intuições ainda não são uma sociologia ou psicologia. A partir do século XIX, os
teóricos e intelectuais europeus deram contribuições pioneiras para o
desenvolvimento de uma ciência do comportamento humano e para uma investigação
das relações sociais; é a partir daí que se começa constituir o campo das ciências
humanas, entre elas, a sociologia.
O primeiro ponto a destacar quando falamos de seres humanos é sua
capacidade e necessidade de viver como seres sociais de forma organizada e
interdependente, criando os meios de transmissão e reprodução de valores culturais
e comportamentos sociais. Nesse processo de convivência social, as estruturas que
constituem essas associações mudam e adotam novas formas de viver e agir.
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A vida do homem em sociedade passa por inúmeros movimentos e
reconfigurações ligadas a múltiplos fatores, como o próprio desenvolvimento da noção
de comunidade, dos avanços nas áreas que envolvem as questões econômicas e de
governo, as mudanças de paradigmas nas buscas por explicações para os
fenômenos, entre outros.
O ser humano apresentou, portanto, no percurso de seu desenvolvimento
histórico, inúmeras mudanças nas suas maneiras de viver e relacionar-se em
sociedade, desde as estruturas comunitárias mais simples, como a família, até a
complexidade das grandes corporações empresariais e das relações de governo
atualmente estabelecidas.
A busca pela conceituação do que vem a ser a sociologia enquanto ciência
passa pela percepção e pelo entendimento do conceito de sociedade em si e de como
se organizam e se movimentam os mais diversos grupos humanos e se constituem os
fenômenos sociais.
Temos que destacar que as reflexões em torno de como os seres humanos
vivem e se organizam em sociedade remontam à Antiguidade Clássica, muito antes
da elaboração do conceito de sociologia por Auguste Comte, que surge na
Modernidade, mais especificamente no século XIX. Sobre este fato, Vila Nova (2013,
p. 29) comenta:
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forma de saber a partir da qual outras formas de conhecimento se tornaram possíveis,
pela especialização e determinação de objetos a serem investigados, o que
caracteriza a modernidade e o surgimento da sociologia.
Dentre as variadas posições que buscam uma definição do que seria a
sociologia, importa ressaltar o que diz Lakatos e Marconi (1990, p. 22):
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procurarão, por caminhos às vezes divergentes, refletir sobre a realidade, na tentativa
de explicá-la (TOMAZI, 2000).
As tentativas de busca por explicações das novas realidades no século XVIII
irão servir de base para o surgimento da sociologia como uma ciência que nasce em
meio à solidificação do sistema capitalista. No início do século XIX, pensadores como
Saint-Simon (1760-1829), Hegel (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823), irão fazer
com que Auguste Comte (1798-1857) e Karl Marx (1818-1883) venham a refletir sobre
a sociedade, porém de maneiras extremamente diferentes. Comte irá focar seus
pensamentos na busca por uma filosofia positiva, visando uma explicação para os
fenômenos e a modificação da maneira de pensar do homem utilizando as ciências
existentes na época e propondo uma reforma prática das instituições de caráter
conservador.
Conforme seu trabalho, a sociologia surge como uma “resposta científica” às
questões sociais que emergiram no século XIX, especialmente com o desenrolar da
Revolução Industrial. A sociedade em crise, desorganizada e em situação de caos,
levou Comte e outros pensadores a trabalharem numa resposta e numa saída para
os problemas sociais, tais como a fome, a violência e o desemprego.
Karl Marx e Friedrich Engels, por sua vez, irão analisar os aspectos sociais,
econômicos, políticos, ideológicos, religiosos, entre outros, sem a preocupação de
definição de uma ciência específica para tal, como a sociologia representava para
Auguste Comte. Suas análises procuraram focar as mudanças nos processos
produtivos, o surgimento da sociedade capitalista, visando fornecer aos trabalhadores
condições de melhor analisar o contexto em que se encontram vivendo e as relações
entre as classes que constituíam a base da existência que levam, por isso, a questão
da relação entre trabalhadores e capitalistas colocada em relevo por Marx e Engels.
Comte e Durkheim trabalharam para que a ciência pudesse dar respostas e
direções para o restabelecimento e a manutenção da ordem social. Já Marx viu no
caos a expressão de que as sociedades estavam inevitavelmente se transformando,
e segundo sua compreensão, o despertar das classes trabalhadoras levaria o
processo em direção ao comunismo e a transformação radical da sociedade.
Todos esses teóricos fundamentaram suas investigações, cada um ao seu
modo, em diálogos com parâmetros teóricos e metodológicos oriundos das ciências
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naturais. Buscaram, assim, para a definição das práticas de análise dos fenômenos
sociais uma base científica, pavimentando e desenvolvendo o caminho para os
chamados “sociólogos profissionais” do século XX. Podemos dizer, nesse sentido, que
a sociologia como ciência acadêmica irá afirmar-se a partir das obras de Émile
Durkheim, na França, e de Max Weber, na Alemanha, ambos preocupados em
integrar a sociologia aos aspectos científicos necessários para garantir os métodos e
teorias necessárias para tal afirmação e inserção da sociologia na comunidade
científica.
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enquanto fenômeno social e da vida social. Nesse período, passa-se a considerar a
complexidade das relações humanas, normalmente baseadas na estrutura de
organização política do Estado.
Todavia, são as rápidas transformações decorrentes da Revolução Industrial
as responsáveis pelo grande interesse em medir, projetar e identificar as formas de
relações e comportamentos sociais. Devido à Revolução Industrial, se altera o modo
de produção, consumo e organização social e política na Europa. E isso coloca em
cena desequilíbrios sociais nunca antes conhecidos ou vivenciados. Por isso, os
pensadores e os intelectuais passaram a observar os comportamentos sociais em
busca de uma resposta para as transformações que se sucediam. As dinâmicas
sociais passaram a ser foco não apenas de observação empírica não orientada, mas
do estudo sistemático norteado pela ideia de que era necessário fazer ‘uma ciência
da sociedade’, tal como foi possível fazer uma ciência da natureza, daí a primeiro
nome da sociologia (dado por Comte) ser ‘física social’. Nesse caso, seria necessário,
buscar também fazer as perguntas e os questionamentos ‘corretos’ em relação aos
‘fenômenos’ ou fatos sociais, buscando descrever, analisar e explicar a dinâmica
social e suas formas. Algumas destas perguntas são as seguintes:
Por que essas dinâmicas sociais acontecem desta forma e não de outra? Quais
são os elementos que incidem sobre as organizações sociais? Quais elementos as
tornam estáveis, lineares, ou quais incitam o desejo por ruptura, por revoluções? E,
para os pensadores cujos trabalhos deram origem à sociologia, a questão
preponderante era: como reorganizar ou restabelecer as sociedades após o caos
resultante da Revolução Industrial?
Esses são alguns dos questionamentos que nortearam a definição de
metodologias para a observação e a análise de dinâmicas sociais e culminaram na
delimitação de um campo científico específico, a saber, a sociologia. A ciência das
relações sociais nasce com o estigma de pousar o olhar sobre um objeto instável,
abstrato e difícil de ser controlado, já que a imagem que se esperava de um objeto
passível de ser investigado cientificamente deveria cumprir os parâmetros dos objetos
a serem investigados pelas ciências da natureza, ou seja, apresentar uma suposta
estabilidade e regularidade.
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Por isso também, alguns autores que analisaram brilhantemente seus
contextos sociais e históricos tiveram seus estudos utilizados como base para a
construção da sociologia enquanto campo científico, e seus métodos foram, assim,
considerados integrantes do aporte que deu origem a essa área de estudo e a
diversidade de propostas e abordagens que ela apresenta, configurando, aos poucos,
uma cientificidade que não poderia se confundir com aquela das ciências da natureza
ou ser simplesmente determinado por elas.
