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QUESTÃO 01

Todas as coisas cujos valores podem ser


disputados no cuspe à distância
servem para poesia

O homem que possui um pente


e uma árvore
serve para poesia

Terreno de 10 x 20, sujo de mato — os que


nele gorjeiam: detritos semoventes, latas
servem para poesia

Um chevrolé gosmento
Coleção de besouros abstêmios
O bule de Braque sem boca
são bons para poesia

Manuel de Barros pode ser classificado tanto como autor pertencente à terceira geração do Modernismo, quanto Pós Modernista.
De acordo com o fragmento destacado de “Matéria da Poesia”, e a natureza de sua literatura

a) o poema versa sobre coisas comuns, vistas como inúteis e/ou simples pelas pessoas.
b) o texto propõe uma análise crítica sobre o processo de produção poética.
c) em toda a construção dos versos, o eu lírico sugere uma reflexão existencial e filosófica.
d) a construção do poema defende uma estrutura fixa, valorizando elementos de composição clássica.
e) o sentimento presente no poema é pautado por um conjunto de conceitos racionais e objetivos.

QUESTÃO 02

Na obra: “O quarto de despejo: diário de uma favelada”, a autora Carolina Maria de Jesus, retrata de maneira concreta o cotidiano
de um morador de favela. Observe os trechos abaixo e depois responda à questão.

20 de maio
(...) Como é horrível ver um filho comer e perguntar: “Tem mais? Esta palavra “tem mais” fica oscilando dentro do cérebro de
uma mãe que olha as panelas e não tem mais. (...)

21 de maio
(...) Deu-me uns pedaços. Para não maguá-lo aceitei. Procurei convencê-lo a não comer aquela carne. Para comer os pães duros
ruídos pelos ratos. Ele disse-me que não. Que há dois dias não comia. Ascendeu o fogo e assou a carne. (...)

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: Diário de uma favelada. 9. ed. São Paulo: Ática, 2007.

Os relatos da obra trazem à tona a desigualdade social no nosso país. A noção dessa realidade sugerida pela autora revela a

a) fome como um estágio constante na vida do favelado.


b) oportunidade de matar a fome por meio do trabalho.
c) diferença de condições de vida de um favelado e um morador de rua.
d) preocupação com a política do país em um momento atemporal.
e) a representação da realidade miserável, consequência das escolhas.

QUESTÃO 03

Mas a poesia não existia ainda


Plantas. Bichos. Cheiros. Roupas.
Olhos. Braços. Seios. Bocas.
Vidraça verde, jasmim.
Bicicleta no domingo.
Papagaios de papel.
Retreta na praça.
Luto.
Homem morto no mercado
sangue humano nos legumes.
Mundo sem voz, coisa opaca.

PROFESSOR: FLÁVIO BRITO | Questões ENEM 2024 – Linguagens / Literatura


Poema Sujo é considerada a obra mais ousada de Ferreira Gullar. Produzido no exílio, em Buenos Aires, surgiu da necessidade de,
como ele mesmo afirmou, “escrever um poema que fosse o meu testemunho final, antes que me calassem para sempre”. De
acordo com o fragmento há uma

a) simultaneidade de imagens e lembranças, capaz de fomentar um diálogo constante entre elementos do tempo e do espaço.
b) negação constante do eu lírico diante da realidade e desejo de destruição dos valores sociais.
c) crise de identidade profunda, destacando o medo do sujeito e sua rejeição ao mundo como construído.
d) fragmentação do discurso visando evidenciar uma alienação do indivíduo e uma constante crise existencial
e) angústia do sujeito diante de sua realidade tendo na linguagem uma representação da incapacidade de se expressar.

QUESTÃO 04

Anedota Búlgara

Era uma vez um czar naturalista


que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.

Carlos Drummond de Andrade. Alguma poesia. Record. Rio de Janeiro, 1987, p. 38

O poema de Drummond, ainda que desconhecido, é uma das construções mais sensacionais da Literatura da década de 1930,
apresentando muitas informações implícitas. Percebe-se, a partir da leitura do texto, que o autor constrói um/uma

a) crítica irônica com relação à hipocrisia das pessoas, representadas pelo Czar.
b) defesa do meio ambiente como forma de explicitar os problemas ambientais.
c) pensamento de igualdade entre todos os seres vivos, sem grau de importância.
d) ataque às ditaduras que matam as pessoas e defendem elementos da natureza.
e) afronta ao pensamento alienado das pessoas que não valorizam o ser humano.

QUESTÃO 05

O sorriso dela foi tão encantador e respondeu ao meu boa tarde, de uma maneira tão efusiva, que, para quem busca histórias,
aquela atitude afiançava o desejo dela de conversar comigo. E quando, embora brincando, revelou o seu descontentamento com o
próprio nome, me lembrei da mulher que havia criado um nome para si própria. Tive vontade de contar a história de Natalina
Soledad [outro conto do livro], mas, naquele momento, o meu prazer era o da escuta. Insistindo sempre que de imaculada nada
tinha, Maria do Rosário, ainda fazendo troça, pediu licença à outra, a santa, e começou a narração de um pouco de sua vida

Maria do Rosário Imaculada dos Santos - Evaristo, 2011, p. 39

Conceição Evaristo elege o ponto de vista feminino para o relato, na construção de seu livro Insubmissas lágrimas de
mulheres (2011), que se funde às suas experiências de mulher negra e escritora. Sobre o processo de produção dos textos
depreende-se que

a) valoriza as narrativas femininas.


b) apresenta preconceitos linguísticos.
c) destaca somente a questão racial.
d) evidencia a linguagem culta
e) reflete uma realidade onírica.

