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Pensamento, Linguagem e Cultura

Conteudista
Prof. Me. Pascoal Fernando Ferrari

Revisão Textual
Aline de Fátima Camargo da Silva
Sumário

Objetivos da Unidade.............................................................................................................3

Introdução............................................................................................................................... 4

Contextualização................................................................................................................... 4

A Dimensão Cultural do Pensamento e da Linguagem.................................................. 5

Natureza e Cultura............................................................................................................... 10

Cultura, Família e Escola......................................................................................................12

Grandes Mudanças no Desenvolvimento Humano........................................................15

O Desenvolvimento da Linguagem...................................................................................16

Atividades de Fixação.........................................................................................................20

Material Complementar..................................................................................................... 22

Referências............................................................................................................................ 23

Gabarito.................................................................................................................................24
Objetivos da Unidade

• Refletir sobre o aparecimento e o desenvolvimento da linguagem e acerca do


pensamento humano em seus aspectos culturais, sem, no entanto, negar ou-
tras influências (como as determinações genéticas);

• Pensar sobre as noções de natureza e cultura;

• Debater as relações entre cultura, família e escola;

• Compreender as grandes mudanças por que tem passado o desenvolvimento


humano.

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do conteúdo.

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zação é para consulta off-line e possibilidade de impressão. No entanto, re-
comendamos que acesse o conteúdo on-line para melhor aproveitamento.

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VOCÊ SABE RESPONDER?

Como a linguagem humana se desenvolve e se molda de acordo com o contexto


cultural em que estamos inseridos? Reflita sobre como fatores culturais, tais como
tradições, valores e crenças, influenciam a forma como nos comunicamos e expres-
samos nossa linguagem.

Introdução
Nesta Unidade, estudaremos a construção e o desenvolvimento do pensamento e
da linguagem humana a partir das influências culturais que sofrem que atingem os
seres humanos.

A ideia é fazermos uma reflexão a respeito dessas influências e observamos


as correlações existentes entre Cultura, Pensamento e Linguagem. Inicia-
remos nossos estudos conceituando o termo Cultura. Para tanto, teremos
como fundamentação os estudos da professora e filósofa Marilena Chauí.

A autora reflete acerca da complexidade de definir o que é Cultura e aponta as mu-


danças ocorridas, na história e na conceituação do termo. Após conceituarmos o
termo Cultura, iremos fazer uma investigação no que se refere aos desdobramentos
ocasionados por ela: a contracultura e a cibercultura. Veremos a contracultura ques-
tionando os valores e padrões construídos até a década de 1950, e verificaremos
que, de certa forma, essa contracultura prepara a sociedade para o surgimento, na
contemporaneidade, da cibercultura.

Contextualização
Para o momento de contextualização, sugerimos que assista a um trecho do de-
bate: Educar na Cultura Digital – da Bienal de São Paulo – 2010, com a exposição
do professor André Lemos, da Universidade Federal da Bahia. Lemos, fala sobre o
que é a cibercultura. O professor André apresenta a cibercultura como possibili-
dade de leitura e de produção de escrita, de ideias e de conhecimento de forma
democrática e em rede.

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Vídeo
O trecho do debate se encontra disponível no
QR Code ao laldo. Veja o vídeo, escute a fala do
professor André Lemos e tente fazer alguma
associação com a produção e a construção do
conhecimento na escola.

De que forma, na cibercultura, a possibilidade de livre expressão se manifesta? Qual


é a linguagem empregada nessa comunicação? Faça uma reflexão crítica.

A Dimensão Cultural do
Pensamento e da Linguagem
Nesta Unidade, realizaremos uma reflexão acerca das influências culturais que, de
maneira intensa, permeiam o desenvolvimento humano. Nesse desafio, não negare-
mos as outras determinantes do desenvolvimento humano, como o fator genético,
valores e sentimentos pessoais, entre outros. Apenas iremos destacar as inegáveis
influências culturais que o pensamento e a linguagem humana sofrem em seu de-
senvolvimento e estabelecimento.