Entre eles, destacam-se, como já indicamos, Auguste Comte, Karl Marx, Émile
Durkheim e Max Weber. Desses autores, apenas Karl Marx não define claramente
etapas ou métodos de análise e interpretação de interações sociais com o objetivo de
criar uma abordagem científica a ser retomada por futuros pesquisadores. Todavia, a
forma de organização de sua leitura sobre as estruturas sociais oferece.
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Moralmente neutra — este aspecto refere-se ao não estabelecimento de
juízos de valores que falamos antes; porém, o sociólogo possui
compromisso moral com a verdade que foi buscada através da observação
realizada sobre os fenômenos sociais. É preocupação dos sociólogos,
também, não permitir que suas questões morais pessoais interfiram nos
resultados de suas análises, nas suas percepções e leituras sobre as mais
diversas realidades sociais que estejam sendo observadas/ pesquisadas.
A transitoriedade — a sociologia estabelece o estudo de fatos que venham
a acontecer na sociedade com uma certa regularidade. Esta observação,
porém, pode ser modificada com o próprio desenvolvimento ou
reconfiguração destes aspectos observados pelo pesquisador com o passar
do tempo. Ou seja, as teorias e análises sociológicas efetuadas
anteriormente sobre algum fato social poderão vir a ser reformuladas em
observações posteriores sobre este mesmo objeto pesquisado, o que
caracteriza este aspecto da transitoriedade.
A busca pela classificação — Nesse caso, as atividades do sociólogo vão
além dos pressupostos estabelecidos pelo método científico, como a
elaboração de hipóteses, a observação em si, as generalizações típicas e a
criação de teorias. O sociólogo também se encarrega da busca pela
classificação dos fenômenos que ocorrem no tecido social. Essas
classificações são observadas nos esforços em dividir a sociedade em
partes, como grupos, culturas, categorias, castas, classes, entre outros.
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3 FUNÇÕES DA SOCIOLOGIA
Como vimos até agora, a Sociologia surge como ciência no século XIX, com o
objetivo de realizar análises sobre a sociedade em suas inúmeras relações e
dimensões, procurando mapear as causas e os aspectos que contribuem para a forma
de ser da organização social, classificando, analisando e interpretando os fenômenos
e inspirando hipóteses explicativas sobre os objetos e fenômenos pesquisados que,
por sua vez, originam-se na própria sociedade.
Os fatos sociais são aqueles que compõem a organização da sociedade
estruturada e realizada pelos efeitos de normalização e padronização sociais
estabelecidos nas regras de conduta, nas ideias e pensamentos aceitos e vivenciados
em um contexto social. Estes fatos são sempre exteriores ao indivíduo, ou seja, não
dependem dos aspectos internos destes e, sim, do esforço coletivo e social no
estabelecimento destas normas de convivência criadas e impostas desde o nosso
nascimento.
Os fatos sociais irão apresentar três características: exterioridade,
generalidade e coercitividade. A generalidade diz respeito ao que comentamos
anteriormente, o caráter coletivo que se faz presente e determina, para todos, como
agir e existir neste grupo social. A exterioridade traduz a condição de ser exercido e
estabelecido fora da consciência individual, ou seja, externo às questões pessoais
intrínsecas ao sujeito. A coercitividade, por fim, remete ao dever, à obrigação em
acatar e seguir as determinações que foram estabelecidas na sociedade em que
vivemos.
Partindo da definição do fato social, tido como o objeto de estudo da Sociologia,
cabe ao sociólogo a problematização do mesmo, procurando percebê-lo por diversas
maneiras e buscando a sua contextualização mais exata, suas origens, as causas de
seu estabelecimento como regras de conduta e compreensão científica dos fatores
que contribuíram para que estes fossem instituídos.
Nossa vida em sociedade apresenta muitas facetas e dimensões diversas que
nem sempre são facilmente observáveis, pois o convívio humano acaba disfarçando-
as através das inúmeras práticas culturais (com seus símbolos, valores e normas) dos
grupos envolvidos em suas interações. Baseado nestas questões, Vila Nova (2013, p.
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218) comenta que “[...] à Sociologia cumpre precisamente ir além das aparências
físicas da vida social e penetrar nas camadas mais profundas da sociedade para
compreender a “lógica” oculta da sua organização [...]”.
Esta lógica oculta citada pelo autor muitas vezes poderá ser percebida pelo
sociólogo através das problematizações, dos levantamentos e das inserções no
campo social, no qual serão mapeados os detalhes que envolvem as relações e
interações entre as pessoas.
Outra função interessante que pode ser atribuída à Sociologia relaciona-se com
a sua possibilidade de vir a transformar-se em instrumento de intervenção social,
utilizando-se, para isso, do chamado planejamento social.
Dentro da lógica das atribuições do sociólogo que contribuem diretamente para
o planejamento social estão as atividades de avaliação e monitoramento sobre os
projetos públicos que estão sendo colocados em prática pelas esferas
governamentais, por exemplo.
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Podemos, assim, visualizar muito bem o conceito de fato social proposto por
Durkheim na educação, uma vez que ela irá se encarregar de ensinar as regras e
condutas e educar os membros para viver em sociedade. Podemos nos questionar,
seguindo este viés, sobre o que se aprende na escola. Qual a função desta instituição
em nossas vidas? Durkheim diria que sua principal função é preparar o indivíduo para
a vida em sociedade. Segundo Tomazi (2000, p. 18), o próprio conceito de instituição,
para Durkheim, leva a esta resposta, uma vez que “para ele, uma instituição é um
conjunto de normas e regras de vida que se consolidam fora dos indivíduos e que as
gerações transmitem umas às outras. Há ainda muitos outros exemplos de
instituições: a Igreja, o Exército, a família, etc.” Desta maneira, entende-se, que os
processos pedagógicos se configuram enquanto fatos sociais, pois determinam a
existência dos indivíduos de maneira objetiva, sem que eles possam escapar das
condições que lhe são dadas no âmbito de um contexto social.
Max Weber, sociólogo alemão nascido em 1864 e falecido em 1920, entendia
que as análises da Sociologia deveriam recair sobre os atores sociais e suas ações.
O principal de suas ideias, em contraposição a Durkheim, é que Weber não via a
sociedade como algo superior e exterior aos indivíduos e sim, como o resultado de
um conjunto de ações recíprocas desses indivíduos. Baseado nesta ideia,
estabeleceu o conceito de ação social.
Nas palavras de Weber (1991, p. 3), a ação social “[...] significa uma ação que,
quanto ao sentido visado pelo agente ou os agentes, se refere ao comportamento de
outros, orientando-se por este em seu curso [...]”. Um exemplo bem simples e
frequentemente adotado na escola que ilustra uma ação social, segundo as ideias de
Weber, seria a fila. Os alunos vão posicionando-se em coluna, um após o outro,
seguindo uma ordem naturalizada de agir socialmente que já faz parte do sujeito, ou
seja, sua subjetividade já internalizou a fila como algo a ser feito. Esta é a principal
diferença entre Weber e Durkheim, pois Weber entendia que internamente o indivíduo
ia significando, dando sentido às coisas e, assim, ia mudando e condicionando seu
comportamento.
Outro conceito muito utilizado por Weber diz respeito à noção de poder, porém
um poder não localizado num lugar específico, como o Estado, por exemplo, mas que
perpassa todos os aspectos sociais e que não se relaciona somente com a questão
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econômica. Em sua perspectiva, o poder acontece quando um grupo, uma pessoa, o
estado, podem impor a sua vontade. Entendia, nesse sentido, a sociedade como um
sistema de poder que se manifesta em todas as esferas:
O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu-me de fio
condutor aos meus estudos pode ser formulado em poucas palavras: na
produção social da própria vida, os homens contraem relações determinadas,
necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção estas
que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento das suas
forças produtivas materiais. [...] não é a consciência dos homens que
determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua
consciência.