QUESTÃO 06

A voz de uma mulher negra é a voz que se nega ao silenciamento, a voz que se impõe à porta da casa grande e entra. Arrebenta a
tranca e ainda tem que provar, a cada balcão, o que é, quem é, e porque o é. Cansa até. Como a poesia é feita do impacto entre a
poeta ou o poeta e sua experiência de viver, está presente todo o tempo, nas escuridões de Terra negra, a luta existencial de todas
nós

Lucinda, 2017, p. 12-13

De acordo com o fragmento apresentado pela escritora Elisa Lucinda, sobre a obra Terra Negra de Cristiane Sobral e refletindo
sobre os poemas em toda a sua produção, é correto afirmar que seus textos representam

a) visibilização de vozes e histórias negras.

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b) a crítica ao não engajamento da sociedade.
c) o alheamento sobre a condição feminina.
d) desejo de evidencia o discurso masculino.
e) a voz feminina diante da contracultura.

QUESTÃO 07

Estética do branqueamento ou
Porque o sol clareia mais que "Omo"

Na minha cesta de peças pra lavar


Muitas roupas escurecidas
almejando a valorizada brancura
Quem não tem "Omo"
Descobre como!
Já dizia minha saudosa vovó
Então coloquei as roupas pra quarar
Deixei as peças encardidas naquele sol de rachar
de molho na grama verde manchada de terra escura

No fim do dia o preto ficou branco


Não seria esse clareamento uma pista?
Finalmente a "ficha caiu"!
Foi assim que aprendi mais sobre o Brasil
Além das páginas brancas do livro de história

Terra Negra – Cristiane Sobral

Com base no poema de Cristiane Sobral, sua produção lírica reflete

a) o eu lírico propõe uma reflexão sobre a negritude no Brasil.


b) nos versos, se propõe uma reflexão sobre a supremacia negra.
c) o sentimento de negritude equivale-se ao de branquitude.
d) a realidade da violência física se sobrepõe a psicológica.
e) o contexto social de violência física contra as minorias sociais..

QUESTÃO 08

Um bem-te-vi
O leve e macio
raio de sol
se põe no rio.
Faz arrebol…

Da árvore evola
amarelo, do alto
bem-te-vi-cartola
e, de um salto

pousa envergado
no bebedouro
a banhar seu louro

pelo enramado…
De arrepio, na cerca
já se abriu e seca.

https://www.pensador.com/melhores_poemas_de_manoel_de_barros/

No poema, Manoel de Barros retrata a natureza e a linguagem de forma

a) a composição é inspirada num pássaro, um bem-te-vi que o sujeito observa: trata-se de um episódio da vida comum registrado
pelos seus versos.
b) o poema começa descrevendo o homem, com o sol se pondo no rio, depois segue os movimentos da ave, que desce para beber
água.

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c) os versos representam de maneira lúdica a relação do homem com suas questões filosóficas em busca de uma compreensão da
natureza.
d) a linguagem é construída a partir de um conjunto de elementos regionais que marcam de forma profunda a espacialidade típica
do interior de São Paulo.
e) o sujeito é o elemento central no poema, transformando o indivíduo em um espelho da própria natureza sendo representado
como o bem-te-vi.

QUESTÃO 09

Com base no fragmento de "Grande Sertão: Veredas" de Guimarães Rosa, que discute a presença do elemento místico na vida
cotidiana, analise a linguagem e a abordagem do narrador, em seguida, responda à seguinte questão:

Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos.
Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Não! – é o que digo. O senhor aprova? Me declaro tudo, franco – é alta mercê
que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso – por estúdio que me vejam – é de minha certa importância. Tomara não fosse...
Mas, não diga que o senhor, assistido e instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Obrigado! Sua alta opinião compõe minha
valia. Já sabia, esperava por ela – já no campo dos gerais! Ah, a gente, na velhice, carece de ter sua aragem de descanso.
Obrigado. Tem diabo nenhum. Nem espírito. Nunca vi. Alguém desviou de ver, então era eu mesmo, este seu servidor. Fosse lhe
contar... Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Comeu: nas crianças – eu digo. Pois não é
ditado: “menino – trem do diabo”? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento... Estrumes. ... O diabo na rua, no meio
do redemunho...

https://www2.faccat.br/portal/sites/default/files/ckeditorfiles/ua2012_bmbarros_lmwraupp.pdf

O narrador emprega uma linguagem característica no fragmento, que se destaca por

a) utilizar um tom assertivo e categórico para negar a existência do diabo.


b) apresentar um discurso coeso e linear, sem ambiguidades.
c) misturar expressões coloquiais e regionais com um tom erudito.
d) reforçar a crença popular na figura do diabo como um ser maligno.
e) apresentar uma narrativa objetiva e descritiva.

QUESTÃO 10

O cavalo e a carroça
Estavam atravancados no trilho
E como o motorneiro se impacientasse
Porque levava os advogados para os escritórios
Desatravancaram o veículo
E o animal disparou
Mas o lesto carroceiro
Trepou na boleia
E castigou o fugitivo atrelado
Com um grandioso chicote

(Pau-Brasil, “Pobre alimária”, Oswald de Andrade 1990.)