Iniciaremos a nossa reflexão, abordando o conceito de Cultura com fundamento nos


parâmetros da pensadora Marilena Chauí. Previamente, diremos que conceituá-la
não é tarefa de fácil realização; a complexidade própria da Cultura é um agravante.
Pensar que, na contemporaneidade, a mistura de diferentes culturas é fator pre-
dominante é, também, admitir a dinâmica da formação de determinada cultura. A
cultura é uma forma viva, dinâmica e em constante transformação.

Reflita
Somos seres complexos; ao mesmo tempo, somos produto e
produtores de cultura. Se assim pensarmos, poderemos concluir
que, para o ser humano, basta estar vivo e relacionar-se com
outras pessoas para tornar-se um ser cultural, um ser de cultura.

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Segundo Chauí (2010), o termo Cultura vem, ao longo dos tempos, tendo diferentes
conceituações. A palavra cultura vem do latim colere, que significa cultivar, criar,
cuidar. Como agricultura, a palavra cultura é vista como cultivo da terra; natureza e
cultura estão interligadas. Na modernidade, a palavra cultura ganha outro significa-
do, como resultado da educação e contrapõe-se à ideia de natureza. Dessa forma,
cultura surge ligada ao trabalho; é a ação do homem sobre a natureza. A transforma-
ção da natureza pela ação do trabalho era considerada cultura. Com seu trabalho, o
homem construía casas, plantações, vestimenta, entre outros. As diferenças cultu-
rais aconteciam, na medida em que cada grupo social criava uma maneira específica
para resolução de seus problemas, atendendo, de maneira diversa, às demandas de
determinado grupo social.

Figura 1 – Trabalho na antiguidade


Fonte: Reprodução
#ParaTodosVerem: a imagem retrata uma pintura que representa o trabalho na antiguidade. Na cena, há a repre-
sentação de um homem ao lado de um boi, indicando uma atividade agrícola ou relacionada à pecuária. Ele está
segurando uma ferramenta de trabalho, possivelmente um arado ou uma enxada. Fim da descrição.

A partir do século XVIII, a ideia de cultura se atrela à ideia de civilização. Ser culto
é ser civilizado, e uma civilização pressupõe Arte, religião, Ciências, Filosofia, entre
outras características específicas de determinada civilização.

Reflita
Também podemos entender a cultura como algo que se liga aos
símbolos, algo que é representativo para determinado grupo so-
cial. Por exemplo, o que representa o símbolo da cruz para um
cristão católico e o que representa o símbolo de uma cruz para
um budista? E, para você, o que significa uma cruz?

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Podemos pensar a Cultura do ponto de vista material, quando, por exemplo, criamos
objetos que representam ideias e valores, ou podemos, também, pensar em uma
cultura imaterial, quando pensamos no folclore de determinado povo, em seus valo-
res, crenças e costumes.

Com essas mudanças e desdobramentos ocorridos no sentido da palavra cul-


tura, ainda podemos pensar que a contemporaneidade nos apresenta duas
outras possibilidades de cultura humana, a contracultura e a cibercultura.

Contudo, é curioso refletir sobre o caso. Ao constatarmos a chegada das novas tec-
nologias, devemos observar que elas não chegaram para todos, principalmente, às
referentes às telecomunicações. Ainda hoje, encontramos grupos sociais que não
tiveram contato nem com a energia elétrica, muito menos com essas novas tec-
nologias. São pessoas que ainda vivem de forma primitiva e existem em todos os
continentes do planeta. É um fenômeno da contemporaneidade, uma contradição.

A contracultura foi um movimento de contestação social contra os valores vigentes


da época. O movimento questionava os valores centrais vigentes e instituídos na
cultura ocidental. Iniciado em meados dos anos 1950, o movimento da contracultura
teve seu auge nos anos 1960, usufruindo dos meios de comunicação de massa que
surgiam na época.