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Por ter este entendimento de como as questões materiais interferem e
condicionam os indivíduos é que Marx irá desenvolver suas análises sobre as classes
sociais existentes, entendendo que os indivíduos agem de acordo com o que é
regulado no interior da classe a que pertencem. Fica nítido em suas obras, o estudo
dos embates, sobretudo, entre a classe capitalista e a trabalhadora. Destas ideias
resumidas aqui, irá despontar o materialismo histórico e dialético, proposto por Marx
e Engels, no qual emerge o caráter revolucionário na figura do cientista social
enquanto intelectual engajado que deveria propor mudanças radicais na organização
social.
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A escolha do objeto a ser pesquisado pelo sociólogo estará relacionada ao rol
de questões possíveis dentro do grande universo das interações humanas que
ocorrem na sociedade. Sobre este objeto a ser analisado, será aplicada, num primeiro
momento, uma pesquisa bibliográfica minuciosa, seguida, então, da aplicação dos
instrumentos de coleta de dados e das metodologias típicas da ciência, como os
questionários, as entrevistas, as observações e as pesquisas de campo.
Segundo Becker (1994), por mais ingênuo ou simples nas suas pretensões,
qualquer estudo objetivo da realidade social, além de ser norteado por um arcabouço
teórico, conforme mencionamos, deverá informar a escolha do objeto pelo
pesquisador e também todos os passos e resultados teóricos e práticos obtidos com
a pesquisa.
As etapas sugeridas pelo esquema anterior são importantes na condução de
um processo sério de pesquisa sociológica e garantem o respaldo científico dos
resultados conquistados com a mesma. Segundo Boni e Quaresma (2005, p. 72), “[...]
as formas de entrevistas mais utilizadas em Ciências Sociais são: a entrevista
estruturada, semiestruturada, aberta, entrevistas com grupos focais, história de vida e
também a entrevista projetiva [...]”. Dependendo do tipo de objeto a ser investigado,
do acesso ao público que se requer e da disponibilidade do pesquisador, um destes
tipos específicos poderá ser escolhido.
4 INDIVÍDUO E SOCIEDADE
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Bourdieu (1930-2002), dois importantes estudiosos do mundo e das sociedades
contemporâneas, têm uma visão mais atual e ampliada da relação indivíduo e
sociedade, já que pensam as sociedades em um momento posterior às formulações
dos clássicos da sociologia, podendo desenvolver suas teorias conforme um
distanciamento crítico e o estudo aprofundado dos primeiros autores (Durkheim, Max
Weber e Karl Marx).
Para Norbert Elias (2008), por exemplo, o conceito de indivíduo é um dos mais
confusos e ambíguos da sociologia e das ciências humanas se geral e se apresenta
como insuficiente para o tratamento do lugar do sujeito humano enquanto fenômeno
singular no âmbito das relações sociais. Neste sentido, ele critica e se afasta do
individualismo metodológico assumido por Weber (1999), contribuição fundamental de
Weber para formação da sociologia enquanto ciência e, em especial, para os estudos
sobre o estado e as relações de poder.
Segundo Weber (1999) o Estado se manifesta como uma “[…] relação de
dominação de homens sobre homens […]”, na qual os dominados submetem-se à
autoridade invocada pelos dominantes (WEBER, 1999, p. 526). Visando a teoria do
Estado de Weber e a concepção monádica de indivíduo que ela implica, a crítica de
Elias (2008) se baseia no fato de que a “[…] pessoa está em constante movimento;
ela não só atravessa um processo, ela é um processo” (ELIAS, 2008, p. 129).
Deste ponto de vista, a noção de indivíduo não atinge a espessura da pessoa
enquanto se faz e faz um contexto social conforme sua condição ‘ontológica’ de ser e
estar em processo em relação com outro. As relações de poder, nesse caso, não
seriam apenas a dominação de um sobre o outro, mas o jogo entre pessoas que estão
em constante movimento no processo social de reprodução do poder.
Para Elias (2008), o indivíduo é dependente de outros, mesmo que seja seu
desejo ser independente e possa construir sobre si a ilusão de um ser ‘separado’ ou
ausente das relações sociais. Essas ilusões de independência, medidas por uma
concepção monádica de subjetividade, se torna confundível com os “fatos”, afinal
“esta pessoa estática é um mito.” (ELIAS, 2008, p. 131).
Para Viveiros de Castro (2002), antropólogo e sociólogo brasileiro, a sociedade
pode ser compreendida como um atributo basilar inerente ao ser humano, como uma
predisposição genética de sua natureza à vida social, mas também como um
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desdobramento complexo de possuir e construir uma cultura. Ainda que tal afirmativa
seja bastante comum no pensamento social, diversos estudiosos defendem que a
sociedade não é uma característica exclusivamente humana, tendo em vista a
existência de diferentes organizações sociais nas mais diversas formas de
organização da vida (MORIN, 1991). Contudo, o que interessa não é exatamente a
existência de outras sociedades inerentes às formas de vida, mas o modo como se
constitui uma sociedade humana, como ela se diferencia de outras possíveis. Essa
diferença se esclarece pela ideia de cultura.
Em sociologia e antropologia, é comum a concepção de que o ser humano é a
única espécie animal que através de suas relações produz o que historicamente
denominou-se de cultura (LARAIA, 1993; GOMES, 2008). Conforme esse aspecto,
o que caracteriza a sociedade humana é a constituição da ‘cultura’ a partir da
produção e do acúmulo de conhecimento e de valores simbólicos (GEERTZ, 1989).
Nesse sentido, a sociedade define-se pela produção cultural e pelo caráter normativo
do comportamento humano, portanto, uma organização que transcende as
regulações instintivas resultantes da evolução biológica, constituindo-se a partir de
regras extrassomáticas e que se apresentam como linguagem e como manifestação
e produção de sentido. Conforme indica Viveiros de Castro (2002), tais “regras”
assumem um valor prescritivo-regulativo (pensadas na relação com o estruturalismo-
funcionalismo), podendo também ser compreendidas no sentido cognitivo e
discursivo-constitutivo, pensadas a partir do estruturalismo e da antropologia
simbólica.
Segundo Geertz (1989), a compreensão que podemos ter do ser humano
perpassa estruturas significantes constituintes do que podemos denominar como
cultura. São essas estruturas, o processo de produção, acúmulo e transmissão da
cultura que fizeram a sociedade humana tal como a conhecemos. Para o autor, tais
estruturas podem ser entendidas como a própria cultura e a ‘essência’ fundamental
dos seres humanos, sendo ainda o solo dos saberes que podemos constituir sobre o
que somos e como vivemos. Elas têm um valor essencialmente semiótico, cuja base
de interpretação é o signo, o comportamento simbólico, entendido como uma teia de
significados tecida pelo próprio ser humano e na qual ele se enreda.
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Durkheim, um dos nomes mais importantes do pensamento social, foi também
um dos primeiros a pensar o método sociológico e a consolidação da sociologia como
ciência, construindo também uma teoria da relação entre indivíduo e sociedade, que
marcará fortemente as teorias sociológicas posteriores. Como sujeito de seu tempo,
Durkheim viveu em uma época em que o positivismo era o paradigma científico
dominante. Ao lado dessa corrente teórica, as ciências sociais no contexto do final do
século XIX e início do século XX basearam-se em uma forma específica de interpretar
as ideias darwinianas sobre a evolução das espécies e a organização social. A
publicação do livro A Origem das Espécies em 1859 de Charles Darwin (2002)
representa um marco teórico tanto para a biologia quanto para as ciências sociais,
instituindo um parâmetro de cientificidade que será perseguido pelos primeiros
cientistas sociais.