Considerado o poema, o autor sugere uma reflexão, apresentando o momento de sua produção, pois o poema

a) celebra a persistência das tradições rurais brasileiras, que inviabilizaram o avanço do processo da industrialização.
b) valoriza a variedade e a eficácia dos meios de transporte, que contribuíam para impulsionar a economia brasileira.
c) critica a recorrência das práticas de exploração e maus tratos aos animais nos principais centros urbanos brasileiros.
d) registra uma rápida cena urbana, que expõe tensões e ambiguidades no processo de modernização de São Paulo
e) reflete a destruição da noção de passado e um forte desejo de criação do novo na estética modernista contemporânea.

Questão 11

Ele se aproximou e com a voz cantante de nordestino que a emocionou, perguntou-lhe:


- E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear?
- Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa, antes que ele mudasse de ideia.
- E se me permite, qual é mesmo a sua graça?
- Macabéa.
- Maca – o quê?
- Béa, foi obrigada a completar.

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- Me desculpe mas até parece doença, doença de pele.

(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. 23 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995. p. 59).

De acordo com estudiosos de A hora da estrela, muitos dos diálogos entre Macabéa e Olímpico, como o acima reproduzido,
possuem, primordialmente, a dupla funcionalidade de produzir, ao mesmo tempo,

a) intensidade e sarcasmo.
b) estranhamento e repulsa moral.
c) identificação e angústia.
d) comicidade e crítica social
e) angústia e reflexão crítica

QUESTÃO 12

O último poema

Assim eu quereria o meu último poema


Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Manuel Bandeira, Libertinagem

Neste texto, ao indicar as qualidades que deseja para o "último poema", o poeta retoma dois temas centrais de sua poesia. Um
deles é a valorização da simplicidade, o outro é a

a) autodestruição da poesia em um meio hostil à arte


b) autodestruição da poesia, de eliminar a dor.
c) capacidade, própria da poesia, de eliminar/superar a dor.
d) verificação da inutilidade da poesia diante da morte
e) reflexão sobre a construção da poesia e negação do ser.

QUESTÃO 13

Com base no poema "A Rosa de Hiroxima" de Vinícius de Moraes, que aborda as consequências da bomba atômica em
Hiroshima, analise o texto e responda à seguinte questão:

Pensem nas crianças


Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida.
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

https://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/rosa-de-hiroxima

O poema de Vinícius de Moraes não descreve apenas as consequências trágicas da bomba atômica, mas também evoca uma
reflexão profunda sobre a natureza humana e a responsabilidade coletiva. Nesse contexto, reflete uma interpretação crítica mais
ampla do poema

a) o poema apresenta uma visão pessimista da humanidade, enfatizando nossa capacidade de destruição.

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b) a mensagem principal do poema é que a rosa de Hiroxima representa a resiliência e a esperança do povo japonês.
c) Vinícius de Moraes critica a passividade da sociedade internacional diante do uso da bomba atômica.
d) a imagem da rosa radioativa é uma metáfora para a força criativa da natureza, que sempre se regenera.
e) o desejo do eu lírico em refletir a realidade social marcada pela violência característica durante a primeira guerra.

QUESTÃO 14

Com base no poema "Destruição" de Carlos Drummond de Andrade, que aborda as complexidades do amor, analise o texto e
responda à seguinte questão:

Destruição

Os amantes se amam cruelmente


e com se amarem tanto não se veem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados


pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada, ninguém. Amor, puro fantasma


que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.


Deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.

https://www.letras.mus.br/carlos-drummond-de-andrade/818509/

O poema "Destruição" de Carlos Drummond de Andrade retrata o amor de forma paradoxal, explorando o conflito entre a
intensidade do sentimento amoroso e suas consequências, nesse contexto

a) o poema apresenta uma visão otimista do amor, destacando sua capacidade de unir as pessoas de forma profunda.
b) a mensagem do poema é que o amor é uma identidade força destrutiva que consome um indivíduo dos amantes.
c) a imagem da cobra na última estrofe simboliza a traição no amor, representando como os amantes podem ser enganados.
d) o poema sugere que o amor é uma ilusão passageira que não deixa marcas de tristeza.
e) o sentimento amoroso é descrito como forma de representação do sujeito diante de suas frustrações.

QUESTÃO 15

MORTE E VIDA SEVERINA (O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI)

— O meu nome é Severino,


não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
(...)
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,

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e até gente não nascida).

http://www.nilc.icmc.usp.br/nilc/literatura/morteevidaseverina.htm

O poema "Morte e Vida Severina" de João Cabral de Melo Neto inicia com a apresentação do personagem Severino, um retirante
nordestino, que se identifica como "Severino de Maria". Essa identificação carrega consigo diversas camadas de significado e
reflexão, dessa forma, compreende-se a captura dessa complexidade

a) na identificação de Severino com o nome "Maria" simboliza sua devoção religiosa, indicando que ele busca proteção divina em
suas jornadas como retirante.
b) ao se chamar de "Severino de Maria", o personagem destaca a importância da religião como um refúgio espiritual em sua vida
difícil como retirante.
c) na identificação de Severino como “Severino de Maria” revela uma tentativa de resgatar sua própria humanidade, em meio à
condição de retirante que frequentemente o desumaniza.
d) no uso do nome "Maria" sugere a subserviência de Severino às tradições culturais do nordeste brasileiro, onde nomes religiosos
são comuns.
e) na construção de uma vida dura, mas necessária de ser vivida, representada pelas dores do homem típico do norte do país,
eterno retirante.