Figura 2 – Movimento da contracultura


Fonte: Reprodução
#ParaTodosVerem: a imagem em preto e branco retrata uma mulher em um ambiente que parece ser um festi-
val ou evento relacionado ao movimento da contracultura. Ela está em destaque na foto, capturando sua expres-
são e postura. Ela pode estar vestindo roupas que representam o estilo característico da contracultura, tais como
roupas e estampas. Sua expressão facial pode transmitir um senso de liberdade, autenticidade ou engajamento
com os valores do movimento. Fim da descrição.

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Além de influenciar a forma de pensar da época, o ideário da contracultura influenciou
as artes e a estética ocidental. Com ideais libertários, o movimento da contracultura
teve seus desdobramentos como uma cultura underground, cultura alternativa ou
cultura marginal, quebrando valores e tabus e buscando novos canais de expressão
para os indivíduos. O movimento hippie, que lutava pela paz mundial, talvez repre-
sente o auge da contracultura.

Importante
A característica mais importante desses movimentos foi o sen-
timento de inconformismo com a realidade social, política e
econômica do período. Também, não podemos nos esquecer,
da liberdade sexual que os jovens demandavam no período. Esse
inconformismo gerou mobilizações, inicialmente nos Estados
Unidos da América, com o movimento hippie, e multiplicou-se
em vários países, inclusive no Brasil, influenciando o modo de
falar, ao criar novas gírias, e impulsionando uma forma contes-
tadora de pensar de uma geração.

Já a cibercultura é uma manifestação da cultura contemporânea, a qual é fortemen-


te marcada pelas tecnologias digitais, principalmente a internet. Ela está presente
em nossa vida quando usamos o home banking, sites de compras e negócios, redes
de relacionamentos, e-mails, cartões magnéticos, entre outras possibilidades.

Nesse sentido, com o surgimento das novas tecnologias, configuram-se novas ne-
cessidades de alfabetização; a qual, por sua vez, alcance os novos gêneros literá-
rios, como e-mails, blogs, chats, fóruns, entre outros. A contemporaneidade nos
apresenta novos desafios e faz surgir a necessidade social de se alfabetizar e letrar
digitalmente.

Quanto à etiologia da palavra, verifiquemos o que Correa (2010) aponta sobre a sua
formação. Em seguida, observe a ilustração proposta pela autora:

Na vertente grega emerge o significado “arte de governar e pilotar”, atri-


buindo ao prefixo o inerente caráter de controle; na vertente latina colere
reflete a ideia de cultivar e revolver a terra e, mais adiante, evolui para a
ideia de habitar e cuidar da natureza em cultivo. É a ação humana (orde-
nada, procedural e, portanto, controladora) sobre os frutos de sua nature-
za (materiais e intelectuais).
CORREA, 2010, p. 11

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Kybernan Colere

Kybernetes Cultivar

Cybernetics Cyber Culture Cultura

Cyberculture

Figura 3 – Cyberculture
Fonte: Acervo do Conteudista
#ParaTodosVerem: a imagem mostra 9 retângulos, representando a condensação que originou a palavra “cyber-
culture”. Do lado esquerdo da tela, em movimento descendente até o centro, lemos: “kybernan”, “kybernetes”,
“cybernetics”, “cyber”. Do lado direito, em movimento descendente até o centro, lemos: “colere”, “cultivar”, “cul-
tura” e “culture”. Abaixo de todos os retângulos e em posição central, encontramos a palavra originada pelas
anteriores: “cyberculture”. Fim da descrição.

A palavra cibercultura é formada por duas vertentes: uma com caráter de controle e ou-
tra com caráter de cultivo, mostrando a relação intrínseca entre a natureza e a cultura.

Este novo mundo ou ciberespaço inaugura novas formas de comunicação. Sites de re-
lacionamentos nos quais os usuários escrevem textos, e-mails e mensagens eletrônicas,
que são trocadas, inauguram uma nova forma de escrita. Muitas vezes, a rapidez na tro-
ca de informações impulsiona os usuários a abreviarem palavras ou a se apropriarem de
gírias ou ainda, criarem novas palavras etc. É o chamado idioma “internetês”, uma forma
de escrever e se comunicar característica da internet, uma linguagem do meio virtual. É
o nascimento de uma nova língua que identifica a comunidade de internautas.