No livro As regras do método sociológico, Durkheim (1999, p. 65) concebe uma
morfologia social para classificar os tipos de sociedade, atribuindo o fato social a uma
"determinada fase" do desenvolvimento de uma dada sociedade e "a fase " é
interpretada de acordo com o seu desenvolvimento. Assim, Durkheim (1999) distingue
a solidariedade orgânica da solidariedade mecânica ao apontar que a primeira,
entendida como resultado da divisão social do trabalho, caracteriza as sociedades
civilizadas, enquanto a segunda corresponde às sociedades consideradas
"primitivas". A morfologia social de Durkheim enfatiza o funcionamento da sociedade
especificando as funções desempenhadas pelos sujeitos no organismo social e,
portanto, conforme sua determinação ‘funcional’ nos diversos contextos sociais.
Dessa forma, Durkheim (1999) definirá a sociedade como um todo orgânico e o
indivíduo como um produto do social que emerge deste todo, e demonstrará a
interdependência da consciência coletiva em relação às formas de existência
particular possíveis de serem assumidas pelos indivíduos em contextos sociais
específicos.
De acordo com Durkheim (1999), entende-se, portanto, que a sociedade rege
e conforma a existência do indivíduo, criando seu comportamento e seu mundo
simbólico através de processos sociais específicos. Daí o objetivo da sociologia, ser
definido como estudar todos os fenômenos que ocorrem dentro da sociedade,
pensando-os através do conceito de fato social, instrumento pelo qual o autor busca
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dar especificidade ao objeto da sociologia, entendendo que é preciso estudar, através
da sociologia, todos os fenômenos que acontecem em sociedade quando eles
apresentarem certa generalidade e certo interesse social. De acordo com essa
perspectiva, o indivíduo deve ser estudado e considerado pela seu agir enquanto
expressão da consciência coletiva, isto é, pelos seus hábitos partilhados com outros
e funções desempenhadas regularmente (DURKHEIM, 1999).
Para Durkheim, portanto, as ações das pessoas são condicionadas à
sociedade; nesse sentido, a compreensão do indivíduo só ocorre através da
compreensão da consciência coletiva. Para ele, os fenômenos sociais devem ser
examinados como coisas, ou seja, fora do indivíduo, mesmo que acredite que tais
fatos sociais só possam ser realizados por meio das ações das pessoas na sociedade
(DURKHEIM, 1999). Segundo Durkheim (1999, p. 28), “é necessário, portanto,
considerar os fenômenos sociais em si mesmos, à parte dos sujeitos conscientes que
os concebem; é necessário estudá-los de fora, como coisas externas, pois essa é a
qualidade com que nos aparecem”. A partir disso, pode-se concluir que Durkheim
propôs como meta da sociologia investigar o indivíduo do ponto dos fatos sociais, sem
os quais ele não pode ser compreendido (SELL, 2002).
A partir de uma formação interdisciplinar (economia, filosofia, história, direito,
etc.), Karl Marx desenvolveu uma compreensão das relações entre sociedade e
indivíduo, segundo um modelo de análise social centrado nas forças produtivas,
considerando-as como base de todas as relações sociais e tendo como sustentação
metodológica o materialismo histórico e dialético. Segundo Marx (1982),
Para Karl Marx (1999), a luta de classes é concebida como o fator histórico
mais importante que permeia as relações de produção na sociedade capitalista e de
toda história humana. Em síntese, Marx (1996) enfatiza a predominância do conceito
de “trabalho” como elemento fundamental das relações sociais e a ideia da
indissociabilidade da economia e da política e da cultura. Propôs-se, assim, uma
compreensão da sociedade baseada em estruturas econômicas, com as forças
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produtivas no centro, tal como pode ser reconhecida na passagem de seu texto
Prefácio à Contribuição para a crítica da economia política, citada acima. De acordo
com o que escreve Leme (2006), essa indissociabilidade diz respeito à base
metodológico-abrangente da teoria marxista, cujo o valor semântico e alcance
epistemológico nos leva à impossibilidade de separar a esfera cultural e política da
econômica, pois o próprio trabalho é o elemento regulador da ação humana. (LEME,
2006).
O conceito de estrutura social é um determinante na abordagem sociológica de
Marx. Ele corresponde às forças produtivas que formam a base da economia
(infraestrutura) e as relações simbólicas que emergem desta base, denominada, por
ele, superestrutura. No âmbito da superestrutura, encontramos, no que lhe concerne,
as forças coercitivas que produzem ideologias que sustentam o Estado, tais como as
formas de compreensão da política, da religião e da educação e orientam e justificam
o modo como relações de trabalho são constituídas em determinado nível de
desenvolvimento histórico e social. Por isso, Marx (2008, p. 46) mostra que “na
produção social de sua própria existência, as pessoas entram em certas relações
necessárias independentemente de sua vontade” e conclui que “a consciência das
pessoas” não “determina sua essência”. A estrutura econômica corresponde às
relações de produção que determinam a consciência individual, enquanto a
superestrutura está ligada às dimensões ideológicas do Estado, assumidas por cada
indivíduo, já que, na perspectiva de Marx, as ideias dominantes em uma sociedade
são aquelas das classes dominantes. Neste sentido, Marx e Engels (1976, p. 24):
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estão implicados e se desenvolvem, já que o indivíduo “está reservado para ações
cuja intenção está relacionada ao comportamento dos outros pelos sujeitos envolvidos
e é orientada para ele” (WEBER, 2002, p. 11).
Max Weber propõe, portanto, uma teoria sociológica baseada na compreensão
das ações sociais e não na determinação da vida em sociedade como fato social que
deve repetir a objetividade dos fenômenos da natureza, como em Durkheim. Segundo
Weber (1979), a sociologia deseja e necessita ser abrangente porque o seu sujeito é
o próprio homem, mais precisamente a ação social que caracteriza o ser humano. Isso
significa “uma ação que, no sentido do agente ou agentes, se refere ao
comportamento de outros por ele controlados” (WEBER, 1991, p. 3).
Embora Weber (2005) aponte a ação social seja elemento fundamental de sua
teoria, ele não abole a constrição social do indivíduo em relação ao que também
chama de estrutura "jaula de ferro", termo a partir do qual ele busca mostrar que a
racionalização das relações econômicas e políticas do mundo contemporâneo
acabam por determinar a pobreza do indivíduo em relação a sua própria ação
enquanto resposta ao mundo social que é o seu mundo-da-vida. Nesse contexto, a
ação social de Weber deve também ser entendida em termos dos processos pelos
quais o indivíduo é forçado a se comportar de uma determinada maneira do ponto de
vista social.
De certa forma, uma das coisas que une as teorias clássicas estudadas até
aqui, é que todas elas enfatizavam uma visão do indivíduo como “prisioneiro das
estruturas sociais consolidadas" (FREITAG, 1992, p. 106). Weber rompe com a
perspectiva determinista de Durkheim e se considera um crítico dos princípios
coletivistas de Marx. No entanto, ele não pode deixar de reconhecer que o processo
de racionalização da sociedade capitalista aprisionou o indivíduo em uma existência
burocratizada e empobrecida. Dessa forma, a ação social é imperativa da
singularidade, representando um possível grau de liberdade a ser conquistado pelo
sujeito; mas também implica na identificação de uma “gaiola de ferro”, ou seja,
processos de determinação e subjetivação do indivíduo que escapam a ideia de uma
escolha essencialmente livre, já que no sentido de Weber: “a sociedade e o indivíduo
funcionam segundo a racionalidade instrumental, materializada nas estruturas da
economia e do Estado” (FREITAG, 1992, p. 109).