QUESTÃO 16

Tratado geral das grandezas do ínfimo

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.


Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.
https://www.revistabula.com/2680-os-10-melhores-poemas-de-manoel-de-barros/

Sobre o poema "Tratado geral das grandezas do ínfimo" e o ponto de vista do eu lírico em relação ao poder e à importância das
descobertas

a) valoriza as descobertas de ouro, pois considera que trazer riqueza é o verdadeiro poder.
b) acredita que descobrir insignificâncias é mais poderoso do que encontrar tesouros valiosos.
c) acha que as descobertas são irrelevantes, já que ele não se importa com a realidade.
d) enaltece as descobertas grandiosas e menospreza as pequenas insignificâncias.
e) destaca o neologismo como forma essencial para a representação do homem sertanejo.

QUESTÃO 17

O bicho - Manuel Bandeira

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,


Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,


Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

BANDEIRA, Manuel. Estrela da Vida Inteira. 14 ed. Rio de Janeiro: José Olympio,1987.

Conforme a leitura do Texto, pode-se compreender que o sujeito poético

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a) descreve a violência atual contra os animais na sociedade moderna.
b) critica o processo de desumanização visível na sociedade moderna.
c) evidencia a violência corrente contra os animais na sociedade moderna.
d) banaliza o processo de desumanização corrente na sociedade moderna.
e) aceita a realidade por mais cruel que seja, como forma realista de viver.

QUESTÃO 18

Bucólica nostálgica

Ao entardecer no mato, a casa entre


bananeiras, pés-de-manjericão e cravo-santo,
aparece dourada. Dentro dela, agachados,
na porta da rua, sentados no fogão, ou aí mesmo,
rápidos como se fossem ao Êxodo, comem
feijão com arroz, taioba, ora-pro-nobis,
muitas vezes abóbora.
Depois, café na canequinha e pito.
O que um homem precisa pra falar,
entre enxada e sono: Louvado seja Deus!

PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.

A poesia Bucólica nostálgica traduz artisticamente o cotidiano de homens comuns que jantam ao entardecer numa casa simples.
No bucólico espaço em que se encontram, revela-se

a) a condição de pobreza mesclada de resignação e de fé na providência divina.


b) uma existência pontilhada de leveza e de religiosidade na vida rural.
c) a apatia do trabalhador associada ao misticismo praticado.
d) a realidade rural junto à esperança de dias melhores.
e) a representação do cotidiano elevado a um contexto universal.

QUESTÃO 19

Vei, a Sol

Ora o pássaro careceu de fazer necessidade, fez e o herói ficou escorrendo sujeira de urubu. Já era de madrugadinha e o tempo
estava inteiramente frio. Macunaíma acordou tremendo, todo lambuzado. Assim mesmo examinou bem a pedra mirim da ilhota
para vê si não havia alguma cova com dinheiro enterrado. Não havia não. Nem a correntinha encantada de prata que indica pro
escolhido, tesouro de holandês. Havia só as formigas jaquitaguas ruivinhas.
Então passou Caiuanogue, a estrela da manhã. Macunaíma já meio enjoado de tanto viver pediu pra ela que o carregasse pro céu.
Caiuanogue foi se chegando porém o herói fedia muito.
– Vá tomar banho! – ela fez. E foi-se embora.
Assim nasceu a expressão “Vá tomar banho” que os brasileiros empregam se referindo a certos imigrantes europeus.

ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: Agir, 2008.

O fragmento de texto faz parte do capítulo VII, intitulado “Vei, a Sol”, do livro Macunaíma, de Mário de Andrade, pertencente à
primeira fase do Modernismo brasileiro. Considerando a linguagem empregada pelo narrador, é possível identificar

a) resquícios do discurso naturalista usado pelos escritores do século XIX.


b) ausência de linearidade no tratamento do tempo, recurso comum ao texto narrativo da primeira fase modernista.
c) referência à fauna como meio de denunciar o primitivismo e o atraso de algumas regiões do país.
d) descrição preconceituosa dos tipos populares brasileiros, representados por Macunaíma e Caiuanogue.
e) uso da linguagem coloquial e de temáticas do lendário brasileiro como meio de valorização da cultura popular nacional.

QUESTÃO 20

O farrista

Quando o almirante Cabral


Pôs as patas no Brasil
O anjo da guarda dos índios
Estava passeando em Paris.

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Quando ele voltou de viagem
O holandês já está aqui.
O anjo respira alegre:
“Não faz mal, isto é boa gente,
Vou arejar outra vez.”
O anjo transpôs a barra,
Diz adeus a Pernambuco,
Faz barulho, vuco-vuco,
Tal e qual o zepelim
Mas deu um vento no anjo,
Ele perdeu a memória...
E não voltou nunca mais.

MENDES. M. História do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1992

A obra de Murilo Mendes situa-se na fase inicial do Modernismo, cujas propostas estéticas transparecem, no poema, por um eu
lírico que

a) configura um ideal de nacionalidade pela integração regional.


b) remonta ao colonialismo assente sob um viés iconoclasta.
c) repercute as manifestações do sincretismo religioso.
d) descreve a gênese da formação do povo brasileiro.
e) promove inovações no repertório linguístico.