A cibercultura pode ser entendida como uma forma sociocultural contemporânea


que é gerada a partir de uma relação de troca entre as pessoas. Essa comunicação
em rede tem como suporte as novas tecnologias e propõe a junção das telecomu-
nicações e da informática.

Como visto, não podemos falar de cultura, mas sim de culturas. Observe o que Chauí
(2010) diz a esse respeito:

Na realidade, não existe a cultura, no singular, mas culturas, no plural, pois


os sistemas de proibição e permissão, as instituições sociais, religiosas,
políticas, os valores, as crenças, os comportamentos variam de formação
social para formação social e podem variar numa mesma sociedade no
decorrer do tempo.
CHAUÍ, 2010, p. 229

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Além de ressaltar a pluralidade cultural, a autora pontua a questão temporal, em
que uma mesma sociedade pode reinventar sua cultura em diferentes épocas de
sua existência. Então, temos diversas culturas que se entrelaçam e se modificam
mutuamente.

Reflita
O modo de nos expressarmos linguísticamente é influenciado
pela dinâmica cultural que estamos inseridos. Isso nos remete a
novos questionamentos: será que essa conjuntura cultural afe-
ta nosso pensamento? Nossa forma de pensar? Linguagem e
pensamento humano modificam-se com a cultura? Natureza e
cultura humana apontam contradições?

Natureza e Cultura
A discussão sobre a relação entre natureza e cultura compõe o cenário da Filosofia
há muitos séculos. Outras ciências, como a Antropologia e a Sociologia, também
avançam nesta discussão. Dos filósofos gregos antigos aos pesquisadores contem-
porâneos, são inumeráveis as discussões sobre a relação entre natureza e cultura
que criam novas visões sobre a temática, inaugurando novos pressupostos para es-
tudos e reflexões acerca do assunto.

Figura 4 – Reflexões
Fonte: Freepik

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Todavia, essas discussões apontam para as mudanças ocorridas tanto na natureza
como na cultura. Observamos, de um lado, as alterações sofridas pelo mundo na-
tural (degelo de continentes, aumento da temperatura e do nível do mar, extinção
de espécies animais) e, por outro, as transformações sociais (religiosas, políticas,
econômicas, territoriais) ocorridas no processo de desenvolvimento e manutenção
de diferentes povos ou etnias.

Reflita
Para aprofundarmos a questão, vamos pensar sobre a existência
ou não de uma natureza humana. Em caso afirmativo, a nature-
za humana pode ser considerada um dado fixo ou sofre mudan-
ças com o desenvolvimento humano?

Entendemos a natureza humana como um conjunto de características puramente


humanas que abrangem formas de agir e pensar e que são comuns a todos os seres
humanos. Estudadas por várias Ciências, essas características compõem o compor-
tamento humano, um comportamento que se enquadre em uma espécie de norma-
lidade comportamental ou que seja um comportamento invariável nos humanos em
extensos períodos de tempo.

Esse processo se torna um impasse, um ponto para nossa reflexão. De um lado, po-
demos pensar em uma essência natural comum a qualquer indivíduo ou, por outro
lado, podemos negar que haja qualquer natureza humana e aceitar que o comporta-
mento dos indivíduos irá depender completamente da socialização e das experiên-
cias que eles têm ao longo de sua vida.

Então, pensar em uma possível natureza humana, imutável e pertencente a


todos é mais metafísico do que científico, ou seja, somos seres mutantes
em nosso desenvolvimento tanto físico como cognitivo, passamos por mu-
danças em nosso ser, somos seres em devir, em constante transformação.

No desenvolvimento humano, duas grandes instituições da sociedade podem in-


fluenciar muito a forma do pensamento e da linguagem dos indivíduos, são elas: a
família e a escola.