25
5 CULTURA E SOCIEDADE
26
princípio do evolucionismo, transposto apressadamente da biologia para o estudo das
sociedades humanas, considerando a existência de uma escala evolutiva de avanço
cultural que as sociedades primitivas teriam que passar para chegar ao nível das
chamadas sociedades civilizadas. Por isso, apesar da importância histórica de sua
definição e do valor descritivo e semiológico de seus trabalhos, ele acabou por
confirmar uma concepção ‘ideológica’ da cultura europeia, pela qual os povos da
Europa eram situados como ‘superiores’ a povos de outras culturas.
Franz Boas (1858-1942), considerado o inventor da etnografia moderna e
pioneiro dos estudos observacionais diretos das sociedades primitivas, se opôs ao
evolucionismo de Tylor, contribuindo para o surgimento de um conceito
contemporâneo de cultura, baseada no esforço de entender a cultura como uma
dimensão independente da constituição biológica dos indivíduos. Boas advogava,
nesse sentido, a ideia de que as diferenças entre os povos não se davam em termos
biológicos e raciais, tampouco indicavam para uma ‘espiritualidade’ superior ou
inferior, mas se davam em termos culturas que marcavam diferenças e não formas de
existência cultural inferiores e superiores. Nesse caso, o entendimento da cultura
deveria se dar pela via da diferença e pelo aprendizado desse olhar do outro que deve
constituir a visada teórica do antropólogo e também do sociólogo.
Face às diversas narrativas e usos do termo cultura, é possível adotar três
concepções fundamentais, que segundo Cuche (2002) se denominam da seguinte
forma:
Formas de vida de um grupo;
Obras de arte, utensílios humanos, atividades intelectuais e de
entretenimento;
Desenvolvimento social e os fatores que o determinam.
27
A segunda concepção é dotada de uma visão mais restrita da cultura e diz
respeito às obras e práticas de arte, atividade intelectual e entretenimento entendidos
principalmente como atividade econômica, mas também como práticas sociais nas
quais os seres humanos estão unidos tendo como objetivo a fruição e o
desenvolvimento de aspectos de ‘sua ‘cultura. Essa concepção visa significados
específicos e tem como objeto as formas de experimentação cultural no campo da
arte, mas pode englobar fenômenos sociais como assistir uma partida de futebol e
mesmo ir ao cinema, frequentar um grupo social e adotar um corte de cabelo ou forma
de se vestir. Com base nesses significados, podemos, portanto, identificar e realizar
atividades culturais com finalidade socioeducativa, para estimular atitudes críticas e
propor aos indivíduos uma ação política em seu espaço de vida, para o crescimento
cognitivo de todas as pessoas, incluindo pessoas com necessidades especiais ou
pessoas com deficiência. As atividades culturais são uma importante ferramenta para
estimular atitudes críticas e enfrentar problemas sociais como a violência, por
exemplo.
O terceiro conceito de cultura sublinha o papel que determinadas práticas
desempenharam para o desenvolvimento social. Para Canclini (1987), a cultura é
considerada como parte da socialização de classes e grupos na formação dos
conceitos políticos e do estilo da sociedade nas diferentes linhas de desenvolvimento.
Cultura pode ser entendida atualmente como um conceito mais amplo: todos os
indivíduos tornam-se produtores culturais, as atividades artísticas se concentram na
produção cultural e a cultura torna-se um instrumento de desenvolvimento político e
social, onde o campo cultural se funde com o social.
28
5.2 O que é sociedade?
Fonte: encurtador.com.br/efDNY
29
autores discutidos no livro tenham matrizes teóricas divergentes, suas análises
mostram certas convergências na compreensão da sociedade moderna.
O argumento central é que as teorias mais relevantes sobre as sociedades
partem de três conceitos básicos: sociedade como estrutura; a sociedade como
solidariedade; e a sociedade como processo criativo. Essas três ideias, originalmente
formuladas no final do século XIX, mudaram significativamente ao longo do tempo.
Alguns autores destacam as múltiplas maneiras pelas quais esses três sentidos estão
conectados, ora entrelaçados, ora tendo relações conflitantes.
A concepção de sociedade como uma estrutura procura enfatizar os aspectos
de disputa, conflito, competição e rivalidade entre os agentes sociais e as
determinações da conduta humana por normas que escapam à dimensão da
subjetividade (ELLIOT; TURNER, 2012). Por isso, também abrange dimensões morais
e códigos de conduta que permeiam as relações sociais. Interessante lembrar, que a
sociologia surgiu exatamente como discurso da ordem social, proclamando o primado
da estrutura social sobre a existência dos indivíduos e enfatizando o poder das normas
sociais na conformação e determinação de seus comportamentos.
A sociologia, portanto, já em sua origem tem em sua base a ideia de que o ser
humano é produzido pela estrutura social e que ele se constitui conforme a
objetividade do fato social tal como entendido por Durkheim. Nesse sentido, Elliot e
Turner, consideram que apesar de toda diferença existente entre os fundadores da
sociologia (Comte, Durkheim, Marx e Weber, entre outros), há certa convergência
quando eles parecem ressaltar o caráter estrutural e objetivo da sociedade como
condicionante da vida do indivíduo.
No que tange ao entendimento da sociedade como solidariedade, a primeira
formulação importante encontra-se também em Durkheim. O autor do livro As regras
do método sociológico, indicou que a configuração da solidariedade predominante nas
sociedades modernas propicia uma reciprocidade moral nas interações sociais,
constituindo o assentamento onde a ordem social encontra seu fundamento e
significado simbólico. Karl Marx, por outro lado, descreveu a possibilidade dos laços
de solidariedade, ao salientar o aprisionamento da existência humana pela lógica da
exploração do 'homem pelo homem' que caracteriza o mundo moderno e também a
história humana, mas que pode ser ultrapassado pela compreensão dos limites e do
30
alcance dos laços de solidariedades que unem e separam os seres humanos. Dessa
maneira, ele ressaltou que as relações sociais se encontram submetidas a um
determinado tipo histórico de divisão de trabalho que se impõe aos indivíduos,
independentemente de suas vontades, mas que não são as únicas formas possíveis
de estruturação da existência e organização do mundo do trabalho. Os laços de
solidariedade, compreendidos desta perspectiva, surgem entre os indivíduos como
condicionados pelo modo como eles produzem e reproduzem sua vida, conforme as
relações de trabalho assumidas, de acordo com o lugar que ocupam no mundo da
produção.
Em sua obra, Max Weber, procurou libertar a sociologia de conceitos
deterministas ou coletivistas que, segundo sua percepção, estariam na base da
concepção funcionalista de Durkheim e também da teoria da história e da sociedade
de Marx. Nesse sentido, Weber enfatizou a temática da coesão social, descrevendo
os conceitos de sistema e estrutura burocrática da cultura moderna, mas também
salientando o papel da interiorização de normas sociais no processo de reprodução
da sociedade e da constituição dos laços sociais de solidariedade como base das
diversas instituições que compõe o campo social. Nesse caso, o que está em jogo
são as ações sociais, práticas pelas quais os indivíduos se formam e não somente
são condicionados.
Eliott e Turner (2012), entendem que a concepção da sociedade como
solidariedade possui longa trajetória na análise sociológica e nas ciências humanas.
Em sua fase inicial, esta formulação procurava combater intelectualmente as
concepções utilitaristas, individualistas e o conceito de homo economicus, dada sua
incapacidade de compreender a importância dos vínculos sociais. Por isso, cabe
reconhecer a importância, para a sociologia, das tradições de análise social de viés
anarquista do tema da solidariedade. Os anarquistas priorizam a valorização das
relações de reciprocidade e auto-organização. No mesmo momento em que Marx
constituía seu discurso sobre a luta de classes como motor da história, Pierre-Joseph
Proudhon, tipógrafo e um intelectual anarquista, entendia ser necessário pensar
essas exceções onde os laços de solidariedade acontecem e as relações de
mutualismo se tornam possíveis e fundamentais, àqueles que ‘respiram do mesmo ar’
(SOBRAL, 1999, p. 18).