QUESTÃO 21

(Enem PPL 2014) Evocação do Recife


A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós O que fazemos
É macaquear A sintaxe lusíada...

(BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007)

Segundo o poema de Manuel Bandeira, as variações linguísticas originárias das classes populares devem ser:

a) satirizadas, pois as várias formas de se falar o português no Brasil ferem a língua portuguesa autêntica.
b) questionadas, pois o povo brasileiro esquece a sintaxe da língua portuguesa.
c) subestimadas, pois o português "gostoso" de Portugal deve ser a referência de correção linguística.
d) reconhecidas, pois a formação cultural brasileira é garantida por meio da fala do povo.
e) reelaboradas, pois o povo "macaqueia" a língua portuguesa original.

QUESTÃO 22

(Enem 2014, 3ª aplicação)


Olhou para o teto, a telha parecia um quadrado de doce.
Ah! — falou sem se dar conta de que descobria, durando desde a infância, aquela hora do dia, mais um galo cantando, um corte de
trator, as três camadas de terra, a ocre, a marrom, a roxeada.
Um pasto, não tinha certeza se uma vaca e o sarilho da cisterna desembestado, a lata batendo no fundo com estrondo.
Quando insistiram, vem jantar, que esfria, ele foi e disse antes de comer: "Qualidade de telha é essas de antigamente".

(PRADO, A. Bagagem. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2006)

A poesia brasileira sofreu importantes transformações após a Semana de 1922, sendo a aproximação com a prosa uma das mais
significativas. O poema da poeta mineira Adélia Prado rompe com a lírica tradicional e se aproxima da prosa por apresentar:

a) travessão, estrutura do verso com pontuação comum a orações e aproximação com a oralidade, elementos próprios da
narrativa.
b) uma estrutura narrativa que não segue a sequência de estrofes nem utiliza de linguagem metafórica.
c) personagem situado no tempo e espaço, descrevendo suas memórias da infância.
d) discurso direto e indireto alternados na voz do eu lírico e localização espacial.

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e) narrador em primeira pessoa, linguagem discursiva e elementos descritivos.

QUESTÃO 23

(Enem 2011)

Estrada
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo mundo é igual.
Todo mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai.
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um
Bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos,
Que a vida passa! Que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.

(BANDEIRA, M. K. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967)

A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos do cotidiano. No poema
Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para:

a) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à cidade.
b) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente inércia da vida rural.
c) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua juventude.
d) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança.
e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte.

QUESTÃO 24

(Enem PPL 2012)

Sambinha
Vêm duas costureirinhas pela rua das Palmeiras.
Afobadas braços dados depressinha
Bonitas, Senhor! que até dão vontade pros homens da rua.
As costureirinhas vão explorando perigos...
Vestido é de seda.
Roupa-branca é de morim.
Falando conversas fiadas
As duas costureirinhas passam por mim.
— Você vai?
— Não vou não!
Parece que a rua parou pra escutá-las.
Nem trilhos sapecas
Jogam mais bondes um pro outro.
E o Sol da tardinha de abril
Espia entre as pálpebras sapiroquentas de duas nuvens.
As nuvens são vermelhas.
A tardinha cor-de-rosa.
Fiquei querendo bem aquelas duas costureirinhas...
Fizeram-me peito batendo
Tão bonitas, tão modernas, tão brasileiras!
Isto é...
Uma era ítalo-brasileira.
Outra era áfrico-brasileira.

PROFESSOR: FLÁVIO BRITO | Questões ENEM 2024 – Linguagens / Literatura


Uma era branca.
Outra era preta.

(ANDRADE, M. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1988)

Os poetas do Modernismo, sobretudo em sua primeira fase, procuraram incorporar a oralidade ao fazer poético, como parte de seu
projeto de configuração de uma identidade linguística e nacional. No poema de Mário de Andrade esse projeto revela-se, pois

a) a sensibilidade do artista não escapa do viés machista que marcava a sociedade do início do século XX, machismo expresso
em “que até dão vontade pros homens da rua”.
b) o poema capta uma cena do cotidiano — o caminhar de duas costureirinhas pela rua das Palmeiras — mas o andamento dos
versos é truncado, o que faz com que o evento perca a naturalidade.
c) a sensibilidade do eu poético parece captar o movimento dançante das costureirinhas — depressinha — que, em última
instância, representam um Brasil de “todas as cores”.
d) o excesso de liberdade usado pelo poeta ao desrespeitar regras gramaticais, como as de pontuação, prejudica a compreensão do
poema.
e) o eu poético usa de ironia ao dizer da emoção de ver moças “tão modernas, tão brasileiras”, pois faz questão de afirmar as
origens africana e italiana das mesmas.

QUESTÃO 25

(Enem PPL 2012) TEXTO I

Poema de sete faces


Mundo mundo vasto mundo,
Se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração.

(ANDRADE, C. D. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 2001

TEXTO II
CDA (imitado)
Ó vida, triste vida!
Se eu me chamasse Aparecida
dava na mesma.