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Cultura, Família e Escola
Os seres humanos têm uma tendência latente de viver em sociedade; somos seres
gregários e com uma imensa dificuldade de viver em solidão. Segundo Bock; Furta-
do; Teixeira (1991), “Mesmo quando estamos sozinhos, nossa referência de valores
e normas sociais advém dos grupos que internalizamos no decorrer de nossa vida”.

Importante
Essa necessidade de viver em grupo impulsiona as pessoas a
criarem instituições que, de certa maneira, garantem a manu-
tenção e a transmissão de valores e visões de mundo, peculiares
a determinado grupo social.

Essas instituições sociais, como a família e a escola, reproduzem valores milenares


que se misturam aos novos valores criados com o decorrer do tempo. Esses valores
influenciam, de forma contundente, o desenvolvimento de nossa linguagem e de
nosso pensamento.

Enquanto agência socializadora, a família é responsável pela educação inicial da crian-


ça. É ela que irá delinear os papéis sociais que iremos desenvolver em nossa vida. É
a família que nos dirá o que a menina deve fazer para ser “menina” e o que o menino
deve fazer para ser “menino”. Valores como: menino gosta de tal cor, menina, de ou-
tra; um brinca com tal brinquedo, outro pratica tal esporte, entre outras escolhas, vão
sendo incorporados e ressignificados. São questões de gênero com um caráter social
conservador. Veja o que Bock, Furtado e Teixeira (1991) dizem a esse respeito:

A família tem um caráter conservador. É a partir do processo de sociali-


zação que ela irá eternizar valores como o da fragilidade feminina e o da
superioridade masculina.
BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1991, p. 217

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Figura 5 – Ambiente familiar
Fonte: Freepik

E continua:

Primeiro é preciso esclarecer que as famílias não são todas iguais e que
temos famílias mais conservadoras e outras mais liberais. Mas, de forma
geral, a família é uma forte reprodutora das normas e valores sociais. Essa
função confere-lhe o caráter conservador, já que ela está aí para manter e
não para transformar a sociedade.
BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1991, p. 217

Nascemos e crescemos segundo valores e normas da família, os quais são incorpo-


rados à nossa forma de pensar. Porém, não temos, dessa maneira, um dado fixo, ou
seja, nem todos os valores e normas iremos reproduzir, mas, certamente, parte de-
les; não nos desfazeremos de todos esses valores e iremos incorporar muitos deles
como nossos e os reproduziremos.

Além desses aspectos, a família também nos proporcionará nossa primeira lingua-
gem, nossa primeira inserção no mundo cultural. O que chamamos de língua ma-
terna é função da família. Inicialmente, falamos como nossa família fala, de forma
correta ou incorreta; aprendemos a linguagem primária com nossos pais e irmãos.
Claro, que essa linguagem poderá mudar com as novas experiências linguísticas as
quais iremos ter com outros grupos sociais. Segundo os pressupostos da psicanáli-
se, Bock, Furtado e Teixeira (1991) falam sobre a linguagem:

É na família que a criança adquire a linguagem. Essa aquisição é a con-


dição básica para que ela “entre” no mundo. Ela depende da linguagem
para comunicar-se com os outros e também para entender a si mesma.

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Através da linguagem, a criança passa a ter um controle racional da rea-
lidade que, por sua vez, irá estruturar o seu psiquismo, dando significado
aos seus sentimentos.
BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1991, p. 216

A linguagem se apresenta como chave para a entrada no mundo; a criança se de-


senvolve em um mundo culturalmente vivido. O caráter cultural presente na família
é determinante para aquisição da linguagem pela criança.

Com a entrada da criança no universo escolar, essa linguagem irá se modificar, uma
vez que será apresentada a ela uma linguagem culta, a linguagem que segue regras
e apresenta formas corretas de falar. Uma linguagem oral que irá ser transformada
em linguagem escrita.

Na escola, a exigência da leitura e da escrita é muito grande; na escola, é


necessário conhecer vários gêneros textuais, como notícia, bilhete, artigo,
anúncios, mensagens, entre outros. A prática da leitura e da escrita é a melhor
forma de aprender a dominar esse tipo de comunicação utilizado na escola.