31
Elliot e Turner (2012), chamam a atenção também que uma parcela
considerável da teoria social contemporânea tem se preocupado com o acontecimento
da criatividade nos planos social e político. Inspirando-se nas reflexões de Georges
Simmel (1958 – 1918) que, no momento em que a sociologia se formava como uma
ciência 'rígida' dos fatos sociais, concebia a sociedade como uma trama complexa de
relações entre seres humanos, abrindo espaço para o estudo sociológico da iniciativa,
da criatividade e do erotismo nos processos interacionais.
A questão é que a sociologia em seu desenvolvimento se depara com o
fenômeno da vida social enquanto intersubjetividade, para além da determinação
completa do indivíduo pelo fato ‘social’, mas conforme sua inserção em uma vida
'social' que é instituição. Uma instituição, no sentido mais amplo possível do termo,
não apenas um conjunto de normas, rígidas e comportamentos sedimentando, mas
também o movimento criativo no qual um sentido cultural, existencial e social é
transformado. Não se trata apenas do que está dado ou solidificado de uma vez por
todas, mas de um sentido aberto que desde o seu surgimento torna possível um
porvir.
Quando se considera a criatividade se exalta um conjunto de valores bastante
preciso que contemplam a esfera da liberdade. Assim, se considera que os fenômenos
sociais também possuem dimensões de curiosidade, inovação, sentimento de alegria
de participar da vida social, a busca de comunicação e uma possível atitude de
tolerância nas relações sociais. A criatividade apresenta uma faceta ambivalente,
contingente, dialética, pois, na encruzilhada entre a concreta possibilidade de
inovação e os limites impostos pelas determinações sociais e culturais, torna-se,
possível entender a existência social como situação e circunstância de um ser (o
humano) que, simultaneamente, emerge das relações sociais e pode também
transformá-las.
32
Quando observamos as pessoas à nossa volta, tendemos mais a notar-lhes as
idiossincrasias (maneira pessoal de ver, sentir e reagir; propensão) e singularidades
pessoais do que as semelhanças. Charles Cooley (1969) diz:
Não se dá o caso de que, quanto mais próxima estiver uma coisa do nosso
hábito de pensamento, tanto mais claramente vemos o indivíduo? O princípio
é muito semelhante ao que faz que todos [os chineses] nos sejam muito
parecidos; vemos os tipos por ser tão diferente daquele que estamos
acostumados a ver, mas somente quem vive dentro dele é capaz de perceber
plenamente as diferenças entre os indivíduos.
33
em grande parte, “ideacional”: refere-se aos padrões, às crenças e às atitudes em
função dos quais agem as pessoas (CUCHE, 2002).
A importância da cultura reside no fato de que ela fornece o conhecimento e as
técnicas que permitem aos humanos sobreviver física e socialmente e dominar e
controlar o mundo ao seu redor, tanto quanto possível. O homem é o único animal que
tem cultura; de fato, é aí que reside uma das diferenças cruciais entre humanos e
outros animais.
Importante na definição de cultura é que ela é designa simultaneamente
experiências que podem ser aprendidas e compartilhadas. O comportamento
universal, isto é, as formas de reação biológica mais básicas dos seres humanos,
embora não aprendidas socialmente, ou mesmo comportamento peculiar ao indivíduo,
não se restringem, em princípio, ao mundo da cultura. Todavia, não apenas
comportamentos não aprendidos, como reflexos, mas também peculiaridades
pessoais podem ser influenciadas ou modificadas culturalmente.
6 TEORIAS SOCIOLÓGICAS
34
No século XX, essas teorias levaram a correntes sociológicas específicas,
como o funcionalismo, a teoria do conflito, o estruturalismo, o interacionismo simbólico
e o marxismo sociológico. Além disso, as mudanças entre o final do século 20 e o
início do século 21 desencadearam novas perspectivas sobre e a partir da sociologia.
No entanto, essas novas perspectivas continuam buscando referências nas teorias
clássicas, o que torna fundamental estudá-las.
35
6.1.1 Augusto Comte e o positivismo
36
as causas dos problemas sociais e suas possíveis soluções não poderiam derivar de
leituras teológicas ou metafísicas, mas somente de uma abordagem científica.
Os fenômenos sociais, como os naturais, seriam regidos por leis. Para prever
e controlar determinadas situações sociais, seria necessário observar e conhecer tais
leis, como é o caso dos fenômenos da natureza. Essas leis não seriam influenciadas
por elementos externos como movimentos históricos, mas seriam constantes e
verificáveis. O caos que surge de tempos em tempos em algumas sociedades
resultaria, portanto, do desrespeito e do desconhecimento das leis dos fenômenos
sociais, mas conhecê-las permitiria a previsibilidade.
A previsibilidade inerente à compreensão das regularidades dos fenômenos
sociais constituiria o chamado espírito positivo, que culminaria no bem-estar social.
Para Comte (2016), o termo “positivo” era produto da observação da realidade,
afastada de paixões políticas e religiosas ou de qualquer crença no sobrenatural. Tal
observação possibilitaria ações úteis e específicas.
Auguste Comte (2016) entendia que a humanidade estava em constante
evolução e que só havia uma direção a ser seguida. Assim, ele determinou três
estágios de desenvolvimento das civilizações, o que denominou lei dos três estados,
quais sejam:
Estado teológico: aqui, haveria uma leitura baseada no esforço de encontrar
relações de determinação da existência humana por forças teológicas,
pautando-se, ainda, na crença de que forças sobrenaturais superiores
comandam e determina as ações e situações vivenciadas;
Estado metafísico: nesse momento, a humanidade passaria a dissociar a
realidade de elementos abstratos sobrenaturais, mas, ainda assim,
identificaria causas externas às leis sociais para os fenômenos vivenciados,
como o Estado, a natureza, o mercado, tendo como base a filosofia
metafísica e não a análise e a investigação positiva;
Estado positivo: seria inteiramente científico, e as leituras de mundo e dos
fenômenos seriam inteiramente baseadas na observação científica da
realidade, sem a presença de intervenções teológicas ou a presença de
forças abstratas e abordagens especulativas. O estado positivo configura o
grau máximo de desenvolvimento da humanidade.
37
A visão de mundo positivista levou Comte a criar a chamada religião da
humanidade ou culto positivista, que não é um culto ao homem ou a Deus, mas a
própria ciência como força propulsora do desenvolvimento humano. De fato, para
Comte, a religião positivista seria a composição em perfeito equilíbrio do intelecto e
da mente voltada para a razão, enquanto o culto dos seres sobrenaturais seria
classificado como teologia vulgar (COMTE, 2016). Para ele, somente a racionalidade
poderia manter as sociedades equilibradas e seguras, e somente a ciência faria isso.
A definição de passos que levem à observação científica e classificação da dinâmica
social poderia pôr fim ao caos que as sociedades vivem quando estão à beira de uma
revolução. A criação da ciência social, ou seja, a sociologia, foi um passo importante
para a conquista da racionalidade e do estado positivo.
38
capitalismo define assim novas classes sociais e novas dinâmicas de relacionamento
que as acompanham. Para Marx, essa dinâmica sempre foi baseada na exploração
da classe trabalhadora pela burguesia, característica inerente ao capitalismo.
Todavia, apesar das gritantes diferenças, podemos encontrar semelhanças
entre Marx e os filósofos positivistas, embora não haver um diálogo entre suas teorias.