(FONTELA, O. Poesia reunida. São Paulo: Cosac Naify; Rio de Janeiro: 7Letras, 2006)

Orides Fontela intitula seu poema CDA, sigla de Carlos Drummond de Andrade, e entre parênteses indica “imitado” porque, como
nos versos de Drummond,

a) adota tom melancólico para evidenciar a desesperança com a vida.


b) apresenta o receio de colocar os dramas pessoais no mundo vasto.
c) invoca a tristeza da vida para potencializar a ineficácia da rima.
d) expõe o egocentrismo de sentir o coração maior que o mundo.
e) aponta a insuficiência da poesia para solucionar os problemas da vida.

QUESTÃO 26

(Enem 2009 - 3ª aplicação)

Oferta
Quem sabe
Se algum dia
Traria
O elevador
Até aqui
O teu amor

(ANDRADE, Oswald de. Obras Completas de Oswald de Andrade. Rio Jan: Civilização Brasileira, 78, p. 33

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O poema Oferta, de Oswald de Andrade, apresenta em sua estrutura e temática uma relação evidente com um aspecto da
modernização da sociedade brasileira. Trata-se da:

a) ausência do lirismo amoroso no poema e impossibilidade de estabelecer relações amorosas na sociedade regida pelo consumo
de mercadorias.
b) adesão do eu lírico ao mundo mecanizado da modernidade, justificada pela certeza de que as facilidades tecnológicas
favorecem o contato humano.
c) recusa crítica em inserir no texto poético elementos advindos do discurso publicitário, avesso à sensibilidade lírica do autor.
d) associação crítica entre as invenções da modernidade e a criação poética modernista, entre o lirismo amoroso e a
automatização das ações.
e) impossibilidade da poesia de incorporar as novidades do mundo moderno já inseridas nas novas relações sociais da vida
urbana.

QUESTÃO 27

(Enem 2009)
Sentimental
1 Ponho-me a escrever teu nome
Com letras de macarrão
No prato, a sopa fria, cheia de escamas
4 e debruçados na mesa todos conteplam
esse romântico trabalho.
Desgraçadamente falta uma letra,
7 uma letra somente
para acabar teu nome!
- Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!
10 Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências este cartaz amarelo:
"Neste país é proibido sonhar."

(ANDRADE, C. D. Seleta em Prosa e Verso. Rio de Janeiro: Record, 1995)

Com base na leitura do poema, a respeito do uso e da predominância das funções da linguagem no texto de Drummond, pode-se
afirmar que:

a) por meio dos versos “Ponho-me a escrever teu nome” (v. 1) e “esse romântico trabalho” (v. 5), o poeta faz referências ao seu
próprio ofício: o gesto de escrever poemas líricos.
b) a linguagem essencialmente poética que constitui os versos “No prato, a sopa esfria, cheia de escamas e debruçados na mesa
todos contemplam” (v. 3 e 4) confere ao poema uma atmosfera irreal e impede o leitor de reconhecer no texto dados
constitutivos de uma cena realista.
c) na primeira estrofe, o poeta constrói uma linguagem centrada na amada, receptora da mensagem, mas, na segunda, ele deixa de
se dirigir a ela e passa a exprimir o que sente.
d) em “Eu estava sonhando...” (v. 10), o poeta demonstra que está mais preocupado em responder à pergunta feita anteriormente
e, assim, dar continuidade ao diálogo com seus interlocutores do que em expressar algo sobre si mesmo.
e) no verso “Neste país é proibido sonhar.” (v. 12), o poeta abandona a linguagem poética para fazer uso da função referencial,
informando sobre o conteúdo do “cartaz amarelo” (v. 11) presente no local.

QUESTÃO 28

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

PROFESSOR: FLÁVIO BRITO | Questões ENEM 2024 – Linguagens / Literatura


LEMINSKI, P. Melhores poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2013.

Ao abordar o próprio processo de criação, o poeta recorre a exemplificações com o propósito de representar a escrita como uma
atividade que

a) requer a criatividade do artista.


b) dispensa explicações racionais.
c) independe da curiosidade do leitor.
d) pressupõe a observação da natureza.
e) decorre da livre associação de imagens.

QUESTÃO 29

Essa lua enlutada, esse desassossego


A convulsão de dentro, ilharga
Dentro da solidão, corpo morrendo
Tudo isso te devo. E eram tão vastas

As coisas planejadas, navios,


Muralhas de marfim, palavras largas
Consentimento sempre. E seria dezembro.
Um cavalo de jade sob as águas

Dupla transparência, fio suspenso


Todas essas coisas na ponta dos teus dedos
E tudo se desfez no pórtico do tempo

Em lívido silêncio. Umas manhãs de vidro


Vento, a alma esvaziada, um sol que não vejo
Também isso te devo.

HILST, H. Júbilo, memória, noviciado da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 2018.

No poema, o eu lírico faz um inventário de estados passados espelhados no presente. Nesse processo, aflora o

a) cuidado em apagar da memória os restos do amor.


b) amadurecimento revestido de ironia e desapego.
c) mosaico de alegrias formado seletivamente.
d) desejo reprimido convertido em delírio.
e) arrependimento dos erros cometidos.

QUESTÃO 30

Casamento

Há mulheres que dizem:


Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.