A escola, enquanto uma instituição que promove valores, é uma agência socializa-
dora. Nela, encontramos novas referências culturais e de relacionamento que, tam-
bém, nos acompanharão no decorrer da vida. Ela é uma formadora de opinião que,
às vezes, como a família, adquire um caráter conservador e pouco transformador
da sociedade.

Importante
É na escola que os indivíduos são preparados para o mundo do
trabalho, que enfrentarão quando chegarem à juventude ou,
posteriormente, à vida adulta. Nesse sentido, ela apresenta
uma contradição: por um lado, ela se apresenta conservadora;
por outro lado, ela se apresenta como emancipadora e promo-
tora de uma possível mudança cultural, social e econômica na
vida dos indivíduos que por ela passam.

Todavia, os participantes da escola também trazem suas culturas; a escola é um


ambiente multicultural; nela produzimos cultura e somos produzidos culturalmente.

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Grandes Mudanças no
Desenvolvimento Humano
No decorrer do desenvolvimento humano, alguns fatos nos marcam definitivamen-
te. Destacamos, agora, três importantes mudanças ocorridas no desenvolvimento
humano. A princípio, a criança tem a necessidade da presença do adulto para se
desenvolver; a dependência do adulto está presente na alimentação, nos cuidados
com a higiene, na segurança etc. e, aos poucos, a criança vai ganhando a indepen-
dência e a autonomia necessárias à sua vida.

Andar

Inicialmente, a criança tem um desenvolvimento físico e motor acelerado


e, por volta do 15º mês de existência, ela já adquire a habilidade de andar.
Com essa habilidade desenvolvida, a criança ganha outra visão de mundo.
Ver o mundo de cima e em uma postura bípede é uma grande conquista
para ela, pois aponta certa autonomia de vida, pelo menos, no que tange à
locomoção humana.

Falar

Como acontece com o andar, cada criança tem seu tempo para falar, entre-
tanto esse tempo depende dos estímulos que ela recebe. Esses estímulos
significam muito para o seu desenvolvimento. Para a criança, a linguagem é
a conexão com a sociedade; com a fala ela adentra no mundo adulto.

Escrever

Ao entrar na escola, a criança, entre outros objetivos, está predestinada a


aprender a ler e a escrever, como uma nova forma de conexão com o am-
biente social.

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O papel da instituição de ensino passa a ser determinante; a escola dará subsídios
para a criança se inserir em uma cultura letrada. Nesse processo, faz-se necessária a
construção da capacidade de ação simbólica sobre o mundo social e natural, possi-
bilitando que as crianças representem esse mundo por meio de símbolos.

O Desenvolvimento da
Linguagem
A língua não é totalmente transparente; suas regras e significações não são total-
mente evidentes para a criança, nesse sentido, o processo de aquisição da lingua-
gem é singular na vida da criança.

O período do desenvolvimento da linguagem que vai de 0 a 6 anos é conhecido


como período da pré-linguagem, no qual os estímulos sensoriais determinam o
comportamento do bebê, como, por exemplo, o seu balbucio. A audição e a visão
são de grande importância nesse início de contato com o mundo.

Logo no início, o bebê já é capaz de reconhecer a voz da mãe e se acalmar


quando a ouve, e, na medida em que o desenvolvimento motor avança, am-
plia-se sua exploração visual, reconhecendo, inclusive, rostos familiares. O
choro é a primeira manifestação sonora do bebê e surge como resposta à
sensação de fome, frio, etc. Logo, aparecem outros sons.

Por volta do 3º mês, aparecem as primeiras consoantes, que são bem diferentes
das correspondentes na língua falada, emitindo os mesmos sons característicos da
língua falada na família.

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Figura 6 – A fala
Fonte: Freepik

Assim como exercita a musculatura dos seus membros, agitando suas pernas e bra-
ços, o bebê também exercita a musculatura dos órgãos da fala nesse jogo vocal.
É por isso que, nesse período, todos eles, incluindo as crianças surdas, emitem os
mesmos sons e assumem características da língua falada na família. A emissão de
som dos bebês surdos cessará no final desta fase.