O primeiro acredita que o ápice do desenvolvimento humano é o positivismo,
enquanto Marx acreditava que o movimento da história guiaria a sociedade em uma
possível direção: o comunismo. A interpretação de Marx das relações sociais foi
fortemente influenciada por economistas como Adam Smith e David Ricardo. Portanto,
apesar de fundamentar seu método de investigação no pensamento dialético e
teleológico proposto por Hegel, Marx assumiu que o desenvolvimento histórico é
definido em termos de estruturas socioeconômicas, de caráter material, não em
termos de panoramas políticos entendidos como processos do desenvolvimento do
espírito (MOCELIN; AZAMBUJA, 2011).
Marx também destacou pontos positivos do capitalismo, como a inovação
tecnológica. No entanto, a premissa da acumulação do capital depende da exploração
da força de trabalho, da alienação e da manutenção da desigualdade, o que levaria a
tensões e conflitos entre as classes sociais. Tais conflitos causariam o rompimento
das estruturas e chegariam, por fim, ao comunismo. O leitor pode estar se
perguntando quais explorações Marx enfatizou e porque entrar no mercado de
trabalho é o objetivo de quase todo indivíduo contemporâneo e também o era na
época de Marx, ainda que isso signifique exploração.
Em sua crítica da sociedade capitalista, Marx entendia que o trabalho,
determinante do processo de produção, não era devidamente pago e valorizado. A
burguesia tinha máquinas para produzir mercadorias, mas os trabalhadores,
necessários para perpetuação e desenvolvimento da sociedade não eram valorizados
conforme sua importância. A mercadoria produzida pelos operários não lhes era
devolvida, ganhavam o valor mínimo para uma vida de sobrevivência e privações, mas
nenhuma contrapartida no valor do produto final.
Marx define a diferença entre o valor da mercadoria e o valor pago ao
trabalhador como mais-valia, que é apropriada pelo proprietário. Assim, em seu
"Manifesto Comunista", Marx juntamente com Friedrich Engels (2000), incentivou
39
trabalhadores a compreenderem sobre sua situação em uma sociedade dividida em
classes e fundada na exploração, exortando-os a se unirem contra o domínio burguês.
Entende-se, assim, que metodologicamente, Marx não acreditava na neutralidade
científica, mas na responsabilidade social de cientistas e pesquisadores. Ademais,
acreditava ter encontrado as leis, que se baseavam na luta de classes, para
compreender as dinâmicas sociais da humanidade.
40
como já indicamos. Isso quer dizer que, para Durkheim (2007), a sociedade se
constitui como um organismo, um todo social que existe e se articula de forma
independente dos indivíduos. O conceito pode ser confuso, já que uma sociedade
precisa necessariamente de indivíduos para se constituir. No entanto, na visão de
Durkheim, as formas organizacionais não começam com ideias individuais, que são
expostas a outras, acordadas e, portanto, copiadas. Para ele, as ações sociais são
reproduzidas apenas porque são fatos sociais e porque têm significado social. Assim,
a sociedade imprimirá no indivíduo o significado da prática social.
Quando a método, Durkheim desvia-se do pensamento de Marx no que se
refere à responsabilidade do cientista social e do sociólogo nas questões e problemas
sociais que observa. Para os sociólogos franceses, herdeiros de Durkheim, a
verdadeira ciência social só poderá ser constituída no contexto da neutralidade
científica, ou seja, quando há uma distância entre o pesquisador e seu objeto, quando
seu conceito pessoal (político, ideológico ou religioso) se encontra completamente
afastado do exercício científico. É por este motivo que elaborar regras e métodos
sociológicos era tão importante para os sociólogos que seguiram as ideias de
Durkheim. Essas regras enfatizam que a autêntica ciência não pode ser baseada nos
interesses pessoais.
A neutralidade científica de Durkheim é explicada por seu próprio
distanciamento das ideologias políticas. Ao contrário de Karl Marx e Auguste Comte,
Durkheim se opunha igualmente ao comunismo e ao liberalismo. O primeiro modelo
parecia utópico e inatingível e o segundo causou anomia. A anomia é outro ponto
fundamental na teoria de Durkheim. Descreve um estado de perda total de sentido na
vida das pessoas. Segundo Durkheim (2007), sociedades imersas no liberalismo e
voltadas quase exclusivamente para a produção e o consumo forneceriam o
arcabouço para a instalação da anomia.
Em seu livro Suicídio (1982), Durkheim descreve como a anomia pode levar a
situações suicidas. O sentido da vida seria restaurado através da coesão social. A
própria sociedade, o sentimento de pertencimento e o reconhecimento das estruturas
que orientam as dinâmicas e práticas sociais eliminam as possibilidades de anomia.
Do ponto de vista ideológico, a coesão social é também uma opção viável para mitigar
os efeitos do liberalismo, pois elimina as tensões entre empregadores e trabalhadores.
41
Por fim, as ações sociais estariam voltadas para a satisfação de necessidades e para
a produção de sentido social para ambas as classes.
42
daqueles percebidos socialmente. Além disso, a cultura seria uma construção coletiva
de sujeitos sociais, e os significados construídos não fariam sentido fora da
compreensão humana, de modo que não poderia haver os determinismos históricos
e sociais tematizados nas análises de Comte (o desenvolvimento resultaria no estado
positivista) e Marx (a história levaria as sociedades capitalistas ao comunismo). Para
Weber, as peculiaridades culturais e históricas são de fundamental importância para
os rumos sociais.
Weber tenta entender o comportamento social de instituições, como estados e
organizações industriais/comerciais e comportamentos individuais. Para tanto, define
o conceito de tipo médio, ou seja, comportamentos que são reproduzidos pelos
indivíduos a partir dos significados que esses comportamentos e ações têm
socialmente. Desenvolve também o conceito de esferas sociais, espaços sociais,
indicando para uma teoria sociológica dos ambientes nos quais as ações sociais se
desdobram. Pense, por exemplo, na família, na escola e na igreja: cada um desses
espaços sociais permite e reproduz um tipo particular de comportamento social e
solicita ao sujeito uma forma determinada de ação. A cultura seria o produto do trânsito
dos indivíduos entre as diferentes esferas sociais.
Portanto, diferentemente de Durkheim, Weber não adota uma visão
funcionalista, ou seja, não entende que o todo influencia o comportamento do
indivíduo. Para ele, o conjunto de esferas sociais em que se definem os
comportamentos médios surge da condensação de significados percebidos pelos
indivíduos e suas escolhas para reproduzi-los. Assim, culturas e organizações sociais
também seriam produtos das estruturas mentais dos sujeitos. Com foco na
compreensão da causalidade dos fenômenos sociais, Weber também examinou a
perspectiva econômica dos mercados, sua dinâmica e sua influência no contexto
social. Em Weber, a luta de classes observada por Marx é substituída pela dominação.
No mercado, no Estado e nas esferas sociais, os três tipos puros de dominação
determinariam os processos de luta e tensão: dominação legal — fomentada por leis;
dominação tradicional — pautada por estruturas culturais tradicionais, como o
patriarcado; dominação carismática — baseada em características pessoais e
intransferíveis da figura pessoal do líder (WEBER, 2003).
43
As análises de Weber dão origem à escola chamada de sociologia
compreensiva, que se orienta que os fenômenos sociais devem ser investigados pelo
seu sentido e não como um sistema mecânico de causalidade. Nesse sentido,
especificidades culturais e históricas influenciariam os contextos sociais, políticos e
econômicos tal como a visão do pesquisador.
As teorias sociológicas clássicas emergem entre o século XIX e o começo do
século XX. Apesar de suas especificidades, pode-se indicar quais as alterações
econômicas e culturais foram preponderantes para a edificação das análises de
Comte, Marx, Durkheim e Weber, como indicamos anteriormente.