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O poema de Adélia Prado, que segue a proposta moderna de tematização de fatos cotidianos, apresenta a prosaica ação de limpar
peixes na qual a voz lírica reconhece uma

a) expectativa do marido em relação à esposa.


b) imposição dos afazeres conjugais.
c) disposição para realizar tarefas masculinas.
d) dissonância entre as vozes masculina e feminina.
e) forma de consagração da cumplicidade no casamento.

GABARITO COMENTADO

QUESTÃO 01
Alternativa A / “O poema versa sobre coisas comuns, vistas como inúteis e/ou simples pelas pessoas.” O eu lírico no poema em questão reflete sobre o processo de
desenvolvimento das coisas comuns, pois sua poesia é feita da própria matéria da poesia.

QUESTÃO 02
Alternativa A / “A fome como um estágio constante na vida do favelado.” os trechos revelam que a fome está presente na vida dos mais pobres e dos favelados

QUESTÃO 03
Alternativa A / “simultaneidade de imagens e lembranças, capaz de fomentar um diálogo constante entre elementos do tempo e do espaço.” Ferreira Gullar possui
um enorme engajamento ideológico, mas ao mesmo tempo apresenta uma preocupação se perceber em seu tempo e espaço.

QUESTÃO 04
Alternativa A) crítica de Drummond está relacionada à hipocrisia das pessoas, representadas pelo Czar, ao apresentar a ideia de que ele se choca ao saber que os
elementos naturais são caçados da mesma forma que ele faz com o homem. É interessante notar que não há nenhuma relação entre o poema e o meio ambiente.

QUESTÃO 05
Alternativa A / “valoriza as narrativas femininas.” em toda a coletânea de contos o principal material coletado para a construção das narrativas são os depoimentos
de mulheres e suas realidades múltiplas.

QUESTÃO 06
a) a visibilidade de vozes e histórias negras, destacando o indivíduo que sempre esteve alheio a realidade da sociedade, evidenciando portanto, e dando visibilidade
a toda uma sociedade oprimida e explorada

QUESTÃO 07
A - em todo o poema o eu lírico apresenta de forma Clara um questionamento sobre a perspectiva da cor e a forma como o sujeito se percebe diante da realidade
social.

QUESTÃO 08
Alternativa A / o poema de Manoel de Barros apresenta uma composição inspirada de fato em um pássaro, que o indivíduo observa, dessa forma o, trata-se de um
episódio da vida comum registrado pelos seus versos.

QUESTÃO 09
Alternativa C / O narrador do fragmento de "Grande Sertão: Veredas" emprega uma linguagem que combina expressões coloquiais e regionais com um tom
erudito. Isso cria uma atmosfera única que reflete a complexidade da narrativa e a profundidade das reflexões sobre a presença do diabo na vida cotidiana do
sertão. A linguagem é uma característica marcante na obra de Guimarães Rosa e contribui para sua riqueza literária.

QUESTÃO 10
Alternativa D / o título do poema, Pobre alimária (alimária: animal de carga ou de tração), permite inferir que se trata de uma crítica aos maus-tratos sofridos pelos
animais nesse contexto, tanto por parte dos setores modernos (motorneiro e advogados) como do atraso e da obsolescência (o carroceiro).

Questão 11
D / comicidade crítica social, uma vez que apesar de toda a dramaticidade desenvolvida nos diálogos, destacam-se cenas de bastante humor, e contrapondo a estas,
forte crítica social.

QUESTÃO 12
c) a capacidade de da poesia, de eliminar/superar a dor. Em todo o poema a reflexão proposta pelo eu lírico sugere um exercício sobre o sentido e a intensidade da
própria poesia, e principalmente o sentimento que ela é capaz de produzir no sujeito diante da vida e da própria morte superando a dor e suportando a existência.

QUESTÃO 13
a) O poema apresenta uma visão pessimista da humanidade, enfatizando nossa capacidade de destruição. - O poema "A Rosa de Hiroxima" de Vinícius de Moraes
reflete uma visão sombria da capacidade da humanidade de causar destruição em larga escala, como evidenciado pelo uso da bomba atômica em Hiroshima. O
poema questiona a responsabilidade coletiva e as implicações morais desse ato. As outras alternativas não captam a mensagem crítica e reflexiva do poema.

QUESTÃO 14
b) A mensagem principal do poema é que o amor é uma identidade força destrutiva que consome um indivíduo dos amantes. / O poema "Destruição" de Carlos
Drummond de Andrade aborda o amor como uma força destrutiva que pode levar à perda da individualidade dos amantes. O poema enfatiza como a intensidade do
amor pode levar à tensão dos amantes, fazendo com que eles deixem de existir como

QUESTÃO 15
c) A identificação de Severino como “Severino de Maria” revela uma tentativa de resgatar sua própria humanidade, em meio à condição de retirante que
frequentemente o desumaniza. / No trecho inicial de "Morte e Vida Severina", a identificação de Severino como "Severino de Maria" é complexa e simbólica. Ela
sugere que, em meio às dificuldades de sua vida

QUESTÃO 16

PROFESSOR: FLÁVIO BRITO | Questões ENEM 2024 – Linguagens / Literatura


A alternativa correta é a letra B. No poema "Tratado geral das grandezas do ínfimo", o autor apresenta uma visão peculiar sobre o poder. Ele valoriza mais aqueles
que descobrem as insignificâncias do mundo e das nossas vidas do que aqueles que encontram grandes tesouros, como ouro.