Entre o 6º e o 9º mês, o bebê começa a produzir sílabas. Por exemplo, a


criança é capaz de compreender algumas palavras que são mais familiares
(mamãe, papai, nenê); inicia-se uma espécie de diálogo, o adulto responde
imitando a criança. Quando ele se cala, a criança repete o som para fazê-lo
repetir e escutá-lo novamente.

O desenvolvimento sintático ocorre no período entre 1 e 2 anos: as palavras, os


símbolos ou representações simbólicas, um nome que representa vários tipos de
objetos. A capacidade de compreender a linguagem antecede a capacidade de se
expressar e, embora ainda não consiga nomeá-los, já é capaz de compreender os
nomes dos objetos familiares. Já consegue mostrar, nomeando, as partes do corpo.

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Figura 7 – Interação e linguagem
Fonte: Freepik

Perto dos dois anos, começará a produzir frases com duas ou três palavras. A lingua-
gem revela o progresso do pensamento e do desenvolvimento social e emocional. Para
Barbosa (2005), é a partir dos 2 anos que a criança expande seu repertório linguístico:

Dos trinta (dois anos e meio) aos trinta e seis meses (três anos), a estrutu-
ra da frase da criança vai tornando-se mais complexa, mais aperfeiçoada,
chegando à combinação de quatro elementos. Surgem as primeiras fra-
ses coordenadas (por exemplo: papai não está e mamãe não está). Há um
sensível aumento na frequência de emprego das principais flexões, gênero,
número, plural, enquanto vão aparecendo outros usos dos verbos: empre-
go de formas rudimentares dos verbos auxiliares ser e estar (por exemplo:
nenê não está). Também é nesta fase que se dá o aparecimento e o uso
mais sistemático dos pronomes de primeira, segunda e terceira pessoa (eu,
tu, ele, ela) e dos artigos definidos (o, a). É perceptível o emprego de diver-
sas frases simples; começam a surgir os advérbios de lugar combinados
em orações de forma coerente (por exemplo: Alex está detrás da porta).
BARBOSA, 2005, p. 8

Segundo a autora, por volta dos 2 anos e meio aos três anos surgem as primeiras fra-
ses coordenadas e um sensível aumento do emprego das flexões de gênero e núme-
ro, dos verbos auxiliares. Nesse período, a criança apresenta uma expansão gramática.
Assim, ela é capaz de formar frases simples com 3 ou 4 palavras, usando substantivos
e verbos, de nomear figuras, de usar os pronomes “eu” e “você” e, praticamente, de
compreender tudo o que vê e escuta, articulando dinamicamente o pensamento e a
palavra, estabelecendo, dessa forma, uma prática social da linguagem.

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As últimas aquisições da linguagem ocorrem dos 4 aos 6 anos. Ao redor dos
4 anos, a criança é capaz de reproduzir pequenas sequências de fatos ou
histórias. O final desse período culmina com a entrada da criança no Ensino
Fundamental da escola básica.

Para finalizarmos esta Unidade, lembramos que a voz é o suporte da palavra falada;
a voz é nossa habilidade de emitir sons, coisa que a maioria dos animais faz para se
comunicar. A linguagem nos diferencia dos outros animais, e a cultura determina as
diferentes formas de linguagem. Chauí (2010), ao refletir sobre a linguagem huma-
na, nos diz:

A linguagem é, assim, a forma propriamente humana da comunicação,


da relação com o mundo e com os outros, da vida social e política, do
pensamento e das artes.
CHAUÍ, 2010, p. 160

É com a linguagem que expressamos sentimentos e pensamentos; a linguagem está


sempre à nossa volta, sempre presente em nossa relação com o mundo e com os
outros indivíduos, culturalmente influenciados.