Marx, apesar de ter sido influenciado por Adam Smith, produziu uma teoria
oposta à do inglês. Weber também sofreu influência Karl Marx, contudo desconsidera
o comunismo e não concorda com a ideia de materialismo histórico. Isso confirma
uma ideia muito relevante no campo das ciências humanas e sociais: é indispensável
e frutífero aprofundar-se nos autores que melhor retrataram e analisaram sua
conjuntura social, histórica e política. Baseado nesse entendimento, o pesquisador
pode, haja vista sua conjuntura social, cultural e histórica, produzir trabalhos que
reforcem ou refutem as leituras anteriores.
44
como uma sociologia pós-moderna que busca analisar fenômenos sociais parciais e
objetiva se desvencilhar do esforço enciclopédico e sistêmico dos sociólogos
fundadores. Observemos mais de perto algumas destas tendências.
A perspectiva funcionalista entende o mundo social como um conjunto de
funções sistêmicas, tendo como modelo as noções de organismo e mecanismo.
Assim, cada parte contribui para a formação do todo. Nesse sentido, o todo é o centro
das atenções, pois os órgãos servem para permitir que o organismo sobreviva, ou as
engrenagens servem para fazer o maquinário funcionar. Derivado particularmente da
abordagem de Durkheim, o funcionalismo teve uma influência particular nas leituras e
produções antropológicas da primeira metade do século XX, por exemplo nas obras
de Marcel Mauss (1872-1950) e Alfred Radcliffe-Brown (1881-1955). A derivação
teórica funcionalista ainda existe e continua sendo utilizada em muitas abordagens
acadêmicas, principalmente estadunidenses, formando algo que é chamado
estruturalismo funcional.
As teorias sociológicas do conflito são aquelas que derivam da noção de
mudança estrutural decorrente das tensões entre setores da sociedade, como no caso
de, quando Marx definiu a luta de classes como o motor da história. Portanto, no
campo da sociologia contemporânea, encontramos de um lado, teorias do conflito que
se baseiam em leituras marxistas (que utilizam os pressupostos teóricos de Marx em
suas abordagens, muitas vezes de modo ortodoxo) e, por outro, teorias derivadas do
marxismo (que utilizam a contribuição metodológica de Marx, mas levam em conta
outras especificidades conceituais e teorias).
A teoria sociológica interacionista também conhecida como interacionismo
simbólico, deriva da extensa sociologia da cultura presente nas leituras weberianas.
Ele assume que as sociedades e culturas são diferentes. Portanto, o significado social
de uma ação deve ser entendido a partir do sistema simbólico presente naquela
cultura. A ação seria preenchida com significados por meio da leitura simbólica de
outras ações semelhantes que dão sentido à ação individual.
45
6.3 Teorias sociais contemporâneas e a profissionalização da sociologia
46
Karl Mannheim foi um pensador húngaro, de cultura alemã, influenciado
pelo marxista húngaro Georg Lukács (autor do livro História e Consciência
de Classe, 1922), discípulo de Droysen e de Simmel. Foi o responsável pelo
desenvolvimento de uma área específica da sociologia, chamada de
sociologia do conhecimento. Em termos gerais, podemos dizer que a
sociologia de Mannheim tem um preponderante caráter historicista, com
relação direta com a adoção de alguns pressupostos do marxismo. Assim,
Mannheim introduz o materialismo histórico do marxismo no âmbito de uma
sociologia do conhecimento, afirmando que os saberes não são só
historicamente relativos, mas também socialmente relativos, com relação a
certas condições do ser social, especialmente, das classes sociais,
conforme essas possam ser interpretadas não como formas universais de
manifestação histórica, mas como agrupamentos humanos que também
são determinados por questões e situações regionais específicas.
Marialice Foracchi (1929-1972) foi docente e pesquisadora da antiga
cadeira de Sociologia da USP, dirigida por Florestan Fernandes, e do
Departamento de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, que a sucedeu em virtude da reforma por que passou a
universidade em 1960. Ela se insere, nesse quadro, de profissionalização
da sociologia, que também atinge, ainda que tardiamente, a cultura
brasileira. Aliás, podemos dizer que o Brasil fornece a tradição da sociologia
um conjunto de autores importantes, tais como Florestan Fernandes,
Guerreiro Ramos, Celso Furtado, Gilberto Freire, Sergio Buarque de
Holanda, entre outros. No entanto, as contribuições de Marialice Forrachi se
destacam de maneira especial, principalmente nos anos 60 e 70, já que ela
escreve principal sobre a juventude. Em sua perspectiva, o jovem deve ser
compreendido como um ser em formação, cujo destino depende de um jogo
incerto de fatores. Nesse sentido, sua contribuição se dá exatamente por
pensar as condições políticas, sociais e culturais da juventude brasileira e
mundial, exatamente em um momento em que esta juventude assumia um
papel fundamental nas mudanças de comportamento que marcaram os
anos 60, 70 e 80.
47
Ainda nesse sentido, cabe lembrar, que as décadas de 1970 e 1980 abriram
espaço para leituras sociológicas orientadas pela ideia de interacionismo simbólico,
que relativizaram a ação social a partir da constituição do espaço social em que ela
surgiu. Afinal, por exemplo, as mobilizações estudantis que ocorreram no mesmo
período apresentaram diferentes sentidos e resultados nos diversos países,
mostrando que as ações humanas podem se dar de muitas formas ainda que
respondam ou surjam em contextos parecidos e semelhantes, ou que tenham como
solo um mesmo contexto cultural e social.
Nesse momento, surgem sociólogos como Pierre Bourdieu (que também adota
pontos da Sociologia Francesa baseados em Durkheim). Há uma tentativa de
combinar a sociologia estruturalista com uma perspectiva interpretativa que buscava
extrapolar as versões anteriores baseadas no determinismo e no voluntarismo. Os
sociólogos estavam procurando um meio-termo, com um viés de um lado ou de outro.
O final do século XX trouxe novas perspectivas e novas questões sociais
(produzidas pela Terceira Revolução Industrial) aos sociólogos, às quais algumas das
teorias clássicas já não ajudavam a responder. As tecnologias mudaram mais uma
vez os sistemas e padrões de produção e consumo. No entanto, a formabilidade das
fronteiras territoriais mudou mais intensamente através da globalização e das
telecomunicações, especialmente a Internet. O novo paradigma questiona o que é o
Estado e quem é o indivíduo na modernidade. As identidades tornam-se efêmeras e
ao mesmo tempo ocorre uma busca para que não se esvaneçam completamente.
Nesse cenário, surgem leituras que analisam as relações estabelecidas, como em
Manuel Castells, e a análise da ruptura de conexões sociais provocadas pelo
isolacionismo tecnológico, como em Zygmunt Bauman e Boaventura Sousa Santos.
O século XXI permite à sociologia uma abordagem mais antropológica das
questões identitárias, mas também lhe impõe uma responsabilidade política pela
manutenção das identidades culturais, particularmente nas áreas do feminismo e das
questões raciais, como na sociologia feminista que começa a dialogar com os
trabalhos da filósofa Judith Butler e no renascimento do interesse pelo pensamento
político e sociológico de Angela Davis e nos trabalhos sensacionais e profundos da
pesquisadora feminista Chimamanda Ngozi Adichie.
48
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOURDIEU, Pierre. Esboço de uma teoria da prática. In: ORTIZ, Renato (org.). A
sociologia de Pierre Bourdieu. São Paulo: Editora Ática, 1994.
49
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DARWIN, Charles. A origem das espécies e a seleção natural. São Paulo: Hemus,
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50
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LEME, Alessandro André. Estrutura e ação nas ciências sociais: Um debate preliminar
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