QUESTÃO 17
B / O texto mostra a indignação do sujeito poético quanto à desumanização visível na sociedade moderna, ao descrever atitudes executadas por uma pessoa que
lembravam às de um animal.

QUESTÃO 18
a) a condição de pobreza mesclada de resignação e de fé na providência divina. - em todo o poema percebe-se claramente a dicotomia entre a realidade marcada
pela dureza da vida, e a espiritualidade fé como forma de resiliência

QUESTÃO 19
e) “Macunaíma”, de Mário de Andrade, faz parte da primeira fase modernista, período em que as vanguardas europeias são mais evidentes nas técnicas inovadoras
de linguagem, nas múltiplas referências ao folclore brasileiro e na valorização do registro linguístico oral.

QUESTÃO 20
b) O poema dessacraliza a visão colonizadora ao aludir expressões como “vuco-vuco”, “zepelim”, “deu com o vento no anjo” e “pôs as patas”, valorizando a
linguagem coloquial que era característica da 1ª fase Modernista..

QUESTÃO 21
Resposta: D No poema "Evocação do Recife" de Manuel Bandeira, é afirmado que as variações linguísticas originárias das classes populares devem ser
reconhecidas, pois a formação cultural brasileira é garantida por meio da fala do povo.
QUESTÃO 22
Resposta: A. A questão apresentada não corresponde a um texto de Adélia Prado, e sim a uma descrição de um cenário rural. Adélia Prado é uma poeta mineira,
cuja obra se destaca pela sua linguagem simples e direta, e pela sua aproximação com a vida cotidiana, incluindo elementos da natureza, religião e tradições
populares. Sua poesia pode ser caracterizada como uma poesia "campesina" e regionalista.

QUESTÃO 23
Resposta: B -No poema "Estrada" de Manuel Bandeira, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para a percepção do caráter efêmero da vida,
possibilitada pela observação da aparente inércia da vida rural. O poema descreve a vida simples e cotidiana na estrada onde o poeta mora, e como ela é mais rica e
significativa do que a vida urbana, onde todas as pessoas se parecem e tudo é igual. O poema também destaca a individualidade das pessoas e dos animais, e como
os elementos da natureza, como o murmúrio da água, sugerem a passagem do tempo e o fim da juventude.

QUESTÃO 24
Resposta: C - No poema "Sambinha" de Mário de Andrade, os poetas do Modernismo buscaram incorporar a oralidade ao fazer poético, como parte de seu projeto
de configuração de uma identidade linguística e nacional. O poema descreve duas costureirinhas passando pela rua, e como a sensibilidade do eu poético capta o
movimento dançante delas, representando um Brasil de "todas as cores". O poema também destaca a beleza das costureirinhas e como elas são modernas e
brasileiras, refletindo a mistura de influências italianas, africanas e indígenas no país.

QUESTÃO 25
Resposta: E - Os dois textos apresentados, "Poema de sete faces" de Carlos Drummond de Andrade e "CDA (imitado)" de Orides Fontela, ambos apresentam
temas similares, mostrando a insuficiência da poesia para solucionar os problemas da vida. Ambos os poemas mencionam o mundo vasto e o coração vasto, e
ambos apresentam a ideia de que o nome do poeta não importa, pois não há solução para os problemas da vida. O poema de Orides Fontela é intitulado "CDA"
como uma referência a Carlos Drummond de Andrade e indica que é "imitado" porque segue a mesma estrutura e tema do poema original de Carlos Drummond de
Andrade.

QUESTÃO 26
Resposta: D - O poema "Oferta" de Oswald de Andrade apresenta uma relação evidente com um aspecto da modernização da sociedade brasileira, que é a
associação crítica entre as invenções da modernidade e a criação poética modernista. O poeta usa a imagem do elevador como símbolo da automatização das
ações, e o lirismo amoroso para criar uma reflexão sobre a relação entre a tecnologia e os sentimentos humanos. A estrutura e temática do poema evidenciam essa
relação crítica entre o lirismo amoroso e a automatização das ações.

QUESTÃO 27
Resposta: A - Além disso, o poema também apresenta uma função metalinguística, com a referência à escrita do nome do amado com letras de macarrão e a
menção ao sonho como algo proibido na sociedade. A função poética também é destacada através do uso de metáforas e imagens como "letras de macarrão" e
"sopa fria cheia de escamas".

QUESTÃO 28
Resposta B - em todo o poema percebe-se que o exercício do eu lírico em construir seus versos se pauta pelo desejo apenas da própria poesia e de seu natural
processo de construção, dispensando assim explicações racionais em sua elaboração.

QUESTÃO 29
b) A expressão “isso te devo” reveste-se de um sentido potencialmente irônico, pois o eu-lírico indica por meio dela sentimentos negativos (expressos pelo
desassossego, alma esvaziada, etc) causados por esse interlocutor. Nota-se, também, o amadurecimento do eu-lírico em função dessas experiências vividas e um
desapego em relação a essa figura com quem eu-poético teve um vínculo emocional.

QUESTÃO 30
e) Distante da ideia de propagar a noção da mulher como submissa aos afazeres da casa, o poema de Adélia Prado visa destacar a união e a cumplicidade entre o
casal de forma harmônica e natural, tratando de forma simples elementos do cotidiano.

PROFESSOR: FLÁVIO BRITO | Questões ENEM 2024 – Linguagens / Literatura

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