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Atividades de Fixação

1 – O conceito de Cultura mudou ao longo do tempo. Com o surgimento da bur-


guesia, a partir do século XVIII, a ideia de Cultura se atrelou a qual outra ideia?
Assinale a alternativa correta:
a. Tradição.
b. Revolução.
c. Incerteza.
d. Civilização.
e. Mediação.

2 – Quanto à etiologia da palavra Cibercultura, Correa (2010) diz que ela é for-
mada por dois termos, ou palavras distintas. Assinale a alternativa que indica o
pensamento da autora. Assinale a alternativa correta:
a. Controle e Manutenção.
b. Controle e Cultivo.
c. Cultivo e Trabalho.
d. Trabalho e Controle.
e. Manutenção e Trabalho.

3 – Segundo o texto teórico, o principal papel da instituição de ensino passa a ser


determinante para o desenvolvimento infantil. A escola irá dar subsídios para a
criança se inserir em que tipo de cultura? Assinale a alternativa correta:
a. Contracultura.
b. Cultura alternativa.
c. Cultura da paz.
d. Cultura letrada.
e. Cultura material.

20
Atividades de Fixação

4 – Ao lermos o texto teórico, entendemos que, no decorrer do desenvolvimento


humano, alguns fatos nos marcam definitivamente. O texto destaca três impor-
tantes mudanças ocorridas no desenvolvimento humano. Quais são elas? Assinale
a alternativa correta:
a. Pensar, rir e chorar.
b. Andar, correr e escrever.
c. Andar, falar e escrever.
d. Falar, andar e expressar.
e. Andar, movimentar e escrever.

5 – Preencha as lacunas a seguir:


No desenvolvimento humano, duas grandes instituições da sociedade podem in-
fluenciar muito a forma do pensamento e da linguagem dos indivíduos. Estamos
falando da ___________ e da ____________.

ESCOLA – FAMÍLIA

Atenção, estudante! Veja o gabarito desta atividade de fixação no fim


deste conteúdo.

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Material Complementar

Para complementar os estudos do assunto desta Unidade, sugerimos que você as-
sista aos programas da série: “Cibercultura: o que muda na educação”. Nesta série
produzida pela TV Escola, interessa-nos compreender quais são as mudanças que
ocorrem e/ou poderão ocorrer nas práticas curriculares da educação presencial e da
educação a distância, em conexão com a cibercultura.

Vídeos
Programa 1 – EAD: Antes e Depois da Cibercultura
https://youtu.be/AoR8Bfo4pG4

Programa 2 – A Docência On-Line


https://youtu.be/c-NreGRqHuw

Programa 3 – Currículo Multirreferencial


https://youtu.be/qDUDYrRS8Eo

Programa 4 – Outros Olhares sobre Cibercultura e Educação


https://youtu.be/AIA1ncR3T4Y

Programa 5 – Cibercultura e Educação em Debate


https://youtu.be/NSOQFkoZ3RY

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Referências

BARBOSA, J. B. O uso dos verbos no desenvolvimento da linguagem. Revista Virtual


de Estudos da Linguagem – ReVEL. v. 3, n. 5, agosto de 2005. Disponível em: <http://
www.revel.inf.br/pt/edicoes/?mode=anterior&id=5>. Acesso em: 20/12/2012.

BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao es-


tudo de psicologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1991.

CHAUÍ, M. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010.

CORREA, E. S. Fragmentos da cena cibercultural: transdisciplinaridade e o “não


conceito”. Rev. USP, São Paulo, n. 86, ago. 2010. Disponível em: <https://www.re-
searchgate.net/publication/271120722_Fragmentos_da_cena_cibercultural_trans-
disciplinaridade_e_o_nao_conceito>. Acesso em 07/12/2012.

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Gabarito

Questão 1
d) Civilização.

Questão 2
b) Controle e Cultivo.

Questão 3
d) Cultura letrada.

Questão 4
c) Andar, falar e escrever.

Questão 5
No desenvolvimento humano, duas grandes instituições da sociedade podem in-
fluenciar muito a forma do pensamento e da linguagem dos indivíduos. Estamos
falando da FAMÍLIA e da ESCOLA.

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